V - O homem de olhos vermelhos
Despertou com um arfar angustiado. Seus olhos verdes, pesados e confusos, abriram-se para um cenário turvo e escuro. Uma sensação nauseante cresceu em seu interior e, repentinamente, seu corpo convulsionou. Uma onda de náusea a envolveu, forçando-a a dobrar-se sobre si mesma.
Com um gemido abafado, Aeliana expeliu todo o conteúdo do seu estômago, cada contração muscular uma tentativa de purificar-se da toxina insidiosa. Gotas de suor brotavam em sua testa, misturando-se com o desconforto da expulsão.
Após o violento episódio, ela permaneceu ofegante, seus sentidos lentamente se restabelecendo. A respiração irregular e a palidez em seu rosto eram testemunhas da batalha interna que acabara de travar. Nunca tinha experimentado nada parecido, apesar de já ter presenciado o estrago que o cuspe de um Ethério das serpentes podia causar. O veneno, agora expelido, deixava-a frágil, mas a luz da sobrevivência faiscava em seus olhos determinados.
Então, veio o calafrio. A friagem começou a se infiltrar insidiosamente, como dedos gelados traçando seu caminho pela derme. Os pelos eriçaram-se em uma resposta automática à sensação gélida que se apossava gradualmente de seu corpo. Aeliana tentou abraçar a si mesma na busca por calor, mas o frio não era apenas físico; sua presença parecia se insinuar até os ossos, dando origem a uma sensação de desconforto e vulnerabilidade diante da intempérie glacial.
Há anos não sentia essa força, pois quase não saía da proteção que Lysander havia colocado em sua vivenda. Agora que a experimentava de novo, quase desejava não ter feito aquilo que gerou sua expulsão. Porém já vivera com a sensação uma vez e podia fazê-lo de novo.
Olhando ao redor, percebeu que a noite já tinha caído sobre o bosque e que a clareira na qual tinha lutado com a serpente de fogo estava iluminada apenas por uma fogueira e pela lua em seu quarto minguante, o que demarcava a última semana de Ardethur. Há quanto tempo está nessa fase mesmo? Quanto falta para que o frio insidioso pare de atormentar minhas noites?, pensou. O oitavo mês do ano, ou seja, o segundo mês do Verão, estava chegando. Em Sorakhil, até as noites eram mais quentes. Infelizmente, até lá, Aeliana precisava de uma roupa que impedisse a diminuição da temperatura de tocar sua pele.
Olhou para baixo de novo, puxando na memória o motivo de estar do lado de fora, durante a noite, com uma roupa tão fresca — o frio sempre a deixava desorientada. A grama queimada era a evidência da luta e o Ethério preso a um olmo branco era o adversário que ela não tinha derrotado. As lembranças do dia vieram à sua mente de uma só vez, enquanto passava as mãos pelos braços meio desnudos.
Ouviu um barulho à esquerda e desviou os olhos para o rio. Um outro homem se levantou, mas ficou de costas para ela enquanto observava a outra margem. Aeliana olhou na mesma direção que ele e viu dois unicórnios, um adulto e um filhote, olhando fixamente para o homem à margem. Seu queixo teria caído, se não fosse por estar apertando o maxilar por causa do frio extremo, quando os animais pareceram inclinar levemente a cabeça antes de se afastarem lenta e tranquilamente. Aquilo tinha sido uma reverência? Um sinal de agradecimento? Nunca tinha visto unicórnios se comportarem assim.
Os Sombrares dos Sussurros eram o único lugar em que aqueles animais viviam livremente. Eram os animais mais puros que existiam, por isso acabavam sendo caçados por todo tipo de aproveitadores, desde os que apenas queriam domá-los até os que arrancavam seu chifre e colhiam seu sangue para fazer remédios. Ali no bosque, os Lúmenes da Aurora não faziam vista grossa para a caça ilegal dos unicórnios.
Esqueceu os animais no instante em que o homem se virou. Os olhos vermelhos brilhavam na escuridão. Sentiu-se hipnotizada pela cor, era exatamente a mesma dos seus cabelos. Ele piscou e Aeliana conseguiu desviar os olhos. Apesar de estar de noite, era possível enxergar a pele dourada e os cabelos marrons escuros. Aquele era o irmão de Isolde.
