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73. Velório Simbólico

Aquela porta no fim do templo lhes levou para o lado de fora em uma espécie de quintal imenso e cercado por grades. Nos fundos daquele grande quintal, um sobrado lhes abriu as portas. Estava abandonado, como o resto da cidade, mas parecia mais bem preservado e surpreendentemente mais quente.

Os sobreviventes ajudaram os feridos a chegar ali. Frey, ainda fraca e desacordada, foi colocada no sofá de uma sala logo à esquerda da porta de entrada. No hall, Düran tirou as roupas congeladas e Azura correu para os andares de cima, pronta caso encontrasse surpresas ruins com garras e dentes. Entretanto, achou o que procurava. Entrou em um dos quartos e tomou todos os cobertores que conseguiu. Jogou-os sobre o amigo antes que esse entrasse em estado de choque pela hipotermia. Düran agradeceu, estirado no chão de madeira como se aquele fosse o lugar mais confortável em que já se deitara.

Os seis restantes separaram-se pela casa e prometeram reunir-se na saleta quando encontrassem o que quer que lhes fosse útil. Urros de comemoração faziam um ou outro sorrir pelos cantos. Exaustos, encontraram-se na sala em que Frey descansava. Moldaram um pequeno círculo e ali jogaram o que lhes parecera útil. Aurèlia fez a limpa em todos os armários e jogou no centro da roda as roupas que aquela família deixara para trás. Parecia um pai, uma mãe e dois filhos adolescentes. Vocra era um ambiente quente, mas ainda assim esfriava vez ou outra. Se tomassem todas as roupas dos antigos moradores, conseguiriam aquecer-se no frio glacial do lado de fora. Ginevra encontrou remédios sofisticados que tratariam ainda melhor das feridas de todos, principalmente das de Frey. Imaginou que os moradores fossem no mínimo ricos. Azura e Alaric trouxeram algo que lhes fez os olhos brilharem - comida fresca. Salgados, pães, doces, até a carne estava boa. Isso os fez pensar que, o que quer que tenha acontecido com os vocranianos, foi uma despedida recente das terras. Rápida e recente. Não levaram nada. Enquanto devoravam um delicioso pão caseiro, Caiden e Kohan trouxeram as bebidas, sob as comemorações de todos. Foi como a noite começou.


- A gente podia jogar alguma coisa - Frey acordara depois de tanto tempo. Contanto que bebesse o gin, não sentiria nada. Logo tornaria a dormir, mas por estar tão bêbada e anestesiada. Não ousava olhar para a ferida suturada na perna e muito menos se mexer. Ainda tinha algumas horas antes de Ginevra voltar a tratar de sua coxa.

- Jogar? - Caiden riu.

- É. Eu não quero mais ficar sem fazer nada - a Kino cochichou. Seus olhos tornavam a pescar. Sua barriga cheia de trança de doce de leite lhe embalava lentamente em um sono confortável.

Os outros riram da bebedeira da Kino, felizes por ela estar melhor. Estavam ali há horas e sem noção de tempo, de dia e de noite. Não sabiam o quanto deviam esperar. Sentiam - ou fingiam - o cansaço um pouco mais. A casa era confortável, tudo o que precisavam. A lareira estava acesa. Se deram ao luxo de repousar e comer e beber após verem a morte de frente.

- Não quero ser estraga-prazeres - Caiden colocou uma garrafa de hidromel vazia sobre a mesa de centro ao seu lado -, mas quanto tempo vamos ficar aqui?

Sua pergunta era algo a qual todos adiavam. Eles se entreolharam em silêncio antes de alguém ter coragem de dizer o que todos pensavam.

- Não sei vocês, mas não quero sair daqui tão cedo - Ginevra verbalizou. - Quase morremos. Frey quase morreu, e Düran, e...

Eles olharam para os feridos. Düran já se recuperara da hipotermia que quase fez seus órgãos congelarem. Vestia roupas de um dos adolescentes da família. Frey agora dormia como um bebê.

- Acho que deveríamos esperar mais algumas horas - Aurèlia verbalizou. - Pelo menos até nos recuperarmos.

- Física e psicologicamente - Alaric lembrou. - Perdemos um dos nossos e nem... nem fizemos nada.

Os sobreviventes sentiram-se culpados pelo conforto. Bron perdera a vida lá fora. Não dera a sorte deles de escapar de criaturas sem nome com sede por sangue e vísceras.

- Devíamos fazer alguma coisa - Aurèlia sentou-se, desencostando-se do sofá. - Como um enterro.

- Um enterro sem corpo? - Kohan debochou.

- Um velório, que seja - a Kino corrigiu-se. - Dizer algumas palavras.

Azura sentiu seu estômago revirar. Os outros consentiram em silêncio. Estavam reunidos ao redor da lareira.

- Ninguém conhecia o cara - Düran disse o que pensavam.

- Quer dizer alguma coisa, Azura? - Ginevra encorajou. - Ele estava com você por último.

A respiração da petrichoriana falhou. Não tinha nada a dizer sobre Bron. Sentiu novamente a náusea percorrer por seu corpo e um frio na barriga. Ódio e repulsa. Como queriam que falasse palavras bonitas sobre aquele homem? E como difamaria um homem morto em seu próprio velório simbólico?

- Não quero fazer isso - a petrichoriana murmurou.

- Por que não? - Aurèlia a provocou. - Alguém precisa dizer alguma coisa sobre o homem e eu só sei o nome dele.

- Não sei muito mais.

Mentira. Sabia. E guardava o segredo sujo de que talvez pudesse tê-lo salvado quando ele pediu por ajuda. Mas não quis.

O passatempo predileto de Aurèlia era provocar Azura, mas não conhecia as delicadezas por trás daquele assunto. Abriu a boca para falar, mas Alaric não lhe deu espaço. Percebeu o desconforto de sua amiga.

- Eu falo - o arandiano comentou. Os olhos voltaram-se para ele e, por um segundo, todo o clima de felicidade de terem encontrado comida e abrigo e roupas e remédio esvaiu-se pelas brechas das janelas. Apenas o trepidar das chamas da lareira pode ser ouvido. O clima de felicidade esvaiu-se. Estavam em um velório. Alaric pigarreou. - Não conhecíamos Bron afundo, mas sabíamos que era um bom homem. Dispôs-se a seguir-nos em um caminho obscuro e uma viagem... improvável ao lado de pessoas que não conhecia. Morreu como um herói. Sabemos que sua alma agora está com os Deuses e ele está em um lugar bem melhor que nós.

Alaric ergueu a cerveja em mãos.

- À Bron.

- À Bron - o coro o seguiu. Menos Azura. Seu lábio inferior tremia e ela cansou de manter a farsa. Levantou-se e deixou a sala sozinha.

O restante se entreolhou. Algo estava errado, algo que não sabiam. Kohan ameaçou levantar, mas Aurèlia foi mais rápida.

- Deixe que eu falo com ela - limpou a poeira das roupas.

Kohan semicerrou as sobrancelhas em dúvida.

- Ela parece precisar de um ombro amigo.

Aurèlia deu de ombros.

- Nunca se sabe o que um ombro cheio de deboche pode fazer em momentos de crise.

Azura acendeu a vela no quarto de uma das crianças e por lá ficou. Queria esquecer Bron, mas não conseguia. Nada a deixava esquecer. Ainda mais frequente que a cena do homem morrendo era a dele empurrando-a contra aquela árvore. Ela ainda conseguia sentir suas mãos explorando seu corpo sem permissão, sua boca pressionando a sua e tentando invadi-la, os botões de sua calça abrindo. Daria tudo por um bom banho. Ouvir da boca de Alaric que aquele homem estava em um lugar melhor que eles, ao lado dos Deuses, lhe fez sentir uma angústia gritante. Isso é injusto!, quis gritar. Não é justo.

Achei que fosse mais respeitosa, petrichoriana - a voz travessa de Aurèlia chegou aos seus ouvidos. Azura olhou para trás. A Kino estava recostada no batente da porta e a olhava com os braços cruzados. - Sair assim durante as palavras a um falecido amigo?

Azura bufou.

- Me deixe, Aurèlia - esbravejou.

A Kino fingiu estar ofendida.

- Qual é, desculpa se eu te pressionei. Foi a última a ver o cara, acho que fala bem em público e poderia fazer uma homenagem, só isso. Eu adoraria ouvir palavras suas no meu funeral.

A petrichoriana não lhe deu atenção. Seus olhos estavam perdidos na janela lá fora, por mais que nada visse além do próprio reflexo à luz das chamas.

Azura balançou a cabeça.

- Só não quero falar sobre Bron.

- Para que tanta amargura com o finado? - a Kino brincou. - O que ele te fez?

A mulher perdeu as palavras. Formaram-se nós em sua garganta. Queria contar. Precisava que alguém soubesse, mas ao mesmo tempo queria enterrar aquele episódio para sempre. Nem mesmo os Deuses presenciaram, desaparecidos como estavam. Seus olhos cinzentos então olharam fundo nos de Aurèlia. O sorriso travesso da Kino desapareceu. Ela viu quando Azura levou as mãos aos punhos e puxou o tecido da blusa para baixo. Mesmo sob a luz das chamas, Aurèlia viu as marcas roxas ao redor dos braços da petrichoriana. Azura olhou para baixo, envergonhada, sem saber o porquê. Aurèlia rapidamente fechou a porta atrás de si e deu passos largos em direção a ela. Tomou seus punhos nas próprias mãos e viu as marcas de dedos.

- Não me diga que... - a fúria subiu a cabeça da Kino. - Aquele filho da puta! Azura, o que ele fez com você?

Shiu - a petrichoriana pediu silêncio, puxando os braços de volta para si.

- Ele...?

- Não. Fugi antes.

- Você matou ele? - a Kino indagou. - Porque se tiver matado eu passo pano, eu juro, eu teria matado aquele imundo.

- Não matei - Azura massageou as têmporas. - Mas não ajudei quando podia ter ajudado.

Aurèlia percebeu que estava pisando em ovos e estava os quebrando, todos eles. O assunto era mais delicado do que ela pensava.

- E aquele filho da puta ainda estaria aqui? Sem chance - Aurèlia esbravejou, batendo os pés pelo quarto. - Você pode ter bom coração, mas eu ia matar ele. Eu ia deixar ele congelando do lado de fora, amarrado pelado em um poste. Imagino o que... - fez uma pausa - Kohan sabe?

- Claro que não.

A menção de Kohan fez a voz de Azura sumir.

- Quer falar sobre isso?

Azura sentiu vontade de rir. Aurèlia nunca esteve lá por ela a não ser para pegar em seu pé. A petrichoriana negou com a cabeça.

- Não, não quero.

- Fale, Azura - Aurèlia insistiu - É bom por para fora.

- Não quero.

- Fale.

- Falar o que? - irritadiça, Azura respondeu. Lágrimas brotaram de seus olhos e sua voz embargou. - Que merda, o que quer de mim, Aurèlia? Quer que eu te conte como eu me senti um lixo, como eu ainda sinto as mãos nojentas daquele homem em mim? Quer que eu conte como eu tentei aguentar as palavras de Alaric ali embaixo dizendo o quanto ele era um bom homem e está num lugar melhor? Eu não quero que ele esteja em um lugar melhor, eu quero que ele apodreça no inferno! - mal percebeu quando já estava gritando. - Eu não me preparei para essa merda - seu punho fechado bateu na mesa de cabeceira daquele quarto. - Eu me preparei para lutar, para ser boa no que eu faço. Me preparei para matar soldados e degolar reis genocidas. Mas não para essa merda.

Aurèlia mordeu o canto inferior da boca. Azura soluçou e limpou as lágrimas.

- Desculpa por te provocar - a Kino soou como uma criança envergonhada. - Sabe que gosto de te encher o saco.

Azura riu, para sua surpresa. Secou o rosto com as costas das mãos e sentou na cama. Aurèlia acomodou-se ao seu lado.

- Sei que não gosta de mim, Aurèlia.

- Isso é mentira - a Kino admitiu. - Eu só...

- Só o que? - Azura incomodou-se com a pausa.

- Vai me fazer falar?

- Claro que vou.

Ambas deixaram risos escaparem.

- Talvez eu tenha... inveja.

- De mim? - Azura indagou.

- Não, da Fada do Dente. Acorda, Azura.

A petrichoriana sorriu.

- E por que teria?

Aurèlia jogou-se de costas na cama e Azura voltou-se para ela. A Kino fez outra breve pausa, mas retornou a conversa seriamente.

