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[f(29) = 3x - 58] Tanta sorte

Bora de mais 13k de Cem chances?

Nesse capítulo, Jimin se abre sobre o passado dele. Não detalhei além do necessário para entender como isso o afeta no presente da história, mas se questões familiares forem um gatilho para você, eu demarquei o início e fim desse trecho, assim você pode pular a cena. O início e fim dela estão identificados pelas palavras em negrito, certo? Boa leitura!

🔮

Jimin é lindo.

Ele sabe disso. Sabe o que causa nas pessoas e não tem falsas modéstias sobre os próprios efeitos.

Ele é confiante — não sobre tudo, sei agora. Tem suas inseguranças e, pouco a pouco, mostrou suas fraquezas para mim.

Então ele é confiante e confia em mim.

Apesar de tudo, talvez essa ainda seja sua característica mais marcante. Essa intensidade de olhar, de se portar, até o jeito seguro de andar quando não está dando adoráveis tropeços distraídos.

Park Jimin é, acima de tudo, intenso.

O que eu sinto por ele, também é.

Pela primeira vez, o que sinto foi dito em voz alta. Sem censuras, sem amenidades. Eu disse. Estou apaixonado por ele. E não me arrependo disso.

Porque aqui está. A primeira impressão que se tem dele é sua autoconfiança, seu jeito inabalado de reagir ao que lhe é dito.

Quando recebe uma declaração da pessoa de quem gosta, por outro lado, ele parece totalmente diferente. Ele cora. Os olhos desenhados metaforicamente por garras de um animal poderoso, se arregalam. A boca gostosa se abre num gesto surpreso e até a respiração parece sofrer.

Ainda vejo resquícios do choro em seu rosto. E ele é lindo mesmo depois de chorar, mas essa não é a beleza que ele merece mostrar. Ele merece mostrar a beleza dos sorrisos, da felicidade genuína.

Ou essa beleza de sua completa falta de reação.

Se ele ainda precisar chorar, no entanto, eu não vou calá-lo. Estarei aqui, oferecendo minha companhia, meu abraço desajeitado, minhas falas mal formuladas ou meu silêncio companheiro.

Eu não quero que ele sofra, mas nunca irei impedi-lo de sentir suas dores.

Sufocá-las não faz bem. Sei por dolorosa experiência própria. Não lidar com a dor faz doer ainda mais e eu nunca vou abrir minha boca para dizer: — Não chora, Jimin — se ele quiser chorar.

No entanto, seu impulso de voltar a chorar parece desaparecer completamente, agora, e tudo que ele me oferece é essa expressão adorável, completamente bonita, que me faz querer repetir infinitamente o quanto estou apaixonado, só para continuar vendo seu rosto assim.

Apesar de tudo isso, de não me arrepender e de ter dito a verdade mais sincera, não é como se eu fosse um mar de serenidade. Pelo contrário.

Eu estou me cagando de nervoso.

Seu silêncio me permite admirá-lo, refletir sobre o que sinto, sobre o que quero que ele sinta e sobre o que estou disposto a fazer por ele. Mas também me faz agonizar feito o cacete.

Seria uma boa hora para ele relembrar que também está apaixonado.

Não vou pedir, no entanto. Vou apenas continuar assim. Em silêncio, queimando em tons de vermelho como ele também está, até que a tortura chegue ao fim.

— Você... — Jimin começa, não termina.

— Eu...? — Uma palavra inteira sem gaguejar. Boa.

— Você acabou de dizer que se apaixonou por mim? Jungkook, você disse isso?

— Disse, né.

A habilidade de comunicação segue imbatível. Grande vitória.

— E você está? — Ele está duvidando? — De verdade?

— Por que mais eu diria que estou apaixonado se não estivesse apaixonado, Jimin?! Você não está vendo a cor do meu rosto? Você acha que eu faria isso — Sério, eu até aponto para minha cara. — comigo de graça? Sinceramente, você...

— Está apaixonado por mim. — Ele me interrompe, mas nem parece estar falando comigo. Mais parece ruminar a confissão que, sinceramente, não deveria ser surpresa alguma.

Eu expulso todo o ar. E digo:

— Estou. Muito.

Finalmente, ali está. O sorriso se abre, devagar, e se expande numa risada feliz que tem o som mais gostoso do mundo, mais gostoso que todos os frangos fritos que já comi.

E vem. Ele vem até mim. Sem calma, num gesto apressado, se lança em minha direção, ainda em meu colo, e me abraça mais uma vez, com força, me beija a testa e depois ri contra ela.

— Fofo. — Sem querer, digo em voz alta.

Mas ele é. Ele é adorável e tantas outras coisas, uma infinidade de contradições que me cativa profundamente até a alma.

Com cuidado e carinho, deslizo minhas mãos em suas costas, acariciando-o sobre a blusa da apresentação infelizmente interrompida.

— Você que é — E ele diz, segurando meu rosto, afastando-se para olhá-lo com esse carinho que me deixa tonto e envergonhado. — Todo vermelho assim... tão fofo, Jungkook. Parece um bebê.

Continuo vermelho, mas não deixo de revirar os olhos. Nem de sentir vontade de sorrir, também.

— Sai dessa, Jimin. Que bebê o que?

— Um bebê, sim. O mais lindo do mundo. E se apaixonou por mim.

— Você nunca vai parar de repetir isso?

— Nunca. — Ele garante, sem vergonha. Desliza as pontas dos dedos por meu rosto. Por ele, também desliza os olhos carinhosos, quase enfeitiçados. — E também nunca vou parar de repetir que sou completamente apaixonado por você, Jeon.

— Ok. Mas não me chama de Jeon.

— Eu sempre te chamei assim.

— Mas quando me chama de Jeon agora parece que está com raiva. Sério, me dá calafrios.

Jimin ri. Ele ri mesmo, a ponto de até amansar a preocupação que segue viva aqui dentro.

Seu sorriso se prolonga, nos instantes seguintes. O silêncio, também. Suas mãos continuam me tocando o rosto, acariciando a pele, e meu olhar se atenua para ele quando pouso minha palma sobre a sua esquerda, acariciando-a.

Respiro cuidadosamente, deslizo o polegar sobre o dorso, fecho os olhos e seguro sua mão antes de virar meu rosto apenas o suficiente para roçar meus lábios em seu pulso, sobre as cicatrizes que sinto antes de voltar a olhar para ele.

— Está melhor, Jimin-ssi?

Seu polegar ainda desliza sobre minha bochecha. O sorriso perde força, mas o olhar segue manso quando ele aperta os ombros numa primeira resposta esquiva que prova, no silêncio do gesto, que seu coração segue agitado.

— Eu vou pensar nisso por muito tempo, Jungkook. Nele... lá. — Confessa, com a voz baixa.

O silêncio é consequência de minha indecisão sobre o que dizer, mas Jimin não se ofende. Ele se remexe, desliza as mãos até envolver meu pescoço em um novo abraço e esconder seu rosto, pressionando sua bochecha na minha.

— Eu amo estar no palco, Jungkook. Eu amo me entregar à dança e sentir a admiração de quem me assiste. Por isso não importa se é um festival da universidade ou de um evento nacional, eu ensaio feito louco para dar o meu melhor quando a hora chegar. Agora a queda fica se repetindo em minha mente e eu não consigo explicar o quanto isso me machuca. Todo o meu esforço foi em vão.

— Não foi culpa sua, Ji...

Ele desliza o rosto até pressionar a ponta do nariz em minha bochecha, antes de beijá-la suavemente como numa recompensa por ser chamado assim.

Foi proposital, apesar de não ser do meu feitio. Nesse momento, eu faço tudo o que posso para aliviar tanto peso quanto possível, em seu coração.

— Obrigado por ter subido no palco por mim, Jungkook. — Com o rosto mais uma vez diante do meu, ele diz. — Ver você correndo para me ajudar significou tanto...

Eu não sei o que dizer, então não procuro as palavras. Me entrego somente a uma concordância silenciosa, incerta.

Também entregue ao silêncio, Jimin se cala. Continua perto, ainda me toca e ainda é tocado, mas seus olhos pouco a pouco se perdem na opacidade que reveste o brilho de instantes atrás.

Ele suspira, frustrado, talvez envergonhado.

— Desculpa. Eu queria fingir melhor e parecer bem de uma vez, mas não consigo.

— Que cacete de fingir, Jimin? Não precisa fingir nada, não.

— Eu vou ser uma companhia péssima pelo resto do dia. Estou com pena de você, mas se você não me expulsar... eu vou ficar aqui.

Eu aumento a pressão de meus braços ao redor de sua cintura, apertando-o com toda a minha força até que ele se desfaça num gemido baixo, até risonho.

— Fica tranquilo aí.

Ele ainda sorri fraco, sempre inabalado por meu jeito desajustado de me expressar, mas ainda parece inseguro demais.

Eu sei que Jimin ainda é completamente relutante em mostrar além daquilo que é óbvio à primeira vista. Sei que ele tem medo de mostrar as inseguranças e fraquezas por trás de toda a confiança e, por elas, não ser aceito. É por isso que é tão importante que ele esteja aqui. Que ele tenha escolhido ficar comigo e assim escolha continuar, ao invés de fugir e se esconder.

É importante que Jimin perceba que é incrível e assim será visto sem que precise fingir ser apenas parte do que é.

Ele é incrível no todo. Merece ser admirado pelo todo. E eu admiro. Agora, espero que ele admire também.

— Você pode chorar mais, se quiser. — Garanto, então. — Pode falar e eu vou ouvir. Ou pode só ficar calado. Acho que meu carinho é meio bruto, mas também posso continuar, se você gostar.

Ele ri um tanto mais, sem negar minha suposição.

— Seu carinho é meio bruto, sim. E é o meu favorito.

— Então... carinho e silêncio?

Jimin hesita. Acho que ele está prestes a aceitar minha sugestão, mas acaba por negar com consternação suavizada.

— Eu quero o carinho. Mas tem tanta coisa aqui dentro, Jungkook. Eu queria falar, tentar aliviar um pouco desse peso porque ele me cansa muito.

— O que você quiser, Jimin-ssi. Só lembre que eu provavelmente não vou saber o que responder. Vai ser como desabafar para uma marmota. A inteligência emocional é a mesma.

Ele ri mais uma vez, permeando sua tensão aparente com breves momentos de riso sincero.

— Nem eu sei o que quero falar. Acho que tudo já está tão embaralhado em minha mente que eu nem consigo desemaranhar as palavras.

— Tudo o que? — Sei lá se ajuda, mas pergunto. Estou tentando ajudar, desesperado por talvez dizer algo que, do contrário, piore.

Tudo. As lembranças que meu pai deixou para trás antes de ir embora. Os gritos, as coisas que ele quebrava, as coisas que dizia para minha mãe — Jimin perde o impulso, olhando para suas mãos apoiadas em meu peito. — O inferno que era estar preso a um pai assim.

Dessa vez, nada digo. Espero, em silêncio, enquanto observo Jimin tentar transformar o caos de seus pensamentos em palavras, porque é isso que ele parece querer, agora.

— Sabe... — Ele começa, inseguro. — Sabe aquela sensação ruim do coração disparado? Da respiração que parece insuficiente, os calafrios?

— Sim...

— Era assim que eu me sentia sempre que ouvia meu pai chegar em casa, Jungkook. Todos os dias.

Meu olhar se perde na expressão machucada no rosto de Jimin. Ele ainda não olha em meus olhos e fecha as pálpebras, incapaz de olhar para qualquer coisa.

Eu sei que dói. Sei porque eu vejo a dor em seus pulsos, em seus gestos, em cada palavra dita.

— Ele gritava e quebrava as poucas coisas que tínhamos. Nunca me agrediu ou agrediu minha mãe, mas quando perdia o controle, os olhos dele eram assustadores, Jungkook. E eu tinha medo do que mais ele poderia fazer se fosse além de gritar e quebrar tudo. Eram as possibilidades que mais me apavoravam e eu pensava nelas da hora em que acordava, até quando ia dormir.

Ele para mais uma vez. As pausas são constantes, não porque ele parece perder a coragem, mas porque parece perder as palavras.

— Mas sabe por quem eu mais temia? — Questiona, sob o acúmulo de sentimentos. — Por minha mãe. Sempre foi por ela. Porque eu podia ir embora. Assim que fizesse dezoito, eu podia ir embora, mas minha mãe nunca pensou em deixar meu pai. E era isso que me dilacerava mais que qualquer coisa. Sentir que ela nunca teria paz.

— Seu amor maior. — Lembro, tocando a tatuagem pouco acima do pulso, e sinto meu coração sufocar só de pensar em minha mãe ou Junghee vivendo algo assim.

Me machuca só de pensar. Eu não consigo imaginar o quanto doeu em Jimin por ter visto acontecer por tanto tempo.

— Meu amor maior. — Ele repete, seguido de uma longa pausa. — Então eu estava preso. Mesmo depois que ele foi embora, quando eu tinha quinze anos, eu pensava que podia voltar a qualquer momento. E que ela aceitaria. Então eu não tinha coragem de ir embora de Busan, nem quando tive a chance de fazer a audição da Academia de dança de Seul. Quando fiz dezoito, eles fizeram audições aqui. Ofereciam bolsas. Eu podia ter tentado, mas não tentei. Tinha medo de ir e deixar minha mãe ainda mais vulnerável.

— Ela não estava com seu padastro? — Questiono, um tanto confuso, mas espero que não indelicado.

— Já eram noivos, o casamento seria um mês depois. Mas não tive coragem. Agora que eu finalmente tenho coragem de tentar, meu pai volta. E ela aceita que ele tente se reaproximar. Ela fez o que eu mais temia, Jungkook.

— Eu não acho que você pode culpar sua mãe, Jimin... — Digo, com cuidado. — Sei lá, ela foi vítima também. Acho que essas coisas mexem com a cabeça da pessoa.

Ele concorda, graças a deus sem se sentir magoado ou ofendido por meu comentário.

— Eu estou com raiva da situação, mas o que mais sinto é medo do que pode acontecer agora. Principalmente se eu for para Seul.

— Jimin...

Meu tom denuncia que percebo o que ele está pensando e ele balança a cabeça numa negativa receosa.

— Eu não posso ir. Não posso deixar minha mãe sozinha. Eu preciso desistir de Seul... de novo.

— Esse é seu sonho. Não é?

— Sim, Jungkook, mas...

Mas é o cacete, Jimin. Com todo o respeito — Digo, meio nervoso pelo deslize.

— Para de ficar nervoso por falar do seu jeitinho, Jungkook. Não me ofende. Pelo contrário. Eu sou completamente apaixonado por ele. Não precisa pisar em ovos comigo.

— Sendo assim, mas é o cacete! — Repito, sem o conseguinte nervosismo da primeira vez. Ele sorri, em resposta. — Você vai participar da última etapa da seleção, vai conseguir uma vaga e não vai mais desistir. E eu vou garantir que o universo volte ao lugar para que tudo isso possa acontecer.

— É mais complicado que isso, gracinha...

— Eu sei que é. Então nós vamos cuidar de tudo. Vamos garantir que sua mãe vai ficar bem. Ainda não sei como, mas nós vamos fazer isso, ok?

— Nós. — Ele repete, como se a palavra tivesse um peso incomparável.

— Nós, Jimin-ssi.

Ele sorri sem me olhar nos olhos, em silêncio, parecendo absorver o peso da declaração sincera contida em uma palavra tão pequena, mas que envolve algo tão grande.

Nós.

Jimin faz uma concordância ainda incerta, ao fim.

— Eu vou pensar, Jungkook. Acho que esse não é o melhor momento para decidir, mas... — Hesita, por um instante. Depois, se desfaz num sorriso: — Obrigado. Por ficar do meu lado desse jeito. Obrigado mesmo, Jeon.

— Jeon é o cacete, Park.

Ele explode numa risada mais sonora e sincera, balançando a cabeça no que me parece um pedido de desculpas forjado.

— Jeon está mesmo proibido, não é? Mas Jungkook pode. Jungkook-ssi e gracinha também.

— Exato.

— E bebê?

Não vou ficar vermelho de novo, não. Sério.

Por garantia, eu cuidadosamente tiro Jimin de meu colo, deixando-o sentado sobre o colchão, e fico de pé. Vou até o guarda-roupa somente para ficar de costas para ele quando, depois de uma demora muito esquisita, respondo:

— Nem começa com isso de me chamar de bebê, Jimin. Não tem nada a ver.

— Vem cá, bebê. — Ele chama, para provocar mesmo. — Eu já sei que você está todo vermelho, não precisa esconder, não.

É disso que eu estou falando, cacete! Jimin me decifra como se eu fosse um inferno de livro aberto, mas não conseguiu perceber que eu estou arriado por ele?

Ah, fala sério. Na moral.

Sonso.

— Nem fiquei vermelho, não — Garanto, depois de deixar meu moletom num dos cabides.

Apenas com a blusa que já estava usando por baixo, eu vou até a porta do quarto para fechá-la, já que minha mãe e Junghee podem voltar a qualquer instante, e retorno à cama.

Assim que deito sobre o colchão, Jimin continua sentado, abraça as pernas e mantém o olhar atento a mim.

— Jungkook?

— Hm? — Respondo, um tanto constrangido por sua atenção.

— Eu quero aproveitar o tempo que tenho com você.

Eu me apoio em meus cotovelos para erguer meu tronco e olhá-lo melhor. Quando o faço, ele apoia o queixo sobre os joelhos.

— Acho que nosso tempo juntos é limitado. Se não conseguirmos nos resolver com o universo, ou se conseguirmos e eu acabar indo para Seul... nós temos um prazo. E eu quero aproveitar todo esse tempo com você.

Eu não gosto de como ele continuamente reconhece a possibilidade de falharmos.

Nós não podemos falhar. Não agora que sei o que acontece quando o tempo acaba.

— Eu quero novos encontros com você. Quero conversar com você por horas, te conhecer ainda mais, te fazer rir daquele jeito gostoso, te beijar e te tocar inteiro. Eu te quero tanto quanto puder, por quanto tempo puder, Jungkook.

— Eu te dou tudo, mas não porque temos um prazo. Nós vamos conseguir, Jimin, e você vai para Seul. E quando você for, nós vamos continuar juntos.

Ele parece confuso sobre minha declaração, então eu me apoio no colchão para sentar completamente, quando digo:

— Você disse que as viagens entre Busan e Seul são rápidas. Que podemos nos ver nos finais de semana. E eu quero tentar, Jimin. Eu não vou desistir de você só por causa da distância.

— De verdade? — Pergunta, quase sem acreditar. — Você quer mesmo?

— Eu já disse que te quero pra cacete, Jimin.

— E que está apaixonado por mim.

— Para de repetir!

— Nunca.

Eu reviro os olhos furiosamente, voltando a me deitar com a cabeça sobre o travesseiro. Aí, anuncio:

— Mas isso aí é partindo do pressuposto que você não vai cansar de mim quando conhecer os caras de Seul.

— Como se fosse uma possibilidade. Quanto mais eu tenho de você, mais eu te quero, Jungkook.

— Vamos ver.

Jimin sorri, deslizando a mão sobre a própria panturrilha enquanto usa os instantes seguintes para ponderar algo que, ao fim, se transpõe nas palavras que verbaliza.

— Então nós vamos realinhar o universo, garantir o bem estar da minha mãe, eu serei aprovado na Academia de dança de Seul, me mudarei para lá e nós vamos namorar como você prometeu que me namoraria quando resolvéssemos essa bagunça, mas à distância. É esse o plano?

— Parece perfeitamente praticável.

Sua risada vem acompanhada de uma risada, que perde força quando ele aninha o corpo ao lado do meu e deita com a bochecha sobre as mãos. Aí, diz:

— É enlouquecedoramente impossível, Jungkook. Mas eu estou disposto a tentar.

Eu também estou.

Você vai ficar vivo, Jimin. E vai ter inúmeras memórias bonitas.

— Quero perguntar uma coisa. — Anuncio, dando fim ao nosso silêncio cúmplice. Sob seus olhos que se abrem numa permissão para que eu prossiga, questiono: — E seu padastro?

— O que tem ele? — Sua resposta vem assim, num questionamento que parece surpreso, desnecessariamente preocupado.

— Ele sabe? Sobre o que você e sua mãe passaram? — Explico, sem entender sua súbita tensão. Sem demora, vejo que seus olhos se comprimem em receio, mas também confusão.

— Ele sabe. — Confessa, ainda hesitante. — Hajoon é muito bom para minha mãe. Para mim também.

— Hajoon? — Repito, deslizando cada sílaba entre os lábios quando percebo a familiaridade do nome revelado pela primeira vez. Com curiosidade genuína, sem me atentar à busca do nome em algum lugar de minha memória, questiono: — Eu não lembro se já perguntei. Com o que ele trabalha?

