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[f(20) = 60 - 2x] Labirinto

Quem tava com saudade de atualização em Cem chances? Só eu? Ok...

🔮

Eu nunca fui entusiasta em repetir o que dizem por aí, sobre a mente humana ser um labirinto.

Mas a vida é uma sequência de acontecimentos muitas vezes imprevisíveis, inesperados, outros indesejados. E hoje, depois de me deparar com tantas situações de tal natureza num intervalo de tempo tão curto, me pego no estado que os filósofos de internet defendem ser o estado natural de todo ser humano: completamente perdido nos caminhos das sinapses cerebrais.

Eu não entendo a maioria dos pensamentos que passei a ter, no exato momento.

Não entendo por que tantos me levam a um mesmo destino.

Não entendo por que esse destino é Park Jimin.

Mas esta é a situação atual.

Depois que saí de sua casa, desestabilizado por mais uma de suas declarações inesperadas, algo parece ter mudado.

Eu não parei de me questionar sobre muitas coisas. Os mistérios do universo no qual vivemos, certamente, tiveram sua parcela de espaço para ponderações. No entanto, muitos de meus esforços involuntários vagavam por outros rumos, por mais que eu tenha tentado impedir.

E tentei impedir porque está claro: não estou pronto para lidar com essa nova sensação de passar tanto tempo pensando numa só pessoa.

Mas o que fazer quando não se encontra a saída desse maldito labirinto? Quando todos os caminhos me levam a ele? A pensar nas palavras que ele já disse, naquelas que já me ouviu dizer, em nossos dedos entrelaçados e no abraço que me deu enquanto desvendava minhas tatuagens?

Ainda pior, o que fazer quando minha mente continua voltando à lembrança da percepção de que ele esteve com Jinhei, na tarde em que desapareceu? O que fazer quando as dúvidas não sanadas continuam martelando em minha consciência confusa?

Eles fizeram sexo?

Independente da resposta para a pergunta anterior, por que a possibilidade me causa tanto desconforto, essa sensação ruim no fundo do estômago?

No cenário geral, tudo está tão bagunçado que o que melhor entendo são as falhas do universo, enquanto me percebo incapaz de me entender.

Vai para o inferno, Jimin.

— Merda... — Praguejo sozinho, com os cotovelos apoiados em minha mesa de estudo enquanto bato minha testa contra minhas palmas. — Sai da minha cabeça, cacete!

— Sair? Sair o que? — Alguém pergunta.

Por um momento achei que seria satanás, mas é pior. É Junghee.

— Ninguém, moleque.

— Ninguém? — Ele repete. Está com um caderno e um livro debaixo de um braço, enquanto usa a mão para arrastar sua cadeira de rodinha até pará-la ao lado da minha. Enquanto ocupa o assento sob meu olhar inquisitivo, ele pergunta: — Então é uma pessoa? Quem?

— Eu já disse para você deixar de ser tão fofoqueiro. E pelo amor de deus, está de mudança para o meu quarto? Sai daqui, moleque chato.

Junghee apoia o livro e o caderno sobre a bancada, olhando para eles com uma súbita insegurança antes de voltar seu olhar, agora receoso, em minha direção.

— Matemática. — E diz, preocupado. — Você não vai mais me ajudar?

— Ah. — Eu suspiro, me recostando em minha própria cadeira. Minha mesa está cheia de papéis com cálculos extensos, facilitados pela calculadora científica, e cercados por pó de borracha. Minha última questão ainda vai ao meio, mas eu dou de ombros, incapaz de negar ajuda ao meu irmão. — Vai abrindo aí o livro e o caderno. Eu já estou acabando.

Junghee sorri mais aliviado, assentindo energicamente quando segura o material didático. Antes de abrir numa das páginas repletas de questões, ele para.

— Hyung? — E chama. Concentrado enquanto digito um novo sistema de equações na calculadora, apenas respondo com um murmúrio distraído. Ele vai em frente: — Quem é que você quer tirar da cabeça?

Eu viro o rosto para ele, sem esconder a expressão cheia de tédio.

— Não enche, Junghee.

— É Jimin hyung?

Não importa se ele está certo. Eu nego, furioso, girando minha cadeira apenas o suficiente para conseguir chutar a sua, fazendo-a deslizar para longe, sobre as rodinhas desgastadas. Ele resmunga, usando as duas mãos para segurar à beira da mesa e impedir de continuar rolando.

— Eu disse pra não encher. — E repito, impaciente. Para meu desespero, minha irritação não é causada unicamente pela curiosidade de meu irmão. É causada porque, diante de sua pergunta, eu me sinto quase impulsionado a aproveitar a brecha para falar de Jimin.

Eu quero falar sobre ele.

Cara... eu. quero. falar. sobre. ele. E eu nem sei exatamente o que. Só quero falar.

Isso é um péssimo sinal... não é?

— Ah, meu deus... — Resmungo, suspiro e estalo a língua numa sequência só. É claro que Junghee percebe e é claro que o sonso ainda aperta os lábios para conter uma risada, mas tem senso de autopreservação o suficiente para não falar mais nada sobre isso.

Sorte a dele, porque eu estou tão frustrado e irritado que faria sua cabeça se descolar do pescoço com um só tapa se tentasse fazer qualquer comentário.

Mas Junghee consegue palpar o perigo da situação atual e apenas aponta para a primeira questão que precisa resolver. Daí em diante, tudo que fazemos é estudar juntos. Um hábito antigo esquecido dentro dos anos de amargura e afastamento e que agora, retomado, me faz um bem danado.

Eu perco a paciência, ele também, nos provocamos constantemente e acabamos discutindo a cada segundo. Mas, ao mesmo tempo, reforçamos os laços fraternos enfraquecidos e nos divertimos juntos, também.

Estar com Junghee me faz sentir como uma pessoa normal, enquanto esqueço Jimin e toda a confusão macroscópica na qual estamos inseridos. Eu me sinto um irmão mais velho comum, que irrita e discute, mas também cuida e protege o caçula.

Eu lembro de ter ficado irritado e enciumado quando meus pais chegaram com a notícia de que eu teria um irmão. Hoje, não suporto imaginar minha vida sem ele.

Junghee é abrigo enquanto o mundo inteiro parece desabar e me entristece não saber colocar isso em palavras para ele.

— Ei. — Eu o chamo quando, ao finalizarmos suas questões, ele estica os braços para cima. É claro que ele me olha feio pelo tapa que recebe na nuca, mas o magricela não mete medo em ninguém.

— Você não sabe falar comigo sem me bater?!

— Sei não.

— Insuportável.

— Você que é. — Devolvo, irracionalmente imitando seu gesto anterior quando também começo a me espreguiçar. Depois de um bocejo, pergunto: — Quer assistir TV?

Sua expressão suaviza, mas não completamente. Agora, exibe um pouco de confusão no lugar da irritação.

— É sábado à noite, hyung. Você não vai sair?

Eu percebo, mais uma vez, como o afastamento interceptou os conhecimentos básicos que Junghee deveria ter sobre o irmão. Mas ao invés de confessar para ele que minha vida social é um fiasco e que na maioria das vezes em que eu saía à noite era para vagar sozinho por aí, eu apenas nego com displicência.

— Quer ou não, moleque? — E insisto, já que ele ainda não me respondeu.

— Eu faço pipoca. Você escolhe o filme. Mas! — Para, com os olhos arredondados e pretos mirados acusatoriamente em mim: — Nada de escolher Velozes e furiosos, desafio em Tóquio!

Eu ergo as mãos em sinal de redenção, seguindo-o quando, uma olhadela desconfiada depois, ele fica de pé e começa a caminhar para fora do quarto.

Na sala, nos separamos e ele vai até a cozinha; eu, caminho até o móvel da TV. Como não assinamos nenhuma plataforma de streaming, a solução é recorrer aos DVDs velhos que temos, mas tudo bem porque logo encontro o que quero assistir e, enquanto escuto os sons do milho estourando na panela, preparo tudo para quando Junghee finalmente aparece com um balde cheio de pipoca.

No meio do caminho, abraçando o balde enquanto usa a outra mão para pegar um punhado de pipoca quente, ele para com a expressão inconformada.

— Você escolheu Velozes e furiosos, desafio em Tóquio!

— Eu não tenho culpa se esse é o melhor filme que existe, entupidor de vaso. — Dou de ombros, me arrumando sobre o sofá. — Anda, traz logo a pipoca.

Ele nega, finalmente enchendo a boca com a porção que estava em sua mão. Sentado ao meu lado, com a boca ainda cheia, ele diz:

— Seu gosto é muito duvidoso. Péssimo. Por isso não dá uma chance a Jimin hyung.

Basta que eu olhe furioso em sua direção para que seus olhos se arregalem e ele saia arrastando a bunda seca pelo sofá, tentando escapar do tapa iminente enquanto se encolhe e subitamente começa a rir.

— Foi brincadeira, hyung. — O dissimulado anuncia em meio ao riso nervoso.

Eu apenas reviro os olhos e me estico para tomar o balde de pipoca, reivindicando-o como meu antes de me recostar relaxadamente, aumentar o volume do filme e encher a boca com a pipoca insossa enquanto tento esvaziar a mente da súbita vontade de se encher mais uma vez com pensamentos sobre Jimin.

Essa não é uma tarefa que vem se mostrando muito fácil, mas Velozes e furiosos consegue me distrair o suficiente porque o filme é, sim, bom. Até Junghee, que tanto me critica pelo gosto, fica entretido pelas cenas reproduzidas na televisão. E não só isso, aliás.

I wonder if you know how they live in Tokyo — Ele começa a cantar com a cabeça balançando de um lado para o outro assim que a música faz sua primeira aparição. Ao invés de cantar a linha seguinte, ele me olha e quase ordena: — Faz o "drift", hyung. — Aí, continua: — Then you know you have to go! Fast and furiouuus — E aponta a mão como se segurasse um telefone para que eu cante a parte pedida, mas eu não faço nada além de olhá-lo com tédio.

— Nem ferrando. — É a única coisa que eu digo quando ele continua à espera.

Antes que ele comece suas acusações sobre como eu sou insuportável, nós dois direcionamos nossos olhares à porta quando ouvimos o barulho de chaves antes que ela seja aberta.

Nossa mãe entra com a bolsa velha que eu comprei para ela pendurada no ombro e, antes de nos cumprimentrar, pousa os olhos na televisão. Suspira, entediada.

— Desafio em Tóquio de novo? — Pergunta, tão desiludida quanto Junghee ficou ao ver minha escolha.

— Pois é. Foi Jungkook hyung.

— Claro que foi. — Ela revira os olhos, deixando a bolsa sobre o móvel da TV antes de caminhar e dar um tapinha em minha perna sobre o sofá, para que eu vá mais para o lado e ela sente entre Junghee e eu. — Vou assistir essa porcaria com vocês.

— Credo, mãe.

Ela me olha com uma careta, mas acaba sorrindo antes de se inclinar e me dar um beijo no ombro. Antes de se afastar, ainda tem a pachorra de dar uma fungada e fazer uma careta.

— Fedorento, você está fedendo.

— Meu deus do céu... — Resmungo, impaciente, enquanto ela cai sozinha na risada, bagunçando meus cabelos antes de puxar as pernas para cima do estofado, abraçando-as.

— Já jantaram? — E pergunta, dando tapinhas carinhosos na perna de Junghee enquanto olha para ele. — Seu irmão desnaturado te deixou com fome, não foi?

— Eu tenho quinze anos, mãe... não preciso que ele faça minha comida. — O moleque relembra, contrariado, antes de responder: — E ainda não jantamos. A senhora já comeu?

— Já. — Ela sorri. — Saí para jantar depois do trabalho. Deveria ter trazido alguma coisa para vocês, né?

— A gente se vira. — Junghee logo diz antes que eu responda um "é!" muito inconformado. Depois, com esses olhos grandes e curiosos, ele olha bem para nossa mãe antes de perguntar: — A senhora estava jantando com aquele homem? O que gosta de você?

A menção do sujeito parece subitamente carregar o ar com uma sensação de puro desconforto. Minha mãe se move sobre o sofá, inquieta, e os olhos do mais novo de nós três parecem carregados de arrependimento e receio quando pousam em mim e percebem minha própria expressão.

O único som que vem de mim é um fungar alto quando eu desvio minha atenção de volta para a TV, tentando fingir que não ouvi o que acabou de ser dito e, mais ainda, tentando não ouvir a resposta.

Não dá.

Ainda é desconfortável como o inferno imaginá-la com outro homem que não seja meu pai. Mesmo que, conhecendo-o bem como o conhecia em vida, eu tenha a certeza de que seu discurso seguiria outro caminho. Ele me daria um puxão de orelha e me diria que minha mãe pode fazer o que quiser e que ele já foi sortudo demais por ter vivido vinte anos ao lado de um mulherão como ela.

Ele constantemente a chamava assim. Mulherão. Sempre me fazia querer morrer.

Mas ele era um bom marido, apesar dos apelidos escabrosos, além de pai excepcional. E não merecia ter nos deixado da forma que deixou, não enquanto nos amava e ainda amava sua esposa.

Eles nunca tiveram um ponto final. Nunca houve um término consensual, então é difícil assimilar que minha mãe saindo com outro homem é certo.

Mas eu não queria me sentir assim.

Certamente percebendo minha tensão e meu incômodo, minha mãe vira o rosto suavemente em minha direção e com voz e olhar cuidadosos, confessa:

— Eu vou ser sincera com você, Jungkook. — É assim que começa. — Um homem me chamou para sair e eu pensei em aceitar, mas... eu não aceitei. Eu não consegui, depois que você finalmente começou a se reaproximar de seu irmão e de mim, porque sei como você se sente sobre isso. E eu não quero criar mais atritos agora que estamos tentando ficar bem, porque vocês dois são o que mais importa para mim. Então pode ficar tranquilo, fedorento.

Junghee, previamente ciente e insatisfeito com a decisão de nossa mãe, não parece feliz com o lembrete de que ela está anulando suas vontades para evitar meu mal-estar irracional. Diante disso, eu suspiro.

— Obrigado. — E digo para ela.

Apesar de ouvi-la conversando sobre isso com meu irmão, é diferente ouvi-la dizer diretamente para mim. E aí ela sorri, não com muita felicidade, e suspira antes de fingir voltar a prestar atenção no filme.

— Olha essas roupas! Será que ficariam bem em mim? — Ela pergunta com falso entusiasmo, sei que para nos desligar da conversa anterior.

Eu dou de ombros, mesmo horrorizado com a ideia de minha mãe se vestindo daquela forma.

Mais horrorizado ainda com a percepção de que ela acredita tão veemente que precisa abdicar de qualquer coisa para não minar nossa relação familiar.

— Mãe. — Então chamo, sem olhar para ela. Não vou conseguir, se olhar. Aí, digo de uma vez como se não fosse nada demais: — Obrigado mesmo. Mas não precisa dispensar o cara por minha causa. Sai com ele, se quiser.

Eu percebo a mudança de sua postura, assim como noto seus olhos, simultâneos aos de Junghee, entregando toda a surpresa que estão sentindo. Antes que eles digam qualquer coisa, eu tento finalizar:

— Só não fica falando sobre ele na minha frente. Por favor. Pelo menos por agora.

— Filho... — Seu chamado vem emocionado antes que ela se incline em minha direção e me abrace enquanto deita a cabeça em meu ombro. Ainda aqui, ela ri, com encanto, antes de dizer: — Você voltou mesmo a ser meu fedorento...

Eu penso em negar, porque não acredito que seja possível voltar a ser a pessoa que era antes de perder meu pai. Mas eu posso tentar ser melhor do que fui desde que ele se foi, e estou tentando. E se é a isso que ela se refere, sobre voltar a ser uma pessoa que deseja ser melhor... é. Acho que estou, aos poucos, voltando a ser o que fui.

Então eu apenas fico calado enquanto ela prolonga o abraço, ainda deitada em mim, enquanto Junghee me olha com a mesma expressão surpresa, mas também orgulhosa. E é quando meu olhar encontra o seu que tenho a confirmação, porque o moleque logo abre um sorriso feliz e mostra o polegar num gesto de apoio e aprovação.

E é uma sensação boa, a de conseguir dar mais um passo adiante. No entanto, eu não menti. Ainda é desconfortável para mim, tanto que mal consigo voltar a me concentrar no filme. Eu me sinto inquieto e dou graças a deus quando os créditos finais aparecem na tela, permitindo que eu saia daqui.

De volta ao meu quarto ainda antes de jantar, eu sento na cama e passo as mãos pelo rosto, pelos cabelos, coço a nuca, fico de pé e volto a sentar, antes de deitar. Eu tento me distrair ouvindo música, mas só piora. Tento jogar Tetris e só tenho resultados desgraçados.

Está fazendo o que? (22:54)

Essa é minha tentativa seguinte.

Jimin.

Ele me tira tanto o juízo, me invade tanto os pensamentos, me faz perder dentro de minha própria mente... mas sempre me acalma e me faz bem, também.

Ansioso, talvez imaginando que ele já dormiu ou está ocupado com outra pessoa, talvez em alguma festa, cinco minutos são suficientes para que eu acredite que ele não irá responder, mas o sexto traz sua resposta.

Pensando em você, gracinha. (23:00)

Aliás... você mexeu na caixa em meu banheiro, não foi? O lubrificante estava fora do lugar (23:00)

A ideia é me acalmar, mas o que ganhei foi um coração ainda mais acelerado. Ótimo.

Cacete de Jimin do inferno.

A sorte é que, por mensagem, ele não sabe disso, assim como sequer pode tentar enxergar por trás da mentira que conto, em resposta:

Para de ser cafona. E não, não mexi. (23:00)

Deve ter sido Jungoo, então :) (23:01)

Mas me diz... como você está? (23:01)

Eu acho que fiquei um pouco mal acostumado com essa coisa de passar tanto tempo com você. Fiquei o dia todo esperando poder te ver :( (23:02)

Você disse que precisava praticar, então achei que estava ocupado (23:02)

É... um pouco. E vou continuar ocupado ao longo da semana. Lembra da seleção que falei para você? Para conseguir estudar numa academia de dança? (23:03)

A pré-seleção é no sábado e eu preciso que minha coreografia esteja perfeita, mas sempre sinto que está cheia de falhas. É exaustivo ): (23:03)

Se for a que vi você praticando em sua casa, já parecia perfeita antes... (23:04)

Sua dança é arte pura, Jimin-ssi (23:06)

Que inferno, Jungkook (23:06)

O que você faz com meu coração não é normal, eu te juro (23:06)

E você demorar 2 minutos digitando essa mensagem só me faz derreter ainda mais :( (23:06)

Não visualiza e me deixa sem resposta, poxa... eu posso mudar de assunto. Sei que você deve estar com o rosto lindo, todo vermelho, aí do outro lado (23:10)

Volta aqui e diz... por que você não me respondeu quando perguntei como você está? (23:11)

Porque eu não estou muito bem... acho (23:11)

Jungkook-ssi ): (23:11)

Você quer conversar? (23:12)

Sim... mas não sobre isso, não agora. Só conversar, sobre qualquer outra coisa... pode ser? (23:13)

Claro que sim, gracinha. Qualquer coisa para te deixar melhor (23:13)

Então vamos ao primeiro tópico de conversa: a festa de Kim Namjoon. Você vai comigo, não é? (23:13)

Não. Próximo tópico. (23:14)

Eu quase não consigo acreditar quando me percebo encolhido na cama, sorrindo enquanto troco mensagens com Jimin.

Ele me faz bem... ele me faz bem de verdade...

Assim, o tempo passa e eu não paro de respondê-lo e de prolongar a conversa nem mesmo quando finalmente saio do quarto para atender as reivindicações do meu estômago faminto.

Nós conversamos enquanto eu comia. Enquanto eu escovava os dentes.

Conversamos até três da manhã.

Antes de dormir, deitado com os olhos pousados no teto, eu apoio minha mão na barriga. Onde sinto, com o coração acelerado, o que devem descrever por aí como borboletas no estômago.

Torcendo para que a sensação amenize pela manhã, eu me entrego ao sono que se acumulou por horas e que exerceu bem sua função: ao acordar, as borboletas tinham ido embora, voado para outro lugar.

Mas aí eu peguei o celular e comprovei que as desgraçadas sempre voltam quando me deparei com novas mensagens de Jimin.

Bom dia, gracinha :) Espero que esteja se sentindo bem (08:54)

Eu dormi bem menos do que esperava e acredito que você sabe que a culpa é sua. Conversar com você é tão gostoso, Jungkook... (08:55)

E eu sei que isso não é necessariamente uma ofensa, mas foi a causa do meu descanso insuficiente, então considere como uma. E nós sabemos qual é a regra. 1 ofensa vale 1 motivo. Quer saber qual vou citar agora? (08:55)

Seu corpo. No meu abraço. Eu não lembro de já ter sentido o que senti enquanto te abraçava, enquanto você reagia daquele jeito rendido... e agora não paro de pensar em como preciso que você me deixe te tocar daquele jeito de novo (08:56)

Então, por favor... deixa. E me dê mais noites em claro, como a última. Elas valem à pena. (08:57)

Eu quase me sinto hiperventilar depois de ler cada mensagem sua. Meu coração dispara como louco e as malditas borboletas parecem ganhar intensidade de vôo, resistindo à sensação que se propaga de meu coração até o estômago.

É como... eletricidade. Como um raio que dispara dentro de mim.

Depois de digitar e apagar mil vezes a resposta que tento enviar, eu finalmente decido parar de amenizar minhas palavras e digo o que quero dizer, largando o celular imediatamente depois de enviá-las.

Bom dia. Estou melhor, espero que esteja bem (09:06)

Não me culpe por dormir tão pouco. Você quem fala demais. E não sei se isso conta como uma ofensa, mas caso conte... 1 ofensa = 1 coisa que gosto em você (09:06)

E eu gosto do seu jeito de me abraçar. Espero que me abrace de novo (09:08)

Em desespero, eu não consigo voltar a ver meu celular durante todo o dia. Eu entro em desespero por imaginar que Jimin já leu minha confissão e me desespero mais ainda ao imaginar o que ele pode responder.

À tarde, eu finalmente reúno coragem para descobrir. Pego o celular e vejo.

Jimin sequer respondeu.

E ele visualizou.

Por que ele sempre faz isso? E por que meu estômago revira completamente com sua ausência de resposta? O que eu sequer esperava ler, afinal?

Antes que a frustração se assente no fundo do meu peito, batidas na porta já aberta do quarto me fazem erguer o olhar antes de contrair minha expressão como um todo, sem entender o que ele está fazendo aqui.

— Que cara é essa, Jungkook-ssi?

Ali está ele, a figura inesperada, de pé enquanto me olha com curiosidade e segura um pacote de salgadinho de queijo, com um boné virado para trás fazendo suas orelhas parecerem orelhas de abano.

Quando foi que Taehyung chegou aqui em casa?

— O que você está fazendo aqui, moleque-ssi?

— Vim ver o Junghee. — Diante de minha expressão de pura confusão, ele revira os olhos ao esclarecer a dúvida que não chego a verbalizar, colocando tanta obviedade no tom que até me constrange: — Amigos vão nas casas uns dos outros, Jungkook-ssi. E eu não gosto de ficar muito em casa, então... — Finaliza junto a um dar de ombros.

— Não te ouvi chegar. — Resmungo, jogando minhas pernas para fora da cama quando, com o olhar desconfiado e previamente irritado, o vejo entrar em meu quarto e olhar curiosamente ao redor. — Ei. Nunca ouviu falar em privacidade?

— Já ouvi. — Ele responde.

Passando as mãos sobre a capa de um dos livros que peguei na biblioteca da Hangsang e sem respeito algum por meu aviso, ele pega meu caderno em seguida. E abre.

— Meu deus... quanta conta feia.

Um pouco depois de ouvir o barulho engasgado da descarga, enquanto Taehyung folheia meu caderno, a porta do banheiro se abre e Junghee aparece enxugando as mãos na calça de moletom.

— Hyung... — Chama nesse tom desconfiado que já me faz entender o que aconteceu.

Entupiu o vaso de novo.

— Puta merda, Junghee. — Eu praguejo, largando o celular de lado antes de ficar de pé. Em meu caminho até o banheiro, vou reclamando: — Vai comer um mamão, procurar um médico ou deus, pra ver se dá jeito. Na moral!

Sinceramente!

No banheiro, eu logo me deparo com a tragédia e reviro os olhos antes de me abaixar para pegar o desentupidor, torcendo para que isso dê jeito e eu não precise usar ácido, como acontece nos piores dias.

Xingando sem parar, puto da vida com o esforço para desobstruir o troço que ele deu à luz, eu só penso uma coisa: ao invés de matemática, eu preciso é ensinar esse moleque a dar jeito na própria merda, para ele deixar de ser mimado.

No entanto, ele não tem a prática que eu tenho depois de anos desentupindo vasos maltratados pelas pedras que ele caga, então sempre sobra para mim. E a experiência ao menos mostra seu valor, porque não demora para que, usando um braço para secar o suor na testa, eu use a outra mão para dar a descarga.

Aí eu me cheiro. Tomei banho há duas horas, mas já estou com suvaqueira.

Sem perder tempo, e sem me acalmar também, eu tranco a porta do banheiro antes de arrancar a roupa suada e me meter debaixo do chuveiro. Quando saio, eu nem me preocupo de estar indo somente com a toalha enrolada em minha cintura, mas me arrependo assim que entro no quarto e vejo que Taehyung e Junghee ainda estão aqui, sentados em minha cama enquanto fazem caretas para as páginas de meu caderno.

— Saiam daqui, cacete!

Os dois me olham imediatamente, mas Taehyung nem treme. Tudo que ele faz é apertar os olhos.

— Quantas tatuagens, Jungkook-ssi. Até nas pernas!

Ao perceber que não vai adiantar a não ser que eu agarre os dois pela gola e os arraste para fora daqui, eu bufo furiosamente antes de caminhar com passos fundos até o armário, onde pego qualquer roupa antes de voltar a me trancar no banheiro.

Quando volto, é claro que os moleques ainda estão em meu quarto, mas eu jogo logo um dos travesseiros simultaneamente nos dois para deixar clara a minha irritação.

— Ai, Jungkook-ssi. Assim eu vou acreditar que não sou bem-vindo!

Eu reviro os olhos, me jogando no colchão com a delicadeza de um cavalo logo em seguida.

Ansioso, checo meu celular. Ainda resposta nenhuma.

— Você está fazendo aquela cara de novo. — Taehyung resolve apontar. Meu deus, eu vou tirar esse menino daqui na base do chute...

— Acho que é por causa de Jimin hyung. — Junghee perde a noção, aparentemente. — Desde ontem ele está todo frustrado.

— Hm... — Taehyung pondera. Uma risada vem e eu vejo que ele tira o boné, bagunçando os cabelos antes de perguntar, descontraído: — Você gosta dele, Jungkook-ssi?

— Que os deuses me deem forças para não cometer um crime... — Eu peço aos céus, esfregando as mãos por meu rosto.

— Junghee gosta de uma menina. — De repente, Taehyung anuncia. Junghee perde a cor e engasga com a própria risada imediatamente.

— Taehyung!

— Os dois irmãos estão apaixonadinhos. Isso é fofo. Queria gostar de alguém também, mas todos os garotos que eu conheço são idiotas.

— Não precisava me expor! — Junghee ainda anuncia em fúria, com o rosto quase pegando fogo de tão vermelho.

— O que é que tem? Você vive contando as fofocas de seu irmão...

— Como é a história?! — Dessa vez, eu quem pergunto com total irritação. Junghee fofoqueiro do inferno! — O que você anda contando, moleque?!

Antes que ele responda, alguém toca a campainha de casa e ele aproveita a brecha para ficar de pé, gritando: — Eu atendo! — Antes de correr para fora do quarto.

Apenas com Taehyung aqui, ele se arrasta pela cama, balançando o celular em uma das mãos. Aí pergunta, todo sorrateiro:

— Quer saber quem é a menina de quem ele tá gostando?

— Taehyung! — Lá da sala, Junghee grita. Por um momento até penso que ele ouviu a sugestão bandida do amigo, mas seu tom não parece irritadiço: — Vem cá!

Moleque-ssi fica de pé, levando junto o saco vazio do salgadinho que estava comendo antes. Na porta do quarto, ele para e diz, antes de sair: — Depois eu te mostro quem é!

Eu suspiro com cansaço e irritação antes de ficar de pé para fechar a porta assim que ele sai. Depois, volto a me jogar de bruços na cama. Com a bochecha esmagada contra o travesseiro e a barriga contra o colchão, eu penso em checar meu celular mais uma vez, mas percebo que estou sendo ridículo e, antes de fazê-lo, desisto e solto um som mal-humorado ao puxar o travesseiro e dobrá-lo para que cubra minha cabeça.

Eu estou completamente envergonhado pela mensagem nunca respondida e pela descoberta sobre Junghee falando o que não deve para outras pessoas.

Quero me esconder do mundo, mas percebo que, para começar a fazer isso, deveria ter trancado a porta antes. E eu não tranquei. E logo ouço o som agudo e enferrujado da dobradiça implorando por lubrificação quando alguém entra no quarto.

É Junghee de novo? Ou Taehyung?

Dessa vez, eu juro que vou meter chute nos dois até eles irem parar em Plutão.

— Eu vou matar vocês. — Antes de fazê-lo, aviso e rolo pela cama até deitar de lado para dar as costas a eles. — E eu estou falando sério.

O que vem em resposta é uma risada que basta para fazer o jogo virar. Porque não é a risada nem do moleque, nem do moleque-ssi.

Essa é a risada de Jimin.

— O que foi, gracinha? — Ele pergunta, suave, enquanto sinto o colchão se mover quando ele senta ao meu lado.

Eu sequer consigo virar para olhá-lo, de tão surpreso e nervoso.

— Seu irmão e Taehyung estavam te dando trabalho? — Insiste, sem encontrar resistência de minha parte ao puxar o travesseiro para que ele deixe de cobrir minha cabeça e volte à posição inicial. Eu ainda sinto sua presença exatamente no mesmo lugar, mas logo sinto algo a mais.

Com cuidado, a mão de Jimin pousa em minha cabeça. Inicialmente, nada acontece, nem mesmo uma resposta de minha parte. Sua mão apenas continua assim, como se hesitasse. Aí seus dedos se perdem pelos fios, deslizando pelo couro cabeludo, acariciando a raiz sensível de meus cabelos.

Eu me encolho um pouco sobre a cama, definitivamente não por desaprovar seu toque, antes de finalmente juntar coragem suficiente para virar meu rosto e olhá-lo sobre meu ombro.

Quando meus olhos pousam em seu rosto, os de Jimin desaparecem e se reduzem a traçados suaves, estreitos e perfeitos enquanto seu sorriso ganha espaço no rosto bonito.

Aí, ele reduz o tom, tornando-o ainda mais baixo. E continua sorrindo, ao dizer:

— Boa tarde, Jungkook-ssi.

— Boa tarde... — Eu consigo responder, atrapalhado até na hora de piscar. Jimin ainda sorri e ainda me faz cafuné. Eu ainda estou confuso, mas não incomodado com sua presença inesperada que me faz finalmente me mover sobre a cama, até deitar de frente para ele. E com medo de ser mal interpretado, cuido de meu tom antes de questionar: — Por que você está aqui?

Ele inclina a cabeça brevemente para o lado. O sorriso já perdeu intensidade, mas ainda brinca no canto de seus lábios, sem sumir quando confessa:

— Eu precisava ver você. Acho que fiquei com saudade.

— Nós nos vimos há dois dias... — Relembro, sem saber se minha voz denuncia o efeito que sua declaração teve em mim.

— Eu sei... Mas o que você esperava depois de me mandar uma mensagem como a que enviou mais cedo? Eu passei o dia todo pensando em você, querendo te ver...

Engolir a saliva sempre foi tão difícil assim? Por que agora parece algo tão trabalhoso?

Acuado, eu peço: — Não precisa ser tão direto assim.

Não é difícil ler o nervosismo e falta de jeito por trás de meu pedido, então logo escuto a risada de Jimin enquanto ele se mexe sobre o colchão. Coloca as pernas para cima, depois se arrasta pra posicionar o quadril ao lado do meu e, por último, ocupa o espaço restante da cama enquanto deita com a cabeça sobre meu travesseiro.

Ele vira suavemente para poder continuar olhando para mim; um braço repousa debaixo de sua cabeça; o outro, sobre sua barriga, enquanto ele preenche o espaço que libero ao recuar mais em direção à parede, para que ele não acabe caindo.

Um curto período de silêncio se segue sob o olhar atento de Jimin, que parece fazer uma análise minuciosa de cada pequeno detalhe de meu rosto. Até me intimida, esse seu jeito de me olhar. Seu jeito de demorar os olhos acastanhados sobre meus lábios, com um sorriso pequeno dando as caras no momento em que sua atenção recai em meu nariz. Me deixa nervoso, mas me incentiva a fazer o mesmo.

Furtivamente, eu passeio meus olhos pela testa pontilhada com pintinhas que nunca antes tinha reparado; desço pelos olhos felinos que há tanto me afetam, com esse desenho único e intensidade covarde, passando pelo nariz surpreendentemente pequeno, que se espalha pelo rosto quando seus sorrisos se abrem.

Sua boca, estreita, de lábios cheios e protuberantes que parecem sempre estar formando o que só pode ser comparado a um bico manhoso, mesmo nos momentos em que sua atitude em nada condiz com manha.

A boca é onde mais quero me demorar, mas onde menos me demoro.

Meus olhos rapidamente desviam, hesitantes, e se erguem até encontrar os de Jimin à minha espera. Ele não sorri quando percebe que estava sendo observado, mas sua expressão é mansa, quase acolhedora.

Quando fala, sua voz tem exatamente a mesma característica.

— Jungkook. — Ele chama, primeiro.

Não precisa de resposta, porque percebe minha atenção inteira direcionada a ele. Depois de parecer ponderar, ele segue:

— Você me disse antes que não sabia se gosta de homens também... e agora? Sua dúvida ainda é tão grande assim?

Eu sou completamente pego de surpresa por sua pergunta, que não encontra resposta imediata. Não encontra, porque eu não sei o que dizer.

A ideia de me envolver com outro homem ainda é tão confusa quanto foi no primeiro momento? Mesmo depois de reconhecer a beleza de Jimin, seu efeito, me render ao seu toque e me perder em pensamentos sobre ele?

A resposta parece óbvia, mas não encontra o caminho para ser verbalizada. Morre na garganta, na insegurança, no medo de ser precipitado. Mas Jimin ainda espera, percebo que cada vez mais ansioso.

— Com licença. — O silêncio desconfortável é finalmente interrompido, mas não sei se fico grato por isso quando percebo que é minha mãe entrando no quarto.

Uma pequena brecha é forçada a se abrir na porta, através da qual ela coloca somente a cabeça para dentro para bisbilhotar. E é literalmente só isso que ela faz por alguns segundos, enquanto olha para Jimin e eu deitados aqui na cama.

Não me surpreende que Junghee seja fofoqueiro e curioso como é. Puxou à mãe.

— O que foi, mãe? — Eu pergunto, constrangido por sua óbvia aparição aqui somente para abelhudar.

Seu olhar pousa unicamente em mim e o rosto bonito se ilumina quando ela sorri. As rugas provocadas pelo tempo, talvez também pelo estresse de criar dois filhos desajeitados, se acentuam, mas em nada diminuem sua beleza.

— Vim perguntar se vocês vão ficar para o jantar. — Finalmente diz algo, depois de até gastar uns segundos para pensar numa desculpa.

Jimin deixa uma risada discreta, suave e adorável dar as caras, talvez percebendo o que aconteceu aqui. Aí, se move até ficar sentado sobre o colchão e usa a mão para realinhar os cabelos.

— Eu adoraria. A sua comida é deliciosa, senhora Jeon — Ele responde. Forçou um pouco a barra. De canto de olho, me lança uma olhadela furtiva antes de olhar para minha mãe novamente: — Mas eu gostaria de levar Jungkook para sair... se a senhora não se importar.

— Não! De forma alguma! — Ela garante com rapidez. — Fiquem à vontade! E você pode vir jantar quando quiser! Não espere o fedorento te chamar, ele é desleixado demais para isso e acho que tem vergonha da nossa casa.

— Mãe! — Repreendo assim que me atinge a percepção do apelido usado na frente de Jimin. Mas que inferno!

— Sim, sim. Já estou indo. — E lá vem Ga-eul fazendo pouco caso de meu constrangimento. — Com licença.

Quando sua cabeça começa a sumir por onde fez a aparição e a porta range ao começar a ser fechada, mais algo precisa ser dito. Aí, agora sentado sobre a cama, grito:

— E eu não tenho vergonha da nossa casa porcaria nenhuma!

Ao meu lado, Jimin me olha em silêncio. Os dentes pressionando o lábio cheio parecem a única barreira que impede o riso iminente.

— Cala a boca. — Eu digo antes que ele fale qualquer coisa. E basta isso para que ele caia na risada.

— Eu nem falei nada, fedorento.

Meu revirar de olhos é tão furioso que as órbitas parecem completar um giro de trezentos e sessenta graus enquanto eu fico de pé, nem sei para que. Jimin continua na cama, rindo, enquanto eu sigo até minha escrivaninha e começo a arrumar o material bagunçado apenas para me ocupar com algo e me distrair do constrangimento.

— Ei. — Ele chama, com o riso ainda permeando sua voz.

Eu o ignoro deliberadamente. Jimin insiste:

— Ei, gracinha...

Ainda a contragosto, eu cedo ao seu chamado e viro o rosto para o lado. Primeiro, vejo-o sentado relaxadamente com o corpo inclinado para trás, a bochecha deitada no próprio ombro e as mãos espalmadas atrás de seu quadril.

Depois, escuto sua voz: — Sua mãe já me deu autorização para te levar e você já está lindo, não precisa se trocar. Então... vamos?

Minhas sobrancelhas se contraem enquanto luto para ignorar seu elogio, focando em outra coisa: — Para onde?

— A festa de Kim Namjoon. Já começou.

Eu apenas nego, voltando a dar minha atenção ao material desordenado sobre a bancada. Em tréplica, nada escuto. Nada além do som provocado pela pressão dos pés de Jimin, cobertos pela meia, quando ele começa a caminhar pelo piso de madeira envelhecido.

Eu umedeço o lábio ao sentir sua presença tão próxima, seu corpo parado atrás do meu, e me atrapalho inteiro ao tentar cobrir a calculadora com a capa dura no mesmo momento em que sinto as mãos de Jimin repousando em minha cintura com o cuidado de quem toca um animal arisco. Em reação ao toque, meu corpo enrijece. O seu se aproxima. Seu peito toca minhas costas, suas mãos deslizam até que seus braços me envolvam pela cintura e seu queixo se apoia em meu ombro.

— Você não quer mesmo ir? — Ele pergunta, com cuidado.

Meu coração dá uma guinada furiosa e o frio na barriga se intensifica quando eu percebo o corpo de Jimin entregando os sinais de seu nervosismo enquanto me toca assim.

— Nós podemos fazer outra coisa... — Diante de minha ausência de resposta, ele vai em frente. — Eu só queria ter um tempo... normal, com você. Sem me preocupar com tudo que precisamos desvendar sobre o universo. Só... eu e você, juntos, porque queremos estar... — Com uma nova pausa, ele parece juntar coragem para perguntar: — Você quer, Jungkook?

A ideia de ir para a festa, que até agora não me parecia tão apelativa, de repente desperta meu interesse porque o que Jimin diz querer... eu acho que quero também...

Com alguma demora pelos efeitos de sua voz baixa e de seu toque, do abraço que não ouso rejeitar, eu finalmente digo: — Eu vou pegar um casaco.

Apesar de não poder ver, eu sinto o sorriso de Jimin se abrindo contra minha pele junto a um suspiro de alívio. Seu abraço se aperta um pouco mais e ele pressiona a bochecha contra meu pescoço apenas por alguns instantes, antes de deixar um beijo suave na pele que se arrepia inteira pelo toque.

— Ok. — Ele diz, ainda sem me soltar.

Eu levo minha mão à sua com o intuito de puxá-la para desfazer seu abraço, mas o efeito é contrário quando, no lugar, apenas envolvo seus dedos com minha palma.

Jimin sorri mais uma vez e, de surpresa, sinto seu corpo se erguer nas pontas dos pés para que sua boca alcance minha bochecha, onde pressiona os lábios num beijo demorado que me faz suspirar, fechar os olhos e virar o rosto um pouco mais para trás, para senti-lo melhor.

Seus lábios se afastam do primeiro beijo, mas logo se reaproximam para o segundo, mais rápido e furtivo, antes que seu corpo recue e ele diga:

— Pegue seu casaco.

Atordoado, com o estômago e peito em caos pelo beijo recebido no rosto, eu apenas faço que sim, distraído, antes de reordenar minha mente e respiração para caminhar até meu armário, pegar um moletom limpo que sequer combina com a calça de mesmo material que estou usando e desajeitadamente vesti-lo.

Ciente de minha escolha pouco elaborada, eu viro para ele e o encontro com um sorriso, que aumenta.

— Você é lindo, Jungkook. — E ele diz, sem qualquer motivo aparente para fazê-lo.

Você que é lindo, Jimin.

A resposta atravessa minha mente num reflexo tão rápido que me faz sentir o rosto esquentar apenas pela improvável possibilidade de Jimin conseguir ler minha mente.

Envergonhado, eu apresso meus passos quarto afora. Ao abrir a porta, apenas digo: — Vamos.

Acompanhado por Jimin, eu logo apareço na sala. Minha mãe está deitada no sofá enquanto parece usar toda a concentração da vida para digitar algo no celular; Junghee e Taehyung estão no chão, preparando um jogo com cartas de baralho.

Os três nos olham com uma atenção indiscreta assim que nos percebem. Meu rosto esquenta inteiro e eu sigo direto até a porta de casa, abrindo-a sem me tornar alheio às risadas que o moleque e o moleque-ssi compartilham.

— Estamos saindo. — É tudo que digo, enfiando os pés em meus coturnos ao lado da entrada.

Jimin, com um sorriso que aparece até na voz, se despede educadamente dos três: — Boa tarde, senhora Jeon. Espero poder voltar em breve para aquele jantar. — Direcionando a fala aos outros dois, finaliza: — E espero poder levar vocês dois para jogar boliche mais uma vez.

— É só dizer quando. — Minha mãe parece sincera em sua boa vontade para recebê-lo. — Divirtam-se. E se comportem, pelo amor do santo deus!

Mais risadinhas dos moleques.

— Tchau, Jimin-ssi! Tchau, Jungkook-ssi!

Eu reviro os olhos, saindo de uma vez. Jimin ainda oficializa nossa saída com mais um anuncio, antes de me seguir e fechar a porta ao passar para o lado de fora. Antes que ele diga qualquer coisa, me apresso para ser mais rápido: — Vamos no seu carro?

— Sim. — Ele responde, assumindo a frente quando corta o curto caminho até a calçada, onde Pandora está estacionada. Antes de entrar, sob o céu claro da tarde, ele gira sobre os próprios pés e sorri para mim, antes de perguntar: — Você viu?

— O que? — Pergunto, em confusão.

— Sua família já gosta de mim. Só falta você.

Eu abro a porta do carro de modelo esportivo para poder me abrigar no assento, já escondendo as mãos nos bolsos do casaco quando já estou com o cinto de segurança afivelado. Depois que Jimin também se senta ao lado, eu encontro dificuldade para encará-lo, um pouco mais para falar, mas falo:

Você sabe que eu não te odeio como antes, Jimin. Eu não estaria aqui agora se não gostasse de você.

Ele sorri, desse jeito que me faz ter certeza do que vai dizer a seguir. E eu estou certo.

— Você é uma gracinha, Jeon.

Eu finalmente cedo à vontade de desviar o olhar, entregando minha atenção a um ponto na direção oposta quando, com uma risada consciente, ele começa a dirigir.

O caminho é feito em quase completo silêncio, até que chegamos ao bairro residencial onde a casa de Namjoon, que já recebeu tantas festas, facilmente se identifica como a mais movimentada.

— Parece até que ninguém tem aula ou trabalho amanhã. — Eu pondero, em voz alta.

— Inclusive nós dois. — Jimin devolve, o que me faz rir até sem perceber. E com as mãos ainda escondidas e ele ao meu lado, nós seguimos pela calçada em direção à casa cheia de jovens, música e, sei bem, de álcool também.

Durante o caminho que percorremos, ninguém parece me reconhecer. Ou, até mais provável, muita gente me reconhece, mas não sente a menor vontade de sequer me cumprimentar ou direcionar o olhar por mais que 3 segundos.

Jimin é diferente.

Várias pessoas olham para ele, sabem quem ele é e o cumprimentam, mas sempre mantendo alguma distância na fala. Ninguém parece especialmente feliz por vê-lo. Sua presença parece ser tomada como uma constatação morna, que não desperta grandes desafetos, mas também não estimulam o oposto.

É uma sequência de: ah, Jimin está aqui. — E aí, cara. — Um toque de mãos, no máximo, e aí todos seguem a vida para conversas e presenças que lhes despertam mais interesse.

Não ser notado pelas pessoas ao redor e ser notado, mas nunca valorizado parecem vivências semelhantes à sua própria forma. Então sob o barulho da música alta, adiciono definitivamente esse novo item à lista do que temos em comum: a forma distinta como somos igualmente rejeitados.

Pelo interior da casa, vagamos assim. Desviamos dos corpos em estágio inicial de embriaguês, ele responde os cumprimentos que ainda recebe, mas seguimos como presenças completamente dispensáveis para a maioria.

Não para ele.

— Eu sabia que vocês viriam! — A primeira pessoa a realmente esboçar reações por nossa chegada é ele. Jung Hoseok.

Ainda com a palidez que se tornou característica desde o acidente, seu rosto consegue se iluminar com o sorriso que se abre.

Sem saber como reagir, eu fico parado enquanto ele vem em nossa direção e é recepcionado por um sorriso de Jimin, que vacila quando, de surpresa, nós dois somos simultaneamente abraçados por um Hoseok que sequer parece bêbado. Ele só parece... feliz. Por nos ver.

