Capítulo 25
⦅ AVISO: Este capítulo contém cenas que podem causar certo gatilho em pessoas que estão passando por depressão ou transtornos psicológicos que envolvam pensamentos suicidas. Se for o seu caso, por favor, não leia, ou pule estas cenas. Ajude-se! Procure orientação psicológica. ⦆
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SEUL — COREIA,
ANOS ATUAIS
Jeon Jungkook arregalou os olhos, sentando-se na cama de solteiro macia imediatamente, com o peitoral subindo e descendo de maneira rápida com a respiração desregulada, o corpo úmido em abundância, completamente suado, o coração bem mais acelerado que o normal, martelando de maneira dolorosa contra a parede do seu peito. Era a pior sensação de sua vida. O pior dos seus pesadelos.
Após alguns segundos, se acalmando aos poucos, olhou ao redor, tentando se localizar e percebeu que se encontrava em seu pequeno quarto usual: a decoração simples, mas bem organizada, em tons escuros e melancólicos; a televisão desligada, com o console e os dois controles sob a mesa de cabeceira; sua estante preenchida de jogos para Playstation e Comic Books, além dos livros da faculdade, que completavam o acervo; os pôsteres das suas séries favoritas de investigação e mistério colados na sua parede azul-marinho; e o calendário, que indicava o ano atual em que estava vivendo. Já do lado oposto, estava a outra cama de solteiro com o cobre leito colorido e bagunçado, o notebook sobre a escrivaninha, anexa ao guarda-roupas, que continha uma luminária de gato incomum. Acoplado ao quarto, a cozinha escassa e a mesinha de jantar de apenas dois lugares pareciam praticamente colados, em virtude da falta de espaço daquele apartamento minúsculo, mas tudo estava em seu devido lugar, exatamente como deixara na noite anterior.
Entretanto, ao mesmo tempo, tudo parecia diferente para Jungkook e ele não sabia explicar o porquê. Diferente, pois ele se sentia deslocado de um jeito estranho, anormal.
As imagens ainda estavam perfeitamente nítidas na sua mente, cada mínimo detalhe do que acontecera estava encravado em seu cérebro, nenhum fato perdido. Todavia, era deveras confuso para si, especialmente por parecer ter sido tão real. Mas, afinal, como poderia ser? Ele havia acabado de acordar.
— F-Foi tudo um... sonho? — murmurou para si, atordoado. Ele repetia a mesma frase todas as manhãs depois de acordar. — Somente um sonho? — As lágrimas fluíram dessa vez de modo espontâneo, inevitável, fazendo seus olhos arderem. Era um tanto raro chorar, entretanto, depois de tantas cenas que pensou ter vivido, se fosse tudo apenas um sonho, sua vida certamente seria uma completa frustração. — P-Por f-favor... não pode ter sido tudo apenas um sonho.
Ele se levantou, perturbado, com as imagens piscando em sua mente como se fossem simples flashes de lembranças, e jamais seria capaz de esquecer cada uma daquelas memórias. Suas mãos foram de encontro aos seus cabelos acastanhados e curtos, puxando os fios com certa força. Seu interior borbulhou de repente, enquanto a fúria insana percorria as suas veias. Sim, a raiva se apoderou de seu corpo de forma repentina e incontrolável.
Não foi capaz de controlar-se, pois no instante seguinte cada pequeno enfeite, livro ou jogo em sua estante foi ao chão, enquanto os soluços ecoavam no ambiente junto ao ruído de coisas sendo quebradas.
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Park Jimin abriu os olhos desesperadamente, e apesar da tontura e do borrão que enxergava, levantou-se cambaleando, tentando voltar pela passagem de onde viera. Esticou os braços, balançando e caminhando para entrar no portal mais uma vez, mas foi em vão.
Sua visão escureceu, e ele caiu de joelhos contra o chão de terra, apoiando a palma da mão na sujeira; respirou fundo, mas tudo em seu corpo reagia de forma estranha. Seu rosto encontrava-se suado, seu coração palpitou forte contra o peito, sua pele formigava e sua alma parecia perdida. Ele estava desesperado. Ele paralisou, decidindo descansar por hora. Não estava em boas condições e precisava pensar no que fazer, organizar seus pensamentos; decifrar o que havia acabado de acontecer, afinal, há poucos segundos estava sendo arremessado em direção ao círculo arroxeado e viu seu amor se despedaçar aos poucos, levando junto a si o seu coração, que desfez-se da mesma forma.
A dor era incomparável.
Os segundos se arrastaram enquanto o único som presente ali era o chiado da própria respiração. Tinha a sensação de que seus ouvidos estavam dentro do próprio pulmão, porque não estava sendo capaz de focar em outro som além daquele único ruído ensurdecedor, mas tentou manter a calma, aguardando seus sentidos se normalizarem.
Não. Não podia ser real. Aquilo não podia ter, de fato, acontecido. Era só um pesadelo muito ruim, e assim que se acalmasse tudo ia voltar ao normal. Seu amado estaria bem ali ao seu lado.
Depois do que pareceram horas, ele finalmente pôde enxergar as formas do mundo mais uma vez. Piscou as pálpebras algumas vezes e concentrou-se para mentalizar o lugar onde mais gostaria de estar naquele momento: nos braços do seu namorado. No entanto, descobriu que se encontrava atrás do mesmo templo daquele dia — o dia em que foi "raptado" por Jeon Jungkook, um elfo mágico de cerca de 600 anos atrás. Mas esse elfo não estava ali consigo, em lugar algum.
Levantou-se, novamente, girando o tronco para todos os lados, o procurando de maneira desesperada, sem sucesso. Olhou para o alto, angustiado, mas não havia nada ali. O céu estava limpo. Nenhum tom arroxeado. Nenhum círculo. Nenhuma névoa. Nem um pouco de vento. Estava tudo aparentemente normal, como se ali nunca tivesse existido um portal que o transportasse ao passado.
Jimin caminhou. Andou ao redor do local sagrado. Vasculhou cada centímetro daquela área, sentindo as lágrimas umedecendo seu rosto aos poucos à medida que as lembranças se apoderavam de sua mente, até que a ficha finalmente caiu.
Poucas horas atrás, era o garoto mais feliz de toda a existência, já que estava prestes a trazer o elfo consigo de volta ao futuro. Era seu sonho, seu maior desejo, poder viver para sempre ao lado dele, mas o destino foi cruel demais ao separá-los daquela forma tão trágica. Foi uma avalanche de sentimentos, nem um pouco agradáveis. Seu peito ardeu em angústia e tristeza.
— K-Kookie? — chamou, em prantos, com a voz falhando. Por mais que soubesse que se encontrava sozinho ali, ele não queria acreditar. Jamais acreditaria. Queria crer que seu namorado estava ali em algum lugar, apenas escondido e pronto para lhe surpreender. — P-por fa-favor... eu... e-eu prec-ciso de v-você. — Só que não houve resposta. O silêncio tornou-se extremamente perturbante, tão desesperador que ele começou a gritar, gritar alto. Seu estado mental desabou naquele momento.
Em seguida, suas pernas passaram a caminhar sem rumo. Ele não estava mais consciente. Apenas andou. Não sabia mais o que fazer, era como se o chão tivesse desaparecido, desabado. Tudo ao seu redor girava. Não era mais capaz de focar em coisas físicas, apenas sentimentos.
As lembranças eram dolorosas, principalmente por permanecerem tão vívidas dentro de si, apesar de tudo parecer um sonho agora. Um sonho distante.
Lembrou-se do primeiro contato entre eles, quando fazia sua residência em sua especialização cirúrgica no Hospital Universitário de Seul e fora surpreendido por um maluco vestido em uma "fantasia" medieval com orelhas "postiças" de elfo e "lentes de contato" vermelhas. Até mesmo naquele dia, ainda que receoso, aderiu à ideia insana de acompanhar o moreno alto para salvar a vítima com corte na jugular. Foi amor à primeira vista, pois sabia que o grandão mexeu consigo desde o instante em que seus olhares se conectaram pela primeira vez. E quando atravessou o portal e se transportou há mais de 600 anos no passado da história da Coreia, foi tudo muito inacreditável, impossível.
Sabia que havia vivido um conto de fadas, afinal, como poderia ser capaz de se apaixonar por um elfo poderoso e encantador e ainda ser correspondido? Totalmente fora de alcance, improvável.
É, talvez de fato estivesse enlouquecendo. Talvez tudo realmente fosse apenas um sonho.
Lábios. Tocou seus lábios ao lembrar do primeiro beijo que trocou com o ser místico. Havia sido o ato mais mágico existente em todo o universo, e ele ainda o havia dado um presente naquele dia, assim como no dia do primeiro encontro.
Espera... os presentes.
Seus dedos foram de encontro ao seu pescoço assim que se lembrou. Olhou para baixo, numa tentativa de enxergar, e apesar de sua visão estar embaçada, pôde ver. Ali estavam as duas miniaturas de madeira, penduradas em um cordão. O elfo e o curador celestial. Os dois souvenires que seu namorado entalhou habilidosamente em pedaços de madeira. Havia feito um colar com aqueles presentes, para que pudesse carregá-los consigo a todo momento. E eram palpáveis. Eram reais. Podia senti-los. Não estava delirando.
Permitiu-se abrir um sorriso singelo, ainda que triste.
Não era só um sonho. Era real.
Mas, como toda realidade é dolorosa, aquela realidade era ainda pior. A lembrança das guerras em que Jungkook lutou com todas as suas forças vieram à tona. Seu amado sempre se dedicou muito à sua profissão como general, e deu o seu melhor para proteger a quem amava. Deu sua própria vida para lhe proteger, assim como Namjoon fez por Seokjin.
Finalmente sabia como o cozinheiro real se sentiu ao ver seu amor perder a vida bem diante dos seus olhos. Agora entendia muito bem a ação de Seokjin, jamais o julgaria. Era a pior dor existente, ultrapassava qualquer sofrimento. Era incomparável e inexplicável. Era o seu fim.
Quando voltou aos seus sensos, percebeu que o céu já tinha se escurecido; seus pés o haviam transportado até a ponte sobre o rio Han. As nuvens piscavam com os raios que desabavam sobre a água. E não demorou muito para que os pingos começassem a cair sobre seus cabelos claros, e logo umedecer todo seu corpo.
Era um lugar perfeito. Aparentemente o seu inconsciente sabia exatamente do que precisava naquele momento.
Quando ergueu sua perna para subir na mureta da ponte, um dos sensores fez com que uma luz se acendesse, mostrando algumas frases positivas, fruto de uma campanha de prevenção do suicídio.
Os melhores momentos da sua vida ainda estão por vir.
Como poderiam se o meu amor não está mais aqui para me proporcionar felicidade?
Vá ver as pessoas que você sente saudade!
Ele está morto.
Jimin fechou as pálpebras. Mentalizou cada momento perfeito que havia vivenciado com Jungkook. Impulsionou seu corpo, até conseguir sentar-se sobre a borda do muro da ponte.
Estou indo, meu amor. Me espere. Vamos nos encontrar novamente, assim como você me prometeu. Eu te amo, orelhudo!
Voltou a abrir os olhos, vendo a imensidão do rio Han abaixo do seu corpo. Naquele instante ele não tinha medo. Nada mais poderia lhe fazer vacilar em sua decisão. Era o seu momento, a sua hora.
"E-Eu te amo, Jimin-ssi."
"N-Nós vamos nos ver de n-novo. Eu t-te amo mais q-que tudo. Lembre-se disso... até nos encontrarmos... de novo!"
"Eu prometo!"
As frases ecoavam dentro da sua cabeça com o exato tom de voz do elfo, tentando a todo custo fazê-lo mudar de ideia, tentando o impedir. Era como se Jungkook estivesse ali, desesperado para salvá-lo, mas, infelizmente, o garoto estava decidido. Não havia mais salvação para si. Não havia mais motivos para continuar vivendo. Dessa forma, aos poucos, arrastou seu corpo para frente, centímetro após centímetro, quase...
Mas algo o impediu. Um par de mãos que o seguraram firme pelos ombros, para ser mais exato. Park não estava esperando por aquilo, afinal, tinha quase certeza que se encontrava sozinho ali na ponte há poucos instantes. Respirou fundo, tentando ser paciente.
— Me deixe, por favor... Não posso mais viver nesse mundo. — Foi só o que deixou seus lábios fluírem. As lágrimas agora estavam misturadas às gotas de chuva sobre o rosto do rapaz. Ele continuou olhando para frente, para o horizonte de água.
— Sei que as coisas estão difíceis, mas vai melhorar... — A voz de um homem soou logo atrás do loiro e seus olhos se arregalaram levemente ao que seus tímpanos reconheceram aquele tom.
O jovem médico virou o rosto para trás e viu o desconhecido não tão desconhecido que tentava salvar sua vida. Estava com o corpo encharcado, visto que deixara o guarda-chuva cair ao chão para ser possível segurar o corpo do rapaz que tentava se suicidar. Suas roupas eram coloridas e incomuns, cheias de pedrinhas e acessórios. Os cabelos pretos que caíam sobre os olhos, igualmente negros.
— Senhor Park? Você não é o irmão desaparecido da Yoona? — O outro também tinha seus olhos arregalados em espanto.
— Jung H-Hoseok?
— Você pode me chamar de Mang, meu bem. — Hoseok abriu um sorriso radiante de alívio. Encontrar o filho dos Park era de fato muita sorte. Saber que ele estava externamente bem e saudável diante de si depois de tantos dias o fazia ficar contente pela sua amada. — Venha! Vou te levar para casa, tudo bem?
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— Acalme-se, por favor, senhora! — O detetive Kim levantou-se e foi em direção ao bebedouro da pequena delegacia de polícia daquele distrito. Voltou de lá com um copo de água fresca e entregou à mulher de meia idade. Ela estava em prantos, com lágrimas escorrendo por suas bochechas de maneira incessante, e mesmo assim aceitou de bom grado, segurando o copo com as mãos trêmulas. O de cabelos platinados então voltou a se sentar em sua mesa, cauteloso, e analisou os arquivos da sua investigação. — Ainda não temos nenhuma prova concreta sobre o que aconteceu com seu filho, Sra. Park, mas estamos com uma equipe especializada que está investigando o caso — explicou, quase implorando mentalmente que a garota ao lado da mais velha pudesse fazê-la entender que as coisas não eram tão simples assim para eles.
— Já faz quase duas semanas desde que meu Jimin sumiu! N-Não consigo m-mais suportar... — Eunjeong voltou a soluçar. — Doze dias sem o meu bebê.
— Mamãe, ele tem razão. Temos que ser fortes e pacientes. — Yoona segurou a mão da mãe, massageando de maneira a acalmá-la.
Era difícil para ela também. Só os deuses sabem o quanto sofreu com a falta do seu irmão caçula tão amado, e receber nenhuma notícia sequer, sem mesmo saber em que condições ele se encontrava, era extremamente angustiante. Seu coração se apertava em preocupação todas as vezes que pensava em Jimin, o que ocorria quase vinte e quatro horas por dia.
Depois de cerca de dez minutos, Eunjeong finalmente conseguiu dar fim ao seu choro, porém toda a sua alma parecia morta. A depressão estava tomando conta de si. A cada dia que passava sem informações sobre o seu garoto lhe deixava cada vez mais triste e melancólica, e por isso todos os dias voltava à delegacia para ver se havia alguma novidade, e ao longo das manhãs e tardes, realizava diversas ligações para conversar com os investigadores.
No fim, isso acabou estressando um pouco os profissionais, que se sentiam cada vez mais pressionados, sem conseguir se concentrar verdadeiramente nos seus trabalhos.
— Vocês já conseguiram analisar as gravações do hospital? — a mulher perguntou, secando seu rosto com um lenço que levava consigo todos os dias desde que o loiro havia sumido.
— Estamos trabalhando nisso, Sra. Park. Como eu lhe disse ontem, o hospital nos liberou as gravações há apenas dois dias, e isso atrasou nossas análises — o policial proferiu, tentando passar confiança em seu tom de voz. Sabia que não era uma situação fácil para a família, muito pelo contrário, era compreensível o desespero da mãe e da irmã. — Assim que conseguirmos finalizar essa fase, vamos entrar em contato com a senhora para dar informações sobre o resultado do relatório.
— Eu só queria poder ter ele de volta para mim — Eunjeong murmurou, sentindo os olhos arderem mais uma vez. Quando seria a próxima vez que veria aqueles lindos olhinhos se fecharem ao abrir um sorriso largo? Sentia tanta saudade do seu menino. — Ele só tem 25 anos. É só um bebê!
— Eu sei, mamãe, ele vai sempre ser o seu bebê — Yoona afirmou. — Mas agora vamos para casa... — ela se interrompeu ao sentir seu celular tocar no modo vibratório. — Me perdoem. Só um momento, vou atender — se desculpou e afastou-se alguns metros, logo tocando no botão verde do smartphone. — Oi, Mang, não posso falar agora, estou com mam... O quê? — Seus olhos se arregalaram quando seu coração se remexeu inquieto dentro do peito. — O que foi que você disse?! — ela se exaltou, gritando em surpresa pela fala do outro lado da linha. — Você o encontrou? Onde? Quando? Ele está bem? Onde ele está? — A garota já tinha uma trilha de lágrimas de emoção e adrenalina repentina escorrendo pelas bochechas. Sua mãe, que logo correu para o seu lado, a fitava com um olhar esperançoso. — Ok, em dez minutos estaremos lá! — Segurou a mão de Eunjeong e as duas se direcionaram à saída da delegacia às pressas.
— Espera. O que foi que aconteceu? — Namjoon questionou, confuso, com o cenho franzido, mas as duas mulheres já haviam desaparecido.
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Ambas se apressaram para chegar em casa o mais rápido possível, e não foi tão difícil, já que a mansão dos Park era próxima àquela delegacia. Assim que o motorista adentrou o portão e parou próximo à entrada da casa, as duas mulheres desembarcaram do veículo afoitas, quase tropeçando em seus próprios pés. A chuva ainda caía, agora em volume menos denso, mas ainda assim suficiente para deixá-las molhadas ao atravessarem os poucos metros até onde Jung Hoseok se encontrava parado, acompanhado do garoto logo ao seu lado.
— J-Jimin, meu bebê? — a mais velha murmurou, mais emocionada do que nunca.
O loiro estava soluçando. Já não era mais possível distinguir as lágrimas em meio à umidade da chuva que o deixou encharcado. Era impossível descrever seus sentimentos naquele instante. Por mais que a saudade de sua família fosse infinita, a dor era ainda mais. E sabia que era eterna.
— Jimin, o que foi que aconteceu? — Yoona questionou, com seus olhos ardendo e seu corpo todo em choque pelo nervosismo e ao mesmo tempo alívio.
— Omma! Noona! E-Eu... — o médico tentou balbuciar alguma frase coerente, todavia, tudo o que fluiu foram mais e mais soluços. Ele continuou chorando. Chorou até quase perder o fôlego.
— Ei. Está tudo bem, meu amor. Vai ficar tudo bem. — Eunjeong logo tratou de abraçar o corpo do seu filho e fazer carinho em suas costas. O garoto se encolheu contra o peito da outra quase como se estivesse no colo da mãe, mesmo ela sendo menor que ele. — Vamos conversar sobre o que aconteceu mais tarde. Por hora, apenas descanse.
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Jimin caminhava pelo mesmo percurso que fazia todos os dias após finalizar o seu plantão no hospital. Naquela noite, teve mais pacientes para atender, portanto já era tarde. Suas pernas moviam-se constantemente seguindo a direção desejada, tentando ter pensamentos positivos. Fazia um ano completo desde que voltara ao tempo atual, em Seul, porém ele jamais perderia a esperança. Por mais que tivesse passado por um momento difícil e depressivo, as coisas estavam melhorando aos poucos e ele tentava pensar em coisas boas. Todos os dias, o médico cirurgião — agora já formado em sua especialização — visitava o templo próximo ao palácio, onde o portal havia se aberto doze meses atrás, no entanto, sentia que esta noite era especial e que talvez teria alguma chance de suceder em sua teoria.
A brisa de outono batia forte contra seu rosto, fazendo a pele ficar um tanto ressecada. Ele cruzou os braços numa tentativa de esquentar-se daquele frio momentâneo, mas sentiu um arrepio involuntário percorrer sua derme dos pés à cabeça. Virou seu rosto para trás. Estava tendo uma sensação estranha, como se alguém estivesse lhe perseguindo, assim como todas as noites em que ia para casa. Aquela sensação lhe seguia e era, no mínimo, desesperador. Seu estômago revirou-se em nervosismo. Sendo assim, tratou de acelerar seus passos à medida que seu próprio coração acompanhava aquele ritmo frenético.
Não faltava muito, estava quase lá. Poucos passos para alegrar-se ou enlouquecer completamente.
Virou-se mais uma vez rapidamente e pôde ver uma silhueta escura alguns metros atrás de si, o que lhe deixou ainda mais amedrontado, todavia, ele não podia simplesmente dar meia volta e fugir. Precisava confirmar sua teoria. Tinha que ver se o portal estaria aberto esta vez.
Sentia falta do elfo que conquistou seu corpo e alma. Lembrava-se vividamente de cada momento que gastaram juntos no passado, cada detalhe.
Nunca se esqueceria do primeiro beijo entre eles, que inclusive foi o próprio médico que tomou a iniciativa, ao colocar-se na ponta dos pés para selar aquele ato de amor. Levou os dedos aos lábios vultosos, quase como se pudesse de fato sentir aquele toque entre as bocas. Depois, seu cérebro o fez relembrar do primeiro passeio que tiveram juntos em Elfland, um dos dias mais divertidos de toda a sua vida, afinal, ele havia conhecido unicórnios e dragões e isso era surpreendentemente inacreditável.
Porém, com as boas lembranças também vieram as tristes. Cada guerra em que seu amor lutou com toda a sua alma, dando o melhor de si e extrapolando todos os seus poderes, cada dor que o moreno sentiu ao se machucar. Era lamentável, e não pôde deixar de se entristecer, principalmente ao ver em sua mente a cena tão vívida que tinha pesadelos todas as noites. Seu amor sendo despedaçado até a morte.
Tudo o que mais queria era tê-lo de volta para si. Se ao menos soubesse como poderia trazê-lo de volta... Faria qualquer coisa para que isso acontecesse.
Mais alguns passos largos e finalmente podia avistar a entrada do templo e aproximou-se mais. Ergueu o olhar para o céu negro e seus lábios curvaram-se para baixo enquanto seus olhos começavam a arder instantaneamente.
Não havia sinal algum do portal ali.
O loiro queria chorar, então não teve mais forças para continuar a caminhada. Deixou seu corpo pender para frente, apoiando os braços nas pernas. Queria gritar. Brigar com o mundo e com os deuses.
Por que não? O destino não estava a seu favor, afinal?
Os soluços do jovem ecoaram pela rua vazia. Não foi mais capaz de sustentar o tronco, e deixou-se cair no meio daquela calçada suja, próximo a um beco sem saída. Ficou assim, choroso, por longos minutos.
Todo aquele sentimento melancólico pelo qual lutou contra durante aquele longo ano voltou à tona. Nada mais valia a pena se não tivesse Jeon Jungkook para si.
A frustração lhe dominou com tamanha intensidade que nem sequer lembrava que poderia haver alguém atrás de si, e quando tal fato voltou ao seu conhecimento, parecia tarde demais. Um calafrio mortal surgiu no seu interior, fazendo seu estômago se revirar em horror. Percebeu algo gelado tocar sua cabeça, na altura da testa.
— Passa a carteira e o celular!!! — o bandido gritou, fazendo a arma tremer contra o cenho do médico. Só que Park não conseguiu mais raciocinar com clareza e apenas paralisou. Os segundos se arrastaram lentamente, quase como se o relógio estivesse congelado. — Vamos! Não tenho a noite toda, garoto!
Seu coração investiu forte contra a parede interna do seu peitoral, quase capaz de perfurá-lo. Seu corpo todo amoleceu de imediato, e suas mãos passaram a tremer de nervosismo. Nada mais coerente passou por seu cérebro, a não ser o desespero. Decidiu então fechar as pálpebras, bem apertado. Se morreria, gostaria que fosse rápido, sem ter tempo de enxergar seu assassino. Ademais, aquele era o momento certo para a sua morte. Não tinha mais motivos para continuar lutando. Não tinha mais o seu elfo amado, o seu orelhudo.
Mas as coisas nem sempre eram como Park Jimin imaginava.
— Parado, agora! — Ouviu a voz de outrem, vinda do lado oposto em que se encontrava. Isso lhe surpreendeu, afinal, achou que estava a sós com o bandido. — Largue a arma! — As ordens soavam autoritárias e firmes, todavia, não causaram efeito algum naquele que ameaçava a vida de Park. — Largue a arma agora ou as coisas vão ficar piores para você. — Só que o assaltante não parecia disposto a ceder ao pedido.
E então tudo aconteceu rápido demais. Dois disparos. Foi tudo o que Jimin pôde ouvir. Milésimos de segundos antes dos tiros, percebeu a frieza do metal da pistola afastar-se de si, e logo depois sentiu a queda do corpo do criminoso ao seu lado.
Por fim, abriu os olhos novamente, vendo o sangue começar a manchar a roupa daquele homem desconhecido. De fato, não conseguiu reconhecer a figura. Não entendia o porquê de aquilo ter acontecido, já que era absurdo alguém querer lhe machucar simplesmente por conta de dinheiro, mas o mundo estava repleto de pessoas maldosas, e a alma bondosa, e por vezes ingênua, do médico não entendia tal fato. Foi só depois de alguns segundos paralisado que ele se deu conta de que uma terceira pessoa havia realizado tal tarefa, e esse indivíduo deveria estar portando uma arma de fogo também.
— Jimin-ssi!
O coração do cirurgião congelou ao reconhecer tal voz pronunciar seu nome. Era familiar. Extremamente familiar.
Nada mais dentro do corpo de Park funcionou como o esperado. Estava tudo paralisado. Calafrios por toda a sua derme.
Levantou-se imediatamente e virou seu tronco, a fim de fitar o homem que havia salvado sua vida, e todo seu ser amoleceu, tanto interna quanto externamente. Suas pernas ficaram bambas de repente, enquanto o órgão cardíaco voltou a metralhar forte contra a parede do peito. Foi um misto de emoção e desespero, e ele não teve tempo para assimilar seus sentimentos, porque seus pés foram rápidos em caminhar de encontro ao maior e segurar seu corpo antes que desabasse ao chão.
— J-Jimin-ssi! — o homem repetiu, esforçando-se para falar. — P-Por favor, me dig-ga que n-não foi só um sonho... — Cada palavra saiu um tanto desconexa, levando em conta as condições do rapaz ferido. Park viu o sangue espalhar-se pelo peitoral do mais alto, na altura do coração, muito perto do órgão vital, onde havia sido baleado. — Por... f-fav-vor!
— Não foi só um sonho, Kookie. — Era difícil se controlar diante de tal situação. Tudo era confuso e extremamente emocionante para ambos. O loiro esperou ansiosamente por aquele momento, o momento em que pudesse finalmente reencontrar sua alma gêmea, seu destino, mas não imaginou que seria dessa forma tão trágica. Jamais queria ter que passar por aquilo. — Foi tudo real, meu amor. — Encarou os olhos do homem, percebendo que suas íris tinham uma coloração de castanho escuro. Depois, mirou as orelhas, que não eram mais pontudas como de costume.
Ele estava diferente. Ele era humano.
— Fique comigo, Kookie! Por favor. Aguente firme! — pediu, desesperado, enquanto pegava o celular, discando "119", o número de emergência local, com os dedos trêmulos, logo sendo atendido.
Explicou brevemente o ocorrido, pedindo duas ambulâncias para os dois feridos, respondeu algumas perguntas e informou o endereço o mais rápido que sua fala foi capaz de pronunciar as palavras, e então aguardou. O único bom fato era que o hospital ficava próximo dali, então a ambulância provavelmente chegaria rápido. Quando voltou sua atenção ao enfermo, uma de suas mãos foi de encontro ao ferimento, tentando inutilmente estancar o sangramento. A outra segurou o pulso do moreno, concentrando-se para medir os batimentos cardíacos. Parecia estável ainda, mas não sabia por quanto tempo, já que o rapaz ficava mais fraco a cada segundo que se passava.
— Fique comigo, Jungkook — repetiu, vendo a atenção do rapaz machucado voltar-se para o seu rosto. Ele piscava as pálpebras lentamente como se estivesse se esforçando ao máximo para continuar acordado.
— Eu... p-pro-om-meto, hyung! — sussurrou em um fio de voz.
Aquela fala foi capaz de quebrar quaisquer estruturas ainda existentes dentro do ser de cabelos dourados. Até mesmo naquela situação Jeon era capaz de fazer uma promessa. E Jimin sabia que ele fazia de tudo para cumprir suas promessas.
Não demorou muito para ouvir as sirenes se aproximando, e Jungkook logo pôde ser propriamente socorrido. Os socorristas o imobilizaram e o ergueram sob a maca, colocando oxigênio como prioridade. O tecido de sua roupa foi cortado para liberar o local baleado, e só então Park percebeu que se tratava de uma farda policial sem colete à prova de balas, o que definitivamente parecia errado. Sem mais delongas, o transportaram ao hospital, e o cirurgião o acompanhou dentro da ambulância, segurando sua mão como forma de confortá-lo. Depois, viu um dos paramédicos com uma seringa, cautelosamente procurando pela veia certeira a fim de anestesiá-lo.
— Kookie... vai ficar tudo bem, ok? Você pode descansar agora — murmurou ao perceber a dificuldade do enfermo em manter-se acordado.
— Ji-Jimin-ssi... v-você vai...
— Vou ficar com você. Não se preocupe, você pode dormir. Quando acordar, vou estar bem ao seu lado. — Tentou abrir um sorriso com os lábios, apenas para fazer o outro relaxar. E foi suficiente, pois nos segundos seguintes Jeon finalmente se deu por vencido, deixando as pálpebras se fecharem espontaneamente.
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Ao chegarem ao hospital, os funcionários foram ágeis ao transportar o corpo ferido para a ala de emergência o mais rápido que conseguiam, afinal, o policial precisaria passar por uma cirurgia para manter-se a salvo. O médico acompanhou o processo, apoiando-se na maca, tendo muita dificuldade para ficar de pé. As lágrimas escorriam em abundância em seu rosto, tornando a visão um tanto embaçada. Tudo em Jimin parecia prestes a desabar, mas ele precisava manter-se forte para realizar o procedimento cirúrgico.
Seu único propósito agora era salvar a vida de Jeon Jungkook.
— Dr. Park, eu não sei qual é a sua relação com este paciente, mas consigo claramente perceber que se trata de alguém importante para você — um dos outros médicos cirurgiões comentou, com um tom estritamente profissional já que se encontravam no local de trabalho, porém a feição claramente transbordava preocupação pelo colega.
Jimin olhou para cima, focando o rosto do outro profissional da saúde. Eles eram melhores amigos desde que o maior ingressou naquele hospital, um ano atrás.
— Tenho que salvá-lo, Taehyung. Preciso salvá-lo!
— Não está em plenas condições para realizar essa cirurgia, então eu farei por você, tudo bem? — ofereceu, pois faria de tudo para ajudá-lo.
— N-Não! Eu e-estou bem... e-eu...
— Ji, você não confia em mim? — Kim interrompeu o colega, fitando profundamente seus olhos castanhos. Ambos haviam simplesmente ignorado as formalidades do ambiente profissional, voltando a conversar de maneira íntima como de costume. — Lembra? Foi você quem salvou minha alma gêmea no passado, não foi? — Taehyung proferiu, lembrando-se dos relatos que Jimin havia lhe contado. — Agora finalmente posso retribuir isso, e vou salvá-lo por você.
Tal fala fez com que Jimin finalmente cedesse, acalmando-se um pouco. Ele deixou que Taehyung começasse a se preparar para a cirurgia e decidiu ir para a sala de espera, mas antes de sair, observou o rosto sereno de Jungkook, com as pálpebras fechadas, repousando com a aparência de um anjo perfeito. Apesar de um pouco diferente do que se lembrava — com os cabelos curtos, orelhas arredondadas e olhos castanhos —, sentia que ele ainda era o mesmo elfo por quem se apaixonara.
— Por favor, salve-o por mim, Tae! — disse, antes de sair da sala cirúrgica.
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Depois de horas e horas aguardando, Jimin ainda se encontrava acordado, sem nem um pingo de sono. Sua irmã mais velha veio correndo ao seu encontro quando soube do acontecido, e aproveitou para ir à delegacia registrar o ocorrido. O assaltante também foi socorrido e levado a outro hospital e ainda não era sabido se sobreviveria ou não, porém caso continuasse a viver, assim que se recuperasse, seria levado a julgamento.
— Não consigo acreditar que você quase morreu por conta desse desgraçado, Ji — Yoona comentou, espumando de raiva. No entanto, o loiro não sentia tanto rancor pelo bandido quanto deveria. Apesar de querer machucá-lo, talvez tenha sido por causa dele que reencontrou o seu amado. Só pedia aos deuses que não levassem o seu elfo, para que pudesse viver mais memórias felizes com seu Kookie. — Espero que tudo ocorra bem durante a cirurgia, e que o policial sobreviva, mas temos que ir para casa, meu anjo. Já passou das quatro da manhã. Você precisa descansar.
— Não, noona. Tenho que ficar... — murmurou o médico, que na verdade era acostumado a ficar acordado por longas horas durante seus plantões no hospital. — Ele... bom, eu não te contei ainda. Mas ele é... é ele, noona. — Olhou para a morena e como ambos eram muito próximos, conseguiam se comunicar simplesmente com seus olhares.
— Ele é o Jungkook? — perguntou, estupefata, com os olhos arregalados. Viu o outro concordar balançando a cabeça positivamente. Por mais que fosse algo praticamente impossível de se acreditar, a garota confiava no irmão e acreditava em cada palavra daquela história absurda sobre voltar ao passado. Estava ciente que o namorado de Park não era algo inventado. Sabia que seu amor por ele, acima de tudo, era real. — Uau, isso é incrível!
Park passou horas contando a Yoona mais uma vez como conhecera o elfo, o comparando com o policial. Questionou-se o que havia acontecido. Será que Jungkook havia sobrevivido, atravessado o portal e agora se tornara humano? Ou será que ele viveu todos esses 600 anos à espera de sua alma gêmea? Ele podia apenas ter mudado sua aparência, não é mesmo? Quem sabe ainda era um elfo místico, mas ele estava ferido, não podia negar. Será que tinha perdido seu poder de cura?
Eram tantas perguntas sem resposta. O loiro já havia roído metade das suas unhas apenas especulando teorias.
Um tempo depois, a conversa dos dois irmãos foi interrompida porque Jimin levantou-se assim que viu o Dr. Kim sair da sala cirúrgica. Analisou o médico dos pés à cabeça, tentando encontrar algum sinal de que estava tudo bem, mas Taehyung parecia indecifrável. Sua expressão era séria e ele usava óculos quadrados, junto a roupa verde-água e a máscara que agora estava sob seu queixo. Viu ele suspirar enquanto se aproximava do colega. Os olhos de Jimin se umedeceram facilmente, pois ele logo interpretou tudo aquilo de forma negativa. Já esperava pelo pior.
— Ji, não chore, por favor! — A voz grave de Taehyung soou baixa, e ele logo segurou as mãos do amigo, tentando tranquilizá-lo. — A cirurgia foi um tanto delicada, e em vários momentos achei que não fosse capaz de salvá-lo — declarou, lembrando do turbilhão de sentimentos ruins que teve naqueles instantes. A profissão de um médico em si já era difícil, porém isso poderia ser multiplicado por mil ao se tratar de um cirurgião. Ser um cirurgião era arriscar o tudo ou nada. Você poderia causar a tristeza da família do paciente ou a felicidade. A vida da pessoa está literalmente nas suas mãos. Era sempre um desafio, o mais difícil dos desafios. Mas sempre havia esperança, e era isso o que dava paixão a esses profissionais. — Contudo, eu consegui, Jimin! A cirurgia foi finalizada com sucesso!
Park paralisou de imediato. Ele fungou mais algumas vezes, mas aos poucos conseguiu acalmar sua alma, e as lágrimas secaram em seu rosto. Por mais que ainda fosse cedo, permitiu-se abrir um leve sorrisinho, afinal o alívio apoderou-se de seu corpo, como se o peso de angústia tivesse esvaído de suas costas.
— Então ele está b-bem? — Um último soluço escapou, o fazendo gaguejar no meio da frase.
— Bom, ele teve uma parada cardíaca durante a operação, porém conseguimos trazê-lo de volta de maneira rápida, então espero que não haja sequelas — relatou, lembrando o ocorrido — O paciente foi persistente, Ji. Não queria morrer tão facilmente.
É claro que não. Ele era Jeon Jungkook, e nunca falha em suas promessas.
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Após saber que Jungkook estava a salvo, sem mais perigo de morte, Park finalmente se deu por vencido e decidiu ir descansar. Sabia que o policial não acordaria tão cedo agora já que precisava se recuperar da cirurgia, mas não foi para casa e ficou no quarto do hospital onde normalmente dormia durante seus plantões. Fechou os olhos, atordoado com tantos sentimentos lhe dominando ao mesmo tempo, e em meio àquele turbilhão de cansaço ele repousou por algumas horas.
Na manhã seguinte, a primeira coisa que fez, após tomar uma ducha, trocar de roupa e escovar os dentes, foi ir até as salas de UTI. Quarto 924. Entretanto, ao chegar ao destino, percebeu que o enfermo ali não se encontrava a sós. Estava acompanhado de uma pequena garota. Sendo assim, entrou silenciosamente, sem ser notado pela visita, e percebeu a menina fungar.
— Oppa! Por que você é tão corajoso? — pronunciou com a voz embargada — Por que se tornou policial? Droga, olhe só o que aconteceu com você!
Jimin se aproximou alguns passos, e foi só então que a menina se virou, se deparando com o médico. O mais velho viu os cabelos loiros e compridos da garota, com um tom de castanho nas pontas em degradê. Fitou os olhos azuis dela, percebendo a angústia no fundo do seu olhar. Sabia exatamente quem ela era. E ela era ainda mais adorável agora, vestida em um uniforme de ensino médio com sua mochila estilosa nas costas.
— Doutor! Por favor, me diga que ele vai ficar bem. Me diga que meu oppa vai acordar logo, por favor — suplicou, voltando a chorar.
— Não se preocupe, Daphiny. Seu oppa é forte e ele vai ficar bem — o rapaz respondeu, abrindo um breve sorriso com os lábios fartos.
— Omo! Como você sabe meu apelido? — A menina tinha a boca em formato de 'O', em sinal de surpresa.
Park pensou em criar alguma desculpa, mas acabou decidindo que a irmã do seu amor merecia a verdade.
— Eu o conheço, e ele falava muito de você — respondeu, e ao observar a vestimenta dela, percebeu a plaquinha com seu nome real cravado ali "Jeon Misoo". Um lindo e perfeito nome, assim como a garota.
— Oh, entendi. — Ela franziu o cenho, um tanto confusa. — E você vai cuidar dele, não vai? Por favor, cuide bem dele!
— Vou sim, não se preocupe — disse e então passaram a conversar alguns minutos sobre o que havia acontecido na noite anterior, até o mais velho verificar que já eram quase 9h da manhã. — Você não precisa ir para a aula?
— Tenho aula, mas não quero deixá-lo sozinho. Ele precisa de atenção.
— Eu posso ficar com o Jungkook, que tal? — propôs o doutor, que se aproximou e afagou os cabelos longos de Daphiny. Ela era simplesmente adorável. A menina concordou, confiando plenamente no loiro como se já o conhecesse e prometeu que voltaria assim que sua aula terminasse.
Jimin, então, sentou-se em um banco ao lado da cama do enfermo e passou a observá-lo. Estava pleno e sereno, com seu rosto impecável, suas pálpebras delicadas fechadas. Dormindo como se fosse um anjo. Só queria que ele acordasse logo para poder ver seus olhos mais uma vez, ainda que não fossem os mesmos de costume, mas sabia que os efeitos da anestesia geral duravam cerca de 10h naquele caso, então ainda demoraria um pouco para ele despertar. Agora tudo o que desejava era que não houvesse efeitos colaterais após a parada cardíaca do paciente durante a cirurgia. Sabia que não era um bom sinal, mas precisava pensar positivamente. Jungkook era forte e iria superar aquilo.
A saudade dele era tanta que seus dedos coçavam suplicando por algum toque. Tentou resistir, porém não foi capaz, então esterilizou as mãos antes de tocar no amado, evitando contaminações. Segurou a grande mão, roçando os dedos em sua palma, sentindo arrepios por todo seu corpo apenas com simples ato. Felizmente, o calor da pele morena do policial o fez sorrir em alívio, indicando que a temperatura do garoto provavelmente encontrava-se estável.
— Jungkook... senti tanto a sua falta — murmurou mirando o lindo rosto do homem que tanto amava. — Por que nosso reencontro teve que ser assim tão emocionante? — Sem nem perceber, as lágrimas já desciam pelas bochechas; Jimin era mesmo uma manteiga derretida e chorava com muita facilidade. — Você é muito malvado, viu? — O médico fez um biquinho manhoso adorável de se ver. — Nunca mais faça isso, meu amor. Não seja mais um herói, por favor!
Jimin então acariciou as bochechas do Jeon de leve, levando os dedos até a orelha arredondada dele. Não eram mais pontudas, mas agora tinha dois furos em cada. Ele gostava de usar brincos. Imaginou a imagem do moreno em uma farda policial, com o cabelo curto em um topete e argolinhas em suas orelhas.
Coisos e mais coisos.
Jungkook era certamente o ser mais belo de toda a existência, em qualquer forma, élfica ou humana.
Depois de longos minutos conversando com o rapaz ferido, sem receber respostas, Park assustou-se com uma voz grave próxima ao seu ouvido.
— Cuidando do meu paciente, Ji? — Logo pôde sentir dois braços longos ao redor do seu pescoço, lhe envolvendo em um abraço reconfortante e carinhoso. O Dr. Kim recostou o queixo no ombro do colega, ato frequente entre os dois melhores amigos.
— Ele vai ser meu paciente agora — respondeu, em um tom brincalhão.
— Isso é contra as condutas de um médico, Dr. Fora-da-Lei. — Taehyung deu continuidade à brincadeira, mesmo sabendo que provavelmente esse era mesmo o desejo de Jimin. — É ele, não é? — O de cabelos castanhos questionou, agora mais sério. — É esse o garoto que você tanto sentia saudades, não é mesmo?
— Sim. Jungkook é minha alma gêmea. — Abriu um sorrisinho apaixonado.
Kim, no entanto, fez uma expressão facial como se estivesse ofendido, abrindo os lábios em formato de 'O', colocando a mão sobre a boca.
— Pensei que nós fôssemos soulmates, Ji! Você está me traindo! — O drama do médico cirurgião era tão grande que poderia ser um ator talentoso.
Jimin não foi capaz de segurar uma gargalhada que soou alta demais dentro daquela sala de UTI. Ele então arregalou os olhos ao se dar conta de que havia quebrado uma das regras do hospital — o silêncio —, mas ficou mais aliviado ao perceber que ninguém havia notado o seu escândalo. E bom, ficou feliz em finalmente ter esse sentimento bom dentro do peito. Era mais do que agradecido a Taehyung, afinal, se não fosse pela sua família e por seu melhor amigo, jamais teria aguentado por um ano com sua depressão.
— Você está falando do irmão errado. Yoongi é sua alma gêmea, não é mesmo? — O loiro sorriu de maneira sugestiva para o maior, que logo ganhou um tom avermelhado em suas bochechas.
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O Dr. Park infelizmente teve que se ausentar da sala de Jeon, pois precisava trabalhar. Era terça-feira, e ele tinha um horário de trabalho a cumprir. Ainda que Kim tivesse insistido para que descansasse, foi teimoso em dizer que estava bem, mesmo depois de dormir apenas cerca de três horas. Ele seguiu com sua agenda, atendendo seus pacientes durante a manhã e à tarde teve que se ausentar para acompanhar uma cirurgia de recomposição de pele. Não seria um processo tão demorado a ponto de levar horas e horas de duração, entretanto, não era possível fazer pausas ou sair durante a operação.
Apesar de não ser o cirurgião chefe daquela cirurgia, Jimin auxiliou o outro médico e juntos finalizaram o procedimento em cerca de duas horas. Foi difícil concentrar-se no início, visto que seu amado não saía de sua cabeça. E se ele acordasse? Precisava estar ao seu lado quando isso ocorresse. Ficou aliviado ao finalmente terminarem aquela operação, pois agora estava em seu intervalo, livre para poder visitar Jungkook.
O garoto então tirou sua roupa cirúrgica, deixando seu uniforme e equipamentos na sua sala, e quando estava abrindo a porta quase deu de cara com uma das enfermeiras. Ela estava afoita, com os olhos arregalados, e parecia prestes a ter uma síncope.
— Dr. Park! Finalmente te achei — ela proferiu em meio a sua respiração descompassada por correr pelos corredores do hospital à procura do médico cirurgião. — O paciente Jeon Jungkook do quarto 924 acordou e está completamente fora de si. Preciso da sua ajuda com urgência!
O coração de Jimin se remexeu em seu peitoral, aflito. Será que algo ruim havia ocorrido com Jungkook quando ele acordou? Será que estava em seu juízo perfeito? Ficou se remoendo a cada passo que dava em direção ao 9º andar do edifício, tentando chegar lá o mais rápido que suas curtas pernas suportavam. Havia até mesmo deixado a enfermeira para trás, tamanho era o seu desespero.
Chegou no elevador, mas este estava no 15º andar, e levaria muito tempo para chegar ao 7º. Sendo assim, correu para as escadas, e subiu dois degraus de cada vez, fazendo suas coxas se cansarem rápido demais, mas ele não parou, nem reduziu a velocidade. Continuou frenético, subindo os dois andares que lhe separavam do seu amado.
Logo chegou aos aposentos daquele piso e direcionou-se ao corredor de quartos 20-30. Mais alguns passos e finalmente estava lá. Sua mão estava trêmula quando tocou no trinco da porta. Cada batida do seu coração era audível em seus tímpanos, lhe enlouquecendo. Girou a maçaneta e empurrou a superfície plana para dentro.
E tudo dentro de si pareceu explodir em milhares de pequenos pedacinhos. Ali estava ele, o seu porto seguro. Seu amor. Seu mundo todinho.
— Jungkook! — Jimin chamou, com a voz trêmula de emoção, quando as lágrimas passaram a despencar por seu rosto em abundância. Era um misto de sensações indescritíveis. Alívio, felicidade, amor, euforia. Sim, eufórico era como estava se sentindo agora.
O moreno, que até então estava de pé ao lado da cama, gritando e se debatendo com Taehyung e outro enfermeiro segurando seus braços fortes, paralisou imediatamente e virou o rosto para a direção do seu nome com os olhos arregalados. Seu coração voltou a se aquecer. Todo o seu estresse se esvaiu tão de repente quanto surgira. Sua sanidade mental parecia ter se estabilizado afinal.
Ele estava ali, tão próximo de si. Não era uma ilusão, nem mesmo uma miragem. Park Jimin era real e se encontrava a poucos metros de distância. Ele vestia roupas sociais claras. Seu cabelo dourado estava um tanto bagunçado e algumas olheiras eram perceptíveis abaixo dos seus olhos adoráveis.
— Jimin-ssi? — pronunciou, com seu sotaque de Busan. Aproximou-se à medida que o outro rapaz também chegava mais perto. Nem havia notado, mas seu rosto também já estava totalmente umedecido pelas lágrimas silenciosas.
Mais alguns passos e logo os dois garotos estavam frente a frente. Park tinha seu pescoço inclinado para cima, a fim de fitar o rosto do amado, e acabou percebendo que não doía mais como de costume. Por mais que Jeon ainda fosse consideravelmente maior que Jimin, provavelmente tinha cerca de dez centímetros a menos em comparação com sua versão elfo.
O policial tomou a iniciativa de erguer seu braço até tocar a palma de sua mão na bochecha de Jimin, que quase cobriu todo o rosto dele. Pelos deuses, era a melhor sensação que poderia ter em sua vida. Seu interior parecia ser um festival à base de fogos de artifício. Seu coração nunca havia metralhado tão forte contra a parede do seu peitoral.
Jimin, por outro lado, cerrou as pálpebras, a fim de aproveitar aquele momento único e tão esperado. Estar em contato com seu amor depois de tanto tempo, depois de tanto sofrimento, depois de quase perder as esperanças, era incrivelmente maravilhoso. Nada podia ser comparado. O garoto já soluçava, em prantos, sentindo a dor desaparecer de seu corpo, deixando apenas poucas sequelas que podiam ser curadas com o tempo.
— Jimin-ssi. Isso é real? — Jungkook questionou, atordoado. Tinha medo de que pudesse acordar a qualquer momento e ver o seu curador celestial desaparecer da sua visão.
— S-Sim, Kookie. Você está aqui. Eu estou aqui. Isso é real. — Park então abraçou o grandão, o envolvendo com toda a saudade que não cabia em seu peito. O outro retribuiu, o apertando e o envolvendo com todo seu corpo. E ficaram abraçados assim por longos minutos, sentindo um ao outro, tão próximos, matando as saudades infinitas que tinham um do outro.
Instantes depois, ambos ouviram passos e alguém pigarreando próximo a eles. Foi só então que Jimin se deu conta de onde estavam, e da situação em que Jungkook se encontrava. Naquele exato momento ele se afastou bruscamente do amado, erguendo os olhos arregalados ao fitar o mais alto franzindo a testa, sem entender tal reação.
— Jeon Jungkook! Por que você está em pé sem os eletrodos e o soro? — o cirurgião Park o censurou, ainda que tivesse acabado de abraçar um jovem que passou por uma cirurgia no peitoral recentemente.
— É que eu... eu... — O policial ficou nervoso e logo apressou-se para deitar-se na cama. — M-Me desculpa...
— Ele teve um surto pós-cirúrgico e começou a gritar pelo seu nome assim que acordou, Dr. Park — o outro médico esclareceu, indo em direção ao enfermo. — Um paciente muito rebelde, podemos dizer — continuou contando a respeito da dificuldade de controlá-lo. Depois, ergueu a camiseta verde-água do recém operado e voltou a conectar os eletrodos no tórax de Jungkook, para que o equipamento eletrocardiográfico funcionasse mais uma vez. — Precisamos fazer alguns exames para avaliar suas condições, tudo bem?
Obediente desta vez, ele concordou e respondeu uma série de perguntas do Dr. Kim enquanto o enfermeiro cuidava da medicação. Eram questões envolvendo como o policial estava se sentindo agora, quais eram as suas lembranças, além de exames em membros do seu corpo para testar as reações dos músculos e ossos, e o mais importante, seus sinais vitais. Taehyung examinou a visão, a audição, e principalmente, o sistema locomotor dele. Também testou a memória, e ficou aliviado ao perceber que ele se lembrava de praticamente tudo o que havia acontecido consigo. Depois de cerca de vinte minutos, o médico chegou a uma conclusão:
— Aparentemente nenhum sistema foi afetado. Ainda precisamos fazer alguns exames de raio-x, porém a princípio você está bem — o cirurgião concluiu, com o sentimento de missão cumprida. — Agora você precisa repousar. Sem movimentos bruscos ou esforço físico por cerca de um mês para que o ferimento cure mais rápido, ok?
Jungkook concordou com um simples aceno, sentindo-se culpado por ter sido tão rebelde quando acordou, mas tinha um motivo. A última coisa de que se lembrava era o seu hyung dizendo que estaria ao seu lado quando acordasse, e ele não estava, com isso sua mente o fez acreditar que era tudo um sonho, mais uma vez.
— Me desculpe — ouviu Jimin murmurar quando finalmente estavam a sós no quarto. O loiro sentou-se na banqueta ao lado da cama do enfermo.
— Pelo quê, hyung?
— Por não estar ao seu lado quando você acordou — disse, como se tivesse adivinhado os pensamentos do policial.
— Não se preocupe. Você está aqui agora. — O de cabelos castanhos abriu um sorriso, e isso foi suficiente para fazer o outro se derreter de amores.
Todavia, após aquela fala, um silêncio constrangedor se apoderou do ambiente. Era uma situação estranha para os garotos, especialmente por tudo ser tão confuso.
Jeon se sentia receoso para falar com ele. Porque era a primeira vez que aquele seu corpo entrava em contato com Jimin. Foi a primeira vez que se abraçaram naquela sala de UTI. As sensações dos abraços e beijos que trocara com o menor anteriormente não passavam de lembranças — lembranças do seu outro ser, da sua versão elfo do passado. Apesar de ter vivido aquilo em outra dimensão, em outra vida, agora era tudo diferente, novo.
Por outro lado, Park ainda tinha seu cérebro fervendo com as teorias, afinal, o agora policial era mesmo um humano ou ainda havia alguma chance de ele ser elfo? E como ele o havia encontrado na frente daquele templo? Eram tantas dúvidas, tantas perguntas. Queria perguntar ao enfermo sobre tudo aquilo, no entanto, não queria estressá-lo com toda essa conversa apenas meia hora depois de ter despertado.
— Posso segurar sua mão, h-hyung? — Jeon decidiu perguntar, nervoso. — Eu posso te chamar de hyung, certo?
Havia expectativa na expressão do moreno com as bochechas infladas, e Jimin não pôde deixar de gargalhar com aquela reação adorável.
— Você tem quantos anos agora? — ele perguntou, querendo descobrir mais detalhes sobre a nova versão do homem que tanto amava. E então, tomou a iniciativa de segurar a grande mão do rapaz e entrelaçar os dedos como resposta à primeira pergunta dele.
— Vinte e três. Quase vinte e quatro... — proferiu, um tanto tímido.
— Então você pode me chamar de hyung. Eu tenho vinte e seis agora. Quase vinte e sete. — Com a resposta do mais novo, Jimin agora pôde ter certeza: sua teoria de que o elfo tivesse sobrevivido e vivido por 600 anos até o presente era falsa.
Jungkook voltou seus olhos para as mãos dadas. Os calafrios em seu estômago eram frenéticos. Observou os dedinhos curtos e gordinhos do médico e passou a acariciá-los com muito amor. Era uma sensação maravilhosa. Sentiu-se idiota porque podia ter isso há muito tempo. Mas fora fraco, medroso. Resolveu aparecer para o loiro só quando ele estava em perigo, sendo que podia tê-lo protegido por um ano. Ao seu lado.
Silêncio. Mais uma vez, mas agora não era mais constrangedor. Era como se ambas as almas estivessem conversando entre si apenas com seus olhares conectados. Observaram um ao outro por alguns minutos, ao que Jimin acarinhava a mão de Jungkook e Jungkook acarinhava a de Jimin. Os arrepios à flor da pele.
— Jeon. Jung. Kook! — Os dois garotos se assustaram com a voz que soou naquele quarto, logo após a porta ser aberta repentinamente. Por reflexo, soltaram as mãos, o que causou certa melancolia em ambos. — Como você pôde fazer isso? Você não pode sair em uma missão sem usar a porra do colete a prova de balas! Quer ser rebaixado a estagiário novamente, Agente Jeon???
— Detetive Kim! Oi, eu estou bem sim, obrigado por perguntar — o moreno respondeu, sarcástico. Fez uma pausa ao sorrir para o colega de trabalho e amigo. — E bom, tecnicamente eu não estava em uma missão. Eu estava indo para casa.
— Então por que estava usando o uniforme e portando a porra da arma, moleque? — Namjoon, apesar de bravo, sentia-se mais do que aliviado por saber que Jungkook estava bem. Todavia, duro como era, em relação a questões de trabalho, não podia deixar de repreender o seu júnior. — E que eu saiba, sua casa não fica naquela direção.
— Eu errei, mas foi por um bom motivo. Me perdoe, sunbae. Por favor?
Jimin, que até então observava a cena com curiosidade e confusão, intrigado com a aparição do ex-soldado do reino de Min, olhou em seu relógio de pulso e viu que seu intervalo havia chegado ao fim.
— Senhores. Vou deixá-los conversar a sós, pois tenho outros pacientes para atender. Volto à noite, Kookie — o médico se despediu, vendo a breve expressão um tanto triste do grandão. E antes que pudesse se arrepender, deu as costas e saiu da sala de UTI, para seguir sua agenda e atender outros enfermos.
Assim que atravessou a porta do cômodo, quase deu de cara com o corpo de um rapaz cerca de 10 centímetros maior que ele.
— Omo! Me desculpe, Doutor... — O outro garoto estreitou os olhos para ler a placa com o nome do loiro. — Dr. Park — completou. Baixou o rosto em sinal de respeito e sentindo-se culpado.
Só que Jimin encontrava-se atônito. Estupefato. Os olhos arregalados de surpresa.
— Kim Seokjin?
— Sim. Vim visitar o Jungkook com o meu esposo. — Porém, poucos segundos depois o maior também tinha seus olhos esbugalhados. — Espera. Como sabe meu nome? — Nunca tinha visto aquele médico até o presente momento, afinal.
Jimin não conseguiu mais se concentrar nas palavras do rapaz a sua frente, e sim no fato extraordinário diante de si.
— Kim Seokjin. Você fala! Uau, isso é tão incrível! — Ele ergueu o olhar para fitar o rosto perfeito do não-mais-surdo. — Você está falando!
O outro franziu a testa. Será que aquele doutor estava bem? Será que aquele médico não precisava de outro médico?
— Sim, eu estou falando. Por qual motivo eu não falaria?
Jimin então não pensou duas vezes antes de abraçá-lo. De certa forma, isso assustou Seokjin, que ficou paralisado tentando entender o que se passava com o loiro desconhecido. No entanto, não se afastou, e depois de alguns instantes, resolveu corresponder o abraço de Park. Não sabia dizer o porquê, mas algo dentro do seu coração despertou. Uma pontada de felicidade recíproca. Empatia. Era o que sentia por ele.
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Quando Jimin já estava atendendo seu último paciente da noite, sua mente já não se encontrava mais naquele corpo, e sim no quarto 924. Tudo o que mais queria era terminar logo com aquilo e correr para os braços do seu amor. Bem, ainda não podia ter tanto contato com ele, afinal, precisava se recuperar da cirurgia, mas apenas se sentar ao seu lado e segurar sua mão era suficiente por hora.
— Não se esqueça de tomar o anti-inflamatório nos horários corretos e de higienizar bem o ferimento sempre que trocar os curativos — o médico orientou e entregou o receituário ao enfermo quase que no automático, porque era praticamente assim com quase todos os seus pacientes. — E deve usar a tipoia no braço por cerca de 40 dias, ok?
O rapaz, que há poucos dias passou por uma cirurgia no braço, concordou, logo se despedindo do doutor e se retirando do consultório para por fim ir para casa.
Park não tardou em trocar o uniforme, vestindo suas roupas comuns que tanto amava. Uma camiseta simples e colorida, suas calças jeans pretas e seu All Star branco e impecável. Logo em seguida, passou um pouco do seu perfume suave e delicado, e o mais rápido que seus passos curtos permitiam, se direcionou ao cômodo onde Jeon se encontrava.
Jungkook estava lendo um livro sobre investigação policial, mas logo o baixou assim que percebeu Jimin se aproximando. Seu sorriso não cabia em seu rosto.
— Hyung! Você veio! — Largou o livro no bidê ao lado, e assim que Jimin estava ao seu alcance, não demorou para pegar a mão dele. A analisou minuciosamente, vendo ali alguns anéis bonitos e brilhantes. Com seus dedos longos, mexeu nos acessórios, fazendo o outro rir de maneira adorável.
— Você já comeu, Kookie?
— Sim. Acabei de terminar a minha refeição. A comida não é nada boa, hyung. Ainda bem que a Misoo estava aqui e me ajudou com isso. — Fez uma careta ao provavelmente se lembrar do cardápio saudável demais daquele hospital. — Mas pedi para ela ir para casa, pois já está tarde e não quero que ela fique cansada para a aula amanhã — explicou.
— Você cuida muito bem da sua irmã — Jimin comentou, sentando-se na banqueta. Observou os olhos acastanhados do garoto que amava, e se aproximou até usar a mão livre para tirar uma mecha de cabelos que estava caindo sobre as pálpebras dele. — Você mora sozinho? Com seus pais? — Quis saber, curioso, afinal, ainda não conhecia muito sobre essa nova versão de Jeon.
— Moro sozinho com a Misoo. Mamãe faleceu há cerca de dois anos, então como eu já era maior de idade, consegui a guarda dela — contou, vendo as reações do loiro. Ele parecia, de certa forma, triste. — Não fique assim, hyung. Eu sei me virar sozinho. Estou trabalhando na delegacia de Gangnam, e recebo o suficiente para nos sustentar.
Park ponderou sobre aquilo. Era muito perigoso trabalhar como policial. Ele podia ser machucado por bandidos, assim como aconteceu quando o salvou daquele assaltante.
— Jungkook... Tem certeza que é essa a profissão que você quer seguir? — Sua testa franzida era um sinal de preocupação.
— Não necessariamente. Eu estou estudando direito. Como você sugeriu, lembra? — O garoto abriu um sorriso, orgulhoso de si. Apesar de ter sido uma sugestão do namorado, realmente se descobriu naquele ramo. Era isso o que queria seguir na sua vida. — Quero ser um procurador... ou, quem sabe, até mesmo um promotor. O que você acha?
— Eu acho incrível! — Jimin não pôde deixar de sorrir também, feliz pela decisão do amado, mas agora mais dúvidas surgiram em sua mente.
Acabou de ter a confirmação de que Jeon lembrava de cada fala que trocaram no passado, mas como aquilo era possível? Se fosse assim, ele deveria ter mais de 600 anos, e não apenas 23. E se ele fosse a reencarnação do elfo, como ele poderia ter todas as lembranças? Nada fazia sentido. Precisava esclarecer as coisas ou sua mente iria explodir por completo.
— K-Kookie... Posso te perguntar algo?
Jungkook apenas balançou a cabeça em concordância, disposto a responder qualquer tipo de questionamento.
— Você lembra de tudo, certo?
Ele entendeu sobre o que Jimin estava falando. Não era preciso especificar nada.
— Sim, eu lembro de cada palavra. De cada toque. — Ergueu o braço livre até encostar a palma da sua mão na bochecha quente e branquinha do outro. — Lembro de tudo, hyung — confirmou, por fim.
Os corações de ambos começaram a palpitar forte contra seus peitorais. Era emocionante relembrar o passado.
— Como isso é possível? — Jimin falou baixinho, quase que mais para ele mesmo. E depois, voltou a aumentar o tom ao dirigir a palavra ao enfermo. — Podemos conversar sobre isso agora? — perguntou, pois não aguentava mais ponderar sobre as milhares de dúvidas que corroíam seu cérebro.
— Eu sou ele, hyung. Sou a reencarnação do Jungkook elfo — revelou, de maneira simples. Podia até mesmo ser algo óbvio, mas era inacreditável para Park. — Até um ano atrás, todas as noites eu tive sonhos. Sonhos muito vívidos e reais. Sonhei com cada lembrança que o elfo vivenciou, cada detalhe. É por isso que me lembro de tudo. Era como se durante a noite eu me transportasse para o corpo do elfo, vivendo tudo aquilo, e quando a manhã chegava, eu acordava frustrado.
Jimin já tinha seus olhos cheios d'água, e não demorou para que as lágrimas despencassem por sua face. Ele queria ser capaz de dizer algo, mas estava sem palavras. Tentava absorver tudo o que o garoto que tanto amava estava revelando para si.
— Era uma sensação terrível, hyung. Eu odiava ter que acordar. Achei que estava ficando louco — o moreno continuou, lembrando o quão difícil foi aguentar tudo aquilo sozinho. — Teve um dia que cogitei me suicidar, porque pensei que se eu dormisse para sempre, ficaria ao seu lado naquele sonho para sempre, meu amor.
Park estava em prantos agora, ouvindo tudo com muita dor no peito. Soluçava, colocando-se no lugar do policial. Foi muito egoísta ao pensar que estava sozinho naquele sofrimento. Já Jungkook, tentava inutilmente enxugar as lágrimas abundantes e incessantes do rosto do seu amor. Não queria vê-lo triste, no entanto, ele mesmo não aguentou e o acompanhou no choro. Era uma emoção insuportável.
— Há um ano os sonhos pararam de ocorrer. E eu juro que estava enlouquecendo, hyung. Não tinha mais lembranças com você, e isso me deixou extremamente depressivo. — O garoto fungou, tentando parar de chorar a todo custo. — Mas havia um caso a investigar na delegacia, o caso do médico cirurgião que sumiu por quase duas semanas. E foi então que comecei a "estudar" sobre esse caso, mesmo já sabendo o que havia acontecido. Que tudo era culpa minha, pois foi eu quem teoricamente o raptou — contou, e agora já estava mais calmo visto que conseguira fazer Jimin parar de chorar também. — Então eu resolvi procurar por você. Sim, eu queria te encontrar, hyung. Era tudo o que eu mais queria. Eu passei a te seguir todas as vezes que eu tinha a chance. A primeira vez que te vi, de longe, foi a melhor sensação que pude sentir.
— Então por que você não veio até mim, Jungkook? Por quê? — O loiro queria entender. Se soubesse que era o seu namorado a razão da típica sensação de estar sendo seguido, teria, com toda a certeza, corrido para os braços dele em poucos segundos.
— Meus pés estavam afoitos em querer me aproximar de você, eu juro, mas a minha mente não deixou. Fiquei pensando que você talvez não fosse me reconhecer, que me chamaria de louco. E se você não me correspondesse, eu jamais poderia suportar! — Naquele instante, o moreno levou o dorso da mão de Jimin até seus finos lábios, deixando ali um beijo terno. — Me desculpe. Eu não estava em meu juízo perfeito durante esse ano. Depois que os sonhos acabaram, fiquei pensando que de fato eram apenas sonhos. Você me entende, certo?
— Sim, Kookie. Eu te entendo. Está tudo bem, ok? Nós estamos juntos agora. — O médico então se inclinou para beijar a testa do maior, deixando seus lábios fartos repousarem na pele quente dele por longos segundos. E quando se afastou, Jungkook o puxou até cair sobre o peitoral. Jimin tentou se afastar. Estava assustado, pensando que podia ter machucado o ferimento do enfermo, mas os braços fortes de Jeon o seguraram com firmeza, o impedindo de se levantar. — Jungkook, não quero te machucar. Você acabou de passar por uma cirurgia. O ferimento ainda está sensível, aish! — As bochechas e todo o rosto do garoto ficaram quentes de repente, enquanto ainda tentava se levantar a todo custo, sem sucesso.
— Não está doendo, hyung. Eu juro. Só quero poder ficar assim, pertinho de você. Senti tanto a sua falta...
Jimin se deu por vencido e então se aconchegou nos braços musculosos dele. Pelo menos, como já não corria mais risco de vida, o garoto não tinha mais os eletrodos conectando o tórax até o aparelho eletrocardiográfico. Já havia sido transferido para um leito clínico.
— Também morri de saudades, Kookie — murmurou, sentindo o calor do corpo dele tão próximo ao seu. — Sempre achei que o portal ia se abrir novamente e que você estaria vivo do outro lado — contou, referindo-se a todos os dias que caminhava até o templo em busca do círculo arroxeado. — Mas eu estava errado. Em parte. Você estava vivo, só que desse lado do portal.
Park permaneceu ali com Jungkook até que ele pegasse no sono, só então se dirigiu para casa desta vez, afinal, sua mãe já estava ficando preocupada. Ao chegar no conforto do seu quarto, jogou-se na cama vasta e abriu um sorriso apaixonado. Não podia estar mais feliz, esse era o ápice. O destino finalmente cumpriu seu papel e juntou as duas almas gêmeas mais uma vez.
❨♔♚♔❩
Uma semana depois, o policial já estava bem o suficiente para receber alta do hospital, e Jimin ficou feliz por isso acontecer justamente no seu dia de folga, o que não era uma coincidência levando em consideração a sua influência com o Dr. Kim. Sendo assim, o médico ajudou a recolher todos os pertences do amado e os guardou em sua mala.
Com tudo pronto para partir, Jungkook foi ao banheiro para se trocar de roupa. Já estava cansado de usar os típicos pijamas verde-água daquele hospital. Saiu do cômodo com suas calças jeans claras com rasgos na altura do joelho, uma camiseta larga — pelo menos um número maior que o seu — com estampa de um jogo no qual Park não reconheceu, e as típicas botas amarelo queimado, que completavam o visual.
— Você está lindo, Kookie — Jimin comentou, tímido.
— Não mais do que você, hyung! — foi a resposta que o maior murmurou. Sua pele estava ardendo de tão quente. Eles não podiam passar mais que poucas horas sem flertar um com o outro, independente de qual realidade estavam vivenciando.
Logo depois, Jimin guiou o policial até o seu automóvel, colocou a mala na parte traseira do carro e então adentraram, com o loiro no lado do motorista.
— Eu daria tudo para ver a reação do Jungkook elfo do passado passear em um carro pela primeira vez. — O médico soltou uma risada nasalada, fazendo Jungkook sorrir adoravelmente.
— Omo! Hyung! Como essa máquina de ferro pode andar sozinha sem o auxílio de cavalos? — Jeon interpretou, fazendo o rapaz ao seu lado gargalhar alto, jogando a cabeça para trás até tocar no banco de corino.
Assim que conseguiu voltar a se concentrar, Jimin girou a chave e deu partida no seu Toyota. Teve que perguntar onde era a casa de Jeon, já que essa se tratava de mais uma das coisas desconhecidas sobre ele. Jungkook então revelou que morava em um pequeno apartamento do condomínio estudantil próximo à universidade onde estudava, e deu as coordenadas ao outro que dirigia. Depois de um tempo, o carro ficou silencioso, apenas barulhento dentro da mente de ambos que especulavam coisas um sobre o outro.
— Hyung! Você deve sentir saudades de quando eu ainda era elfo, certo? Sei que sou o mesmo, mas ao mesmo tempo não sou e isso deve ser estranho para você.
— Você é inteiramente o mesmo para mim, amor. Ou vai me dizer que justamente agora que você é humano está arrependido desse desejo e quer voltar a ser elfo? — O cirurgião ergueu uma das sobrancelhas, fitando o ex-orelhudo de modo brincalhão.
— Contanto que o hyung goste de mim assim, eu não vou me arrepender — o policial declarou, com um biquinho nos lábios finos.
— Eu amo você, Kookie. De todas as formas. Em todas as nossas vidas. Para sempre. — Segurou o volante com apenas uma mão e usou a outra para enlaçar os dedos com os longos do seu eterno namorado.
— Eu também te amo, hyung. Mais que tudo. Você é tudo para mim. — Jungkook tinha um desejo. Queria poder tocar seus lábios nos do mais velho. Relembrar aquela sensação que lhe fazia tremer na base. A melhor de todas as sensações, mas ele logo despertou do seu devaneio. — É aqui, você pode estacionar nessa vaga. — Apontou para o estacionamento em frente ao prédio.
Jimin olhou para cima, pelo vidro transparente da janela do carro e analisou o edifício. Parecia um tanto velho, mas bem cuidado. Logo, ambos desceram do automóvel e pegaram a mala, caminhando até o hall de entrada. Park estava um tanto triste, pois estava prestes a se despedir do maior, mas Jeon logo segurou em sua mão e o arrastou junto a si.
— Vem, hyung. Vou te mostrar o meu quarto. — O outro nem tentou contestar, pois tudo o que queria era continuar passando o resto da sua folga junto ao amado. — Mas não é um lugar luxuoso como você deve estar acostumado. É bem simples, na verdade.
— Até parece que você não me conhece, Kookie. Seu bobo! — Deu um leve soco no ombro do mais novo, que riu com os dentes à mostra. Fofo!
Os dois subiram, com um pouco de esforço para carregar a mala por quatro lances de escada até chegarem ao segundo andar do prédio, que não tinha elevador, por sinal. Quando finalmente chegaram ao destino, o moreno tirou as chaves do bolso e buscou pela qual servia na fechadura, girando logo em seguida. Empurrou a porta para dentro, entrando e colocando a mala em algum canto do quarto.
— Bem-vindo ao meu pequeno lar, hyung!
Assim que adentrou o espaço, a primeira coisa que pôde perceber foi um ser peludo que começou a se esfregar em suas pernas. Ao olhar para baixo, descobriu que se tratava de um gatinho preto com olhos verdes.
— Omo! Você também tem um gato? — indagou, surpreso, ao se agachar para acariciar o pelo macio do bichano. Ele tinha o rabo empinado para cima, e o queixo esticado, sinal de que estava adorando o agrado do loiro.
— Sim. O nome dele é Bultan — revelou, com o tom de voz um tanto melancólico.
— Own. Que homenagem linda, Kookie. — Jimin se levantou, com o felino em seu colo ronronando. — Ele é muito fofo! — Foi só então que o jovem passou a observar cada detalhe do cômodo. Apesar do espaço ser limitado, tudo estava bem organizado e bem decorado. Não demorou para notar a estante repleta de livros, Comic Books e jogos. — Você me parece ser bem geek. — Abriu um sorriso, sentindo que provavelmente não reconheceria nenhum jogo além de The Sims ou Minecraft.
— Sim. Eu amo jogos, mas é triste jogar sozinho. Daphiny não gosta de jogar comigo. — Jungkook se sentou no colchão da cama de solteiro, em frente à TV e pegou um dos controles e o estendeu para Park. — Quer jogar comigo, hyung? — solicitou, em expectativa. Seus olhos brilhavam de ansiedade.
O médico queria recusar, porque sabia que era péssimo naquilo e não queria decepcionar o namorado, mas era impossível resistir àquela expressão pidona. Sendo assim, colocou Bultan no chão e segurou o controle de Playstation.
— Tudo bem, mas você vai ter que me ensinar porque eu não sei jogar.
Jungkook concordou, logo explicando as funções básicas de cada um dos botões daquele controle, e então mostrou ao loiro as dezenas de CDs dos games que possuía. Havia vários gêneros diferentes, desde lutas, guerras sangrentas, zumbis, até contos de fada mágicos. E assim, o estudante de direito pediu que seu namorado escolhesse algum dos jogos. Indeciso como era, Park passou dez minutos apenas procurando por algo que lhe agradasse, até que seus olhos se arregalaram ao se deparar com um CD com elfos na capa. O nome, "Elfland".
— Kookie?! — exclamou, surpreso, passando os dedos gordinhos pelo desenho de um elfo grande com cabelos compridos e castanhos e olhos vermelhos. — Como isso é possível?
Jeon então teve seu rosto tingido de vermelho, pois seus olhos esbugalhados junto à sua expressão cômica deixavam claro que estava envergonhado.
— Aish! Você não podia ter visto isso... É só um projeto bobo de um jogo baseado no que eu vivenciei nas minhas memórias como elfo — explicou, tirando o jogo das mãos do mais velho. — Namjoon e mais alguns amigos meus me ajudaram a desenvolvê-lo, mas nunca foi lançado, e não acho que vamos continuar com isso... — Suas bochechas infladas mostravam que se sentia decepcionado com tal fato.
— Não é um projeto bobo. É um projeto incrível, eu adorei. — Jimin então arrancou o CD das mãos dele e procurou a entrada do Playstation para inseri-lo e assim começarem a jogar. — Eu escolho esse. Vamos jogar Elfland!
Demorou alguns minutos para o casal entrar num consenso, mas logo eles finalmente jogaram. Não apenas Elfland, mas diversos games da coleção do policial. O grandão sempre ria com a pouca experiência que seu amado tinha com esse universo, e apesar de ficar um pouco irritado, Jimin sentiu-se a pessoa mais feliz por poder compartilhar momentos únicos como aquele com a pessoa que mais amava em sua vida.
Depois de horas e horas jogando e comendo besteiras, Park começou a se entristecer porque logo precisava ir para casa descansar para o dia de trabalho seguinte. Ficou mais triste ainda por não saber quando iria poder visitar o namorado mais uma vez.
— Não quero que o hyung vá embora. Fica aqui comigo, por favor? — Jungkook pediu, fazendo um biquinho.
— Queria muito ficar, mas meus pais vão achar estranho se eu dormir fora de casa. Sabe, ainda não te apresentei para eles — obrigou-se a murmurar tais palavras, mas seu interior implorava para que ficasse.
Depois daquela fala, os dois garotos ficaram se encarando de maneira intensa, sem querer se despedir um do outro. Os olhares conectados diziam tudo o que desejavam expressar a outrem. E eles sabiam o que queriam. Não era necessário proferir uma palavra sequer. Involuntariamente, e por reflexo, ambos se levantaram da cama, ficando frente a frente.
Eles precisavam de contato.
E foi com esse pensamento em mente que o garoto de cabelos claros, assim como da primeira vez, surpreendeu o maior ao se colocar na ponta dos pés e roubar um beijo do seu amado. Mas não foi um simples selinho — Park tinha seu interior em chamas, ardendo em desejo, e assim, enroscou seus braços ao redor do pescoço de Jungkook, logo aprofundando aquele ato de amor entre os dois.
Jeon não esperava por isso, foi pego de surpresa e seu coração quase perfurou seu peito assim que seus lábios entraram em contato com os vultosos de Jimin. Por mais que tivessem trocado beijos no passado, nenhuma das vezes havia sido tão intensa como essa. Além da paixão, havia emoção, uma emoção única. O reencontro dos dois garotos fadados a se amarem para sempre, com corpo e alma.
Nada mais podia separá-los. O destino, por mais cruel que fosse, havia selado aquela união para o resto de suas vidas. E para as próximas também, afinal, o fio vermelho fez as almas gêmeas se unirem a todo custo, e concretizou o amor de ambos por toda a eternidade.
디 엔드.
Chegamos ao fim de CH, infelizmente.
Espero que tenham gostado do capítulo final, por favor comentem as suas opiniões. Além disso, se ficaram com alguma dúvida ou se vocês têm alguma pergunta pra fazer sobre esse final, por favor façam AQUI e AGORA. Vou tentar esclarecer o máximo possível com os capítulos extras.
Gostaria de agradecer cada serzinho especial que leu esta obra do começo ao fim. Obrigada por terem acompanhado CH até aqui, vou sentir saudades de vocês.
Um agradecimento especial aos pharmonhas que sempre me incentivaram com essa fic, e acompanharam ela do início ao fim. Mortalitel Brunixwho softshayalala lovesmyeon jiminthesea VOCÊS SÃO TUDO PRA MIM! 💜
É isto. Fiquem com essa obra de arte maravilhosa feita pelo meu anjo Mortalitel:
That's all, love y'all ( ♡ᴗ♡ )
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