❝Precocidade e os ponteiros da morte.❞

   Conte comigo. Um, dois, três, quatro e cinco... Cinco badaladas. Cinco segundos.

     O relógio girava durante uma lúgubre celebração. Havia pessoas ziguezagueando pela antessala da mansão, elas eram tristonhas e pediam seus pêsames aos vivos, mas as garotas encaravam aquelas mesmas pessoas de outra forma, embora mostrassem seus pesares nos olhares e as condolências pelos gestos, nada substituía o real motivo de estarem ali.

  Abutres não questionam se podem pegar, eles levam tudo.

   Chorando e chorando e chorando... essa repetição não parava mesmo que elas soubessem que tudo não passava de fingimento, lágrimas superficiais pelo rosto e palavras amáveis escondendo o mais letal dos venenos.

    A mais velha das irmãs, Celina, tocava na tampa do caixão sem ter a intenção de soltá-la. Ela acreditava que eles iriam levantar e rir de mais uma piada sem graça, talvez até mostrar as câmeras escondidas em algum lugar bem planejado, mas seus pais estão mortos. Estão realmente mortos e nada muda isso.

    Ela não acreditava. Celina achava que não fosse o final de sua história ter que perder os pais daquele jeito, tampouco assistir sua irmã se desmanchar em prantos.

   Crianças não deveria chorar assim.
Não deveria estar tão expostas assim.
Elas são só crianças... Crianças que viram a morte de perto.

  A caçula e irmã gêmea, Yasmin, estava debruçada por debaixo do caixão, ela choramingava baixo. Ela sequer se importou com os pensamentos julgadores ao seu redor, ou a simplória presença de advogados por trás da sala onde realizavam o velório.

    Ela só queria se despedir de seus pais e eles só queriam a paz eterna.

    A pequenina sabia que não tinham vindo por causa do fatídico ocorrido, nem por causa de sua perda. Eles até podem ter sido amigos de seus falecidos pais, mas a real intenção de estarem ali era o fato das duas serem as únicas legítimas herdeiras da fortuna Devon e as gêmeas enxergavam aquilo a cada badalada do relógio.

   Blem. Blem. Blem. Blem. Blem. Cinco badaladas... O dinheiro é a única imagem que eles viam e a última de que elas iriam pensar.

   Blem. Blem Blem. Blem. Quatro badaladas... A fama é o único destino que eles buscam nelas, mesmo sendo apenas crianças à procura de segurança e paz.

    Blem. Blem. Blem. Três badaladas... O amor pode cegar as pessoas, mas para Celina era diferente. Ela acreditava que esse mesmo amor tanto pode destruí-las como reerguê-las, e era uma decisão que ela estava disposta a se arriscar.

    Blem. Blem. Duas badaladas... A soberba não é algo raro de se ver, principalmente por elas. As irmãs sabiam de que haveriam pessoas desse feitio, mesmo Yasmin negando com todas as suas frágeis forças e sua noção infantil de mundo. Esse lugar não era para os covardes.

    Blem. Uma badalada... A amizade, essa sim as duas concordavam que teriam. Yasmin é sincera, doce, e capaz de compreender e amar qualquer ser problemático, inclusive sua irmã cabeça-dura. Ela tinha também os seus defeitos e falhas, mas nem por isso diminuía o fato de serem melhores amigas. E isso era o suficiente para ambas superarem essa dor juntas.

• F I M •

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