IX - De acordo
Ela nunca tinha ouvido tamanho absurdo. E pensar que aquele disparate só estava sendo testemunhado por ela e por um humano doente, que na verdade estava dormindo, era ainda pior. Aeliana preferia que uma multidão ouvisse aquilo para que todos rissem com ela. No entanto, como estava sozinha, só conseguiu soltar um rápido bufo.
— Está mentindo.
Contudo, logo que fez a afirmação, aquela sensação de que ele não mentia se apoderou dela outra vez e foi corroborada pela resposta de Tris.
— Eu nunca minto.
Não devia acreditar. Ethérios mentiam. Humanos mentiam. Até os Lúmenes mentiam. Por que ele seria diferente? Por que acreditaria nele? E mesmo assim...
— Deixe-me fazer uma pergunta então. — A fala de Tris interrompeu seus pensamentos. A Lúmen ficou apenas olhando para ele, que recebeu seu silêncio como uma permissão. — Sabe os seus problemas de saúde?
Os olhos de Aeliana se abriram como a Lua Cheia.
— Como sabe sobre isso? — Antes que Tris pudesse responder, ela limpou a garganta e mudou a pergunta. — Do que você está falando? Eu não tenho nenhum problema de saúde.
Ele apenas suspirou antes de falar:
— Seu corpo não regula a temperatura direito. — Ele apontou para o sobretudo no colo dela com o queixo. — Por isso precisa se aquecer tanto à noite.
— Como sabe disso? — interrompeu ela, engolindo em seco. Só Radiel, Lysander e Zenithar conheciam sua fraqueza.
— E você tem um problema no coração — continuou Tris como se ela não tivesse falado.
— Não tenho, não. Zenithar me curou quando eu tinha dez anos. — Aeliana fechou os olhos ao perceber que revelara suas debilidades tão facilmente. Queria dar um tapa na própria boca, mas foi impedida pela resposta do Ethério à sua frente.
— Ele não te curou.
— O quê? — Abriu os olhos de uma vez ao mesmo tempo que seu coração disparava.
Não estava curada? Mas ela podia se movimentar sem sentir dor, tinha aprendido todas aquelas habilidades com a lança. Sua resistência era incrível agora. Se não estivesse curada, como poderia ter feito tudo isso? Teria sentido dores indescritíveis, como acontecera quando era criança.
— Ele... Ele me curou, sim — afirmou, tentando impedir que a sensação de que ele estava dizendo a verdade se manifestasse.
— Ele simplesmente selou o poder dentro de você. Sem isso, ninguém saberia o que está alojado em seu coração e você não o forçaria a ponto de sua doença voltar a te perturbar.
Aquilo fazia sentido? Por que estava acreditando? Ele era um ser do mal, o pior Ethério de todos. Não tinha ouvido as histórias?
Então, como se uma luz se acendesse na escuridão de sua mente, Aeliana percebeu que nunca escutara história alguma. Aquilo era tudo o que sabia sobre o Ethério dos dragões: ele era do mal e tinha sido selado. Por quê? Ele poderia realmente estar falando a verdade? Não queria confiar apenas naquela sensação dentro de si, mas era inevitável. Respirando lentamente, a jovem Lúmen decidiu ouvir o que aquele Ethério tinha a dizer.
— O que quer dizer com selou meu poder? E o que está alojado em meu coração?
— Exatamente o que eu disse. — Ele respondeu apenas a primeira pergunta de propósito. — Por isso você não pode desenvolver sua manipulação da Luz Eterna, porque sua capacidade está selada. Ou estava até ontem.
— Até ontem?
Como uma flor desabrochando sob os primeiros raios de sol, Aeliana floresceu para a compreensão, sintonizando as notas de uma sinfonia para criar uma melodia clara e vívida de suas próprias circunstâncias. Nunca tinha conseguido manipular a Luz Eterna como deveria porque o antigo Curador Luminoso da sua grei selou seus poderes. No entanto, no dia anterior, ela tinha conseguido quebrar o selo de alguma forma. Tinha atirado uma lança luminosa em Luminara. E também tinha atirado fogo... Fogo. Chamas.
