Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

14. Justiça

Quando o primeiro raio de sol surgiu sobre as cabeças dos conterrâneos de D'Ávila, Caiden e Gisèle já estavam longe do mundo que conheciam.

Não saberiam dizer o quanto andaram nem em que direção seguiram, apenas que a paisagem pouco verde da cidade se transformara gradativamente em um extenso bosque, com árvores altas que os protegiam do sol que nascia impetuoso.

Os pés de Gisèle doíam, mas não tanto quanto seu coração.

Uma gota de chuva escorregou pelas folhas das árvores e respingou em seu rosto, fazendo-a fechar os olhos.

A loira despertou de seu estado catatônico. Um soluço ardeu-lhe na garganta, mas ela não ousou abrir os olhos. Seus pés cravaram-se no chão.

Caiden parou, olhando para trás com a feição impassível de quem não tinha mais nada a perder.

Gisèle chorou.


Caiden não soube reagir. Gisèle era a mulher mais forte que ele conhecia, logo ao lado de sua mãe e irmã.

Com cuidado, como se pisasse em ovos, o homem aproximou-se da amiga e tomou o irmão nos braços, que resmungou. Caiden tirou-lhe os tecidos que cobriam seu corpo. Estavam encharcados.

A criança, que mal conseguia abrir os olhos, estava quieta e minúscula nos braços do irmão.

A visão periférica de Caiden viu quando os olhos azuis de Gisèle se abriram, ainda mais claros que o costume, banhados em lágrimas sentidas. Ela olhava para a criança, e Caiden a olhava.

Ela engoliu um soluço e tirou os cabelos do rosto.

- O que vamos fazer, Cai? - Sua voz embargada perguntou. Gisèle era forte. Já havia sentido a dor do luto ao perder os pais. Agora, deixara a amiga e a mulher que cuidou dela como filha. Lhe restavam o melhor amigo e um ser humano tão novo que nem nome possuía. - Não temos nada. Não temos nem como alimentar essa criança, Caiden...

Caiden não conseguiu sustentar o olhar de Gisèle. Ele apenas apressou-se em tirar a jaqueta e admirou-se com o interior da mesma já seco. Embrulhou o irmão no agasalho e o contemplou. Aquela pequena criança deveria estar aos prantos, chorando de fome e desconsolo, mas parecia entender. Entender que nascer era a primeira de muitas dificuldades que enfrentaria pela vida.

- Gis? - O amigo a chamou, sem tirar os olhos do pequeno ser humano que encontrava conforto em seus braços.

- O que foi?

- Ele precisa de um nome.

Quando Caiden levantou os olhos para Gisèle, estavam banhados de lágrimas que teimavam em se conter nos globos oculares, deixando a visão do homem embaçada e turva.

Gisèle deu um passo à frente, sentindo-se egoísta. Caiden precisava mais dela agora do que ela precisava dele.

- Pensou em algum? - Disse, de modo doce, escondendo toda sua preocupação com o momento.

Caiden balançou a cabeça, negando.

- Você escolhe.

Gisèle abriu um sorriso frouxo, mais do que esperaria de si mesma na situação. Ela olhou para o pequeno nos braços de Caiden, que tentava abrir os olhos e ver a imensidão verde ao seu redor. Ver o irmão e a amiga, ainda tão desconhecidos a seu ver.

- Cöda.

Caiden finalmente deixou uma lágrima solitária escorrer. Cansado de esconder seu medo, levantou os olhos para Gisèle.

- Gisèle, vou levar você e Cöda a algum lugar seguro, onde possamos recomeçar uma vida e... esquecer.

- Esquecer. - Gisèle concordou com um aceno de cabeça.

- Mas eu não sei como... Como achar comida, como...

Gisèle o abraçou, interrompendo-o. Sentiu os tecidos encharcados das roupas se encostarem.

Cöda murmurou com o calor que encontrou ali, entre o abraço dos dois.

A loira afastou-se para encarar o amigo nos olhos, buscando toda sua sinceridade para afirmar:

- Vamos dar um jeito.

Caiden sorriu em resposta, mas a surpresa de ouvir a voz desconhecida soando tão próximo a eles fez com que o sorriso se desfizesse de imediato.

- Posso ajudar. - A garota que aproximou-se deles tinha a voz doce, mas não se deixaram enganar. Gisèle rapidamente tomou a faca em mãos e deu um passo para trás.

- Quem é você? - Caiden vociferou. - Por que estava nos seguindo?

A garota parecia ter por volta da idade deles, seus vinte e poucos anos, talvez menos, talvez mais. Ela deu um passo à frente, fugindo das sombras das árvores e aparecendo para eles com clareza.

- Meu nome é Tereza. Os segui porque, assim como vocês, não tenho nada a perder.

As nuvens escuras da noite já começavam a pairar sobre as cabeças dos arandianos.

Azura sentiu-se vulnerável por entre as ruas de terra da cidade que lhe era tão diferente do habitual.

As casas mais assemelhavam-se a barracos mal estruturados que espaços onde famílias conviviam. Azura não entendia como aqueles lugares poderiam ser chamados de lar.

A garota colocou o xale vermelho a cobrir o nariz e a boca, evitando ao máximo o cheiro de esgoto a céu aberto que teimava em assolá-los.

Kohan seguia à sua frente como se já estivesse acostumado ao ambiente em que nasceu e viveu por toda a vida.

A garota o seguia a passos rápidos. Sua boca abria e fechava em tentativas vãs de perguntar à Kohan sobre aquele lugar tão precário, mas o som da discussão distante a fez desviar sua atenção.

Azura cravou os pés no chão de terra ao ver, a poucos metros dela, a agitação dos arandianos que aglomeravam-se ao redor da desavença como se fossem uma plateia a assistir um excitante show.


- Não, senhor! Está entendendo errado! - O homem gritava para as autoridades que insistiam em intimidá-lo.

Suas vestes, além do cheiro do corpo e a estrutura magérrima denotavam a situação precária que se encontrava.

O soldado que o intimava segurou-lhe pelos cabelos, ao ponto que o pobre homem nada conseguiu fazer.

O outro fardado rodava a maçã que o moribundo tentara furtar em suas mãos. Toda a confusão por causa de uma maçã que não o alimentaria nem por meio período daquele dia.

- Estou entendendo errado? - O soldado provocou, puxando os cabelos do homem, tão fraco e indefeso.

A plateia que formou-se ao redor deles assistia como sedentos por entretenimento. Via-se o desgosto em seus olhos e um ou outro grito de protesto, mas nenhum deles ousara dar um passo para fazer algo.

- Eu ia pagar por isso, senhor! - O homem gritou.

Sua família, duas crianças - um menino e uma menina de idade semelhantes - abraçavam-se em um canto. A menina chorava ao ver a situação do pai.

- Acaba logo com isso, Klen. - O outro soldado murmurou, mordendo a maçã. O dono da barraca que fora furtada não pareceu se importar. Estava apenas preocupado com o homem pobre que roubara para sustentar a família.

- Não, por favor, eu vou pagar! - O moribundo gritou ao ser arremessado ao chão. A poeira da terra levantou com o impacto.

O moribundo sentiu a dor lancinante no antebraço com o pisão que o soldado lhe deu, imobilizando-o ao chão.

- Sabe o que fazemos com ladrõezinhos como você? - O soldado murmurou para o homem, aos urros dos outros cidadãos e aos gritos dos filhos do senhor, contidos por arandianos que sabiam que nada poderiam fazer. Em seguida, o soldado voltou-se ao companheiro, que cuspiu os caroços da maçã no chão ao aproximar-se. - Faz as honras?

Com um olhar sádico de satisfação, o soldado tirou a espada da bainha. Sentiu o clamor correr por suas veias quando levantou-a acima da cabeça, pronto para arrancar a mão do cidadão que já não mais protestava, apenas fechava os olhos e rezava para que seus filhos não olhassem.

O soldado despejou o golpe, mas ele nunca chegou a alcançar o pobre homem, salvo pela investida de uma estrangeira desconhecida que pouco sabia sobre as leis cruéis daquele lugar senil.


Azura não conseguiu conter-se ao ver o tamanho da injustiça à sua frente.

Sentiu-se guiada por seus instintos em direção àquela iniquidade antes mesmo de tomar consciência de seus atos.

Apenas quando derrubou o soldado que arrancaria a mão do moribundo, percebeu que não sabia o que faria a seguir.


Vagabunda! - O soldado Klen gritou, soltando o homem do chão, que rapidamente levantou-se e correu em direção aos filhos, massageando o antebraço e mexendo os dedos da mão como se quisesse ter certeza que ainda estavam ali.

O soldado Klein partiu para cima de Azura, que não intimidou-se. O homem tentou alcançar a espada da bainha, mas a garota fora mais rápida.

Sabendo que estava sendo inconsequente, socou o rosto do soldado de tal maneira que o desequilibrou. Os ossos de seus dedos gritaram, mas ela não se importou. Sua sede por justiça gritou mais forte.

Percebeu que deixara a guarda aberta ao sentir a pancada nos joelhos a levarem ao chão.

O outro soldado já estava ao seu lado quando ela se levantou, puxando-a pelos cabelos de volta para cima.

Azura gritou, mas já estava pronta para revidar quando Kohan interviu.

- Ei! - O homem tomou o punho do soldado que segurava Azura, ameaçado pela lâmina do outro que já se levantara, com uma das mãos no nariz sangrando.

- Saia, homem, ou vou ser obrigado a findar-lhe a vida também.

Os olhos de Kohan estavam cheios de fúria.

Azura sabia se defender, mas uma troca de olhares com Kohan a tornou estática, como se o guia a dissesse - "deixe comigo".

- Posso pagar. - Kohan falou alto o suficiente para que apenas os quatro pudessem ouvir.

Os dois soldados trocaram olhares de modo significativo. Azura sentiu os firmes dedos do soldado soltarem seus cabelos, à medida que as mãos de Kohan afrouxaram em seu punho.

Kohan tirou vagarosamente o saco de moedas recém conquistadas do bolso e estendeu ao soldado Klen, que a tomou sem hesitação, aceitando o suborno na frente de todos.

Assim que a mão de Kohan soltou o punho do soldado que segurava Azura, o mesmo a empurrou ao chão com agressividade, fazendo-a tombar com o peito na terra, escorada pelas próprias mãos.

Antes de irem embora, os soldados viraram para o arandiano:

- Fica de olho nessa garota. Da próxima vez não seremos tão impetuosos.

O soldado Klen riu e foi embora, contando as moedas nas mãos.

A multidão dispersou-se assim que o show acabou.

Azura levantou-se e limpou a terra das vestes emprestadas.

- Que merda pensou que estava fazendo? - Kohan vociferou, segurando seu braço.

Azura soltou-se rapidamente de seu aperto, não recuando à intimação.

- Mais do que vocês! - Ela quis gritar, mas apenas cochichou por entre os dentes. - Aquele homem estava morrendo de fome!

- Isso não lhe dá o direito de intervir em nada, garota!

- Isso não dá o direito a esses boçais de arrancarem a mão do homem fora! - Azura massageou os dedos doloridos pela pancada no maxilar do homem. Sem olhar Kohan, afastou-se do homem, não sem antes dizer: - E não me chame de garota.

- Aonde vai? - Kohan gritou, impaciente ao vê-la se afastar. Esperava pelo menos um agradecimento de sua parte.

- Vá para casa, Kohan. - Ela gritou de volta. Estava na hora de se virar.

Kohan voltou ao local onde deixara os calçados, à beira da praia.

Tomou os seus e os de Azura, emprestados por Ginevra. Seu peito ainda ardia de furor. Perdera todo o dinheiro suado do dia ajudando a estrangeira mal agradecida e teimosa, que ainda desaparecera sem dar satisfação de que caminho seguiria.

Ele tentou ajudar, pensava consigo mesmo. Chegou a pensar que Azura ficaria por mais tempo que o combinado. Chegou a desejar que ela ficasse, mas agora só conseguia pensar em como sentia-se enganado por si mesmo ao pensar tais hipóteses.

Cabisbaixo e com passos pesados que levantavam a poeira das terras de Arande, Kohan voltou para casa sem pressa.

Ele avistou a luz das chamas que trepidavam em direção ao céu escuro da noite recém caída no horizonte. A fogueira queimava alta e risadas gostosas acompanhavam o clima. Ele sabia que eram de sua família.

Um sorriso esboçou-se em seu rosto.

O dia poderia ser como quer que fosse, mas sempre findava do mesmo jeito - com a família reunida na simples e aconchegante casa que Kohan aprendera a chamar de lar.

(ilustração autoral - Tereza)

(inspirada na atriz Olivia Cooke)

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro