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[f(38) = 4x - 114] Sempre será

Se prepararam?

🔮

O número noventa e nove continua ecoando em minha mente.

Não é a primeira vez que me deparo com ele, mas ainda não encontrei qualquer significado oculto que me faça entender por que parece tão importante.

Neste momento, a voz em minha própria mente já se calou, mas a lembrança das palavras segue viva em mim, como se repetidas em um mantra.

Lembre da chance noventa e nove.

Há algo de muito estranho em toda a situação que estou vivendo. Parte das minhas mensagens antigas com Jimin parece se referir a assuntos completamente bizarros e, às vezes, ele, Hoseok e Yoongi parecem conversar por códigos, porque é impossível entender sobre o que falam. Esperto o suficiente, percebi rapidamente que o número noventa e nove faz parte de todos esses assuntos estranhos. No entanto, não fui capaz de compreender seu significado.

Mas, no momento, o que realmente recebe minha atenção incondicional não é a busca sobre o entendimento de algo que parece tão louco quanto importante.

O que recebe toda a minha atenção é Jimin.

Eu o tenho entre meus braços e minhas pernas enquanto dividimos minha cama. Com minhas costas apoiadas na parede e Jimin apoiado em meu peito, eu o abraço intensamente desde o momento em que voltamos para o calor de casa.

Ele ri suavemente, vez ou outra, quando intensifico o abraço e simultaneamente deixo beijos em todo o seu rosto.

— Gracinha...

— Hm? — Murmuro, com minha boca enterrada em seu pescoço, beijando-o inteiro.

Mais uma vez, Jimin ri.

E é por isso. É por esse sorriso que eu não o solto sequer por um segundo. Porque é exatamente isso o que quero provocar em Jimin: felicidade.

Ainda arrependido pela briga que provoquei, por tê-lo feito chorar, eu passo minutos, talvez uma hora inteira apenas arrancando risos seus, abraçando-o e beijando-o.

E talvez o faça também porque estava com saudades, depois de tantos dias sem vê-lo.

Talvez o faça porque, e não me pergunte que tipo de ironia da vida é essa, eu realmente goste de estar assim com Jimin.

— Você está surpreendentemente carinhoso agora, Jungkook-ssi...

Em um desses momentos que provavelmente fazem Jimin reavaliar os sentimentos que tem por mim, eu o abraço com muito mais força, desta vez intensificando o aperto de meus braços até ouvi-lo resmungar.

Só aí revelo, com estranha sinceridade:

— É arrependimento. E saudade.

Ele se aconchega mais contra meu corpo quando meu abraço perde força, e eu sinto seus dedos curtos acariciando meu pescoço antes de beijá-lo suavemente.

Enfim, Jimin se afasta um pouco mais, até que seus olhos bonitos, ainda marcados pelo choro que me faz querer socar minha própria cara, encontrem os meus.

— Eu realmente sinto muito, Ji. — Digo antes que ele fale qualquer coisa. — Por ter reagido daquele jeito. Eu nunca deveria ter te mandado embora, não como fiz mais cedo.

A expressão de Jimin perde força no riso, tornando-se mais neutra, mas ainda gentil.

— Eu gostaria de dizer que entendo, Jungkook... eu realmente tento muito ser compreensivo porque sei que o que está acontecendo é muito difícil para você.

— Mas também é difícil para você. — Eu relembro o que ele mesmo disse, tão magoado.

— Sim. Eu nem consigo descrever o quanto. Não consigo mesmo. Não é fácil para ninguém, Jungkook, mas... eu tento. Eu tento muito entender sempre o seu lado.

— Eu sei, Jimin. Eu sei mesmo. O que eu fiz foi muito injusto e você não sabe a vontade que estou sentindo até agora de socar minha cara.

Ele sorri suavemente, segurando meu rosto para deixar um beijo demorado em minha bochecha.

— Nem pense em machucar esse rosto lindo, gracinha.

— Se fosse feio, podia?

— Claro que não!

Eu sorrio, somente porque ele ri também, e ser a causa do riso de Jimin é, realmente, uma das coisas mais gostosas da vida.

— Só me escuta, ok? — Ele pede, ainda com resquícios do riso, ainda me acariciando com beijos em meu rosto.

Quando eu faço que sim, ele me dá um último beijo e, finalmente, diz:

— Eu entendo que você precise de um tempo, eu entendo que você precise ficar sozinho às vezes e respeito seu espaço. Do fundo do meu coração, eu respeito mesmo. O problema não é esse. O problema foi o jeito como você falou comigo, o jeito como me mandou ir. É isso que eu não quero que se repita, Jungkook.

— Prefiro comer uma lata inteira de ervilhas antes de fazer isso de novo...

Jimin me observa por um instante, com um sorriso carinhoso, e me beija a boca suavemente.

— Então vamos deixar definido assim, tudo bem? — Ele decide, deslizando os dedos por minha bochecha. — Eu te amo. Eu te amo tanto que nem consigo explicar, Jungkook-ssi... mas isso não quer dizer que eu vou aceitar qualquer coisa que você fizer.

— Mais que justo. — Digo sinceramente.

— Eu também acho.

Finalmente, acho que começo a perceber.

Eu tenho um jeito meio indelicado de falar, mas Jimin nunca se ofende por isso. Ele realmente se diverte, parecendo ciente de que não faço por mal... até que eu sou grosseiro de verdade, como fui mais cedo.

Surpreendentemente, levar esse esporro é o sopro de confiança que me faltava para acreditar que Jimin realmente gosta do meu jeito. Vê-lo colocando limites e sendo claro sobre o que não tolera é, então, o que me faz ver com mais clareza e entender de uma vez.

Ainda o acho estranho feito o cacete por gostar? Demais.

Mas também fico feliz. Feliz mesmo.

Com nosso desentendimento finalmente resolvido de uma vez, com limites estabelecidos e a lição aprendida, eu volto a abraçá-lo forte.

E pergunto:

— Ainda vou levar esporro?

— Não foi esporro. Foi uma conversa sincera e madura sobre relacionamento, Jungkook. Quer dizer... nós estamos oficialmente em um, não é? Você disse que quer ser meu namorado de volta...

— Disse.

— E estava falando sério?

— Alguma vez na vida eu não falei sério, Ji?

— Sim. Várias, aliás.

— Mentira. E não é o caso. Eu falei sério. Quero ser seu namorado, sim.

Jimin sorri. Ele sorri verdadeiramente, envolvendo meu pescoço com os dois braços esguios enquanto eu abraço sua cintura inteira, tão estreita que se perde em meu corpo.

— Ei. — Chamo, depois de olhá-lo silenciosamente.

— Oi, gracinha.

— Posso beijar você?

Jimin me olha em silêncio, quase de maneira desafiadora. Ao fim, leva longos instantes para dizer:

— Não.

Minha cara vai no chão.

— Não?

— Não. Não é assim. Você acha que pode fazer besteira e tão rápido assim beijar minha boca, Jungkook?

Agora acho que não, na verdade.

Envergonhado e sinceramente ponderando por quanto tempo serei mantido nesse castigo de não poder beijar a boca gostosa de Jimin, eu logo ouço um riso dele, que parece se divertir às custas da minha expressão desesperada.

Logo em seguida, ele me abraça com mais força, com os braços me puxando mais para perto até que nossos rostos estejam imediatamente à frente um do outro.

Um selar suave antecede sua nova declaração:

— Na verdade, gracinha, você precisa me beijar muito para recompensar.

Oh, graças a deus.

Esse sim é o tipo de castigo que eu gosto.

Com um sorriso meio aproveitador que não consigo conter, eu puxo Jimin inteiro para mim antes de tomar sua boca com a minha.

Assim que nossos lábios se encontram, a língua dele viaja à minha boca e seus dedos viajam aos meus cabelos, acariciando-os com a suavidade que não existe no beijo cheio de vontade e de saudade.

Dez dias sem vê-lo foi muito tempo.

Ainda assim, não me arrependo. Eu precisava daquele tempo. Eu precisava pensar, remoer e enfim aceitar a ligação de Jimin com algo tão doloroso do meu passado — e, com aceitar, quero dizer entrar em consenso comigo mesmo de que, no fim, ele não teve culpa alguma.

Da mesma forma que ele respeitou meu tempo, eu também precisei respeitar. Era o melhor para mim, e também o melhor para nós.

Mas, deixando toda a racionalidade de lado... que saudade, cacete.

Que saudade desse beijo gostoso, desse toque que é tão gentil quanto intenso, desse seu jeito de brigar pelo controle e de, nessa disputa, encontrar o equilíbrio perfeito, talvez meio bruto, para o nosso jeito de beijar.

Que saudade do cheiro dele, das tatuagens que secretamente admiro, do jeito manso de falar e do olhar que me desconcerta inteiro.

Que saudade do meu namorado.

Com tanta saudade assim, eu o beijo com tanta vontade quanto o abraço, acariciando-o nas costas, sentindo meus dedos se enterrarem em sua pele com pouca delicadeza, como ele parece gostar.

Sentindo tanto quanto eu, envolvido no beijo de mordidas e sucções intensas, Jimin se apoia momentaneamente sobre os próprios joelhos somente para ter apoio para sentar direto em meu colo, abraçando meu quadril com as pernas, sem parar de me beijar sequer por um instante.

Quando ele recua suavemente e sua boca se afasta por milímetros, eu sou automaticamente atraído, levado a alcançá-lo com minha língua que o toca antes que nossos lábios se encaixem novamente.

— Deixa eu trancar a porta — Jimin pede, sussurrando contra minha boca logo antes de estremecer em meus braços quando, sem sua boca para beijar, resolvo beijar seu pescoço.

Primeiro, preciso ponderar se é boa ideia trancar a porta — porque minha mãe já deve ter voltado do mercado e essa combinação dela em casa, eu beijando Jimin loucamente e para o que os beijos podem evoluir dentro dessas paredes finas do cacete... não sei. Não parece seguro.

Mas eu quero.

Antes que eu decida arriscar ouvir grito depois, a porta do quarto é completamente escancarada, de forma tão violenta que eu nem preciso abrir os olhos para saber quem é.

Ainda assim, recuo de imediato, me afastando do pescoço de Jimin para encontrar a imagem de Jeon Ga-eul com a maior cara de doida.

— Estão achando que eu vou fazer tudo nessa casa enquanto vocês ficam aí de namorico?! Vão guardar as compras!

— Estamos ocupados — Sabe deus de onde eu arranjo coragem para dizer.

Para piorar, ainda estou com os braços agarrados a Jimin enquanto ele continua em meu colo, mas tenta desastrosamente se livrar de mim para sentar na cama, morto de vergonha.

E, antes que consiga, minha mãe já se aproximou na velocidade da luz para estalar um tapão na minha cabeça.

Nisso, nada de novo. Apenas mais um dia comum na família Jeon, que parece aficionada por coqueteis molotov e por dar tapões na cabeça alheia.

A surpresa é o que impede a concretização de um momento tão previsível.

Não sei se é por convivência ou por puro reflexo, mas Jimin facilmente percebe a intenção da própria sogra e volta a me abraçar, em meio ao súbito riso, para me proteger do tabefe.

