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41. O Mundo Deveria Temê-la.

- Fique com eles.

Enquanto vestia uma blusa preta de manga comprida e gola alta, preparando-se para enfrentar o que a natureza pudesse lhes ofertar novamente Bosque adentro, Gisèle ouviu a sugestão de Tereza. Ela voltou-se para a amiga ao descer a blusa pelo tronco, sentindo o calor confortável que o tecido podia lhe proporcionar.

Gisèle cerrou as sobrancelhas em dúvida.

- O quê?

- Fique com Caiden - a ruiva explicou e tomou Cöda nos braços, tirando-o de seu canto na tenda - e Cöda.

Gisèle balançou a cabeça.

- Eu preciso ir, Tereza - sorriu tristemente e tirou os finos fios de cabelo aloirados de dentro da gola da blusa. - Acho que inclusive será bom. Por que não fica?

- Não quero ficar - a ruiva lhe respondeu, dando de ombros. - O que quer dizer com isso?

- Com o quê?

- Que será bom ir.

Gisèle sentou-se em seu colchão e relaxou o corpo. Ela inspirou profundamente. Estava cansada e não queria mais ter que lidar com aquilo sozinha, agora que a bomba de Caiden ter adoecido pesava-lhe mais que qualquer coisa nas costas.

- Preciso te contar uma coisa.


Gisèle contou tudo a Tereza sobre a conversa com Dante meses atrás. A amiga apenas a ouviu em silêncio, não esboçando reação alguma, hora ou outra tirando os próprios cabelos das mãos hábeis de Cöda, que não continha-se.

- Por que não nos contou antes, Gis?

- Não achei relevante - Gisèle mentiu. - Mas, já que isso tem tirado meu sono...

Tereza arfou.

- Seja o que for... vamos descobrir juntas. Juntos. Eu, você e Caiden. Assim que ele se recuperar.

Os olhos azuis de Gisèle reverberaram a luz do sol e iluminaram a tenda - e o inocente coração de Tereza.

- Tenho sorte de ter vindo conosco - Gisèle admitiu com um sorriso ao mesmo tempo emocionado e triste. Suas mãos geladas alcançaram a de Tereza. - Acho que eu estaria surtando agora se não fosse por você.

- Conte comigo, sempre - Tereza tomou-lhe as costas da mão e beijou carinhosamente. Levantou-se em seguida. - Agora, vamos. O dia já começou. Se quer tanto ir, então eu vou também.

- E Cöda?

- Tenho certeza que o xamã não se importará em olhar o pequeno.\

- Boa sorte a ele.


Prepararam-se para partir logo pela manhã, como acordado. Aurèlia os esperava com seu ar imponente, preparada, no centro da clareira.

Düran ofereceu-se para ir, já um pouco cansado da rotina diária que vivia ali com os Kinos. Queria aventurar-se, tanto quanto queria redimir-se. Por tal motivo achou perfeito ir atrás das ervas que poderiam curar Caiden. Mataria dois coelhos com uma só cajadada.

Frey não demorou-se a encontrá-los ali, seguida logo por Tereza e Gisèle. Os cinco se entreolharam. Nada verbalizaram antes de partirem em direção aos limites da clareira. Não tinham tempo a perder. A vida de Caiden estava em suas mãos.

O dia nasceu.

Mesmo não sabendo o motivo, Azura não quis passar mais um segundo desnecessário ao lado daquele lago que lhe revelou todos os seus segredos adormecidos.

Ginevra, ao acordar, percebeu o desconforto da amiga e nada lhe questionou sobre o que lhe mostrara em uma das magias mais poderosas que conseguiu conjurar.

Continuaram caminho até as pernas cansarem, em silêncio, não sabendo ao certo para onde seguiam. A cabana fez falta. O conforto, a comida estocada.

Os seis andaram até o terreno gradativamente mudar de uma planície para um declive que subia aos poucos. O cenário ao redor dos arandianos mudou a passo e passo de árvores longilíneas e estreitas entre si para árvores menores e mais espaçadas. O sol entrava por entre as copas até os sobreviventes depararem-se com um extenso campo, sem árvores ou vegetação a não ser a grama verde. Sonca beijou-lhes as peles com fervor.

