44. Sob Os Panos
Uma parte daquela garota queria apenas debulhar-se em lágrimas e cair sobre os braços daquele homem que tanto amou e achou que nunca mais veria. A outra, entretanto, queria apenas resumir aquele infeliz rosto a pó.
Azura viu o silêncio crescer ao seu redor. Ninguém nada disse, como se soubessem quem ele era, o que ele fez, o que ela estava sentindo. Mas não, ninguém entendia o turbilhão de emoções tão díspares que lhe atacavam naquele instante. Seu ar fugiu completamente de seus pulmões e de repente aquela tenda estava apertada demais para ela.
A petrichoriana passou a passos largos ao lado de Düran e abriu a tenda, disparando para fora dela e batendo mais os pés do que gostaria. O ar fresco e frígido daquela manhã nublada não a ajudou a respirar.
Azura estava em um estado catatônico, não sabendo para onde iria ou o que faria. Não se importou com os Kinos que a olhavam. Ela apenas despertou quando sentiu aquele toque tão conhecido em seu punho. Düran a alcançara.
- Me solta! - esbravejou e violentamente puxou seu punho para si, deixando as lágrimas insistentes escorrerem. Ela não queria mostrá-las.
- Azura... - Düran estava tão diferente e tão igual. Mesmo olhá-lo era um gesto doloroso. - Preciso que me escute, por favor.
Azura fechou os punhos com tanta força que as compridas unhas machucaram-lhe as palmas das mãos, o que pouco lhe importava agora. Seu corpo tremeu. Düran tentou aproximar-se, mas ela deu um passo para trás. Viu que atrás deles seus amigos saíam da tenda, alguns tentando entender o que acontecia, outros tendo certeza.
- Você não merece que eu te escute - as palavras saíram entre os dentes de Azura. - Você não merece.
- Azura...
- Pare! - a garota levou as mãos à boca. - Pare de me chamar pelo nome, Düran. Pare de usar esse tom, como se fosse a vítima aqui. Petrichor é a vítima! Arin, Marin, Vera, meu pai, Ava...
As lágrimas de Düran também quiseram rolar.
- Eu não sabia o que estava fazendo. E não sabia que proporções aquilo tomaria... - Düran sussurrou com a voz embargada. - Quando eu percebi o que fiz, já era tarde demais, eu estava... cego.
- Cego? - Azura desdenhou.
- Cego de... de amor por você, Azura! - Düran quis aproximar-se, mas viu que cometeria um grande erro se o fizesse. - E foi pelo mesmo motivo que eu a perdi.
Azura balançou a cabeça, incrédula. Ela olhou para o céu cinzento que pouco lhe passou conforto.
- Não posso fazer isso agora - com aquelas palavras, deixou-o ali, prostrado como uma árvore que fincava raízes.
Suas lágrimas machucaram Azura. Foi quando ela percebeu que se importava. O pensamento doeu. Ela correu para longe, sem saber seu destino. Só não podia ficar ali. Não podia lidar com aquilo agora.
Düran sentiu o vazio no peito arder. Sonhava no dia em que a reencontraria. Ensaiara as palavras que a diria, mas nada conseguiu fazer. Sua vontade era ajoelhar e pedir por perdão, mas ela se fora, mais uma vez.
O petrichoriano sentiu uma mão delicada repousar em seu ombro. Ele viu Aurèlia ao seu lado por entre as lágrimas embaçadas.
- O que aconteceu aqui, Düran? - a Kino usou um tom diferente do que ele estava habituado a ouvir. Foi doce e tentou passar conforto.
Düran limpou as lágrimas com certa discrição e fungou.
- Acho que não posso mais me esconder, Aurèlia - Düran limpou as lágrimas com certa discrição e aspirou, taciturno. - E não vai gostar de saber quem sou.
Ele poderia ter morrido. Não se importava com esse fato tão vil. Estava em campos de batalha desde sempre. Cresceu nas linhas de frente. A morte não o assustava, afinal, era o marechal. Mas Roto achava merecer uma morte mais digna do que uma porretada na cabeça, ainda mais de um garoto. Quanto mais enquanto distraído com a rainha, que não devia ser sua prioridade.
Não conseguiu ir atrás do que o atingiu e nem mesmo de Odile, frustrando-se. Todavia, aquelas foram derrotas sórdidas perto da vitória de seus homens ao derrubar a fronteira da Pedreira. Eles seguiram as ordens diretas do rei. Fizeram aqueles pedreiros temerem a coroa, temerem Sohlon. Quando viram as perdas e mais perdas de seu povo que rolavam pelas ruas da querida terra, os nativos cederam. Sohlon dominara aquela zona outra vez, à força.
Roto mandou que seus homens seguissem e continuassem a desbravar as barreiras daquele fraco povo. Mandou que seguissem Odile para o Bosque, mesmo que achasse que ela não sobreviveria caso realmente tivesse coragem de penetrar aquele ambiente tão moribundo.
O marechal voltou para Crisântemo, entretanto. Sua desculpa era de que queria dar as notícias ao seu rei pessoalmente, o que não era uma completa mentira. Só não confiaria em mais ninguém as notícias da rainha Odile. Ele cavalgou por um dia inteiro e parecia não estar nem ao menos cansado quando botou os pés no palacete, vidrado com o rumo daquela novela.
- Está me dizendo que sua incumbência foi um sucesso - Sohlon nem ao menos olhou para seu amigo de infância, fitando apenas as distantes cabeças que andavam caóticas na cidade que lhe pertencia. Crisântemo ia de mal a pior, sentindo o verdadeiro significado daquela expressão. - Poderia muito bem ter me enviado alguém, Roto. Por que veio você mesmo?
Roto colocou sua pesada espada sobre a mesa do rei, sentindo os primeiros indícios de cansaço se alastrarem por seus músculos fadigados. Ele sorriu nervosamente para si mesmo. Seu amigo ainda era esperto, por mais que parecesse à beira da loucura.
- Trago outras notícias, meu amigo - Roto encheu o copo do whisky que dispunha-se naquela sala de reuniões e virou de uma vez pela goela. - É sobre Odile.
Foi só então que Sohlon voltou-se para ele. Roto viu sua feição cansada transformar-se em esbugalhados olhos.
- Odile?
- Sim - Roto rapidamente encheu outro copo do líquido amarelado e estendeu-o para o rei. - Estava em Pedreira.
- Onde ela está agora, Roto? - Sohlon impacientemente rodou o whisky no copo.
Roto engoliu em seco.
- Fugiu.
Sohlon bateu fortemente o copo na mesa de madeira maciça ao seu lado, que trincou com o impacto e derramou o líquido por ela. O rei afastou-se e voltou para a janela, puxando os cabelos da nuca de modo nervoso.
Roto percebeu ali que o amor por Odile transformou-se naqueles meses de sua ausência. Não era mais o bonito amor e afeto que sentia por ela, que beirava a veneração. Agora parecia mais a necessidade de possuí-la, de tê-la ao seu lado, como se não passasse de um objeto. Tornou-se uma obsessão.
Sohlon não queria gritar com Roto, por mais que seu âmago o mandasse fazê-lo.
- Para onde ela foi? - sua voz colérica intimidou.
- Meus homens a seguiram para o Bosque.
Os olhos estupefatos do rei encararam o marechal, que não ousou encará-lo de volta, bebericando o whisky nas mãos, como se adiasse o máximo terminá-lo e não ter com o que distrair-se senão o furor de seu amigo.
- O Bosque? Ela vai morrer lá, porra!
Sohlon socou a mesa de madeira.
Roto fez uma careta.
- Eles vão encontrá-la, homem.
O rei balançou a cabeça em negação.
- Não, não vão - Sohlon passara noites em claro pensando naquela decisão. Ele rapidamente tomou um pedaço de papel e estendeu-o sobre a mesa com certa agressividade. Pegou o bico de pena e o nanquim e começou a grafar um documento.
- O que está fazendo, Sohlon?
O rei não o respondeu, vidrado no que fazia. Sohlon rapidamente terminou a carta e a assinou, colocando um peso de papel em uma das pontas e voltando-se para Roto. Atravessou a sala a passos largos e decididos até a porta.
- Você vai ficar no meu lugar até eu voltar.
Roto quase derrubou o copo que segurava no chão. Seguiu seu rei para fora da sala, estupefato.
- O que quer dizer com isso?
- Quero dizer que eu mesmo vou atrás dela.
D'Ávila sabia que aquele dia chegaria logo. Que com a chuva torrencial, os Deuses os alertariam da chegada dos soldados prontos para derrubarem suas defesas. Os davilianos sabiam e estavam prontos para aquela guerra, muito antes da morte da querida Dona Cida, muito antes da fuga de Caiden e Gisèle com o pequeno Cöda.
O clima de guerra descia e subia as desniveladas ruas daquelas terras. Gaia cobriu Kaha com panos e torceu para que o pequeno ficasse ali, protegido das águas furiosas que caíam dos céus.
- Os Deuses choram - Carú tomou Coli nos braços, mas Mirza logo o tirou daquele conforto, por mais que o pequenino protestasse.
- Fique comigo, garoto - Mirza aconchegou-o ali - Sua mãe vem logo ao meu lado.
Nafré chamava a atenção, apesar de parecer apenas mais uma simples moradora daqueles cantos que queria defender suas terras. Seus cabelos dourados brilhavam mesmo com a quase completa ausência de luz. Ela não se curvou à chuva e muito menos ao medo. Viu um grande grupo ali. Viu crianças. Seu olhar se cruzou com o de Mirza, o amigo que tão gentilmente lhe dera o cordão que lhe adornava com carinho o pescoço.
- Somos muitos, Mirza - procurou por ajuda.
O homem olhou para Isaac, trocando um significativo olhar com o amigo. Isaac inspirou nervosamente e deu a mãe para Osi, puxando-o em direção a Nafré. Ele estendeu a mão do filho postiço para a loira.
- O quê? - Nafré arregalou os olhos, mas Osi já estava colado nela.
Osi não queria mais sentir-se tão indefeso, tão criança. Nafré era apenas seis anos mais velha. O garoto não entendia como podia ela ter tanta maturidade a mais que ele. Como podiam confiar nela para tomar sua mão e mantê-lo seguro.
- Eu e Mirza vamos providenciar o maldito barco - Isaac balançou a cabeça e deu um beijo no topo da cabeça de seu filho.
Contraditoriamente, Mirza colocou Coli novamente nos braços da mãe. Queria ajudar como pudesse. Queria carregar o mundo nas costas.
Mirza fez um sinal com a cabeça para Isaac, que concordou. Os dois homens seguiram caminho e deixaram os outros ali, os três pequenos meninos e as três mulheres que dificilmente se batiam, apesar de duas delas partilharem do mesmo sangue.
Nafré olhou de Gaia para Carú. As duas pareciam tão assustadas quanto ela, mas a loira sabia esconder melhor seus sentimentos.
- Merda - Nafré tomou a mão de Osi, para o alívio do garoto, e riu para si mesma com a ironia de sempre ser tratada como uma criança, apesar de ser ela quem tomava partido ali. - Vamos.
As três adentraram os escuros becos das ruas de D'Ávila, não sem antes Gaia olhar o horizonte e ver aqueles dois homens perderem-se na multidão. Sentiu um amargor na ponta da língua, um aviso de sua intuição. Esperou que os visse novamente logo.
A petrichoriana correu pela clareira, o quanto seu corpo quente de fúria e cólera lhe permitiu. Não queria estar ali agora. Não queria enfrentar Düran. Não queria ouvir aquelas palavras ensaiadas, aquelas frases pensadas saindo com aquela voz doce que ela um dia tanto amou.
Azura chegou até as árvores e não ousou olhar para trás. Ela adentrou a mata e andou bons passos até finalmente certificar-se de que estava sozinha, completamente sozinha. Seu corpo voltara a doer, mas nada comparado ao seu coração. A petrichoriana abaixou-se ao lado de uma árvore e abafou um choro ameno. Se aquele homem estivesse longe de sua vida, teria sido mais fácil lidar com tudo. Mas ele estava ali, tão perto dela. Azura sabia que hora ou outra teria que enfrentá-lo, mas não o faria naquele dia e nem no próximo. Precisava de paz. Precisava primeiro processar os fatos que acabara de descobrir sobre seu passado antes de ousar pensar em como lidar com Düran.
A garota fechou os olhos e deixou as últimas lágrimas de exaustão mental rolarem, apoiando a cabeça no tronco da árvore atrás de si. Parou para ouvir os sons ao seu redor. O cantar dos pássaros sempre a acalmava, como quando nas manhãs em que ela subia no telhado da cabana e parava para ouvi-los sem hora para voltar. Quis ser um pássaro também. Poder voar para longe e apenas cantar e cantar, sem desassossegos.
Azura ouviu algo mais. Começou com um murmúrio distante. Quando ela depositou sua atenção ali, identificou vozes femininas.
Aqueles olhos cinzentos vagarosamente se abriram.
- Não sei, Tereza - Gisèle riu , estudando a amiga que desfilava o chapéu novo à sua frente. - Talvez palha não seja pra você.
Tereza rodopiou e posou com o chapéu de palha que ganhara de uma habilidosa anciã na noite anterior. "É bom pra proteger a pele, filha", foi o que a senhora lhe disse.
- O sol é impetuoso, querida - Tereza reproduziu as palavras da senhora, passando as mãos pelo chapéu de palha grande e largo, que sambava em sua cabeça. - Eu não vou mais tirar isso, espero que goste, Gis.
A ruiva olhou para o céu com os olhos semiabertos e abaixou a aba do chapéu para proteger o rosto. Calculou as horas, levando em conta o fraco ponto de luz que se escondia atrás daquele dia cinzento e nublado.
- É quase meio dia - Tereza tomou o pequeno Cöda nos braços, que ficara deitado nos troncos das árvores em meio à confortáveis lençóis enquanto as duas colhiam a água do lago ao lado delas, no qual Gisèle cogitava mergulhar mesmo com o frio daquele dia, sabendo que se arrependeria. - Tenho que voltar.
- Pra fazer o que? - a loira indagou.
- Prometi ajudar Cassandra a fazer tranças - Tereza tomou Cöda nos braços.
- A senhorinha da tenda verde?
- Não, a neta dela, a menininha.
- Ah, sim.
Cöda brincou com o chapéu de Tereza.
- Pelo menos alguém aqui tem bom gosto - a ruiva riu e voltou-se para o caminho da clareira. - Você não vem?
Gisèle deu de ombros.
- Acho que quero ficar por aqui mais um pouco.
Tereza concordou e afastou-se com um sorriso. Sabia que Gisèle gostava de um tempo só para ela. Teve medo de que, com Caiden adoecido, os pensamentos da loira não fossem bons para ser deixada a sós com eles, mas a loira precisava de momentos em paz, em que pudesse apenas desfrutar de sua própria boa companhia.
Gisèle sentou na orla do riacho e ousou colocar os pés descalços na água gélida. O mormaço estava presente naquele dia como nunca estivera no tempo todo em que desfrutou daquele pacífico lugar. Ela apoiou os braços atrás do corpo e sentiu o calor beijar-lhe a pele. Estalou o pescoço tensionado e teve certeza de estar sendo observada. Assustou-se quando a viu.
Azura não soube o porquê, mas aproximou-se dela. Sua forte intuição moveu seus pés até ali. A loira assustou-se quando a viu, mas logo a reconheceu.
- Ei, você acordou! - Gisèle simpaticamente a saudou. - O que faz aqui?
A petrichoriana deu de ombros.
- Me perdi de propósito - Azura forçou uma risada triste.
- Sente-se aí, novata - Gisèle tirou os pés da água e cruzou as pernas, voltando-se para Azura.
A petrichoriana achegou-se ao lado dela, ainda sentindo uma forte vibração emanando da daviliana, a qual não soube explicar.
- Quem é você? O que aconteceu na noite passada? - Gisèle pegou-se indagando, curiosa, ao inclinar o corpo para frente e preparar-se para ouvir as histórias daquela garota.
- Azura, de Petrichor - apresentou-se. - Acho que alguns cães infernais não gostaram muito da nossa presença.
Gisèle deixou o queixo cair.
- Cães infernais? Eu nunca sequer vi um, mas...
- Não queira ver - Azura riu e automaticamente olhou para o braço enfaixado e as feridas suturadas.
A loira arriscou um sorriso compreensivo.
- Deve estar confusa, Azura de Petrichor.
- Você não faz ideia - a petrichoriana concordou.
- Nós temos outro cara de Petrichor aqui - Gisèle lembrou-se. - Você o conhece?
Azura engoliu os sentimentos.
- Não quero falar sobre ele agora, se não se importar.
Gisèle compreendeu, fazendo uma nota mental de questionar Düran sobre a garota morena com tatuagens intrigantes mais tarde.
- Bom, petrichoriana - Gisèle levantou-se e bateu a terra do vestido cor de vinho que ganhara do alfaiate da tenda amarela em troca de alimentos da horta, os quais ele não tinha mais coluna para pegar por si só. Era assim que faziam por ali -, antes de você chegar aqui, eu era a novata. Agora, vou te mostrar a sorte de ter encontrado esse povo. Ou melhor, de nós termos te encontrado.
Azura sorriu e levantou-se. Talvez fosse uma boa distração segui-la.
- Espere - a dos cabelos negros percebeu que não sabia o essencial sobre aquela daviliana -, qual o seu nome?
A loira simpaticamente sorriu em resposta e apresentou-se.
- Sou Gisèle.
Uma pontada surgiu no centro da barriga de Azura. Gisèle. Seria apenas uma coincidência? Seria a razão de sentir uma vibração tão forte em relação à ela? A mesma vibração que sentiu quando Ava-Lee tomou Arin nos braços. Soube que eram irmãos. Seria aquela sua irmã, Gisèle, filha de Amara e Santi, a garotinha que brincava com a borboleta azul em suas visões?
- Está tudo bem? - Gisèle a questionou, vendo seus devaneios com estupefata expressão.
Azura quis falar algo, mas não soube por onde começar.
Aquele momento foi logo interrompido. Teve mais uma intensa conversa adiada, dessa vez à força.
As duas voltaram as cabeças em direção ao grito, que cortava as árvores e chegava aos seus ouvidos, vindos da clareira.
Elas se entreolharam e concordaram em correr em direção a ele.
Aurèlia foi a primeira a mover um dedo, diferente dos outros que petrificaram-se ao grito de terror e espanto. A Kino irrompeu pela clareira, que movimentou-se rapidamente. O caos chamava as pessoas. Aurèlia os encontrou chegando. A mulher correu em direção às conhecidas figuras, vendo que algo estava errado.
- O que aconteceu? - a mulher abaixou-se ao lado da garota ferida, carregada por Lírio e Martï. Brunna estava com um ferimento aberto na altura de seu abdômen, que ousava sangrar mesmo com uma forte blusa amarrada no local, agora ensopada do líquido vermelho.
Aurèlia tomou o lugar de Martï, que descansou, mostrando-se ferido, com um profundo corte na altura de seu ombro.
- Estávamos em Arande - Lírio ofegou, ajudando a amparar a garota negra que lhe fazia companhia em viagens de risco como aquela - quando a merda explodiu.
- Do que está falando? - Aurèlia indagou. Viu que Lírio tinha um dos supercílios abertos e parecia no mínimo exausto.
Os Kinos moveram-se para ajudar. Dois fortes homens ampararam Brunna e a levaram para a tenda de Dante, que já estava ficando mais lotada do que o habitual. Não demorou para uma água estar nas mãos de Martï e Lírio sentou-se em um tronco de árvore cortado, finalmente relaxando.
O homem não acreditava que estava ali. Que realmente tinha chegado com Brunna ainda viva e Martï são. O povo moveu-se para que gazes limpas estivessem logo nas mãos de Aurèlia.
A Kino abaixou-se ao lado do homem e começou a limpar seu supercílio aberto.
- Me conte exatamente o que aconteceu, Lírio - Aurèlia pediu, apreensiva.
O homem tinha partido para a patrulha ao Bosque semanas atrás e estava atrasado em seu retorno. Não tiveram notícia alguma e os Kinos não tinham como ter certeza de que eles estavam bem ou no mínimo vivos. Não tinham como saber o que acontecia com os outros cantos de Vale.
- Estávamos abastecendo em Arande - o homem desandou a falar - e as coisas já não iam bem por aqueles bandos. Ficamos para passar uma noite quando os soldados derrubaram a fronteira pela madrugada.
O coração de Aurèlia apertou. Ela sabia que aquele momento chegaria em breve. Que barrar a entrada do rei daquelas terras desencadearia em um conflito de proporções gigantescas. Não queria acreditar que aquele momento chegaria tão cedo, entretanto.
- Tivemos que lutar, foi sanguinário, um massacre - Lírio tristemente balançou a cabeça. - Mas recuamos. Igual a grande parte dos arandianos.
- Estão recuando?
- Sim - Lírio tomou a mão de Aurèlia, que tirou a atenção do seu foco para voltá-lo para os olhos do homem. - Estão entrando no Bosque, Aurèlia.
Aurèlia congelou. Seus olhos petrificaram-se.
- As pessoas temem o Bosque.
- Não mais. Não mais que o rei - Lírio seriamente apertou as mãos da mulher. - Os tempos estão mudando, Aurèlia. Não vamos ficar sob os panos por mais muito tempo.
(oi, queridos! Fiz essa Azura e eu gostei demais do resultado. Achei necessário compartilhar. O que acharam?)
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