— O que você está fazendo, Park Jimin? — Minha mãe pergunta, ultrajada.

— Não bate no pobrezinho, tia. Nós já vamos arrumar as compras.

Ela recua, com o olhar desconfiado, e me lança uma expressão de aviso.

Andem logo. — Ela decide, então, e começa a sair do quarto.

Antes de ir definitivamente, no entanto, parece se lembrar de algo e se aproxima novamente. Ainda com a expressão carrancuda, questiona:

— Sua família comemora natal, Jimin?

— Não... não é um costume nosso, não.

— Ótimo. Então passe o natal aqui em casa.

— Nós também mal comemoramos natal, mãe, pelo amor de deus...

— Mas amanhã vamos comemorar, fedorento! Vou aproveitar e te dar um ácido de presente, porque só isso pra dar jeito nesse futum debaixo do seu braço!

— Eu só fico fedendo depois de fazer muito esforço físico! Como quando preciso desentupir a bosta de seu filho!

— Deixe a prisão de ventre de Junghee em paz, Jeon Jungkook. Ele não tem culpa de ter nascido ressecado.

Eu reviro os olhos, mas recebo uma careta tão brava em resposta que logo desisto e fico quieto, enquanto Jimin obviamente contém o riso.

— Hm... Tia? Sobre amanhã... foi um convite ou uma intimação?

— Convite, querido. — Ela diz.

— Intimação. — Eu corrijo, arriscando minha própria vida.

— Ok... tanto faz, na verdade. Eu estarei aqui, sim. Vai ser uma honra comemorar o natal com vocês.

Finalmente, a expressão de minha mãe suaviza e ela sorri para Jimin. Quando tudo parece estar na maior paz, ela começa a se aproximar novamente, tão sonsa que sequer percebemos sua intenção e, assim, somos os dois pegos de surpresa por um tapa na cabeça de cada.

— Agora andem! Vão arrumar as compras!

Jimin explode em uma gargalhada sincera, enquanto eu massageio a cabeça dele, exatamente no lugar em que minha mãe acertou a mão.

— Velha doida. — Resmungo, apesar de perceber que ele não se importou mesmo.

— Ela é maravilhosa. — E ainda tem o disparate de dizer.

— Você é outro doido.

Eu reviro os olhos, dessa vez com vontade. Jimin ri ainda mais, aproximando-se para me roubar um selinho rápido logo antes de começar a se afastar.

— Vem logo, Jungkook-ssi. Vamos arrumar as compras. — Antes de ficar de pé, ele para, me olha, e com a maior cara de pau, pergunta: — Será que essa simples tarefa é esforço o suficiente para deixar seu sovaco fedendo ainda mais?

— Meu deus! — Eu esbravejo. Só por garantia, verifico o cheiro na maior indiscrição, antes de dizer com mais convicção: — Eu não estou fedendo!

— Se você diz...

— Quer ver?! — Insisto, aproximando-me com o braço erguido. — Cheira aqui!

— Jungkook! — Jimin explode em uma nova risada. Os olhos se perdem completamente detrás das pálpebras que se fecham involuntariamente e ele apoia as mãos pequenas em meu peito, sem me afastar. — Tira seu sovaco da minha cara!

Eu recuo, também já aproveitando para ficar de pé e arrumar minha blusa velha. Daqui, olho para Jimin, quase passando mal de tanto rir na cama, e preciso me esforçar muito para não me derreter inteiro pela cena.

Com ainda mais esforço, digo:

— Fedendo... fedendo é o cacete!

E, sem mais o que dizer e sem mais força para não me desmanchar, rendido pelo riso sincero e gostoso que faz seu rosto lindo ficar ainda mais inacreditável de tão bonito, eu saio do quarto.

Viajo diretamente à cozinha, onde encontro a mesa cheia de sacolas do supermercado e Junghee guardando a louça seca de mais cedo.

Eu nem digo nada para ele, que me encara com esses olhões curiosos, acho que doido para perguntar se está tudo bem entre eu e Jimin.

Mas nem preciso responder. Porque enquanto eu me pergunto se minha mãe trouxe o supermercado inteiro para casa, Jimin finalmente chega na cozinha e envolve meu corpo por trás, encaixando-me em um abraço quente, gostoso e confortável, mas que também faz meu coração acelerar quando ele deita o queixo em meu ombro e suavemente beija meu pescoço.

Depois de fungar minha pele, ele me dá mais um beijo e, com a boca em mim, sinto seu sorriso.

— Foi brincadeira, gracinha. — Enfim, ele confessa. — Você é cheiroso demais.

— Eu sei.

— Sabe? — Questiona, com um riso óbvio detrás da voz, quando também me abraça com mais força. Com a voz mais baixa, ele questiona, em um segredo só nosso: — E sabe também que eu te amo?

Acho que esse é meu ponto fraco.

Eu apoio minha mão sobre seus braços envolvendo minha barriga. Olho para ele por cima do ombro, deixando nossos rostos dolorosamente próximos. E, com a voz tão baixa quanto a dele e a vergonha me consumindo, respondo:

— Quanto você ama?

Jimin sorri. Mais uma vez, os olhos se perdem. Acho que ele não consegue enxergar direito quando sorri assim, então não vê meu rosto avermelhado, nem meu olhar devoto.

E mesmo sem ver, ele diz:

— Eu te amo tanto que dói, amor.

É.

Ainda bem que eu nem pensei em negar que estou completamente rendido por esse cara, porque estou.

E essa é, provavelmente, uma das melhores sensações que já tive o prazer de experimentar.

Eu viro meu rosto um pouco mais, até alcançar sua boca. Deixo, nela, um beijo suave que substitui todas as palavras que não consigo dizer.

Quando abro meus olhos, Jimin esconde todo o rosto em meu pescoço, sempre abraçado às minhas costas, e eu vejo Junghee deixar o pano de prato no gancho antes de sair da cozinha de fininho, contendo o próprio sorriso.

Lá vai ele fofocar com Taehyung, certeza.

E aqui estou eu sentindo Park Jimin bagunçar meu coração.

No silêncio da cozinha, nós ficamos assim por mais alguns longos instantes. Aproveitamos o abraço, o calor um do outro, a chance de matar a saudade que ainda existe mesmo que estejamos juntos há mais de uma hora.

Quando ele finalmente recua, eu me viro. De frente para ele, troco mais alguns selinhos com meu, oficialmente, namorado.

É só depois de muito toque, muito beijo suave e muito abraço, coisas essas que nunca imaginei que seriam capazes de me render tanto, que começamos a arrumar cada compra.

Já habituado com nossa cozinha, Jimin não tem muitas dúvidas sobre onde guardar cada coisa, então não temos muitos atrasos — se eu desconsiderar todos os instantes nos quais secretamente parei para observá-lo, todo concentrado, com os olhos pequenos franzidos e as bochechas gordas acompanhando suas expressões enquanto tentava lembrar onde guardar alguma coisa.

Eu fico meio hipnotizado mesmo, acho que é impossível negar.

Seja na cozinha ou de volta ao quarto, a cada instante eu olho para Jimin e penso: cacete.

Que sorte do inferno eu tenho.

— E agora? — Mais uma vez em minha cama, abraçados, ele pergunta. — Você continua todo carente. Ainda é arrependimento ou saudade?

Eu inspiro furiosamente, logo afrouxando o abraço ao redor de seu corpo para rolar para o lado e, meio encafifado, dizer:

— Achei que você gostava. Não abraço mais.

Jimin aperta os lábios para esconder o sorriso, mas não demora muito para que ele se aproxime até deitar com a cabeça em meu peito, envolvendo meu corpo com o braço e a perna.

— Eu amo. Foi brincadeira, gracinha, deixa de ser chato e me dê mais carinho.

Eu suspiro, inevitavelmente caindo na risada ao precisar de pouco esforço para puxar o corpo de Jimin mais para cima, até deixar sua bochecha vulnerável a um beijo que não consigo conter.

É deliciosa a sensação de minha boca afundando na pele macia da bochecha gorda, pressionando-a e abraçando o corpo dele com força até arrancar um riso tão delicioso quanto.

Mas, apesar do meu desejo de continuar beijando-o incansavelmente, preciso me forçar a parar para dizer:

— Sabe o que nós deveríamos fazer?

— O que, Jungkook-ssi?

— Comprar sua passagem para Seul.

Jimin se afasta de imediato, com horror nos olhos e na voz ao questionar:

— Eu só fiz uma brincadeira e você quer me mandar para o outro lado do país?!

Eu reviro os olhos sem sutileza alguma, segurando-o cuidadosamente pelos braços para que se sente junto comigo. Sentado frente a frente com ele, então, eu começo a estalar meus dedos para aliviar o estresse, ao explicar:

— Suas passagens para a última etapa da seleção da Academia de dança, Ji. Nós deveríamos comprar logo.

Ele inspira profundamente, deslizando os dedos entre os cabelos escuros antes de assentir, ainda parecendo incerto.

Mesmo assim, decide:

— Vou fazer isso agora. Me empresta seu notebook?

Saber que Jimin pode ir embora a qualquer momento é algo que não me causa qualquer sentimento alegre, mas eu não hesito sequer por um segundo antes de fazer o que ele me pede.

Logo, estou sentado ao seu lado, observando a tela do notebook enquanto ele usa o buscador de passagens para selecionar o dia de ida e de volta.

— Dia vinte e nove? — Eu pergunto, ao vê-lo selecionar a primeira data. — Você vai passar a virada de ano sozinho em Seul?

— Eu disse que precisaria ir alguns dias antes, se decidisse ir... Conhecerei o palco no dia trinta, — Ele diz. Depois, seleciona a data de volta: — dois de janeiro me apresento. Dia três faço a última entrevista. Deixarei o dia quatro para qualquer imprevisto e volto dia cinco de janeiro.

— Então oito dias.

— Matemática rápida — Ele aponta, com um sorriso bobo e ao mesmo tempo gentil. — Meu gênio dos números.

Eu apenas ofereço um sorriso fraco, sem esquivar quando Jimin me segura o rosto para deixar um beijo em minha bochecha antes de voltar a atenção ao notebook.

No site da companhia aérea, ele reserva o assento de ida e volta em vôos diretos. Antes de confirmar o pagamento com o cartão que tira da carteira, no entanto, eu o percebo hesitando por alguns instantes, antes de enfim concluir a compra como quem faz um esforço colossal.

— Feito. — Diz, junto a um suspiro. — Irei para Seul.

Eu umedeço meus lábios. Parte de mim sente alívio por Jimin desistir da ideia de abrir mão da Academia por minha causa, mas eu não posso negar que também sinto pontadas intensas de angústia.

— Então — Começo a ponderar.

Me perco no caminho, levado a longos instantes de silêncio, antes de enfim questionar:

— Namoro à distância?

Jimin fecha a tela do notebook, esticando-se para deixá-lo na mesa de cabeceira antes de arrumar a postura e expulsar o ar demoradamente.

— Quem sabe? Talvez. Eu preciso ser aprovado, primeiro.

— É claro que você vai ser aprovado, Ji. Sua dança é a coisa mais linda que já vi. Depois de você.

Ele arqueia as sobrancelhas em um gesto de implicância antes de questionar:

— Você me acha mesmo tão bonito assim quanto sempre diz?

