110. A Vingança É Cega
Azura voou escadas abaixo e suas lágrimas vinham com altas lamúrias, que ecoavam por aquele corredor escuro que deixava para trás com tanto pavor.
A petrichoriana sentiu o coração ameaçar saltar por sua boca. Só conseguiu parar quando caiu, pisando em falso, no piso plano que dava caminho à porta. Ela se esgueirou nela e respirou fundo, fechando os olhos com força e levando as duas mãos à boca para abafar os soluços.
Pensou em como estava assustada e em porquê.
Foi a primeira vez que concretamente viu um espírito. Ouvia-os, os bons, que assopravam em seus ouvidos nas florestas de Petrichor e sempre que ela precisava. Não sabia se eram os seus ancestrais ou os próprios filhos dos Deuses, mas eram bons. Sabia também que os espíritos de Pouri vagavam por aí, no Bosque das Lamúrias e dali para além, ela se lembrava dos relatos assustadores de Caiden.
Mas nunca conversou com um daquela forma.
Era dali que vinha o medo? De conversar com alguém já morto? Não fazia sentido. Seu pai acabara de lhe dar um abraço tão pouco tempo atrás. Por que chorava tanto?
Então, Azura sentiu como se uma mão tocasse o topo de sua cabeça com delicadeza. O choro cessou aos poucos, um arrepio gélido desceu dali por sua espinha como uma leve descarga de eletricidade.
Azura abriu os olhos. Não mais temia. Entendeu, então, de onde vinham as lágrimas. O medo tornou-se ódio. Os olhos de Shirley, daquele corpo sem vida apavorado que a fitaram antes de correr da cozinha para lá, lhe lembraram das últimas visões que teve de Petrichor sucumbindo. Shirley e todos os serventes eram também Petrichor. Eram Nero, Marin, Vera. Eram Ava, Bru, Arin.
Azura engoliu o choro. O medo tornou-se ódio. Ela irrompeu pela porta e cansou de esconder-se. Calou a voz da razão. A vingança era cega.
Lírio estava pronto para tudo. Sentia as dores, sentia a morte tão próxima a cada vez em que erguia a espada outra vez para lutar por sua vida. Esperava o fim, esperava a vitória, esperava tudo menos aquele abraço. Quando aqueles braços o envolveram, Lírio sentiu o calor da pele, o cheiro inconfundível do cangote, o anseio desesperado que escapou daquela boca e alcançou os pés de seus ouvidos. Em seus braços, Odile se encontrou.
Lírio era Nikki outra vez. O coração encheu-se de esperança outra vez. Precisava vê-la para crer.
Pensou tão rápido que estranhou a si mesmo. Lírio arrancou-a de lá e saiu do cerne daquele corredor caótico e aos frangalhos, levando-a para longe dos soldados, para a cobertura que seu povo lhes dava. Enroscaram-se entre pilastras e, mesmo que não deixassem a guarda baixar, permitiram-se um minuto de prazer naquele reencontro.
Com uma das mãos, a livre de espadas e sangue, Lírio envolveu-a e relaxou nos braços de Odile. Não conseguiu controlar as lágrimas que quiseram escorrer copiosamente por seu rosto.
Odile afastou-se para olhá-lo e viu-se na mesma situação, debulhada em lágrimas de alegria por vê-lo vivo. As mãos da rainha alcançaram o abdômen do homem e encontraram ali um curativo já encardido e encharcado de sangue. Ela achou que o tivesse perdido naquela noite, que Roto tivesse lhe tirado ainda mais do que prometera. Nikki achou o mesmo quando a arrancaram dele. De novo.
- Como? - foi tudo o que a mulher conseguiu dizer. Olhou dele para cima. Agradeceu mentalmente aos Deuses. Ele estava bem.
Lírio envolveu o rosto da mulher com as mãos e depositou beijos por todo o seu rosto, sentindo o gosto das lágrimas salgadas.
- Eu sabia que estava bem, eu sabia! - a voz embargada sussurrou.
Tinham tanto a conversar, mas sabiam que não era a hora. Quando os olhares se cruzaram, concordaram em deixar as perguntas para depois. Teria um depois, prometeram em silêncio.
- Eu preciso ir - a rainha murmurou. Sua voz não fraquejou, apesar do medo.
- Ir aonde, Daisy? - suas sobrancelhas se cerraram. Antes que obtivesse uma resposta, sabia que a seguiria.
- Acabar com isso, Nikki - prometeu.
Não precisou dizer mais nada. Não queria colocar Nikki em perigo, mas não queria deixá-lo. Estava perto do fim. Estavam mais fortes outra vez, juntos. Ela deixou que ele a seguisse. Rumou para onde sabia que encontraria o rei. Pegou um atalho onde sabia que não encontraria soldados, onde as chamas ainda não haviam engolido tudo. Naquele momento, mais do que em qualquer outro, sabia que os Deuses ainda olhavam por eles.
Azura seguiu cada instrução daquela mulher. Não sabia o porquê e nem como, mas estava convicta de para onde deveria seguir. Os soldados mudaram de foco quando o perímetro do palacete foi invadido. Ela já não era prioridade.
A petrichoriana escapou por mais um lance de degraus, dessa vez majestosos e bem iluminados por tochas, largos e baixos, extensos e incrustados do que parecia ouro, que levavam-na exatamente para onde Shirley disse que levariam. Ao descer as escadas, Azura deparou-se com uma enorme cortina cor de vermelho intenso, quase negra naquela escuridão. A mulher olhou-a de cima a baixo e a afastou com um nó na ponta do estômago.
O cheiro de sangue imediatamente invadiu suas narinas.
Azura encontrou-se no mezanino alto que circundava todo aquele majestoso saguão. A mulher arfou. A luz vermelha que cortava o céu invadia as janelas imensas que ladeavam o espaço do rodapé às sancas. Os vidros estavam estilhaçados e espalhados por todo o piso.
Ela olhou para baixo. Dezenas de corpos estavam jogados pelo chão como se não fossem nada. Bem trajados, mal trajados. Quem foi apenas festejar e quem foi servir. Comidas das mais variadas estavam jogadas pelo piso como se não fossem nada. Pensou na fome que seu povo sentia por causa daquelas pessoas. Por causa do rei e de Pouri. Seus punhos se cerraram. Azura olhou com uma naturalidade preocupante para a chacina.
Retomou a escada e sentiu-se só naquele lugar imenso. Seus pés esmagavam os pedaços de vidro espalhados pela escada e ela só conseguia olhar em frente, desviando cegamente dos empecilhos no caminho, fossem os destroços ou os corpos. Sem que os mandasse, seus pés a guiaram para perto da janela, agora sem proteção alguma do vidro. Depois de voar nas costas de Tohrak, nenhuma altura lhe assustava. Subiu no palanque de madeira e rumou até lá, um precipício até lá embaixo. Seus pés estavam cravados na madeira como se os calçados tivessem pregos. Era minúscula perto da magnitude daquela fenestra. O vento a empurrava de volta para dentro, mas ela só conseguia assistir o desenrolar da cena lá embaixo. Os dragões voavam e mergulhavam em um entrave contra criaturas que ela não queria nunca mais ver em sua frente, pesadelos que enterrou em Vocra. Mesmo assim, os seus entraram.
Tentou afastar todo o sentimento. Tentou não pensar em quais dos seus amigos estavam mortos lá embaixo, sendo pisoteados pelos que lutavam aflitos pelas próprias vidas.
Ela podia acabar com tudo dali. Sentiu-se forte, grande, gigante, do tamanho daquela janela, do tamanho daquele saguão. Ergueu o queixo e virou as costas. Seu caminho estava desimpedido. A arma estava leve em mãos. Sabia para onde ir.
