67. Quarentena
- Acho que estamos chegando - a incerteza na voz de Aurèlia preocupou-lhes silenciosamente. Aquela mulher insistia em passar-se por rocha o tempo inteiro, andando na frente com o mapa desenhado nas mãos e sem olhar para trás. Quando esta mostrava qualquer sinal de fraqueza, por menor que fosse, os outros sentiam-se com as estruturas abaladas. - Trinta minutos de caminhada, talvez.
- Estamos exaustos, Aurèlia - Düran exclamou, o único que ainda sentia-se confiante para bater de frente com a Kino e suas ordens.
Parecia ter se passado uma eternidade desde que o grupo saíra da caverna. Não tinham noção alguma. Os poucos que tentaram contar as horas perderam-se depois de minutos. Nada lhes guiava na escuridão. Estavam convictos de que, se Sonca tivesse nascido, com certeza já teria tornado a se deitar àquele momento.
As pernas cansadas dos nove lhes diziam que era hora de descansar. Entretanto, estavam no meio do nada. A vegetação ainda parecia a mesma desde que saíram da Pedreira, em um labirinto infinito que apenas Aurèlia, com sua sede por liderança, insistia em tentar decifrar.
- Apenas meia hora de caminhada - a Kino insistiu, mesmo que contraditoriamente seu corpo parasse e repousasse nas raízes de uma árvore próxima, levando os outros a fazerem o mesmo. Viu a exaustão perpetuar-se pelo rosto de seus colegas. Ela tirou uma garrafa de água da mochila, já quase vazia, e deu o último gole. O frio tão agressivo deixara a bebida trincando. - Estamos ficando sem comida.
- Como tem certeza de onde estamos? - Azura questionou, recebendo o fuzilante e corriqueiro olhar de Aurèlia.
A Kino ergueu o mapa que seu pai desenhou.
- Sou eu quem está com isso aqui, lembra? - sua voz debochada tentou não soar agressiva, Azura percebeu, como se estivesse cansada demais para comprar sua briga preferida.
- Com todo o respeito, Aurèlia - Caiden, sentado entre a folhagem e pouco se importando de estar no meio do caminho, arriscou uma pequena alfinetada -, mas isso é um pedaço de papel desenhado.
Aurèlia pensou em tanto para falar, mas viu-se tão cansada que preferiu simplesmente inspirar profundamente.
- Tem ideia melhor? - a Kino mordeu o lábio inferior com força. Estendeu o mapa para frente para quem quisesse pegá-lo. Em seu âmago, torcia para que alguém o fizesse. Se continuasse ali por mais um instante, mesmo que as raízes não fossem uma confortável cama acolchoada com penas de ganso, dormiria como um bebê até sabe-se lá quando. Seu despertador natural fugira do céu.
Ginevra deu um passo à frente e ameaçou tomar posse do papel, mais por sentir que Aurèlia necessitava de um descanso do que por pensar que poderia ser mais ágil que ela com um mapa cheio de garatujas e sem escalas. Todavia, não o fez. Ela olhou para cima, tentando não focar na falta de norte sobre sua cabeça, uma imensidão tão vazia e escura. Procurou por uma árvore alta e com troncos que lhe possibilitassem uma boa subida. Assim que a encontrou, sem precisar procurar muito, tirou a mochila e a deixou cair no chão. Viu que tinha capturado a atenção dos outros.
O primeiro galho já estava a uma boa altura do chão. Sentiu-se estúpida, mas pulou. Não o alcançou. O tronco cheio de irregularidades arranhou-lhe a pele por debaixo das diversas camadas de roupa. A bruxa arfou.
- Anda - Kohan logo prostrou-se ao seu lado. Ele uniu os dedos das mãos e abaixou-se, tracionando as pernas. Indicou com a cabeça para o apoio improvisado -, suba aí.
Ginevra sorriu em agradecimento e colocou o pé esquerdo nas mãos de seu irmão postiço. Kohan sentiu a neve das botas de Gine por entre seus dedos. Com certo esforço de ambos, Ginevra pulou e Kohan a empurrou, fazendo com que ela alcançasse o primeiro tronco.
A bruxa arfou com o esforço, mas o resto do percurso foi mais fácil. Não deixou que ninguém percebesse o quanto aquele gesto fora impensado. Tinha medo de altura e não era a pessoa mais atlética que conhecia.
Galho por galho, Ginevra subiu mais e mais, até não conseguir mais ver seus amigos lá embaixo. Como se passasse por uma camada de nuvens carregadas e escuras, logo emergiu por sobre a maré de folhas enegrecidas e viu o tapete que formavam, infinito e banhado com gotículas brancas de neve. Ela repousou as costas na árvore com a visão, sentindo-se aliviada. Se estivessem em outra situação, com certeza apreciaria a paisagem.
- Gine? - ouviu-se ser chamada debaixo.
A bruxa não respondeu. Ela esticou-se um pouco mais para a ponta do galho e procurou seu destino. Suas sobrancelhas se cerraram quando encontrou Vocra.
- Estamos perto - Ginevra pulou dos galhos para a terra firme, sendo apoiada por Kohan, que não saiu do lado da árvore até que ela descesse. - Chegamos lá em menos de meia hora.
Alguns suspiros de alívio foram abafados pelo olhar de preocupação da arandiana.
- O que viu, Gine? - Azura perguntou. Sabia que algo estava errado.
Ginevra abriu a boca, procurando pelas palavras certas.
- O que não vi - respondeu. - Não há luzes em Vocra. Nenhuma.
- Talvez estejam dormindo - Frey sussurrou uma inocente possibilidade.
O grupo se entreolhou. Sabiam que algo estava errado e nada mais limitava-se apenas ao clima e a ausência dos Deuses Astros sobre suas cabeças.
- Deveríamos continuar? - Aurèlia indagou, ainda recostada nas raízes, como se quisesse fundir-se com elas. Sua cabeça repousava no tronco da árvore. - Esse lugar é sinistro.
Sem luz alguma, qualquer lugar torna-se sinistro.
- Talvez devêssemos parar por hora - o som da voz da petrichoriana ecoou. Era tudo o que queriam ouvir. - Eu vou na frente. Vou ver se é seguro.
Kohan a fuzilou com os olhos, ao ponto que os outros pareceram simplesmente concordar com aquele plano riscoso de uma decisão tão impensada.
- Por quê? - o homem aproximou-se dela. - Estamos quase lá.
Azura, o olhando de baixo, pediu por compreensão com o olhar.
- Eles mal andam, Kohan - cochichou. - E não sabemos o que vamos encontrar em Vocra.
- Exatamente - o arandiano concordou, usando suas palavras contra ela mesma. - Vou com você.
A petrichoriana sorriu um riso sem graça. Deu um passo em sua direção e tomou seu rosto com uma das mãos.
- Olhe para você, Kohan, está um caco - riu, tentando parecer simpática.
O homem riu. Concordou. Se desse mais um passo, provavelmente não aguentaria mais o próprio tronco em pé. Aquele dia já deveria ter chegado ao fim para todos eles.
- Não vai sozinha.
- Não me importo.
- Não foi uma pergunta.
- Eu vou com ela - Bron introduziu-se na conversa. O homem colocou-se ao lado dos dois. Já estava com a mochila nas costas e uma balestra à postos em mãos. - Estou bem disposto.
Kohan encarou Bron. Não gostava daquele homem e não sabia ao menos dizer o motivo. Entretanto, sabia que Azura tinha razão. Ele próprio precisava descansar o quanto antes. Não seria mais que um peso morto se não pregasse os olhos imediatamente e recuperasse as energias. Bron ir com Azura significava que ela não estaria sozinha. Sentiu o beijo da mulher em seu rosto.
- Voltaremos logo - a garota deixou o arco e flechas preparados, arma a qual dispusera-se a aprender durante o tempo na Pedreira. Teve boas aulas com Alaric e concordou que ter uma boa arma de longo alcance seria útil. Ela aprendeu rápido, apesar de não poder considerar-se ainda uma boa arqueira. - Prometo.
Kohan olhou para trás. Viu que os outros já haviam concordado com aquela ideia, postos em um meio círculo, prontos para descansarem.
- Chegue em Vocra e vejam se é seguro. E voltem logo - o arandiano murmurou, sério, focando os olhos nos de Azura. - Se não voltarem em uma hora, eu vou atrás de vocês.
- Nos dê duas horas - Azura pediu.
- Uma e meia - roubou um beijo da mulher. - Agora vão.
Azura concordou. Bron já tinha seguido caminho quando ela olhou para trás pela última vez. Kohan sorriu, tentando passar-lhe segurança, mas não sentia-se seguro ele mesmo. Aquela ideia lhe cheirava mal. Teve certeza de que não pregaria os olhos por uma hora e meia.
Azura e Bron esperavam chegar a Vocra, mas não sabiam o que Vocra lhes guardava.
A previsão de Aurèlia estava errada. A de Ginevra, ainda mais.
Os passos determinados que saíram da Pedreira não estavam mais presentes. Quanto mais andavam, mais sentiam-se exaustos. O silêncio já reinava há prolongados minutos, sendo encoberto plenamente pelas pegadas pesadas sobre folhas e galhos secos dos dois que ousaram arriscar-se. A floresta por onde passavam parecia cada vez mais morta. Os animais, se ainda estivessem por lá, não davam as caras e não abriam os bicos. A neve que contrastava com a escuridão era tanto um guia quanto um pavor. Não nevava no Vale de Awa por completo desde antes dos Deuses tomarem seus lugares. Azura pensou se era assim que Sonca e Marama viviam em Petrichor, sob a luz de nada. Perguntou-se como poderiam ser felizes.
- Tem quantos anos, Azura?
A pergunta a pegou desprevenida, perdida por entre pensamentos. Ela e Bron estavam quietos até então. Se trocaram palavras diretas duas vezes, foi muito. Seus diálogos limitavam-se às reuniões do Conselho.
- Tenho vinte - respondeu-lhe sem se voltar para trás. Tinha se determinado a seguir a frente, quase esquecendo-se da presença do homem que a seguia, não fosse pelos passos pesados acompanhando-a em sua cola. Ela viu Bron erguer uma das sobrancelhas, como se a resposta lhe agradasse. Azura nunca gostou dele, o que não era de sua natureza. Entretanto, sentia que deveria manter o pé atrás com aquele ali. Sentiu o olhar penetrante do homem em suas costas. - Por quê?
- Nada - rapidamente lhe respondeu. - Quis confirmar. Afinal, você não é bem o que se espera de uma garota da sua idade.
Azura diminuiu o passo. Bron acelerou o seu e colocou-se ao lado dela.
- O que quer dizer com isso? - a petrichoriana não escondeu a irritação na própria voz. Não gostava de conversas rasas e falsos elogios.
Ela o observou desconfortavelmente. Bron não parava de estudá-la dos pés à cabeça. O homem tinha a pele negra como se tivesse nascido em Arande e o sol tivesse se aproveitado de sua melanina. Tinha algumas poucas rugas no rosto e seu tronco era forte. Ela apostou que vivera do trabalho braçal na Pedreira. Parecia ter o dobro da idade dela, ou quase.
- Quero dizer que não esperava que nossa salvadora fosse uma mulher como você. Só isso - o homem murmurou, tirando as folhagens de seu caminho. - Nova, bonita, forte, independente...
Azura o fuzilou com o olhar. Sentiu-se nauseada.
- Salvadora? - debochou. - Nos poupe, Bron. Já não gosto de ser tachada de coisa nenhuma. Líder da revolução, rosto do estopim, tenha o nome que quiserem dar. Agora, salvadora é o pior deles.
A garota olhou em frente. Por entre toda a vegetação escura, teve certeza de ter visto uma campina. Sabia que os próximos passos os deixariam em Vocra. Não sabia mais do que o nervoso em seu estômago era: por estar tão próxima à metade do caminho ou por aquela conversa desgostosa com Bron. Queria tê-lo deixado para trás.
- Mas é o que é para eles, não é? - Bron insistiu. Azura sentiu seu coração pular uma batida quando a mão gélida de Bron tirou seu cabelo da frente de seu rosto.
A garota esgueirou-se para trás, parando. Bron, para sua surpresa, riu.
- O que acha que está fazendo?
Bron deu um passo para frente, à medida que ela se afastava, insegura.
- Qual é, petrichoriana? - Bron aproximou-se até Azura dar de costas com uma árvore. Encurralou-a ao segurar em seus antebraços. Sabia que ela tentaria revidar. Sua força era superior à dela e, pela primeira vez, Azura viu-se sem reação quando ele colou seu corpo ao seu. - Vi como me olha. Pare de se fazer de difícil... Não vou contar a ninguém.
Quando ela viu onde àquela proximidade direcionava-se, enfureceu-se.
- Me solte, seu... - esbravejou, mas Bron não deixou-a terminar a sentença. Colou seus lábios aos dela com força, não deixando que a mulher abrisse a boca para pedir ajuda.
Azura sentiu o ar faltar quando ele oprimiu-a contra a árvore. Tentou desvencilhar-se de sua boca, mas Bron foi mais forte. Ele uniu seus braços em frente ao seu tronco e segurou-os com uma das mãos. A outra, levou ao seu corpo. Ela tentou gritar de fúria e repulsa ao senti-lo tocá-la.
Uma lágrima de desespero escorreu por seu rosto enquanto debatia-se. Já lidou com soldados que queriam arrancar-lhe a cabeça, espíritos do bosque prontos para sugar-lhe a vida e cães infernais que arrancariam-lhe um membro sem hesitar. Mas nunca lidou com aquilo. Sentiu-se resumida a nada, a um objeto sem valor. Quando sentiu a mão de Bron abrir os botões de sua calça, a cólera e a aflição falaram mais alto que qualquer estado catatônico. Ela debateu-se até que um de seus braços estivesse solto de seu aperto e não hesitou em levar o cotovelo com força em sua glote. Bron gritou com a dor e a soltou. Azura desvencilhou-se.
- Sua filha da... - o homem começou, sem ar, mas ela não deixou que terminasse. Seu chute acertou-lhe a intimidade com tanta força que Bron caiu para frente, desnorteado. Sua cabeça bateu na terra e por pouco não conheceu os pedregulhos afiados que estavam ao seu lado.
Azura o olhou no chão, resmungando e incapaz de se levantar. Ela rapidamente engoliu o choro e limpou uma lágrima. Sentiu gosto de sangue na boca e uma ardência nos lábios. Com o dedo médio, tocou uma ferida no lábio inferior. Ele a mordera.
Nunca em toda sua vida sentira tanto desgosto ao olhar para alguém. Teve certeza de que o mataria ao alcançar sua adaga.
Bron tentou levantar-se e ergueu uma das mãos, como se pedisse por piedade. Sabia que sua força física superaria a dela, mas não tinha dúvidas do que ela era capaz de fazer com uma faca em mãos.
A petrichoriana evitou olhá-lo. Sentiu o peito subir e descer com a fúria crescente que alastrou-se dentro de si. Poderia matá-lo, mas não conseguiria. Bron tentava levantar-se agora, mas olhava nos olhos cinzentos de Azura como se soubesse que qualquer movimento brusco poderia causar-lhe o fim.
Ela inspirou profundamente. Tomou sua decisão. Não o mataria, mas deixaria que o Vale o fizesse por ela. Bron não sobreviveria sozinho e em circunstância alguma ele voltaria a andar ao lado dela, dormir ao lado dela e pior, ficar ao lado das outras. Podiam ser Ginevra, Aurèlia, Frey, ali no lugar dela. Poderiam não ter tido tanta sorte quanto ela de se esquivarem.
A petrichoriana cuspiu o sangue que acumulou-se em sua boca no chão, aos pés de Bron. Deixou-o com os olhos arregalados de medo ao vê-la seguir caminho e deixá-lo só.
Tirando o dia em que viu as flechas atravessarem o corpo de Nikki, aquele tornara-se, sem sombra de dúvidas, o mais aterrorizante de sua vida.
Foi depois de tanto esforço que a rainha finalmente conseguiu ceder ao cansaço ao lado de Lili, afundada no sofá, enquanto Nikki e Fin colocavam a conversa em dia ao lado da lareira, cujas chamas trepidavam a lenha e ameaçavam apagar. Fin tinha o irmão mais novo nos braços e Nikki, o enteado. Pöli já se esgueirara para o quarto para ficar com Celeste.
A rainha acordou com um sobressalto na escuridão ao ouvir o forte bater de uma porta e as gritantes lamúrias de um homem que logo identificou como Pöli.
A casa acordara junto com ela, despertando com o susto. Os dois pequenos bebês choraram, como se soubessem que nada melhorara durante aquele breve sono.
Odile apalpou as paredes até dar de cara com a porta de seu quarto fechada. Ouvia claramente o choro desesperado de Pöli através dela. Temeu pelo pior.
Uma vela acendeu-se atrás dela e Odile viu Nikki colocar-se ao seu lado. Desesperados, perguntaram o porquê do pavor de Pöli. O homem lhes contou que a mulher chorava lágrimas negras.
Viorica aprumou-se à janela, espiando pelas frestas da cortina fechada e empoeirada, espirrando de minuto em minuto. A mão que segurava o chá tremia com o nervosismo. Nem mesmo uma boa dose de capim-cidreira estava lhe ajudando. Sua outra mão repousava-se na barriga, segurando o filho que gerava. Ao mesmo tempo que seus olhos focavam na escuridão vazia do lado de fora, seus ouvidos estavam apurados para a conversa que desenrolava-se ali, do lado de dentro.
- Tem que ter um jeito de entender isso tudo, Dante - Azriel, indignado, coçava a nuca. Uma mísera vela acesa no centro do recinto os iluminava. A cera derretia-se mais e mais e logo não teriam mais pavio. - Foi por isso que vim para cá e não para casa. Ginevra teria respostas ou pelo menos saberia onde procurá-las.
- Não sou Ginevra - Dante respondeu. Seu chá já estava frio e ele apenas o bebericava para não desperdiçar o que ainda tinham como recurso.
Sentados no chão de madeira, frente a frente, discutiam.
- Minha irmã pode ser uma bruxa desde que nasceu, mas só começou a estudar há três meses. Tinha esperanças de que você pelo menos tivesse mais tempo de estudo que ela.
Dante nervosamente estalou os dedos da mão. Ele tinha lido muito durante a vida, mas menos do que gostaria. Suas leituras resumiam-se a o que as patrulhas do Bosque conseguiam contrabandear para ele em suas idas às terras populosas. Entretanto, preferia gastar seu tempo aprendendo sobre a medicina holística e estudando as plantas do Vale. Apesar da curiosidade com o assunto, passava longe de magias negras.
- Nem ao menos sabemos se isso é bruxaria.
- Prefiro acreditar que é. Senão, seria o que?
As respostas à pergunta de Azriel sustentaram-se no ar. Estavam na ponta da língua, mas nenhum deles ousou verbalizá-las. A ausência do Sol e da Lua podia vir a ser cena bem pior do que imaginavam.
- Eu não tenho as respostas aqui - Dante matou o chá em suas mãos e deixou a xícara rachada no chão ao seu lado -, mas talvez saiba onde procurar.
Viorica levantou-se àquelas palavras.
- O que estamos esperando, então? - bateu o pó das roupas impacientemente. - Estamos aqui há um dia, acho eu. Não tem como saber.
- Não sabemos os perigos de sair, Vio - Azriel lembrou-a.
A lembrança da mulher morrendo no centro da Pedreira voltou a mente da arandiana.
- Eu assumo os riscos, Azri - deu de ombros, aproximando-se deles. - Onde temos que ir, Dante?
Dante perdeu-se na pouca chama da vela que ainda tinham.
- Lembro de ter visto uma biblioteca caindo aos pedaços nos subúrbios da Pedreira.
- Aonde? - Viorica insistiu.
- Perto da Cebola.
- Não é longe - Azri calculou. - Ainda assim, é uma bela caminhada lá fora.
- Eu não vou ficar aqui parada esperando um milagre acontecer. Não sei nada sobre Ric e os que partiram, mas eu preciso descobrir alguma coisa - seus passos rápidos rumaram novamente em direção à janela e Viorica abriu as cortinas. Não viu ninguém do lado de fora. Era como se a Pedreira entrasse em quarentena.
Dante e Azriel se entreolharam. A determinação da mulher os inspirou.
- Nós vamos, então? - com certo medo na voz, Azriel murmurou. Sua pergunta foi para Dante. Precisavam dele para saber por onde começar.
Dante levantou-se antes que desistisse da ideia.
- Se vamos, vamos agora.
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