— Mais bonito que o Teorema da Projeção em Espaços de Hilbert.

Eu respiro fundo. É meu teorema favorito. Eu realmente vejo beleza quando olho para ele, mas não tanta quanto vejo em Jimin.

Jimin é mais... complexo em toda a sua simplicidade.

— Como a equação da relatividade. — Decidi. — Você é bonito como ela.

Os olhos de Jimin se arregalam antes que, pouco a pouco, ele caia em uma risada intensa.

— Essa é mesmo sua melhor cantada, não é, gracinha?

— É a primeira vez que digo isso para alguém.

O riso de Jimin perde força e se ancora em um sorriso, ao que ele concorda.

— É... obrigado. Você também é bonito como ela. Você é uma gracinha.

— Valeu.

Jimin continua sorrindo, acariciando-me com o olhar manso até que respira fundo e decide retomar nossa conversa anterior:

— Mas você elogiou minha dança, Jungkook-ssi. Você lembra dela?

Eu aperto meus ombros em uma primeira resposta esquiva. Depois, confesso:

— Te vi dançar antes de vinte e um de outubro, então lembro. Mas... não sei. Acho que de alguma forma lembro do que vi nos dois últimos meses também.

Ele sorri com paciência, acariciando meu tornozelo, deslizando os dedos por minha pele antes de deslizar os olhos dali até voltar a encontrar meu olhar. Neste momento, pergunta:

— Eu tenho alguns vídeos de ensaios recentes... você quer ver?

Jimin parece fazer a sugestão com algum receio, exatamente como eu me sinto quando sugiro algo que sinto que será dolorosamente rejeitado, de tão besta. No entanto, não há qualquer possibilidade de negar a oportunidade de ver Jimin dançando, mesmo que seja pela tela pequena de um celular.

Então, decididamente peço:

— Mostra.

Ele parece aliviado e, além disso, genuinamente feliz.

Logo, nós nos movemos sobre a cama até sentarmos lado a lado com as costas apoiadas na parede, ambos segurando o celular para posicioná-lo bem quando, enfim, o primeiro vídeo tem início.

Nos instantes seguintes, nós ficamos calados em uma atmosfera confortável, entrecortada somente pelo som da música que guia, mas na verdade parece ser guiada, os movimentos de Jimin na filmagem.

Depois do primeiro, vemos o segundo. Antes do terceiro, eu escorrego com as costas contra a parede até estar na altura certa para deitar minha cabeça no ombro dele.

Quando o vídeo de número três é iniciado, eu logo sou tomado por uma sensação de familiaridade ao ver a posição inicial de Jimin sob os primeiros acordes da música que, na sequência, acompanha sua performance que parece dar vida a um cisne.

Jimin faz arte com o corpo inteiro. E ele faz meu coração doer somente de pensar que, para explorar ainda mais dessa arte, ele precisa ficar longe de mim.

Subitamente, sinto-me tão melancólico quanto o animal que ele encena na dança. E, levado pelo sentimento que foge em palavras, digo:

— Eu vou sentir sua falta, Ji.

Ele deita a cabeça na minha. Sem dizer nada, deixa o celular apenas em minha mão para usar a sua para acariciar a lateral de meu rosto, momento no qual sou quase instintivamente levado a fechar meus olhos e buscar seu pulso com minha boca, até beijá-lo sobre as cicatrizes.

— Eu realmente vou sentir sua falta, Jimin.

Mais silêncio. Parece levar uma infinidade até que ele tire o celular de minha mão e deixe-o sobre a cama antes de gentilmente deitar o corpo, puxando o meu junto até que eu deite com a cabeça em seu peito, que abriga o coração que ouço bater acelerado.

Ele me abraça forte, o que faz parecer ainda mais sincero quando diz:

— E eu ainda nem fui e já estou com saudades de você, Jungkook.

Eu respiro lentamente, inspirando e expirando à medida que reúno coragem para perguntar:

— Como exatamente vai ser se você for embora, Jimin? Nós vamos — Pausa. Uma longa pausa, antes de enfim questionar de uma vez: — ficar com outras pessoas?

— Um relacionamento aberto?

— Sim...

— É o que você quer?

Eu não respondo de imediato, apesar de saber bem qual a minha resposta. Diante do meu silêncio, Jimin é mais rápido:

— Eu não quero, Jungkook.

Finalmente, eu ergo parte de meu corpo, ainda deitado sobre ele, e uso meu punho para sustentar meu rosto acima. E, daqui, revelo:

— Eu também não quero.

— Acho que isso está decidido, então...

Eu aceno, pensativo, logo antes de rolar para o lado e ocupar o restante do espaço da cama de solteiro. Com os olhos mirados no teto de meu quarto, absorvo os instantes seguintes de silêncio antes de verbalizar a dúvida que, em meus pensamentos, surge:

— Nas memórias que parecem mais recentes para mim... você estava com aquele cara do meu departamento, Jinhei... não estava?

— Mais ou menos. Mas, simplificando, estava.

Eu desvio meu olhar até ele, ponderando por mais alguns segundos.

— Você ainda estava com ele quando nós começamos a...?

— Eu parei de me envolver com ele e com qualquer outra pessoa muito antes de poder te beijar pela primeira vez, Jungkook.

— Ah.

Eu volto a olhar para o teto. Acho que, de certa forma, estou aliviado, porque é um pouco incômodo lembrar de Jimin com aquele cara como se fosse um passado muito recente. No entanto, é assim que me sinto, com a memória toda bagunçada.

— Você é bonito e inteligente demais para aquele babaca — De repente, digo.

Jimin ri suavemente, virando-se até deitar com o rosto virado para o meu. Quando ganha minha atenção, como se precisasse se esforçar para isso, ele diz:

— É... esqueci que você não se lembraria disso também...

— De que?

— De como eu sou apaixonado por você há três anos, amor...

Meus olhos se arregalam. De fato, é como se ouvisse a revelação pela primeira vez. E, em choque, quase ordeno:

— Me conta isso direito, Ji.

Ele inspira profundamente, como quem se prepara para contar uma grande história. E, na sequência, é exatamente o que faz.

Eu, como ouvinte, entrego toda a minha atenção a Jimin, aos seus relatos da primeira vez que me viu na MoonMoon, depois de quando percebeu o que sentia por mim, quando eu parei de ir à lanchonete e segue contando sobre como se sentiu quando me reencontrou, tempos depois, na Hangsang.

— Você vai dormir aqui? — Eu pergunto depois de todos os relatos e várias outras conversas no quarto, durante o jantar e depois no sofá, com minha família.

Agora, Jimin está sentado em minha cama enquanto eu, caminhando pelo quarto, paro diante do meu armário. Ele, sem olhar para mim por estar ocupado demais acariciando a coelha que se acomoda em seu colo, questiona:

— Quer que eu durma?

Sem resposta verbal, eu abro as portas do guarda-roupa e, daqui, tiro um par de roupas mais confortáveis antes de seguir de volta até Jimin. Quando paro na frente dele, finalmente sou olhado de volta, e é então que estendo as roupas para ele.

— Aqui. Vai ser desconfortável dormir com as roupas que você está vestindo.

Ele sorri, facilmente entendendo a resposta óbvia por trás de meu comentário, e cuidadosamente deixa Jungoo na cama antes de ficar de pé.

— Obrigado, gracinha.

Eu, já pronto para dormir, ocupo o lugar antes ocupado por ele e vejo que a coelha gorda facilmente vem para meu colo.

— Ei, xará... — Digo, acariciando o corpo peludo antes de erguer meus olhos na direção de Jimin.

Com toda a mania de organização, ele pacientemente tira e dobra cada peça de roupa que vestia antes. Por um momento, seu tronco tatuado fica completamente exposto. Então ele veste meu moletom. Depois, suas pernas tão tatuadas quanto se exibem para mim, mas apenas até serem novamente recobertas por uma calça minha.

Com a barra da calça de pano arrastando no chão e as mangas do casaco engolindo suas mãos, Jimin volta para mim.

Eu toco seu braço com cuidado quando ele se inclina para me deixar apenas um beijo suave antes de se esquivar de meu corpo para deitar na cama.

— Apaga a luz, amor?

Sem pensar em negar, eu carrego Jungoo comigo até o interruptor antes de também carregá-la comigo de volta à cama, na escuridão do quarto à noite.

Quando deito para dividir o espaço limitado da cama com Jimin, ele puxa a coberta para nos proteger e, entre nós, Jungoo acaba protegida também.

— Está quentinho aqui, filha? — Jimin pergunta, delicado, ao acariciá-la levemente.

A coelha se aproxima do rosto dele, curiosamente deslizando o nariz pela face bonita de meu namorado e, assim, fazendo-o rir antes que ele se derreta inteiro e puxe o corpinho gordo até enchê-lo de beijos, o que logo é respondido com um bater de patas irritado.

— Que saudade de você, meu amor... — Desta vez, é para ela que declara sua saudade.

Eu apenas me acomodo melhor sob a coberta, observando-os à medida que me adapto ao escuro e percebo que, mesmo com as demonstrações de impaciência, Jungoo não sai de perto dele.

Com um suspiro carregado, preparo o terreno para a minha percepção verbalizada:

— Você também precisou dela, não foi?

Jimin me olha, curioso, mas sempre acariciando a própria coelha. Quando percebo sua confusão, explico:

— Você deixou Jungoo aqui para que ela cuidasse de mim. Você disse que ela é boa em cuidar de nós dois. Mas os últimos dias também foram difíceis para você, Ji... então você também precisou dela, não é? Esse tempo todo...

Ele volta a olhar para a impaciente bola de pelos que, sabe deus como, cativou todos nós sem esforço algum.

— Eu senti saudade dela — Confessa, enfim, com a voz baixa. — Mas não me arrependo de ter deixado vocês dois cuidando um do outro, Jungkook.

— Não?

— Não... apesar de perceber que ela parece mais pesada. Você deu mais comida do que deveria, não foi? Não resistiu à fofura dela.

— Eu dei as quantidades certas!

— É muito óbvio que não deu — Ele aponta, risonho. — Quem diria que você seria o pai frouxo...

— Não sou! É minha mãe, Jimin. Aquela doida não pode ver Jungoo aparecer na cozinha que já dá um monte de fruta e verdura. Jungoo percebeu, então começou a ir o tempo todo. Não fui eu!

Jimin ri genuinamente, deixando mais um beijo na coelha antes de me puxar mais para perto, quase fazendo sanduíche de Jungoo.

Aí, ele me beija também, no pescoço, e deita a testa contra meu peito enquanto envolve meu corpo com o braço.

Aqui, diz:

— Eu sou muito sortudo por ter vocês dois, sabia?

— Um namorado desmemoriado e uma coelha que morde mais que tudo?

— Sim. O mais sortudo do mundo exatamente por ter vocês, exatamente como são.

Eu sorrio em silêncio, então me aproximando ainda mais, tanto quanto possível sem esmagar Jungoo. E, fazendo questão de verbalizar, digo:

— Nós que somos sortudos por termos você, Ji.

Em resposta, Jimin não faz nada além de me abraçar mais forte, e acho que isso é o suficiente.

Sem novas conversas, depois de tantas delas ao longo de todo o dia, nós aceitamos o silêncio enquanto dividimos uma cama tão pequena entre três.

É assim, sem grandes expectativas, que o dia de natal chega.

Nunca foi uma data de grandes comemorações na minha família, então eu não tenho em mente que será um dia muito diferente dos últimos. E, assim, arrasto os meus pés em direção à cozinha, preguiçoso, enquanto Jimin me abraça pelas costas, com a cabeça deitada contra o meu ombro, acho que até pensando em cochilar.

Mas enfim chegamos ao cômodo para a primeira refeição do dia, e já de cara tenho a primeira surpresa ao encontrar a mesa farta, cheia de comidas que parecem ter sido cuidadosamente feitas.

— O que rolou aqui?

Minha mãe me olha ao ouvir o meu questionamento surpreso, enquanto Jimin, por cima de meu ombro, admira a mesma coisa que me causa estranhamento.

— Tia, quanta coisa gostosa...

— Que gostosa o que, pelo amor de deus, Jimin? Você ainda nem provou.

— Shh. — Ele sussurra para mim, ainda com o rosto todo amassado de sono.

Enquanto isso, minha mãe dá fim à beleza de toda essa fartura na mesa ao cobrir tudo com os panos de prato velhos de casa.

— Vamos ter o nosso café da manhã de natal em família.

— Não deveria ter sido a ceia...?

— Minha casa, minhas regras, fedorento.

Eu reviro os olhos, enquanto Jimin abafa a risada contra a minha pele, com as mãos pequenas repousadas em minha barriga enquanto continuamente me abraça.

— Andem — Minha mãe diz, como se não devêssemos estar aqui. — Vão lavar o rosto, tirar a nhaca de sono, botar uma roupinha bonitinha... se arrumem!

— Pelo amor de deus — Eu faço pouco caso, aproximando-me para puxar uma das cadeiras para sentar, mas levo o maior tapa na mão ao tocá-la. — Ei!

— Se arrumem! Eu vou buscar Taehyung enquanto isso e nós vamos ter o nosso café da manhã todos juntos.

— O moleque folgado vem também?! Isso aqui virou pensão, foi?!

Jeon. — A repreensão é feita, simultaneamente, por minha mãe e por Jimin.

— Ele gosta de natal, mas aquela família fajuta não liga para o coitado, então ele vai passar um bom natal com uma boa família, sim! Vão se arrumar!

A menção da negligência sofrida por Taehyung me faz ficar calado, subitamente obediente e tendencioso a sair daqui e me arrumar, como Ga-eul tanto parece querer.

No entanto, a campainha de casa toca antes que eu saia do lugar e Junghee passa correndo do quarto para a sala como um furacão.

— Tae! — Ele diz, em simultâneo tom de repreensão e alegria ao ver o amigo ali do lado de fora, todo embrulhado em camadas grossas de agasalho no frio cruel de dezembro.

— Oi, Hee.

— A gente ia te pegar em casa! — Meu irmão continua com o tom de bronca, puxando Taehyung para dentro antes de fechar a porta rapidamente. — Seu doido!

— Não quis dar trabalho, Hee... eu vim de ônibus mesmo.

— Meu deus, Taehyung — É minha mãe quem resmunga, já caminhando em direção a ele para deslizar as mãos no topo do boné virado para trás e nos ombros do bandido, livrando-o dos floquinhos de neve. Enquanto isso, ele sorri, também meio roxo de frio, mas todo feliz com as mãos brutas de minha mãe cuidando dele.

— Bom dia, tia. Obrigado. Bom dia, Jungkook-ssi e Jimin-ssi!

Quando Taehyung tira os sapatos, parte do agasalho e a mochila, deixando-os na entrada, logo é escoltado por minha mãe e Junghee, que o trazem à cozinha.

— Ainda bem que eu fiz chocolate quente — Minha mãe diz, ajudando-o a sentar na cadeira.

Não que ela o faça com delicadeza. Acho que já está claro que eu herdei a cavalice dela.

— Deve estar morrendo de frio, coitadinho... — E continua paparicando-o, servindo uma caneca com chocolate quente. — Aqui, Tae. Segure com as duas mãos para se aquecer mais rápido.

Ele continua sorrindo, todo agradecido e todo feliz.

— Enfim... — Eu suspiro, de repente, segurando a mão de Jimin para puxá-lo comigo. — Enquanto o orelhudo descongela aí, vamos nos arrumar.

— Não. — Minha mãe diz. E tem quem duvide quando eu digo que é doida. — Tarde demais. Agora vão tomar nosso café da manhã de natal assim, imundos de sono.

— A senhora acha que a gente dormiu em um chiqueiro ou o que?!

— Pois por mim podem até ter dormido, não importa mais. Sentem.

Eu reviro os olhos, ainda puxando Jimin, mas dessa vez em direção à mesa que permanentemente tem uma cadeira a mais.

Quando minha mãe começa a tirar os panos de cima da comida, no entanto, o sexto elemento do nosso caos familiar aparece, saltando com as quatro patas cozinha adentro, colorindo o chão com seus pelos pretos e brancos.

— Olha a nossa fedorenta — Minha mãe diz, com o rosto subitamente iluminado por um sorriso.

Eu me recosto na cadeira com os braços cruzados, enquanto Jimin apoia o queixo sobre o punho e sorri discretamente para a cena que, agora, é composta por minha mãe pegando uma das vasilhas fechadas sobre a mesa.

Depois de deixar a tampa de lado, ela se abaixa e agita o pote para Jungoo, até que a coelha se aproxima, cheira o combinado de frutas e legumes cortados e começa a comer sem dó.

— Achou que eu ia esquecer de você? — Ainda ouço minha mãe questionar, acariciando a orelhuda. — Feliz natal, princesinha.

Ainda com o queixo descansando sobre o punho, Jimin gira o rosto suavemente para mim, o que é o suficiente para que, silenciosamente, sejam compartilhados risos discretos entre nós.

Antes que minha mãe vire em nossa direção, no entanto, nós disfarçamos a vontade de rir e ficamos calados enquanto ela se acomoda. Só então, enquanto todos esperamos cheios de ansiedade, ela diz:

— Tudo com cara de fome. Podem comer.

Ela não precisa dizer duas vezes. Em pouquíssimos instantes, nós começamos a nos servir, eventualmente brigando por um pedaço de rolinho de omelete ou por uma berinjela empanada, muitas vezes pelo simples prazer de brigar, porque comida tem demais.

Depois do caos contido por reclamações constantes da minha mãe durante toda a refeição, chega ela, a hora menos desejada.

A de limpar a louça.

E é claro que, por ter feito toda a comida sozinha, minha mãe simplesmente levantou, pegou Jungoo no colo (e finalmente aprendeu a segurá-la do jeito certo) e saiu da cozinha.

— Eu lavo a louça com Jungkook — Jimin define, já ciente do que a saída silenciosa de minha mãe significa. — Vocês dois guardam o que sobrou da comida, limpam a mesa e depois secam e guardam o que já estiver lavado.

— Essa divisão parece injusta, Jimin-ssi! Por que nós temos que fazer mais coisas?!

— Porque nós somos mais velhos. — Eu que respondo, já de pé diante da pia.

— Mãe! — Junghee grita, o dedo duro.

— Não quero saber! — Ela grita de volta. — Se virem!

Quando Jimin me passa as primeiras cumbucas para lavar, junto lança uma piscadela cúmplice para mim.

Enquanto isso, em minhas costas, os dois moleques seguem reclamando furiosamente. Até ouço Junghee dizer, todo emburrado:

— Viu?! Eu disse que não tem isso de espírito natalino nessa casa!

É claro que nem mesmo a barriga cheia nos livra de novas discussões que não chegam a lugar algum, porque tudo continua exatamente do mesmo jeito que foi definido inicialmente e, assim, eu e Jimin acabamos nossas tarefas primeiro e, de barriga cheia, nos arrastamos até a sala, onde dividimos o sofá com minha mãe e Jungoo.

Uma coisa sobre a coelha mal humorada aliás: ela lasca aqueles dentes em todo mundo, menos em Jeon Ga-eul.

Parecem parceiras de crime.

— Quando é que vocês vão parar de usar a idade para irritar os dois coitados? — E, com um olhar que mal esconde o quanto quer rir, minha mãe pergunta.

— Eu não faço isso, tia. Jungkook que faz.

— Deixe de ser sonso, Jimin. Ficou assim depois que começou a namorar o fedorento, foi?

A risada de Jimin é previsível, assim como é a sua falta de incômodo. De mesma maneira, é completamente previsível a carranca de Junghee quando ele finalmente sai da cozinha, furioso e de braços cruzados.

— Sabia que sua cabeçona parece ainda maior quando você cruza os braços assim?

A expressão furiosa apenas ganha força e um grunhido quando ele corre para pegar uma almofada e jogá-la em minha direção.

— Mas será possível que não se tem um dia de paz nessa casa?! — Minha mãe questiona, empurrando minha perna para longe quando eu a estico para chutar o moleque.

— Jungkook hyung que não deixa!

— Não deixo o que, bandido? Você que fica de cara feia!

— Meu deus — Jimin resmunga, mas é muito óbvio que está contendo o riso. — Quem vê assim nem pensa que você é tão bobo por seu irmão que tatuou até a data de nascimento dele antes de tatuar qualquer outra coisa...

— Erros do passado. Vou tirar essa merda com laser.

— Tire mesmo! — Junghee diz, novamente emputecido.

— Tá bom! — Moleque-ssi surge do nada, atravessando a casa em direção à porta. — Esse aí é tão bobo por Jungkook-ssi quanto Jungkook-ssi por ele. Já disse mil vezes que a primeira tatuagem que vai fazer é a data de nascimento do hyung também!

— Tae! Não espalha!

O bandido do orelhão e do boné virado para trás apenas dá uma risadinha, enquanto Junghee tem a cara de pau de me empurrar para o lado para conseguir sentar perto de nossa mãe.

Com quatro pessoas e uma coelha dividindo um sofá no qual mal cabem três, nós nos tornamos plateia de Taehyung quando ele volta a caminhar em nossa direção, agora com a mochila.

— Qual foi, bandido? — Eu pergunto, desconfiado, quando ele para de pé em nossa frente.

Depois de respirar fundo, sob todos os nossos olhares curiosos, ele se abaixa e, com a mochila no chão, abre o zíper do bolso maior. Dali, ele tira quatro embalagens de presente, todas fechadas cuidadosamente com laços coloridos, e então vem em nossa direção e entrega um para cada.

Só então diz:

— Feliz natal.

Nós todos olhamos para os presentes que temos em mãos, depois para o moleque-ssi, e ele sorri com um pouco de vergonha:

— É besteira. Eu juntei dinheiro por um tempão, mas ainda assim não foi muito, então não consegui comprar nada melhor...

Eu olho para ele por mais alguns instantes, enquanto todo mundo continua meio sem reação. Ao fim, desço meus olhos ao presente e desfaço o laço para revelar que o embrulho guardava uma caneca pequena de porcelana. E, dentro da caneca, vejo um pequeno recado escrito à mão, que parece ter sido colocado também nas canecas dos outros três.

Curioso, eu pego o pedaço de papel cuidadosamente dobrado e leio:

"Obrigado por cuidarem de mim. Eu sou muito mais feliz desde que conheci vocês!"

Enfim, eu retiro a caneca completamente do embrulho e vejo que ela é toda branca, sem qualquer estampa... nada. Nada além de uma única palavra, a mesma das canecas de Jimin, Junghee e de minha mãe.

Família.

— Tae... — Junghee chama, já sem raiva alguma. Agora, ele parece unicamente emocionado.

Moleque-ssi coça a nuca, todo desajeitado, e é completamente pego de surpresa quando, depois de deixar o presente no sofá, meu irmão fica de pé e caminha até o orelhudo, abraçando-o forte.

— Você também me faz muito feliz, Tae...

Ele abraça Junghee. Assim, permanecem por longos instantes, durante os quais ficamos quietos em respeito.

É, até eu sei quando calar a boca.

Às vezes.

E é especialmente difícil não começar a encher o saco quando eles se olham, sorriem um para o outro e, pela segunda vez que eu saiba, trocam um selinho demorado.

Eu olho para minha mãe para avaliar a reação dela, mas tudo o que ela faz é continuar sorrindo gentilmente até que, com os rostos vermelhos, Taehyung e Junghee se afastam um do outro. Quando isso acontece, ela fica de pé e também vai até o orelhudo, beijando-o carinhosamente no topo da cabeça antes de abraçá-lo com o carinho maternal que já conheço tão bem.

— Meu bebê... — Ela diz, então. — Bem vindo à família.

Taehyung sorri para ela, mas logo a abraça, de olhos fechados e queixo apoiado no ombro estreito de minha mãe.

Jimin respira profundamente. Ao fim, olha para mim, deixa um beijo na minha bochecha e fica de pé.

— Já volto. — É a única coisa que diz, antes de seguir à porta.

Deixando-a aberta, eu vejo quando ele segue até Pandora e, da mala, tira uma única sacola de papel. Em seguida, volta para dentro de casa e fecha a porta antes de tirar os sapatos mais uma vez.

— Já que os primeiros presentes foram dados... Eu também trouxe presentes para a família toda. — Jimin anuncia, então, voltando a sentar no sofá.

— Pra mim também, Jimin-ssi?!

Para a família toda, Tae. Claro que trouxe para você também.

O sorriso do bandido cresce novamente, e Jimin apoia a sacola grande no colo, preparando-se para tirar os itens dali depois de perguntar:

— Quem quer primeiro?

— Eu sou seu namorado — Resmungo. — Você nem deveria perguntar isso.

— Certo. Minha sogra, então. Aqui, tia.

Eu reviro os olhos, cruzando os braços com a maior cara de merda do mundo quando vejo que sou deixado por último.

Mas ele nem me dá nada. Apenas me olha com as sobrancelhas arqueadas e diz:

— Seu presente eu já dei. Esqueceu que Belinda está de volta?

— Ah... — Eu murmuro, meio sem jeito. — Sim. Foi mal.

Jimin continua sério por mais alguns instantes, mas acaba rindo e, quando achei que mais nada sairia da sacola, ele tira dali um último embrulho.

— Brincadeira. Meu amor merece mais um presente.

Já todo encabulado, eu ainda hesito antes aceitar o presente. Antes de abri-lo, no entanto, vejo o escândalo de Junghee quando ele abre o que ganhou.

— Jimin hyung! Eu não acredito! — Ele diz, todo hipnotizado pelo kit de canetas de desenho que tem nas mãos. — Eu não acredito!

— Gostou?

— Muito! Muito mesmo! Obrigado! Eu vou te fazer um desenho bem bonito com elas!

— Eu amei o meu! — Taehyung vira para trás, depois de analisar o próprio reflexo na tela apagada da TV, avaliando o boné novo que ganhou e já colocou no lugar do antigo. — É roxo!

— Ficou muito bonito em você, Tae!

— Eu sei, Hee!

Minha mãe olha para eles dois, sorrindo, antes de voltar a sorrir para o novo porta retrato que posiciona ao lado de todos os antigos. Nele, é exibida a foto tirada no aniversário de Junghee, a mesma que ele enviou para o meu celular dias atrás. Agora, ela acompanha todas as outras fotos de família orgulhosamente exibidas ali desde sempre.

Todos eles sorriem, completamente satisfeitos com os próprios presentes, e eu sei que estarei sorrindo também assim que descobrir qual é a segunda parte do meu.

Depois de juntar coragem, eu abro o embrulho e, dele, ergo o que posso chamar de um presente certeiro.

Um moletom novo.

Eu rio ao perceber quão bem Jimin me conhece. E ele ri também, dizendo:

— Já que você só usa moletom não importando a situação... aí mais um. E — Ele diz, apontando para o nome "Tóquio" estampado no tecido grosso. — Em homenagem ao filme ruim que você gosta.

— Podia mandar bordar o nome do filme todo, né, não?

— E ter um namorado que usa um casaco de Desafio em Tóquio? Não, muito obrigado.

Eu reviro os olhos, mas por fim acabo rindo e enfim deito o moletom em minhas pernas.

— Obrigado, Jimin-ssi. E foi mal por não ter nada para te dar em troca.

Ele nega, sem ressentimento algum. Até se aproxima mais, acaricia minha nuca e deixa um beijo carinhoso em minha testa.

— Você aceitou ser meu namorado novamente, Jungkook. Esse já é o melhor presente do mundo.

— Eu já disse que você tem expectativas muito baixas?

— Constantemente, Jungkook-ssi.

— Tão baixas quanto você.

— Vai começar?!

Eu aperto meus lábios para esconder um sorriso, antes de fazer como Taehyung e provar meu presente, que fica folgado na medida certa, exatamente como gosto.

Antes que eu diga qualquer coisa, no entanto, Jimin retoma a fala:

— Aliás, Jungkook-ssi... como meu namorado, tem muita coisa que você pode fazer para me presentear de graça. Como o que fizemos no banho...

Eu arregalo os olhos, imediatamente sentindo o constrangimento e desespero nascerem juntos quando olho ao redor, mas ninguém parece ter ouvido o que ele me disse. Depois, volto a olhá-lo e, com uma risada desacreditada, mas também divertida, acuso:

— Sem noção.

Jimin gargalha intensamente, abraçando-me e me enchendo de beijos no rosto até eu ceder a um riso mais genuíno.

E assim é a primeira comemoração de natal em minha família em anos. Barulhenta, meio desorganizada, com embrulhos de presentes espalhados na sala até que arrumamos tudo e nos arrumamos também.

O restante do dia não é muito diferente. Voltamos a nos reunir no fim de tarde, antes do jantar, para assistir a um filme temático — apesar de minha insistência em assistirmos Desafio em Tóquio, só para deixar todo mundo puto.

Ao longo do filme meio cafona, meio clichê, mas gostoso de assistir, nós finalmente nos calamos. Sem brigas, dessa vez. Apenas cinco pessoas dividindo uma sala de estar pequena, tomando mais chocolate quente em nossas novas canecas enquanto, do lado de fora, neva suavemente.

A neve não dura muitos dias, no entanto. A temperatura eleva alguns graus, apesar de continuar frio feito o cacete, e o show de flocos brancos cessa completamente quando o dia vinte e nove de dezembro chega.

— Eu tenho certeza de que você vai se sair bem, Jimin. — Minha mãe diz, na despedida.

— Obrigado, tia. Espero que dê tudo certo.

— Só é triste que você vai passar a virada de ano sozinho, Jimin hyung... — Junghee diz, todo cabisbaixo.

Meu namorado sorri, mas não com muita felicidade.

— Está tudo bem, Hee. Eu posso fazer chamada de vídeo com vocês, assim não me sinto muito sozinho.

Meu irmão assente, deitado de bruços no sofá, com Jungoo caminhando, curiosa, sobre suas costas.

— Faça isso, querido. Nós vamos cuidar bem da fedorenta até você voltar, certo?

Eu suspiro pesarosamente, porque é óbvio que minha mãe já se acostumou e afeiçoou à presença de Jungoo aqui, mas ela não ficará por muito mais tempo.

Quando Jimin voltar, ela voltará para a própria casa.

E quando Jimin for definitivamente para Seul, ela irá junto.

— Obrigado mesmo, tia. É melhor eu ir. Só vim trazer mais feno para ela e me despedir de vocês.

Minha mãe assente; Junghee acena. Jimin cuidadosamente pega a coelha nos braços, beijando-a suavemente no topo da cabeça.

— Pai volta logo, filha. Comporte-se. Não destrua muito a casa de sua nova avó e não morda muito seu novo pai, nem seu tio, certo?

Curiosa, a coelha de manchinhas pretas estende o rosto, deslizando a ponta do nariz sobre a bochecha de Jimin antes de se agitar, pedindo para ser devolvida ao chão como sempre faz quando fica muito tempo nos braços de alguém.

— É isso, gracinha... — Ele diz, agora em minha frente. — Acho que nos vemos ano que vem, então.

Eu umedeço meus lábios. Sei que Jimin irá voltar antes de ir definitivamente, mas algo me inquieta. Talvez a sensação antecipada de saudades, não sei dizer.

— Você tem que ir até o aeroporto agora? — Junto coragem para perguntar.

— Infelizmente...

Mais hesitação. Ele não finda nossa despedida, tampouco eu o faço.

— Eu posso te levar até lá? — Enfim, sugiro.

Jimin sorri. Parece aliviado, antes de rir desse jeito que faz meu coração dar umas boas cambalhotas.

— Achei que não se ofereceria nunca, Jungkook-ssi...

Tomando sua resposta como positiva, eu começo a recuar pela sala.

— Vou só pegar minha jaqueta.

Então vou e volto, vestindo a jaqueta de couro sobre as camadas de roupa que já me protegem do frio. Com celular e carteira nos bolsos, me aproximo da porta para enfiar meus pés nos coturnos que engolem a barra da minha calça de moletom preta.

— Já volto. — Anuncio para minha mãe e Junghee, que não se surpreendem com a repentina mudança de planos e tudo que fazem é acenar e desejar mais sorte a Jimin.

Do lado de fora de casa, meus olhos pousam em Belinda, que continua no mesmo lugar desde que voltou.

Acho que eu fico nervoso sobre a ideia de pilotá-la novamente depois de sofrer um acidente com ela — o mesmo acidente que me levou meses de memória.

Eu sou verdadeiramente grato a Jimin por ter se esforçado tanto para conseguir recuperá-la e quero montar nela novamente. Acho que conseguirei, mas a hora ainda não chegou.

Assim, apenas escondo minhas mãos nos bolsos da jaqueta de couro sintético e caminho até Pandora, para saltar para o banco do carona enquanto Jimin, com muito mais graciosidade que eu, ocupa o banco do motorista.

Ele olha para mim. Sorri brevemente e, enfim, encaixa a chave na ignição.

Antes mesmo de dar partida, ele questiona:

— Não quer ouvir música?

— Eu escolho?

— Fique à vontade, amor.

Eu dou uma apertada nos meus lábios, pressionando-os um contra o outro, diante do jeito carinhoso de ser chamado com o qual não acho que algum dia conseguirei me acostumar.