O lugar era sim um labirinto. Um labirinto que Odile conhecia bem, principalmente aquele pedaço. Era uma ala gigantesca, mas cheia de pequenos claustros e passadiços que os permitia olhar para o pandemônio que acontecia do lado de fora. Foi como despistaram todos os que vieram atrás deles quando se separaram dos seus. Evitaram todo e qualquer embate até chegarem ali, naquele corredor imenso que logo lhe trouxe lembranças demais. Do dia em que conheceu Sohlon, do dia em que se casou com ele, do dia em que correu atrás do filho, do dia em que voltou sob as chantagens de Roto. A fumaça do fogaréu invadia novamente aquele lugar, com um cheiro de queimado que causou-lhe náuseas no mesmo instante. Da outra vez, teve certeza de que perdera Kaha. Agora, ela mesma criara o fogo. Mal reconhecia a si mesma.
O palacete, por outro lado, estava vazio naquela área. Odile não olhou para trás quando rumou à sala. Sabia que Nikki vinha atrás dela.
- Me diga o que vai fazer, Odile - o homem pediu, mas a rainha estava focada demais para lhe dar atenção. Seus passos ligeiros atravessaram o corredor em segundos e a mulher empurrou com força as portas pesadas que os separavam da sala do trono. Olhou-a, vazia e mal iluminada. As pilastras enormes do piso ao teto, os degraus que subiam para os tronos vazios, magníficos, com tantas pedras preciosas que o dinheiro alimentaria toda a Pedreira. Pouca luz entrava pelas janelas. O cheiro daquele lugar inundou suas narinas e se sobressaiu à fumaça. Tinha cheiro de realeza. De tecidos caros, de metais preciosos, de poder. Hesitou antes de botar os pés onde conheceu o pior de si mesma. Mesmo assim, entrou. Nikki a seguiu e fechou as portas atrás de si.
- Tenho que encontrá-lo - a mulher lhe respondeu depois de tanto tempo. Continuou seguindo seu caminho, rumando para as laterais de onde se encontravam os tronos. Ao lado dos degraus que subiam para os tronos estavam duas portas. Uma levava ao salão de baile. A outra, aos aposentos reais. Tudo estava interligado. Ela seguiu para a segunda.
- Odile, onde...? Ele... - Lírio mostrou-se confuso, mas seguiu tão próximo a ela. Quis demonstrar sua confusão. O rei não estaria em nenhum lugar fácil de acessar, era o que pensava.
- Muita coisa mudou por aqui, Nikki - ela o interrompeu. Nikki correu, acelerou o passo e colocou-se em sua frente, obrigando-a a parar. Olhou fundo nos olhos da mulher.
- Não posso deixar que faça isso sozinha, Odile - o homem murmurou, colocando as mãos em seus ombros. - Me diga, qual seu plano? Me deixe ajudar.
Lírio não queria demonstrar a aflição, mas esta escapava em míseros detalhes que a rainha captou. Os dedos trêmulos, as orbes desfocadas, a mordiscada que deu no canto do lábio. O rei intimidava Lírio. Ela tentou entender. Talvez fosse por ele ser a última peça de um quebra-cabeça longo e decisivo. Talvez fosse porque ele o viu com ela quando voltou dos mortos atrás da mulher que amava. E Odile estava feliz. Talvez ainda tivesse medo que ela o deixasse de novo. Talvez atrás de talvez.
A mulher finalmente respirou, percebendo que não o fazia há tanto. Ela tocou a face do homem com dedos firmes e o puxou para ela. Juntou as pontas de seus narizes e fechou os olhos, sentindo-se segura com ele ali.
- Eu tenho que fazer isso sozinha, Nikki - admitiu seu plano desde o começo.
Lírio negou com a cabeça.
- Não vou deixá-la sozinha com ele, Odile.