Ela cobriu a boca com as duas mãos para não deixar sair a exclamação de espanto. Seus olhos arregalados miravam Tris, que apenas a observava com a cabeça ligeiramente inclinada. Lentamente, tanto suas mãos quanto seus olhos baixaram à medida que sua mente aceitava aquela informação. Não era tão absurdo afinal.
— É isso o que está alojado em meu coração? — perguntou com a voz baixa, o medo da resposta se manifestando na pergunta. — Por isso você precisa de mim?
Tris suspirou.
— Sim e não. — Ele fez uma pequena pausa, esperando que ela voltasse a olhar para ele, mas não aconteceu, então continuou: — O que está alojado em seu coração é a Dracarmur, minha escama mais forte. — Aeliana franziu o cenho quando ele pronunciou a palavra, percebendo que não fazia parte de sua língua, mas sem identificar de qual poderia ser, visto que não se tinha notícia de qualquer outra língua já ter sido falada em Arkorz. — É ela que impede que você morra, como deveria acontecer por causa da sua doença. Ela completa o que falta de seu coração, emprestando a você algumas características de dragão.
Agora, os olhos de Aeliana voltaram a encontrar os de Tris e ele relaxou visivelmente.
— Características de dragão? Então eu sou tipo um Ethério?
— Não chega nem perto disso. Mas a função da Dracarmur é proteger seu corpo. Independente do que aconteça, ela vai lhe proteger. Isso inclui sua doença.
— É só isso? Só tem a ver com minha doença? Mas...
— Quando fui atacado há 20 anos — Tris teria deixado que ela procurasse as respostas, como estava acostumado a fazer, mas não sabia quando seriam interrompidos, quando os outros voltariam —, usei um feitiço para separar a Chama Eterna do meu corpo, vinculando-a a Dracarmur, e as lancei para longe.
Ele guardou aquele segredo por tanto tempo. Quando foi cercado pelos Lúmenes do Norte e ferido por Solara, não teve outra escolha. Não era possível parar o Selamento Estelar Pentalíptico. Somente sua Chama Eterna poderia combatê-lo, mas não com ele fraco pelos ferimentos ou de dentro do selamento.
— Era a única forma de me precaver do selamento — continuou a explicar, sem entrar em detalhes sobre o passado. — Devem ter caído sobre você, mesmo que essa não fosse minha intenção. Como uma escama de proteção, a Dracarmur rapidamente se instalou onde mais era necessária, seu coração.
Aeliana sentiu os lábios tremerem ao ouvir aquilo, mas os controlou apertando-os um contra o outro. Teria morrido sem aquela escama? Os Ethérios que a resgataram do Rio Soturno disseram que ela deveria estar morta, que não podia viver mais do que três dias com o coração daquele jeito. Apesar de saber, pelas dores que sentia ao fazer esforço, que tinha um problema no coração, nunca acreditou que tinha a Síndrome Cardíaca Fetal, pois ainda estava viva.
— Isso fez com que a Chama Eterna também se ligasse a você. — A fala contínua de Tris fez com que ela parasse de pensar no passado. — O Lúmen que você citou...
— Zenithar — interrompeu-o. — Era o maior Curador Luminoso de nossa grei.
— Esse. — Ele não deu importância ao cargo do Lúmen. — Ele deve ter percebido a Chama Eterna ligada a você. Ela é a fonte dos meus poderes. Não sei com que idade ele colocou esse selo sobre você, mas dificilmente estaria viva até hoje se ele não tivesse feito isso. Nem sei como sobreviveu até que ele o fizesse. Muitos dariam a própria vida para pegá-la — essa informação também despertou lembranças em Aeliana, mas ela fez questão de silenciá-las rapidamente —, ainda que ninguém possa controlá-la além de mim. Quem quer que seja esse Curador Luminoso de quem falou, ele selou os poderes da Chama Eterna junto com os seus para proteger você da ambição dos outros, assim como para impedir que você perdesse o controle. Que, aliás, deve ter sido o que aconteceu para você quebrar o selo.
