Chamado
Ele ouviu o som vindo do fundo do corredor. Como poderia soar tão bem? Até melhor que ele mesmo. Era a sua música. Quase como o canto de uma sereia, um chamado ao seu encontro.
"Um barulho de algo se quebrando
Eu acordo do meu sono
Um som desconhecido
Tento tampar os ouvidos, mas não consigo ir dormir"
Aquele lugar estava incrivelmente silencioso, como se fosse proposital, para que ele pudesse ouvir aquilo. Aquele som. Seguiu pelo corredor, com passos leves, para que, quem quer que fosse, não se assustasse com sua chegada.
"A dor em minha garganta piora
Tento protegê-la
Não tenho voz
Hoje, ouço aquele barulho novamente"
Ela usava um uniforme cáqui, fones de ouvido bem grandes. Não ouviria a chegada dele nem se ele viesse saltitando. Ele a observava por de trás de uma parede, encantado. A beleza dela não era estonteante. Uma pessoa normal. Cabelo preso, meio despenteado no topo, nada de maquiagem. Na mão um rodo, que girava com ela, conforme se entregava ao refrão da música. Cantava maravilhosamente, despretensiosamente, enquanto limpava o chão daquela sala.
"O barulho continua soando
Outra rachadura neste lago congelado
Eu me atirei no lago
Enterrei minha voz por você"
Ele se sentia um tanto inconveniente por espiá-la daquele jeito, mas não conseguia tirar os olhos dela. Não queria perturbá-la. Não queria que ela parasse de cantar. Estava imerso na sensação de ouvir sua música sendo cantada tão apaixonadamente, como se fosse um hino. Passado o auge do refrão, o canto se tornou quase um sussurro. Ele se espreitou pela parede. Ela olhava para baixo, concentrada em sua tarefa.
"Sobre o lago de inverno que fui jogado
Uma camada grossa de gelo se formou
No breve sonho que tive
Minha agonizante dor fantasma permanece a mesma.
Eu me perdi
Ou ganhei você?
Eu corro repentinamente até o lago
Meu rosto está lá."
Sabendo muito bem qual parte da música viria depois, Taehyung decidiu que apenas vê-la de longe não seria suficiente. Aproximou-se de uma vez, parando bem em frente à Eun-Kyung. A moça levantou a cabeça lentamente. Os olhos grandes, arregalados, a boca aberta de espanto. Taehyung tirou os fones de ouvido dela, escutou onde a música estava e os colocou em volta do pescoço da moça. Começou a cantar. Seus olhos fixos nos olhos de Eun-Kyung, de um jeito que apenas ele sabia fazer.
"Por favor, não diga nada
Estendo minha mão para cobrir a boca
Mas no final, a primavera chegará
O gelo derreterá e sumirá"
Vendo que ela não retomava a música, envolvida demais por aquele olhar, ele movimentou as mãos, incentivando-a a cantar junto. Meio sem jeito, sem saber se negava ou seguia, Eun-Kyung levantou a voz. E os dois finalmente se encontraram, as vozes harmonizando perfeitamente, ecoando pelos corredores vazios e permeando por todos os poros dos dois corpos. Do mesmo jeito que Eun-Kyung fez com seu rodo, Taehyung fez com ela. A segurou pela cintura, sem nunca desviar o olhar e girou com a garota pela sala.
"Diga-me se minha voz não é real
Se eu não deveria ter me atirado
Diga-me até mesmo se essa dor não é real
O que eu deveria ter feito, então?"
Era o fim da música. Sorriram.
- Taehyung! Taehyung!
Uma voz gritou ao longe, e parecia se aproximar depressa. Os sorrisos se fecharam. Taehyung, soltou Eun-Kyung e se curvou, despedindo-se. Ela ficou parada ali, olhando apenas. Ele correu. Encontrou com Namjoon no corredor ao lado:
- Taehyung... de novo? Todo mundo sai, você fica aqui perdido e eu sempre tenho que te buscar. Você bem que poderia pedir para seu anjo te mostrar o caminho.
- Ele fez isso, hyung. Ele fez isso.
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