Tinha imaginado um homem que parecesse mais velho, alguém que carregasse em seu rosto e corpo as marcas do trabalho duro, envelhecido pelo esforço. Talvez até com alguma cicatriz esquisita de um acidente de trabalho que a jovem humana tivesse esquecido de mencionar. No entanto, aquele homem era lindo. Os traços do rosto eram bem marcados, os lábios eram grossos e o nariz se encaixava perfeitamente no rosto simétrico. A pele era tão lisa quanto a dela própria — e ela praticamente podia sentir a sedosidade em seus dedos apenas de olhar. Somente o olhar sério o fazia parecer mais velho.
Quando ele começou a caminhar em direção a ela, Aeliana desviou os olhos para a fogueira à sua frente. Respirou fundo e se perguntou se seu coração estava acelerado por causa do frio ou porque tinha olhado para ele. Já tinha visto homens bonitos antes. Os Lúmenes costumavam ter traços fortes e rostos simétricos também. Talvez isto a tenha assustado: ele era perfeito demais para ser um humano. E os olhos vermelhos...
— Beba. — A ordem a assustou, fazendo-a pular no lugar ao olhar para a garrafa que ele lhe estendia.
Relutou um pouco em afastar as mãos do próprio corpo. Olhou ao redor de novo, procurando sua bolsa; precisava colocar uma roupa mais quente. A garrafa foi colocada na frente dos seus olhos e Aeliana fez um esforço para pegá-la, sem levantar os olhos para o rosto dele de novo, e tomar um gole. Não sabia que estava com tanta sede, mas não deveria se surpreender, já que tinha vomitado bastante ao acordar.
Estava a ponto de entregar-lhe de volta a garrafa quando sentiu o manto quente pousar sobre os seus ombros. O suspiro de alívio passou pelos seus lábios finos de imediato. Segurou as pontas e se envolveu no tecido grosso, olhando para o homem de pé ao seu lado. Tris apenas balançou a mão para ela e Aeliana entregou-lhe a garrafa. Ficou observando-o enquanto ele lhe dava as costas.
Embora o rosto não desse qualquer sinal de sua situação de vida, a roupa falava diferente. Era simples e pesada, surrada também. O tipo de roupa que as pessoas mais pobres usavam, que não eram nem um pouco confortáveis, mas costumavam ser quentinhas. Aeliana sabia daquilo por experiência, apesar de não usar nada parecido há muitos anos.
Ela olhou para as próprias roupas, agora sujas pela contenda daquele dia, mas tão leves e bonitas quanto sempre foram. Era muito grata por tudo o que tinha vivido entre os Lúmenes da Aurora e sabia que sentiria falta das mordomias, além de outras coisas. Então, para remover seus pensamentos da saudade que começava a ameaçá-la, olhou para o tecido com que Tris a tinha coberto. Era uma manta grossa de lã tingida e velha. Mas se podia aquecê-la, estava muito grata.
Sua atenção voltou ao presente quando Tris passou por ela e se sentou do outro lado da fogueira. Foi nesse momento que ela viu as ervas colhidas e a pequena cumbuca de barro que parecia ter alguma coisa esmagada dentro.
— Você me deu algum tipo de remédio?
Os olhos vermelhos se desviaram para a cumbuca, mas logo se voltaram para as mãos dele, que entrelaçavam alguns cipós. Aeliana olhou para aquela corda que ele estava fazendo e depois para a que prendia o Ethério das serpentes no olmo. O irmão de Isolde teve muito trabalho antes de ela acordar.