Aeliana pensou em como estivera irritada e precisando desesperadamente proteger sua amiga. Mas tudo o que conseguiu falar foi:
— Como sabe?
— O que senti ontem foi uma presença rápida. Uma explosão. Isso significava que alguma coisa abriu uma fresta no selo e só o descontrole pode fazer isso se você não tem domínio sobre ela. Depois, embora não pudesse mais senti-la completamente, eu sabia que você viria para mim. É a natureza da Chama. Eu só precisei dar um empurrãozinho para acelerar o processo — revelou, olhando na direção da porta e pensando em Isolde.
Por isso tinha concordado em procurar por ele quando viu Isolde preocupada? Seria a Chama Eterna a controlando ou o traço de sua personalidade que a impelia a ajudar as pessoas? Isso era algo que ele podia responder? Era a Chama Eterna dentro dela que gerava a sensação de que ele estava sempre dizendo a verdade? Poderia confiar nessa sensação? E, se a escama era o que a protegia contra a morte, poderia devolver a escama e a Chama para ele? Essas perguntas ficaram guardadas para um outro momento, pois ele ainda não tinha falado sobre remover a Chama dela. Tinha questões mais empolgantes para tratar primeiro.
— Então agora eu posso manipular a Luz Eterna? E a sua Chama Eterna? — Um brilho de esperança brotou nos olhos de Aeliana, mas logo foi apagado pela fala de Tris.
— Ainda não. Como eu disse, sua explosão abriu uma fresta. A diferença é que agora você pode aprender de verdade, porque quanto mais manipular a Luz Eterna, mais o selo vai quebrar.
— Então, se eu voltar a treinar, vou aprender? Se eu colocar em prática o que já me ensinaram, posso me tornar mais forte?
A possibilidade de finalmente ser uma Lúmen normal acelerava o seu coração. Se ela pudesse se tornar mais forte, poderia curar a si mesma. Já ouvira as histórias sobre os Lúmenes que atingiram o nível Transcendental, sobre serem quase tão poderosos quanto o Ethério dos dragões. Ela não precisaria se apoiar nos outros, nas coisas dos outros. Poderia fazer parte de uma família sem sentir que os estava usando para alguma coisa.
— Ainda não.
A resposta de Tris a exacerbou. Ele estava brincando com ela?
— Mas você disse...
— Eu disse que ninguém pode controlar a Chama Eterna.
— Eu não estou entendendo mais nada. — Seus olhos encheram de lágrimas por causa da frustração.
Tris se levantou da cadeira e se ajoelhou ao lado de Aeliana, fazendo com que o encarasse. Os olhos vermelhos a hipnotizaram mais uma vez. Aquele era um de seus poderes? Muitos Ethérios de répteis tinham essa característica, será que o dragão era um deles? Mas ele dissera que não podia fazer nada com o seu corpo humano apenas. Isso a lembrou de outra coisa, então antes que ele pudesse falar, ela perguntou:
— Como você sabe sobre tudo isso se não pode usar seus poderes?
Tris abriu a boca, mas nenhum som saiu. Ele suspirou e a fechou. Os olhos vermelhos relancearam para os lados, como se ele precisasse pensar na resposta, mas logo voltou a olhá-la nos olhos. Aquela breve hesitação deixou Aeliana desconfiada, mas decidiu acreditar no que a Chama Eterna lhe dizia: que ele estava dizendo a verdade.
— Meu corpo é praticamente humano, mas ainda posso fazer algumas coisas. Como você quando não tinha nenhum controle sobre a Luz Eterna. Ainda posso senti-la e, digamos, ver através dela. Quando te encontrei nos Sombrares, enquanto esperava que se recuperasse do veneno de Víperos, eu... Como posso dizer? Estudei você pela Luz Eterna? Eu consigo sentir o que acontece com o seu corpo, posso sentir a Chama Eterna em você, posso sentir o buraco em seu coração e os seus ossos tremendo de frio. Posso sentir o selo também, mas é só isso.
— É como se usasse a Clarividência Celestial?
— Algo assim. — Ele concordou com a cabeça.
Ficaram em silêncio então, olhando um para o outro. Aeliana não quis duvidar dessa vez, embora fosse o único momento em que ele demonstrou alguma suspeita. Desde que se encontraram na noite anterior, ela vinha lutando contra a crença de que ele estava sendo verdadeiro. Fazia isso pelas tantas vezes que escutara alguém falando que ele era um ser do mal, o pior de todos. Aquilo era cansativo. Não estava acostumada a desconfiar das pessoas, mesmo que tivesse quebrado a cara tantas vezes.
— O que ia me dizer? — perguntou por fim e esperou enquanto ele respirava fundo para falar.
— Escute bem, Aeliana — ordenou Tris e foi ela quem respirou fundo dessa vez, prendendo a respiração, tão focada estava no padrão hipnótico de suas orbes multicoloridas e na cadência de sua voz. — Eu preciso de você para romper o selo dentro da caverna e libertar minha alma imortal... E, enquanto você tiver a Chama Eterna, precisa de mim para aprender a usar seus poderes.
A esperança borbulhou dentro dela. Era tão tentador! Tanto quanto aqueles olhos. Porém, quando aquela sensação tomou conta dela de novo, Aeliana hesitou.
— E se eu devolver a Chama Eterna para você? — deixou escapar em um sussurro.
Tris suspirou e desviou os olhos dos dela para o cabelo vermelho que escorria sobre os ombros delgados.
— Não dá — sentenciou, deixando a frustração escapar em suas palavras, quebrando por completo o efeito hipnótico de seus olhos e de sua voz. Até a sensação de verdade desapareceu por um instante.
Ele mesmo pareceu perceber o que tinha feito, pois se afastou depressa, voltando a sentar na outra cadeira.
— Você não pode removê-la — constatou rapidamente. É agora que ele vai revelar que posso morrer em breve?, foi o pensamento que cruzou a mente da jovem Lúmen enquanto tentava olhar nos olhos de Tris, que ele continuava desviando.
— Não — confirmou suspirando, finalmente voltando os olhos vermelhos para os verdes dela. — O selo do Curador Luminoso não impede apenas você de usar a Chama Eterna, também me impede de recuperá-la, pelo menos por enquanto. Esse corpo sozinho não consegue manipular a Luz Eterna e romper o selo.
— E depois? — Já que estavam falando sobre aquilo, era melhor saber logo. — Quando recuperar sua alma imortal, vai conseguir remover a Chama? E o que acontece com meu coração?
Por um instante, Tris se questionou se ela estava deixando de perguntar o mais importante de propósito ou se realmente não tinha pensado naquilo.
— Enquanto eu não puder romper o selo — explicou o Ethério —, a Chama Eterna vai ficar com você. Mas eu não posso recuperar as outras partes de mim sem ela, então preciso de você. Quanto ao seu coração, quem o protege é a Dracarmur e eu não preciso dela. Não pretendo deixar ninguém mais chegar perto do meu coração para feri-lo. Então, mesmo quando eu puder recuperar a Chama Eterna, você pode ficar com a escama.
Aeliana suspirou, aliviada. Verdade ou não, ela queria acreditar naquelas palavras. Ela precisava acreditar.
Passara a infância toda ouvindo sobre o seu problema de coração, sobre como não viveria muito tempo. Tinha vivido com dores no peito sempre que se esforçava, mas superara aquilo por ter sobrevivido um ano após o outro. Depois de conhecer Lysander e Zenithar, teve um momento de paz, acreditando que estava curada. Agora descobria que sua suposta cura podia não ser verdade e isso era horrível. Porém era refrescante entender que nem mesmo na infância tinha corrido o risco de perder a vida, já que tinha essa tal escama protegendo seu pobre coraçãozinho.
Ainda restavam algumas dúvidas. Sentiria as dores no peito outra vez quando se liberasse totalmente do selo? Poderia realmente progredir na manipulação da Luz Eterna? Poderia sobreviver até alcançar o nível mais alto?
Quanto mais tempo passava com o Ethério dos dragões, mais sua vida fazia sentido. Coisas que ninguém tinha sido capaz de lhe explicar, coisas que sempre esconderam dela por não conseguir manipular a Luz Eterna, o motivo de não conseguir fazê-lo, o mundo imenso em que vivia. Tris sabia de tudo, podia explicar tudo.
De repente, uma informação veio a sua mente e ela externou em uma pergunta sem pensar:
— Quantos anos você tem? — Tris levantou as sobrancelhas para ela. — Lembrei agora que uma vez ouvi alguém dizer que o Ethério dos dragões que tinha sido selado era um Ethério milenar. Você parece ter as respostas para todas as perguntas, então estou me perguntando se você tem mesmo mil anos.
— Sim, 1019 para ser exato.
O queixo dela caiu.
— Eu pensei... que os Ethérios podiam viver só até os 700 anos. Apesar de que a maioria mais velha que 500 anos parece ter desaparecido.
— Desaparecer é um termo otimista — resmungou Tris, mas depois suspirou e explicou: — Dificilmente os Ethérios passam dos 700 anos, mas isso não quer dizer que não possam. Com cuidado, resistência e boa alimentação. Depende um pouco de suas afinidades também, eu diria. Ethérios com afinidades com plantas vivem mais que os Ethérios com afinidade animal. No entanto, eu sou realmente uma exceção. Quanto aos desaparecimentos, tem mais a ver com a contenda entre nossas raças do que com a expectativa de vida.
— É uma exceção por ter afinidade com os dragões?
Ele a observou com aqueles olhos vermelhos contemplativos. Ficou em silêncio por tanto tempo que Aeliana se remexeu na cadeira, desconfortável.
— Posso te fazer uma pergunta? — Ela confirmou com a cabeça, esperando para saber qual poderia ser a dúvida de alguém que sabia de tudo. — O que os Lúmenes ensinam sobre mim?
Aquilo a pegou de surpresa e a jovem Lúmen não soube realmente como responder.
Não tinha muitos amigos Lúmenes. Apenas Radiel, alguns amigos dele da Academia e uns poucos alunos que estudaram com ela até os quinze anos. Dava para contar todos nos dedos das mãos e ainda sobrariam dedos. Porém essa não era a questão.
Lembrava-se de uma única aula que tivera sobre o Ethério dos dragões. Na verdade, fora uma aula sobre os Lúmenes do Norte que tinha mencionado o grande feito do Conselho dos Guardiões da Luz Eterna e como aquele tinha sido o marco para a evolução ininterrupta da grande conselheira daquela grei. Aeliana, assim como os seus poucos amigos, guardou o evento na memória. Juntos, foram procurar Radiel – ideia de Aeliana – para perguntar mais sobre esse poderoso ser do mal. Nem Radiel nem os amigos dele, que estavam de licença das aulas naquela época, souberam responder. Algum tempo depois, ela perguntou ao irmão de novo, mas ele dissera que nenhum de seus amigos sabia nada sobre o Ethério dos dragões e os professores sempre mudavam de assunto quando alguém falava sobre ele.
— Acho que... — Ela hesitou um pouco. Poderia dizer aquilo? — Acho que não ensinam nada sobre você a não ser sobre o seu selamento.
— E que eu sou o ser mais maligno de todos — completou ele sem tirar os olhos dela.
Aeliana engoliu em seco, mas confirmou com a cabeça em seguida.
Tris suspirou e desviou os olhos para a mesa, observando a madeira com atenção.
A jovem Lúmen ficou com a impressão de que ele queria falar mais alguma coisa, então perguntou:
— Por que quer saber isso?
— Ouvi você dizer isso no bosque ontem — revelou ele, ainda sem olhar para ela. — Já ouvi isso outras vezes também. Acho que... ouvi algo parecido há vinte anos, mas não prestei atenção.
— Isso é importante?
— Talvez...
Ela ia perguntar por quê, mas Isolde entrou na casa carregando uma cesta com legumes. Aquilo também pareceu tirar Tris de suas reflexões e ele olhou para a irmã, que falou com ele sobre a lenha. Tris concordou, mas não se moveu, esperando Isolde sair para voltar a olhar para Aeliana.
— Por que está me olhando assim?
