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Capítulo VI: Caminho Divino Parte I

No dia seguinte, Auriel, Leonardo e Miguel seguiam por uma trilha antiga numa floresta mística, cujas árvores cobriam a luz do Sol. Auriel ia na frente, enquanto era seguida por Leonardo e Miguel, respectivamente.

— Sempre achei que essa parte fosse um pouco maior! — disse Leonardo.

— E era, mas houve algumas mudanças na política dos Sau'mer — Auriel respondeu.

O caminho na floresta os levaria para Saunavan, a casa dos Sau'mer, guardiões do Caminho dos Deuses. O Caminho dos Deuses é uma rota no mundo espiritual que conecta várias dimensões governadas pelos deuses-naturi. Foi construído em conjunto por vários naturi. Saunavan é a porta de entrada para ele, e os Sau'mer são seus guardiões, evitando que qualquer um possa chegar até as divindades. Além de guardarem o caminho, eles também mantém uma rocha do caos em sua posse.

Miguel observa os galhos das árvores e nota algumas aves que voavam sobre eles. O Príncipe dos Anjos estranha a movimentação do vento, mas continua andando.

— Parece que estamos andando em círculos — Leonardo desabafa.

— O caminho para Saunavan é longo e não dá para se teleportar até lá — responde Auriel — De qualquer forma, sinto que estamos perto. responde. O que acha, Miguel?

— Só quero que isso acabe logo! — deseja Miguel — Mas isto está estranho. De acordo com o mapa, nós já deveríamos estar dentro do território deles. Se não fosse o feitiço dos naturi que esconde a localização exata da cidade, nós já teríamos avistado.

— O que está insinuando? — perguntou Auriel.

Miguel vira de costas para eles e vai em direção à uma árvore. Ele nota algumas inscrições misteriosas na madeira, como se fosse uma espécie de alfabeto.

— Elas não estão aqui, é melhor desistir! — sugere Miguel — Talvez, Saunavan tenha mudado sua localização.

— Não, eu sinto que estão — garantiu Leonardo.

— Como sente algo que não conhecia há pouco tempo? Você não faz ideia do que seja o caminho! — Miguel o fita — Teria sido melhor que ficasse em casa vigiando Larry.

Leonardo se ofende.

— Está dizendo que eu sou inútil aqui? — Léo se aproxima do anjo — É uma pena, pois eu te admirava.

— Não coloque palavras na minha boca — Miguel se defende.

Auriel se aproxima deles e os contém com as mãos.

— Por favor, parem com isso! — diz Auriel — Miguel, eu não vou tolerar que comece novamente.

Auriel volta para frente e continua andando, tirando alguns arbustos com as mãos e abrindo caminho; Leonardo e Miguel a seguem. Os três passavam embaixo de uma árvore grande, quando uma serpente de cor verde com listras vemelhas surgiu pendurada nos galhos, logo acima de Miguel. O Príncipe dos Anjos olha para trás, mas não vê ninguém.

— Que estranho, sinto que estamos sendo observados! — fala Auriel.

Quando Miguel dá dois passos, a serpente pula sobre ele com o intuito de atingi-lo. O General Celeste sente a aproximação do animal rastejante e, antes que a serpente o atingisse no rosto, ele a rebate com um tapa e ela cai no chão.

— O que foi? — perguntou Miguel, ao notar que Auriel e Leonardo viraram-se para ele.

A serpente vai embora muito ferida pelo tapa de Miguel. Mas nem tudo são flores. De repente, um barulho se inicia logo adiante deles; Auriel olha para a frente, notando alguém ou alguma coisa.

— Tem alguém nos observando de fato! — confirma a ophanim.

— Não só um, mas vários — acrescenta Leonardo.

Auriel, Leonardo e Miguel se juntam, ficando um lado do outro e centralmente no meio de vários arbustos com movimentação suspeita. Um deles se movimenta e alguma coisa sai e se esconde de novo. Auriel olha ao redor e nota várias movimentações. Miguel fecha as mãos e tenta ir lá. Sombras de equinos são refletidas nas folhas.

— Miguel, não — disse Auriel, impedindo ele —, eles não são nossos inimigos!

— Não me diga — responde ele.

As movimentações aumentam e uma seta de energia é lançada em direção à Auriel, que a rebate antes que chegue no rosto.

— Ótimo reflexo — uma voz ecoa das árvores.

Leonardo e Auriel erguem as mãos para cima, em sinal de rendição. Miguel faz o mesmo depois que Auriel o fita com um olhar de raiva. Os sons de equinos se tornam mais fortes e eles notam a movimentação atrás dos arbustos.

— De fato, são eles — a mesma voz volta a falar.

Como raios, vários seres parecidos com homens, com peles em tom azul-claro, usando armaduras de bronze e montados em unicórnios verdes aparecem diante deles. Os sau'mer apontam arcos de energia para os três, que permanecem com as mãos erguidas. Um dos sau'mer, com o cabelo longo e platinado, olhos dourados e uma capa lilás, faz um sinal para que abaixem as armas e desce do unicórnio dourado. Os três abaixam as mãos.

— Está tudo bem? — perguntou Miguel.

— Vai ficar! — respondeu Auriel.

— Se quiserem, posso lançar um feitiço de comunicação, pelo menos pra mim — afirma Leonardo.

— Não precisa, eu falo sua língua — disse o líder daqueles sau'mer, se aproximando de Auriel e Miguel — Eu sei muito bem quem vocês dois são, mas o que fazem aqui?

— Como sabe falar minha língua? — quis saber Leonardo.

— Eu sei me comunicar em várias línguas, grande parte dos místicos sabem — ele revira os olhos — Eu sou Toralt, chefe da guarda de Saunavan — completa apresentando sua mão diante de Miguel.

Miguel apenas observa a mão dele e não move um músculo.

— Desculpe, ele não confia muito em quem vê pela primeira vez! — disse Auriel.

— Sábia decisão, Príncipe dos Anjos — disse Toralt recolhendo a mão.

Leonardo chega próximo de Toralt.

— Obrigado, mas precisamos ver seu povo! — fala Leonardo.

— Por que querem entrar em Saunavan? — pergunta Toralt — Me respondam: Por que estão aqui? Não é nosso costume receber visitas de primevos.

— Vocês estão correndo um sério risco! — responde Auriel — Estamos aqui para proteger vocês e todos que vivem em Saunavan de Mordred Pendragon, ele atacou a ilha de Avalon e roubou a Rocha do Caos. Agora, está vindo para cá fazer o mesmo.

— Eu estava em Avalon quando Mordred atacou a ilha, foi uma carnificina — disse Leonardo — Ele matou todos os magos, incluindo meu companheiro, minha mãe, e o poderoso Merlin.

— Merlin está morto? — questiona Toralt — Sinto muito por isso. Ele era admirado por nós. Mas vamos ver se um mortal será capaz de se igualar aos guardiões dos deuses.

— Compreendo — disse Miguel.

— Esperem aqui — Toral diz se afastando.

Ele se reaproxima dos outros sau'mer e conversa alguma coisa com eles. Auriel alisa e ajeita seu cabelo rubro; Leonardo e Miguel se entreolham.

— Venham comigo, os levarei até a rainha Lasra! — disse Toralt, fazendo um sinal para que se aproximem — Mas como eu disse, ainda duvido que o poder dele possa fazer frente ao nosso.

Os sau'mer abrem um espaço na mata, mostrando uma trilha de terra através dela, e a seguem. Quando todos entram, o espaço se fecha. Auriel e os outros dois vão atrás deles. Não demora muito e eles logo atravessam uma barreira mágica. Ao passar, se deparam com uma cidade feita de quartzo, ouro, pedras preciosas e cercada por montanhas. Era a cidade dos sau'mer. O grupo caminha entre os prédios de quartzo, até se aproximar de um palácio amarelo com pedras esculpidas. Na sala do trono, avistam uma figura feminina também de pele azul-claro, vestes verdes e olhos vermelhos.

Toralt se aproxima do trono. Leonardo, Auriel e Miguel ficam ao redor dos guardas, que os observam desconfiados.

— Eles não confiam em nós, eu posso sentir — disse Auriel olhando ao redor —, mas não os culpo por isso. Tem seus motivos.

— Então estamos quites, pois eu também não confio neles — responde Miguel.

Eles param de falar ao notar Toralt retornando.

— Aproximem-se, enviados do Céu, o chefe da guarda já disse tudo! — disse Lasra.

Os três se aproximam dela, mas Leonardo fica dois passos a frente de Miguel e Auriel. O rapaz abaixa a cabeça, se preparando para falar, até que Auriel toca seu ombro.

— Não temos a intenção de perturbar Saunavan e tampouco os deuses, rainha Lasra, viemos em paz! — afirma a ophanim — Estamos aqui para proteger vocês, e para evitar que invasores furtem a Rocha do Caos antes que...

— Ele já me contou tudo, Auriel, eu sei — interrompe Lasra, em tom entediante — Ele me contou sobre o que aconteceu ao jovem do seu lado. Mas que garantias me dão que dizem a verdade?

— Majestade, eu sou prova viva do perigo que correm! — responde Leonardo — Merlin está morto, Avalon, desolada. Aceitem nossa ajuda e se unam conosco, prometo que triunfaremos no final.

Alguns místicos começam a conversar entre si.

— Silêncio! — pede a líder — Eu acredito em você, Leonardo Souza, e também em você, Auriel. Convido também o Príncipe dos Anjos a esquecer nossas diferenças e fazer conforme o pedido do jovem.

Auriel e Leonardo sorriem aliviados e fitam Miguel, que se aproxima um pouco mais confiante.

— A Rocha do Caos é tão importante para mim quanto para vocês, eu a trouxe para cá há quase 10 mil anos. Eu aceito o convite, pela paz nos mundos do vasto Universo, e união dos seres místicos! — disse Miguel, abrindo os braços.

— Onde fica a rocha? — Leonardo questiona.

— No templo, do outro lado da cidade — respondeu Lasra, alisando o cabelo marrom — Nós vamos até lá depois.

— Seria melhor se irm... — Miguel ia dizendo.

— Reforcem a guarda do templo sagrado, imediatamente! — ordena Lasra.

— Sim, minha rainha! — responde Toral, indo acompanhada de um grupo armado.

— Venham comigo! — diz Lasra, descendo do trono e guiando Miguel, Auriel e Leonardo pelo lado oposto do templo — Eu preciso que vejam uma coisa. Depois, veremos a rocha.

Os três seguem a sau'mer. Eles atravessam a cidade e Lasra lhes mostra todos os detalhes de Saunavan.

— Não é uma missão fácil impedir que qualquer um chegue no Caminho dos Deuses, já perdi muitos guerreiros assim — a monarca comenta.

— Eu sinto muito por tudo isso — disse Auriel.

— Está tudo bem, Auriel! — tranquiliza Lasra — Com vocês aqui ficará tudo bem, já mandei reforçar a guarda no templo e caso precise, meus soldados agirão contra qualquer inimigo. Quanto à esta paisagem, observem o céu.

Eles atravessam o portão norte, este feto de puro ferro, e caminham alguns passos entre dois pequenos montes. Logo adiante, um penhasco com o Caminho dos Deuses. Uma ponte longa feita de diamante entre as nuvens amarelas e o céu lilás, cujo final não pode ser visto.

— Então esse é o caminho, é maravilhoso — Léo suspira ao observar.

— Ele pode te levar à vários lugares, desde que os deuses o queiram lá — a rainha explica — É uma missão complexa. Às vezes aparece um outro fanático. Lá — ela aponta para o céu. Uma rachadura.

— O que significa isso? — Miguel questiona.

— Apareceu há duas semanas, e nós ainda não sabemos o porquê — Lasra responde.

— É melhor se prepararem então, seja para Mordred ou algo além dele — Auriel sugeriu.

— Estamos fazendo isso! — Lasra afirma — Mas estou mais interessada em saber o porquê ela surgiu.

— A realidade está caindo — Miguel falou em tom sombrio.

Enquanto os três místicos conversavam, Leonardo notou em uma neblina verde que se erguia logo adiante.

— Bom, vamos voltar — Lasra diz — Vamos até o templo ver a rocha.

— Sim, é o melhor a fazer agora — Auriel concordou.

— O que é aquilo? — Léo apontou para a neblina esmeralda.

— Aquilo o quê? — Miguel se vira para olhar, mas se arrepende logo depois.

Uma rajada esmeralda foi disparada e atingiu Miguel em cheio, o lançando há vários metros deles. A força do impacto o faz se chocar contra as muralhas de Saunavan, que se abalam. Auriel, Lasra e Leonardo olham para Miguel perplexos. O Príncipe dos Anjos se ajoelha e dissipa a bola mágica com as mãos.

— Magia! — disse Miguel — Foi uma ótima tentativa de me pegar de surpresa, admito.

— Acho que agora seria uma boa hora para chamar seu exército, Lasra! — afirma Auriel, ao notar ver um imenso portal se formando sobre o caminho.

Raios e trovões lhe dão uma atmosfera sombria e ele pousa sobre a ponte. De dentro do portal, uma criatura parecida com um leão gigante, mas face humanoide, escamas verdes no corpo e cascos nos ombros pulou para fora; dando um forte rugido. Tinha aproximadamente 3 metros de altura.

— Esfinge? — questiona Lasra, surpresa — Mas achavámos que as esfinges haviam morrido há milênios atrás.

— Pelo visto, sobrou uma. Deixa que eu cuido dela! — disse Leonardo, indo para frente.

— Espere — a ophanim o impede com o braço —, o portal ainda está aberto.

Assim que Auriel terminou de falar, várias e várias outras esfinges saltaram do portal e ficaram logo atrás da primeira, seus rugidos estridentes incomodavam os ouvidos. Elas ameaçam avançar. O portal se fecha logo em seguida.

— Eu não entendo, por que elas apareceram agora? E por que querem nos atacar? — se perguntou a rainha sau'mer — Que tipo de brincadeira é essa? — ela tenta se aproximar as criaturas, mas uma esfinge tenta captura-la; ela recua.

— Eu não sei, só que agora é uma boa hora para chamar um exército! — disse Auriel, fitando Lasra.

Com um assobio, um exército formado por vários sau'mer armados com lanças, arcos, flechas e tridentes surge correndo da cidade e param ao lado de Lasra e Leonardo, com Auriel ao centro dos dois.

A ophanim conjura uma espada de energia amarela e a segura firme nas mãos; Leonardo manipula seus feitiços; os sau'mer disparam para o alto e erguem suas armas aos céus; as esfinges rugem.

— ATACAR! — grita Lasra.

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