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16. É Melhor Abrir Teu Olho

O incessante choro de Cöda nos braços de Gisèle era de partir o coração daqueles três andarilhos sem rumo.

Tereza não se mostrara uma ameaça até o ponto, mas nenhum dos dois amigos se deixou enganar. Seus grandes olhos como pérolas negras eram ao mesmo tempo cativantes e traiçoeiros.

Gastaram toda a sua água - trazida pela ruiva da taverna - com a pequena criança que ainda não sabia nada do mundo.

Cöda estava faminto.

Gisèle odiava parecer fraca. Ela era forte, sabia, mas as lágrimas brotaram em seus olhos sem aviso prévio. Sentia dor física ao ver o pequeno Cöda, já tido como irmão, sofrendo por um erro deles.

- Não vamos chegar a lugar algum com essa criança assim. - Tereza ousou falar, depois de horas de silêncio entre os três. - Ou somos presas fáceis ou afugentamos qualquer animal que poderia nos servir de comida.

- Está culpando a criança? - Gisèle a julgou. - O menino só tomou água desde que nasceu, caralho!

- Se acalme, Gis... - Caiden, aparentando fraqueza e cansaço, lançou um olhar pacificador carregado de olheiras à amiga.

Gisèle queria esbravejar, partir para cima da ruiva ousada e inescrupulosa, mas sabia que grande parte daquela fúria era fome. Sua barriga roncou.

Ela respirou fundo e procurou a voz da razão em seu âmago.

- Ainda estamos em D'Ávila? - perguntou, tão baixo que os berros de Cöda a tornaram quase inaudível.

- Creio que sim. Não atravessamos nenhuma fronteira ou nada parecido. - Tereza observou.

- Precisamos de comida antes de mais nada. - A loira secou as lágrimas, determinada. Não deixaria Cöda passar fome nem mais um segundo.

Tereza olhou para o céu azul sobre suas cabeças, encobertas pelas árvores. Estava pensativa.

- Bom...

- "Bom" o quê? - Caiden impacientemente perguntou.

- Talvez gostem um pouco menos de mim quando lhes mostrar. Talvez gostem mais.

- Fala logo, ruiva.

Tereza os olhou de soslaio. Ela arfou antes de levantar a blusa larga e surrada, que escondia mais do que seu tronco.

O primeiro objeto a entrar no plano de visão de Gisèle foi a grande faca que a ruiva carregava com a lâmina presa à cintura, colada ao corpo pela calça justa. A empunhadura era dourada, cintilante, como se fosse detalhada em puro ouro. Tinha certeza de que Tereza a roubara.

A loira ameaçou alcançar a própria arma, mas seu foco mudou completamente quando, do outro lado de seu quadril, Tereza tirou um pequeno pacote cuja embalagem brilhava à luz do sol. Gisèle e Caiden logo reconheceram - nas mãos de Tereza continha um embrulho de leite em pó.


Gisèle segurou o pequeno Cöda em apenas um dos braços e partiu para cima de Tereza com a peixeira empunhada.

- Sua vaca!

Tereza não recuou. Sabia que Gisèle nada faria com ela. Sua expressão de plenitude deixou a loira ainda mais zangada.

Gisèle estava a um passo de encontrar com Tereza quando Caiden se colocou entre as duas, segurando o punho levantado da amiga.

- O que está fazendo, Caiden?! Me deixe acabar com a raça dessa filha da puta!

- Gisèle, ela trouxe a única fonte de alimento pro meu irmão. - A voz de Caiden saiu tão controlada que a loira estranhou a falta de pânico. Não sabia se confortava-se com a serenidade do amigo ou preocupava-se.

Seus olhos azuis se arregalaram.

- É, e ela deixou ele passando fome até agora!

- Sinceramente, - Tereza defendeu-se. - não achei que esse moleque ia sobreviver. Mas eu pensei nele, qual é? Sabiam que o dono da taverna tem uma bebezinha? Foi fácil pegar uma embalagem atrás do balcão, ele tinha acabado de fazer compras.

- E por que demorou até agora pra dizer isso? - Caiden se virou para Tereza, tentando desvendar o mistério por trás daqueles olhos negros perolados. Queria acreditar que ela não era insana e muito menos uma ameaça.

Tereza sorriu um sorriso amarelo.

- Seu irmão já é muito mais forte do que era quando nasceu. - A ruiva falou, seriamente. - Se acostumasse-se com a mordomia de ter tudo o tempo inteiro, estaríamos ferrados. Agora, o pequenininho aprendeu uma valiosa lição: que a vida dele não vai ser um mar de rosas daqui pra frente.

Gisèle contornou Caiden e colocou rapidamente a criança nos braços do amigo.

Com voracidade, a loira tomou a embalagem de leite das mãos de Tereza. Pensou mais rápido que nunca. Com a faca, abriu um orifício no tronco da árvore mais próxima. O líquido que começou a escorrer era branco e fluido, transformando-se aos poucos em uma água translúcida. Com a garrafa de vidro que guardara da água, Gisèle recolheu o sulco e misturou ao leite.

O leite líquido foi rapidamente entregue nas mãos de Caiden, que não demorou um segundo a alimentar seu irmão.

O choro de Cöda cessou.


Gisèle aproximou-se tanto do rosto de Tereza que a ruiva podia sentir sua respiração quente e furiosa. Mesmo assim, Tereza manteve a postura. Olhou fundo nos olhos penetrantes de Gisèle quando a mesma a ameaçou:

- Não quero saber de joguinhos, entendeu? - Cochichou. - Não precisamos de você, você precisa de nós. É melhor abrir teu olho.

Gisèle se afastou como se nada tivesse acontecido. Ela aproximou-se de Caiden, agora sentado entre as folhas caídas com um Cöda alimentado nos braços, deixando Tereza prostrada como uma árvore, sozinha, pensando em suas palavras.

Sentiu remorso pela primeira vez.

- Ok, irmãozinho, é melhor abrir o jogo. - Ginevra provocou risadas em Azriel, virando o que prometera ser o último copo de rum da noite.

- O que quer saber? - Azriel esticou as pernas e deixou os pés com as meias furadas mais perto do fogo, sentindo os dedos aquecidos na noite que começava a esfriar. Apoiou-se nos braços e jogou o tronco para trás.

Kohan comia o peixe frito preparado por Honda em silêncio, assistindo à conversa e rindo da voz embargada e esganiçada da irmã.

- Você é um cara bonito, meu irmão, e essa cidadezinha tá cheia de mulher caindo aos seus pés. Não negue!

Azriel enrubesceu, rindo da própria vergonha à exposição. Kohan soltou uma risada com a boca cheia, tirando uma espinha do peixe salgado da boca.

Azriel era bonito e tinha ciência disso, apesar de não saber como usar as dádivas que os deuses lhes deram. Era o caçula da família, mesmo não sendo tão novo. Ainda não completara sua vigésima primavera, o que era o suficiente para ser o alvo das chacotas da família.

Apesar de não ter o mesmo sangue que Honda, Tron, Ginevra e Alaric, Azriel era irmão de sangue de Kohan, o alto, bonito e forte. Esteve nas sombras do mais velho até pouco tempo, quando a puberdade lhe deu ombros largos, físico forte e uma voz gostosa de ouvir.

- O que é que tem, Gine?

- Quero saber das fofocas, vai. Você nunca me conta nada! - Ela abaixou o tom de voz, sussurrando. - Quem já pegou? Quem tá na sua mira? Eu aposto que a Karinna lá da barraca de laticínios tá caidinha por você.

- A Wilma do portinho também... - Limpando a boca com as costas da mão, Kohan entrou na provocação.

- Vamos apostar, Kohan! - Ginevra estava mais animada que o habitual. - Quem acertar mais meninas que o Azri já traçou, ganha.

- Quem perder lava a louça! - Kohan incentivou a irmã bêbada, que gargalhou ao ver Azriel revirar os olhos.

As íris acajuzadas do garoto, no entanto, recaíram sobre uma sombra distante que se aproximava timidamente.

Suas sobrancelhas cerraram-se para focar na escuridão, mas o rosto brevemente conhecido apareceu sob as chamas da fogueira na noite escura.

Azriel sorriu.


Toda a atenção voltou-se para ela, as risadas morrendo aos poucos até mergulharem no puro silêncio, cortado apenas pelo cricrilar de um grilo e os zumbidos de uma cigarra somados ao trepidar das chamas da fogueira que subiam rumo à noite escura.

Azura deu um passo incerto com os pés descalços em direção à família. Seus olhos cruzaram-se com os de Kohan, que denotavam a fúria recente da discussão que há pouco tiveram.

Ela engoliu seu orgulho e caminhou em direção à ele. Quando parou, passos antes de encontrá-lo sentado ao lado da fogueira, tirou algo farto dos bolsos. O tilintar das moedas era inconfundível.

O pequeno saco de cor esverdeada era ainda maior do que o que comprara a briga com os soldados logo cedo.

Os olhos de Kohan brilharam. Ele aceitou o dinheiro de bom grado.

Como o silêncio constrangedor ainda reinava, Azura resolveu findá-lo.

- Ainda posso ficar aqui?

Ginevra se levantou de um salto, batendo a poeira da terra da saia.

- Será um prazer. - Respondeu amigavelmente.

- Como conseguiu o dinheiro? - Kohan perguntou, girando as moedas entre os dedos.

- Digamos que eu fiquei muito boa em encontrar mariscos na praia. A parte difícil foi vender pra aquele imbecil da barraca. Nunca tive tanta vontade de arrancar os dentes de alguém na mão.

Azura alcançou risadas daquela família com coração de ouro.

Não demorou para Honda descer as escadas de sua varanda com uma bandeja de madeira e alguns peixes fritos. A mulher a entregou à Azura com um sorriso no rosto.

- Fique o quanto precisar, Azura de Petrichor.

- Agradeço de coração, minha senhora. - Azura a reverenciou como de costume e tomou a bandeja nas mãos, sentando-se ao lado do fogo. - Será só por uma noite.

O som do vento rijo que entrava pelas frestas da janela do quarto de Ginevra insistia em causar calafrios na petrichoriana em terra nova.

À Azura foi cedido um colchão velho e esburacado, com molas duras que incomodavam-lhe as costas e um cobertor fino de tecido furado e desbotado que pouco lhe protegia do frio ao qual a garota não estava acostumada.

Azura abraçou o corpo - que parecia ainda menor que o de costume. Não conseguia pregar os olhos, por mais que quisesse. A escuridão que preenchia aquele pequeno recinto a retornava à sensação de solidão, por mais que a nova amiga dormisse ao seu lado. Todas as vezes que Azura fechava seus olhos, torturantes e frescas lembranças vinham-lhe à tona.

"Só por uma noite", ela prometeu. Somente por aquela noite dormiria sob o refúgio daqueles arandianos. Sob o teto minimamente aconchegante. Sobre o colchão minimamente confortável e o cobertor minimamente quente.

Depois disso, estaria .

Algo em seu inconsciente ainda queria acreditar que voltaria à Petrichor, aos braços do pai e a sentir o vento bater em seus cabelos enquanto cavalgava com Shiro pelos pomares e as plantações de käfi.

Um soluço escapou-lhe do fundo da garganta.

A garota dos olhos cinzentos sentou-se no colchão rapidamente. Tapou o rosto com as duas mãos, impedindo que a noite escura a assustasse e as lágrimas a banhassem ainda mais.

- Azura? - A voz de Ginevra a sobressaltou.

Azura inspirou profundamente, limpando o rosto com as costas das mãos.

- Estou bem. - Respondeu, simplesmente.

Ginevra, por sua vez, não acreditou.

- Não sou idiota, garota. - Ginevra se sentou. Azura virou-se para ela. Mesmo na escuridão, conseguia distinguir a silhueta da bruxa. - Quer conversar?

O silêncio respondeu por ela.

Após longos segundos com apenas o som fantasmagórico do vento atravessando entre as duas, uma fonte de luz surgiu no quarto.

Azura piscou os olhos, incomodada com a inesperada claridade de cor amarelada.

Quando suas pupilas acostumaram-se à luz, a garota arregalou as sobrancelhas ao ver a tímida tremulação de uma chama dançar sobre o dedo indicador da mão direita de Ginevra.

Não era como se o fogo tocasse em seu dedo ou queimasse sua pele. A tenra chama flutuava a pelo menos um centímetro da ponta de sua unha.

Ginevra esticou o corpo até a extremidade de seu colchão e, detrás de uma pilha de roupas sujas, tirou uma vela branca e comprida, colada a um pires por parte da cera já derretida.

A arandiana não deixou de sorrir ao ver a estupefação de sua convidada.

- Kohan me contou que conversaram. - Ela mencionou, acendendo a vela e cerrando o punho, fazendo a chama sumir. - Não tenho mais nada a esconder, acredito eu.

Azura não respondeu.

A hóspede não se sentia em casa ali, por mais que quisesse buscar conforto em cada canto, em cada objeto. De nada valeria - sentia-se vazia por dentro, como se um buraco em seu peito crescesse gradativamente e a consumisse de dentro para fora.

Sua postura curvada denotava seu cansaço e estimou que suas olheiras estavam carregadas e fundas. Seus olhos doíam, mas tinha um inconsciente medo de fechá-los. Deixou seus cabelos bagunçados e negros com mechas pendendo sobre o rosto. A chama da vela era suficiente para hipnotizá-la.

Azura focava seu olhar na luz quente e amarelada. Ginevra focava seu olhar em Azura.

- Eu não estou bem. - A petrichoriana admitiu, por fim.

- Você passou por tanto, Azura... Estaria preocupada se estivesse.

- E o que devo fazer? - Seus olhos finalmente voltaram-se para encarar os de Ginevra, que a olhava com certa pena. Não conseguia colocar-se no lugar da garota. Como se sentiria caso perdesse toda a família da noite para o dia? Todas as pessoas que ama e que um dia conheceu?

- Deve ter seu tempo de luto. Há certas coisas que apenas o tempo resolve.

Azura colocou a postura no lugar e jogou os cabelos para trás, como se despertasse de um transe. A petrichoriana voltou o corpo para Ginevra.

- Eu não tenho tempo, Ginevra.

- Me chame de Gine. - A arandiana a interrompeu, amigavelmente. - E você tem todo o tempo do mundo, Azura.

- Não, eu não tenho! - Azura ergueu os ombros, puxando as pernas para mais perto de si. - Eu tenho que seguir com a minha vida. Não posso ser um estorvo pra vocês. Não quero ser um estorvo. Sua família foi muito bondosa comigo até agora, mas não posso continuar pedindo por comida, água e um teto pra dormir...

- Podemos ser pobres, mas Honda tem um coração de mãe. - Ginevra deu de ombros. Ela puxou uma bolsa preta para perto de si e de dentro tirou uma pequena caixinha com um conteúdo que Azura não identificou sob a breve trepidação do fogo. - Sempre cabe mais um.

Azura observou quando Ginevra habilmente colocou uma folha de kafï sobre a coxa direita e despejou o conteúdo de um pequeno pacote esverdeado sobre ela. As folhas moídas exalavam o forte cheiro de sálvia e camomila. Com visível costume, a arandiana bolou o conteúdo até virar um pequeno cigarro, o qual colocou a ponta na chama acesa da vela.

A extremidade do cigarro acendeu e Ginevra o levou à boca com fervor, tragando as ervas como se pudesse assim espantar seus demônios.

- Se importa? - A garota perguntou, recostando-se na parede atrás de si. Azura negou com a cabeça em resposta. - Certo, garota, - Ginevra a encarou como se tivesse muito mais anos de vida que a convidada. - vai fazer o que quando sair daqui?

A petrichoriana levantou os olhos para o teto mofado, pensativa. Não conseguia pensar em respostas diferentes à única que lhe vinha à mente desde o momento que pôs os pés naquela jangada, partindo de seu lar.

- Preciso ver o homem que destruiu minha vida. - Seus olhos acinzentados ganharam mais vida. - Preciso encarar o Rei Sohlon nos olhos.

(Aesthetic autoral da @TodakiChanX representando Arande).

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