— Estou em um impasse — respondeu ele. A Lúmen apenas levantou as sobrancelhas. — Não quero prender você de novo, mas sei que vai tentar fugir no instante em que eu virar as costas.
— Eu não vou. — Por que eu disse isso? Aeliana apertou os lábios assim que as palavras escaparam por eles. Logo os abriu, porém, quando Tris soltou o ar pelo nariz e abriu um pequeno sorriso.
— Posso acreditar em você? — questionou ele, ficando sério de novo.
— Eu também não minto — respondeu ela, lembrando as palavras que ele tinha dito.
— Então me responda mais uma coisa. — Aeliana simplemente levantou as sobrancelhas para ele, perguntando-se como ele acreditava nela tão facilmente ao passo que ela sempre hesitava em acreditar nele. — Eu disse a você que estava em desvantagem e que posso levá-la à força até o Abismo Estelar, mas eu preferiria que você aceitasse me ajudar.
— Por quê?
— Digamos que é uma forma de mostrar que não sou como todos pensam.
Outra vez ela titubeou. O mundo acreditava naquela verdade, por que ela se sentia tão disposta a aceitar o contrário? Era a Chama Eterna dentro dela? Provavelmente só aquilo explicava o que ela perguntou em seguida.
— Se eu te ajudar dessa vez, você vai poder recuperar sua Chama Eterna e não vai mais precisar de mim para romper os outros selos?
Poderia ajudar uma vez, não é? Deixá-lo recuperar o seu poder e seguir seu caminho. Os Ethérios gostavam dele. Talvez ele a recompensasse com a vida se a ajudasse. Além disso, ele poderia levá-la à força como tinha dito.
No entanto, Tris deu de ombros.
Será que ele não tinha como saber? Ou simplesmente não queria responder? De qualquer forma, Aeliana não tinha muita escolha. Mesmo que ele não a levasse à força, não conhecia outras formas de aprender a manipular a Luz Eterna. Tentou por dez anos e não conseguiu. É claro que estava começando a romper o selo sozinha, mas se ele estivesse certo sobre alguém querer aquele poder, estaria correndo muitos riscos, como aconteceu quando era pequena... Será que fora a Chama Eterna que causou todos os seus problemas na infância antes de Lysander a salvar?
Balançou a cabeça, tentando apagar os flashes que apareciam diante de seus olhos sempre que pensava naqueles dias, no medo que sentira. Tris inclinou levemente a cabeça, curioso sobre o que estaria se passando na mente dela.
Se precisasse fugir, poderia pensar em outra forma de fazê-lo depois. Agora, o mais importante era tirar alguma vantagem daquela situação.
— Se eu te ajudar a recuperar sua alma imortal, você promete me deixar viva e me ensinar a manipular a Luz Eterna?
Tris não hesitou, confirmando com convicção.
— Eu prometo.
Outros poderiam precisar de mais do que aquilo, mas para ela era suficiente.
— Tudo bem, eu te ajudo dessa vez.
O Ethério dos dragões fez um leve aceno com a cabeça, o que Aeliana entendeu como uma forma de agradecimento. Depois, ele avisou:
— Preciso deixar a lenha cortada e preparada. Víperos deve voltar a qualquer momento, mas vamos até o Abismo Estelar ao anoitecer.
Aeliana concordou com a cabeça, depois ficou ali sentada observando-o sair. Era sua chance, não era? Poderia fugir e esquecer que tudo aquilo tinha acontecido. Deveria seguir o seu caminho como tinha planejado quando saíra do terreno da grei.
Só que ela não tinha planejado porcaria nenhuma. Desde a manhã do dia do teste, ela havia se deixado levar pelas emoções. Agora, estava fazendo outra vez. Talvez fosse tão burra quando Víperos vivia dizendo.
Olá, meus arkorzians!
E aí, o que acharam dessas revelações? Alguma teoria sobre alguma coisa? kkkkk
E vocês acham que a Aeliana topou isso muito fácil? Contem pra mim! E não esqueçam da estrelinha!
Abraços da sua Conselheira Lúmen,
Débora Corrêa.
P.S.: Esse capítulo tem 3805 palavras.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro