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26. Kinos

Com Crisântemo mergulhada no caos, Gaia correu em direção ao portão da frente.

Os gritos de Kaha não mais podiam ser ouvidos, encobertos pela barafunda crescente.

Gaia viu quando os soldados passaram por ela, rumando em direção ao fogaréu na torre principal. Nem ao menos lhe deram atenção - e ela agradeceu.

A garota rumou para os portões, vendo então a multidão de crisantianos que reunia-se ali para assistir a tragédia.

Gaia correu sem olhar para trás. Ela precisava fugir dos olhos de todos.

Em meio à multidão, uma figura destacou-se. Nafré também a vira. A irmã mais nova correu em direção à ela, seguindo até o beco onde, horas mais cedo, Gaia entregou a chave da cozinha para Isaac, provocando aquela baderna desenfreada.

A garota permitiu-se mergulhar em lágrimas quando viu a irmã mais nova parada bem à sua frente. A adolescente estava pasma.

O caos ao redor delas as encobria.

- O que aconteceu? - Nafré gritou para fazer-se ser ouvida em meio à arruaça.

Gaia não conseguiu responder. Ela apenas abriu o casaco e mostrou o pequeno príncipe aconchegado em seus braços.

Nafré levou as duas mãos à boca.

- Que merda você fez, Gaia? - ela murmurou. - Diz que não é quem eu estou pensando.

- Eu salvei a vida dele, cacete, Nafré! - Gaia descabelou-se.

Ela pensou rápido. Precisava voltar. Precisava estar lá dentro.

- Tome. - a garota colocou o bebê nos braços da irmã.

- O que quer que eu faça com ele?! - Nafré indagou. Parecia ainda mais desesperada que a irmã mais velha.

- Corra e não deixe que o vejam, entendeu?

- Correr pra onde? - Nafré se viu à beira das lágrimas.

Segurando os gritos de dor, Gaia tirou o agasalho do soldado e cobriu Nafré e Kaha. Ela viu as queimaduras em sua pele pela primeira vez. Seu braço esquerdo estava em carne viva.

- Vá para a rua Martina Vilante, é um beco próximo ao Porto das Rosas. Na única porta da rua, bata e peça abrigo para Lore. Diga que é minha irmã.

- O que vai fazer? - Nafré deixou as lágrimas de pavor escorrerem.

- Encobrir a mentira. - Gaia respondeu, determinada. - Corra, criatura, vá!

Nafré, aos prantos, correu em direção à onde a irmã lhe mandara, descendo a ladeira em direção ao Porto das Rosas com o coração - e o príncipe - nas mãos.


Gaia margeou a praça e misturou-se às figuras bem vestidas e desesperadas que saíam de dentro do salão.

Ela quase esqueceu-se de que brincava de realeza aquela noite.

A garota correu o máximo que suas pernas permitiram. Tinha que chegar antes dos reis no quarto. Ela estava em vantagem pela proximidade, sabia.

Já não tinha mais ar nos pulmões.

Ela sentiu o repugnante cheiro das chamas descerem as escadarias, já muito mais alastradas que quando ela saíra.

Gaia ignorou a dor no braço e o medo de morrer. Precisava ser convincente para viver.

Ela atravessou todos os corredores e costurou todos os guardas que tentavam apagar o fogo, rumando em direção à ele, em direção ao quarto.

Esgueirou-se o quanto pôde e invadiu novamente o recinto.

Cada móvel dali estava em chamas - inclusive o berço do pequeno.

Gaia gritou e levou as mãos à boca logo antes de sentir-se ser puxada dali para longe das chamas.

O soldado forte que a tomou nos braços arrastou-a para o fim do corredor e colocou-a ali.

Aos prantos e gritos de desespero, sem precisar fingir, Gaia viu a pasma rainha correr em direção à eles, seguida um passo atrás pelo rei.

Gaia ajoelhou-se no chão ao vê-los passar. Odile não suportaria aquilo e ela sabia.

Visivelmente ferida, Gaia sentou-se no piso gelado e encostou-se nos ladrilhos do passadiço. Ela viu quando rei e rainha foram impedidos de adentrar seus quartos. A notícia foi dada - nada ali sobreviveu. Nada.

O grito que saiu da boca de Odile foi abismal.

Amparada pelo rei, a rainha tombou até chegar ao chão. Sohlon sentou-se com ela e a puxou para um abraço apertado.

As lástimas de rei e rainha despedaçaram Gaia, que não soube o que fazer.

Percebeu que sua decisão, não importava que rumo tomasse, já a colocara na forca.

Gisèle permitiu-se sentir o prazer da natureza pela primeira vez desde que fugira de D'Àvila.

O sol em sua pele, a água em suas pernas e o aroma do ar mais puro que já sentira a deixaram anestesiada do pavor que a aterrorizou na noite passada. A magnífica cachoeira estava no terreno daquele povo. Foi para lá que foram guiadas por Aurèlia - ela e Tereza.

Caiden já as esperava ali.

Quando as duas o viram, o homem estava dentro da água. Sem a parte de cima da roupa, segurava o pequeno Cöda nos braços e o balançava de um lado para o outro da lagoa. A criança parecia gostar.

Gisèle sorriu ao vê-los, não tardando a entrar na água.

Tereza, entretanto, cruzou os braços ao lado de Aurèlia.

- O que a aflige? - a mulher morena indagou.

- Acho que precisamos de algumas explicações.

- Eles não parecem se importar com isso agora. - Aurèlia indicou o casal na água. Gisèle mergulhou ao lado do amigo, pouco se importando em molhar as vestes. Estava feliz por tê-los ali, vivos e seguros.

- Talvez eu me importe. - Tereza comentou.

Aurèlia a fitou de soslaio. Viu a garota apreensiva, por mais que estivesse completamente ordeira minutos atrás.

A nativa concordou com um aceno de cabeça.

- Ei! - ela chamou pelos dois na água. - Primeiro respostas, depois estão livres para decidirem o que querem fazer.


Gisèle tomou Cöda nos braços e o embrulhou em uma manta azul separada para ele.

Caiden foi auxiliado por Tereza. A perna estava com o ferimento tratado, mas ainda sensível.

Eles sentaram-se ali, na orla da cachoeira, os três sobreviventes - e meio - e a nativa cujo nome era a única informação que sabiam a seu respeito.

- Certo. - Gisèle esfregou o rosto, tirando a água da lagoa dos olhos. - Aurèlia, não é?

A morena concordou.

- Eu sei que... primeiro de tudo, precisamos agradecer. - diplomaticamente, Gisèle tomou aquela atitude. - Obrigada por salvar nossos traseiros quando não tínhamos mais chance alguma.

Aurèlia abriu um sorriso modesto.

- É, essa não foi uma decisão minha. Vão ter que agradecer à outra pessoa.

- Quem? - a loira questionou.

- Meu pai. - a mulher respondeu. - O xamã. Por mim, teriam ficado ali e arcado com o destino.

- Isso é bastante reconfortante. - Caiden comentou, abraçando a perna boa.

- Não acredito nessa de destino. - Tereza introduziu-se na conversa. - Estamos gratos de qualquer forma. Mas será que poderia...

Aurélia entendeu sua deixa.

- Ainda estão no Bosque.

- Como assim? - Tereza indagou. - Não há civilização no bosque.

- Não que saibam. - Aurèlia vangloriou-se. - Há algum tempo... muito tempo, na verdade, nós vivemos aqui. Sem reis, sem regras. Foram meus ancestrais que começaram esse lugarejo e minha família dá continuidade.

- Mas... - interrompeu-a Caiden. - achei que o Bosque das Lamúrias fosse perigoso.

- E é. Mas aprendemos a viver aqui. Estamos bem camuflados e sabemos dos riscos. Aliás, muitos dos medos que vocês têm desse lugar, é porque quiséssemos que tivessem.

Os três ficaram calados, dando espaço para que a mulher continuasse.

- Vejam bem, todos temem o Bosque porque acham que vão ser devorados assim que pisarem nele. Sim, aqui temos os animais mais desalumiados de todo o Vale, mas sabe o que deixa as pessoas longe daqui?

- Medo. - Tereza respondeu.

- É. Ninguém quer entrar aqui porque os boatos dão medo. E sabem por que ninguém sai?

Ao silêncio, a mulher prosseguiu.

- Porque se foi louco o suficiente para colocar os pés aqui, tem um bom motivo para estar fugindo. Se está fugindo, nós os encontramos.

- Quem são vocês? - Gisèle perguntou, passando os dedos pelas costas do bebê que sentiu falta de ter no colo.

Aurélia sorriu, orgulhosa.

- Já ouviram falar nos Kinos?


Dos terrores mais antigos que se contavam nas histórias às fogueiras, os Kinos se destacavam.

Antes do mundo ser mundo, quando os Deuses subiram aos céus, eles travaram uma guerra por poder.

A guerra dos Deuses dividiu o mundo entre o Velho Mundo e o Novo Mundo e devastou todos os humanos que estavam em terra. O Vale de Awa ficou conhecido por ser lar de criaturas horripilantes e tenebrosas. Os poucos sobreviventes tiveram seus espíritos escurecidos e transformaram-se nos vagantes erradios que ficaram conhecidos como Kinos, as desalentadas e perdidas almas que se alimentavam de todos os seres vivos que por desventura cruzavam seu caminho.

Vindos do Velho Mundo, foram os únicos seres que sobreviveram no Novo Mundo.

A lenda contava que eles ainda estavam por aí, sugando as almas dos extraviados transeuntes que ousavam pisar no Bosque das Lamúrias.


Toda a minha infância foi uma mentira? - Tereza questionou com uma pitada de humor.

- Uma boa mentira. - a mulher a corrigiu. - Nós somos os Kinos. As lendas deixam as pessoas longe. E os boatos se espalham.

- Genial. - Caiden riu.

- Nossos ancestrais eram inteligentes, assim como a gente. - Aurèlia sorriu.

- Eu esperava um pouco mais dos Kinos, se me permite. - Gisèle provocou, mesmo que com um ar brincalhão.

- É? - a mulher indagou, erguendo as sobrancelhas. - Estamos observando vocês desde que pisaram em nossas terras. Desde a primeira noite. Cada conversa. Estávamos em cima das árvores em que vocês dormiam. Estávamos atrás dos arbustos pelos quais passaram. Estávamos o tempo inteiro ao lado de vocês. Se comeram, foi porque deixamos. Se estão vivos, foi porque quisemos.

Gisèle engoliu suas palavras.

- Não se enganem pelas aparências. Se quiséssemos, teriam medo de nós.

O silêncio cortou o ar entre eles.

- E agora? - Tereza indagou. - O que vão fazer com a gente?

Aurèlia arrumou sua postura. Seus olhos recaíram sobre Cöda.

- Essa criança merece uma vida. E vocês se mostraram dispostos a dar as suas por ela. - a mulher explicou. - Se quiserem, podem ficar conosco.

Caiden sorriu. Era tudo que queria ouvir.

- Os soldados estão mortos. - Aurèlia concluiu. - Não vão voltar. Vão achar que vocês estão mortos aqui também. As regras da coroa não se aplicam nessas terras.

Aurèlia levantou-se, tirando os três do estado de transe em que se encontravam.

- Espere. - Gisèle chamou. Aurèlia a fitou. - Como podemos recompensá-los?

A Kino abriu um sorriso fraco com os lábios.

- Deem uma vida digna para essa criança.

Com aquelas palavras, Aurèlia afastou-se, deixando os três sobreviventes ali, encarando-se. O mundo pareceu-lhes ter cores outra vez.

Arande susteve-se no tempo.

O ar frígido pareceu faltar por horas. Tanto soldados do rei quanto arandianos pareceram estátuas por horas. Azura olhou para Ginevra, que a olhou de volta, ambas em transe, em uma troca de olhares que pareceu perdurar por horas. Kohan, provando que o tempo ainda corria, tomou uma atitude antes que o fizessem. Aos seus pés, chutou a adaga de Azura de volta à dona.


Azura não se viu mais sozinha. A morte não seria solitária.

Aproveitando da estupefação dos soldados que a seguravam, soltou o braço esquerdo de um aperto frouxo e voltou-se para o fardado que ainda a segurava. Ele tentou segurar mais forte em seu cotovelo, mas Azura desvencilhou-se de seus dedos como água. As costas de sua mão em punho bateram no queixo do homem com tamanha força que o fez vacilar metros para trás. Antes que o outro investisse, ela tomou a adaga do chão e a empunhou.

Azura cambaleou para trás, ainda sentindo o corpo fraco, por mais que sua mente estivesse rebentando de sentimentos. Ela parou quando sentiu duas mãos amparando-a. Kohan estava ali. Ela estava com aquela família de novo. O homem não a olhou, entretanto. Ele cerrou os olhos para os soldados que os encaravam, empunhando arcos e espadas.

Arande se moveu. Não tinham porquê colocar-se em risco por Azura, mas Ginevra era um deles.

Eles se viram frente a frente - a horda de soldados e os arandianos que apenas se juntaram por curiosidade.

Um dos soldados desceu do cavalo empunhando uma espada. Ele passou por entre seu líder morto aos seus pés, pisando em seu sangue, e parou em frente ao povo assustado.

- Entreguem as duas garotas e vamos embora. - seu timbre de voz grosseiro anunciou.

Tron tomou a mão da filha.

- Vão embora. - Kohan, tão intimidador quanto o próprio soldado, o respondeu. Sua fúria podia ser sentida em cada palavra. - Essa terra é nossa.

Eles viram quando os soldados começaram a ladeá-los, alguns sobre os cavalos e outros sobre os próprios pés.

- Essa terra é da coroa. - o soldado respondeu. - Entreguem as duas e apenas elas arcarão com as consequências dos crimes.

Crimes.

O crime de Azura foi lutar por Arin. O crime de Ginevra foi nascer com habilidades que ela não pediu para ter.

Crimes.

O crime de Arin foi nascer.

A petrichoriana sentiu os dedos da mão estalarem ao empunhar com mais força a adaga. Sentiu seu pai ali com ela, segurando em seus ombros. Ela lutaria sozinha por sua vida, até o fim, mas não era apenas sua vida que estava em jogo agora - era a de Ginevra.

Arande se viu cercada.

Alaric olhou ao redor, segurando com afinco a mão da noiva. Alguns recuavam. A surpreendente maioria, entretanto, tinha o mesmo olhar de fúria nos olhos que eles. Ele viu seu povo armado. Ele viu as lanças e os bastões, as pedras e os porretes, os pedaços de madeira improvisados. Um sentimento subiu-lhe ao peito - uma mescla de medo e, principalmente, coragem - sentimentos tão díspares o dispunham a lutar.

De trás do soldado que fazia o intermédio, outro, sobre um dos cavalos, armou seu arco e flecha e apontou para a multidão.

Tron, entretanto, não sentiu medo. O homem empurrou a filha para trás e deu um passo à frente. Uma fúria adormecida despertou-se em sua voz quando ele ousou resistir.

Arande não recebe ordens do Rei Genocida!

Uma salva de urros de fomento nasceu de trás dele, crescendo como uma onda por todos o seu povo.

Tron sentiu sua espinha arrepiar de emoção.

Quando a flecha do soldado cravou-se em seu coração, ele não temeu.

Tron ouviu os gritos de sua família, mas tombou ao chão feliz, vendo que os arandianos avançavam contra aquela injustiça, contornando-o.

Ele viu Honda o puxar para perto. A esposa estava linda à luz da lua. Por mais que gritasse, ele não a ouvia. Tron tomou sua mão e a acalmou. Assim deixou aquele mundo, com seu maior feito em vida realizado segundos antes de sua morte - ele começou uma revolução.

Gaia levantou-se, apoiando-se nos ladrilhos às suas costas.

Odile, vendo a movimentação pelo canto dos olhos, ergueu-se do chão.

A rainha atravessou o passadiço como se flutuasse. Em segundos, estava ao lado da criada.

Gaia recuou, mas não tinha como afundar mais na parede de concreto atrás de si.

A garota fechou os olhos ao ver a mão da rainha erguida em sua direção. Seu rosto virou bruscamente ao sentir a pancada da mão espalmada de Odile em seu rosto. Segurou-se na mureta ao seu lado para não cair, deixando as lágrimas voltarem a rolar.

Quando Gaia abriu os olhos, levando as mãos ao rosto que ardia, viu que o rei segurava sua esposa, impedindo-a de avançar contra ela.

- Onde você estava?! - a rainha berrou em sua direção. As lágrimas que escorriam de seu rosto podiam encher o Mar das Pétalas caso fosse necessário. - Tinha que estar com meu filho!

- Eu a dispensei, Odile. - a voz falhada de um rei em estado de choque foi ouvida, apesar de sussurrada ao ouvido da esposa que tentava conter em um abraço. - Eu estava com Kaha. Devia ter ficado com Kaha.

Gaia permitiu-se soluçar.

- Sinto muito. - suas palavras quase não saíram.

A rainha desabou novamente nos braços do rei. Toda Crisântemo podia ouvir seus lamentos ali de cima.

Sohlon, com os olhos marejados e a feição pesarosa, voltou seu olhar para o braço ferido de Gaia.

A garota sentiu como se as chamas ainda estivessem sobre ela. Não conseguiu mais ficar ali.

- Sinto muito... - ela repetiu antes de irromper pelas escadas novamente, deixando tudo aquilo para trás.


A crisantiana correu o quanto seu corpo permitiu. Sentiu sua consciência ameaçando desligar a qualquer momento.

As lágrimas escorriam de seus olhos e inebriavam sua visão.

Quando chegou aos portões e deu de cara com a rua, com aquele extenso centro lotado de curiosos, mãos a ampararam pelos quadris. Foi só então que ela viu o quanto estava cansada.

Apenas pela essência do perfume que usava naquela noite, Gaia reconheceu Isaac.

Ela viu-se escorada no homem.

Isaac tirou o paletó e com cuidado passou-o pelos ombros de Gaia, que protestou ao sentir o tecido tocar no braço ferido.

Isaac tomou-a pela cintura e Gaia enlaçou seu braço direito por suas costas. Assim, sem trocarem sequer uma palavra, os dois desceram em direção ao Porto das Rosas, ouvindo dali os gritos de rei e rainha que se misturavam ao desgostoso cheiro da fumaça do palacete em chamas.

A noite ainda se estenderia para eles.

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