— Você é Tris, não é? — ela tentou de novo, não conseguindo nem um desvio dos olhos dessa vez. Suspirou, mas não desistiu. — Eu sou Aeliana. Obrigada por salvar minha vida, mas eu gostaria muito de saber o que você fez para me curar do veneno e como você sabia qual era o veneno. Isso pode me poupar de muita dor de cabeça depois. Aliás, como você nos encontrou? Por que não apareceu antes? Eu poderia ter morrido, sabe? Quando você ajuda alguém, é bom aparecer antes que seja tarde demais. Se bem que você realmente apareceu antes de ser tarde demais. Afinal, estou viva. Isso me lembra que talvez você devesse me agradecer também, porque eu que distraí o Ethério para você capturá-lo. Mas tem certeza de que essa corda é suficiente para prendê-lo? Ele tem mais de 400 anos. Sei disso porque só depois dessa idade é que os Ethérios podem se transformar. Então isso significa que ele é muito forte. Se ele acordar, pode arrebentar essa corda facilmente... Você não vai mesmo falar nada?
Agora, ele até virou o rosto para ela e Aeliana sorriu, como se o estivesse convidando a participar do monólogo. Ela sabia o quanto tagarelava quando ficava nervosa, e uma pessoa que não respondia suas perguntas definitivamente a deixava nervosa, principalmente quando as dúvidas pareciam aumentar a cada frase que ela pronunciava.
O homem de olhos vermelhos abriu a boca como se fosse dizer alguma coisa, mas logo a fechou quando outro barulho cortou a conversa e fez Aeliana corar imediatamente: o resmungo do seu estômago.
Como ela podia estar com fome? Claro, tinha acabado de esvaziar o estômago, mas não seria preferível esperar ficar melhor para comer de novo? Por que ela tinha que ser tão comilona?
Tris olhou para a barriga dela e Aeliana a envolveu com um braço, deixando a outra mão segurando as pontas da manta no pescoço, quando ouviu o grunhido de novo, desviando o rosto para o lado e torcendo para ele não a achar uma louca por comida — embora ela fosse. Ainda sem dizer nada, Tris se levantou novamente, dessa vez saindo da clareira e desaparecendo na noite.
Aeliana suspirou, levantou, tomando cuidado para não deixar a manta cair nem tocar no chão, mas envolvendo-a o máximo possível, e foi até onde estavam as ervas, observando cada uma delas com atenção e o conteúdo na cumbuca. Camomila, gengibre, alcaçuz e folhas de Estelária. Ele poderia ter pegado tudo no bosque, porque tinha Estelária ali. Mas era difícil acreditar que ela tivesse resistido tanto ao veneno a ponto de ele ter feito a corda e buscado os ingredientes para curá-la. Provavelmente ele levava aquelas ervas consigo.
Deixou elas de lado e foi observar a corda. Os cipós eram firmes, mas maleáveis. Segurando a manta no pescoço com o queixo, Aeliana tentou puxar para romper a corda, mas percebeu que seria impossível. Olhou rapidamente para a cumbuca de novo, imaginando se Tris tinha usado aquele cipó na composição do remédio. Depois, levantou a corda e a colocou na frente da lua, mas se entristeceu um pouco quando não viu o brilho característico daquela planta. A Liana Estelar era linda quando não era cortada, pois seus cipós emitiam um brilho suave que a fazia parecer uma corrente de estrelas. Sorriu, pensando que o Ethério não fugiria. Embora fossem fáceis de cortar, os cipós da Liana Estelar, quando entrelaçados, eram impossíveis de arrebentar, aguentando cargas extremas.
A jovem Lúmen olhou ao redor do pequeno acampamento, perguntando-se o que mais aquele homem de olhos vermelhos tinha encontrado e onde estava sua bolsa, mas sua atenção foi atraída pela volta dele. Aeliana arregalou os olhos e desviou-os rapidamente, voltando ao lugar de onde tinha levantado, só que um pouco mais para o lado para ficar mais distante do vômito. Tris estava com a camisa levantada, carregando cerejas e castanhas, mostrando um torso esculpido — provavelmente pelo trabalho duro. Abaixou-se diante de Aeliana e deixou tudo aos seus pés. Ao ver a comida, a boca dela salivou e seu estômago falou de novo.
— Obrigada — disse antes de começar a comer. Ele já tinha ouvido o estômago dela resmungar de qualquer forma, não tinha necessidade de tentar parecer magnânima. Além disso, ela não era mesmo. Só era uma garota comum.
O silêncio perdurou por alguns minutos enquanto Aeliana se alimentava e Tris terminava de entrelaçar os cipós para formar outra corda. Ela o olhou da cabeça aos pés e pensou que queria poder se sentir tão confortável à noite. Felizmente, Aguaneiro, a estação das chuvas, já tinha passado e, até que o Inverno chegasse, os dias seriam tranquilos e, em pouco tempo, as noites também. Por 25 dias, o mês que ela mais amava.
No momento em que ela colocou a última cereja na boca, Tris se levantou e foi até o Ethério desmaiado amarrado à árvore. Em vez de dar mais uma volta para melhorar a "prisão" do Ethério, Tris apenas amarrou a nova corda à que estava enrolada no corpo do Ethério e deixou sua ponta no chão.
— Isso é para levá-lo a Aureliavale? — perguntou Aeliana, mas fez uma careta quando Tris a ignorou de novo.
Irritada, ela se levantou e foi até ele, impedindo-o de se sentar de novo, segurando em seu braço coberto pela manga da camisa, e forçando-o a encará-la.
— Você está me ouvindo, não está? Escutou o meu estômago na outra hora e reagiu ao que eu disse. Por que não me responde? Você é mudo? É mudo e não consegue trabalho? Mas você é forte, então trabalho braçal não deve ser problema para você. Por isso arriscou sua vida entrando no bosque para capturar o monstro?
Assim que Aeliana terminou de falar, Tris franziu as sobrancelhas e estreitou os olhos. Por um segundo, ela pensou ter visto a cor vermelha tremular e mudar, mas sua atenção foi desviada quando ele deu um tapa na mão que ela tinha deixado no braço dele e voltou a se aproximar da fogueira.
— O que foi? Não gostou do que eu disse? Como eu vou pensar de outra forma se você não me responde? — Tris se virou para ela com a cabeça levemente inclinada e o cenho franzido. — O quê? Só posso pensar que você é mudo e que é pobre por causa disso. — Dessa vez, uma das sobrancelhas dele se levantou e sua boca se abriu. A surpresa irritou Aeliana ainda mais. — O que é agora?! Por que está surpreso?!
Quanto mais composto ele parecia diante da explosão irritada dela, mais Aeliana se sentia uma idiota e se irritava ainda mais. De repente, a expressão de Tris voltou a ficar vazia, como tinha estado desde que ela acordou, e ele falou:
— Não sou mudo.
Foi a vez do queixo de Aeliana cair. Depois de tudo, era aquilo que ele tinha a dizer? Ela sabia que ele não era mudo!
— Você não vai responder nada que eu te perguntei?
— Nenhuma de suas perguntas precisa ser respondida — disse ele simplesmente. Então, começou a apontar e falar: — Se eu não tivesse te dado um remédio, você não teria acordado depois de ser envenenada pelo rei das serpentes. Obviamente, você sabe que eu sou Tris, senão não teria praticamente afirmado quando me fez essa pergunta. Folhas de Estelária e cipós de Liana Estelar podem ser encontrados neste bosque e podem curar qualquer veneno, então seria óbvio também usá-los no remédio que te dei. Eu não precisava saber qual era o veneno. Encontrar vocês foi fácil, foi só seguir o fogo. Apareci assim que cheguei. Você poderia ter morrido, mas isso não era problema meu. Não preciso realmente agradecer por ter tido o trabalho de salvar você. A corda dos cipós de Liana Estelar é suficiente para prendê-lo. A corda extra é para eu poder segurá-lo enquanto o levo para Aureliavale, como você mesma deduziu. Eu te ouvi desde o início, como você também percebeu. Fiquei surpreso porque fiquei realmente irritado quando chamou um Ethério de monstro, mas você achou que tinha sido por me chamar de mudo e de pobre.
Não tinha como Aeliana ficar mais sem palavras. Ele ainda esperou que ela dissesse alguma coisa, mas quando Aeliana ficou quieta, ele terminou:
— De todas as perguntas que você fez, a única que talvez não fosse deduzível era sobre eu ser mudo.
— Você... — Ela tentou, mas não sabia realmente o que perguntar, então voltou a se calar.