A mulher abriu os olhos e encontrou os dele olhando-a fixamente, sério e convicto. Ela também estava.
- Confie em mim.
- Em você eu confio, Odile, eu... Não confio nele.
Ela umedeceu a boca.
- Não temos muito tempo, meu amor... - sussurrou. - Me deixe acabar com o que ajudei a criar.
Lírio sentiu a ânsia outra vez. Era como deixá-la ir de novo. Soube, todavia, que estavam sem escolha ali. O tempo era escasso.
Concordou, a contragosto. Dessa vez, entretanto, tomou a dianteira, como se a protegesse dos perigos que enfrentariam ao ultrapassarem a porta.
Ledo erro.
Nikki foi, mas Odile ficou. A mulher sentiu quando aquelas mãos sujas se cravaram nas raízes de seus cabelos e a puxaram para trás. A rainha gritou. Foi colocada de pé, puxada pelas madeixas para cima e não conseguiu ao menos defender-se antes da lâmina gelada pousar em sua garganta.
Nikki já estava de prontidão, a espada em riste, quando viu a cena.
Ele a puxou para longe, passos de distância, mas apareceu à luz da janela. O marechal, surgindo das sombras de um trono no qual nunca se sentou, veio clamar por sua vingança.
A rainha tentou desvencilhar-se daquele aperto até sentir que a mão que pressionava a lâmina em sua garganta não estava blefando. A aflição da faca gelada comprimida contra sua traquéia a fez soltar um gemido assustado por entre os protestos de dor e pressionar os olhos com força. O homem não precisou dizer nada para que ela soubesse exatamente quem era. O cheiro odioso da colônia do marechal invadiu suas narinas e causou-lhe pânico e cólera.
Nikki petrificou-se. Aproximou-se um passo e viu a lâmina apertar ainda mais o pescoço da mulher. Não moveu mais músculo algum. O homem olhou para quem ameaçava Odile. De imediato, não o reconheceu. Achou que fosse um soldado como os outros, mas não era. Quando Roto sorriu maldosamente, Lírio imediatamente lembrou-se do homem que quase o matara, que arrancara Odile dele, que machucara a pequena Lili. O furor quase o enlouqueceu. Quis partir para cima do homem e tirar sua miserável vida devagar, lentamente, para que sentisse o mínimo da aflição que ele sentiu quando estava jogado no chão da capela na Pedreira.
- Sentiu minha falta, rainha Odile? - o homem cochichou no ouvido da mulher. Sua mão ainda estava cravada nas raízes de seus cabelos e os puxava para trás, deixando seu colo exposto para a faca que a pressionava com força. Odile esperou que a qualquer momento aquela arma atravessasse sua glote. Não conseguia ao menos respirar sem senti-la. A rainha tentou esconder o medo de morrer daquela forma. Tentou esconder dos dois. Roto olhou dela para Nikki, que estava pronto para encontrar qualquer brecha para arrancá-la das mãos daquele homem. - Então você está vivo, é? - a risada que escapou do homem era inclemente e ele parecia divertir-se. - Não é uma boa notícia, rainha Odile? Seu namoradinho está vivo.
Odile trocou olhares com Nikki que ele não conseguiu entender. Queria ter podido lhe contar tudo antes. Queria ter contado o quanto ter Roto morto era tão importante quanto Sohlon.
- Você não tem por onde fugir, marechal - Lírio escondeu sua angústia ao falar. - Isso não vai adiantar.
Roto a puxava para trás, obrigando Odile a recuar com ele. O homem balançou a cabeça.
- Você sabe que isso é mentira, homem - murmurou. Roto deu mais um passo em direção à luz e foi então que Lírio o viu com mais clareza sob a claridade vermelha. Os olhos do homem não tinham mais íris alguma. Eram apenas orbes negras assustadoras. Foi então que entendeu que não eram apenas os três naquela sala. Pouri, o Deus das Trevas, com certeza estava presente. - Eu vou contar pra vocês o que vai acontecer aqui.
