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[f(18) = 36 - x] Marcas de tinta

E FINALMENTE, bora matar a saudade, bora?

Antes de mais nada! Os jikook de cem chances agora têm contas no twitter! Para quem quiser aumentar a sofrência pela história, segue lá: @beejungkook@jiminpandora

Segundo, IMPORTANTE: esse capítulo tem uma cena na qual é conversado sobre as cicatrizes do Jimin. Se automutilação for um gatilho para você, ou essa cena específica se tornar desconfortável, pule para a seguinte. O início dessa cena está marcada por um parágrafo inteiramente itálico, com a primeira palavra em negrito. Seu fim está marcado por um parágrafo completamente em itálico, com a última palavra em negrito.

E por último, a @ifavsea lá no twitter fez um novo trailer INCRÍVEL pra endoidar um pouco mais os leitores de Cem chances (e a mãezinha dela, também!). Apreciem:

https://youtu.be/6whgGJO3KWM

🔮

— Hyung? — É Junghee quem me chama, assustado, quando eu caminho para dentro do boliche, ainda agitado e confuso demais.

— O que aconteceu, Jungkook-ssi? Cadê Jimin-ssi?

— Não sei. — Respondo, com o tom mais brusco que o desejado. — Ele correu, do nada. Parecia em pânico. Acho que viu alguém, ou alguma coisa. Eu realmente não sei.

Hoseok e Yoongi me olham com tanta surpresa e estranhamento quanto meu irmão e seu amigo. Sob suas atenções alarmadas, eu me atrapalho inteiro para deixar os lanches sobre a mesa pequena. Depois, pego minha mochila e praguejo alto quando, na agonia, acabo derrubando tudo que estava dentro dela, no chão.

— Você vai atrás dele? — Yoongi pergunta, cenho franzido, mãos buscando algo em sua carteira.

— Claro que vou.

— Nós vamos também. — Hoseok se dispõe, rapidamente.

— Eu também quero ir. — Junghee fica de pé, mas eu nego enquanto, ajoelhado no chão, desleixadamente jogo tudo para dentro da mochila outra vez.

— Você fica. Daqui, vai direto para casa. — Decido, tão firme quanto posso enquanto estou prestes a desmaiar pelo nervosismo. Junghee começa a reclamar, mas eu logo o calo, com mais determinação na voz: — Direto para casa, Junghee.

Ele continua de pé, mas sua expressão descontente, porém conformada, me dá a garantia de que ele entendeu o recado.

Aliviado por isso, eu abro minha carteira e estalo minha língua em frustração ao perceber que quase todo o meu dinheiro foi embora com o boliche e com os lanches que sequer irei aproveitar. Mesmo assim, eu tiro as notas que ainda tenho guardadas e estendo para meu irmão mais novo: — Aqui, para emergências. Para você e para Taehyung.

— Jungkook-ssi, não precisa se preocupar comigo!

— Cala a boca e aceita, moleque-ssi. — Resmungo, furiosamente jogando a mochila nas costas.

Junghee segura o amigo dois anos mais velho para contê-lo quando Taehyung parece prestes a dizer mais uma vez que não precisa. No lugar, é meu irmão quem fala:

— Obrigado, hyung. Avise se encontrar Jimin hyung.

Junghee está preocupado. Obviamente, não tanto quanto eu.

Eu já perdi as contas de quantas vezes Jimin foi a causa do meu coração disparado e eu honestamente prefiro quando o motivo é sua mão tocando a minha.

Mas, dessa vez, é o pânico quem faz meus batimentos se atrapalharem dessa forma.

Respirando fundo apenas uma vez, eu assinto para Junghee, e reforço: — Vá direto para casa. Avise quando chegar, ligue se acontecer alguma coisa. — Dele, meu olhar viaja até Taehyung: — Você também.

— Tá bom, hyung.

— Entendido, Jungkook-ssi.

Sem dizer mais nada, eu apenas lanço minha atenção para Yoongi e Hoseok, que já estão de pé, à minha espera. E então corro para fora do boliche, ouvindo seus passos atrás de mim.

— Ele foi por ali. — Assim que passamos pela porta de vidro, anuncio. Não me importo com a reação assustada de uma pedestre ao ouvir o som escandaloso da passagem vai-e-vem, quando essa foi empurrada por minha agonia.

— Você tem mesmo certeza de que não sabe o que aconteceu? — Yoongi pergunta, apressando seus passos para me acompanhar.

Eu nego. Eu não sei.

Jimin estava segurando minha mão. Nossos dedos estavam entrelaçados mesmo enquanto o entregador nos passava nossos lanches. De repente, sua mão não estava mais na minha. Seu sorriso não estava mais em seu rosto. Ele não estava mais ao meu lado.

Enquanto ando em agonia pela calçada movimentada, eu puxo meu celular para fora do bolso, perigosamente digitando uma mensagem enquanto mantenho as passadas largas e apressadas. Ombros se chocam contra os meus, alguém grita, impaciente, para que eu olhe por onde ando, mas apenas me preocupo em digitar, nervoso.

jimin por favor mw diz o qur aconteceu ou pleo menos diz omde voce esta (12:43)

A mensagem é recebida, mas não é lida. Sem esperança, eu amaldiçoo baixinho e volto a guardar meu celular. Minhas passadas se tornam mais rápidas.

— Filhote de brutamontes! — O não-bruxo grita por mim, possesso e ofegante. — Devagar!

— Vão até onde ele deixou o carro! Vejam se ele foi até lá. — Eu devolvo, sem parar de andar. — Me liguem ou mandem mensagem. Eu vou olhar ao redor.

Eu não sei se eles aprovam a ideia ou se opõem, porque não dou tempo para que opinem. A única coisa que que escuto, é a reclamação inconformada de Yoongi: — Nós não temos seu número, gênio!

— Use seus poderes de bruxo para se comunicar! — E antes que ele me amaldiçoe e repita que não é bruxo coisa nenhuma, eu já estou longe demais.

Deslizando entre todas as pessoas que caminham de um lado para o outro, eu olho para cada uma delas buscando reconhecer o rosto de Jimin. A cada segundo que passa e eu não o encontro, minha pulsação parece refletir minha preocupação crescente.

Continua tão claro, em minha mente. Ele estava feliz por segurar minha mão. Talvez nervoso, até. Seu sorriso estava tão bonito. Seus olhos se fecharam completamente, por um momento. Tudo isso, junto à sensação de seu toque, fez meu corpo decidir antes que minha mente fizesse o mesmo: eu queria prolongar aquele momento.

No entanto, no último instante em que olhei para seu rosto antes que ele fugisse, tudo tinha sumido. A felicidade, os olhos fechados pelo sorriso. Tudo sumiu, dando lugar a nada além de pânico.

Um pânico que não existiu nem mesmo enquanto lutávamos contra uma falha no tempo, então me pergunto... o que, ou quem, ele viu?

E enquanto eu venho descobrindo várias pequenas e grandes coisas desde que tudo isso começou, essa última foi a percepção mais concreta, no espaço de tempo mais curto.

Eu absolutamente odeio ver aquela expressão no rosto de Jimin.

Eu absolutamente odeio não saber para onde ele foi. Odeio perceber que não o conheço bem o suficiente para ter sequer uma ideia de onde ele poderia se esconder, quando precisa ficar longe do mundo.

Eu odeio lembrar da marca dos cortes em seu pulso, já cicatrizadas, e não saber se uma nova será criada agora que ele está tão transtornado.

Eu odeio cada coisa dessas infinitamente mais do que um dia jurei odiá-lo.

E sem saber para onde ir, eu apenas o procuro ao redor, torcendo para encontrá-lo ainda que minha esperança decresça a cada minuto que compõe a hora que se passa até que eu sinta o celular vibrar em meu bolso.

Com o suor se acumulando por baixo da camada de roupas quentes, criando a desagradável sensação de calor combinada ao frio inevitável do outono, eu rapidamente pego meu telefone. Torço para que seja ele.

Mas não é.

Hyung, eu já cheguei em casa. Tae também já chegou na casa dele. Achou Jimin hyung? Diga a ele que eu estou preocupado e vou guardar a parte dele da comida. E diga para ele vir comer com a gente. (É o Junghee) (14:20)

É claro que eu sei que é você, moleque. Ainda não achei Jimin, mas vou passar o recado assim que encontrar. Se comporte e não entupa o vaso (14:22)

Já cansado e sem saber para onde ir, eu me recosto na parede de um restaurante e esfrego as mãos pelo rosto, frustrado.

— Cacete, Jimin... — Praguejo sozinho, voltando a pegar meu celular para ver sua conversa.

Ele leu minha mensagem.

Ele leu minha mensagem e não respondeu.

Com um chute furioso em um alvo imaginário que quase acerta uma criança que passa em minha frente, caminhando ao lado do pai, eu expresso toda minha frustração antes de voltar a caminhar e simultaneamente digitar uma nova mensagem para o causador de tudo isso.

DIZ ONDE VOCÊ ESTÁ, CACETE (14:25)

Mal tirando os olhos do celular, eu volto todo o percurso até a rua ao lado do boliche, onde deixei Bee. Ao lado dela, ainda está Pandora. Sentados sobre seu capot, Hoseok e Yoongi continuam esperando que Jimin volte para pegar seu carro.

Pelo visto, não o fez até agora.

Mergulhados na própria conversa, que parece tímida e desajeitada demais, nenhum dos dois me percebe. Mas mesmo frustrado e preocupado, eu percebo. Hoseok está gaguejando. Yoongi está com o rosto corado.

Em reação um ao outro, eles mostram, de forma isolada, tudo que eu mostro em conjunto sempre que Jimin acha uma boa ideia me desequilibrar com suas investidas.

Mais que nunca, fica claro que algo aconteceu entre eles — ou está em vias de acontecer. Mas eu absoluta, definitiva, concreta, decisiva e inabalavelmente não me importo, principalmente agora.

— Eu não o achei. — Então anuncio, interrompendo as falas gaguejadas, as bochechas coradas e os olhares envergonhados.

Levando algum tempo para me perceber, entender o que digo e esboçar alguma reação, Hoseok ao fim aperta os lábios num gesto derrotado: — Ele também não veio pegar o carro.

— Não faz sentido. O que ele poderia ter visto para fugir assim? — Yoongi pondera, cuidadosamente ficando de pé. Quando seus olhos pousam demoradamente em mim, desconfiados, eu já aperto minhas sobrancelhas em antecipação, até mesmo antes de ouvir: — Você mentiu, não foi? Jimin não viu nada. Foi você quem fez alguma coisa?

— Yoongi... — Hoseok o repreende, preocupado, mas não em total desacordo com sua acusação.

Eu olho de um para o outro, sem acreditar. Eles acham que eu menti? Pior, acham que eu faria alguma coisa com Jimin?

— Jungkook, não é que a gente ache que você agrediu o Jimin fisicamente, nem nada assim. — É Hoseok quem tenta se explicar. — Mas você pode ser bem agressivo com as palavras e Jimin... ele olha para você de um jeito diferente, parece gostar tanto de você. Talvez você tenha dito algo que...

— Eu não disse nada! — Insisto, incrédulo e inconformado. E como se revelasse meu segredo mais profundo, eu digo, sem pensar: — Nós estávamos até de mãos dadas!

Hoseok parece se sentir um pouco culpado por pensar o contrário. Yoongi, no entanto, não demonstra nada além da mesma desconfiança silenciosa.

E eu não acredito nisso. Não acredito que pouco tempo atrás estava até mesmo pensando que eles eram o mais próximo de amigos que já tive. Não acredito que eu senti tantas coisas boas apenas por ter suas companhias, enquanto eles estão aqui pensando apenas coisas ruins sobre a minha.

— Jungkook, me desculpa... — Hoseok começa. É apenas seu tom subitamente desesperado que me faz perceber que meus olhos estão cheios de lágrimas. Eu estou prestes a chorar de raiva, mas também de mágoa. — Meu deus, nós não achamos que você é uma pessoa ruim, eu juro, nós não pensamos isso! É só que...

— Eu não me importo. — Eu o interrompo, mesmo que, dolorosamente, seja com uma mentira.

O olhar de Yoongi suavizou. Agora, parece um pouco mais arrependido. Hoseok ainda está desesperado, mas eu não quero ouvir. Apenas abro minha mochila para arrancar um pedaço de papel em meu caderno e apoiá-lo no capot de Pandora, antes de escrever uma sequência de números.

— Esse é meu telefone. — Anuncio, empurrando o papel contra a coxa de Hoseok. — Me liguem se o encontrarem. E se acharem que eu mereço saber.

— Jungkook, espera! — Hoseok chama, mas eu já dei as costas aos dois, calando-o quando, instantes depois, vesti meu capacete e o motor de Belinda cobriu sua voz.

Com o acréscimo de novos sentimentos negativos se acumulando aos que já estavam aqui dentro, eu piloto sem saber para onde estou indo. Entro em uma rua, saio noutra. O destino é tão incerto quanto o percurso, mas o objetivo é sempre o mesmo: encontrar Jimin.

Os únicos lugares onde eu poderia pensar em procurá-lo são a universidade, sua casa e a MoonMoon — todos distantes demais de onde ele estava. É improvável que ele tenha ido a qualquer um desses, se deixou seu carro no mesmo lugar. E, seguindo meu raciocínio atrapalhado pelos sentimentos que se acumulam, quanto mais eu me afasto do lugar onde nos separamos, mais parece impossível encontrá-lo.

A cada sinal vermelho, eu paro para pegar o celular e ver se não chegou uma resposta sua.

Nada chegou.

Eu estou em vias de desistir e de mandar outra mensagem, dessa vez amaldiçoando-o por me fazer sentir assim. No entanto, apenas enfio o telefone no bolso lateral da mochila e finalmente escolho um destino.

Minha casa.

— Hyung? — Assim que fecho a porta, os passos de Junghee ecoam antes que eu ouça sua voz e encontre sua imagem vinda do corredor dos quartos. — Achou Jimin hyung?

Eu jogo a mochila no sofá. Depois, jogo meu corpo, apoiando a cabeça sobre as almofadas antes de usar o braço para cobrir meus olhos.

— Não achei. — E anuncio. Ele não diz nada.

Junghee também vai achar que eu menti? Que, na verdade, fui eu quem fiz Jimin se afastar?

Algum tempo depois, tenho a resposta ao sentir o assento do sofá afundar quando ele senta na ponta, perto de meu tronco, e dá um soquinho desajeitado em meu ombro.

— Não fica assim, hyung. A gente vai achar ele.

Eu aperto meus olhos sob o abrigo de meu braço ainda cobrindo-os, sem saber o que fazer com a sensação de alívio de não encontrar sequer uma ponta de desconfiança em meu irmão.

— Quer comer? — Pergunta, puxando meu braço para que eu o olhe. Quando o faço, seus olhos arredondados, pretos e preocupados estão pousados em mim. — Eu posso esquentar a comida para você.

Eu pisco devagar, sob toda sua atenção e preocupação pelo irmão mais velho. Finalmente, um sentimento bom se une à catástrofe em meu coração e eu seguro seu braço magro, puxando-o até ouvir sua reclamação discreta quando sua cabeça deita desajeitadamente em meu peito e eu o seguro assim por um tempo, mesmo que ele se debata um pouco.

— Obrigado, moleque.

— O que? Pelo que? Quer que eu esquente ou não? — Ele questiona, ainda se remexendo para que eu o solte.

— Não estou com fome.

— Mas tem que comer. Você não almoçou.

— Sim. — Cedo, sem força para discutir. — Então esquente.

— Ok. Mas me solte primeiro! — Resmunga, empurrando o corpo o magro para cima, sempre tentando se livrar de meu abraço mais forte que seu corpo magricela. — Hyung! Deixa de ser esquisito!

Eu sorrio fraco com sua agonia, finalmente liberando-o. Ele logo fica de pé e me olha, brevemente me fuzilando antes de caminhar para a cozinha, claro que repetindo que eu endoidei.

Ainda deitado, eu pego meu celular. Nada de Jimin. Digito uma nova mensagem, sob os sons desastrados de Junghee na cozinha.

Ao menos dê um sinal de vida... (15:40)

Nenhuma resposta e muito mais tempo que o necessário depois, Junghee volta para a sala com uma porção de frango frito requentado e murcho.

— Aqui, hyung. — Ele diz, com uma careta, quando traz a bandeja de isopor até onde estou. — Não parece que ficou bom, não.

Eu nego. Quer dizer, parece bem bosta mesmo, mas ele não precisa saber.

— É o microondas que deixa tudo meio merda. Valeu, moleque.

Ele apenas assente, antes de coçar o próprio braço, hesitar por um segundo e finalmente ocupar o lugar ao meu lado quando eu sento para comer.

De início, tudo que ouvimos é minha mastigação alta. Junghee apenas repuxa as bolinhas de tecido na calça de seu uniforme, tão inquieto que fica claro para mim que quer falar alguma coisa. Tempo depois, confirmo.

— Você está preocupado, não é?

Eu arranco mais um pedaço da coxa ressecada, lambendo os cantos dos lábios para limpar a gordura. Ele encolhe os ombros, frustrado diante de minha ausência de resposta.

Com os dedos engordurados, eu olho para as coxas de frango empanadas e requentadas na bandeja de isopor. Junghee continua me olhando.

— Aconteceu mais alguma coisa? — Ele pergunta, cuidadoso. — Você parece preocupado, mas... magoado também.

Eu finalmente paro de mastigar, forçando o bolo de comida garganta abaixo. Com a boca livre e o coração carregado, eu confesso:

— Hoseok e Yoongi acharam que eu estava mentindo. —Digo, tentando esconder a vergonha. Sei que falho. Por isso, não o olho, apenas mantenho minha atenção na comida, brincando com o osso de uma coxa ainda intocada. — Eles acham que eu quem fiz Jimin fugir, por ter dito algo ruim ou qualquer coisa assim.

Junghee continua calado. Eu ainda sinto sua atenção. Ainda sinto vergonha. Então, tento despistá-lo ao dar de ombros.

— Enfim. O que eu esperava depois de ser uma pessoa tão desagradável? Só estou colhendo o que plantei.

Mais uma vez, silêncio. Junghee coça o braço mais uma vez — ele sempre faz isso, quando está ansioso —, e por fim sua voz acompanha o som exagerado da minha mastigação quando arranco mais um pedaço generoso de frango.

— Da primeira vez que Jimin hyung veio aqui, ele te olhava com muito carinho. Nossa mãe também percebeu. Mas você olhava para ele com desconfiança. — Junghee diz, a voz suave acompanhando seu olhar que continua pousado em mim.

Eu arranco mais um pedaço, enchendo ainda mais a boca para não precisar falar, porque não sei o que dizer. Junghee, por outro lado, sabe:

— Seu jeito de olhar para ele mudou, hyung.

Eu o olho, um tanto espantado por toda sua certeza, e ele sorri diante de minha surpresa.

— Eu não sei se isso quer dizer que você gosta dele do mesmo jeito que ele disse gostar de você...

Eu uso as costas da mão para limpar minha boca, antes de perguntar: — O que isso tem a ver?

Junghee aperta os ombros mais uma vez. — Quer dizer... eu não sei se você gosta dele. Mas você se importa muito. Disso eu tenho certeza. E você pode ser bruto, esquisito e desajeitado, mas mentiroso nunca foi. Então se você tivesse magoado Jimin hyung hoje, eu sei que não mentiria sobre isso. E você não estaria se sentindo só preocupado e magoado. Você também estaria se sentindo culpado.

Eu lambo meus lábios, capturando várias migalhas do que já foi uma crosta crocante. Antes que eu pense no que dizer, ele vai em frente:

— Talvez Yoongi hyung e Hoseok hyung só não te conheçam bem o suficiente ainda, por isso não sabem do que eu sei. Mas deixe que eles conheçam e eles vão ver o que eu vejo também. Eles vão confiar e adorar você, hyung.

Eu pisco, sem acreditar em toda a maturidade que cabe nesse corpo miúdo.

A cada segundo, eu tenho mais certeza de que não o amo somente porque ele é meu irmão. Eu o amo porque Junghee é um moleque sensacional.

Ao fim, um sorriso inesperado e pequeno surge em meu rosto, como consequência de sua confiança em mim, de seu jeito com as palavras e do quanto ele me conhece bem.

— Moleque... — O chamo, então. Quando os olhos redondos pousam em mim, cheios de expectativa, eu esfrego a última coxinha de frango engordurada em sua bochecha. Ele urra, cheio de ódio.

— Hyung!

Eu mordo a coxa ressecada, até sentindo-a menos rançosa quando sorrio com a boca toda suja, ciente de que tenho farelos até na bochecha, como Junghee também tem, agora.

E ainda diante de sua fúria, confesso, com a boca cheia:

— Você é bacana demais, Junghee.

Seu olhar ainda cheio de raiva se torna confuso, também cheio do amor fraternal que tem, em sua fórmula básica, uma dose inevitável de ódio.

Ter irmãos é, certamente, a forma mais fácil de amar e simultaneamente odiar alguém.

Aí o caçula que me ama e me odeia fica em pé, esfregando a bochecha suja e me fuzilando com o olhar antes de marchar, furioso, em direção ao banheiro:

— E você é nojento, hyung!

Eu sorrio um pouco mais, terminando de comer meu almoço bosta agora no castigo da solidão que ele me impõe depois de bater a porta de seu quarto.

Mas talvez seja claro que o meu sorriso não durou muito — porque um outro castigo me é dado, esse muito pior que a raiva inofensiva de meu irmão: a permanência do sumiço de Jimin.

Sem mensagens de resposta, ainda que o aplicativo mostre que ele leu tudo que eu enviei. Sem chamadas atendidas, quando resolvi ligar.

Talvez ele não queira ser encontrado.

E ainda que eu tire o restante do dia para respeitar sua suposta vontade, a minha não é respeitada — e eu tinha apenas um desejo, o de ao menos saber que Jimin estava em algum lugar seguro.

Pela agitação provocada por isso, eu não tive um restante de dia exatamente produtivo. À tarde, não consegui ajudar Junghee com os estudos — embora ele tenha sido perfeitamente compreensivo sobre minha falta de foco, logo me convidando para assistirmos TV juntos.

Não sei até que ponto ele estava sendo atencioso, ou se estava mais interessado em fugir de uma tarde de estudos, mas não questionei. Apenas fiquei em silêncio, ouvindo sua risada desengonçada enquanto assistíamos um episódio qualquer de One punch man.

Ao deitar na cama, depois de mal aproveitar o jantar que compartilhamos com nossa mãe, eu continuei esperando qualquer sinal de Jimin. No entanto, não foi com uma ligação sua que meu celular tocou escandalosamente ao meu lado, preenchendo o quarto com a voz do Jello Biafra.

— O que? — É assim que atendo ao reconhecer o número de Yoongi na tela.

Apesar de não tê-lo salvo por pura preguiça, eu ainda lembro da sequência de números que precisei decorar ao pedir sua ajuda pela primeira vez.

Eu adoro sua delicadeza. — Ele responde.

— Aparentemente, é só grosseria que você espera de mim. Diz logo o que é.

Eu ouço seu suspiro, lá do outro lado. Não sei se está impaciente ou ressentido, mas espero que seja a segunda opção.

Ele que engasgue e sufoque com o próprio arrependimento, piromaníaco do inferno.

Eu só queria avisar que não tivemos sinal de Jimin. Ele não apareceu para buscar o carro e estava ficando muito frio. Você sabe que Hoseok já não está bem, então eu achei melhor ir embora.

— Hm. Certo. Era o melhor mesmo. Era só isso?

Sim. Quer dizer... — O não-bruxo hesita, do outro lado da ligação. Mais um suspiro e segundos de silêncio se prolongam antes que ele volte a falar: — Escuta, Jungkook, eu sinto muito, ok?

— Pelo que?

Você sabe. Por ter te acusado daquele jeito. Foi exagero meu e eu realmente não acho que você é má pessoa... na verdade, te acho adorável, até. Eu já disse. Desculpa se eu... — Ele para, ao parecer se corrigir: — não. Desculpa por ter te magoado.

— Eu não fiquei magoado.

Yoongi ri baixo e eu não entendo o motivo do riso.

Sabe por que eu te acho adorável? Porque você é muito transparente. Suas reações são muito claras, então eu sei que te magoei. Hoseok também sabe e está se odiando, dizendo que é o pior hyung do mundo. Espero que possamos recompensar.

Eu aperto o telefone. Mais um sorriso improvável nasce, como um oásis num deserto.

— Tanto faz. — É o que digo.

Yoongi ri de novo: — Para de posar de difícil e respeite seu hyung, filhote de brutamontes. Boa noite. Até amanhã.

— Tanto faz. — Repito por pura implicância.

Yoongi resmunga e ri ao mesmo tempo, antes que eu finalize a ligação e, com o coração apenas um pouco mais leve, tente dormir. Antes, apenas envio duas últimas mensagem.

Parece que está frio. Você está num lugar quente? Tudo bem se não quiser me responder, só se cuida e se proteja. Não queira ficar doente, porque minha canja é escabrosamente ruim, mas eu vou fazer e enfiar na sua goela se você sequer espirrar ou tossir depois de hoje. (21:34)

Boa noite, Jimin-ssi. Fica bem. Espero que até amanhã. (21:34)

Finalmente pronto para embalar num sono de má qualidade, mas necessário para que eu tenha energia para meter vinte cascudos e trinta gritos em Jimin quando encontrá-lo, eu mantenho o celular com o volume alto para acordar caso ele me procure.

Infelizmente, nada me acorda além da minha própria insônia, que bate no meio da madrugada e se prolonga por horas a fio. Assim, quando o sol nasce, eu estou um caco.

Em outras situações, isso seria muito mais que o suficiente para me fazer faltar a aula — porque não importa o quanto eu seja bom aluno, minha preguiça de sair da cama pela manhã é sempre maior que a vontade de aprender.

Hoje, como era de se esperar depois de tudo que aconteceu nos últimos dias, o padrão se desfaz e eu levanto ainda antes de ouvir o despertador. Também fico pronto em tempo recorde, porque nem mesmo preciso desentupir a bosta de Junghee — ou ele aprendeu a fazer isso sozinho, ou está no seu terceiro dia sem fazer dar alívio ao intestino.

— Vamos um pouco mais cedo. — Eu anuncio para ele quando nos encontramos na cozinha, já prontos para tomar o café da manhã.

— Eu levo seu irmão, Jungkook. — Nossa mãe diz, mexendo o pó do café solúvel junto ao leite quente. — Você já fez isso durante quase toda a semana. E eu marquei reunião com o diretor para semana que vem. Quero sondar o ambiente, antes de calcular quantos coquetéis molotov preciso levar.

— É mais caminho para mim que para você. — Respondo, apenas um instante antes de enfiar mais da metade de uma torrada na boca e dar um chute nas pernas de Junghee, por baixo da mesa, para que ele coma tão rápido quanto eu. — E eu sou melhor de conta. Pode deixar que eu calculo.

Ao receber uma olhadela irritada do caçula, eu faço uma careta para ele, sem perceber que nossa mãe nos olha silenciosamente.

— Ei, fedorento... — Ela me chama, então. — O que aconteceu?

— Como assim? — Devolvo, de boca cheia.

— Você está diferente. Quer dizer... está mais parecido com o que costumava ser. — Ela explica, curiosa, atenciosa e simultaneamente confusa. — E eu não estou reclamando, nunca. Eu não consigo começar a explicar como estou feliz por ter meu fedorento de volta. Mas... foi tão repentino...

Minha garganta até dói, quando eu engulo uma cacetada de comida mal mastigada. E sequer entendo qual o motivo da pressa, já que não sei o que dizer.

Como explicar para ela que uma falha que gerou a repetição catastrófica do dia 21 de outubro me fez confrontar minha vida e minhas atitudes?

Aí, Junghee toma partido na conversa (mas sua resposta me faz desejar que continuasse calado):

— Foi Jimin, mãe.

Nossa mãe sorri, felizmente mais racional que o mais novo da casa.

— Eu acho que Jimin faz bem a Jungkook, mas não acho que uma pessoa muda a outra assim. — Seu olhar suave, já marcado pela passagem do tempo, pousa em Junghee. — Com certeza algo aconteceu, mesmo que tenha sido somente um momento de reflexão. Mas a única pessoa responsável pela mudança de seu irmão, é ele mesmo. Ninguém muda ou transforma a gente, filho. Só nós somos responsáveis pelo que somos e pelo que fazemos.

Sem precisar pensar muito, eu sei que ela tem absoluta razão. Se eu não estivesse disposto a mudar, não tem pessoa no mundo que o faria por mim.

Então ainda que Jimin esteja se transformando em alguém que eu goste de ter ao meu lado, ele não é responsável pela minha aproximação com minha família. Esse mérito é meu — assim como a culpa seria apenas minha, se eu não tentasse.

Junghee, ainda imaturo demais para essas reflexões, apesar de tão maduro para outras, apenas suspira e dá de ombros, antes de resmungar:

— Mas eu gosto de Jungkook hyung quando está perto de Jimin. Ele sorri mais. Fica todo bobo.

—Bobo, é? — Minha mãe questiona, toda interessada. Antes que Junghee fale demais, eu dou um tapão em sua nuca e arrasto a cadeira pelo chão para ficar de pé.

— Anda logo, moleque. Já disse que precisamos sair cedo.

Ele e minha mãe trocam olhares e risadas, enquanto eu bufo furiosamente e torço para não ficar vermelho e acabar me denunciando.

Com ainda mais pressa para sair de casa, eu e Junghee logo estamos em Belinda, sem que eu dê espaço para que ele fale qualquer coisa. Quando paro em frente à sua escola e espero que ele guarde o capacete, apenas digo:

— Qualquer coisa...

— Eu sei. Eu ligo. E me dê notícias sobre Jimin hyung, tá bom?

— Viu. — Quando ele começa a se afastar pelo pátio quase completamente vazio, ainda digo: — Não mate aula hoje, bandido!

— Vou tentar!

Aproveitando por estar tão cedo, eu logo volto a fechar o visor do capacete e acelero em direção à rua próxima ao boliche, onde o carro de Jimin estava na última vez em que o vi. Quando chego, ele não está mais lá.

Isso me alivia apenas em partes — porque ou Jimin voltou para buscá-lo, ou alguém roubou Pandora. Por isso, nada irá me aliviar completamente até que eu ponha meus olhos nesse bendito dançarino despudorado.

O primeiro lugar onde penso em procurá-lo, é na Hangsang.

Eu volto a acelerar, agora em direção à universidade, onde estaciono Bee na primeira vaga disponível e em seguida caminho até o prédio dos rodopiadores.

O estacionamento por aqui está quase vazio, então é fácil perceber que Pandora não está ocupando nenhuma vaga. Mesmo assim, eu espero. O estacionamento enche. Nada. Os alunos somem dentro dos prédios, para as aulas. Ainda nada. Continuo esperando. Uma hora depois, o resultado é o mesmo. Quando as calçadas e passarelas do campus voltam a ficar cheias de alunos transitando para as aulas seguintes, nada muda.

Reconhecendo que a escolha de procurá-lo no campus foi infrutífera, eu levanto do degrau onde estive sentado por todo o tempo. A ideia é ir até Bee e só então decidir onde procurá-lo, dessa vez.

Antes que o faça, no entanto, eu vejo dois rostos familiares que não me despertariam tanto interesse em outra situação.

Mas uma das duas pessoas está fumando.

Na conjuntura atual, eu daria tudo por um cigarro — e como não tenho nenhum comigo, já que o reset, Jimin e Junghee deram um jeito de sumir com todos os meus maços, eu rapidamente passo reto por Belinda, agarro o capacete pela abertura do visor e abro passadas largas até onde as duas estão, encostadas na mureta do nosso departamento enquanto conversam.

Sora prendeu os cabelos tingidos de rosa num rabo de cavalo baixo; quando não está entre os lábios, o cigarro está entre seus dedos, sendo movido de um lado ao outro enquanto ela gesticula espontaneamente ao falar.

Woo-ri está em sua frente. Como sempre, carregando seu volume absurdo de livros nos braços, uma expressão levemente desconfortável no rosto e a postura muito mais tensa que a de Sora.

— Tem outro cigarro? — É assim que anuncio minha presença, interrompendo a conversa das duas que logo que olham.

Eu sei que Junghee me odiaria, por estar fazendo isso. Mas esse é um daqueles momentos em que a sensação destrutiva de um cigarro se torna irresistível.

Porque é difícil como o inferno resistir à familiaridade nociva de um vício quando todas as minhas emoções estão desmoronando.

— Quanta educação. Parece um lorde. Oi para você também. — Sora responde ao me olhar por cima do ombro, sem fazer tanto caso de minha presença.

Woo, por outro lado, parece completamente afetada ao me ver, como fica desde que nós transamos naquela bendita festa.

— Oi. Cigarro? — Insisto, impaciente.

— Alguém está de péssimo humor — Sora comenta com um sorriso de canto. Pelo menos, puxa o maço para fora da mochila e empurra um dos cigarros para fora, oferecendo-o. — Aqui. Cortesia para o lorde.

— Está tudo bem, Jeon? — Woo-ri pergunta, com preocupação mesclada ao nervosismo. Eu apenas faço que sim, me abaixando com o cigarro entre os lábios para deixar que Sora use seu isqueiro para acendê-lo.

— Vocês não viram Jimin por aí? — Depois da primeira tragada, que aproveito de olhos fechados, a pergunta sai.

— Refresque minha memória. Jimin é quem? — Sora pergunta, um braço dobrado abaixo dos seios fartos (para os quais ainda evito olhar com todas as minhas forças) enquanto o outro se dobra levemente com a mão na direção de seu rosto. Ela bate o polegar no fundo do próprio cigarro para tirar o excesso de cinzas, sempre com os olhos em mim, à espera da resposta.

— O dançarino que estava em nossa turma de equações diferenciais. — Respondo, atento ao sorriso que ela mostra antes de assentir, como se ficasse satisfeita por lembrar.

— Isso. Jimin. Adorei o jeito como ele colocou Jang Jitae no lugar. Mas não, não vi. A última vez em que o vi, foi depois dessa aula em que ele deu um chega pra lá no opressor.

— É. — Quase resmungo, dando uma segunda tragada mais longa.

As duas ficam em silêncio. Sora, agora observando as próprias unhas; Woo-ri, olhando para mim, antes de desviar o rosto e voltar a me encarar até perder a coragem mais uma vez e repetir do início.

Quando eu estou prestes a anunciar que estou indo embora, ela quase parece ter um sobressalto.

— Jeon, nós estávamos falando sobre a festa do próximo fim de semana! — Ela diz, atrapalhada. Logo, Sora olha para ela com as sobrancelhas franzidas e um sorriso esquisito. — Você vai?

— Não sei que festa é. Provavelmente não.

— É na casa daquele cara que está se formando. — É Sora quem diz, voltando a olhar para mim. — Kim Namjoon. Alguma coisa assim.

— Sei. — Respondo, me referindo ao veterano. É claro que eu sei quem é Kim Namjoon.

Ele estudava na minha escola, uns anos mais velho, e foi depois de descobrir que ele estava na Hangsang que eu resolvi vir para cá também, mesmo que tenha sido aprovado em outra universidade mais prestigiada.

— Então... você vai? — Woo-ri questiona, ansiosa. O rosto bonito se contorce em ansiedade e eu tenho vontade de dizer mais uma vez que, pelo amor de deus, pare de agir assim. Nós transamos uma vez. Foi bom. Ela gostou do sexo, mas agora está confundindo as coisas e acha que gosta é de mim, quando sequer me conhece.

Mas não quero dizer isso na frente de outra pessoa e constrangê-la ainda mais, então apenas me contenho, por enquanto.

— Eu vou com Sora... você pode ir com a gente...

— Não sabia que vocês duas eram amigas. — Ao invés de responder, eu tento desviar o foco de toda sua expectativa confusa em mim.

Em resposta, a primeira coisa que escuto é a risada de Sora: — Não somos. Até parece que ela seria amiga de alguém como eu. O que aconteceu, — mais uma tragada. Woo-ri se encolhe, incomodada, quando a fumaça é lançada ao ar. — foi um sorteio de duplas para o trabalho final em Redes. Aconteceu agorinha, na aula que você matou. Nós acabamos ficando juntas. Você ficou com Jinhei, aliás.

Ótimo. Tudo que eu precisava era uma dupla surpresa com o babaca com quem Jimin transa, transava ou sei lá.

— Sensacional. — Suspiro. Nós tragamos juntos.

— O cara é um babaca, fiscal de trepada alheia. — Sora resmunga. Woo-ri parece constrangida pelo vocabulário. Imagine se soubesse que ele fez uma série de piadas idiotas sobre ela, depois que descobriu que nós transamos porque "oh, meu deus, Woo-ri é tão quieta que não deve transar! O direito de fazer isso sem ser julgado é somente meu!". Babaca, de fato. — Boa sorte.

— Hm-hum. Valeu. Vou precisar.

— Enfim. Nós fomos sorteadas juntas. — Sora ainda continua, passando o braço ao redor do pescoço de Woo-ri. — Foi o destino.

— Acredito que sim. — Comento, completamente desinteressado. Eu realmente só queria um cigarro.

— Então, estávamos falando sobre o trabalho. — Ela vai em frente. Cacete, a mulher fala demais. — Quer dizer, Woo-ri estava. Eu estava tentando convencê-la a ir para a festa comigo. Você sabe, para estreitar os laços e ajudar na nossa sintonia na hora de fazer o projeto. Ela não parecia muito interessada, mas agora que você está aqui... pelo bem do nosso sucesso enquanto dupla, eu acho que você deveria ir para a festa.

— Eu não estou muito preocupado com o sucesso de sua dupla. — Confesso, apertando os lábios num sorriso quase reto. — Lamento.

Ela olha para Woo-ri e dá de ombros. Traga o cigarro mais uma vez, antes de desfazer o abraço lateral e voltar a se recostar na mureta, para dizer: — Foi mal, guerreira. Eu tentei.

Woo-ri nega, constrangida. Eu também não estou no momento mais confortável da minha vida, mas ainda preocupado demais com outras coisas para me afetar pela situação atual.

— Vou deixar vocês duas estreitarem seus laços. — Finalmente anuncio, recuando. — Valeu pelo cigarro. Até mais.

— Até, Jeon. — As duas dizem, com entonações completamente diferentes. Uma, totalmente despreocupada. A outra, quase resfolegando pelo nervosismo. Nem preciso dizer quem é quem.

Longe da dupla improvável, eu me recosto em Belinda para aproveitar as últimas tragadas do cigarro. Deixando o capacete sobre o assento, eu uso a mão agora livre para pegar meu celular e encontrar a conversa com Jimin ainda sem mensagens novas dele.

Impaciente, preocupado e já irritado, eu impulsivamente clico no cursor do touch para digitar uma nova mensagem mal pensada.

Estou segurando um cigarro, mas preferia estar segurando sua mão (09:40)

Vai se foder por desaparecer depois de me fazer sentir assim, Jimin-ssi (09:40)

Eu olho para as mensagens enviadas, mas ainda não lidas. Penso em excluí-las antes que ele leia, chego a selecioná-las, mas algo me faz voltar atrás.

É assustador perceber que esse algo é o meu desejo de que ele saiba o que estou sentindo, mesmo que essa exata possibilidade me assuste.

— Que se dane. — Resmungo sozinho, guardando o celular sem cancelar o envio de sequer uma mensagem. — Eu preferia mesmo estar segurando sua mão, babaca.

Depois de apagar a bituca do cigarro, eu a descarto no lixeiro e subo em Belinda. Finalmente, sabendo bem meu destino.

A casa de Jimin.

Essa será minha segunda tentativa de três. Se não encontrá-lo em sua casa, minha última opção será a MoonMoon e apenas a ideia de me aproximar daquele lugar ainda me corrói por dentro e o pavor de encarar as lembranças felizes me desespera.

Mas, por ele, estou disposto a ir.

No entanto, estar disposto não é o mesmo que ter vontade. Nesse caso, é quase o completo oposto — o que, naturalmente, me dá um motivo a mais para quase perder o equilíbrio pelo alívio quando me aproximo de sua casa e vejo Pandora estacionada ali na frente.

Agitado pela possibilidade de finalmente tê-lo encontrado, eu salto de Bee e quase corro pelo extenso gramado frontal até chegar à porta principal da casa luxuosa. Aí eu aperto a campainha umas quinze vezes sem pausa, como um doido.

Logo, não demora para que eu seja atendido, mesmo que não seja Jimin quem vem me receber. Quando a porta abre, o rosto confuso e até impaciente que aparece diante de meus olhos é o de sua mãe.

— Pois não? — Pergunta, com as sobrancelhas franzidas acima dos olhos tão parecidos com os de Jimin.

Ela não lembra de mim. Na última segunda-feira antes do fim do reset, nós não fomos apresentados, então para ela eu sou apenas um maluco que quase socou o botão da campainha parede adentro — ou, pelo menos, até me reconhecer como o filho de sua ex-colega de trabalho.

— Jimin está? — Pergunto, grosseiramente olhando para dentro da casa, por cima de seu ombro.

— Está treinando na sala de dança. Posso saber quem é você?

— Jungkook. Somos... — Somos o que? —...amigos.

— Oh. — Sua expressão suaviza, ao ouvir o nome. — Jungkook. Sim... você é filho de Ga-eul, não é? Nós trabalhávamos juntas na lanchonete.

Moça, pelo amor do santo deus, eu sei.

— Jimin fala bastante sobre você.

Ah. Disso eu não sabia.

— Eu posso entrar para falar com ele? — Cansado de esperar pelo convite, eu já vou colocando um pé para dentro.

Ela não se ofende, agora que sabe quem sou, e se afasta da porta para me deixar entrar completamente.

— Ele não está com o melhor humor. Ver um amigo deve ajudar. — Anuncia, esperançosa. — Tire os sapatos. É a segunda porta no corredor ao lado da escada.

— Ok. — Digo, chutando os sapatos para fora dos pés antes de correr apenas em minhas meias. — Obrigado!

Eu acho que ela diz algo como "disponha", mas não tenho certeza porque não estava prestando atenção. Ao invés disso, concentrei toda a minha energia em tentar encontrar Jimin de uma vez por todas em sua casa ridiculamente grande.

Por deus, ele tem uma sala de dança!

E é a ela que chego quando paro diante da segunda porta, indicada por sua mãe. Com o coração martelando em meu peito, com batidas quase ecoando em meus próprios ouvidos, eu escuto também o som alto da música instrumental que vem do lado de dentro da sala com a porta entreaberta.

Ansioso, eu apoio a mão na madeira branca para empurrá-la mais para que se abra até me dar a visão do que está acontecendo do lado de dentro, na sala com nada além de uma caixa de som num canto, um ventilador preguiçoso no teto e uma parede recoberta por espelhos.

No centro, o mais importante. Jimin.

Ele rodopia, ainda sem me perceber.

Corpo suado.

Calça justa.

Pés nus, assim como seu peitoral, abdômen, costas e braços completamente expostos.

Sem camisa e sem sapatos, eu vejo as tatuagens escuras espalhadas por seu corpo se movendo no mesmo ritmo da música enquanto ele dança. Não com a leveza que outras vezes já admirei. É uma dança carregada, tensa, cheia de sentimentos. É como se a dança o refletisse por completo. E ainda que seja desconfortável olhar para seu reflexo ressentido, eu não consigo olhar para nada mais.

Parado no mesmo lugar, apenas meus olhos se movem para não perder sequer um segundo do que está acontecendo bem diante deles.

No branco infinito da sala de dança, o corpo manchado pelas tatuagens pretas cria um vulto escuro se movendo incansavelmente. No branco infinito, ele cria sua arte. Ele se expressa, me impressiona e me mantém cativo.

A arte de Jimin é preta e branca. E eu sempre achei que a arte precisava de cores.

Quando ele subitamente para de se mover, de costas para mim, e me encara através do reflexo no espelho, a música alta encobre a respiração ofegante, mas eu vejo o movimento acelerado de seu peito. Eu vejo o suor em seus cabelos, em sua pele, em seu rosto, até uma gotícula pingar por seu queixo. Seus olhos não são gentis, não são curiosos, me varrem como se eu fosse um invasor, mas não me repelem, não me impedem de deslizar os meus pela figura esguia de seu corpo, capturando cada tatuagem ainda não desvendada, lendo o preto de sua arte particular.

E eu confesso, em silêncio, o que sequer poderia negar.

Assim como sua arte, Jimin é lindo. De tirar o fôlego. De hipnotizar. Ele é.

— O que você está fazendo aqui?

Assim como seu olhar, seu tom de voz parece se direcionar a um invasor. Mas não é arredio, não é agressivo. Apenas me faz pensar que não sou bem-vindo.

Eu não deveria ter vindo?

Eu não deveria tê-lo procurado, mesmo que meu coração implorasse para fazê-lo?

— Eu queria saber se você está bem. — Inseguro sobre o que fiz ao vir aqui, eu finalmente respondo sob seu olhar silencioso, sempre à espera. Assim que a última palavra se propaga pelo ar, incerta, eu percebo que talvez não devesse ter vindo. Talvez ele realmente não quisesse ser encontrado.

Os olhos de Jimin ainda me analisam pelo reflexo do espelho, intensos demais para serem interpretados. Então apenas me mantenho quieto, esperando que ele me diga algo que finalmente me faça descobrir se devo ir ou ficar.

Ele se move, enfim. Caminha até o aparelho que ainda reproduz a música em loop e se abaixa para desconectar seu celular dele. A música finalmente para, substituída pelo silêncio que me mantém refém, até ser finalmente quebrado.

— Eu estou bem. — Jimin diz.

É claro que é mentira. Eu nunca o vi dessa forma antes e, ainda que nossa aproximação seja recente, eu o observei à distância por tempo demais para saber que ele não é assim. Então disso eu tenho certeza, mas de outra coisa ainda não sei.

Eu posso ficar? Acabei de descobrir que não gosto de te ver assim. Então... eu posso ficar e tentar te ajudar a se sentir melhor, Jimin-ssi?

Ele bloqueia a tela do celular, passa as mãos pelos cabelos encharcados de suor e volta a caminhar. Dessa vez, em direção à porta. Minha direção. E ao se aproximar, sem parar de andar para fora da sala de dança, Jimin diz:

— Eu te acompanho até a porta.

Eu não posso ficar.

Ciente de que não devo insistir ou tentar convencê-lo do contrário, não me resta outra opção além de segui-lo pelo corredor ao lado da escada e pelas salas luxuosas até o pátio de entrada e saída. Ele não hesita antes de abrir a porta.

— Vá com cuidado. — E diz.

Eu olho para ele, esperando, torcendo que mude de ideia. Jimin sequer me olha.

Então volto a enfiar meus pés nos coturnos, sem me importar em apertar o cadarço antes de dar mais uma passada. Jimin continua calado, enquanto me espera ir embora. Ele ainda não me olha. Se tem tanta certeza assim, por que sequer consegue me olhar mais uma vez?

Eu paro, antes de sair completamente. A porta continua aberta para que eu vá, mas eu não sigo antes de ter sua confirmação.

— Jimin?

Ele volta a me olhar. Eu ainda não consigo decifrar o que ele está pensando.

— Eu... — Começo, mas não sei como dizer. Sei que faço uma careta desajeitada, coço o pescoço, mas vou em frente: — Quando algo acontece comigo, eu sempre peço que me deixem em paz. Mas às vezes eu não quero ficar sozinho, às vezes eu só... preciso que alguém fique. — Diante de sua atenção indecifrável, eu me atrapalho com as palavras, falhando em traduzir o que penso em um discurso. Mas continuo tentando: — Quando eu te peço para me deixar sozinho, às vezes não é isso que quero pedir. E você sempre sabe quando deve ficar, e fica, não importa o que eu peça. Também sabe quando deve ir. Mas eu não sou como você, Jimin... muitas vezes eu não consigo me entender, então como vou entender outra pessoa? Como eu vou entender se você realmente quer que eu vá embora agora? Eu não consigo. Eu não faço ideia do que você está pensando, então... se você não tiver certeza do que está me pedindo, diz isso em voz alta. Se você não quiser que eu vá, me diz. E eu fico. Eu quero ficar.

Eu ainda não entendo completamente, mas seu olhar mudou. Seu silêncio, não. Ele continua calado. E se quem cala consente, talvez ele ainda queira que eu vá.

— Pode me chamar, se quiser que eu volte depois. — Aviso, frustrado, mas consciente de que, independente do que tenha acontecido para deixá-lo assim, isso é sobre ele, não sobre mim. Por isso, não insisto além do que sinto que devo.

Mas quando a passada final começa a ser dada, Jimin me segura. Seus dedos envolvem meu braço, sua outra mão empurra a porta para que ela se feche.

— Não vai.

Eu sinto que posso finalmente respirar aliviado. Eu não queria deixá-lo sozinho.

— Não vou. Eu fico. — E garanto, diante de seu olhar ainda confuso.

Mas agora que fiquei, eu não sei o que fazer. O desconforto se intensifica enquanto o silêncio se prolonga e eu percebo que sou a pior pessoa para tentar consolar ou acalmar alguém.

Eu definitivamente não sou como Jimin. Mas eu ainda quero ficar, então me diz... o que eu faço?

— Eu preciso de um banho. — Jimin diz, ainda com uma postura tão diferente da usual sempre confiante, sempre intensa.

— Certo. — É a única coisa que sou capaz de dizer. Que desastre.

— Vem comigo — Então ele chama, quase retraído, caminhando mais uma vez. Agora, em direção à escada.

Calado, eu rapidamente volto a chutar meus coturnos para fora dos pés e me apresso em segui-lo escadaria acima, até seu quarto. Nada parece diferente desde a última vez em que vim aqui. A decoração é a mesma, a organização e disposição dos móveis também. A coelha gorda e peluda está preguiçosamente deitada na cama, com a pontinha do nariz se movendo freneticamente, como sempre.

— Pode ficar à vontade. Já volto. — Jimin diz ao caminhar até o banheiro da suíte. Assim, fico sozinho no quarto, apenas acompanhado da coelha silenciosa.

— Ei. Jungoo... não é? — Eu pergunto, olhando para ela como se pudesse me responder. Escondo as mãos nos bolsos da calça, olhando ao redor. — Ainda não acredito que ele escolheu seu nome por causa do meu...

A orelhuda não me dá atenção. Logo está de pé, usando a pata traseira para coçar a orelha imensa, totalmente desinteressada em minha presença. Eu suspiro antes de começar a caminhar pelo quarto espaçoso e organizado, sem muitas cores, até um pouco impessoal. Não é o tipo de quarto que te diz muito sobre uma pessoa, sobre o que ela gosta.

Dele, a única coisa que posso concluir é que Jimin é mais organizado que eu, que gosta de música, pela quantidade de vinis, álbuns e CDs, e que é eclético para a leitura — o que concluo pela quantidade de livros organizados de forma metódica, divididos e empilhados seguindo gêneros e cor da lombada.

Fora isso, nada sei. E eu percebo que não é apenas sobre o que posso interpretar do que imagino ser seu lugar mais pessoal. Eu não sei quase nada sobre Jimin.

Eu estou deixando-o se infiltrar em minha vida, em meus pensamentos e em meus sentimentos. Eu estou cada vez mais deixando-o me conhecer, mas ele não faz o mesmo. Jimin parece ter estabelecido um limite sobre o quanto posso conhecê-lo, e não me deixa ultrapassar. Tão sutil que eu sequer tinha percebido, até agora.

Tão sorrateiro que eu sequer percebi que estou cedendo a uma pessoa que não cede a mim.

— Você deve gastar muito tempo arrumando esses livros. — Comento, levemente ressentido por minha percepção, assim que o escuto sair do banheiro.

Eu viro para trás, olhando-o a tempo de ver quando caminha com sua calça de fleece e a blusa branca, cabelos molhados e pés ainda nus em direção à cama.

— Não consigo evitar. — Ele diz, sentando na ponta do colchão queen size. Seu olhar viaja até a coelha, então ele acaricia o corpo coberto por pelos pretos e brancos. — Eu sou vergonhosamente metódico e organizado.

Eu assinto ao parar de olhá-lo, deslizando os dedos e os olhos pelas lombadas dos livros. Paro em uma específica, com um sorriso pequeno nos lábios.

Nietzsche.

A primeira coisa em comum que descobri entre nós dois, além das tatuagens.

— Jungkook... — Ele me chama, antes que eu pense se faço algum comentário sobre isso, ou não.

— O que? — Devolvo ao voltar a olhá-lo por cima do ombro.

Jimin continua com a expressão ilegível, indecifrável. No entanto, suas duas palavras seguintes são muito bem entendidas, quando ele chama:

— Vem cá...

Com o nervosismo querendo se instalar em meu estômago quando ouço seu chamado suave, mas com o trejeito quase traiçoeiro, eu deslizo minha mão para longe do livro. Em seguida, meus pés se afastam da estante e se aproximam da cama. Quando paro em sua frente, incerto sobre o que fazer a seguir, a mão de Jimin me segura pelo pulso e me puxa suavemente para que eu sente ao seu lado.

Quando o faço depois de desajeitadamente deixar minha mochila no chão, sua mão continua segurando meu pulso, sem fazer menção de entrelaçar nossos dedos. Então ficamos assim, lado a lado, rodeados por uma cortina de tensão.

Sem coragem de olhá-lo, eu finalmente pergunto: — Quer falar sobre o que aconteceu ontem?

— Eu só vi alguém que preferia nunca mais ver. Não quero falar sobre isso agora.

Mais uma vez, me mantendo distante. Agora que percebi o quanto ele me mantém próximo, mas suficientemente afastado para não conhecê-lo bem, não acho que vou deixar nenhum detalhe passar.

No entanto, não posso forçá-lo. Então: — Tudo bem.

Jimin suspira. Em seguida, sua mão solta meu pulso para que ele deixe o corpo cair para trás, até estar deitado com os olhos mirando o teto branco como quase tudo em seu quarto. Aí, sem qualquer aviso, ele pergunta:

— Você não deveria ter vindo. Sabe que eu vou me apaixonar ainda mais por você depois de hoje, não sabe?

Eu desvio meus olhos, quase sinto o rosto esquentar. E, nervoso, confesso:

— Sorte a minha... eu acho.

No fundo, eu ouço sua risada. É fraca, uma mistura de humor e frustração. Quando viro para olhá-lo, encontro-o passando uma mão pelo cabelo antes de dobrar o braço abaixo da cabeça, sempre olhando para qualquer ponto acima. Em seguida, escuto:

— Você me tortura, Jungkook-ssi...

Eu sorrio um pouco pela nova aparição do apelido. Em seguida, percebo seu olhar finalmente pousado em mim. A princípio, ele apenas faz isso. Me olha, com um sorriso de canto. Instantes depois, resolve falar mais uma vez.

— Que castigo gostoso me apaixonar logo por você, Jeon.

Antes que meu rosto comece a mudar de cor, eu gagueje e comece a suar pelas mãos como um porco, eu nego e me movo sobre a cama, sentando da melhor forma para olhá-lo. E digo: — Pare com isso.

— Parar com o que, gracinha?

— Isso de tentar me deixar todo vermelho. Eu sei que você gosta, mas vamos pensar em outro jeito de te fazer sentir melhor agora, ok? Ok.

Jimin ri novamente, dessa vez com mais entusiasmo. Meu deus. Eu não acredito que esse som tem um efeito cada vez mais devastador sobre mim.

— Não acredito que já sou tão previsível assim.

Você não é previsível. Absolutamente nada previsível, Park Jimin.

— Só... para com isso. — É o que digo, no lugar. — Pelo menos por agora. Para de agir como se estivesse tudo bem.

Dessa vez, ele fica em silêncio. O sorriso em seu rosto começa a desaparecer, mas seus olhos não fogem dos meus. Eu não fujo dos seus, também. Não a princípio. No entanto, quando deixo um suspiro exasperado escapar e deito ao seu lado, meus olhos parecem buscar, no teto, o que ele mesmo tanto olhava algum tempo atrás.

— Eu já disse que você me fez e faz sentir muitas coisas... — Confesso, ainda sem olhá-lo. — E eu gosto de quase todas, mas o que eu senti ontem quando você sumiu daquele jeito... — Mais um suspiro. Eu passo as mãos pelo rosto, percebendo que, mais uma vez, estou me expondo completamente. Mas não é hora de voltar atrás. — Eu não sabia o que tinha acontecido, não sabia onde poderia te procurar e até achei que você poderia fazer alguma besteira... eu me preocupei tanto que até senti raiva. Então se você não quer falar sobre ontem, eu não vou te forçar. Mas não comece a fingir que está tudo bem. Não é justo comigo e não é justo com você.

Silêncio. Silêncio, silêncio e mais silêncio.

Eu passei dos limites? Falei algo que não deveria?

Isso aqui? — De repente, ele pergunta. Manso, baixo, exibindo seu pulso para que eu veja as cicatrizes. — Era essa a besteira que você achou que eu poderia fazer?

Era. Era exatamente isso, mas eu não sei se é indelicado demais confessar. Será que ele se ofenderia, ou magoaria ao saber que me preocupei com a possibilidade de novas marcas surgirem em sua pele?

— Você pode falar sobre isso, Jungkook. — Ele diz quando eu passo tempo demais calado, a ponto de se tornar esquisito. — Está tudo bem.

Eu umedeço meus lábios, ainda inseguro demais, com medo de usar palavras erradas. No entanto, quando olho para Jimin, toda sua expressão me dá o aval para que eu vá em frente. Ele parece dizer: eu sei das suas intenções, então não vou te julgar se cometer algum deslize.

Assim, mas ainda com a voz baixa, eu pergunto: — Depois de ontem... você pensou? Em se machucar?

Jimin nega, com segurança o suficiente para que eu saiba que não está mentindo, não está fingindo para me despistar.

— Jungkook... quando eu comecei a me machucar, eu não via isso como um problema. Eu não sabia que precisava de ajuda... sabe? — Ele confessa, olhando para o próprio pulso cicatrizado. — Eu achava que estava tudo bem, desde que ninguém soubesse. E depois que minha mãe descobriu, quando ela entrou em desespero... eu comecei a me sentir culpado por fazer aquilo com ela. Eu ainda não me importava comigo. — Jimin suspira, olhando para mim: — Mas ela me levou a médicos, para garantir que as feridas não eram perigosas. Me levou a um psicólogo, que também me recomendou terapia em grupo. Então eventualmente, depois de muitas sessões e consultas, eu entendi que não deveria fazer aquilo comigo mesmo, não importava se outras pessoas sabiam, ou não.

Sua confissão me pega de surpresa no mesmo dia em que eu acreditei que ele nunca me deixaria saber sobre sua vida. Jimin está compartilhando algo completamente pessoal comigo.

Ele me deixou chegar um pouco mais perto.

Atraído pela brecha que ele abriu, eu continuo olhando-o sem fugir, sem parar de olhá-lo mesmo quando Jungoo se aproxima de nós dois e curiosamente aproxima seu nariz de minha cabeça.

Meus dedos parecem dormentes quando, nervosamente, levo minha mão até segurar o pulso de Jimin. Com cuidado, com receio, tentando não ultrapassar nenhum limite. Meus olhos pousam na sequência de cicatrizes, mas apenas por um instante. Jimin disse que não gosta quando olham. Então eu volto a olhar para seu rosto e uso meu polegar para cobrir as marcas em relevo, sempre testando sua reação.

— Por que... — Começo, receoso demais, mas tão ávido em conhecê-lo e entendê-lo melhor, se ele permitir. — Por que você fazia isso?

Jimin não me rechaça, não me repreende pelo toque.

Com cuidado, ele apenas se move até deitar de lado, usando sua outra mão para aproximar os dedos do pulso que eu ainda toco. Então ele toca na própria cicatriz, demoradamente, sem soltá-la quando pergunta:

— Sabe quando você se machuca e só depois sente a dor? Quando bate o dedinho do pé na quina do móvel, para depois sentir a dor irradiar pelo corpo? — Ele não espera uma resposta antes de prosseguir: — Naquela época, nas condições em que eu vivia, eu tinha tantos sentimentos ruins que tudo aconteceu na ordem inversa. Não eram os machucados que me faziam sentir dor. Era a dor que fazia feridas se abrirem em minha pele, porque doía muito.

Eu não consigo parar de olhá-lo. Não consigo afastar meus olhos da expressão de Jimin. Não consigo sentir um novo impulso de olhar para as cicatrizes. Não é por medo de ser repreendido ou de magoá-lo. Eu só não sinto vontade de olhar para apenas um pedaço da história de Jimin quando posso olhar para ele inteiro.

As cicatrizes fazem parte dele, não o contrário.

Mas eu preciso saber. Só mais uma coisa. — Jimin... ainda dói?

Ele sorri um pouco. Só então, responde: — Dói, às vezes. Mas não machuca mais.

Eu sinto alívio, como se uma onda inundasse meu peito, carregando todo o peso que o manteve tão apertado durante as últimas vinte e quatro horas.

Com a decisão consciente de não pensar demais, eu solto seu pulso com cuidado. Eu solto, para segurar sua mão. Para entrelaçar meus dedos aos seus, mais uma vez.

Tocando-o assim, eu puxo sua mão até meu rosto, sinto o dorso da palma pequena contra minha bochecha e sinto meu coração bater, desastrado, com a sensação do toque que eu mesmo provoco.

Quando meus olhos envergonhados encontram os de Jimin, ele parece ainda mais perto que antes. Está tão, tão perto. Seus olhos parecem tão suaves, mas tão intensos ao mesmo tempo.

— Jungkook... — Ele me chama, com a voz baixa como num sussurro.

— Hm? — O murmúrio desajeitado é tudo que consigo articular, afetado demais por sua súbita proximidade, pelo toque que preservo.

— Eu não consigo dizer o quanto estou feliz por você estar aqui. Por ter vindo e por ter ficado. Obrigado.

Deixar de pensar não é mais uma decisão consciente, mas ainda se mantém quando eu falo, atrevido demais: — Eu te vi dançar sem blusa... então eu quem preciso agradecer.

A risada de Jimin me aflige tanto quanto me inunda de satisfação.

Cacete... o que eu estou fazendo? Por que eu estou dizendo coisas assim? Por que estou cada vez mais ansioso por cada toque seu?

— Olha só, Jungkook-ssi... quem diria. — Ele diz, um pouco mais como costuma ser. Flertador, intenso, um total perigo para minha dicção e para a coloração de meu rosto. — Você gostou do que viu, gracinha?

Certo. Hora de tentar consertar a porcaria que fiz e, de alguma forma, me constranger ainda mais por isso.

— Eu gostei de uma tatuagem, na verdade. A equação da relatividade que você tem nas costas, na altura da escápula. É a equação mais bonita que existe.

Jimin ri novamente, dessa vez com ainda mais força. Ele praticamente explode em uma gargalhada.

O que? Ele está me achando um completo nerd, não é?

— Boa tentativa, gracinha. Eu não tenho a equação da relatividade tatuada em mim.

O que? É claro que tem. Eu vi, quando ele estava me levando até a porta.

— Me fazer de doido é novidade, até para você — Resmungo com os olhos apertados em pura consternação, mas Jimin nega.

— Jungkook, é sério. Eu não tenho nenhuma equação tatuada.

Eu o encaro em silêncio, buscando qualquer ponta de deboche ou humor em sua expressão, em sua voz. Jimin está completamente sério. Mas eu também estou. Por isso, solto sua sua mão e fico sentado sobre a cama, sem me preocupar em ser brusco demais.

— Tira a blusa. — Peço, buscando meu celular.

— Não vai nem me dar um beijo antes?

— Jimin. — Repreendo, já com a câmera aberta. Ele ainda encontra espaço para rir enquanto se senta antes de segurar a barra de sua blusa e levantá-la, até retirá-la completamente. Sem perder tempo, eu tiro foto da maldita tatuagem. — Aqui. Você tem a equação da relatividade nas costas, sim.

Jimin quase perde a cor ao ver a foto.

— Mas que merda...?

— Eu não acredito que você não sabe todas as tatuagens que tem.

Jimin larga meu celular sobre a cama, voltando a olhar para mim ainda com a expressão quase em choque. Com as mãos livres, ele segura minha própria blusa.

— Tira a sua. Eu quero ver uma coisa.

— O que? — Eu tento empurrá-lo, mas ele insiste, e começamos uma confusão de mãos estapeando umas às outras.

— Anda, Jungkook! Isso não é normal. Eu nunca faria uma tatuagem e esqueceria. Tira a sua blusa!

Eu ainda tento rebater, digo que também nunca faria algo como isso, mas Jimin não se convence. E, sem encontrar nova resistência além de minhas palavras, ele logo levanta minha blusa completamente, jogando-a de qualquer jeito para o lado.

— Inferno! — Pragueja, em fúria. Jungoo se assusta. Eu também. — Por que você é tão delicioso assim? Está me desconcentrando!

— Ahn... desculpa? — Peço, sem saber como reagir.

— Nós vamos repetir isso. — Ele avisa, me segurando para me fazer virar de costas. — Quando não estivermos procurando tatuagens que não lembramos de ter feito... — Continua, voltando a pegar meu celular antes de se posicionar atrás de mim: — Você vai ficar assim para mim, de novo.

Eu honestamente não sei o que dizer.

Jimin não parece esperar uma resposta. Tudo que ele faz é tirar uma foto de minhas costas antes de passar o celular para mim.

— Aqui. Vamos começar por essas. Alguma que você não reconhece? — Pergunta. Eu ainda estou desconfiado, achando tudo isso um exagero. Talvez ele só tenha feito a tatuagem quando estava muito bêbado. E apenas para provar que nada disso é necessário, eu olho para a foto de minhas costas repletas de tatuagens, reconhecendo cada uma delas.

A representação da constelação de Cassiopeia. O símbolo do Pi envolto pelos números das primeiras vinte e seis casas decimais. O selo amaldiçoado de Sasuke.

Mas... como assim?

Eu mesmo sinto a cor deixar meu rosto quando encontro uma tatuagem completamente cicatrizada, que tem um desenho estranhamente familiar, mas que eu tenho certeza absoluta de nunca ter feito.

Uma serpente negra, com as presas à mostra, subindo para meu ombro.

— Então? — Jimin pergunta, ansioso, quando eu me atrapalho inteiro para puxar minha mochila, revirando os bolsos até encontrar o que estava procurando. O desenho da serpente que Junghee fez, para ser minha próxima tatuagem.

Eu desamasso o papel dobrado até colocá-lo lado a lado com a foto ainda aberta na tela do celular, e um gemido apavorado rasga minha garganta quando confirmo.

A tatuagem da serpente já cicatrizada em minha pele é igual ao desenho que Junghee fez para que eu pudesse tatuar, no futuro. Mas Junghee fez esse desenho... ontem.

Continua no próximo capítulo.

Todo mundo chegou vivo ao final desse capítulo?

"Pode aumentar até 50k que a gente vai gostar", vocês disseram. Tão só as blackpink playing with fire, viu? Se deixar, eu me descontrolo mesmo...

Mas de verdade. Como estão se sentindo depois dessa atualização? Estavam com saudade? Eu estava demais ): e foram só três semanas!

Mas bora lá, me digamm: quem vocês acham que foi a pessoa que Jimin viu? Agora já sabemos que foi uma pessoa de fato, não uma visão. Então? Em quem apostam?

Um pouco menos importante: o que vocês esperam daquela festa que Woo-ri falou? Adianto logo: vai dar o que falar...

E por último: ansiosos para a aparição de Deus Kim Namjoon?

Lembrando pra quem não viu: os jikook agora têm contas no twitter. Os @ estão lá no início da att!

Eu amo vocês demais, viu? Desculpa por machucar vocês com esse capitulão. 

Último parágrafo reservado para teorias, surtos e previsões para as próximas atualizações. Nos vemos lá na #belindaepandora ou na próxima att! Beijos!


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