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74. Oito Horas

As mãos de Gisèle e Tereza grudaram uma na outra como se tivessem cola. Poucas foram as vezes em que temeram tanto ir às ruas. Se o cenário não fosse tão caótico, curtiriam o ambiente carregado de tochas que iam de um lado para o outro e os murmúrios dos pedreiros de lá para cá.

Elas mantinham as máscaras coladas no rosto. Não conseguiam deixar de julgar os que não o faziam ou simplesmente deixavam os narizes para fora. Pessoas estavam morrendo, fosse o que fosse aquela doença que fazia os olhos sangrarem escuro. Era apavorante.

- O que vamos fazer? - a loira indagou. Tereza aprumou-se ao lado dela ainda mais.

- Você tem dinheiro?

Gisèle levou a mão livre aos bolsos da calça. Para seu alívio, tirou dali duas notas de vinte pedras.

- Estamos ricas - a loira brincou.

- Esconda isso, Gis - a ruiva pediu. - Aonde consegue tanto dinheiro, mulher?

- Vendi uns coelhos.

- Carne de coelho cairia bem agora.

- Com certeza - o estômago de Gisèle roncou. - Não dá para caçar nesse breu.

- Então vamos improvisar.

Dentre aquele mar de pessoas que evitavam ao máximo se encostar, Tereza encontrou um rosto familiar. Reconheceu a simpática mulher que lhe vendeu a deliciosa rosquinha de goiabada com queijo dias antes do Vale de Awa mergulhar no terror.

A ruiva puxou Gisèle em direção à senhora. A daviliana não discutiu.

- Dona Charli! - Tereza gritou quando aproximou-se dela.

Charli já não tinha mais o simpático olhar no rosto. Tentava passar despercebida nas sombras abundantes da terra que amava. Cobriu o rosto com as mãos quando Tereza correu em sua direção.

- Fique longe, menina - a senhora ordenou. Os olhos de Tereza perderam a cor. - Num sei se tu tá doente. Tá todo mundo doente.

Gisèle apertou mais firmemente a mão de Tereza.

- Dona Charli, estamos com fome - sua voz soava desesperada. - A gente tem que alimentar um bebezinho, o pequeno Cöda...

- Num tenho comida para tu hoje, menina - apesar das palavras pesadas, as duas davilianas ouviram o pesar na voz da senhora. - Meu marido tá de cama. Minha filha, ela...

Lágrimas brotaram dos olhos de Charli.

- Eu sinto muito, Dona Charli... - Tereza sentiu vontade de abraçá-la, mas pouco sabia dos riscos de um gesto que tanto amava. Gisèle puxou-a um passo para trás, mas a ruiva recusou-se a ir embora. Não conseguia imaginar como aquela pobre senhora, antes tão cheia de vida e alegria, estaria se sentindo. - Sinto tanto...

Um sorriso triste e melancólico surgiu no rosto da mulher infeliz, desaparecendo tão rapidamente que Tereza não tinha certeza se ele realmente estivera lá.

- Tu é boa, menina - a voz embargada murmurou. - Mas comigo num vai achar comida. Eu tô é sozinha, ruivinha de D'Ávila.

Os olhos de Tereza marejaram de lágrimas de tristeza ao vê-la daquela forma.

- Vamos dar um jeito, Dona Charli. Seu marido vai ficar bom, viu?

- Não me venha com essa, eu perdi as esperanças - Charli balançou a cabeça, entregando-se ao destino cruel. - Tu vai achar comida no centro, daviliana. O povo tá se mobilizando por lá. Mas é bom as duas terem um dinheirinho aí.

Gisèle apertou o braço de Tereza.

- Vamos, Tereza - a loira cochichou em seu ouvido, apreensiva.

- E você, Dona Charli? - o coração de Tereza pesou.

Charli transformou-se. Seus olhos brilharam à luz de uma tocha que passou ao seu lado. Tereza assustou-se ao ver as lágrimas que se formaram nos cantos dos olhos da senhora.

- Já num tem mais jeito para mim, menina.

Lágrimas negras escorreram de seus olhos.

O coração de Tereza parou. Ela só se deu conta de que Dona Charli estava doente quando Gisèle puxou-a para longe pelo braço, fazendo-a cambalear e quase cair sentada. O caos espalhou-se rápido naquele pedaço de fim de mundo, naquele quarteirão perdido da Pedreira. Os pedreiros viram a mulher infectada e os gritos e correrias começaram.

Por entre o pavor de todos para se afastarem da senhora contaminada, Tereza deu uma última olhada para trás antes de seguir Gisèle para o centro. Charli sorriu-lhe um sorriso amargo.

- Cássio? Jacque? - Lírio indagou.

- Não temos notícias deles há um tempo - Carú lhe respondeu.

- Como podem? - Odile mordeu o lábio, furiosa, andando de um lado para o outro na pequena saleta. Viu Lili se dar bem com Osi e logo com o pequeno Coli. As crianças saíram da sala e os bebês dormiram. A conversa tornou-se séria. - Os dois líderes que as pessoas escutam aqui dentro estão fazendo o que enquanto essas pessoas morrem?

- Nunca se importou muito com seu povo, não é, minha rainha? - Nafré provocou-a. A encarava de frente como se fosse muito mais velha do que realmente era.

- Escute aqui - Fin deu um passo à frente, defendendo a amiga. Ele também já esteve daquele lado. Tudo mudou quando Daisy salvou sua vida.

- Ei! - Gaia protestou, balançando Kaha nos braços. - Se vamos ficar aqui juntos nesse lugar minúsculo é melhor se comportarem.

Nafré revirou os olhos e olhou com cinismo para a rainha.

- Talvez não, menina - Odile prosseguiu, não deixando-se diminuir pela afronta. - Mas eu estou aqui agora, não estou?

A crisantiana tinha tanto a falar, tantas respostas prontas, mas sentiu o penetrante olhar de Gaia em suas costas. Engoliu tudo.

- Está certa - Isaac concordou. - Sem o xamã e Jacque, essa merda só vai rolar ladeira abaixo.

- Não temos nem como querer manter a ordem aqui - Nafré esbravejou. - Porra, vamos fazer o que? As pessoas estão doentes, morrendo, com fome, sem condição alguma de descobrirem o que está causando isso e... achei que nosso maior problema fosse outro.

O rei. A ditadura monárquica. Os soldados. Outrora, era apenas com isso que se preocupavam.

Depois de um breve silêncio, Carú, sentada no sofá onde antes estavam as crianças e com os cotovelos apoiados nas coxas, lembrou-se de um detalhe importante.

- Há algumas horas, Gisèle e Tereza saíram de casa - contou-lhes. - Elas deixaram um bilhete. Disseram que se encontrariam com Dante em algum lugar.

- O bruxo? - Isaac questionou.

- Semi-bruxo - Lírio corrigiu.

- O que seria um semi-bruxo? - Fin indagou.

- Ele... tem sangue místico nas veias - Lírio explicou. - É sensitivo, médium, mas não tem magia.

- E por que isso é relevante? - Gaia confrontou-os.

- Não sei - Carú balançou a cabeça. - Se estamos procurando um ponto de partida, então...

- Faz sentido - Odile concordou com ela, para sua surpresa. Carú não ousou olhá-la. Não engolia a história de que aquela mulher que destruira sua vida e a de seus irmãos agora estava, de alguma forma, mudada. - Se alguém nesse lugar consegue achar alguma resposta para essa loucura...

- É Dante - Lírio concordou. Sabia das habilidades do garoto.

- E como vamos achá-lo no meio disso tudo? - Isaac insistiu. Estava resistindo à vontade de acender outro cigarro.

Carú levantou-se. Foi como se os Deuses guiassem seus olhos. Pela janela da sala onde estavam, sob a luz das tochas do lado de fora, viu duas figuras correndo de mãos dadas. Uma ruiva, outra loira. Suas conterrâneas colegas de quarto. Concluiu aquela conversa:

- Acho que sei como.

- Oito horas - Aurèlia retornou à sala com a ordem pronta. - Esquentem água, tomem banhos, troquem essas roupas nojentas e encham as panças. E as mochilas, claro. Sono em dia. Vamos dar no pé em oito horas.

Rápido como entrou na sala, saiu. Os outros não discutiram, apenas se entreolharam em silêncio, ainda reunidos confortavelmente ao redor da lareira acesa. Sempre que o fogo ameaçava apagar, Caiden remexia as lenhas com um espeto. Oito horas lhes soou mais que o suficiente e a ideia de um bom banho foi o suficiente para fazer Ginevra levantar primeiro, deixando, além de uma Frey que dormia pesado, os quatro homens na saleta.

O silêncio era reconfortante e passava longe de ser desconfortável. Junto ao fogo e a Caiden, Düran aquecia-se com uma - a terceira - xícara de chá preto. Alaric recostou-se em uma poltrona que praticamente abraçava seu corpo e pensou em como facilmente dormiria ali. Kohan já não estava tão confortável. Inquieto, remexia-se na cadeira de madeira na divisa entre o corredor e a sala onde estavam.