— Por que quer saber agora? — Jimin recua, com a expressão desenhada em defensiva óbvia.

— Acho que estou curioso. Porque obviamente ele tem muito dinheiro e nunca está em casa. — Aponto, sem acusá-lo. É uma curiosidade verdadeira. — Ou é você que só me deixa ir quando ele não está lá?

Meu último questionamento tem um quê de diversão, ou assim pressuponho. Quebrar sua tensão é o objetivo. O que alcanço, no entanto, é o oposto.

Os lábios de Jimin crispam em desconforto. Ele parece nervoso e demora mais que o necessário para responder minha pergunta, o que dispara um alerta em minha mente ao considerar a possibilidade de que minha brincadeira é, na verdade, um reflexo da realidade.

Jimin não quer que eu conheça seu padastro?

Ele tem vergonha de mim?

— Por que? — Questiono, assumindo a veracidade de minha nova desconfiança.

Jimin continua hesitando. Não era esse meu intuito ao perguntar sobre seu padastro. Eu só queria saber o quanto ele sabe sobre o passado de Jimin e sua mãe porque, sabendo, ele pode nos ajudar a resguardá-la. Algo assim. No entanto, o que resulta é Jimin completamente tenso.

— Ele não sabe — De repente, me responde. — Que eu sou gay. Ele ainda não sabe.

A confissão vem de forma arrastada, demorada e sôfrega. Mas o que me traz tanto estranhamento é perceber que a relutância de Jimin não reside em mágoa por seu padastro supostamente não saber.

Talvez eu realmente o conheça bem, apesar de tudo. Porque entendo facilmente.

Jimin está mentindo.

Por mais que queira insistir em meus questionamentos para descobrir por que esse assunto lhe provoca tanto desconforto, minha percepção atrapalhada me faz adiar. Jimin claramente não está se sentindo bem com essa conversa e, por mais que seja de extremo interesse meu agora que tenho certeza de que ele deseja evitar que eu conheça seu padrasto, o dia já foi difícil o suficiente para ele.

Então me calo. Finjo aceitar sua resposta.

Por enquanto.

— Achei que você gostava de mulheres também — E digo, para permitir que sua mente saia desse estado de alerta. E funciona. Quase de imediato, eu vejo alívio percorrer seus olhos.

— Não desse jeito, gracinha. — E garante, já mais relaxado. — Eu sou gay.

Eu não ofereço nada além de um movimento de concordância, distraído em meus próprios questionamentos silenciados para que ele não se sinta ainda mais sobrecarregado.

O silêncio se prolonga em minha confusão disfarçada e, ainda que o silêncio com Jimin seja capaz de me passar alguma sensação de conforto, neste momento sinto o extremo oposto. Me sinto inquieto, a ponto de agradecer quando escuto batidas na porta do quarto.

Do outro lado, a voz familiar:

— Hyung? Posso entrar?

Sem saber como Jimin se sente com a possibilidade de ser visto por outras pessoas, eu olho para ele, esperando sua garantia de que está tudo bem.

Ele faz um pequeno movimento positivo e oferece um sorriso que parece agradecido, talvez por eu ter esperado sua confirmação.

— Entra, moleque. — Sem mais demora, digo.

Junghee logo abre apenas uma pequena brecha. Os olhos grandes e escuros se destacam em seu rosto amolecido sob uma expressão de preocupação, antes que ele abra a porta inteira e, ainda vestindo a roupa toda formal que resolveu usar no festival, aparece segurando a bandeja velha da cozinha, que meu pai usava para levar café-da-manhã na cama para minha mãe, fosse em datas especiais ou simplesmente porque acordou disposto.

E meu irmão anuncia:

— Eu trouxe jantar para vocês.

Jimin se desmancha inteiro num sorriso sincero, enquanto Junghee continua parado no mesmo lugar, todo nervoso.

Diferente da minha própria falta de jeito, que não passa de um desastre indesejado, a de Junghee é bonitinha. Derrete o coração de qualquer um.

— Valeu — Eu digo, estendendo a mão para que ele se aproxime com a bandeja. E, ainda todo preocupado, Junghee começa a se aproximar, sempre alternando o olhar entre Jimin e eu.

Quando vejo as duas porções de macarrão instantâneo, questiono, meio contrariado:

— Tinha frango, não?

Jungkook. — Jimin repreende, antes de suavizar a expressão e olhar para o moleque: — Obrigado, Junghee.

Eu reviro os olhos com impaciência, porque eu sei que tinha sobra de frango já temperado na geladeira. Era só esquentar.

Junghee deve ter deixado de propósito para comer sozinho, o bandido.

Sem verbalizar minhas acusações, eu dou uma bagunçada nos cabelos de meu irmão e aceito o cuidado que ele teve de trazer o jantar aqui. Estou bem no meio de uma sugação sonora de fios de macarrão quando percebo, lá na porta, uma outra presença curiosa.

Está tentando se esconder, mas é impossível não vê-lo ali. Então digo, impaciente:

— Sai daí, moleque-ssi. Tá parecendo assombração.

— Hyung!

Taehyung contorce os lábios numa linha de desconforto e falta de jeito e logo dá uma passada para o lado, até ficar inteiramente visível para todos nós, com o boné sempre empurrando as orelhas para a frente.

Seus olhos, certamente preocupados, pousam em Jimin e moleque-ssi hesita por algum tempo, antes de perguntar:

— Como você está, Jimin-ssi?

Eu me recolho ao silêncio, assim como Junghee, enquanto esperamos a resposta de Jimin. O sorriso que ele abre em resposta não é feliz, mas suficientemente receptivo para reforçar seu gesto que pede que Taehyung se aproxime.

Quando os dois moleques estão sentados em minha cama, como se isso aqui fosse coração de mãe para sempre caber mais um, Jimin devolve sua tigela de macarrão à bandeja.

— Já consegui me acalmar — É o que diz, ao fim. Mas logo desconversa, porque sei que não quer seguir no foco da conversa: — E vocês? Por que não ficaram para as outras apresentações?

— A gente ficou preocupado. Todo mundo. Tia Ga-eul, Seokjin-ssi, Namjoon-ssi, Yoongi-ssi e Hoseok-ssi.

— Pelo amor do santo cacete — Resmungo, sem resistir ao impulso de me esticar para dar um tapa na cabeça de Taehyung. — Para com esse ssi pra lá e pra cá!

— Não, Jungkook-ssi.

Jimin ri ao lado, acariciando minha perna.

— Deixa ele, gracinha.

— Obrigado, Jimin-ssi. Muito bonitinho que o namoro de vocês seja formado por um rabugento e um anjo. Você é o anjo.

Junghee dá logo uma risada que eu repreendo com o olhar.

Se ele acha que ainda pode ficar se divertindo às minhas custas, está errado demais.

Eu sei seu segredo, cabeçudo.

— Ei — Jimin chama, encerrando as risadas e repreensões silenciosas. Nós três damos, a ele, atenção imediata. — Me desculpem, por favor.

— Desculpar pelo que, Jimin hyung? — Junghee é o primeiro a verbalizar a dúvida que todos temos.

— Pela apresentação. — De volta ao sorriso entristecido, anuncia. — Eu ensaiei muito, aperfeiçoei cada passo e estava muito feliz porque vocês foram me assistir pela primeira vez. Eu queria muito que vocês vissem o meu melhor, mas acabei apresentando o pior.

— Não se desculpa por isso, Jimin hyung...

— É, Jimin-ssi! E a gente viu como você é bom!

— Ainda assim. Prometo me esforçar mais da próxima vez. Não vou ter paz até provar para vocês que eu sou mais que um tonto que tropeça no próprio pé.

Junghee e Taehyung riem, porque é a essa reação que o tom de Jimin leva. Eu, no entanto, vejo o que está por trás da diversão na fala.

E é sinceridade.

Além de tudo, Jimin também continuará se martirizando pela falha cometida no palco. Se entristecendo por sentir que todo o seu esforço foi em vão, revisitando as demais possibilidades, se a apresentação tivesse sido exatamente como se preparou para ser.

Conhecê-lo cada vez mais é ter essa certeza cavando fundo para se enraizar em meu coração.

— Mas chega de falar daquele fiasco! — Jimin faz seu sorriso crescer, tentando garantir o oposto do que sei. — Temos coisas mais importantes prestes a acontecer, não é? Acho que alguém faz dezesseis anos amanhã...

— É! — O moleque se anima todo. — Jungkook hyung te disse? Ele falou sobre meu aniversário?

— Ele tem sua data de nascimento tatuada na costela, Junghee. Nem precisava falar. Mas ele falou, sim. Seu hyung fala muito sobre você. Ele é todo bruto, mas também é todo bobo pelo caçula.

— Parou? — Questiono, horrorizado pela exposição gratuita.

Junghee abraça as pernas e se encolhe, todo sorridente. Feliz mesmo.

— Espera — Taehyung, por outro lado, parece se atentar a outra parte da informação. — Se você já viu a tatuagem que Jungkook-ssi tem na costela, então... vocês dois ficam sem blusa quando estão juntos?

— Ai, meu deus! — Junghee parece se dar conta, o que o leva a arregalar os olhos e cobrir a boca com as duas mãos.

— Safados! — Taehyung, de novo.

Quando foi que isso aqui virou uma sessão de tortura?

Eu juro que vou meter chute nesses dois até jogá-los fora do quarto, quiçá da casa, cidade, país ou planeta.

— Vocês dois são muito novinhos. — Diferente de minha reação brava e impaciente, Jimin diz com a maior calma, mas também obviamente segurando o riso. — Não vamos ter essa conversa.

— Eu faço dezesseis amanhã!

— E eu tenho dezessete!

— Pois é! — Junghee brada, mas logo perde a pose decidida quando encolhe os ombros e diz baixinho para Taehyung: — Mas minha mãe teve que ligar pra sua pra você poder dormir aqui hoje...

— Porque tia Ga-eul insistiu! — Taehyung aponta, inconformado. — Eu disse que não precisava! Meus pais não ligam pra mim.

Eu sei que ele fala com o intuito de reforçar a falta de necessidade de nossa mãe falar com a sua, no entanto, o peso que sentimos é diferente.

O olhar de Junghee amolece. O assunto de Jimin e eu com peças de roupa a menos quando estamos juntos rapidamente sai do foco, a questão das idades também.

— Amanhã nós vamos assistir anime e comer um monte de coisa gostosa, tá? — Meu irmão diz para o melhor amigos, rapidamente abrindo um sorriso caloroso. — Vai ser o melhor domingo de todos!

— Claro que vai, Hee. Todo dia com você é o melhor.

Junghee vai desmaiar.

Será que é com essa expressão ridícula de pânico que eu fico quando Jimin vem com os flertes fora de hora para cima de mim?

Me preocupo porque eu e o moleque temos muito em comum, na aparência e nos trejeitos. E se eu fico desse jeito, meu deus, que vergonha.

— Você também pode ficar, Jimin hyung? — É óbvio que ele está tentando dar uma disfarçada. — Você gosta de anime?

— Gosto. — Jimin responde, sempre com o tom gentil que usa para falar com Junghee e que me faz admirá-lo em silêncio por ser tão bom com meu irmão. — E vai ser uma honra ficar para seu aniversário, Junghee.

— Nós podemos assistir Velozes e furiosos, desafio em Tóquio, não?

— Não, hyung! No meu aniversário, não! Nem vem!

Eu reviro os olhos, mas pelo menos Junghee não parece mais prestes a ter um treco.

Não sei se agora eu me atento tanto às suas reações em relação a Taehyung porque percebi que é dele que meu irmão gosta, ou se sempre foi tão óbvio e eu que não percebia.

— Ei, moleque — Eu chamo, levado por um novo impulso. Quando ele me olha, disparo a pergunta: — Quando você vai se confessar para a pessoa de quem você gosta?

Os olhos de Junghee se arregalam em surpresa óbvia. Jimin pouco esboça reação, imitando meu gesto quando levo mais macarrão à boca, e Taehyung lança uma olhadela para o moleque, curioso.

— Por que você quer saber disso, hyung? — Finalmente, uma resposta vem. — Não vou dizer nunca. Não vai dar certo, eu sou esquisito demais pra alguém gostar de mim.

— Até parece! — Taehyung logo faz sua entrada triunfal na conversa. — Você é todo lindo, Hee. Desenha super bem e é muito fofo! Quem que não vai gostar de você?!

— Tem uns contras também — Eu pondero, lembrando da bosta massiva. Pela primeira vez, no entanto, contenho a lembrança para mim. — Tipo a cabeçona.

— A cabeça dele é proporcional! E Junghee tem muito mais prós que contras, Jungkook-ssi — E não é que Taehyung morde a isca? — Tipo quando vê uma coisa que acha fofa e faz uma caretinha. O nariz fica todo franzido. É muito bonitinho!

— E? — Eu não sei exatamente o que estou fazendo, mas continuo fazendo.

O pior é que continua funcionando. Taehyung nem precisa parar para pensar em motivos que fariam alguém gostar de meu irmão.

Aí, ele até vira a atenção para o moleque, para continuar.

— Você sabe cantar todas as melhores aberturas de animes! E você é muito corajoso! Mesmo sem me conhecer, me defendeu dos meninos da escola e nunca se arrependeu de ser meu amigo quando começaram a te machucar por isso.

— Você é meu melhor amigo, Tae... é claro que eu não vou me arrepender nunca. — Junghee confessa, meio envergonhado. — E eles têm medo de Jungkook hyung, então não vão mais mexer com a gente.

— Viu? Você é o melhor, nem é todo grandalhão quanto seu irmão e me defendeu! E, tipo, você usa emojis fofos. E sabe girar caneta nos dedos, daquele jeito difícil. É uma habilidade importante, Hee!

Fui eu que ensinei o moleque a girar a caneta.

— Ah! — Taehyung ainda não acabou? Misericórdia. — Você também tem um cheirinho muito gostoso.

Eu consigo ouvir a voz de minha mãe ecoando no fundo da minha cabeça, enquanto ela diz: — Pelo menos um dos filhos cheira bem.

O que é mentira dela. Eu também sou cheiroso, cacete. Na maior parte do tempo, pelo menos.

— Então, tipo, só para eu entender — Deixando toda a discussão sobre cheiro para outra hora, eu questiono: — Junghee é um bom partido para você, Taehyung?

— O melhor! Eu já tive até uma quedinha por ele!

Jimin me lança uma olhadela de canto ao suprimir um sorriso enquanto Junghee parece suprimir a própria vida e explode no tom de vermelho mais vivo que já vi em minha vida.

— Você o que?! — E pergunta. Pelo visto, isso é novidade para ele também.

— É — Taehyung ri, sem se envergonhar muito. — Mas passou, juro! Eu sei que você gosta da menina da sua sala e dou total apoio!

— E se Junghee não gostasse dessa menina? — Mais uma vez, disparo uma nova pergunta. Meu irmão me olha mortificado. — Se ele gostasse de você, por exemplo.

— Hm... — Taehyung murmura, pensativo e brincalhão. — Se Junghee gostasse de mim, eu dava um beijão nele!

O problema de sua resposta é que eu não sei se ela tem algum fundo de verdade, ou não, porque não demora para que ele se desmanche numa risada muito bem humorada.

De qualquer forma, por garantia, eu me inclino mais uma vez para dar outro tapão na cabeça do moleque-ssi.

— Beijão é o cacete! Junhee não pode namorar antes dos vinte e cinco!

— Hyung!

— Mãe concorda. Vai lá perguntar.

— Mas você tem dezenove e já tem namorico com Jimin hyung!

— Vantagens de nascer primeiro e não entupir o vaso toda semana.

Eu segurei a carta do vaso entupido por quase uma conversa inteira. Ele que não venha me julgar.

— Insuportável! — Junghee esbraveja, se atrapalhando todo quando tenta dar ré para sair da cama.

Antes que ele saia do quarto, eu enfio a última porção de macarrão inteira na boca e o chamo.

Funghee!

— Que é?!

— Leva aqui — Respondo, empurrando a comida toda goela abaixo, e coloco a minha tigela ao lado da tigela vazia de Jimin, na bandeja. — E lava a louça.

— Lava você!

— Eu estou ocupado cuidando de Jimin. Deixa de ser gente ruim, bandido.

A expressão de Junghee denota fúria, mas ele acaba bufando impaciente e pisa fundo de volta à cama, pega a bandeja e sai do quarto, enquanto Taehyung se desmancha numa nova risada antes de curvar o corpo em despedida e segui-lo.

— Eu te ajudo a lavar, Hee! — É a última coisa que ouço moleque-ssi dizer.

Sozinho com Jimin, eu o vejo usando o polegar para limpar o lábio que se estica, junto ao superior, num sorriso pequeno.

— Então agora eu sou sua desculpa para não lavar a louça?

— Espero que não se importe.

Jimin explode numa gargalhada sincera, a mais intensa de todo o dia. Até sorrio junto.

— Não me importo, mas não abuse. Junghee é muito bonzinho, deve sofrer na sua mão. — Ele pondera, massageando as próprias panturrilhas. — Aliás, o que foi isso que você fez agora? As perguntas para Taehyung.

— Quer saber um segredo? — Pergunto.

No fim, acho que sou tão fofoqueiro quanto meu irmão.

— Junghee gosta de Taehyung. — Diante da confirmação silenciosa de Jimin, revelo.

— Segredo para quem, gracinha? É óbvio que ele gosta.

Meus olhos se arregalam em surpresa genuína. Jimin já tinha percebido?!

— Mas então você está tentando agir como cupido para eles? — Questiona, sem me dar espaço para fazer meu próprio questionamento. — Não pense que eu não percebi sua estratégia. De dizer uma coisa ruim sobre Junghee esperando que Taehyung dissesse coisas boas para compensar. É como uma adaptação do que nós fazíamos.

— E deu certo com nós dois, não deu?

Jimin aperta o lábio com os dentes, mas falha em evitar o jeito como se desfaz num sorriso bobo.

— Deu muito certo, bebê.

— Que bebê o que, Jimin. Deixa de ser maluco.

Jimin explode num novo riso, enquanto eu percebo que estou perdido porque ele vai continuar me chamando de bebê sempre que quiser me provocar. E pelo visto sempre vai funcionar.

Sem novas provocações por agora, mas ainda com o sorriso no rosto, ele pergunta com alguma falta de jeito:

— Eu posso tomar um banho? Queria tirar essa roupa e fingir que o fiasco de hoje não aconteceu.

— Vai lá. Tem toalha limpa no meu armário.

— Posso pegar uma blusa sua também?

— Fique à vontade. — Respondo, pela segunda vez. Simultaneamente, arrasto meu corpo até deitar no centro do colchão de solteiro assim que Jimin fica de pé. — Espero que tecido barato não te dê alergia.

Ele rola os olhos em irritação forçada e até me deixa um beliscão suave de repreensão.

— Tonto. Aliás, gracinha. Uma dica: se você quer ser cupido do seu irmão, não bata em Taehyung quando ele disser que daria uns beijos nele, nem diga na frente do pobre coitado que Junghee só pode namorar daqui a nove anos. Gênio.

É corriqueiro que me chamem de gênio porque assim de fato me veem, mas é ainda mais comum que me chamem assim com o tom carregado de deboche, então eu estalo a língua com irritação sem demora.

— Vai logo tomar banho antes que minha mãe venha fiscalizar seu cheiro.

Jimin para no meio do quarto e me olha com horror. Horror de verdade, discretamente até tenta cheirar o próprio sovaco.

— Eu estou fedendo?

— Não, Jimin. — É difícil conter minha risada, diante de seu desespero. — Seu cheiro é sempre bom. Mas vai logo tomar banho.

Ele me oferece uma careta de irritação pelo susto, logo antes de seguir ao armário e pegar, dali, o que precisa. Aproveita para dar uma xeretada também.

No entanto, Jimin nunca olhou para nada em minha casa com superioridade. Mesmo que não tenha nem um décimo do tamanho, luxo e conforto da sua, ele parece se sentir bem aqui. E eu, a despeito das possibilidades, me sinto bem em tê-lo aqui também.

Não sei se é por não ter nascido no luxo, ou simplesmente por não ser mesquinho como eu sempre achei que era, Jimin não se coloca realmente como superior pela vida abastada que hoje tem.

Quando ele segue ao banheiro com sua necessaire, roupas e toalha, eu sigo pensando nisso.

Em tudo.

Na reviravolta que Jimin teve em sua vida o que inevitavelmente me faz pensar em seu padastro.

Eu não sei muito sobre ele, além de saber que é rico feito um desgraçado. Sequer sabia seu nome. Hoje, descobri o primeiro. E, sozinho no quarto, levado pelas dúvidas, eu me ponho sentado sobre a cama, pego meu celular e vou ao sistema de busca.

— Hajoon... — Murmuro sem pensar, simultaneamente digitando seu nome, o pouco que sei, para tentar descobrir um pouco mais.

Como esperado, apenas o primeiro nome não me garante sucesso em minha busca. Uma sequência pouco específica aparece nos resultados, que de nada me ajudam e logo me fazem suspirar.

Penso em relacionar seu nome e o de Jimin ou de sua mãe, para ver se tenho mais sorte. Antes de fazê-lo, no entanto, me desfaço em uma careta impaciente e arrependida.

Imediatamente, bloqueio a tela do celular, desistindo da ideia.

Jimin ficou visivelmente incomodado quando citei seu padastro. Talvez seja algo pessoal. Talvez seja melhor esperar que ele se sinta confortável para conversar comigo e dizer a verdade por trás disso.

Não sei em que ponto dessa confusão toda meu imediatismo e impulsividade foram mesclados a essa paciência. Mas, nesse momento, sinto que estaria invadindo a privacidade de Jimin ao continuar com minha busca incerta.

E eu quero respeitar seu ritmo e suas limitações, assim como ele respeita os meus ao não me forçar a falar sobre o que não consigo.

Com essa decisão firmada em minha mente, eu deixo o celular sobre a cama e fico de pé com o copo antes na mesinha de cabeceira.

Sigo à cozinha, onde vejo minha mãe e os moleques sentados à mesa, jantando, e só então percebo que a primeira coisa que Junghee fez quando chegou em casa foi preparar comida para mim e para Jimin, antes mesmo de se preocupar em comer.

No entanto, ao invés de me amolecer sobre isso, meu olhar se enfurece quando vejo que estava certo sobre outra coisa.

— Eu sabia que tinha frango!

O bandido nem parece se sentir culpado. Vai com a mãozona para pegar uma coxinha temperada e assada para levá-la à boca, mas eu me adianto antes que o faça, dou um tapão em sua cabeça e tomo o frango para mim, antes de destroçar o primeiro pedaço com os dentes.

— Hyung!

— Jungkook! — Claro que minha mãe repreende também.

— Eu sou grande, preciso comer muito — Sem remorso e de boca cheia, utilizo a justificativa que Jimin uma vez usou em minha defesa, antes de seguir para pegar mais água.

— E eu estou em fase de crescimento!

— Você parou de crescer com quatorze, Junghee. De lá pra cá só sua bosta e sua cabeça cresceram. Claramente alguma coisa deu errado aí.

— Mãe!

— Jeon Jungkook. — Outra repreensão. — Não diga essas coisas para seu irmão.

Eu ofereço o sorriso mais falso que poderia esboçar. Com o copo novamente cheio de água na mão, me aproximo da mesa outra vez e roubo outra coxinha de frango, que certamente atrairia outra bronca se não fosse Taehyung atraindo a atenção:

— Mas Junghee é meio pequenininho pra idade mesmo, né?

— Eu disse.

O moleque se encolhe todo na cadeira. Murcha inteiro, aí Taehyung arregala os olhos e vai logo se arrependendo:

— Mas é fofo! Eu acho seu tamanhozinho fofo, Hee!

— Todo dia um drama diferente... — Minha mãe suspira, com falsa impaciência, antes de olhar para mim. Parece prestes a me esculachar, mas na verdade pergunta, preocupada mesmo: — Como Jimin está?

— Melhor, mas ainda meio chateado. — Respondo, ciente de que não tenho muito a fazer, e deixo o osso da coxinha junto aos outros antes de lamber os dedos, para anunciar: — Ele vai dormir aqui, aliás.

— Tudo bem. Mas o quarto fica de porta aberta.

— Pelo amor de deus...

— Eles ficam de safadeza quando estão sozinhos. — Taehyung quer morrer?! — Certeza!

— Não estarão sozinhos. Tem mais gente em casa e as paredes aqui são finas, então porta aberta para garantir que não vão se empolgar, fedorento.

— Jimin está chateado! Triste! — Lá vou eu, num misto de impaciência, raiva e vergonha. — Nós não vamos fazer nada. Que inferno de conversa desnecessária!

Sem esperar um novo show de constrangimento, volto pisando fundo para o quarto, horrorizado por essas conversas pelas quais minha mãe me faz passar.

E ainda mais horrorizado quando chego e meu corpo até perde o impulso quando vejo Jimin diante de minha escrivaninha, de costas para mim, recém-saído do banho e xeretando em minhas coisas de novo.

E eu só fucei as coisas dele uma vez. Devia ter fuçado mais.

Mas tudo bem. Não seria um grande problema se ele estivesse vendo meu material de estudo. O que faz meu coração acelerar é que não tenho apenas material de estudo sobre a mesa.

E ele está segurando uma das folhas que, de longe, reconheço.

Em estado de alerta, acho que libero até adrenalina quando corro, deixo o copo de lado e tomo das mãos de Jimin a última folha que gostaria que ele visse, dobrando-a e escondendo-a imediatamente sob um livro de Redes que peguei na biblioteca.

Meu rosto queima em vermelho. Ele me olha, com os olhos bonitos arregalados. E me dá o golpe final, ao perguntar:

— Você está escrevendo uma música, Jungkook?

Estou.

Para ele.

— Não. — No entanto, é isso que respondo.

Até cubro o livro de Redes com outros dois, como se pudesse mesmo resolver alguma coisa e dar fim à existência do último rascunho com a letra da música que não sai de minha cabeça, porque Jimin, a inspiração para ela, também não sai.

Para minha sorte, esse rascunho é puro caos, assim como todos os anteriores. Então a menos que Jimin tenha passado um bom tempo analisando a folha, não entendeu mais que algumas frases soltas.

E duvido que ele tenha saído do banheiro há muito tempo. Já percebi que ele toma banhos demorados.

Eu sinto que ele quer fazer uma nova pergunta, mas não dou espaço. Seguro-o pelos ombros para guiá-lo de volta à cama.

— Vou tomar banho também. — E aviso. — Não mexa em mais nada, bandido.

Jimin ri genuinamente, graças a deus sem se ofender pelo apelido que se aplica a ele tanto quanto a Junghee.

Lançando uma última olhadela desconfiada antes de sair do quarto, eu volto à escrivaninha, pego a folha e guardo em meu bolso, para garantir. E ali mantenho mesmo quando tiro a calça para tomar banho e me preparar para dormir.

Quando volto, já de banho tomado e dentes escovados, vejo Jimin deitado na cama, sobre as cobertas, surrealmente lindo enquanto veste uma blusa minha e eu não visto nenhuma.

Normalmente durmo de samba canção, mas até vesti uma calça de moletom, em respeito à sua presença.

— A porta tem que ficar aberta. — Aviso. Se eu fechar, minha mãe abre. Se trancar, ela derruba. Melhor evitar a dor de cabeça.

— Tudo bem. Nós vamos dormir juntos na cama? Posso dormir num colchonete, se ficar muito apertado.

— A gente se encaixa aí. Tem colchonete não. Posso apagar a luz?

Jimin assente silenciosamente e eu não faço qualquer outra cerimônia. Apago a luz, depois me aventuro no quarto pequeno e escuro até me aproximar da cama. Ali, puxo a coberta sem afastar Jimin e me deito ao seu lado antes de nos cobrir com ela.

— Não tem nenhum colchonete? — Ele pergunta, baixinho, quando nos acomodamos lado a lado. — Então Junghee e Taehyung vão dormir juntos na mesma cama também?

Meu olhar se contrai, quando eu caio na real.

— Volto já. — Aviso, já me preparando para ficar de pé, seguir ao quarto de Junghee e arrancar Taehyung de lá para que ele durma no sofá, mas Jimin me segura, rapidamente decifrando minha intenção.

— Deixa eles, gracinha. Aposto que vão fofocar a noite toda.

— Isso com certeza. — Nem hesito antes de concordar, porque pensa em dois moleques fofoqueiros?

Imediatamente, também, relaxo meu corpo sobre o colchão novamente. Porque é Junghee. Ele provavelmente vai recuar na cama até quase se fundir com a parede ao lado, de tanto nervosismo só de pensar em tocar em Taehyung durante a noite.

Salvos por essa certeza, eu cruzo um braço abaixo da cabeça e me percebo envolto pelo silêncio de Jimin, que se prolonga e se prolonga até que sinto o pousar hesitante de sua mão pequena em meu abdômen nu.

— Jungkook?

— Que?

— Você disse que não consegue dormir assim, mas eu posso te abraçar? Só um pouco?

Dormir abraçando alguém não é meu ideal de conforto, mas a ideia de negar o pedido de Jimin sequer passa por minha mente. É quase imediata a forma como naturalmente mantenho um braço sob minha cabeça e uso o outro para puxá-lo para perto, abraçando-o quando, sem demora, ele aconchega a cabeça em meu peito, traz sua perna para cima das minhas e desliza as pontas dos dedos sobre minha pele exposta, desenhando uma das inúmeras tatuagens marcadas nela.

— Obrigado. — E diz, baixinho.

— É só um abraço. Relaxa, Jimin-ssi.

— Não só por isso. Por tudo que você fez hoje. Obrigado mesmo, Jungkook.

Eu viro meu rosto um tanto mais. Ele desliza o seu sobre meu peito, até fixar o olhar no meu, junto a esse sorriso pequeno, mas verdadeiro.

Então ele se aproxima, toca meu rosto e pressiona sua boca demoradamente contra a minha. Um gesto tão inocente, mas tão íntimo e intenso que me faz sentir a mesma sensação de todos os seus melhores beijos.

— Descansa... — É o que consigo dizer, atordoado pela sensação que se prolonga mesmo quando sua boca não toca mais a minha e ele volta a deitar em meu peito.

Estar apaixonado é isso mesmo? É perder o rumo dos pensamentos por conta até mesmo de um beijo inocente?

Porque, sinceramente, não sei mais se estou apaixonado ou morrendo. Meu coração está acelerado num tanto que não acho saudável.

Mas, ao mesmo tempo em que me distrai, me atiça o nervosismo, as palpitações e o frio na barriga, a companhia de Jimin me faz sentir bem.

Me faz sentir que é assim que deve ser.

E me traz alívio perceber que minha presença, minhas falas e meus trejeitos, mesmo tão incertos ou bruscos, provocam o mesmo em Jimin.

Eu sei que não posso curar todas as suas dores. Sei que não posso reverter tudo de ruim que já lhe aconteceu. Mas sei que existe um pouco ao meu alcance e eu me sinto disposto a fazê-lo.

— Jimin? — Chamo seu nome, com cuidado, mas não ouço nada além de seu ressonar leve.

Com cuidado para não acordá-lo, eu movo o braço abaixo de minha cabeça até alcançar meu celular. Com a única mão livre, enquanto uso a outra para segurar Jimin assim, bem perto, eu digito as novas mensagens.

Ei, moleque (22:03)

Sei que é seu aniversário amanhã, mas pode ceder 3 minutos do seu dia pra que eu faça uma coisa por Jimin? (22:03)

Você sempre reclama quando estamos os dois em casa e eu mando mensagem ò.ó (22:06)

Venha aqui no quarto explicar (22:06)

Não posso levantar. Jimin tá apagado no meu peito (22:06)

Eu espero a resposta, mas o que percebo, primeiro, é o som de passos agitados antes que a porta do quarto de Junghee se abra e ele e Taehyung apareçam na porta do meu, com os olhos arregalados assim que veem Jimin encolhido contra meu corpo.

— Eles vão dormir abraçados! — Taehyung contém o grito num sussurro pouco discreto.

Pelo amor de deus!

Não fosse Jimin dormindo, eu já teria jogado até o colchão nesses dois.

— Ficou escura, mas a gente edita — Jungee diz, com a câmera do celular apontada em minha direção, e só então percebo que ele tirou uma foto.

Minha expressão se contorce de ódio, mas não tenho tempo de dizer qualquer coisa porque logo eles dois voltam correndo para o quarto, trocando risadas que ouço mesmo quando a porta se fecha.

É com um revirar de olhos que reajo, instantes antes de receber uma nova mensagem.

Vocês são muito fofos! >.< (22:10)

E é tipo uma surpresa? Você quer fazer uma surpresa pra Jimin hyung? Se for, eu quero participar!! Qual é o plano? (22:10)

Não é um grande plano ou uma grande surpresa, mas eu ouço daqui as reações empolgadas dos dois moleques, quando explico minha ideia.

E não resisto. Me desfaço num sorriso e numa risada branda, porque eles dois são inegavelmente engraçados com todas essas reações genuínas e intensas.

Me faz feliz de verdade perceber que, assim como eu, Junghee também mudou desde que tudo isso começou.

Ele mantém sua natureza tímida, certamente fica desconfortável perto de quem não confia e ainda é retraído para muitas coisas. Mas aquela apatia que me machucava ainda mais que ouvir seu choro, se foi.

Junghee voltou a sorrir. Ele gargalha, até. Com frequência. Meu irmão parece, finalmente, feliz.

Eu já nem sei quantas vezes repeti, não em palavras ditas em voz alta, no entanto, o quanto amo o caçula de nossa família. E é por isso que sua felicidade influencia diretamente na minha, assim como acredito no oposto.

Por ele, mesmo cansado, eu continuaria acordado até meia-noite só para dar parabéns no primeiro segundo de seu aniversário, junto a um tapa naquela cabeçona. Mas Junghee dorme cedo, parece um bebê. Quando passa das onze, ele mal consegue deixar os olhos abertos.

Por isso, eu me entrego ao cansaço sem remorso. E, pela primeira vez, durmo abraçado a alguém.

Não sei se posso dizer que é uma experiência que muda minha preferência sobre dormir sozinho, sem ninguém tocando em mim. Certamente, não o faria com outra pessoa.

Mas com Jimin... é. Com ele, é bom.

No meio da noite, sei lá como, nós nos remexemos o suficiente para que eu deitasse de costas para ele, encaixado no abraço no qual ele me envolveu, com o rosto escondido em meu ombro e a perna entre as minhas, até a hora de acordar.

E tomara que Junghee e Taehyung não tenham acordado antes de mim, ou é certeza que eles tiraram uma porrada de fotos de nós dois assim.

Mas, quando retomo a consciência, não movo um músculo para me separar de Jimin. Somente estico o braço para ver a hora no celular, momento no qual sinto seu suspirar profundo antes de sentir sua boca na pele de meu ombro, beijando-o suavemente.

— Bom dia, gracinha...

— Já deixo avisado que eu acordo mal humorado. Bom dia.

Jimin gargalha contra minhas costas e intensifica o abraço ao redor de meu corpo.

— Mal humorado você é da hora que acorda até quando vai dormir, Jeon.

Eu reviro os olhos furiosamente e estico a mão para trás. Ia apertar sua perna em repreensão pela óbvia provocação no chamamento, mas, num irônico erro de cálculo, acabo apertando sua bunda.

Antes que Jimin pare de rir e algo possa efetivamente ser dito sobre o erro constrangedor, Junghee surge do inferno, todo descabelado, e corre em direção à minha cama para se jogar em cima de nossos corpos.

— Eu tenho oficialmente dezesseis anos! É meu aniversário!

— Vai se jogar em cima de outro, Junghee. — Resmungo, remexendo meu corpo e empurrando-o para que ele saia de cima. Então ele cai entre Jimin e eu; eu, quase caio da cama.

— Não pode ser grosso comigo hoje, hyung. É meu aniversário!

— Vai vendo. Te desço o cacete daqui a pouco, se não sair do meu quarto.

— Pelo amor de deus, Jungkook. — Jimin consegue me alcançar para dar um empurrão em meu ombro. E suaviza o tom inteiro, antes de dizer: — Parabéns, Junghee.

— Obrigado, Jimin hyung!

— Bom dia! — Ah, pelo amor de meu deus. Lá vem o outro, achando que ainda tem espaço em minha cama.

— Fala sério! — Esbravejo, rolando para fora do colchão assim que Taehyung começa a tentar vencer as leis da física para se juntar a nós. De pé, eu vejo os três sorridentes, Jimin todo sonolento e encolhido contra a parede, ainda debaixo da coberta, e os dois moleques ocupando o espaço restante.

— Tem remela no seu olho, Jungkook-ssi. — Taehyung consegue fazer desse momento ainda pior. — Vai limpar.

Puto da vida e quase entrando em combustão pela vergonha, eu saio do quarto pisando tão forte que quase abro crateras no chão, antes de chegar ao banheiro e, de frente para o espelho, ver que não tem remela coisa nenhuma.

Meu deus do céu. Esse dia vai ser longo demais.

Junghee precisava mesmo fazer aniversário?

Que inconveniente.

— O que vão querer fazer hoje? — Minha mãe pergunta, durante o café, enquanto nos apertamos em cinco ao redor da mesa de quatro lugares. E é claro que eu sentei no banquinho desconfortável enquanto eles ficam confortáveis nas cadeiras.

Primogênito nasceu para se ferrar mesmo.

Do lugar onde está sentado, Junghee me lança uma olhadela cúmplice e, na maior indiscrição, contém o próprio riso. Mas, no fim, diz com a maior cara de sonso:

— Assistir anime. A gente pode pedir pizza de noite, mãe?

— Claro que pode, bebê. Aproveita bem os luxos de aniversário porque é só uma vez por ano.

Como se precisasse dizer isso para esse moleque abusado, mas ela diz e o sorriso do bandido já cresce inteiro.

— Você vai ficar o dia todinho, né, Jimin hyung?!

— Queria poder ficar, Junghee... — Jimin responde, meio sentido. — Mas preciso passar no supermercado para comprar verduras para Jungoo e deixar em casa.

— Jungoo é a coelha dele — Explico de boca cheia mesmo, antecipando a confusão que sei que todos vão sentir.

— Ah! Você tem uma coelhinha, Jimin hyung? Você volta pra cá depois?! Se voltar, traz Jungoo junto!

— Tá achando que Jungoo é um bichinho fofo, é, moleque? Aquela coelha é capaz de matar um. Se preserve.

— Credo, Jungkook-ssi!

— Eu gostaria de discordar dele, mas... Jungoo é brava. Por isso o nome em homenagem ao de Jungkook.

Enquanto todo mundo ri, eu reviro os olhos, enfiando mais um tanto de omelete na boca.

— Mas eu volto, sim, Junghee. Posso trazer o almoço quando vier.

— Não precisa, Jimin hyung!

— Ele gosta de macarrão. — Taehyung não deixa barato nem mesmo uma mísera vez. — E de frango frito.

Jimin mal consegue disfarçar o riso diante da descoberta do amor que eu e Junghee compartilhamos por frango frito, mas não demora para concordar com a sugestão.

— Trarei macarrão e frango frito, então.

Junghee fica todo envergonhado, minha mãe também, mas sei que os dois apreciam o gesto. Eu, mais ainda.

Ele vai trazer frango frito.

E, conhecendo Jimin, sei que não vai trazer pouco. Por isso, eu até paro de comer tanto no café da manhã para deixar espaço extra para o almoço.

— Você já falou com todo mundo? — Assim que Jimin sai em sua missão de abastecer a despensa de Jungoo, Junghee pergunta, todo animado.

Eu confirmo. Apesar de não demonstrar tanto, tão ansioso quanto ele, torcendo para que minha ideia seja capaz de alegrar Jimin.

— Eles vêm de tarde. — E aviso, antes de deixar um cascudinho em sua cabeça e levantar para lavar a louça. E dizer, finalmente: — Feliz aniversário, moleque.

Ele sorri todo feliz somente de ouvir isso, mas também sorri ao longo da manhã, depois mais ainda com a volta de Jimin e mais um pouco quando confirma o que eu já sabia: com comida suficiente para um batalhão inteiro.

De surpresa, também trouxe um bolo de aniversário cheio de cores e frutas que quase faz Junghee chorar de tanta gula.

— Pedi para fazerem a macarronada sem cebola, Junghee. Por você. — Jimin anuncia, enquanto organizamos as porções gigantes de comida sobre a mesa.

— Não podia pedir para fazerem sem ervilha também, não? — Questiono, ultrajado, quando vejo um monte de pesadelo verde no molho. — Quero ver no meu aniversário.

— Ervilha é mais fácil de catar, gracinha. Você tira e coloca no meu prato.

— Como é? — Minha mãe, até então a receptora de toda a ervilha que eu tiro da comida, pergunta toda ofendida. — O que Jungkook e Junghee não gostam, eles colocam na minha porção! É a tradição da família, Jimin!

— A tradição da família é fazer coquetel molotov. — Corrijo, mais uma vez me acomodando sobre o banquinho desgraçado de desconfortável. — Não é possível que a senhora goste tanto de ervilha a ponto de reclamar por isso.

— Gostar? Eu odeio ervilha, fedorento. — E, dezenove anos depois, ela faz a revelação.

Taehyung e Jimin não entendem a gravidade da confissão repentina, mas Junghee entende e seus olhos se arregalam quase a ponto de saltar da cara.

— Nós vivemos uma mentira por todo esse tempo, mãe?!

Eu, também me surpreendo. No entanto, porque ainda que isso tenha sido mantido em segredo enquanto ela comia todas as minhas ervilhas por todos esses anos, foi exatamente isso que meu pai disse no sonho. Que minha mãe, surpreendentemente, odeia ervilhas tanto quanto eu, mas come mesmo assim.

Eu não sabia disso. Não fazia ideia. Não pode ter sido projeção subconsciente de alguma informação que eu já tinha. Então...

Foi coincidência? Ou meu pai realmente...?

— Ei? — O chamado manso vem junto a um toque suave por baixo da mesa, que logo me leva a encontrar o olhar preocupado de Jimin. — Tudo bem, Jungkook-ssi?

Eu levo algum tempo antes de assentir, impedindo que minha mente siga por esse caminho. Pelo menos por agora. Mas acho que Jimin percebe que continuo meio fora de órbita, então acaricia minha coxa com cuidado antes de se inclinar e me deixar um beijo no ombro.

Na sequência, ele serve o macarrão em uma das tigelas individuais e cuidadosamente tira as ervilhas antes de deixar a porção em minha frente, num gesto sutil que demonstra toda a sua preocupação.

Com sua companhia, minha família aqui reunida, moleque-ssi fazendo seus comentários tão sem noção quanto engraçados e frango frito aos montes, eu rapidamente me deixo distrair durante o almoço e depois dele também, quando nos reunimos na sala para assistir o anime que Junghee escolheu e para o qual minha mãe faz cara feia a cada instante, mas continua assistindo enquanto nos esmagamos desconfortavelmente no sofá que não aguenta tanta gente assim.

É quando se aproxima das três da tarde que eu me sinto um tanto mais ansioso. E, quando a campainha toca, meu olhar viaja ao dos moleques imediatamente.

Jimin, a despeito de nossa euforia, não esboça mais que um olhar curioso pela aparente chegada de novas visitas.

— Vem cá. — Eu digo para ele, rapidamente ficando de pé e puxando-o pela mão antes que Junghee vá abrir a porta.

— Hm? O que foi, gracinha?

— Vai no meu quarto. — Digo baixo, antes de pedir: — O presente de Junghee está escondido em meu armário. Pega pra mim, por favor.

Apesar de confuso, Jimin não nega meu pedido mentiroso e de muito bom grado se retira para ir até meu quarto, momento que antecede a porta sendo aberta por Junghee para revelar nossos outros quatro convidados.

— Parabéns, Junghee! — Hoseok diz baixo para não se denunciar, como porta-voz de todos que esperam do lado de fora, carregando travessas de petiscos. — Nós trouxemos salgadinhos e refrigerante!

Enquanto minha mãe, Junhee e Taehyung cumprimentam os últimos convidados e ajudam a organizar as coisas no hack da TV, eu me aproximo do bruxo piromaníaco.

— Trouxe? — Pergunto de uma vez.

— Oi para você também, filhote. Trouxe. — Responde, puxando o irmão pela mochila para, dali, tirar uma caixa de som portátil antes de entregá-la a mim enquanto na maior cara de pau ignora a reclamação de Seokjin. — Toma aí.

— Valeu. — Digo, com agitação crescente, antes de lançar o olhar para o lado: — Oi, Seokjin. — E quase morrer, antes de cumprimentar o último a entrar: — E aí, Namjoon?

Kim Namjoon está em minha casa.

Se isso acontecesse uns anos atrás, eu provavelmente entraria em colapso com sua presença. Agora, é outra coisa que mais me provoca essas palpitações perigosas.

— Empurrem o sofá para trás — Eu peço para os três, todo tenso enquanto conecto meu celular à caixa de som e procuro a música certa. — O centro tem que ficar todo livre.

Por favor, obrigado, né — Yoongi alfineta, antes de revirar os olhos.

— Você não teve um encontro com Hoseok ontem? — Seokjin pergunta. Yoongi quase explode de vergonha, como se todo mundo já não soubesse. — Que é que tá todo mal humorado?

— Ele deve estar nervoso. — Namjoon expõe sem dó. — Quando fica com vergonha, ele finge estar bravo, todo bonitinho.

— Cala a boca, Seokjin. Você também, Namjoon. Pelo amor de deus, respeitam nem o aniversário do menino.

— Podem falar sobre isso. — Junghee se adianta em dizer. — Não tá me incomodando, não.

— Mas você é igualzinho ao seu irmão, não é? — Yoongi reclama, ultrajado. — Uma miniatura do filhote de brutamontes. Não me ajuda em nada.

— Nada a ver! Hee é muito mais fofinho que Jungkook-ssi!

— Acho que disso ninguém discorda — Seokjin está mesmo dizendo isso, com essa risada?

— Só para vocês saberem antes que isso vire uma discussão, o encontro com Yoon foi muito bom, viu? — Hoseok garante, virando para nós depois de ajudar a arrumar todos os petiscos. — Já estou pensando no próximo.

— Eu quero ter um encontro também... — Taehyung choraminga, todo chateado.

Eu poderia facilmente mandar ele chamar Junghee para um, mas minhas habilidades de cupido são questionáveis, eu acho, principalmente porque logo em seguida diria para Taehyung que, no encontro, não poderia beijar, abraçar ou segurar a mão de meu irmão. E minha mãe pioraria toda a situação ao concordar comigo.

De qualquer forma, deixo para lá e, quando percebo a sala arrumada do jeito que preciso, aviso para todos eles:

— Vou chamar Jimin.

— Eu tô ansioso — Junghee confessa, nervoso sabe deus por que, quando todo mundo começa a se amontoar no sofá.

— Se aquieta aí. Ele não sabe ainda, ok? E nós não sabemos se ele vai querer. Se não quiser, todo mundo finge que isso não existiu e canta parabéns para o moleque, beleza?

— Sim, Jungkook. Anda logo, fedorento!

Enquanto eu vejo todo mundo tentando disfarçar a risada pelo apelido e repreendo minha mãe com o olhar por usá-lo na frente de tanta gente, junto também coragem e sigo ao meu quarto.

— Jungkook-ssi, pelo amor de deus — Jimin resmunga assim que me vê entrar. Me lançando um olhar pelo ombro quando permanece diante das portas abertas de meu armário, eu vejo sua expressão começando a demonstrar impaciência. — Onde está esse presente?!

— Não tem presente.

Os olhos de Jimin se arregalam em horror e irritação antes que ele gire em torno do próprio eixo. Tá bravo mesmo.

— E por que você me mandou vir pegar uma coisa que não existe? Caramba, gracinha...

— Precisava te tirar da sala — Sem mais motivos para mentir, confesso de uma vez. E, diante de sua confusão, explico: — Eu pensei em fazer uma coisa. Não sei se você quer.

— Que coisa, Jungkook? — Ele está todo desconfiado. É fofo.

— Eu chamei Yoongi, Hoseok, Namjoon e Seokjin. Todo mundo que estava comigo no auditório ontem, para assistir sua apresentação, agora está na minha sala. E ela é pequena, mas eu já vi sua dança inteira. Não precisa de muito espaço, então...

Agora que explico para ele, parece uma ideia de merda.

Eu coço meu pescoço, dominado pela agonia, antes de dizer de uma vez:

— Eu pensei que você poderia fazer sua apresentação agora.

O silêncio de Jimin não me ajuda a manter a calma. Eu sinceramente penso que não deveria ter feito isso, então tento reverter a situação:

— Eu só pensei que... sei lá o que eu pensei. Não é a mesma coisa. E eles sabem que talvez você não queira. Se não quiser, nós nem vamos tocar no assunto, só vamos comemorar o aniversário de Junghee. Pode recusar, Jimin, sério. Foi mal. Eu achei que seria uma boa ideia, mas... não.

Ele continua calado por mais alguns instantes. Eu começo a pensar que minha ideia foi além de ruim. Terrível mesmo, um desastre, talvez ofensiva de alguma forma.

— Você realmente fez isso por mim, Jungkook? — Mas, finalmente, ele diz algo.

— Fiz...? Mas posso desfazer na boa.

Jimin finalmente se desmancha num sorriso, mas cobre o rosto com as duas mãos, escondendo-o por instantes que não apagam seu riso sincero quando desce as palmas até cobrir apenas a boca e exibe seus olhos felizes para mim.

— Eu quero dançar para vocês, Jungkook-ssi. Eu quero mesmo.

— Então eu não fiz merda?

— Claro que não! — Jimin garante, ansioso para fazer suas palavras valerem, e vem em minha direção até parar em minha frente e me segurar o rosto com carinho. — Suas intenções são sempre lindas, gracinha. — E com um sorriso um tanto mais travesso, completa: — Como você.

Rolar os olhos parece minha primeira reação para tudo, mesmo quando estou sorrindo. É o que acontece agora, quando o seguro perto, tocando-o na cintura.

— Então vem, Jimin-ssi. Seu palco é uma sala pequena, dessa vez, mas a plateia está ansiosa.

Ele concorda com um movimento ansioso, alegre de verdade pela ideia boba que, no fim, alcançou meu objetivo. Que é, desde o início, deixar Jimin mais feliz.

Então sua mão desliza à minha, entrelaça nossos dedos, e é ele quem toma a frente para nos levar de volta à sala, onde todos esperam e nos olham ansiosos à espera do desfecho.

— A gente precisa fingir que não planejou nada pra Jimin-ssi ou...? — Taehyung é o primeiro a perguntar, todo curioso.

Eu apenas aperto meu sorriso, contendo-o tanto quanto posso, e também aperto a mão de Jimin uma última vez, deixando-o em seu lugar antes de me juntar aos outros. O sofá já está totalmente preenchido por minha mãe, Hoseok, Seokjin e Taehyung. Yoongi se equilibra no apoio do braço e eu me sento no chão com Junghee e Namjoon, sentindo o toque carinhoso de Hoseok em minha cabeça quando me encosto no sofá, entre suas pernas.

Em nossa frente, Jimin espera, ansioso. As bochechas gordas marcadas pelo sorriso que tenta esconder, as mãos ansiosas, os pés que naturalmente parecem sempre preparados para o início de uma nova dança.

— Eu não acredito que vocês fizeram mesmo isso. — Ele diz, olhando com carinho para cada um do improvável grupo que, hoje, se reúne aqui em minha casa.

Logo nela, que por tanto tempo não viu sorrisos e não testemunhou momentos felizes.

Agora, minha casa pequena é palco de um dos momentos mais únicos da minha família. Com sorrisos sinceros e tantos amigos para comemorar os dezesseis anos do nosso caçula.