Percebendo que não tinham mais o que conversar, Tris voltou a se sentar perto da lareira e a trançar os cipós de Liana Estelar. Aeliana ainda ficou parada no mesmo lugar, fazendo caretas e inclinando a cabeça enquanto pensava em tudo o que ele tinha dito. Já tinha mesmo pensado em quase tudo o que ele dissera, inclusive que ele não era mudo de verdade, só a estava ignorando. Só depois de uns cinco minutos que uma das informações captou sua atenção.
— Você disse rei das serpentes? — Ela correu até ele, tomando cuidado para não tropeçar na manta, e sentou-se de frente para Tris. Ele apenas concordou com a cabeça, sem olhar para Aeliana enquanto continuava em sua tarefa. — Como sabe disso?
— Nenhum outro Ethério das serpentes tem afinidade com o boitatá. Só a família real.
— Boitatá?
Ele suspirou antes de responder:
— A serpente de fogo. Se o animal não estivesse extinto há mais de dois mil anos, eu também não responderia a essa pergunta.
— Como alguém como você sabe disso?
— Como uma Lúmen não sabe disso?
Aeliana fez uma careta, mas não insistiu na pergunta, sabendo que estaria em desvantagem se perseguisse aquele caminho. Ela não era realmente um modelo de Lúmen. Sua busca incessante por aprender a controlar a Luz Eterna — coisa que ela só tinha feito uma vez, nesse mesmo dia, por acidente — tinha impedido que prestasse atenção em muitas das aulas que tivera na grei. Além disso, sempre que qualquer professor reclamava, Lysander dizia que ela sabia o suficiente. Pelo jeito, ele estava errado em mais de uma coisa.
— E por que você ficou irritado quando o chamei de monstro? De que mais eu poderia chamá-lo? Ele matou pessoas!
— Os Lúmenes também matam pessoas e nem por isso você está me ouvindo chamar vocês de monstros, embora eu acredite que sejam.
— É diferente... — Aeliana mordeu o lábio inferior, lembrando-se do que tinha acontecido no terreno dos Lúmenes da Aurora. Era mesmo diferente?
— Ele é o rei das serpentes. Seu trabalho é cuidar dos Sombrares dos Sussurros e impedir que o bosque seja destruído. Com tudo o que os caçadores fazem por aqui e o modo como os comerciantes tiram vantagem das propriedades dessas plantas, eu diria que ele tem motivos para querer manter as pessoas longe.
— Então por que está levando-o para Aureliavale? Se acredita em sua causa, por que vai entregá-lo aos comerciantes para receber a recompensa?
— Quem disse que vou levá-lo para receber a recompensa?
— Isolde.
Tris estreitou os olhos e depois suspirou, virando o olhar para a fogueira.
— Não foi por isso que veio? — perguntou Aeliana, percebendo que a comunicação entre os irmãos tinha falhado. Achou engraçado e sentiu-se levemente superior, porque aquilo nunca tinha acontecido entre ela e Radiel. — O que vai fazer com ele então?
Mais uma vez, as perguntas de Aeliana tiraram o homem de olhos vermelhos do sério. Ele franziu o cenho, estreitou os olhos e falou com a voz rouca:
— Não é da sua conta.
— Você é muito grosso, sabia? — Aeliana bufou e se virou de frente para a fogueira.
— E você é irritantemente curiosa.
Ela deu de ombros, mas não olhou para ele de novo, deixando que continuasse a formar suas cordas super-resistentes.
Achava muito estranho aquele homem saber de tudo aquilo. Tudo bem que ela não era uma Lúmen normal. Enquanto os Lúmenes eram criados por famílias de Lúmenes que ajudavam a passar os conhecimentos adiante, Aeliana tinha vivido os primeiros dez anos de sua vida mudando de uma família para outra, sendo criada também por humanos e até Ethérios. Só quando foi encontrada e salva por Lysander que começou a aprender sobre os seus poderes Lúmenes e sobre as tradições e leis de sua raça.
Além desse pequeno problema de criação e de sua falta de atenção às aulas, apesar de ter sido adotada por um conselheiro dos Lúmenes da Aurora, Aeliana não tinha conseguido entrar para a Academia Estellarium. Nela, poderia aprender mais sobre o mundo, sobre os Ethérios, suas leis e suas divisões. Também aprenderia mais sobre a história Lúmen. Se tivesse entrado, teria se dedicado a aprender tudo.
