Capítulo VIII: Acordo Fatal
Nesse meio-tempo, em Salvador, em um local desconhecido e deserto da BR-324, um portão de garagem que dava para o subsolo se abriu para um carro escuro entrar. Ao descer a rampa e estacionar, o veículo foi recepcionado por dois seguranças, aparentemente desarmados, no subsolo e permaneceu observado durante alguns minutos. Dentro do automóvel, um homem jovem de terno preto, pele branca, cabelos lisos castanhos e olhos verdes observa a janela e os homens de fora. Ao lado dele, uma jovem também de pele branca, cabelo longo e marrom e usando um vestido longo azul apoiava-se em seu braço.
- Fique aqui, Ayla, os assuntos que irei tratar com esse crápula progressista e meio reacionário são bem delicados! - avisa ele.
- Tome cuidado, Alex, tenho muito medo de perdê-lo e você sabe disso - respondeu Ayla.
- Não se preocupe comigo, apenas fique no carro e me espere, logo voltaremos para o hotel com a mãe - diz Alexander, abrindo a porta do veículo - E eu voltarei a me deitar com as garotas que contratei! - ele completa saindo do carro e fechando a porta.
- Senhor Alexander Nissim Salvatore, prazer, sou o chefe Flávio de segurança federal - apresentou-se um dos homens - Fui designado pelo próprio presidente para protegê-lo em sua estadia na Bahia.
- Prazer - respondeu Salvatore, cumprimentando a mão do homem - Espero que seu chefe não tenha me tirado do meu conforto e das mulheres na minha cama para vir aqui ver um fiasco nos acordos.
- Tenho certeza que o senhor e o presidente se entenderão muito bem, senhor Salvatore - respondeu Flávio - Por favor, me acompanhe.
Salvatore, ao lado de dois seguranças particulares, acompanha Flávio pelo subsolo para, em seguida, pegarem um elevador para irem até um enorme corredor vazio. Alexander aparenta estar desconfiado; mesmo assim seguiu o percurso. Após saírem do elevador, O chefe da segurança vai na frente do empresário e o leva até uma sala especial. Os dois caminham pelo corredor e entram numa sala reservada, mais afastada, até Flávio abrir a porta. Salvatore olhava para a parede e via diversos quadros sobre a terra e a cultura brasileira. Numa das mesas da sala escondida, um homem alto, com poucos fios na cabeça, com uma barba rasa, meio gordo, de pele branca, olhos negros e trajando um terno cinza o aguardava.
Flávio fecha a porta da sala e deixa Montes e Salvatore sozinhos para que ambos conversassem.
- Sente-se, senhor Salvatore. Aqui estou, José Carlos Montes, a sua disposição - disse o presidente - É uma honra tê-lo pisando no Brasil.
- O prazer é todo meu, Montes - respondeu Alexander - Espero de verdade que nosso encontro seja proveitoso.
- Será mais proveitoso que manter relações com quinze prostitutas! - afirma Montes, categórico.
- Eu estava fazendo isso em meu hotel - conta Salvatore -, mas os negócios me fizeram deixá-las esperando.
Salvatore senta-se na cadeira em frente à de Montes e os dois se encaram. Durante aproximadamente um minuto apenas ecoava o silêncio, até Montes o interromper com uma tosse.
- Fico muito feliz que tenha vindo se encontrar comigo, senhor Salvatore - disse Montes - Quando soube que o senhor estava em Salvador, meu coração transbordou de alegria e eu, imediatamente, peguei um avião para vir aqui lhe falar.
- Não seja cínico, presidente! - disse Salvatore - Sabe bem o real motivo da minha vinda até esse país de último ranking no IDH mundial!
O clima fica tenso entre os dois.
- Me perdoe, mas não entendo o motivo para tamanha resposta dura vinda de sua parte - alegou Montes - O Brasil é uma ótima economia.
- Não se faça de idiota! - Salvatore pede nervoso - Não toquei em economia, mas você conseguiu terminar com a economia desse país de último mundo.
- Olha como fala, senhor Salvatore - disse Montes - Sou um homem correto e meu espectro político também. O senhor deveria ter uma aula sobre mim.
- E você deveria ter uma aula de diplomacia! - rebate Salvatore - Quem você pensa que é para querer frustrar os planos da Liga Europeia?
- Me perdoe a sinceridade, mas não vejo como o senhor pode fazer valer um acordo com duas nações que se odeiam - confessa Montes - Eu fiz de tudo para ajudar, mas o Brasil é maior que tudo isso. Eu não tenho base no Congresso e meu discurso não agrada mais.
- Estou farto de suas desculpas! - afirma Salvatore - Primeiro, você jura em Jerusalém que o Brasil estava garantido no acordo, agora o retira sem nem me informar o motivo. Tive que vir aqui, até ti, para saber o motivo. E que motivos são esses?
- Perdão se fiz algo de ruim, senhor Salvatore - pede Montes - Mas preciso primeiro olhar para o meu povo.
- Foda-se o seu povo! - responde Salvatore - Eu não quero saber de suas desculpas, eu quero ação, presidente Montes.
- Não posso me ariscar em um acordo que nem sei se será lucrativo para o Brasil - argumenta o presidente brasileiro - A Rússia possuía algumas ideias melhores.
- Prefere acreditar em Moscou do que em Bruxelas? - pergunta Salvatore - Você é patético!
- Moscou me dá mais garantias - responde Montes - Alexander, precisamos ter garantias e não apenas promessas.
- Você leu o relatório completo do acordo por acaso? Não! - disse Salvatore - Eu ainda tenho esperanças que você me ajude nesse acordo, Montes, eu estou sozinho se for tirar a Liga Europeia.
- Não podemos cometer erros - argumenta Montes - Senhor Salvatore, me perdoe, mas esse acordo tem grandes chances de ir por água a baixo.
- São as mesmas chances de você se reeleger, Montes! - responde Salvatore, com deboche - Você é um dos únicos do Sul que ainda insiste em desmerecer este acordo.
- Como eu disse, preciso pensar primeiro no Brasil e não em Israel ou na Palestina - disse Montes - O senhor sabe muito bem que Moscou tem mais vantagens.
- Se você realmente pensasse no Brasil, iria aderir a este acordo de olhos fechados! - afirma Salvatore - A Salvatore Pride investe cerca de 2,5 Bilhões de Reais todo ano nesse seu país falido, se sua economia ainda vive é graças aos meus investimentos. Agora, imagine só seu país sem esse dinheiro todo, quantos desempregados nas ruas? Se bem que, grande parte você desvia.
- Não faça isso - pediu Montes - Eu dependo do seu dinheiro para tocar esta nação.
- Assine então o acordo, Montes - responde Salvatore - Você sabe mais do que ninguém as consequências de uma guerra se ela estourar agora.
- O que a Liga Europeia iria me oferecer? - perguntou Montes - Aquela coisa é dominada pela Extrema-direita. E o senhor apoia aquela corja.
- Achei que você gostasse da minha Extrema-direita. Você fala como um progressista, mas nós sabemos que não é bem assim - respondeu Salvatore - Nós dois sabemos que também não defende a tal família tradicional.
- E Washington? - questiona Montes - Soube que eles o deixaram à deriva pelo Pacífico.
- Sim, é verdade - confirmou Salvatore - Terei uma conversa em particular com Franklin Jeremy Johnson depois disso.
Os dois seguiam se encarando com cara de poucos amigos, Salvatore era o mais irritado de forma visível.
- Eu vou lhe pedir pela última vez, Montes - fala o empresário Israelense -, ou você adere e me ajuda no acordo com Israel e a Palestina, ou o seu lixo de país vai acabar com um capricho!
- Não gosto de ameaças, senhor Salvatore - respondeu Montes - Não é assim que irá conseguir aliados.
- Não é uma ameaça - defendeu Salvatore -, é um aviso do que pode acontecer caso se una à Rússia e à China.
- Seu acordo é patético! - desabafa o brasileiro - Por que não utiliza de seu capital para construir o Templo e realocar o Domo da Rocha e Al-Aqsa?
- Você não entendeu nada do que eu disse - responde Salvatore, cobrindo a testa com as mãos - Não posso construir o Templo, e nem quero, porque o acordo não é esse, nunca foi. Vocês, sul-americanos, parecem que querem ver um míssil atravessando o Atlântico. Poderá assistir a Libertadores de camarote no espaço.
- Não é isso, senhor Salvatore - argumentou Montes - Mas eu não quero me envolver em uma guerra no Oriente Médio.
- Então me dê sua palavra e recoloque o Brasil no acordo - pede o empresário.
O presidente fica em silêncio por alguns segundos e começa a pensar no acordo com Salvatore. O empresário, curiosamente metade brasileiro, estava sem um forte apoio norte-americano em seu acordo com Israel e muitos o viam com desprezo sobre essa questão.
- Você tem ideia das piadas que eu ouvi quando apresentei esse acordo em Moscou e no congresso dos Estados Unidos? - perguntou Salvatore - Você tem noção de quanto eu fui ridicularizado no Kremlin?
- Mas e os árabes? Teeran, Bagdá e Cairo poderiam ajudá-lo - sugere Montes - O Egito é aliado de Israel.
- A Turquia me complica com os árabes - responde Salvatore - Eles estão junto com a Rússia e a China e só querem atrapalhar o plano de paz.
- Sinto muito então, senhor Salvatore - lamenta Montes - Eu não posso me meter nisto.
- Vai me deixar sozinho? - pergunta Alexander - Já se esqueceu que só chegou ao Planalto graças a mim? Se não fosse por mim, você já estaria dentro de uma cela e sendo julgado pela Suprema Corte.
- Por favor, não toque nesse assunto - pede Montes.
- Você não gostaria que mais escândalos ao seu respeito vazassem na imprensa, não é, Montes? - disse Salvatore - Seria uma pena se o povo redescobrisse o canalha que você é!
- Abaixe o tom de voz - diz o presidente -, posso muito bem colocá-lo no seu lugar.
- O que você pode fazer? Influenciar os líderes para que apoiem Moscou? - quis saber Salvatore - Você come na palma da minha mão, José Montes, você e toda a corja política deste país!
- Eu sei que não faria isso, Salvatore - disse sem medo o presidente - A imprensa brasileira iria ridicularizar esse seu acordo infantil.
- Eu mando na imprensa! - rebate o mais jovem - Se eu quiser, vazo agora mesmo sua lavagem de dinheiro e sua corrupção com as estatais, para alguém que se dizia contra elas. Além, claro, de usar seu cargo para beneficiar familiares.
- O que acontece no Planalto, fica no Planalto - afirma Montes - Você é tão sujo quanto eu, senhor Salvatore.
- Sou um homem correto e que busca a paz - responde Salvatore -, ao contrário de você e de seus aliados. Já se esqueceu que, se não fosse por mim, você estaria na cadeia? - pergunta novamente - O povo esqueceu de sua lavagem de 2017 e do seu processo por racismo, mas eu posso lembrá-los disso e te colocar contra a parede como uma puta submissa.
- Vamos parar com esse tom, por favor! - disse o brasileiro - Já basta de tanta desgraça no mundo.
- Você vai ver a desgraça se não me ajudar nesse maldito acordo, seu imundo do caralho! - retruca Salvatore - O Brasil pode ir para o buraco por mero capricho meu. Cansei dos seus rodeios. Mas eu sou um homem bom e vim até aqui para te convencer que esse é o melhor caminho.
- Sua chantagem me enoja! - disse Montes - Não pode me forçar à assinar esse acordo.
- Sua corrupção me enoja! - rebate Salvatore - Posso, e vou obrigá-lo para que assine o acordo e garanta um futuro melhor para as crianças.
- Esse futuro não existe! - insiste Montes - O senhor é um mero jovem despreparado para reger a Liga Europeia e um completo fiasco! Josh Wilson tem vergonha de você!
- Não toque no nome daquele verme desgraçado! - avisa Salvatore, visivelmente incomodado.
- Por que não? É só mencionar o nome de Wilson que você se aquieta - provoca Montes - É compreensível, afinal, ele te deu a primeira grande experiência.
Transtornado, Alexander se levanta e agarra o pescoço do brasileiro.
- Velho maldito! - disse Salvatore - Eu devia acabar de vez com a sua raça apenas por revirar o meu passado manchado por aquele miserável!
- Mate-me então! - desafia Montes - Assim não terá a porra do seu acordo tão cedo.
Salvatore o segura por mais alguns segundos, porém, no fim decide soltá-lo. Ele tira um documento do bolso e mostra para Montes.
- Assine logo essa maldição! - disse Salvatore irritado - Só depende de você o futuro da humanidade.
- Eu nunca o vi tão perturbado - observa Montes - Mas continuo irredutível quanto ao seu plano não-pacífico.
- ENTÃO VÁ PRO INFERNO COM ESSA SUA TEIMOSIA! - grita o empresário - Eu não vou mais perder meu tempo com idiotas como você, tenho mais o que fazer.
- Aceite que isso não dará certo, Salvatore, é uma loucura o que está fazendo! - disse o presidente - Estou te dando um conselho porque somos amigos, me ouça, por favor. E ainda sonha em chegar nas Nações.
- Eu contava com você - lamenta Salvatore -, contudo, agora vejo que não passa de um idiota fantasiado de presidente.
- Moscou e Pequim são mais viáveis para Israel e Palestina - fala Montes - Não há como seu acordo dar certo, eu lamento mas é a verdade.
- Você compromete o futuro do seu próprio povo com essas palavras, apesar de no fundo, eu não me importar mesmo com ele - avisa Salvatore - Depois, não diga que eu não lhe alertei.
- Não preciso ser alertado - respondeu Montes -, sei muito bem o que estou fazendo. E o povo que é 50% seu também.
Salvatore se levanta da cadeira onde se assentava e caminha até a saída da sala. A feição de Alexander era de decepção e ódio; ele estava completamente abatido. Antes de ir, ele se vira novamente para Montes e o observa mais uma vez.
- Maldito sejas, Montes! - proferiu Salvatore - Você e sua ganância acabarão no Inferno!
- Se o Inferno me proporcionar as mais belas orgias irei de bom grado - responde Montes - Por sinal, iremos juntos até Satã. Viva a Rússia! Viva a China!
- Seu rosto me dá nojo - afirma Salvatore - Eu ainda vou calar a sua boca.
- Até lá você não estará mais vivo para ter esse gostinho - zomba Montes - Vá com Deus, senhor Salvatore, aproveite e me dê Ayla de brinde, quem sabe assim eu assino o seu acordo.
- No dia que você tocar um dedo na minha irmã, sentirá a pior dor possível - avisa Salvatore - Depois não venha me pedir perdão quando seu caso de corrupção ativa e liderança de quadrilha for vazado para a imprensa.
Após estas palavras, Salvatore deixa a sala onde se reunia com Montes e vai embora caminhando pelo mesmo lugar. O empresário estava enraivado e decidido a continuar com o seu acordo, mesmo com a grande recusa dos líderes mundiais.
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