— Começa logo, Jimin! — Yoongi pede, apressado, e eu lanço um olhar de repreensão em sua direção antes de tentar meter um soco em sua perna, mas Hoseok gargalha e segura meu corpo antes que o faça, me girando para o lado oposto.

— Rápido, por favor, ou nós vamos testemunhar uma briga. — Hoseok pede, ainda preso ao próprio riso.

— Uma briga poderia animar as coisas, pensando bem...

— Seokjin, cara — Namjoon o repreende, olhando por cima do ombro na direção do amigo. — Eu quero ver a apresentação. Fiquem quietos.

Antes que a discussão se prolongue, eu olho para Jimin e mostro a caixinha de som para dar sentido ao meu questionamento silencioso. Quando entende, ele ainda sorri, se posiciona no centro da sala e faz um único movimento de concordância.

Então eu dou início à música.

E, junto, dou início àquilo que sequer deveria ter sido tirado dele.

Nesse momento, todo mundo se cala. As provocações e comentários fora de hora são silenciados e tudo que ouvimos é a música que acompanha o corpo de Jimin. Tudo que vemos, são seus movimentos tão bem ensaiados, mas que lhe parecem tão naturais.

Nesse domingo, Jimin dança para nós. Mas, a cada passo, a cada trejeito único, ele sorri. E então percebo que Jimin está dançando para ele, também.

Voltar no tempo e devolver a Jimin a experiência no palco da Hangsang é impossível — aliás, nem sei se posso fazer essa afirmação. Com tudo que aconteceu desde nosso primeiro vinte e um de outubro desse ano, talvez pudéssemos, sim, voltar àquele momento, mas não sei se seria seguro.

Então eu faço aquilo que posso fazer. Eu dou a Jimin a chance de construir uma nova memória feliz.

Quando ele faz o movimento final e a música dá lugar ao silêncio, ninguém fala nada por segundos que antecedem todas as palmas que ele merecia ouvir na noite de ontem.

O sorriso, presente a cada instante, cresce, mas não o suficiente para fazer fechar seus olhos daquele jeito que eu amo.

Eu ainda consigo ver a cor bonita do castanho quando ele olha para mim e, sem olhar para mais ninguém, dá o primeiro passo em minha direção.

É num impulso que eu fico de pé, afastando-me do toque de Hoseok para receber o de Jimin quando ele me me alcança e não se demora sequer um instante antes de envolver meu pescoço com seus braços e me abraçar com força.

E, sem se preocupar com todas as pessoas ao redor, me beija.

Taehyung grita ainda mais alto quando vê nosso beijo. Quando eu, mesmo envergonhado, aceito e retribuo seu gesto, tocando-o cuidadosamente na cintura pequena, que se perde debaixo de minhas palmas ultimamente sempre tão ansiosas por ele.

— Você é perfeito. — Ele confidencia para mim quando nossas bocas se afastam.

— Não foi nada demais, Jimin...

— Não, Jungkook. — Seu olhar é carinhoso como nunca foi antes. Seu sorriso é feliz, mas principalmente apaixonado. E sua voz reafirma o que tantas vezes já disse e eu sempre rejeito: — Você é perfeito. Em tudo. E eu não consigo acreditar no quanto quero você.

Eu não sei se todos se calam em respeito ao meu instante com Jimin ou se eu que passo a ignorar qualquer coisa que não seja sua voz, sua respiração e seu sorriso.

Mas digo, tão baixo quanto posso:

— Eu acho que você ainda não percebeu que já me tem inteiro, Jimin...

— Eu quero mais.

Minha expressão certamente denuncia minha confusão. A sua, ainda exibe todo o seu carinho e certeza, que se mescla a algum nervosismo.

Eu não entendo o que ele está pensando. Não entendo o que mais poderia querer, se eu já sou inteiramente apaixonado por ele e por mais ninguém.

Mas não demora para me fazer entender.

— Quando você me perguntou o que eu quero quando tudo isso acabar, eu te disse. Mas eu não quero mais esperar, Jungkook.

Ele...?

Não, né?

— Eu não quero esperar nem mais um dia, nem mais um colapso do universo para te chamar de namorado, Jungkook. Eu quero namorar você.

Meu deus, é isso mesmo.

Jimin fala baixo. Não acho que os outros ouvem seu pedido, mas certamente veem o que ele reflete em minha feição inteira.

— Jimin... — Seu nome é literalmente a única coisa que consigo dizer.

— Você quer? — Ele pergunta, ansioso. — Você quer ser meu namorado, Jungkook?

Eu nunca fiz isso. Nunca namorei antes e não sei em que definir nossa relação dessa forma afeta entre nós dois, mas a ideia de namorar Jimin...

A ponderação é rápida. A resposta, sem som. Apenas um movimento que diz tudo que não uso palavras para dizer. O sorriso de Jimin perde força, diante do que tão rapidamente decido.

Com os dentes pressionando o lábio que eu amo sentir entre os meus, os olhos de Jimin brilham sob uma camada úmida por todos os segundos que antecedem a volta do seu sorriso, que cresce como nunca.

— Sim? — Ele ainda pergunta, sem acreditar, sorrindo de agora em diante. — Você quer?

E, para não deixar espaço para qualquer dúvida, eu garanto:

— Quero.

O sorriso de Jimin se transforma em riso. Os olhos finalmente se fecham completamente, se perdem nas próprias pálpebras, na beleza única de sua felicidade, que logo foge de minha atenção quando ele volta a me abraçar e, tão intenso quanto bem-vindo, me beija mais uma vez, do jeito que nós tanto gostamos e que me faz questionar se frango frito ainda é minha coisa favorita no mundo, ou se é seu beijo.

Eu sinto o volume delicioso de seus lábios. Sinto seu sorriso contra o meu, seus dedos se perdendo em meus cabelos e sua pele aceitando o toque de minhas mãos.

Eu o sinto inteiro, antes de lembrar que não estamos sozinhos e então sentir vergonha.

— Pelo amor de deus! — Minha mãe resmunga quando o beijo continua e continua até que sua voz nos traz de volta à realidade e Jimin para de me beijar para esconder o rosto em meu pescoço antes que eu o abrace e sinta seu riso envergonhado. — Nós temos crianças na sala!

— Eu já fiz dezesseis!

— Eu não tô achando ruim, não! — Taehyung fala por cima, cheio de ousadia. — Só acho ruim o absurdo que é esses dois não estarem namorando!

É imediato. Eu me rendo a uma risada sincera antes que Jimin se afaste um tanto mais e troque apenas um olhar comigo, através do qual entramos em acordo e ele vira seu rosto para todos que estão presentes aqui. Assim, ele mesmo diz:

— Nós estamos namorando, Taehyung-ssi. Jungkook é meu namorado.

— Quando isso aconteceu?! — Hoseok é o primeiro a questionar no meio da confusão de perguntas e gritos e desespero.

— Agora. — Eu olho para Jimin, tocando em seu rosto num gesto desavisado e despropositado. — Literalmente agora.

— Grande novidade. — Lá vem Ga-eul. — Para mim, já estavam namorando desde a primeira vez que peguei vocês de namorinho no quarto.

— Mas agora é oficial, mãe! — Gritar não é o suficiente para Junghee. Ele precisa ficar de pé também. — Jungkook hyung tá namorando! Esse é o melhor aniversário da minha vida!

— Quantas coisas a comemorar, hein? Isso sim é uma festa. Finalmente Yoongi arranjou amigos que prestam.

— Você é insuportável, Seokjin.

— E ele mentiu? — Namjoon questiona, todo cheio de riso. — Pela primeira vez você fez umas boas amizades. Sorte a nossa.

Ok.

Então eu não sou mesmo o único acreditando que isso aqui, afinal, é amizade.

— A gente devia cantar parabéns! Pra mim e pro novo casal! — Junghee sugere e vai logo correndo para a cozinha, para pegar o bolo. Ainda bem que tropeça na ida e não na volta. Mesmo assim, repete, inexplicavelmente feliz:— Melhor aniversário!

Jimin deita a cabeça em meu ombro. O sorriso ainda reivindica seu lugar no rosto bonito e eu o abraço com um pouco mais de força antes de beijar o topo de sua testa e deitar minha bochecha contra ela.

É.

Definitivamente, esse dia será uma boa memória. Para mim, para minha família, meus amigos.

E para meu namorado.

Continua no próximo capítulo.

Os boiolinhas agora são boiolinhas oficialmente comprometidos!!! Quem gostou grita frango frito! (quem não gostou, me perdoe)

Olá! Como vocês estão??

Gostaram do capítulo?

Tirando a parte do passado do Ji, essa atualização foi infinitamente mais tranquila que a anterior, né? Foi um capítulo bem mais levinho. Mas espero que isso não signifique que tenha sido chato ou qualquer coisa assim ):

Pra escrever, foi muito gostosinho. Tivemos momentinhos taehee (e mesmo que sejam cenas bobinhas, me dá uma sensação boa demais escrever com eles dois pq eles trazem um alívio, ó, imenso mesmo quando a cena é mais carregada), tivemos o ot7 reunido, jikook dormindo abraçadinhos pela primeira vez e o jungkook sendo um anjo desajeitado pro jimin ): foi muito gostosinho mesmo de escrever! espero que a leitura também tenha sido!

Eu devo fazer isso capítulo sim, capítulo não, mas não dá pra não agradecer por todo o carinho que vocês dão à minha filhinha. Muito obrigada mesmo!!!!

Pra quem gosta de spoilerzinho (quem fica ansioso pula pro próximo parágrafo!!!!): tem coisa intensa vindo por aí. Não vou dizer se é coisa ruim ou boa nem se já é no próximo capítulo. Mas... vai ser mais um capítulo wheeeew de escrever :x e o pior é que eu tô ansiosa!!!

Booom, vez ou outra me perguntam, então vou avisar aqui também: Cem chances já passou e muito da metade. Pelos meus cálculos, ela tem, no total, cerca de 40 a 45 capítulos, então ainda temos um tempinho juntos por aqui <3

Ah, o tico teco do gracinha foi postado no tiktok (@eucatastrophia). Ainda nessa semana devo postar o de Jimin-ssi também <3

Por hoje é isso! Teorias da vez: o sonho do jungkook com o pai foi mesmo só um sonho?

E: sobre o padrasto que nunca apareceu... por que vocês acham que o Jimin supostamente não quer que ele conheça Jungkook? :x Espero que tenham gostado do capítulo, beijos, até o próximo ou até a #BelindaEPandora <3

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