Mesmo assim, um humano com todo aquele conhecimento sobre os Ethérios? Isso sem falar da aparência dele.
Respirando fundo e fechando os olhos por um momento, Aeliana absorveu a Luz Eterna do ambiente ao seu redor e, quando abriu os olhos, ativou um dos únicos poderes que manipulava com facilidade: a Clarividência Celestial. Seus olhos, que podiam observar a Luz Eterna ao seu redor captando qualquer uso especial dela, viram o ambiente brilhar levemente. Pelo canto da vista, o Ethério amarrado à árvore emitia um brilho mais intenso, evidenciando que era um usuário da Luz Eterna.
Quando vistos sob a Clarividência Celestial, os Ethérios costumavam brilhar mais que os Lúmenes, embora estes também emitissem um brilho maior em relação ao ambiente. Como nasciam com aquelas habilidades e ligação com a natureza, os Ethérios tinham a Luz Eterna em seu corpo, enquanto os Lúmenes precisavam absorvê-la do ambiente para manipulá-la. Já os humanos e os animais refletiam o mesmo tom de iluminação do ambiente, apenas sendo parte dele em vez de usuários da Luz Eterna.
Fitou Tris. Os olhos vermelhos eram tão intensos. Ficou presa neles como na primeira vez em que os viu. Porém, além deles, o brilho que o irmão de Isolde emitia era o mesmo de qualquer humano. Só que aqueles olhos tinham alguma coisa diferente. Era como se chamassem a atenção, como se a convidassem a olhar para eles eternamente. Fechou rapidamente os olhos e desativou a Clarividência Celestial. Quando voltou a fitar os olhos de Tris, a sensação de atração acabou.
— Por que seus olhos são vermelhos? — A pergunta saiu antes mesmo que Aeliana pudesse pensar em fazê-la.
Isso fez com que Tris parasse de se mover e levantasse os olhos para ela. Ficaram se encarando por alguns segundos até ele dar de ombros e voltar à sua atividade. Aeliana não fez questão de uma resposta, repreendendo-se mentalmente por ser tão bocuda. Então lembrou que precisava de outra coisa.
— Onde está minha bolsa?
Tris não disse nada, mas apontou para uma árvore atrás de onde ela tinha acordado. Por que não tinha notado antes? Estava tão perto! Ela levantou e foi até a bolsa branca, abriu e pegou o sobretudo de Radiel. Diferente das roupas leves e frescas que os Lúmenes costumavam usar, as roupas da Academia Estellarium eram mais quentes e fortes, feitas para que os alunos aguentassem os treinos extremos e para servir de armadura em lutas.
Ela retirou a manta dos ombros e rapidamente se vestiu com o sobretudo. Depois, dobrou a manta e foi entregar para Tris. Ele não se moveu nem olhou para ela. Aeliana fez um gesto como se fosse tacá-la nele, mas depois bufou e largou a manta ao seu lado, sentando-se sobre ela. Depois disso, ficaram em silêncio de novo até Aeliana ter outra dúvida.
— Por que está fazendo outra corda?
Tris só respondeu quando terminou de trançar os cipós.
— Quer ver? — Estendeu a corda para Aeliana.
Sem pensar muito e cheia de curiosidade por nunca ter feito aquilo, ela pegou a ponta da corda que ele lhe estendeu. Quando segurou com as duas mãos na frente dos olhos, observando o entrelaçado cuidadoso, Tris jogou a corda ao redor dela. Só deu tempo de Aeliana olhar para a corda em volta de si e depois para ele antes que Tris jogasse a corda ao seu redor mais uma vez e puxasse, prendendo-a com força.
Olá, meus Arkorzians!
O que acharam desse homem misterioso que, graças aos Deuses, apareceu para salvar a vida da nossa Lúmen preferida? Deem-me suas impressões sobre o Tris, por favor!
Beijos da sua conselheira Lúmen,
Débora Corrêa.
P.S.: Esse capítulo tem 3894 palavras.
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