- Desde que eu era pequena fui treinada para ser uma líder. Assim que eu comecei a andar, meu pai me deu um bastão. Meu primeiro brinquedo foi uma arma - a Kino sorriu com a lembrança. Colocou as mãos atrás da cabeça e se ajeitou na cama. - Eu não me tornei uma Kino, eu nasci uma. E meu pai me treinava para ser a melhor, a mais poderosa, temida e amada. Aquele povo confiava em mim e eu estava pronta para ser uma boa líder. Aí você chegou - os olhos de Aurèlia cruzaram-se com os de Azura, inchados e vermelhos -, e todo mundo te amou logo de cara. A petrichoriana das tatuagens, que lutou nas rebeliões, que não abaixou a cabeça, que voava com os dragões. Já chegou pronta para o que eu treinei a minha vida inteira.

- Não pedi por isso - Azura murmurou. - E nunca voei com Tohrak.

- Sei que não. Mas é boa. E não sei onde está seu amigo alado cheio de dentes, mas agora seria uma boa hora para ele aparecer - Aurèlia brincou. -É uma boa líder, Azura. E... já que estamos sendo bem sinceros, quero te contar uma coisa.

Azura sentiu o tom travesso na voz da Kino.

- O que?

- Não pode me julgar e nem contar para ninguém, petrichoriana.

- Prometo - riu. - Vai, fala.

Okay - Aurèlia sentou-se na cama com um sorriso pueril. - Talvez eu tenha... dado uns beijos em Düran vez ou outra. E algo mais. De vez em quando.

Os olhos de Azura se arregalaram.

- Deuses! Eu não sabia!

- É claro que não, eu como quieta. E ele também, pelo jeito.

A petrichoriana jogou a cabeça para trás, processando aquela notícia.

- E aí?

- E aí que... foi quando a gente se conheceu. Qual é, o homem é lindo para caralho. E eu estava fazendo toda aquela minha ceninha de princesa indefesa... Aí quando ele descobriu quem eu realmente era e eu o trouxe para viver com os Kinos, acabei perdendo o interesse. Sabe, eu gostava de vê-lo correndo atrás de mim, mas eu tinha olhos para outro, enfim. Eu tinha Düran na palma da minha mão - Aurèlia balançou a cabeça, recordando-se de outros tempos. - Até você chegar. Aí ele comia na sua mão.

Azura não sabia se gostava da expressão.

- Então me odeia por ciúmes?

Aurèlia bufou.

- Não te odeio, mulher. Só sinto inveja. Acho que lutei a vida toda por algo que caiu na sua mão e... gostei desse lance de te provocar.

- É, eu percebi.

As duas riram.

- Vamos dar uma trégua? - Aurèlia propôs.

- Vamos - a petrichoriana concordou com um sorriso singelo no rosto. - Mas tenho uma condição.

Aurèlia revirou os olhos.

- Não gosto disso. Manda.

- De quem era afim?

- O que?

- Disse que tinha olhos para outro e não para Düran. Quem?

- Não vou ter um papo calcinha com você agora, não, petrichoriana.

- Ah, qual é! Me conta.

- Já sabe segredos demais meus.

- Por favor?

A Kino mordeu a língua, envergonhada.

- Okay, mas isso...

- Não sai daqui. Eu sei.

- Tudo bem - Aurèlia deu de ombros. - Eu tinha uma queda por Lírio.

- E quem não teria? - Azura não surpreendeu-se. - Aquele homem é um Deus.

- É, eu sei! - Aurèlia riu, sentindo-se compreendida. - Parece que a Deusa Aurora cagou em cima dele de tão lindo que o homem é. E eu fiz de tudo, Azura, fiz de tudo para ele me notar.

- Tenho certeza que se a história fosse outra, Lírio estaria aos seus pés.

- É - Aurèlia sonhou, olhando para o nada. - Mas ele tinha outros planos, não?

- Quem diria? - Azura riu com a ironia.

- Não dá para competir com a rainha - a Kino brincou. Seu sorriso logo desfez-se. - Nós brigamos antes de eu vir. Eu queria que ele viesse e... sei lá, fui egoísta - olhou para o lado de fora da janela, esperando ver a lua e decepcionando-se ao lembrar que esta já não mais era cúmplice de suas noites. - Espero que estejam bem por lá.

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