Eles arfaram com a beleza daquele morro onde encontravam-se. Era o lugar perfeito para retomarem os ânimos.


Azura isolou-se. Ela andou pelo campo até que ele se tornasse plano novamente. A falta de árvores ao seu redor fez o vento bater mais forte em seu rosto e bagunçar seus cabelos negros. Pensou em voltar a aderir à trança que tanto gostava, mas estava desanimada para ajeitá-la naquele momento.

A petrichoriana deparou-se com um cenário de tirar-lhe o fôlego.

Encontrou-se na ponta de um alto desfiladeiro. Lá de cima, via o mundo ao seu redor. O Bosque estendia-se até a visão perder-se. Ela cruzou os braços e fechou os olhos. A energia do lugar era boa, contrastando com os sentimentos de vazio que batiam em seu peito.

Azura sentou-se na grama verde e colocou as mãos na nuca. Fez anotações mentais para ter certeza de que não se esqueceria de qualquer mísero detalhe. Teve tempo de pensá-los.

Primeiro, era filha de Amara e Santi. Parecia-se com o pai nos cabelos negros como a noite e os olhos acinzentados como aquela terra de onde veio. Ela era de Cinzas. Uma cinzenta, não uma petrichoriana. A mãe, a mulher loira, tinha o mesmo delicado nariz que ela e o mesmo tronco forte. Azura forçou-se a guardar aquela lembrança de seus pais de sangue na memória. Perdeu horas pensando onde estariam hoje e o que estariam fazendo. O que achariam dela? Sentiriam orgulho? Teria valido a pena a dor de deixar sua filha flutuar pelo Oceano Platina sob único olhar do destino?

Segundo, Azura tinha uma irmã. Uma irmã mais velha. Gisèle era o nome da garotinha que estava nas lembranças ao lado dos pais. Que estava presente quando ela nasceu. Que brincava com a borboleta azul quando os pais receberam a notícia da vontade dos Deuses.

Terceiro, Nero não era seu pai. Não de sangue. Entretanto, a ligação que tinha com aquele homem ultrapassava qualquer barreira consanguínea. Ela o amou, desde o momento em que ele abriu aquele cesto nas praias de Petrichor e a encontrou só, até o dia em que ele morreu em seus braços para defender a terra que amava.

Por fim, ela estava destinada a grandiosos feitos. Sua cabeça doeu. Sentiu-se tão pequena ali, naquele Bosque, naquelas terras. Como poderia o Vale de Awa depender de uma garota como ela?

Azura não conseguia mais chorar. Não encontrava as lágrimas, por mais que seu peito gritasse.

Ela sentiu alguém aproximar-se. Entretanto, era quem ela menos esperava.

Kohan a alcançou e sentou-se ao seu lado. Nada disse, à princípio. Eles ficaram longos minutos ali, apenas fitando a beleza da paisagem panorâmica que ela achou perdida no Bosque das Lamúrias.

O arandiano tirou os olhos do Bosque para olhar algo ainda mais belo. Azura, ao seu lado, não parecia-se em nada com a mulher que invadiu seus pesadelos durante o ataque das Aparições, apenas na aparência. A Azura ao seu lado não estava com os cabelos negros perfeitamente arrumados nem com os trajes festivos de sua terra natal. Não estava maquiada. Não estava exalando o perfume das rosas dos campos de Arande. Todavia, Kohan a preferia assim. Aquela era a mulher que ele sabia que não diria nenhuma daquelas palavras que o feriram como sua réplica fez. Não brincariam com ele ou mesmo o manipulariam. Não, aquela Azura tinha um coração puro. Tão puro que por vezes os deixou em enrascadas, como no dia em que ele a conheceu e gastou todo o dinheiro de seu trabalho suado para livrá-la de confusões com os guardas de Arande. Kohan sorriu com a lembrança, perdido ao olhá-la. Percebeu que, por mais que se frustrasse com frequência com a mulher ao seu lado, não conseguia vê-la em qualquer estado reles.

- O que foi? - Azura questionou ao sentir-se observada, não ousando tirar os olhos da bela paisagem que desenhava-se no horizonte.

- Quer me contar o que aconteceu? - Kohan timidamente a indagou, deixando claro que lhe dava espaço para negar.

Azura achou que não quisesse, mas estava com aquelas verdades entaladas em sua garganta. Desconhecia sua identidade. Não era a Azura de Petrichor. Quem era ela, então, se toda sua trajetória resumiu-se à mentiras?

Seu rosto finalmente voltou-se para Kohan. Ele estava diferente, entretanto. Parecia ter aberto ali uma brecha na personalidade maciça que exibia o tempo todo.

Sem ao menos perceber, Azura lhe contou tudo sobre as lembranças apagadas de sua vida. Apenas conseguiu parar de debulhar-se nas palavras quando sentiu a mão de Kohan sobre a sua.

Seus olhares se cruzaram novamente.

- Estou com medo, Kohan - admitiu, com a voz carregada de uma emoção latente que parecia querer acompanhá-la para sempre, desde o dia infausto em Petrichor que mudou o rumo de sua vida.

Kohan respirou profundamente e pensou nas sentenças certas.

- Não deveria temer nada, Azura - seu olhar perdeu-se no horizonte.

- Não sei o que fazer de minha vida daqui para frente.

- Disse que o destino lhe afastou de seus pais, certo? - Azura concordou. - Então não se preocupe. Deixe que ele te guie agora.

Ela oscilou. Kohan prosseguiu.

- Não tem problema algum em ter medo. O medo nos molda, nos mantém vivos, nos faz descobrir quem somos. Entendo o que deve estar sentindo agora. Está destinada a grandes feitos e está presa aqui, no Bosque, com outros cinco arandianos que pouco lhe acrescentam em seu caminho.

- Isso não é verdade.

- O ponto é que não deve aborrecer sua mente com esses detalhes, por enquanto. Está no caminho certo.

- Estou? - Azura precisou da confirmação daquele parecer.

Kohan riu para si mesmo e apertou a mão dela, que não percebeu que ainda estava segurando.

- Está. E lhe digo mais. Não deveria temer o mundo - Kohan tirou seus olhos da imensidão verde à sua frente e encontrou duas órbitas acinzentadas que o fitavam com esperança latente. - O mundo é que deveria temê-la, Azura de Petrichor.

Carú adormeceu no quarto que outrora fora seu. Gaia o ofereceu de bom grado.

A nativa daviliana estava exausta e não demorou a pegar no sono. Em determinado momento daquela noite, o tão pequeno Coli esgueirou-se para dormir na cama com a mãe.

Gaia, não tendo onde dormir, pensou em questionar à Nafré se podia deitar-se com ela. Entretanto, por mais que amasse a irmã, sabia que a loira encontrava-se em um momento difícil de lidar. Queria evitar brigas e discussões frívolas o máximo que pudesse.

Gaia deitou-se no estreito sofá da sala, mas não conseguia ceder ao sono. Acostumada à cama de casal, queria espaço para no mínimo virar-se para o outro lado. A crisantiana bufou e levantou-se, rumando em direção ao corredor dos quartos. Uma das portas estava entreaberta, fazendo a luz da lua adentrar fracamente o corredor. Foi para lá que ela rumou.


Isaac ouviu os passos no corredor e olhou para a porta, já sabendo que a insônia tinha agarrado-se à pelo menos mais um naquela grande casa. Ele vislumbrou Gaia parada em pé ao lado de seu batente, com os cabelos soltos e o vestido azul que recentemente descobriu pertencer à Carú.

Gaia empurrou a porta do quarto e o viu acordado, com os olhos longe de estarem cansados, mesmo que confortavelmente deitado na cama.

- Ei - exclamou.

- Ei - Isaac a saudou no mesmo tom.

- Posso ficar aqui essa noite?

Isaac riu. Tinha certeza de que Gaia não dormiria bem no sofá da sala. Ele sentou-se e esfregou os olhos.

Gaia o viu sozinho naquele quarto que ele outrora dividia com Mirza. O colchão em que o moreno dormia no canto do quarto estava agora vazio. Ela sabia que aquele era o quarto da mãe de Carú, o quarto onde a mulher morreu. O sangue nunca saiu do carpete creme. Eles preferiram cobri-lo com um redundante tapete, ignorando-o como se varressem o pó para debaixo da cama.

- Pegue o canto de Mirza - Isaac acenou com a cabeça para o colchão vazio.

Gaia jogou-se ali, percebendo-se mais cansada do que imaginava estar. O cheiro do amigo invadiu suas narinas, como se lhe dissessem que estava no lugar errado. Ela pouco se importou.

- Onde está Mirza? - indagou.

Isaac deu de ombros, voltando a deitar-se em sua cama e virando-se para ela. A luz no quarto era fraca, mas eles se enxergavam bem o suficiente para ter uma conversa olho a olho.

- Provavelmente não conseguiu dormir. Assim como eu e você.

- Não vai ser a chegada dos antecessores da casa que vai me tirar o sono - Gaia riu.

- É, ela só tirou sua cama.

- Achei válido, a cama era dela.

- Confia muito nas pessoas, Gaia - Isaac comentou, sério.

Gaia imediatamente lembrou-se da rainha. A mulher não confiava em ninguém. Confiava nela, sua criada pessoal. E, agora, o príncipe dormia em seu quarto, longe da mulher que lhe deu a luz. Ela sentia a culpa. Odile era uma pessoa complicada, difícil, mas não merecia ter Kaha arrancado de seus braços.

- O que foi? - Isaac a indagou quando viu seus pensamentos voarem, encobertos por uma feição preocupada.

- Acha que o que fizemos foi errado? - timidamente expôs seu questionamento para o amigo. Se tinha um assunto que lhe tirava o sono, então era esse.

- Que parte? - Isaac riu.

- Fugir com a criança.

O homem fez uma pausa.

- Você salvou o príncipe.

- Eu salvei ele dos homens que quiseram metê-lo nas controvérsias dos pais. Mas...

- Sente-se culpada por tê-lo roubado dos rei.

- Eu não o roubei - Gaia comentou duramente. - Eu só não o devolvi para o meio insano em que ele nasceu.

Isaac soltou uma risada de deboche.

- Acho engraçado.

- O quê? - a crisantiana questionou, irritada.

- Que se sente mais culpada do que amedrontada por esconder o filho real sob seu teto.

Gaia abriu a boca para debater, mas viu-se cansada. Não queria ter aquela conversa com Isaac. Ela virou-se para a parede. Todavia, precisava admitir certas palavras.

- Sabe o que me assusta, de verdade?

- Hum? - Isaac a deu espaço, voltando o corpo para cima e encarando o teto.

Gaia pensou em Kaha. Em como amava aquela criatura que tão pouco viveu com ela. Ela amava acordar ao seu lado, amava aquele sorriso despreocupado e inocente e amava até mesmo trocá-lo quando sujava as fraldas.

- Que um dia eu tenha que devolvê-lo.

Rainha. Aquela palavra estava pregada em sua mente, assombrando-o com as possibilidades do que poderia ter acontecido com eles por sua culpa. Os olhos de Pöli estavam embaçados e fixos na estrada à sua frente. Aos poucos, até mesmo seu recém nascido Deco fez silêncio dentro da carroça.

Eles seguiram viagem, mais sozinhos do que antes.

Como poderia ter desconfiado? É claro que os boatos espalham-se concomitantemente com o vento pelos quatro cantos do Vale. As histórias de Crisântemo rapidamente chegaram aos seus ouvidos. De um príncipe à princípio morto e depois desaparecido, seguido logo pela rainha e o medo de Sohlon sozinho e abandonado no poder do trono.

Daisy era linda como disseram ser a rainha, mas carregava um ar de bondade que Pöli nunca acharia ser possível para ela. A mulher que clamava pela morte de crianças inocentes não podia ser a mesma que passava os dias ao lado de Lili a contar-lhe histórias sobre sua terra natal.

- Pai? - ele ouviu Fin o chamar ao seu lado, em um estado tão catatônico quanto o que se encontrava.

Pöli o olhou de soslaio. Sob a escuridão da noite, viu seu filho de consideração rodar o documento entre os dedos. O que o identificava como filho de Celeste e um pai não identificado, que não quis manter-se em sua vida. Ele teria dado tudo para ter seu nome no documento de Fin.

- O que foi, filho?

Os olhos de Fin mostravam o abalo pela cena.

- Ela não queria ir.

Pöli entendeu. Daisy não queria ir. Odile não queria ir.

- Não podíamos fazer nada, Fin.

- Não tentamos fazer nada.

- Era a rainha - Pöli ergueu um pouco a voz. - Acha que deixariam que ela apenas continuasse sua vida fraudulenta nos subúrbios de uma terra como a nossa?

Fin inspirou profundamente. Gostava mais quando tinha antipatia por Daisy. Era mais fácil. Poderia jogar na cara de seu pai que sua bondade sem filtros o fez trazer para suas vidas uma genocida. Entretanto, sabia que Daisy era mais que isso.

- Ela me contou uma história, que certamente não era verdade mas... - Fin pensou alto - me faz pensar o porquê de ela estar aqui.

- E a que conclusão chegou? - o pai não ousou olhá-lo, já sabendo que concordaria com as palavras do filho.

- Que ela estava atrás do bebê. Do príncipe.

- Irônico.

- O que é irônico?

- Amar um bebê e matar milhares.

- Ela salvou Deco, pai. Não sabemos nada sobre ela.

- Conhecemos um pouco.

- Conhecemos Daisy! - Fin exclamou. - Quem sabe o que se passa na vida da rainha Odile?

- Onde quer chegar, Fin?

Os olhares de pai e filho finalmente entrelaçaram-se. Perceberam que Celeste e Lili também ouviam a conversa logo atrás deles, já livres da lona que as sufocava, agora desnecessária.

- Vamos ajudar a Daisy, papai - a doce voz de Lili pediu.

Pöli trocou olhares com sua esposa. Não queria tomar decisão alguma sem ela. Viu uma luz brilhar nos olhos de Celeste quando ela concordou com a cabeça.

Pöli parou a carroça e os cavalos relincharam. Ele deu meia volta e pensou consigo mesmo se o que estava fazendo não era insano. Não se importou. Ele trouxe Daisy para a vida deles. Ele fez com que se apegassem à mulher. À mulher que só queria o filho de volta.

Partiram sem mais, formulando na mente o que fariam quando topassem de novo com os soldados imperiais.

- Não vão deixá-los passar - Odile vociferou quando adentraram a rua principal de Pedreira, desguarnecida como todas as outras na fresca matinada que aos poucos se encerrava.

- Tenho minhas dúvidas - o soldado no cavalo que a seguia de trás comentou. Odile percebeu o quanto continham-se para tratá-la com o devido respeito. - Não acho que dirão não à rainha.

- Não sabem que sou a rainha.

Ela ouviu a fúria exalar pelas narinas dos dois e sorriu vitoriosa. Sentiu cólera por Sohlon ter colocado uma recompensa por ela. Descobriu, pelas conversas, que ele estava afundando em sua própria perdição.

As fronteiras de todas as terras eram agora isoladas, fechadas para qualquer um que quisesse entrar ou sair de seus devidos lugares. A Pedreira não era um dos centros comerciais mais importantes para a coroa, como Arande e D'Ávila, mas ainda assim aderiu à barreira em forma de protesto. Os laços com o rei não andavam bem.

Eles chegaram à fronteira, os dois soldados e a rainha que não se trajava como tal.

As barreiras daquelas terras foram levantadas como uma barricada de paus e madeiras empilhados com quase cinco metros de altura, circundando tudo e todos, principalmente isolando-os do caos da cidade real. Aos poucos, enquanto aproximavam-se, viram as figuras aparecendo. Da noite, das casas, da mata e da completa escuridão, um a um, pelo menos uma dúzia de nativos usando máscaras sobre nariz e boca colocaram-se à frente dos cavalos. Não queriam deixar as identidades tão à mostra.

Os soldados não os intimidaram. Ainda não fora criado um conflito pela simples falta de ordens. Eles aguardavam ansiosamente.

- Colabore conosco, rainha Odile - o soldado que a levava sobre o cavalo cochichou e desceu do animal, deixando-a ali sozinha, despercebendo o erro que cometia. Ela viu quando o outro soldado fechou seu caminho, atrás dela. Optou por apenas ouvir a conversa, sem precipitar-se.

Um dos pedreiros colocou-se em frente ao soldado que caminhava até a fronteira, como se nada temesse. Eles tinham o mesmo porte físico, ambos altos com grandes músculos nos braços e uma carranca no rosto. Mesmo que coberto parcialmente pela bandana de cor azulada, podia-se ver que o nativo não estava para brincadeiras. Eles não passariam por ali.

- As fronteiras estão fechadas, soldados - o vozeirão do pedreiro pronunciou alto o suficiente para que todos ouvissem, como se quisesse envergonhá-los. Alguns rostos curiosos despontaram nas janelas, como é de natureza humana. - Ninguém há de ir ou vir por esses lados.

O soldado soltou uma risada debochada.

- O que querem para nos deixar passar, homem? - pensou bem. Apesar de ser uma autoridade, ali ele não passava de um homem fardado. Estavam em completa desvantagem numérica. Colocaria à prova suas habilidades de persuasão e barganha.

- Está oferecendo o quê? Dinheiro? - o pedreiro questionou.

- Uma fortuna.

O nativo mostrou-se impassível. Estavam lutando por uma causa ali. Não seria o dinheiro que os derrubaria. Entretanto, a proposta o seduzia. Que mal faria deixarem apenas dois soldados e uma mulher passarem para o lado de lá em troca de algumas riquezas?

- Não - outro homem, vindo de trás deste, deu um passo na direção da desordem. - Não caia nas lábias desses homens, Kol.

Kol não se moveu, apenas piscou lentamente.

- As fronteiras estão fechadas - o tal Kol repetiu, imponente.

O soldado inspirou profundamente e guardou sua raiva por mais um minuto. Viu que, pouco a pouco, uma multidão começou a espalhar-se ao redor deles. Os pensamentos de Odile estavam a mil.

- Acho que estão cientes do que acontece atrás de suas barreiras, não é? - o fardado provocou. - Pois bem, aquela mulher ali - apontou com a cabeça para Odile. Ela ouviu. - é a rainha de suas terras, bom homem. Se não nos deixar passar, tenho certeza de que sua cabeça rolará esta rua abaixo antes mesmo de amanhecer.

A respiração de Odile oscilou. Os olhares rapidamente recaíram sobre ela. Estava determinada a fugir desde que subiu naquele cavalo. Não voltaria a lugar nenhum sem Kaha nos braços, e se seu marido não entendesse, que lidasse com a própria solidão. Teve medo pelas pessoas que a acolheram, por Pöli, Celeste e os filhos, pois naquele momento estava para fazer algo sem volta.

- Por favor, me ajudem - obrigou seus olhos a lacrimejarem, em uma encenação necessária. - Eu não sou quem dizem que sou, por favor, me ajudem!

A atmosfera ao redor deles parou um segundo. Odile não precisava ser salva, ela só precisava de uma distração. A rainha ouviu a espada de Kol ser desembainhada e percebeu o que fez, segurando um sorriso.

Antes que os dois soldados pudessem protestar, uma alta movimentação do outro lado da barreira fez com que todos se calassem e apurassem os ouvidos.

Seus medos os atingiram. O exército real rumava para aquelas terras, não havia dúvidas. Os urros dos homens e os galopes dos soldados fizeram com que os pedreiros estremecessem.

Odile desceu do animal e olhou para aquela barricada à sua frente. Quando o barulho tornou-se ensurdecedor, a primeira investida contra aquela parede irrompeu pela Pedreira. Os segundos da barreira estavam contados.

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