Assim, meio desconcertado, eu ligo o som, conecto meu celular a ele e procuro as minhas playlists esquecidas.

— Eu fiz uma playlist para você, não foi? — Questiono, sem muita surpresa, quando vejo "Para meu Jimin" no topo das mais reproduzidas por mim.

— Sim — Ele diz, com um sorriso intenso enquanto dirige pelas ruas frias de Busan. — Você fez, sim, gracinha...

— Quer ouvir essa?

— Sempre. Você ainda não ouviu?

— Não... passei por ela várias vezes, mas... não sei. Acho que fiquei com medo — De ouvir e não sentir nada, minha mente completa.

É estranho pensar que, tão pouco tempo atrás, eu fiz uma playlist para alguém e agora posso ouvir cada uma das músicas dela e sentir... nada. Mas meu medo se prova completamente infundado quando dou início à ordem aleatória e a primeira música começa a ser reproduzida.

Apenas ela nos acompanha nos primeiros minutos, enquanto eu e Jimin ficamos em silêncio sob o sol de uma tarde fria e meu coração se acelera como se memórias completamente borradas, sem forma, voltassem para mim.

Talvez sequer possa chamá-las de memórias. São... sentimentos. Sensações.

Isso. Sensações.

Quando chegamos ao aeroporto, mais uma música da sequência aleatória da playlist que me dispara novas-velhas sensações começa a ser reproduzida. É só Jimin estacionar Pandora em uma vaga livre e os acordes familiares têm início.

Read my mind.

De todas, é a que mais parece intensificar o turbilhão de sentimentos que são retomados a cada canção.

Meu coração dispara completamente, não somente porque essa é uma das minhas músicas favoritas. Ele literalmente dispara.

Meus olhos se comprimem em estranhamento diante da sensação absolutamente intensa provocada por uma única música, minhas sobrancelhas se contraem no centro e minha respiração fica pesada. Ao mesmo tempo, olhando somente para o aparelho de som do carro, eu percebo também que Jimin me olha em silêncio.

Quando lentamente viro meu rosto até olhá-lo de volta, vejo a expectativa em sua ausência de palavras.

— Lembrou de alguma coisa? — Ele pergunta baixo, quase hesitante.

Eu balanço a cabeça para os lados, ainda com a expressão afetada.

Eu não lembrei. E é por isso que a sensação de estranheza parece ainda mais intensa, diante da avalanche emocional provocada sob lembrança nenhuma relacionada a essa música. Os sentimentos simplesmente voltam.

Jimin apenas assente, sem fazer qualquer comentário; sua expectativa, então, vai dando lugar ao que facilmente pode ser interpretado como resignação.

— Eu realmente imaginei que músicas seriam um gatilho forte para despertar memórias... — É a única coisa que pondera, muitos instantes depois, quando a música de The killers vai chegando ao final.

Incapaz de explicar que talvez parte disso esteja acontecendo enquanto ouço Read my mind, eu vejo Jimin enfim sorrir e se inclinar para deixar um beijo em minha bochecha.

— Enfim. É melhor eu me adiantar, gracinha. — Ele diz, e vai se preparando para sair. Eu o acompanho, descendo do banco do carona e ouvindo-o falar enquanto pega a mala e a bolsa de treino no banco traseiro: — Você fica com Pandora, não é? Recoloque o teto se nevar, ok?

— Vou ter que cuidar de todas as suas filhas? — Consigo questionar, com um breve tom de humor.

— Pandora é mais como uma... amiga. Minha única filha é Jungoo. — Ele diz, parando em minha frente. — E você é pai dela também.

Eu simplesmente sorrio, logo descendo meus olhos para a mão pequena quando Jimin desencaixa o chaveiro de coelho da chave do carro, antes de passá-la para mim e prender a argola da pelúcia no próprio dedo.

— Inclusive, vou levar o chaveiro em homenagem a ela. Vai me dar sorte.

Eu sorrio, enfiando a chave no bolso da calça de moletom. Com um umedecer de lábios, decido:

— Toma. — Digo, movendo meus braços cuidadosamente para tirar a jaqueta de couro. — Leve algo em minha homenagem também.

Jimin aceita a jaqueta com um sorriso enorme, sem precisar de discrição ao cheirá-la e sorrir um pouco mais.

— Obrigado, gracinha.

Silêncio. Demoro para perguntar:

— Te acompanho até o embarque?

Jimin sorri, olhando para a construção onipotente do aeroporto adiante, depois do imenso estacionamento cheio de carros. Ainda olhando para lá, me surpreende ao negar.

— Eu sei que volto em alguns dias, mas me despedir de você está sendo difícil, Jungkook-ssi. Talvez seja melhor fazer isso logo. Sei que parece bobeira, mas...

— Não. — Eu o interrompo. — Também está sendo difícil para mim, Ji.

Ele abaixa o olhar por longos instantes, parecendo ponderar algo antes de me olhar e questionar:

— Você acha que é porque em breve isso pode ser definitivo? Quer dizer... minha ida para Seul, se eu for aprovado. Você acha que é isso?

Eu umedeço meus lábios em um gesto tenso antes de fazer que sim.

Eu tenho certeza de que ele será aprovado, então é apenas uma questão de tempo.

Vai ser difícil feito o cacete.

Ele sorri com alguma tristeza. Sua hesitação é cada vez maior.

— Uma coisa de cada vez, Jimin-ssi — Eu digo, então. Por mais que odeie vê-lo ir, quero que ele tente. — Primeiro a audição. Depois do resultado... nós pensamos sobre isso, ok?

Ele assente. Apesar da aura obviamente cabisbaixa, sobra espaço para uma gracinha de sua parte:

— Como diria meu namorado: tranquilo.

Eu reviro os olhos, segurando-o pelo cós da calça para puxá-lo mais para perto. Com os braços envolvendo a jaqueta, ele relaxa contra meu corpo enquanto eu o abraço.

Sem planejar, fecho os olhos. Sinto o cheiro de seu cabelo. E sinto saudade já em antecipação.

É. Quanto mais prolongamos, mais difícil fica.

Assim, eu aperto meu queixo no topo de sua cabeça até ouvi-lo resmungar e se afastar, massageando o lugar que pressionei apenas para tentar dar fim a toda essa atmosfera saudosa que nos envolve quando ainda estamos juntos.

— Quando você voltar, vou fazer isso pelo menos uma vez por dia — Aviso.

Jimin finalmente sorri com um pouco mais de humor e apoia a mão em meu peito antes de corrê-la até meu pescoço, onde toca suavemente enquanto traz sua testa à minha, desliza nossos narizes juntos e enfim me beija delicadamente na boca.

— Até ano que vem, amor.

Eu tento sorrir, mas falho, vendo-o recuar com um passo estreito. Minha mão o segura suavemente pelo braço, descendo por toda a extensão até segurar sua mão por um último instante, quando ele então recua completamente.

Com a jaqueta apoiada em um braço, ele pendura a alça da bolsa no ombro, agarra o puxador da mala e arrasta as rodinhas pelo asfalto do estacionamento, dando passadas para trás.

Antes de se virar para ir, a última coisa que ele diz, olhando nos meus olhos, é um frágil:

— Eu te amo.

Eu não consigo dizer de volta, não em voz alta.

Meu coração afetado por todos os sentimentos trazidos de volta por Read my mind, no entanto, parece gritar as palavras para Jimin.

Eu te amo, Jimin.

Ele não ouve. E não espera ouvir.

Observando as costas dele enquanto se afasta, eu permaneço no mesmo lugar. Não me movo sequer um centímetro até que ele some de minha vista, perdido na imensidão do Aeroporto de Gimhae.

Enfim sozinho, mas cercado por pessoas que silenciosamente vem e vão, eu sufoco a sensação de correr até ele e forço meu corpo a caminhar até dar a volta no carro e ocupar o banco do motorista.

Eu tiro a chave do bolso. Engato na ignição. Dou a partida. E, durante todo o caminho, ouço as músicas restantes da playlist que fiz para ele.

Algo parece me sufocar.

Como se quisesse despertar dentro de mim, lutando contra as barreiras de minha memória perdida. No entanto, esse algo continua perdendo a batalha, deixando-me somente com a sensação.

Como mágica, a playlist parece ter a duração perfeita para a ida e volta de minha casa até o aeroporto. Quando estaciono Pandora na frente de casa, ouvindo os últimos acordes da última música, eu suspiro.

Finalmente, encerro a reprodução de e, entregue ao silêncio de meu bairro pacato, vejo a mensagem em meu celular, recebida já há vários minutos.

Pedi para você cuidar de Jungoo e Pandora, mas cuide de você também, Jungkook-ssi. Não ouse descuidar do meu amor sequer por um segundo. (15:39)

Com hesitação, eu digito a resposta rapidamente, mas demoro para enviá-la.

Digo o mesmo. Cuide bem do meu amor, Ji. (15:58)

Nervoso, eu bloqueio a tela do celular e o guardo no bolso, esticando-me até o porta-luvas somente para garantir que não ficará nada de valor aqui dentro até Jimin voltar.

Quando o abro, no entanto, o que encontro é outra coisa.

O pen drive que Yoongi me deu.

Desde o dia da praia, quando o guardei aqui e aqui esqueci, eu não pensei nele novamente.

Ouça quando achar que deve.

O que Yoongi disse, no entanto, de imediato retorna à minha memória.

E, com o coração subitamente desajustado, eu pego o pen drive e o conecto à entrada do aparelho de som.

Não demora para que o sistema reconheça o dispositivo, leia o que parece ser um arquivo único e comece a reproduzi-lo.

A avalanche de sentimentos despertados sob os acordes de Read my mind, agora, parece apenas um pequeno e cotidiano evento da natureza diante do que sinto ao ouvir os primeiros acordes de violão da música que começa a tocar.

É tão, tão rápido.

Quando a introdução suave chega ao fim, é a minha voz que ouço. Sou eu que canto.

Eu conheci o cinza
Invejei as cores vibrantes ao meu redor,
Perdido entre almas de tinta
Sentindo que nunca vibraria como elas

Eu odiei o cinza, o preto e o branco
Perdido entre sorrisos do que nunca mais senti,
Odiei a monocromia de minha dor
Até que contra o destino te conheci

— Não... — Eu digo, em um gemido sôfrego.

Meu preto e branco vibraram
Diante do preto e do branco que vibram em você
Todos os meus sentimentos te amaram
Diante do preto e do branco que vibram em você

Meu deus.

Bonito como a relatividade, é verdade
Você é como gravidade
Mas me faz flutuar

Todas as minhas palavras se perdem em mim,
Podendo se perder no ar
Toda a minha verdade se cala,
Ninguém consegue escutar
Mas você sabe me ler assim

Complexo como a relatividade, é verdade
Você é como gravidade
Mas me faz flutuar

Contra o universo, se preciso
Eu fico
Por você, a qualquer lugar, eu vou
Não precisa ser preciso

Em uma vida ou mil,
Em uma chance, noventa e nove ou cem
Eu vou sempre te amar e te encontrar
Porque você é, para sempre, o meu frango frito

Minha mão viaja à boca, silenciando-a quando sinto o impulso de gritar, quando pisco e uma lágrima espessa escorre de meu olho, deixando um rastro por minha bochecha.

