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54. Satisfações Ao Coração

Gisèle já conhecera o desespero, mas não era como se aquele contato passado tivesse deixado as coisas mais fáceis.

Ela estava segura, assim como Tereza e o pequeno Cöda, encontrados ali nas perdidas árvores do Bosque onde as belas fadas os trouxeram, parte daquele grupo.

Os trovões e raios começaram a iluminar os céus sobre suas cabeças e ela viu suas pernas se movimentando antes mesmo de lhes dar tal comando. Pelo escuro, encontrou os feridos, os enlutados, os perdidos. Mas não o encontrava.

- Caiden? - sua voz falhou ao chamar seu nome. Gisèle cambaleou por entre as árvores e vegetações como se estivesse embriagada pelo próprio medo. - Caiden!

- Gis?

Ela virou-se para a voz. Caiden saiu de trás de uma das árvores. Sua testa sangrava, ela viu quando um dos raios cortou o céu. Tirando isso, estava inteiro. O rosto da loira transformou-se em uma expressão de choro. Caiden abriu os braços e ela se jogou ali, aos prantos.

Nada precisaram dizer.

Caiden viu por cima dos ombros quando Tereza apareceu com Cöda nos braços. Ele sorriu para ela, e ela para ele. Gisèle estava cansada, com muito na cabeça. Seu corpo doía, o medo a consumia. O pavor de perder o outro, de perder seu irmão, sua pouco família que restava.

- Gis, eu vou ajudar os outros. Você está bem? - Caiden sussurrou em seu ouvido durante o caloroso abraço.

Gisèle sabia que o grande coração de Caiden não o deixaria parado quando podia ajudar. A loira engoliu o choro quando a primeira gota de chuva caiu dos céus.

- Estou bem - mentiu.

Caiden sabia que ela não estava, mas estava viva e era tudo o que importava. Ele voltaria para ela logo. O homem beijou a testa de sua amiga e a deixou ali.

Tereza viu Gisèle limpar o rosto e desaparecer dali quando Caiden aproximou-se dela.

- E você, Tereza? - o homem a chamou.

Ela apenas concordou com a cabeça.

- Preciso de um favor.

- O que precisar.

Tereza colocou Cöda nos braços do homem e o irmão ajeitou-se ali, tão pequeno e inocente. Os grandes olhos de Tereza se encontraram com os de Caiden. Ela tinha algo a fazer.

Deixou os irmãos ali e sumiu atrás de Gisèle.


A chuva caiu. Para os otimistas, para limpar as energias ruins. Para os pessimistas, para piorar a horrorífica noite pela qual foram obrigados a passar.

- Gis! - Tereza gritou, tentando acompanhar o passo da garota. - Gisèle!

A loira não parou, por mais que escutasse os gritos de sua amiga.

Gisèle encontrou uma brecha entre a espessa folhagem das árvores e foi quando seus pés bruscamente cravaram-se no chão, como se criassem raízes. Ela olhou para os céus, sentindo a chuva. Não tinha vergonha de Tereza. Gisèle permitiu-se chorar como um bebê.

Tereza parou a passos dela e nada disse. Deixou que Gisèle sentisse um pouco de sua dor.

Os pensamentos da loira voavam e machucavam-na. Ela pensou nos pais que morreram levando o segredo de sua irmã para o túmulo. Pensou em Azura e como nem ao menos chegou a conhecê-la antes daquilo. Pensou em Dona Cida, em Carú, em Coli, nos queridos que deixou para trás. Pensou em como sua vida deu diversas reviravoltas até finalmente estabilizar-se na clareira com os Kinos. Agora, puxaram-lhe o tapete novamente. Ela experienciou algo que nunca lhe aconteceu. O ar faltou.

- Gis? - Tereza a chamou, vendo que sua amiga estava à beira de um ataque de pânico.

Gisèle puxou o ar diversas vezes, mas não o encontrou. Foi como se aquelas árvores se fechassem sobre ela, pouco se importando em esmagá-la. A sensação desesperadora apossou-se dela.

Tereza tomou-a pelas mãos.

- Ei, olhe para mim - a ruiva pediu. - Olhe para mim, Gis.

Gisèle obedeceu.

Apesar da proximidade de Tereza, nunca foi tão fácil respirar. Parecia que todos os seus problemas tinham se dissipado ao olhar dentro daqueles olhos castanhos. Apenas os soluços assolavam seu peito. Suas orbes azuis se perderam em Tereza e ela conheceu a calmaria, a paz em meio à tempestade, aquele delicioso clichê do qual tanto ouviu falar.

Gisèle acalmou-se. Acalmou-se tanto que precisou dar satisfações para o próprio coração. Ela largou das mãos de Tereza e levou suas próprias em direção ao rosto da garota, puxando-o para mais perto. Tereza não reagiu. Apenas olhou para os lábios que se aproximavam dos dela.

Quando as duas selaram aquele beijo, sentiram como se o mundo ao redor não importasse mais. Os soldados não importavam, a coroa não importava, tampouco a chuva gelada que contrastava com os corpos quentes. Tereza puxou-a para mais perto pela cintura e colaram seus corpos, deixando que as línguas dançassem em sincronia.

Apesar de Gisèle sentir que conheceu o fundo do poço, Tereza só conseguia pensar em como sua vida foi de zero a mil. E tudo por ela.

Os delicados dedos de Odile não conseguiam deixar de perscrutar cada centímetro do tronco e rosto daquele homem.

Nikki mudara tanto. A barba rala e bem desenhada agora lhe tirara aquele ar pueril de um distante passado e o substituira por um homem. Entretanto, Nikki sempre esteve ali. Seu coração sempre foi dela. Isso não mudou.

Isolaram-se de todos. Isolaram-se do mundo e levaram consigo uma única tocha tacanha para poderem vislumbrar um ao outro.

Lírio recostou-se em um emaranhado de raízes que mais parecia um berço e puxou sua amada para ele, que acomodou-se em seu colo com as pernas uma de cada lado de seu tronco. Os rostos colados não queriam descolar-se.

- Minha Odile... - um sorriso bobo desenhou-se no rosto daquele homem. - Achei ter te perdido para sempre.

Odile balançou a cabeça.

- Não. Eu achei ter te perdido. Naquele dia em que... - a rainha não conseguiu terminar sua frase. - Por que não voltou, Nikki?

Lírio lembrou-se. O rio que galgava sob a ponte dos limites de Crisântemo o levou até os extremos do Bosque, onde foi encontrado por aquele povo tão simplório que o acolheu e viu que algo mais estava ferido além de seu corpo - seu coração.

- Quando cheguei aqui, eles cuidaram de mim - Lírio desenhou as curvas da mulher com a ponta dos dedos. - Eu mudei de nome. Quis uma flor, assim como minha Daisy. Lírio coube.

Daisy sorriu tristemente. Aguardou uma continuação para aquela história.

- Eu temi voltar, admito - Lírio continuou. - Enquanto me recuperava, só pensava em o que seu pai faria comigo se eu voltasse lá... então eu planejei. Acho que demorei demais, minha Daisy.

Lágrimas retornaram aos olhos de Odile, as quais ele rapidamente limpou.

- Me lembro de voltar quando Crisântemo estava em festa. Sohlon seria o novo rei em breve e queria apresentar ao povo sua rainha - um sorriso triste esboçou-se nos lábios de Lírio. - Eu fui atrás de você quando finalmente tive coragem, mas não a encontrei em lugar algum. Tive medo de que pudesse estar casada com o homem que seu pai queria que se casasse, mas... não imagina minha surpresa quando eu a vi em frente ao palácio, de mãos dadas com o príncipe.

Odile sentiu seu peito doer. Ele estava lá.

- Eu te vi ao lado de nosso futuro rei e... - Lírio continuou - você estava tão feliz. Feliz de verdade, eu sempre soube te decifrar, lembra?

- Se tivesse aparecido...

- Eu poderia estragar sua vida, Odile. Você seria rainha. Uma boa governante. Poderia mudar as coisas, poderia mudar o Vale de Awa inteiro se quisesse.

Lágrimas escorreram pelos olhos daquela mulher.

- O que não achou de mim quando viu o que me tornei? - a rainha desviou os olhos dos de Lírio, mas ele rapidamente os alcançou.

- Eu sempre soube que aquela não era você - admitiu. - E agora tenho certeza.

Odile sentiu uma miscelânea de sentimentos indecifráveis. Por um lado, amava Sohlon, amava o poder, a coroa, amava ser temida. Por outro, tudo o que queria era entregar-se de corpo e alma para o homem que primeiro amou. E primeiro a amou.

Desesperadamente, os lábios de Daisy e Lírio encontraram-se novamente. Dessa vez, a volúpia gritou mais alto. A saudade, o desejo carnal de pertencerem um ao outro como antes. Não deram espaço para pudor algum. Daisy e Lírio se amaram e a rainha viu-se trilhando um inesperado caminho naquela jornada tão taciturna - a jornada de Daisy.

Caiden aprumou Cöda em seus braços, apaixonado pela visão de seu pequeno irmão tão confortável ali, perdido em meio a uma guerra que ele não sabia que lutava. Caiden tentou sorrir, vendo que os lindos olhos grandes de Cöda o encaravam com curiosidade e algo mais. Perguntou-se se o irmão era pequeno demais para sentir afeto.

Caiden segurou uma lágrima que quis aparecer no canto de seus olhos. Ele olhou para cima. Disse que ajudaria os feridos. Fitou em frente e seguiu caminho. Conseguiu acomodar bem o irmão em um dos braços e tomar uma mochila no outro, item que ele conseguiu alcançar na clareira antes de fugir. Lá dentro, garrafas de vidro tinham água pura do riacho e ele distribuiu uma a uma aos pequenos grupos formados ali. Aos poucos, o fogo de algumas tochas acendeu-se ao redor deles.

Caiden não encontrou Frey ou Aurèlia, mas o xamã estava lá. O homem abaixou-se ao lado de Cássio. Viu que este estava visivelmente ferido. O daviliano procurou pelas palavras certas, concluindo que nenhuma caberia ali. Ele tirou uma das garrafas de água e estendeu ao xamã.

- Sinto muito, Cássio.

O xamã nada lhe respondeu. Parecia ter desistido, pelo menos por aquela noite. Acabou por aceitar a água.

- Algum sinal dos outros, garoto? Aurèlia, Dante, Frey, Lírio?

Caiden balançou a cabeça, negando.

- Tenho certeza de que estão bem.

Cássio sabia reconhecer palavras de reconforto vazias em qualquer lugar. Era geralmente ele quem as pronunciava. Deu um demorado gole em sua água antes de voltar-se para o daviliano.

- E seu irmãozinho?

Caiden olhou para o pequeno resmungão em seus braços.

- Está bem.

Cássio forçou um sorriso.

- Me deixe segurá-lo?

Caiden surpreendeu-se com a pergunta, mas cedeu. Aconchegou o pequenino nos braços de Cássio. Percebeu, pelo modo que o xamã olhava para o pequenino bebê, que talvez um fizesse bem ao outro naquele momento.

- Vou seguir caminho, Cássio. Se encontrá-los, vou trazê-los aqui imediatamente.

- Está tudo bem, Caiden - o sábio xamã não tirou os olhos de Cöda ao pronunciar as palavras. - A noite será longa, como bem vimos. Não podemos afundar por isso, não é?

As espessas folhagens não permitiam que a chuva chegasse a eles onde estavam.

Caiden percebeu que aquele era um bom conselho. Quando terminasse de averiguar seu povo, voltaria para Gisèle e Tereza e tentaria descansar ao lado das duas garotas que atravessaram barreiras tão descomunais com ele.

O garoto levantou-se e voltou-se para frente.

Seu ar dissipou-se por completo, dando lugar ao medo.

De costas, ele conseguiu decifrar o contorno de Carú e seus negros cachos inconfundíveis. A princípio, teve certeza de que os Réus tinham retornado para assombrá-lo. Sua espinha dorsal arrepiou-se, com pavor das assombrações que tanto queriam derrubá-lo e lembrá-lo da culpa e remorso de dias passados.

Entretanto, os olhos de Caiden se arregalaram ao ver um pequeno ser humano correr para os braços daquela mulher. Era Coli. Aquele era realmente Coli, não um espírito a assustá-lo. O pequenino jogou-se nos braços da mãe e Carú o abraçou. Coli o viu, por cima dos ombros de Carú. E Caiden viu aqueles olhos. Não eram negros e sombrios como a noite, eram doces e acajuzados como os de seu sobrinho.

Tio Cai?

Lágrimas de euforia lhe brotaram dos olhos e ele deixou que a mochila escorregasse para o chão.

Carú olhou para ele. Era ela. Sua irmã. Era realmente ela.

A boca de Carú entreabriu-se e ela pareceu prestes a cair para trás de emoção. Rapidamente colocou seu filho em terra e correu em direção ao irmão mais velho.

Caiden não conseguiu segurar os soluços quando sua irmã jogou-se em seus braços, finalmente.

- Caiden! - sua voz embargada precisou confirmar.

- Carú... - uma risada escapuliu em meio aos prantos. - O que faz aqui?

- Eu vim por você!

Eles afastaram-se o suficiente para se olharem. Se fosse possível, Caiden diria que sua irmã estava ainda mais linda naquela noite. Pelo canto dos olhos, viu seu sobrinho aproximar-se.

- Tio Cai!

Caiden abaixou-se para tomar Coli nos braços, rodopiando com o garoto.

A cena chamou a atenção dos que estavam ao redor. A emoção do reencontro fez uma pontada de esperança crescer nos corações mais diversos.

- E Gisèle? E o bebê? - Carú desesperou-se a perguntar.

Caiden apenas olhou para o lado, para o xamã que se levantara ao ver a cena. Carú imediatamente reconheceu a criança em seus braços.

- Deuses, eu sabia que estavam bem... - a daviliana aproximou-se de Cássio. - Posso segurá-lo?

Cássio sorriu e colocou o pequeno embrulho nos braços de sua irmã. O pequeno resmungou, mas logo reconheceu um lugar seguro. Carú aproximou-se de seu irmão mais velho e filho para mostrar o mais novo integrante de sua família.

- Esse aí é meu tio? - Coli perguntou, arrancando algumas risadas.

- É, sim, Coli - Caiden encostou a bochecha com a do garoto, sentindo falta de tê-lo ali por perto, seu tão carinhoso sobrinho.

- E ele tem nome? - o garoto questionou.

- Tem sim, sua tia Gisèle que escolheu.

- Gisèle! Onde está? - Carú indagou.

- Está bem - Caiden a acalmou.

- E que nome ela escolheu, tio Cai?

- Cöda - a voz que respondeu veio de trás deles. Gisèle levou uma das mãos à boca, tentando conter a emoção ao vê-los ali. Caiden e Coli, Carú e Cöda. Dona Cida estaria orgulhosa.

Com festa, a loira foi recebida no abraço daquela família, que cresceu, e ousou arrastar Tereza para ela também. Podiam puxar-lhe o tapete dos pés quantas vezes quisessem, Gisèle pensou, contanto que aquilo não mudasse. Eles, juntos.

Não saberiam dizer ao certo em que momento da alvorada se encontravam. A desafortunada interrupção da noite lhes tirou a noção e a chuva não lhes permitia ver a lua, escondida em algum lugar sobre a cabeça daqueles esmorecidos perdidos no Bosque das Lamúrias.

Com o tempo, chegaram a um consenso não verbalizado - descansar até o sol nascer e adiar os planos para o futuro.

Azura adormeceu uma, duas, três vezes, mas seu leve sono era sempre interrompido pelas vorazes forças da natureza que apenas aumentavam gradativamente conforme a noite se estendia.

As tochas já estavam apagadas àquela altura. Mesmo assim, olhou em volta e tentou decifrar os adormecidos ao seu redor.

Ginevra estava encolhida ao lado de um quase recuperado Azriel. Kohan estava deitado de bruços na terra, esparramado, como gostava de dormir, ocupando todo o espaço que tinha direito. Azura sorriu tristemente para o casal abraçado pouco mais distante deles. Viorica e Alaric não desgrudaram-se. Era difícil acreditar que estavam tão felizes há pouco tempo, casando-se, comendo, cantando, dançando e se amando. Pelo menos estavam vivos e tinham um ao outro. O resto seria conquistado com o tempo.

De repente, toda a exaustão de Azura passou. Ela não conseguiu mais dormir. Abraçada às próprias pernas e encostada nas árvores próximas dos amigos, sentiu-se só.

Não saberia dizer por quanto tempo aguentou aquele sentimento de solidão. Vinte minutos, uma hora? Ela levantou-se e sentiu a dor em seu abdômen. Por pouco, esqueceu que estava mais costurada que uma veste da rainha. Rainha. Aquilo ainda não entrara em sua cabeça. Aquela mulher que encontrou fugindo era a rainha daquelas terras e nada mais fez sentido desde então.

Por precaução e costume, Azura levou consigo sua adaga em sua expedição pela madrugada.

Seus passos eram quietos e ela conseguiu caminhar calmamente por entre os adormecidos, encontrando um ou outro traumatizado como ela que não conseguia pescar os olhos.

A petrichoriana viu uma pequena luz taciturna em seu horizonte. Forçou a visão, mas não conseguiu decifrá-la. Aos poucos, aproximou-se dela e afastou-se dos outros, vendo que uma figura conhecida teimava em manter-se acordada.

Düran destacava-se na escuridão por segurar um bolado e a chama da ponta deste era a única cena visível em meio ao breu.

- Foi o que conseguiu trazer, é? - Azura debochou.

Düran sobressaltou-se e olhou para trás.

- Pelos Deuses, Azura - o homem riu. - Quase me matou do coração.

Azura abriu um leve sorriso e sentou-se ao lado dele, vendo que um pequeno tronco de árvore crescera horizontalmente naquele ponto, como se um banco perfeito para os sofredores da insônia.

Düran deu mais uma tragada e Azura sentiu o aroma das ervas que ele fumava em Petrichor. Pelo visto, conseguiu encontrá-las no Bosque também. O homem estendeu o cigarro a ela, que não recusou.

Düran a observou fumar de soslaio com uma expressão indecifrável.

- O que foi? - a garota indagou.

- Esse momento - o petrichoriano sorriu - me trouxe boas lembranças.

Azura riu.

- De quando fugíamos à noite para fumar na praia?

- É, e você achava que Seu Nero não sabia. Se fechar os olhos e pensar bem... dá para fingir que nunca saímos de lá.

Tristemente, Azura devolveu o pequeno cigarro nas mãos do homem.

- Sinto muito por mais cedo - comentou.

- Por seu amigo?

- Não, não por Kohan - Azura ergueu os ombros. - Eu nem tive a chance de agradecer por... você sabe, salvar meu couro.

- Acho que cheguei meio tarde, não? - Düran riu e arrancou uma risada murcha da garota, que desfez-se logo, como se assoprada pela brisa da noite. - O que foi?

- Estou tentando, Düran. Não consigo esquecer tudo de um dia para outro.

- Eu sei, Azura - por mais que ela não o olhasse, os olhos de Düran não se desgrudavam dela. - Se quiser, não conto para ninguém que veio falar comigo à noite. Seu orgulho fica intacto.

Azura riu.

- Não sou orgulhosa.

- Essa é a maior mentira que já ouvi.

A garota segurou uma gargalhada. Realmente, era mentira.

Após um momento de silêncio, Düran levou novamente o cigarro à boca.

- Por que está aqui, Azura?

- Como assim?

- Comigo, aqui, do meu lado. Não quero que sinta pena ou...

- Não sinto pena, Düran.

- Então...?

Ela inspirou profundamente.

- Senti sua falta - a garota admitiu. Teve tempo para pensar nele, por mais que tentasse evitar fazê-lo.

- Bom, aquele Düran morreu, lembra?

- É, nós matamos ele.

- É - Düran riu e apagou o cigarro na árvore, certificando-se de que nenhuma faísca começaria um incêndio. - Mas isso é bom. Teremos tempo para nos... conhecermos. Reconhecermos. Se for isso o que quer.

O coração de Azura doeu.

- Talvez seja, sim - depois de uma rápida conversa que lhe tirou um peso dos ombros, a garota levantou-se.

- Aonde vai?

- Pensar - deu de ombros. - Gosto de ficar sozinha.

- Outra mentira.

- Não, essa não é - suas palavras soaram docemente. - Eu também mudei muito.

- Então eu terei o prazer de reconhecê-la também.

Azura sorriu e deu-lhe as costas. Contou exatos seis passos antes de ele chamá-la novamente.

- Ei.

- Hum? - a garota olhou para trás. Os olhos de Düran brilhavam de esperança.

- Talvez eu não devesse perguntar, mas...

- Diga logo, Düran.

Ele abriu e fechou a boca. Arfou, mas rendeu-se.

- Você um dia me amou?

A pergunta de Düran soou como um soco na boca de seu estômago. Ele, entretanto, não abaixou o olhar. Esperançoso, o manteve firme, esperando por uma resposta. Esperando por um sim, preparando-se para um não.

- É claro que sim, Düran - Azura cruzou os braços. As palavras seguintes ainda lhe magoavam - Você era meu irmão.

- Digo... mais que um irmão, Azura.

Seus olhares se cruzaram e um raio os iluminou. Azura viu aquela linda expressão brilhando em sua direção. Um dia amou perder-se naqueles olhos, sim. Sua boca tremeu. Em resposta, ela apenas sorriu dolorosamente.

- Boa noite, Düran.

Düran aceitou a resposta. Era o que ele merecia, talvez até mais. Bem mais.

Apesar disso, escorregou do tronco e aconchegou-se ali mesmo, deixando que um sorriso bobo estampasse seu rosto, como um jovem pueril. Era tudo o que queria ser. Naquela noite, pelo menos, permitiu-se.

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