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39. Retribuir o Favor

A rainha escondeu-se dentro do toldo com a família. Apenas Fin e Pöli ficaram do lado de fora.

Celeste balançava o pequeno bebê nos braços. Ela não passava calma alguma para o tão novo ser humano e ninguém podia culpá-la.

Lili abraçou-se ao tronco de Odile. A rainha estava estática. Sua mente voou, assim como aquela carroça.

- Daisy - Celeste a chamou. De soslaio, Odile a encarou. As duas mulheres sabiam. Elas ouviram os distantes sons dos cavalos reais que se aproximavam. Não conseguiriam fugir, muito menos se esconder. Eles estariam ali logo -, você disse que não deixaria encostarem as mãos em meus filhos - a mulher dos cabelos negros a lembrou.

- Eu disse - Odile sentiu os lábios tremerem.

- Então tome meus filhos - Celeste colocou Deco nos braços da mulher que tão pouco conhecia. Estava fraca. Não conseguiria correr, ela sabia. Ambas sabiam. E Pöli não a deixaria para trás - e corra.

Odile olhou para Deco. O som dos cavalos os ultrapassando e cercando tornou-se alto o suficiente ao lado de seus ouvidos para saberem que aquele era o fim da linha.

Odile viu Kaha, não Deco, ali em seus braços. Ela sentiu a dor de uma mãe. Não podia deixar que aquele fosse o fim, ainda mais por algo que ela ajudou a criar. Aquela lei insana já fora longe demais.

- Não - a rainha colocou Deco nos braços da mãe novamente. Os olhos de Celeste marejaram, falhando ao tentar conter as lágrimas. - Vou fazer o que é certo.


Pöli não soube como achou forças para descer daquela carroça. Uma pontada de esperança ainda despontava em seu âmago, o fazendo manter-se firme e forte.

O soldado que o cercou pela frente desceu do cavalo.

- Boa noite, cidadão - ele o saudou, grosseiro.

- Boa noite - Pöli tentou manter a voz firme -, soldado.

Os berros de Deco puderam ser ouvidos claramente por toda a extensão onde se encontravam, no meio de uma estrada ladeada de árvores que mediava o caminho entre o centro e o interior da Pedreira.

- Por que estavam fugindo? - o outro perguntou. Pöli viu que eram apenas dois. Em sua mente, perguntou-se se conseguiriam lidar com eles caso fosse necessário. As lâminas afiadas de suas espadas vieram lhe confirmar a resposta que ele temia.

- Estávamos indo para cara, senhor - a voz de Pöli transpassava sua mentira e nervosismo. - Nada demais.

Os soldados se entreolharam.

Fin desceu da carroça.

O fardado fez a intimação que eles temiam.

- Documentos.

Pöli estremeceu.

- Por favor... - ele implorou, baixo. Teve certeza que Deco chorou mais alto naquele momento. O pai da família o acompanhou.

O primeiro soldado fez um sinal com a cabeça para o segundo, indicando o interior da carroça.

- Não! - o pai gritou, mas levou um murro de mão fechada no rosto que o levou ao chão da estrada.

- Pai! - Fin gritou, correndo em direção ao homem.

Lili gritou quando o primeiro soldado levantou a lona onde se encontravam. O soldado tomou o punho da garotinha e a puxou com facilidade.

- Solte ela! - Celeste berrou com a voz falhada, já pronta para defender sua filha. O soldado tirou-as rapidamente da carroça, distraindo-se com a figura daquela outra mulher sorrateira.

- Ande, mulher, dê a criança - o soldado ordenou, segurando no punho de Lili e o apertando. A pequena chorou. - Sabe as leis.

Celeste despedaçou-se. Ela olhou para todos os lados procurando ajuda. Do marido, do filho.

A ajuda, todavia, veio de onde ela não esperava.

- Solte-a ou dou minha palavra que não viverá sequer mais um dia de paz em sua vida miserável.


Odile voltara. Não Daisy.

A rainha desceu da carroça e seus penetrantes olhos esmeralda encararam o homem que segurava Lili. Esse, por sua vez, apenas riu. Ele soltou o braço da garotinha, que correu para o colo da mãe, desalentada.

O soldado avançou em direção à Odile, que não abaixou o olhar e sequer recuou um milímetro que fosse. Ele segurou em seu antebraço com a mesma voracidade, chacoalhando-a.

- E quem você acha que é pra ousar me ameaçar desse jeito, mulherzinha?

Um sorriso de superioridade desenhou-se no belo rosto de Odile. Ela sabia que aquele homem não a conhecia, mas ela tinha uma boa memória. O outro, que outrora afastava Fin e Pöli da cena, era de sua guarda pessoal. Ela esperou pela resposta dele, que logo veio.

- É melhor soltar sua rainha, homem.


Os dedos daquele homem se afrouxaram ao redor do braço de Odile, como se tivessem acabado de tocar em brasas. Ela sorriu vitoriosa ao ver o pavor em seus olhos.

- A rainha? - ele indagou para o ar.

Os soldados encararam-se.

Odile não conseguiu olhar para aquela família. Mesmo assim, sentiu os olhares recaírem sobre ela. Imaginou a estupefação que estariam sentindo.

- O rei está pagando uma fortuna para quem a trouxer de volta - o primeiro soldado lembrou.

- Como ousa me tratar como um objeto?

O soldado em sua frente, entretanto, viu ali a oportunidade. Pisou em ovos, mas fez sua proposta.

- A senhora, minha rainha, deixou seu posto e responsabilidades nas mãos de meu rei. Eu sigo as ordens dele - ele declarou, por mais nervoso que estivesse. - E agora lhe encontro defendendo esse povo das leis que vocês mesmos impuseram.

- As leis são falhas abismais - ela esbravejou. Não se parecia mais com Daisy. Sentiu falta de Odile.

- Venha conosco, rainha Odile - o primeiro soldado propôs -, e eles vão embora.

Odile ousou trocar olhares com Celeste. A mulher estava petrificada e desacreditada. Ela e Pöli lhe acolheram quando ela precisou, sem ao menos saberem quem ela era. Faria o mínimo por eles, por mais que não quisesse voltar.

Odile olhou de um soldado para o outro e concordou com um aceno de cabeça. As lágrimas de alívio rolaram pelos rostos dos quatro integrantes da família. Dos cinco.

Os soldados se afastaram, vendo uma oportunidade melhor do que outrora. Subiram em seus respectivos cavalos.

Odile queria se despedir, mas não conseguiu. Entretanto, devia palavras à pequena Lili.

A garotinha correu e abraçou-lhe a cintura. Odile segurou uma lágrima e abaixou-se ao seu lado.

- Você é mesmo a rainha? - Lili sussurrou.

Odile sorriu e tirou os lindos cabelos de Lili de seu rosto molhado. Concordou.

- Sou, minha linda Lili. E sabe o que mais? - ela limpou as lágrimas da garotinha com os polegares. - Quando isso tudo acabar, quando você estiver em segurança em sua casa e brincando com o pequeno Deco, feliz e saudável, eu vou voltar para te visitar. E vamos tomar um chá de hibisco no palacete em Crisântemo. O que acha?

- Com muito açúcar? - a pequena indagou.

Odile a abraçou em resposta. Não tinha percebido o quanto se apegara até o momento. Ela deixou Lili ali, junto com a família, e subiu em um dos cavalos que a esperavam.

Antes de partirem, a rainha sussurrou no ouvido do homem que a levava:

- Se eu souber que encostaram em um fio de cabelo de qualquer um deles - vociferou -, vou desgraçar até suas últimas gerações.

Mirza chegou tarde naquela noite, já adentrando as primeiras horas da madrugada. Viu a oportunidade de trabalhar mais naquele dia e consequentemente receber mais. Não deixou-a passar. Quando passou pela porta da casa, que rangeu ao ser aberta, deparou-se com um recinto silencioso e escuro. Todos já dormiam, exceto pela figura loira que deitava no sofá com um livro e uma vela, pescando os olhos. Mirza sorriu para Nafré, que sorriu ao vê-lo.

- E aí, como se sente mais velha? - ele praticamente cochichou, como se sua voz pudesse acordar qualquer um da casa. Sentou-se ao lado de Nafré no sofá. A garota acomodou-se e esfregou os olhos, fechando o livro que não tinha certeza se estava gostando e deixando-o de lado.

- Não sei, acho que já sinto uma dor nas costas diferente, ficar velho é assim? - ela brincou, sonolenta.

Ambos riram da piada sem graça.

- Desculpa por perder seu aniversário - Mirza exprimiu.

- É só uma data idiota - Nafré balançou a cabeça. - Você está aqui todos os outros dias.

- Uma data idiota? - Mirza riu. Em seguida, alcançou algo na mochila que carregava para todos os lados. - Quer dizer que não quer isso aqui?

Os olhos heterocromáticos de Nafré brilharam ao ver o pequeno embrulho em sua mão.

- Ah, Mirza... - ela alcançou-o delicadamente. - Não precisava se preocupar.

- Anda, abra - Mirza sorriu, ansioso.

Nafré desembrulhou o papel de cor acinzentada e mesclada em suas mãos. Ela arfou ao ver o pingente sustentado por uma corrente preta. Nafré deixou o papel do embrulho cair e segurou seu presente em mãos. Mostrou-se sem reação ao ver o pequeno ornamento de um arco e flecha.

- E aí? - Mirza perguntou, ansioso.

- É lindo... - Nafré sorriu, hipnotizada. Colocou-o ao redor do pescoço imediatamente. - Deve ter sido caro, Mirza. Não precisava se preocupar.

- Não foi caro. Eu que fiz.

Os olhos de Nafré brilharam ao sorrir para ele, voltando novamente ao pingente.

- Como conseguiu?

- É fácil quando se trabalha forjando ferro o dia inteiro - mentiu. Não foi fácil. Aquela foi sua terceira tentativa e ele ainda não estava completamente satisfeito com a tarefa. Entretanto, ver a felicidade da garota deu-lhe certeza de que valeu a pena. - Eu pensei em fazer as runas da Deusa Aurora, da beleza e do amor, mas... você é bem mais que isso. Pensei em fazer as de Puipuiga, da proteção, mas você também não precisa disso. Sabe se defender sozinha. Então, lembrei do arco...

Ele não conseguiu terminar a sentença. Nafré o abraçou. Ele surpreendeu-se ao ouvi-la chorar. Mirza a abraçou e nada disse.

- Eu estou com saudades de casa, Mirza - ela admitiu. Estava sendo forte até o momento, mas não aguentou a emoção. Não conseguia conversar com ninguém. Nem mesmo com a irmã. Entretanto, sentia-se confortável para conversar com aquele homem.

Mirza não podia dizer o mesmo.

- Quando não estivermos mais em pé de guerra - ele pensou bem em suas palavras -, a levo de volta para casa.

Não conseguiram mais trocar palavra alguma. Ouviram o som da fechadura ranger do outro lado da casa.

- Achei que tivessem todos em casa - Mirza sussurrou.

- Estão - Nafré respondeu, pasma. Quem quer que abrisse a porta, não era nenhum dos integrantes daquela casa. Ela rapidamente apagou a vela e levantou-se. Mirza tomou rapidamente o habitual facão em mãos, o qual ele não ousava sair de casa sem. Nafré apressou-se em pegar o arco e flechas, que não saiam mais de seu lado.

Os dois, em silêncio, rumaram pé ante pé em direção à porta da frente. Ouviram o barulho da porta se abrindo vagarosamente, mas a fechadura não estava sendo forçada. Quem quer que fosse, tinha uma chave.

Mirza tomou a frente quando viu uma figura encapuzada adentrar a escuridão da casa.

- Parado! - exclamou.

A figura soltou um grito de espanto e levou as mãos ao peito. Tanto Mirza quanto Nafré perceberam a voz feminina.

A mulher tinha uma sombra. Um pequeno garoto que a seguia escondeu-se atrás de seu corpo. Ela ergueu uma das mãos, como se pedisse por um cessar fogo.

- Esperem! - esbravejou e tirou o capuz. Os olhos dos crisantianos acostumaram-se à escuridão e puderam ver os lindos cachos negros daquela mulher, tão bela e tão abatida. - Quem são vocês?

- Quem é você? - Nafré murmurou.

A mulher, entretanto, apenas sorriu calmamente. Mirza abaixou o facão e obrigou Nafré a fazer o mesmo com aquela flecha. A mulher parecia inofensiva, assim como a criança que escondia-se atrás dela.

Não demorou muito para que tanto Isaac quanto Gaia aparecessem aos pés da escada, perguntando o que acontecia ali naquela noite.

A mulher na porta não esperava que a casa estivesse ocupada. Ela soltou o ar e ousou entrar na casa, fugindo das ruas e trazendo o filho com ela. Sorriu para o lar que não via há algum tempo, antes de responder.

- Meu nome é Carú. E eu morei aqui.

Odiavam ter que repetir aquela rotina.

Deitar sob o relento, dormir sobre a terra dura, sofrer das intempéries da natureza e tentar sobreviver por mais uma noite. Acostumaram-se à vida boa da cabana. Por mais que Puipuiga tivesse lhes permitido continuar com todos os seus pertences, a falta de um teto seguro lhes pesava nos ombros.

Não ousaram acender a fogueira quando pararam. Ainda tinha medo. Mais medo do que o fogo poderia atrair do que poderia espantar.

Azriel e Ginevra conseguiram dormir primeiro, encolhidos nos próprios cantos e abraços. Não tinham a mente cheia, apesar de sentirem o medo refletido dos outros.

Os outros quatro ficaram ali, em um círculo pequeno, apenas ouvindo o tenebroso e ínfimo silêncio da noite.

Não combinaram turnos. Azura, recostada sobre o tronco de uma árvore, permitiu-se dormir. Tentou esquecer do medo e da odiosa falsa realidade que as Aparições lhe mostraram. Tentou esquecer das duras palavras de uma criatura que apenas assemelhava-se ao seu pai. Tentou esquecer de Ava-Lee. Tudo a feriu, entretanto. Ela apertou a pedra ao redor de seu pescoço e prometeu não mais tirá-la. Não sabia por quanto tempo aquilo surtiria efeito nem contra o quê podia lidar com o feitiço de proteção canalizado de Ginevra. Dormiu, entretanto. Um sono pesado e sem sonhos.

Alaric, quando conseguiu fazer a emoção baixar, também cedeu ao cansaço. Não conseguia acreditar. Ele seria pai. Não entendia como todos aqueles acontecimentos incríveis em sua vida - Viorica aceitar se casar com ele, descobrir da espera de um filho - podiam estar acontecendo tão simultaneamente com aquelas cenas tão ruins. Ele não deixou se abalar naquele momento. Deitou ao lado da amada e dormiu.

Kohan optou por manter-se acordado, em um acordo não verbalizado com os outros, que cediam ao sono um a um, caindo como dominós. Ele viu-se acordado apenas ao lado de Viorica, cujos olhos nem ao menos piscavam pesado. Ambos sentiam que algo precisava ser dito.

- Desculpe - Viorica tomou o partido.

- Pelo quê?

- Por minhas palavras. E atitudes - ela não o olhou. - Estava estressada e descontei em você.

Kohan riu para dentro. Sentiu que foi levemente injustiçado por toda aquela fúria da mulher, mas não tirava-lhe a razão.

- Sei que não sou uma boa companhia quando estou com a cabeça quente também.

O arandiano recostou o tronco na árvore. Não queria fechar os olhos. Toda vez que o fazia, sua mãe aparecia em sua mente. E não a mãe que ele gostava de se lembrar.

Viorica sorriu, desconcertada com os próprios pensamentos.

- O que foi? - Kohan indagou.

- Nada, é que... sempre soube que não gostavam de mim - balançou a cabeça. - Acho que por isso eu pouco me importei se gostassem um pouco menos.

- De onde tirou isso, Viorica? - Kohan semicerrou as sobrancelhas. Eles nunca tiveram uma conversa realmente duradoura, muito menos profunda e com segredos revelados assim, na madrugada. Podiam não se dar bem, mas não se davam mal.

Ela revirou os olhos.

- Ah, qual é? Não me diga que sempre foi com a minha cara?

Ele riu.

- No começo, eu realmente não queria você dentro de minha casa - admitiu. - Tinha medo que logo descobrisse que Ginevra era uma bruxa e que... Azriel era meu irmão de sangue...

- E que os delatasse.

- É.

- Eu nunca faria isso.

- Eu sei - ele admitiu. - Agora eu sei.

Eles deixaram o assunto morrer aos poucos, parecendo amenizar o clima pesado que antes os perscrutava.

Kohan tinha uma última coisa a dizer.

- Desculpe - sussurrou - por não fazermos você se sentir da família antes.

Ela sorriu em resposta, esboçando os primeiros sinais de cansaço da noite. Kohan prosseguiu.

- Agora, mais do que nunca, é uma de nós.

Viorica colocou as mãos sobre o ventre e, pensando nas palavras que a ninavam, dormiu um sono pesado, deixando Kohan acordado e sozinho com pensamentos a mil.

Düran estava encarregado de Cöda naquela manhã primaveril que nasceu na clareira. Os ventos sopravam o aroma agradável das flores da estação e ele sentiu-se bem.

Nas primeiras semanas, não quis tomar Cöda nos braços. Assombrações do passado vinham lembrá-lo que ele impetuosamente chamou Arin para a morte, o bebê tão puro e inocente cujo único crime foi nascer.

Todas as vezes que aquele pensamento lhe vinha à cabeça, ele apressava-se em afastá-lo.

Estava tentando acostumar-se com a nova vida, com o novo Düran. O Düran que Azura amou, e não o que ela repugnou.

Brincando com os reflexos do pequeno bebê em seus braços, os pensamentos de Düran iam e voltavam para Azura. Não podia evitar, sentia saudades de tê-la por perto. Inúmeras foram as noites em que não conseguiu dormir por saber que ela o queria morto.

Aquele Düran morreu, ele prometeu a si mesmo. Prometeu que, o que quer que viesse a acontecer em sua vida daquele dia em diante, faria-se ser digno de perdão.


Aquele grito de socorro horrorizou até o mais distante dos Kinos naquela extensa clareira.

Düran o reconheceu de imediato. Era Gisèle. O petrichoriano correu o quanto conseguiu com o pequeno bebê no colo e alcançou as fronteiras da clareira, vendo que outros já corriam ao encontro da loira. Ele pasmou-se com a cena.

Gisèle estava debruçada sobre o corpo desacordado de Caiden. Ele foi o primeiro a alcançá-los.

- O que aconteceu?

- Eu não sei! - a loira gritou, entre os prantos. Ela gesticulou com as mãos para tentar explicar o que se passara. - Os olhos dele ficaram negros e aí ele... ele apagou!

Düran olhou de Gisèle para Caiden, apagado nos arredores da clareira. Não demorou a outros juntarem-se a eles.

O petrichoriano colocou Cöda nos braços de uma pasmada Gisèle. O pequeno chorou, não gostando do clima em que a tão conhecida figura se encontrava.

Lírio apareceu ali em um instante. Nada perguntou. Ele e Düran tiraram o corpo de Caiden do chão e o arrastaram para longe dali em um destino consensual que não precisou ser verbalizado - a tenda de Dante.

Dante abriu espaço para que deitassem o corpo de Caiden em seu colchão. Düran e Lírio trouxeram seu corpo desacordado, seguidos logo atrás por uma Gisèle sem fôlego, tentando correr aos prantos e apavorada com um bebê nos braços. Tereza, vendo a movimentação invulgar e o amigo desacordado, rumou para lá sem hesitar. As outras figuras influentes daquelas breves terras prostraram-se na frente da tenda de Dante, isolando o caos ali.

Dante mal percebeu quando um grande amontoado de pessoas reuniu-se ao redor dele.

- Deem espaço! - ele esbravejou.

O Kino analisou-o. Caiden estava claramente vivo, seu corpo convulsionava e suava com a febre que tão rapidamente tomou seu corpo inteiro. Sua temperatura beirava o fogo da cabeça aos pés.

- O que podemos fazer? - Tereza indagou, mantendo distância com uma das mãos na boca.

- Chamem Frey! - Dante pediu.

Tereza olhou para Gisèle. A amiga loira estava desalentada, chorando e ao mesmo tempo tentando acalmar Cöda ao chacoalhá-lo nos braços. Obrigou-se a fazer algo.

Tereza findou o espaço entre elas em um segundo e tomou Cöda nos braços. Gisèle não protestou.

- Gis - Tereza chamou. Viu a amiga à beira de um ataque de pânico. Puxou-a para fora da tenda e obrigou-a a sentir o ar fresco do Bosque. - Gis, olhe pra mim.

Gisèle obedeceu-a, olhando naqueles grandes olhos castanhos. Estava desesperada e, por mais que puxasse o ar para seus pulmões, não sentia-os chegar. A última vez que teve um ataque de pânico foi pouco depois de perder os pais. Caiden estava lá por ela.

- Eu não posso perder ele - suas palavras quase ininteligíveis saíram entre soluços.

- Não vai perdê-lo, Gisèle - as palavras de Tereza mantiveram-se firmes e fortes. Ela colocou uma das mãos no antebraço da loira e o apertou.

- Você não viu o que eu vi!

- Então me conte.

Frey alcançou-as e ouviu, pasma, o que Gisèle tinha a contar.

- Os olhos dele ficaram petrificados e apavorados e depois ficaram...

- Pretos - Frey completou, do mesmo modo como fez quando contou à Caiden sobre os Réus, dois meses atrás. - Sei o que está acontecendo.


Frey desbravou o breve caminho até Caiden e ajoelhou-se ao seu lado.

- Dante? - chamou. Seus olhos nem ao menos piscaram de tensão.

Dante limpou o suor da testa de Caiden. Ele não era nem perto de um curandeiro.

- Tem algo de muito errado com ele, Frey - Dante coçou a cabeça.

- O que foi, Dante? - Lírio, de braços cruzados, o encarou.

- Uma presença, algo... algo ruim.

- São os Réus - Frey contou.

- Réus? - Düran arrepiou com o nome. - O que é isso?

- São criaturas do Bosque. O encontraram antes de nós - Frey explicou, tirando os cabelos negros da frente do rosto. - Alimentam-se da culpa.

Düran olhou para Caiden tremendo em sua frente.

- O que podemos fazer? - o petrichoriano indagou.

- Não sei - Dante balançou a cabeça. - Achava que eram apenas histórias.

- Se são realmente os Réus, filhos de Pouri - Aurèlia tão sorrateiramente entrou ali que nem ao menos a perceberam -, então não podemos fazer nada.

- Ele vai morrer assim! - Gisèle gritou, com um dos pés para dentro e o outro para fora da tenda, não sabendo se o deixava respirar ou ficava para tomar-lhe a mão.

- É uma batalha interna, Gisèle - Dante tentou acalmá-la.

- Deve ter algo que possamos fazer por ele - Tereza balançou o pequeno Cöda nos braços, cujos prantos aos poucos cessavam.

- Podemos amenizar a febre, mas... - Dante balançou a cabeça, pensativo. - Nosso estoque de macela e cardo-santo acabou faz uma semana.

- Não temos nada? Freixo, salgueiro-branco, eucalipto? - Aurèlia perguntou.

- Não. Nossos homens ficaram de trazer na volta da cidade. - Lírio a lembrou.

- É, mas não é a prioridade deles, a cidade está um caos.

- Onde achamos as ervas? - Frey passou as mãos pelo rosto, pensativa.

- Para lá do rio, com certeza - Aurèlia a informou, já desgostosa com o rumo da conversa. - Não podemos ir pra lá, Frey.

- Claro que podemos, sempre fomos!

- Nossos melhores homens sempre foram. Os que sempre souberam se esconder nas sombras e passar despercebidos. Não podemos nos arriscar assim! São gerações colocadas em risco.

- Aurèlia, ele... ele é dos nossos agora. Não podemos deixá-lo morrer.

Aurèlia olhou de Frey para Caiden, depois de Gisèle para Tereza e o bebê. Não queria tomar aquela decisão.

- As coisas estão um caos pelo Vale de Awa - ela os lembrou, mas balançou a cabeça em contradição às próprias palavras. - É muito arriscado.

- Então eu vou sozinha - Gisèle propôs-se. - Cheguei depois aqui. Se algo acontecer comigo, não me importo. Apenas me diga o que fazer e... fiquem com Cöda, por favor.

- Gisèle... - Tereza procurou por palavras, mas não as encontrou. Sabia que se a loira fosse, iria junto.

Aurèlia procurou por Lírio. Seu olhar lhe dizia para fazer o certo. E o certo era não deixar aquele garoto morrer por conta de cuidados excessivos. Por fim, a Kino cedeu.

- Eu vou junto, então.

O que você se tornou, Azura?

Eu te criei bem, minha filha. Lhe ensinei tudo o que sei.

Como pode ter se tornado esse monstro?

Não posso nem mais chamá-la de filha, Azura de Petrichor.

Você destruiu nossas terras. Destruiu as terras de nossos ancestrais. Comprou uma guerra vã e deixou que todos nós perecêssemos. A que custo, Azura?

A que custou tirou vidas?

Onde estava quando precisamos?


Azura acordou com lágrimas nos olhos.

Estava segura ali, acalmou a si mesma. Fora só um sonho ruim. Lembranças de algo que nem aconteceu de verdade.

Aquelas palavras não vieram de seu sábio e velho pai.

A petrichoriana sentou-se e fungou novamente as lágrimas que queria esconder. Agradeceu por estarem todos dormindo, inclusive quem quer que tenha ficado para fazer o turno do fim daquela conturbada noite. Todos precisavam de um bom descanso.

Ouviu uma movimentação atrás de si. De soslaio, viu Ginevra levantar-se.

A bruxa a olhou com calma e deu a volta nos irmãos que dormiam. Ela abaixou-se ao lado de Azura com uma expressão séria. Nada perguntou sobre o que mexeu tanto com sua cabeça. Apenas olhou fundo naqueles olhos cinzentos e informou-lhes de uma decisão recente.

- Estou pronta para retribuir todo o favor.

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