Porque aquilo que parecia querer despertar, finalmente desperta sob minha própria voz.

Sob a música que eu escrevi para Jimin.

E então o Jungkook que acordou sem memórias naquele hospital parece ser invadido por uma tsunami de memórias que me fazem chorar cada vez mais.

A chance noventa e nove.

O encontro de nossos caminhos na ponte.

A repetição inexplicável de dias.

Nosso desespero para descobrir o que estava acontecendo.

Minha reaproximação com minha família. O nascimento de minha improvável amizade com Hoseok e Yoongi.

O despertar dos meus sentimentos por Jimin.

Os poucos entendimentos que tivemos sobre o que só podemos chamar de colapso do universo.

As muitas alegrias que tivemos mesmo no meio desse redemoinho. Os momentos com família, amigos, ou apenas nós dois na sala de treino da universidade.

As confissões sobre a família de Jimin. O medo que ele sente do pai.

O pedido de namoro. Nossa primeira vez.

O fim do tempo.

Tudo começa a voltar, fora de ordem, até encontrar o próprio lugar.

Tudo atinge minha memória em uma frequência assustadora, que me faz continuamente precisar conter gemidos de dor e de desespero por perceber que por tanto tempo não lembrei de nada disso.

Mas, ao mesmo tempo, o alívio nasce, poderoso. E é ele que me faz chorar, assim como senti vontade de fazer quando Jimin me disse o mesmo no hospital.

Eu consegui.

Eu salvei meu Jimin.

Noventa e nove tentativas depois, eu mudei o seu destino.

Sem força para processar a sequência atrapalhada de memórias que continua retornando a cada trecho de música indiscutivelmente feita para Jimin, narrando nossa história com metáforas e referências indiretas, eu apenas continuo parado no mesmo lugar.

O caminho úmido deixado pela lágrima quente se torna mais sensível ao frio. Meu peito se expande e, ainda assim, torna-se pequeno demais para tudo o que sinto.

Meu Jimin.

Meu amor...

Ele lembrou de tudo sozinho por todo esse tempo. E mesmo com a dor de me ver esquecer o que passamos, continuou ao meu lado. Ele não hesitou sequer por um segundo.

Ele simplesmente ficou.

E ele me conquistou novamente.

Eu me apaixonei cem vezes por Park Jimin.

Em cada chance, eu me apaixonei. E, desta vez, não porque o colapso do universo nos forçou a ficar juntos para solucioná-lo.

Eu me apaixonei porque não importa o que o destino desta vida tenha escolhido para mim. Não importa, porque o meu verdadeiro destino sempre será amar Jimin.

E eu o amo.

Meu coração continua gritando.

Eu o amo.

— Eu te amo... — Digo em voz alta, como se pudesse fazê-lo me ouvir.

Você é meu frango frito. — E minha própria voz gravada diz, através dos alto falantes do carro, enquanto acompanha os acordes finais da música.

Junto dessas palavras, eu volto a gemer de dor ao sentir minha cabeça latejar na frequência frenética das últimas lacunas que parecem ser preenchidas.

E então enfim descubro.

Eu não fiz essa música para Jimin.

Eu fiz para mim.

Eu fiz porque sabia, porque sentia, que precisaria dela.

Por isso, quando deixei a casa de Yoongi depois de gravá-la, eu senti que tinha feito algo tão importante. Porque eu fiz.

Como se soubesse, lá nos lugares mais improváveis de minha mente, inacessíveis à minha própria consciência, que as coisas aconteceriam exatamente desse jeito.

Jimin me inspirou o suficiente para compor. E eu tive coragem o suficiente de registrar para lembrar.

— Você é meu frango frito, Jimin.

Eu continuo falando sozinho, sobrecarregado demais para me reduzir ao silêncio. Eu preciso falar. Preciso abraçá-lo. Deixá-lo saber que, finalmente, lembro.

Com os dedos trêmulos de frio e desespero, eu volto a pegar meu celular no bolso e disco o número de Jimin.

— Não esteja no avião, por favor, eu preciso te ver. — Repito, desesperado, quando a ligação não se completa. — Por favor, por favor, por...

Caixa postal.

Ele já está no avião.

O sinal para a gravação da mensagem dispara, mas eu não posso dizer tudo o que preciso dizer assim.

Eu preciso olhá-lo. Tocá-lo.

O Jungkook que finalmente lembra de tudo o que aconteceu desde vinte e um de outubro merece isso.

Assim, eu pego todas as coisas de dentro do carro, me apresso para fora dele e fecho a cobertura retrátil antes de trancá-lo e correr para dentro de casa.

Sem tempo sequer para tirar as botas, eu bato a porta para que se feche rápido e me apresso em direção ao meu quarto.

— Jungkook! — Minha mãe chama, assustada, saindo de seu quarto. — O que está acontecendo?

Eu não tenho tempo de explicar. Por isso, tudo o que digo é:

— Eu preciso ir para Seul.

— O QUE?!

Ela entra no quarto em minha cola. Eu não tenho tempo de parar. Caminho até minha escrivaninha e pego minha mochila da universidade, sem me preocupar em tirar as coisas dali de dentro. Eu simplesmente a trago comigo até o armário e desajeitadamente jogo algumas peças de roupa limpa para dentro dela.

— Jungkook. — O tom de minha mãe se torna mais severo, depois de tantas vezes ser ignorado simplesmente porque eu não consigo parar. — Explique agora o que está acontecendo.

Eu não olho para ela.

Volto à escrivaninha, deixo a mochila de lado e ligo o meu notebook, que parece precisar de uma eternidade para iniciar.

— Anda, caralho! — Esbravejo, impaciente.

— Jungkook! Explique. Agora!

Diante dos pontos que desenham um círculo no centro da tela a carregar, eu tenho tempo para olhar para ela. E, quando vê meu rosto, os braços cruzados até perdem a força do gesto, quase caindo ao lado do corpo enquanto toda a sua expressão também se torna mais preocupada.

— Meu fedorento... — Ela diz, desesperada, aproximando-se com passos largos. — Você está chorando...?

Basta ela perguntar para que eu lembre das lágrimas em minhas bochechas, secando-as rapidamente enquanto minha mãe gentilmente toca minha cabeça, cheia de preocupação.

Antes que eu possa dizer qualquer coisa, Junghee também aparece, com a mesma expressão preocupada e, primeiro, olha para minha mãe, depois para mim.

— Hyung... tá tudo bem?

Eu mais uma vez deslizo minha mão pelo rosto, capturando qualquer outro resquício de lágrima antes de, para os dois, anunciar:

— Eu lembrei.

— O que...? — É Junghee quem questiona, aproximando-se. — Lembrou de que?

— Tudo.

Os dois ficam em silêncio, completamente pegos de surpresa.

Apesar da importância incomparável dos últimos meses para a minha relação com minha família, o peso dessas memórias não pode ser completamente compreendido por eles, não quando eles não tinham e ainda não têm a menor ideia de toda a loucura que eu mesmo provoquei no universo.

Nós continuamos próximos mesmo que eu não lembrasse de todo o processo para que chegássemos a esse ponto, então eles não têm como dimensionar a importância do retorno de minha memória.

Para Jimin, que sabe, que viveu todo aquele caos comigo, que derramou lágrimas comigo, que perdeu as esperanças... é diferente.

Então, mesmo sem poder explicar na totalidade, eu espero que eles entendam que eu preciso fazer isso. Eu preciso ir até Jimin.

— Jungkook... calma — Minha mãe pede, atordoada. — Como assim você lembrou de tudo? Tão de repente? Filho...

— Eu tive várias lembranças desde que voltei do hospital, mas agora eu lembrei de algo que nunca deveria ter esquecido. E eu juro que conversamos melhor quando eu voltar, mas eu preciso mesmo ir.

— Ir para onde, hyung?

— Eu vou até Seul. — Repito. — Eu preciso ver Jimin.

— Mas você está bem para ir assim, Jungkook? Não está sentindo nenhuma dor? Confusão? Talvez seja melhor irmos ao médico antes. Por favor, bebê...

— Mãe, eu juro que estou bem. — Fisicamente. — Eu juro. Por favor, — Em desespero completo, peço. — eu preciso fazer isso. Eu preciso dizer nos olhos dele que lembro de tudo. Jimin merece isso, mãe, e eu também. Por favor, não me faça esperar, nós merecemos isso.

A ausência de resposta se prolonga por alguns instantes, durante os quais acredito que eles questionarão a veracidade de tal necessidade. No entanto, ao fim, tudo o que sinto é um aperto cúmplice em meu ombro, um beijo de minha mãe no topo de minha cabeça e sua voz contra meus cabelos:

— Sim... você merece, filho.

Eu olho para ela, desacreditado, ainda com os olhos levemente irritados pelo choro que parece começar a ganhar força novamente. Talvez seja isso o que a convence, o meu desespero vivo, óbvio.

— Eu pago sua passagem. — E anuncia. Mas completa: — Com uma condição.

Eu pisco lentamente. Na agonia do desejo de ver Jimin, eu sequer lembrei que mal tenho dinheiro para comprar uma passagem de última hora.

Então eu concordo com a condição que é proposta, ainda que meu coração perca força diante do que é pedido.

Mas é um pedido justo. E eu sei que ela pede pensando no meu próprio bem.

Atordoado demais para ponderar todos os pormenores no exato instante, eu simplesmente aceito e, já que não temos condições de pagar passagens de avião no preço que cobram com tão pouco tempo de antecedência na compra, uso meu notebook para comprar passagens de ida e volta de trem.

Com o bilhete reservado para a viagem que terá início em três horas, eu faço outra coisa tão importante quanto e transfiro a música do pen drive para o notebook e, dele, para o meu celular.

Com tempo de sobra, eu escrevo uma lista exaustiva de todos os cuidados que devem ser tomados com Jungoo enquanto eu estiver fora e, com a mochila nas costas, me agacho para acariciar a coelha.

— Tivemos uma mudança de planos, xará. Mas sua avó e seu tio vão cuidar bem de você.

Ela nem me olha, simplesmente continua cheirando o próprio xixi no banheirinho.

Com um suspiro e um sorriso fraco, acaricio seu corpo apenas mais uma vez e fico de pé. Com outro suspiro, pego o que falta e me dirijo à sala.

— Eu já vou.

Minha mãe ainda parece aflita, apesar de ter concordado.

— Certeza de que está tudo bem, filho? Não quer que eu te leve até a estação?

— Não, eu... não. Eu vou sozinho. Obrigado.

Ela pousa a mão sobre o próprio peito agitado, mas assente de uma vez por todas.

— Vá com cuidado, fedorento. E me avise assim que chegar na estação e quando chegar em Seul. Não esqueça, ou você mata sua mãe do coração.

Eu concordo, encaixando-a em um abraço de um braço só quando ela deita a cabeça em meu peito e me abraça apertado.

— Boa viagem. Mãe te ama.

Eu respiro fundo e, em um gesto incomum, beijo sua cabeça que mal chega à altura de meu ombro.

Tão pequena, mas sempre, aos meus olhos, a mulher mais forte do mundo.

— Eu também te amo, mãe.

Pego de surpresa, ainda dentro do abraço de minha mãe, eu sinto Junghee se aproximar como um cometa, nos abraçando junto.

— Volta logo, hyung! Tae desejou uma boa viagem e eu coloquei sanduíches na sua mochila!

— Sério que você já foi fofocar? Mas valeu pelos sanduíches.

— Depois me conte tudo! Quero saber como Jimin hyung vai reagir!

Eu reviro os olhos, beijando-o também no topo da cabeça antes de estalar um tapão na cabeçona dele.

— Não entupa o vaso enquanto eu não voltar, bandido.

É a vez de Junghee revirar os olhos, enquanto eu recuo com um passo e me afasto dos dois.

— Beleza então. Tô indo.

Minha mãe acena. E, antes de sair, a última coisa que escuto é Junghee dizer:

— Traga alguma coisa de Seul pra mim!

Sozinho no jardim de casa, o pequeno sorriso que consegui fazer nascer, morre.

Eu sigo até Pandora, mas somente para abrir o porta malas e, dele, tirar o novo capacete. Com ele em uma mão e a mochila nas costas, eu sigo então até Belinda.

Com a mão livre, toco no banco recém trocado e na lataria renovada, antes sorrir fraco, encaixar o capacete na cabeça e montar em minha velha companheira.

A chave está na ignição e o motor ligado, apenas um instante antes de dizer, para ela:

— Bem vinda de volta, Bee.

E então, como em tantas outras vezes, é ela quem me leva pelas ruas frias de Busan. Como em tantas outras vezes, eu sinto as rajadas de vento no sentido contrário de nosso trajeto, a sensação de poder ir longe, o barulho de seu motor.

Apenas volto ao silêncio quando encontro uma vaga no estacionamento coberto da estação de trem, travo meu capacete em Bee e, com minhas botas esmagando os pedregulhos perdidos sobre o asfalto, sigo com passadas largas em direção à escadaria de acesso.

Simultaneamente, checo meu celular, no qual vejo infinitas chamadas de minha mãe e algumas mensagens dela.

VOCÊ FOI DE MOTO, SEU FEDORENTO MALUCO???? (17:34)

EU DISSE PARA IR NO CARRO DE JIMIN (17:35)

QUANDO VOCÊ VOLTAR, EU TE MATO. EU TE MATO, JEON JUNGKOOK!!!!! (17:35)

Ciente de que as ameaças de morte são provocadas por seu medo de que eu sofra um novo acidente, sou rápido em tranquilizá-la e envio um áudio avisando que já cheguei — inteiro e bem.

Depois, é agonia pura. Eu ouço sua gritaria pela chamada que logo recebo, preciso esperar o que parece uma eternidade até que possa seguir ao vagão e mais outra eternidade até que o trem inicie viagem.

Oficialmente, são duas horas e quarenta minutos de viagem.

Contra o universo, se preciso
Eu fico

Para mim, parece uma longa tortura à qual sobrevivo enquanto repetidamente escuto a música que eu mesmo compus, continuamente encaixando minhas memórias, em ordem cronológica, as minhas memórias ainda bagunçadas.

Mas finalmente chego.

Minha primeira vez em Seul.

Por você, a qualquer lugar, eu vou
Não precisa ser preciso

Assim que saio da estação, sou recebido por uma cidade enorme, agitada sob a noite cheia de luzes e prédios gigantescos.

Estar aqui era um sonho distante — um dos vários sonhos que perdi depois de perder meu pai.

Mas, nesse momento, nada na cidade grandiosa me atrai tanto quanto meu Jimin.

Então eu salto para dentro do primeiro táxi disponível que encontro e, com o coração batendo tão forte que chega a doer, passo ao motorista o endereço do lugar onde sei que Jimin estará hospedado pelos próximos dias.

— Estamos chegando? — Eu pergunto, acho que pela décima vez.

O motorista já parece prestes a me chutar para fora do carro, impaciente com minha impaciência. Mas, enfim, responde:

— Sim. Menos de cinco quilômetros e chegamos... finalmente — Ouço ele completar, em um sussurro indiscreto.

Apesar da recepção pouco calorosa de um nativo, tudo em que consigo pensar é que faltam menos de cinco quilômetros.

Menos de cinco quilômetros para vê-lo.

Menos de cinco quilômetros para dizer o que ele merece ouvir.

Em uma vida ou mil,

Agitado, eu pego meu celular. Disco o número de Jimin e, sem muita demora, ele atende.

Gracinha! Aconteceu alguma coisa? Você não respondeu minha mensagem avisando que tinha chegado e...

— Jimin, desce. — Eu sequer me dou ao trabalho de responder.

Que?

— Desce. Sai do apartamento, entra no elevador e desce. Vai para a calçada.

Jungkook...? Você endoidou?

— Pelo amor de deus, só faz o que eu estou pedindo. Por favor, Ji.

Já estou indo! — Ele diz, apesar de obviamente não entender meu pedido maluco.

— Ok. — Tento relaxar, mas isso apenas me deixa mais ansioso. — Estou chegando.

O que? Chegando? Jungkook?!

Eu encerro a chamada. Não quero explicar absolutamente nada por telefone, não quero explicar absolutamente nada sem poder tocá-lo.

— Chegamos. — O motorista diz.

Em uma chance, noventa e nove ou cem

Eu olho para as portas de vidro do complexo de apartamentos no qual Jimin alugou um para passar os próximos dias e entro em conflito com minha própria carteira para conseguir tirar as notas para pagar a corrida.

— Pelo amor de deus! — Esbravejo, quando vejo Jimin saindo do elevador e caminhando até a porta. — O troco, cara! Anda logo!

— Estou calculando!

Pobre o suficiente para nunca ter feito isso antes, mas desesperado o suficiente para fazer pela primeira vez, eu apenas jogo a carteira e o celular na mochila, penduro a alça no ombro e salto para fora, gritando apenas:

— Pode ficar!

Então eu fico de pé na calçada. Fecho a porta do táxi.

Antes mesmo que a porta de vidro do condomínio seja aberta, meu olhar encontra o de Jimin.

Eu vou sempre te amar e te encontrar

Eu vejo o choque incomparável que domina sua expressão. A ansiedade. Seus gestos subitamente atrapalhados quando ele destrava a porta e abre, apressado, para me encontrar com os cabelos escorridos pela testa e minha jaqueta de couro sobre a combinação de roupas confortáveis que veste.

— Jungkook... o que você...? Por que...? — Ele chama, desacreditado, incapaz de completar os próprios questionamentos atrapalhados.

Basta isso. Basta vê-lo, basta ouvir sua voz... e tudo parece explodir de uma só vez.

Com minha visão pouco a pouco mais turva, eu dou os passos que ainda me separavam de seu corpo estagnado no mesmo lugar, deixo que a alça da mochila escorregue por meu ombro e que ela caia no chão, ao meu lado, quando paro frente a frente com o cara que me fez colapsar o universo inteiro somente para poder tê-lo comigo.

E eu tenho.

Então, sem mais hesitação, eu o puxo pela cintura, envolvendo-o no abraço mais forte que já dei em minha vida.

Porque você é, para sempre, o meu frango frito

— Jungkook... — Ele repete, ainda confuso, mas entendendo o suficiente para estar com a voz chorosa.

De todas as formas que eu poderia explicar que lembro de tudo, a que ganha espaço em meu peito e em minha voz, enquanto meu abraço ganha força, é a mais absoluta verdade de minha vida:

— Eu te amo, Jimin.

Eu sinto sua respiração se atrapalhar inteira e me afasto apenas o suficiente para segurá-lo pelo rosto e olhá-lo nos olhos. Com os meus tomados por lágrimas que ainda não se derramam, eu vejo o rosto de Jimin tomado por elas.

Ele chora em silêncio. As lágrimas caem sem que ele sequer pareça perceber, escorrendo de seus olhos bonitos, por suas bochechas gordas, até se acumularem em seu queixo.

E, com a voz fraca, ele diz algo que tem força incomparável.

— Você... você lembrou?

Eu não sei se faço que sim, se sorrio ou se choro. Enfim, faço os três.

— Eu te amo, Jimin. — E repito, porque ele merece ouvir uma, duas, três, infinitas vezes.

Eu o vejo começar a esboçar um sorriso. Simultaneamente, seu choro ganha força e é ele quem, dessa vez, se lança em minha direção, me abraçando e sendo abraçado de volta até que seus pés deixem o chão e suas pernas abracem meu corpo assim como seus braços o fazem.

— Você lembrou — Ele diz, como se tentasse se convencer. — Você lembrou!

Eu deixo uma risada de mais genuína felicidade e alívio nascer sob as lágrimas.

Não é alívio somente por ter lembrado. É alívio também por saber, de uma vez por todas, o que significa Jimin estar aqui.

Que ele está vivo. Que nós conseguimos.

— Nós conseguimos, Ji — Eu digo, abraçando-o, sustentando-o contra meu corpo, disposto a nunca mais largá-lo. — Nós conseguimos, amor.

Seus braços quase me sufocam quando ele me abraça com ainda mais força, trazendo seu rosto ao meu para sorrir contra minha boca antes de beijá-la, unindo lábios, saliva e lágrimas em um só gesto que significa o mundo para nós.

Nós conseguimos, amor. — É a vez dele de dizer, então, com a testa tocando a minha.

Eu sorrio. Sinceramente, não consigo parar de chorar. Ele também não.

E ainda há muito a ser dito, mas, no momento atual, tudo que quero é tocá-lo assim, sentir seu choro e riso de felicidade genuína, sentir seu coração em sintonia com o meu.

Apenas uma coisa precisa ser dita agora.

E eu digo, para que nenhum de nós volte a esquecer a verdade que venceu até mesmo o destino traçado em nossas vidas.

— Sempre foi e sempre vai ser você... Jimin, você é meu frango frito.

Continua no próximo capítulo

OLÁ! Como vocês estão?

FINALMENTE a música "Meu frango frito" deu as caras por aqui!

Antes de mais nada: gente, eu NÃO sei escrever música. Tá feio? Tá. Tá cafona? Demais. Mas eu precisava de uma música MUITO específica, então não me restou outra opção a não ser... escrever a música também D:

Enfim! Espero que a cafonice e amadorismo da letra não tenham quebrado o clima da leitura

Aliás! O que acharam do capítulo?

Eu to me tremendo toda enquanto escrevo essas notas finais, porque, olha kkkkkkk que nervoso!

Ah! Eu disse nas notas do capítulo anterior que mais uma coisa seria revelada sobre o poder do Jungkook, mas acabou que tive que adiar esse tópico porque simplesmente não encaixou aqui, mas será revelado, sim! Mais pra frente <3

Mas sim! Jungkook lembrou de tudo DEPOIS de ter se apaixonado pela centésima vez pela mesma pessoa! E o destino ainda quis forçar que eles não deveriam ficar juntos...

E será que vão ficar, com um em Seul e o outro em Busan?.....

Por hoje é isso!!! Estamos cada vez mais perto do fim ): estão preparades pro adeus?

Teoria da vez: Jimin vai mesmo para Seul, ou não? Beijos, até o próximo capítulo ou até a #BelindaEPandora <3

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