Oito horas. Parecia muito e também tão pouco. Tempo suficiente para dormirem o que o corpo lhes pedia, mas que conflitava com a vontade de ficarem ali para sempre, ou até a comida acabar e o fogo apagar definitivamente.

- Está bem? - Caiden perguntou. Düran apenas percebeu que falava com ele quando nenhum dos outros respondeu. Caiden o observava de soslaio.

- Estou - obrigou-se a dizer. Passara por eventos traumáticos e esperava que não transparecesse no próprio rosto o quanto estava apavorado. Apesar de estar há horas ao lado do calor da lareira e com roupas secas, ainda sentia como se finas agulhadas congelantes penetrassem todo o seu corpo e lhe tirassem todo o ar, somado às garras que puxavam-no para baixo, para a escuridão, para o frio e a morte certa. Ainda não saberia explicar como estava ali, vivo. Seu olhar timidamente voltou-se para Kohan. - Obrigado.

- Pelo que? - Kohan perguntou despretensiosamente.

Düran riu com sarcasmo.

- Salvou minha pele lá atrás - o petrichoriano forçou as palavras a saírem. Não gostava de Kohan e, por mais que tentasse esconder, sabia que fazia um mau negócio. Não tinha um bom motivo para não ir com a cara do arandiano a não ser o corrosivo sentimento que o assolava quando o via com Azura.

Kohan respirou profundamente. Adiava ao máximo interações com Düran. Ele machucara Azura e não confiava nele. Entretanto, tentava redimir-se a qualquer custo e, apesar de nunca ter gostado daquela verdade, sabia que a petrichoriana o amava, de um jeito ou de outro. Aquela mulher ficaria destruída se algo acontecesse com Düran. Talvez, pensou consigo, foi o motivo de ter se arriscado na água congelante do mar de Vocra. Azura, não Düran.

- Qualquer um faria o mesmo - guardou suas sinceras palavras apenas para si. - Estamos juntos nessa, afinal.

- E você, grandão? - Caiden acomodou-se sobre o tapete, voltando-se para Alaric. - Está com cara de morto desde que chegamos aqui. Não te conheço bem, não, mas sei que não é assim.

Alaric tentou forçar um sorriso, mas falhou. Viu os olhares recaírem sobre ele e não conseguiu sustentar nenhum. Odiou aquela sensação. Sentiu falta de Viorica.

- Só estou pensativo.

- No que? - Caiden insistiu.

O arandiano deu de ombros.

- Em como eu quase morri - o ferimento na altura de seu peito entrou em foco. Estava bem tratado, mas ainda assim era profundo. - Centímetros para cima e eu estaria morto.

O mórbido silêncio retornou à saleta. Alaric obrigou-se a continuar.

- Eu não ligo se eu morrer. Eu vou ter meu lugar ao lado dos Deuses, do lado de meu pai e... eu só não quero morrer agora - o homem desviou sua atenção para seus dedos tamborilando nervosamente no braço da poltrona. - Deixei na Pedreira a mulher que amo, grávida de um filho meu. E, por conta de centímetros, estou vivo. Não quero que centímetros determinem se vou viver ou morrer, se vou brincar com meu filho e contar histórias desses dias.

Seus olhos cruzaram-se com os do irmão. Kohan era o único que não tinha pena carregada no olhar. Sentiu falta do irmão de criação, apesar de estar sempre ao seu lado. Nada era igual a antes.

- Não vou deixar que parta daqui sem segurar seu filho, irmão - Kohan disse as palavras que Alaric precisava ouvir. - Se quiserem te derrubar, vão ter que passar por mim.

Aquelas últimas palavras encerraram uma estranha e breve conversa. Ninguém perguntou se Caiden estava bem. Ele não estava. Ninguém queria morrer. Todos tinham muito a perder. Entre todo aquele silêncio gritante e perturbador, perdeu seu olhar nas chamas da lareira. Imaginou o que diriam sobre ele em um velório improvisado se fosse o próximo a morrer.

Um a um, os oito dividiram-se em turnos para usar os três banheiros do sobrado. A água esquentou rápido nas panelas e um banho quente fez com que todos se revigorassem. Frey não achou aquela ducha confortável. Reclamou da ressaca e por terem deixado ela beber tanto. Reclamou ainda mais quando sentiu a dor lancinante em sua perna e quando a água quente caiu sobre ela. Aurèlia a ajudou a se banhar e a chamou de bebê chorona o tempo inteiro.

Duas horas já haviam se passado do prazo de oito. Azura saiu do banheiro com as roupas da mulher que morara lá. Caíram perfeitamente bem em seu corpo. Ela apossou-se de uma blusa de manga comprida preta que cobria bem os ferimentos e escoriações que ela queria esquecer.

Ao andar pelos corredores do segundo andar daquela casa, percebeu que eram poucos os que ainda estavam acordados. Ouviu respirações pesadas e roncos altos em um dos quartos e lá embaixo, na saleta. As centenas de velas acesas que ameaçavam começar um incêndio agora estavam quase todas apagadas. Ela seguiu uma solitária luz trêmula que a guiou até uma pequena sala de lazer, mais próxima a uma biblioteca particular. Almofadas espalhadas pelo chão eram os únicos aconchegos que o recinto oferecia. Ao chegar lá, viu que a fonte de luz era apenas uma única vela que ameaçava apagar, cintilando sobre um pires no chão, no canto do quarto.

- Não me chamou para tomar um banho - mãos quentes envolveram a cintura de Azura. Ela assustou-se, mas logo o corpo relaxou. Kohan riu.

- Estou perdendo minhas habilidades - Azura voltou-se para ele. - Não te vi chegando.

- Por que não quis que visse - o homem sorriu. - Eu disse que aprendi a lidar com você.

A mulher sorriu. Colocou as mãos sobre o peito de Kohan e o beijou delicadamente e sem pressa. Ainda tinham seis horas para curtir aquele beijo. O homem inspirou profundamente e a ergueu do chão. Azura riu com o gesto e esperou que ele se encostasse na parede atrás dos dois. De lá, alcançou a porta e a encostou. Sentou-se no chão e ela sobre ele, envolvendo sua cintura com as pernas.

Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Não esperava por aquele tipo de contato tão cedo.

Viu os amendoados olhos de Kohan brilhando para ela à luz das chamas da vela. Seus dedos rumaram ao seu cangote e de lá tiraram seus cabelos negros e úmidos, jogando-os para trás. Sua boca quente e de lábios macios parecia não ter sofrido nada com o frio álgido do lado de fora. O homem depositou beijos por seu pescoço e Azura fechou os olhos de excitação. Entretanto, estava imóvel. Suas mãos não percorriam o corpo de Kohan como de costume.

- Você está bem? - o homem cochichou com o nariz colado ao dela, tentando decifrar aquele olhar sereno.

Para não trair a si mesma, Azura não o olhou nos olhos. Sentiu as mãos de Kohan repousarem na altura de suas coxas com delicadeza. Percebeu o que a impedia de curtir aquele momento. Tinha medo de sentir o mesmo nojo que sentiu quando Bron lhe tocou. Tinha medo que pudesse nunca superar aquele momento traumático e curtir noites de prazer entre quatro paredes com Kohan. Entretanto, um sorriso calmo despontou no canto de sua boca. Bron a fez sentir-se como um objeto, menos que isso. Kohan, por sua vez, a tocava com ternura e um desejo ardente e apaixonado. Era como se aquele homem lhe fosse um calmante em meio ao caos. Enquanto Bron lhe fez sentir menos que nada, Kohan a levava às alturas. Sentiu-se a própria Deusa Aurora, bela e confiante.

Não precisou responder àquela pergunta. Novamente colou seus lábios aos dele com fervor e suas costas desdobraram-se para frente, sem acanho, como se dançasse sobre o colo do homem. Sentiu as mãos de Kohan apertarem suas coxas e subirem. Puxou-a para mais perto. Azura sorriu de excitação quando sentiu o membro do homem sob ela. Desesperadamente, Kohan arrancou a blusa de Azura. Não se cansava de olhá-la assim, despida e entregue aos próprios desejos, só para ele. Suas mãos agarraram os cabelos da mulher e os puxaram para mais perto. A petrichoriana gemeu baixo e ele começou com um beijo em sua boca, calando-a. Desceu seus lábios por seu cangote até alcançar seu decote. Quando estava prestes a arrancar o sutiã preto que escondia o corpo que ele tanto cobiçava, a porta escancarou-se.

- Mas que porra?! - instintivamente, Kohan puxou Azura para seu lado e a cobriu. A mulher apenas arregalou os olhos de susto e vergonha.

Alaric não lhes deu atenção. Ele disparou até o canto da sala em menos de um segundo e apagou a vela com tanto desespero que quebrou o pires.

Os três mergulharam no escuro e silêncio e permaneceram imóveis.

- O que foi, Ric? - Azura tomou coragem para perguntar.

Alaric, com toda a cautela que tinha, aproximou-se da janela e acenou para algo lá embaixo. As vozes do lado de fora eram humanas e, pela feição do arandiano, sabiam de quem se tratava. Os verdadeiros monstros.

- Estão aqui. 

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