— Nós ficamos preocupados! — No lugar de continuar sorrindo, ele estala tapas em nossos peitos quando se afasta.

— Eu mandei mensagem dizendo que estávamos bem. — Relembro, inconformado por sua acusação.

— É fácil mentir por mensagem! — Hoseok insiste, apontando para um ponto atrás de si, com o polegar. Ao olhar, vejo o piromaníaco simultaneamente tentando se livrar de algum bêbado e olhando para nós com alívio nos olhos pequenos. Hoseok explica: — Yoongi estava muito preocupado mesmo. E se sentindo culpado também, por ter acusado o Jungkook. Nós queríamos ver vocês dois pessoalmente para garantir que estavam mesmo bem e também para nos redimir de verdade.

Os olhos de Jimin se apertam, enquanto o não-bruxo, ali afastado, dá um tapinha de consolo no ombro do cara que parecia implorar por alguma coisa, antes de se aproximar de nós três.

— Do que você está falando? — Jimin pergunta, sem entendimento algum já que não revelei para ele que Yoongi e Hoseok me acusaram de ter sido a causa de seu desaparecimento.

Ainda que a lembrança traga mágoas, ou talvez exatamente por isso, eu afasto o assunto: — Nada. Esquece.

— Aquele cara estava prestes a se ajoelhar e me prometer a vida em troca da minha ajuda para conseguir beijar meu irmão hoje. — Yoongi dispara assim que se junta a nós. Suspira, antes de dizer: — Oi.

Jimin é o único que responde verbalmente; de minha parte, apenas um aceno que graças a deus não é um sinal tosco de legal feito com o polegar.

Em seguida, silêncio. Desconforto. Parece que voltamos à estaca zero, depois de termos os quatro nos aproximado um pouco.

— Vocês disseram que descobriram algo novo sobre... bem, sobre o que quer que esteja acontecendo. — Yoongi é quem primeiro tenta salvar a situação horrorosa. — O que era?

Jimin exibe um sorriso suave, mas nega: — Falamos sobre isso depois. Hoje eu gostaria de ter um dia e conversas normais... sim?

— Justo. — É Hoseok quem concorda. Pensa, em seguida, até arquear as sobrancelhas e sugerir: — Querem ir na cozinha? Tem bebida e eu acho que alguém está cozinhando alguma coisa cheirosa.

— São asinhas de frango. — Yoongi suspira com cansaço. — É meu irmão quem está assando, enquanto me deixa aqui para lidar com os corações que arrebatou.

Eu não percebo que minha expressão reage tanto à primeira frase do anúncio, mas os outros três percebem e se divertem a ponto de liberarem gargalhadas.

— Eu andei percebendo. — Jimin pondera, divertido, enquanto me abraça pela cintura em um gesto descontraído. Olhando para mim, pergunta: — Jungkook-ssi gosta muito de frango, não é?

— Eu gosto de frango em uma intensidade normal. — Tento dizer, mas eles só se divertem mais.

— Vem. — Hoseok gesticula, tomando a frente em direção à cozinha: — Seu hyung vai conseguir algumas asinhas para você.

Eu nem sei por que toda essa atenção me faz sentir constrangido, mas a sensação intensifica quando percebo que Jimin, ainda me abraçando pelo lado, tamborila os dedos em minhas costelas para me fazer cócegas.

— Agora você está definitivamente feliz por ter vindo, não é? — Ele sugere, com leveza e sorrisos. — Tudo que precisava era de um franguinho assado...

Eu reviro os olhos, sem pensar antes de girar seu corpo e dar uma chave de pescoço frouxa e inofensiva, segurando-o assim, com suas costas contra meu peito e meu braço envolvendo seu ombro, enquanto começo a caminhar com ele pelo mesmo caminho que Hoseok e Yoongi seguiram. Jimin gargalha pelo golpe inesperado, se liberando da imobilização fraca quando chegamos à cozinha e, ainda rindo, me dá um tapa de repreensão mansa, no braço.

Eu tento não evidenciar tanto meu próprio sorriso, desviando minha atenção até Yoongi. Ele para ao lado de um rapaz mais alto, com ombros surpreendentemente largos, e logo percebo que o ombrudo está usando um pano de prato para balançar uma assadeira de teflon, enquanto o cheiro das asinhas recém-assadas se intensifica pela cozinha pouco movimentada.

Hoseok está na geladeira, pegando uma garrafa de vodka saborizada, e alguém familiar revira um dos armários baixos, preenchendo a cozinha com os sons desastrados de quando derruba uma pilha de travessas de inox.

— Precisa de ajuda? — Jimin oferece, diante da dificuldade do cara que logo levanta com uma única travessa em mãos, depois de guardar todas as outras.

Quando olha para Jimin, o sorriso dele aumenta, fica enorme, evidenciando as covinhas profundas nas bochechas.

Kim Namjoon.

O dono da festa. O cara mais bacana da escola. Agora, o mais bacana da universidade. Futuramente, o mais bacana de onde quer que esteja.

Ele sempre me deixou meio nervoso e eu sempre culpei, principalmente, as covinhas.

— Tudo sob controle. — Ele garante. Para ao lado do cara de ombros largos, ajudando-o a despejar as asinhas na travessa limpa. Sobre o ombro, ele olha para nós dois e pergunta: — Chegaram agora? Estão gostando da festa?

Eu vou logo dizer que sim, mas Yoongi é mais rápido ao negar, mesmo que a pergunta não tenha sido direcionada a ele: — Seu melhor amigo veio se entocar com você na cozinha e me deixou à mercê de todos os homens e mulheres que querem me usar para se aproximar dele.

O homem de ombros largos finalmente vira para levar a assadeira até a pia. Enquanto ele liga a torneira para enchê-la de água, eu percebo que o conheço.

É o irmão de Yoongi. Não lembro seu nome, mas lembro que ele trabalha no hospital, na ala onde sua avó está internada.

— Eu vim preparar um lanchinho para nos preservar, Yoon. — Ele diz, apesar do apelido carinhoso, com um tanto de impaciência forçada. — Nada de beber de estômago vazio. Aliás, fiquem à vontade. Podem comer.

Namjoon se aproxima do balcão ao redor do qual, agora, estamos os seis reunidos. A bandeja é colocada sobre o centro e Yoongi é o primeiro a se servir com uma das asinhas.

Jimin é o segundo. Mas, ao invés de comê-la, ele passa para mim.

— Obrigado... — Digo, incapaz de recusar enquanto sinto o cheiro irresistível.

Começando a comer, eu vejo Namjoon e o irmão de Yoongi conversando baixo sobre algo, antes de caírem na risada. Hoseok está servindo vodka em alguns copos recicláveis, sem perceber a olhadela que o piromaníaco lança em sua direção.

— Todos vão beber? — Hoseok pergunta, já enchendo o terceiro copo.

— Estou dirigindo. — Jimin é rápido em responder, antes de me olhar com calma. — E você, Jungkook-ssi?

Minha resposta é um dar de ombros que funciona como um sim e que não ganha a expressão mais satisfeita de Jimin. Se não era essa a resposta que esperava, não diz nada. Até sorri, pegando um dos copos já servidos e colocando-o na minha frente.

— Beba com cuidado, certo? — Ele pede. — Não precisa passar da conta.

Eu assinto, lambendo os lábios para limpar os restos de gordura antes de lamber meus dedos.

— Vocês podem escolher as músicas. — Quando a ausência de conversas fica desconfortável, Namjoon resolve dizer.

— Graças a deus. Não aguento mais quinze minutos com essa eletrônica podre tocando.

— Respeita o gosto dos outros, Yoon. — Seu irmão repreende com um revirar de olhos. — Aliás, o mal educado nem nos apresentou. Meu nome é Seokjin, sou irmão mais velho do crítico musical aqui.

Certamente, o loop que seguiu o nosso primeiro e único breve encontro no hospital já nos apagou de sua memória, então ele acredita que é a primeira vez que nos vemos. Forçando uma primeira golada de vodka garganta abaixo, eu espero Jimin se apresentar antes de fazer isso também.

— Eu sou Jung Hoseok. — O veterano de dança é o último. — É um prazer!

— Jung Hoseok... — Diferente de quando eu e Jimin nos apresentamos, essa última revelação parece despertar mais de seu interesse, enquanto Seokjin sorri alternando seu olhar entre o irmão e o dançarino, que não parece entender o motivo do sorriso. — Interessante...

— Hyung. Não.

— Ok... — Seokjin ergue as mãos em rendição, caindo na risada. — Ok. As asinhas estão gostosas?

Eu já estou na segunda, não completamente alheio à confusão de Hoseok, constrangimento de Yoongi e sorriso de Seokjin. Mesmo assim, respondo:

— Estão boas. Festas seriam melhores se tivessem mais comidas assim, no lugar de bebida ruim.

— E ainda assim você está bebendo. — Namjoon aponta, mais divertido que com julgamento.

Um dar de ombros desajeitado é tudo que sou capaz de fazer, antes de beber mais um tanto da vodka enjoada porque ele me deixa mesmo nervoso com facilidade.

É como uma outra versão do que Jimin me provoca, apesar de ter intensidade menor. Agora, pelo menos. Na época em que ele estudava na mesma escola que eu, eu chegava a hiperventilar só de cruzar nossos olhares.

— Enfim. O que planejaram para hoje? — Seokjin pergunta, cruzando os braços sobre o balcão. — Beber? Dançar? Beijar?

— Fala sério... — Yoongi revira os olhos, impaciente.

— Cala a boca. Você eu já sei que veio só reclamar. Quero saber dos outros.

Mais um revirar de olhos. Sem querer, um sorriso pequeno surge em meu rosto porque reconheço bem essa troca de farpas. E apesar delas, se Seokjin for como eu, ele ama seu irmão mais novo com todo seu coração.

Mas antes que qualquer outra resposta seja dada, o som escandaloso de algo quebrando na sala faz Namjoon erguer a postura e esboçar puro pânico no rosto, com uma asinha assada pendurada na boca.

Isho paresheu uma shanela quepranto? — Ele pergunta, sem tirá-la da boca.

Seokjin suspira. Arruma a postura, depois gesticula. — Vamos ver. Vou junto, porque você é diplomático demais para dar uma bronca com gosto. Eu, não.

Enquanto os dois caminham cozinha afora, com Namjoon muito mais apressado que Seokjin, Hoseok ri.

— Seu irmão é engraçado, Yoongi. — Ele diz.

— Diz isso porque não precisa ouvir as piadas ridículas que ele faz toda hora.

Hoseok nega, brincando com um copo vazio. Eu continuo concentrado em uma terceira asinha que começo a comer para esconder o gosto amargo que a vodka deixou em minha boca, depois de virá-la de uma vez.

E talvez eu tenha virado a vodka para esconder minha reação à mão de Jimin apoiada na base de minha coluna.

— Ele parece divertido mesmo. — O veterano de dança resolve insistir, antes de: — Mas... eu não entendi por que ele sorriu daquele jeito quando eu disse meu nome.

Yoongi nega, com tanto nervosismo que até eu me sinto nervoso por ele.

— Seokjin é maluco. — É sua resposta.

— Yoongi... — Hoseok o chama com esse tom de quem insiste por uma resposta verdadeira.

— Eu vou ver o lance da janela. — E o não-bruxo nega o pedido ao dar somente mais uma desculpa e, em seguida, gesticular e girar sobre os próprios pés para sair da cozinha.

— Ei! Yoongi! — Hoseok chama, também se apressando atrás dele, mas desajeitadamente pedindo licença para mim e para Jimin antes de sair da cozinha.

A música alta que vem da sala é a única coisa que escuto por algum tempo, até que vem também a risada de Jimin.

— Até eu fiquei curioso, agora. — E ele confessa.

— Eu acho que também fiquei. — Preciso confessar, porque toda essa tensão entre Yoongi e Hoseok finalmente parece ter atingido o pico.

Jimin olha para mim, rindo mais quando encontra algo em meu rosto.

— Você sempre se suja todo, quando come. — Sua reclamação vem mais como uma constatação divertida, enquanto eu deixo um som surpreendentemente bem humorado escapar e uso as costas da mão para tentar me limpar.

Jimin balança a cabeça numa negativa suave, ainda com um sorriso persistente, e usa seu polegar para limpar meu queixo.

— Aqui, gracinha.

Eu umedeço meus lábios, percebendo que ele já esfregou a sujeira para tirá-la de mim. Mas seu dedo continua no mesmo lugar. Seu indicador se dobra abaixo de meu queixo e seu olhar parece entregue aos meus lábios, até que ele pisca demoradamente antes de trazer seus olhos aos meus e suspirar.

— Sua boca também está suja. — E diz.

Eu quero perguntar por que isso parece ser causa de seu sofrimento, mas me calo e engasgo com a dúvida quando, depois de voltar a olhar para minha boca, ele desliza a língua sobre seu lábio cheio e esfrega o seu polegar contra o meu lábio inferior.

Ele suspira quando seu dedo repousa no centro, depois de deslizar de um lado ao outro, lentamente.

— Eu amo sua boca, Jungkook. — Confessa, sempre olhando para ela. — E eu não quero precisar te ofender para dizer isso. Eu sou louco por sua boca, meu deus...

O frango perde completamente a atenção antes capturada.

Jimin deve ser o único capaz de me fazer perder o interesse em asinhas de frango bem temperadas. Mas ele tira, porque todo o meu foco agora está em digerir seu toque e sua confissão. Está em tentar me impedir de cair na mesma armadilha, mas eu falho e, quando dou por mim, já fui rendido.

Meus olhos pousam em sua boca.

Tentam não continuar ali, mas são sempre atraídos de volta, atiçados pela forma como sua própria atenção nunca deixa meus lábios.

E ele é tão bonito. Cada milímetro de sua boca parece ter sido cuidadosamente desenhada para se tornar tão única e irresistível.

Seus lábios são tão cheios, volumosos, tão irresistíveis à vista.

A pergunta que atravessa minha mente não vem com minha autorização, mas vem, e me faz relutar contra o desejo de descobrir a resposta.

Me faz relutar, enquanto penso... como deve ser? Como deve ser a sensação de sua boca sob o toque?

Como deve ser beijar um homem?

Beijar Jimin? Beijar essa boca tão...?

Eu não tenho certeza sobre o que sinto. Não sei se é curiosidade ou desejo, mas sei que me irrita profundamente perceber que os olhos de Jimin não são os únicos atentos a mim.

Não mais.

Agora, um novo par de olhos acompanha um sorriso ácido enquanto o recém-chegado à cozinha para, com pouca distância, e olha para nós dois em silêncio, até começar a rir.

Jinhei está aqui.

Mais uma vez, é ele quem nos atrapalha.

— Jimin... você conseguiu mesmo fazer o esquisito do Jungkook se render a você?

Jimin fecha os olhos com frustração  e impaciência.

Talvez isso seja um sinal.

Nas duas vezes em que me senti tão tentado a ceder completamente a ele, Jinhei apareceu para atrapalhar. Deve, sim, ser algum sinal do universo.

Enquanto encho o meu copo vazio e na sequência já bebo um novo gole generoso demais, Jimin é quem fala com Jinhei.

— Não começa. — Ele pede, impaciente. — E não fale assim de Jungkook.

— Ah, não! Eu não vou te ver me deixar de lado por ele e não tirar proveito disso. Deixa pelo menos eu me divertir, Min.

— Não me chama assim. E pare. Eu estou falando sério.

— Quanto mau humor! — Jinhei ri e, por um instante, fica desconfortavelmente perto de mim quando se inclina para pegar uma das asinhas. Ainda próximo, ele pergunta: — Já beijou o Jimin? Ele beija bem demais, né? Imagina quando foder. Vai ser a melhor coisa da sua vida, eu juro, Jungkook!

Eu não preciso ficar aqui ouvindo isso. Não preciso, menos ainda quero.

Por isso, eu volto a encher meu copo antes de segurá-lo e dar a volta sobre meus pés. — Vou procurar Yoongi e Hoseok. — É a única coisa que penso em dizer antes de sair daqui.

E a última que escuto, antes de me enfiar na sala movimentada, é a voz de Jimin: — Eu já estou de saco cheio de você se esforçando tanto pra ser babaca, Jinhei.

Na minha caminhada indesejada entre todas as pessoas que bebem e conversam pela sala, acabo me esbarrando em várias delas enquanto viro goladas da vodka saborizada, tentando não pensar nisso.

E não estou falando sobre as palavras de Jinhei.

Eu não quero pensar em como me senti ao ouvi-las. O incômodo do lembrete implícito de que ele já fez tudo aquilo com Jimin, que talvez tenham feito quando eu estava desesperado sem saber onde encontrá-lo.

Admitir em voz alta não é uma opção. Mas eu não sei se consigo negar para mim mesmo.

Eu estou com ciúmes. E a sensação é horrível.

Quando meu ombro bate em mais alguém enquanto me apresso para qualquer outro canto da casa para tentar esquecer esse sentimento ruim, uma mão segura meu braço. Em seguida, a voz de Jimin parece reverberar mesmo sob todos os sons que me cercam.

— Jungkook, nós precisamos conversar. — É o que ele diz.

Afastá-lo não é um desejo que sinto agora. Eu não estou irritado com Jimin, apesar de me sentir irritado. A única coisa que me tira a paciência é Jinhei e sua insistência em me provocar e, principalmente, esse sentimento novo, tão indesejado. Mas Jimin não merece, nem será culpado por como me sinto.

— Por favor. — Ele insiste, com os olhos ansiosos.

Sem me opor, tudo que eu faço é balançar a cabeça uma única vez. Esse gesto basta para que seu olhar suavize, ainda que tão pouco, e sua mão segure a minha para que ele me puxe para o lado oposto.

Seguimos em busca de algum lugar mais reservado, jornada durante a qual nada é dito. Quando encontramos um cômodo vazio, que parece um pequeno escritório ou sala de estudo, Jimin me pede para entrar antes de também passar para o lado de dentro e fechar a porta.

Já estamos aqui. Ele disse que precisávamos conversar. Mas ele não diz nada.

— O que você queria falar? — Pergunto, inquieto pela espera.

Jimin massageia a própria nuca num gesto que entrega sua tensão, mesmo quando seu olhar parece suave, um pouco incerto.

— Eu não sei. — Ele diz, quase numa confissão.

— Então o que nós estamos fazendo aqui?

Ele caminha pela sala pequena, sem rumo específico. Para próximo à escrivaninha, talvez escolhendo bem suas palavras antes de responder minha pergunta.

— Eu realmente gosto de você, Jungkook. — É o que vem, enfim. — Eu gosto tanto que parece loucura. Mas gosto de você e gosto de me sentir assim. Se existir a menor possibilidade de você estar começando a me corresponder de verdade, eu quero que você goste do sentimento também. E eu sei que Jinhei e essa provocação imbecil dele podem te fazer sentir o contrário, então eu quero conversar. Quero esclarecer qualquer coisa que possa te incomodar agora ou depois.

Ele apoia o quadril na mesa de madeira, parando a mão sobre o próprio ombro antes de encolhê-lo num movimento incerto.

— Nós não precisamos falar sobre tudo agora. Nem é o melhor lugar para isso, mas se tiver algo que você quer me perguntar... pergunte. Por favor.

Eu tenho minhas dúvidas.

Eu quero perguntar. Mas também não tenho segurança o suficiente para fazê-lo, mesmo com dois copos de vodka começando a agir sobre meu corpo e consciência.

Então eu não pergunto. Jimin parece levar isso como uma resposta.

— Eu sou o único a sentir que nós não somos só amigos, não é?

Eu nego.

Meu deus, eu nego.

E a pergunta vem, diante de sua decepção tão aparente, diante da forma como ele interpreta meu silêncio:

— Você ainda transa com ele? Naquele dia em que você sumiu... vocês...

Jimin nega, lentamente.

— Eu só chorei e tremi, Jungkook. Tomei um banho, vesti roupas dele e vi as péssimas tentativas de Jinhei para tentar me acalmar no meio de uma crise. Pelo menos ele tentou. Mas não aconteceu nada além disso.

Eu balanço a cabeça, como se sequer precisasse concordar com algo. Silêncio vem. Depois, uma nova pergunta.

Essa me deixa mais nervoso.

— Ele disse que eu sou seu novo brinquedo. Você nem tentou negar. Por quê?

— Por que eu negaria? Jinhei sabe como eu me sinto por você e sempre me provocou por isso, porque ele é assim. Ele gosta de provocar e quanto mais nós mostramos que está nos afetando, mais ele provoca.

— Mas eu não sabia. — Confesso, quase sem acreditar que o faço. — Eu só ouvi ele dizer que eu era um novo brinquedo seu, depois te vi rir sobre isso. Foi esquisito, Jimin.

Ele suspira, parecendo frustrado com o próprio deslize.

Mais alguns segundos se passam enquanto ele parece relembrar do momento, antes de esfregar as mãos pelo rosto, ainda mais insatisfeito.

— Desculpa, Jungkook. De verdade. Eu te juro que não estou brincando com você. Me desculpa por não ter deixado isso claro, naquela hora.

— Não é que eu tenha acreditado no que ele disse. Eu só não entendi por que você não negou. — Confesso, um pouco envergonhado.

Jimin parece hesitar por um tempo, até que respira fundo.

— Então deixa eu esclarecer tudo de uma vez. — Ele pede, esticando a mão para segurar meu pulso. Depois de tirar o copo vazio de minha mão e deixá-lo sobre a mesa, Jimin me segura mais perto e vai em frente: — Eu estou sério sobre você e não estou com mais ninguém. Todos os casos de antes, o sexo casual... nada disso está acontecendo desde que tudo começou. E não só porque o colapso do universo sequer me deixa pensar nisso.

Jimin faz uma pausa. Suas mãos sobem por meus braços, até segurá-los na altura dos cotovelos. Um sorriso suave, até um pouco desajeitado, aparece em seus lábios, antes que ele finalize:

— Você é a pessoa de quem eu gosto, Jungkook. E eu não quero mais ninguém.

Parece tão fácil, para ele. Entender o que sente e falar sobre isso.

Para mim, por outro lado... não é. Nunca foi, não é agora que está sendo. Então eu não entendo exatamente o que sinto por Jimin, mas, agora, sei o que sinto diante de sua confissão.

E enquanto meu coração parece transbordar de alegria e alívio, existe algo a mais. Existe a resposta para a dúvida que senti enquanto estávamos na cozinha. Agora, é uma certeza.

Eu quero beijar Jimin.

Suas mãos ainda seguram meus cotovelos, seus olhos ainda esperam uma reação minha. Meu peito vai e vem devagar, quase numa tortura para fazer o ar alcançar meus pulmões.

Jimin sorri num gesto ansioso.

— Dizer o que sinto não é o que me deixa nervoso. — Ele confessa, no silêncio de meus próprios impulsos contidos. — O que faz meu coração acelerar tanto é esperar sua resposta e não saber se ela será boa, ou não.

Eu umedeço meu lábio. Não preciso olhar para sua boca, dessa vez. O desenho bonito, delicado e ao mesmo tempo tortuoso continua claro em minha mente. Tudo que meus olhos veem são os seus.

E acho que o que vem a seguir é minha resposta.

Minha mão sobe, incerta. Com ela, seguro sua blusa, pouco abaixo da gola, e amasso o tecido grosso entre minhas palmas e dedos. Os olhos de Jimin se enchem de confusão, minha respiração dói, e então a cura parece ser encontrada quando eu o puxo em minha direção, tão repentinamente que ele se bate contra meu peito, deixando que minha última visão seja a de seus olhos bonitos surpresos, antes que minhas pálpebras se fechem e eu dê fim à distância entre nós dois.

Sem interrupções. Sem dúvidas, pelo menos durante esse instante. E acontece.

Minha boca toca a sua. Eu beijo Jimin.

É um pressionar de lábios que não vai além, não evolui, mas tem intensidade o suficiente para que Jimin deixe um suspiro audível escapar quando sua boca se abre, ainda em contato com a minha. Suas mãos apertam meus braços e seu corpo se aproxima do meu quando o puxo um pouco mais, ainda segurando-o pela blusa.

E o toque se prolonga, ainda sem se aprofundar, mas também sem precisar. Porque apenas o selar dos lábios de Jimin sobre os meus faz meu estômago virar de ponta cabeça como nenhum outro toque, de nenhuma outra pessoa foi capaz de fazer.

Porque beijar Jimin parece ser o que eu já deveria ter feito há muito tempo.

Mas ele se afasta. Sua boca cria distância, sua testa toca a minha, sua respiração se confunde e suas mãos deixam meus braços para que ele segure minha cintura, enquanto sinto seu peito avançar e recuar.

Ainda com sua testa sobre a minha, eu sinto o movimento de negação que ele faz ao balançar a cabeça para os lados.

E antes que eu me desespere sem entender o porquê, ele pede:

— Por favor, Jungkook... me diz que não fez isso só porque bebeu...

Não foi. Não poderia ser, porque eu tenho certeza que a causa da tontura que sinto agora não é o álcool. É o beijo roubado e a sensação persistente que o toque de sua boca deixou na minha.

É Jimin quem me deixa perdido e atordoado. É Jimin quem me faz ficar preso no labirinto de minha própria mente. E é seu beijo o que me faz perceber que, na verdade, não quero encontrar a saída.

Não foi o álcool.

Eu o beijei porque...

Talvez deva dizer em voz alta. E digo.

— Eu te beijei porque você está certo, Jimin. Nós não podemos ser só amigos. E eu não quero ser só seu amigo.

Continua no próximo capítulo.

Vinte capítulos depois, A BITOQUINHA SAIU!

Não só vinte capítulos, né? UM ANO depois, também! Porque dia 12 nossa pitica completou o primeiro aninho e até então nada de beijinho jikook ):

Aliás, a comemoração do aniversário dela foi bem bobinha, só as contas do Jimin e do Jungkook interagindo com os leitores lá no twitter. Teve bastante resposta às perguntas que muitos sempre fizeram, então quem não viu, pode ir lá ver (lembrando, os users são @beejungkook e @jiminpandora)!

Ainda sobre isso, em um tweet específico o Jimin disse que era pro JK chamar ele na dm. Todo mundo surtou querendo saber o que ele ia falar, e o que ele falou lá foi o que ele falou para o Jungkook nessa última cena, quando entraram no escritório :x então, é... basicamente o Jimin já deixou claro que não está com mais ninguém, nem com o Jinhei

E teve gente achando, no capítulo passado, que ele estava na casa do Jinhei pra transar. Mia gente, o bichinho só foi lá chorar mesmo ):

Mas vamos lá. O que acharam do primeiro beijinho deles? Sei que muitos esperavam beijão, mas eu não senti que era o momento ainda... E vocês? Gostaram? Deu pra compensar um pouquinho da espera?

Espero que sim, de coração. Escrever sobre esses jikook se entendendo devagarzinho tá sendo gostoso DEMAIS e me deixa nervosa pensar que a leitura não tá sendo assim pra vocês ):

Bom... a festa ainda não acabou, viu? Ainda tem coisa pra acontecer. Coisas boas? Coisas ruins? hahahaha na próxima atualização todo mundo descobre!

Ah! Finalmente Namjoon apareceu! Gostaram do bebê?

Pra finalizar, vou deixar aqui esse edit PERFEITO que a @tah_kalepau (user do twitter) fez sobre aquela cena que me deixou toda mole, no capítulo passado:


E é isso. Espero poder voltar mais rápido com o próximo capítulo, mas não vou prometer porque vocês sabem que tá complicado por aqui ):

Esse capítulo não teve nada relevante sobre as teorias que fazem nosso cérebro fritar, então deixo o último parágrafo como um espaço para as teorias do que vocês acham que vai acontecer no resto da festa :xxx beijos, até o próximo ou até a #belindaepandora!

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