Silêncio. O cheiro de queimado intensificou-se junto com o som da guerra se aproximando. Lírio e Odile estavam ansiosos. Roto, impassível, como se já tivesse ganhado. Continuou:
- Essa mulher aqui é a chave pra que vocês, esse exércitozinho rebelde que vocês trouxeram pra cá, vingue em alguma coisa quando esse dia acabar - Odile tentou negar, mas ele puxou seus cabelos ainda mais para trás e a mulher gritou de dor. Calou-se. - Ninguém vai arriscar que tudo isso tenha sido em vão, não é?
Lírio o via afastando-se aos poucos com ele. Ele avançava, mantendo a distância constante. Não a deixaria ser levada por ele outra vez. O marechal prosseguiu:
- Então eu vou sair com essa mulher pela porta. Não a da frente, claro, vocês conseguiram deixar tudo impossível por lá. Mas tem vários jeitos de sair daqui, não é, rainha Odile? Tenho certeza de que você vai conseguir me dizer um - o homem deliciava-se com a situação. - E assim que eu sair, eu deixo ela ir embora. É simples, não é? Vocês continuam com o que começaram, a rainha fica viva, eu dou o fora... Não vai arriscar tudo tentando me matar agora, vai, homem?
- Não, Nikki, ele não pode fugir!, ele... - Odile tentou dizer, mas a mão que estava em seus cabelos saiu de lá para tapar sua boca, puxando-a violentamente para trás. A rainha não conseguia ver Nikki. Apenas olhava para o teto sentindo o medo latente de que aquele plano de Roto, aquele tiro no escuro, acabasse por dar certo. Queria contar a Nikki que ela não era importante. Ela não era nenhuma chave vital para que aquilo desse certo. Mas ter Roto morto era essencial. Assim como Sohlon. E Lírio não sabia disso.
Lírio, entretanto, entendeu. Quem era o marechal para estar com aqueles olhos negros, as veias saltadas de uma cor escura, a maldade exalando das palavras? Ele não parecia sequer humano. Roto não podia ir embora, era isso que Odile queria lhe dizer. A mulher pediu que confiasse nela, e ele confiava. Faria de tudo para tirá-la das mãos dele sã antes de destripar o marechal. Mas e se não conseguisse? E se para impedi-lo tivesse que condená-la também? Como viveria com o fardo?
- Não pense demais, homem, eu sei o quanto ela é especial... - Roto puxou a cabeça da mulher para o lado e afundou o rosto em seu cangote. Odile tentou gritar de protesto com a repulsa. - Bastou uma noite para eu entender, não é, minha rainha?
Nikki congelou quando leu nas entrelinhas daquelas palavras diabólicas. Seu corpo tremia com o ódio de vê-la naquelas mãos imundas que antes já a machucaram. Tantos cenários hediondos lhe passaram pela cabeça. Ele não podia deixá-la ir com ele. Não de novo. Queria olhá-la nos olhos, queria que ela lhe dissesse o que fazer. Mas eram apenas ele e Roto, um Roto de olhos inclementes e desalmados.
O marechal já estava quase na porta quando Nikki se decidiu. Lágrimas chacoalhavam seu corpo. Sua arma era de curto alcance. Ele sabia o que aquilo significava. Antes de acabar com Roto, perderia Odile.
Perderia Daisy.
Tudo aconteceu rápido demais para processarem.
Nikki avançou, cego pelas lágrimas, pela certeza de que a perdera por uma causa maior. Roto, espantado com a decisão, pressionou a arma na garganta da mulher e a puxou como quem corta um pedaço de carne. Nikki gritou. Odile fechou os olhos.
A flecha atravessou a cena. Passou por cima do ombro de Lírio, vinda do fundo da sala.
E cravou-se na mão do marechal. O homem gritou de dor.
A faca caiu no chão.
Assim como a rainha.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro