Capítulo IV: As Lágrimas de Avalon
A noite caiu em Salvador, mas a chuva ainda era intensa e se converteu em tempestade. Miguel caminha até a janela da sala e mais uma vez observa o tempo ruim, com raios caindo ali próximos e o intenso barulho dos trovões. O alado acaricia seu longo cabelo loiro, quando de repente, sente um abalo vindo de algum lugar do Universo, um abalo que somente seres místicos e mortais ligados às artes místicas podem sentir. Larry se acomodava na cama, temendo os barulhos.
— Sentiu isso? — perguntou Miguel, olhando para Auriel, que acabara de aparecer na sala vinda do quarto.
— Sim, parecia alguém, em algum lugar, usando uma alta dose de poder, e em seguida apagando — descreve ela — Foi em outra dimensão, mais uma.
Miguel fica com uma expressão de raiva e dá um soco no vidro da janela, o quebrando facilmente.
— Magia! — disse Miguel, olhando para os cacos — Tem algum usuário mágico brincando de Deus por aí. Também sinto uma poderosa aura demoníaca.
Auriel se aproxima dele e encosta sua cabeça e seu longo cabelo rubro no ombro do amado.
— Sentimos um abalo parecido mais cedo — relembra Auriel — Parecem ter a mesma fonte mística, mas em lugares diferentes. Começo a ficar preocupada com os meninos, Periel, Zaniel e Leonardo.
— Periel e Zaniel estão bem, são teimosos demais para morrer! — disse Miguel, abraçando Auriel enquanto um raio cai na frente deles — Quanto ao bruxo, ele está seguro com Merlin, em Avalon.
Os dois ainda se abraçavam quando batidas são ouvidas na porta, não simples batidas, pareciam ser batidas de desespero. Larry se levanta latindo.
— Está esperando alguém? — pergunta Miguel.
— Não — responde Auriel —, você está?
— Como? A única pessoa que conheço neste bairro mortal é você — respondeu Miguel.
Auriel ajeita o cabelo e caminha até a porta; as batidas continuam. Quando ela abre a porta, fica em choque ao ver de quem se tratava. Auriel vê Leonardo ferido e molhado pela chuva tentando se apoiar.
— Auriel, eles...eles atacaram! disse Leonardo se desequilibrando.
— Leonardo! — exclamou Auriel, desesperada, o segurando nos braços e o impedindo de cair no chão.
Auriel coloca Leonardo apoiado nos ombros e caminha pela sala enquanto Miguel corre até um dos quartos, abre a porta dele, e ajeita rapidamente a cama para que Auriel coloque Leonardo nela, o que ela acabou fazendo. A ophanim deita com cuidado ele na cama e vê seus ferimentos no rosto e braço. Larry corre até eles, mas a alada o dispersa e ele volta a se deitar.
— Leonardo, fala comigo, o que houve? — perguntou Auriel, se abaixando de joelhos ao lado da cama e de Leonardo, que olha para ela e tosse sangue no lençol.
Miguel sai do quarto, porém volta rápido trazendo um copo de água.
— Calma, você vai ficar bem, eu prometo — disse ela.
— Auriel, Miguel, Avalon...Avalon se foi! Eles roubaram, eles mataram! — fala Leonardo.
— Leonardo, calma, fala devagar! — pediu Auriel aflita — Confie em mim, nós vamos te ajudar.
Leonardo a olha com confiança e bebe o copo de água. Auriel senta ao lado dele na cama e é abraçada forte. Leonardo abraça Auriel e desaba em lágrimas, ela o consola e acaba enchendo seus olhos de lágrimas também. Miguel, contudo, fica em pé, virado de lado, parecendo não se importar muito.
Depois de dois minutos, Leonardo termina de abraçar Auriel e ainda a olha chorando muito. Ela passa a mão no rosto dele, enxugando suas lágrimas.
— Minhas feridas físicas logo sararão, mas minhas feridas emocionais eu não sei — diz o jovem — Eu estava em Avalon até mais cedo, feliz com minha vida e aprendendo ao lado de Merlin, minha mãe, e Grant, meu namorado. Mas de repente, nós fomos atacados por Mordred, filho de Morgana Le Fay, que muitos julgavam estar morto e retornou. Mordred trazia ao seu lado Nahemah, uma bruxa poderosa com poderes demoníacos — continuou Leonardo — Mordred, Nahemah e um golem cinza armado com uma foice atacaram os magos, e estes não resistiram. Merlin foi morto por Mordred, mas antes de tombar, ele enviou minha mãe e eu para proteger alguns objetos místicos. Porém Nahemah nos atacou, Mordred matou minha mãe e matou Grant. Eles eram muito fortes e eu não consegui fazer frente.
— Mordred, o filho do rei Arthur? As virtudes chegaram a relatar a morte dele, mas não garantiram — conta Auriel — E Merlin, o mago mortal mais poderoso sucumbindo para um de seus alunos. Eu sinto muito por sua mãe, Leonardo. Me culpo por não estar lá.
— Você não tem culpa, Auriel. És muito especial na minha vida e me ensinou muito! — disse Leonardo.
— Você me disse que eles roubaram objetos místicos, o que eles pegaram? — pergunta Auriel — Nos dê todos os detalhes.
— Na verdade, apenas um objeto místico foi furtado: A Rocha do Caos que estava em posse dos magos — respondeu Leonardo.
Assim que ele diz isso, Miguel vira-se para eles e vai até Leonardo perplexo.
— Não pode ser! — disse Miguel — Eu lhe dou meus sentimentos por suas perdas, filho, mas por que eles pegaram a rocha do caos de Avalon? É um objeto muito poderoso, e se eles pegaram uma, podem ir atrás das outras.
— O que Mordred quer com a rocha? — perguntou Auriel para Leonardo — Por que ele fez essa chacina para conseguir ela?
— Eu não sei o motivo de ele querer a rocha, mas ele matou Merlin e os outros por vingança, disso tenho certeza — respondeu Leonardo — Antes de ir embora, ele ainda destruiu a Dimensão das Brumas e consegui sentir o criando pelo menos vinte Universos de bolso.
— Universos de bolso? — pergunta Auriel — Bom, fadas fazem isso a todo momento quando elevam seus poderes. Anjos conseguem criar vários com extrema facilidade. Um Universo de bolso é massivamente menor que um normal, não é um feito impressionante.
— Entendo — disse Leonardo —, mas nunca vi um usuário mágico criar tantos.
— Se ele fez isso com a rocha de Avalon, ele pode fazer com as outras! — fala Miguel — As Rochas do Caos são quatro poderosos artefatos místicos que, se unidas, podem fazer um estrago terrível, incluindo conceder poder imenso ao usuário, libertar, doutrinar ou prender qualquer criatura mística. Há 16 mil anos, eu prendi Shemihazah e os vigilantes, um grupo de alados que dominaram a Terra. Usei as rochas temendo que Lúcifer desfizesse meu selo; e após a Grande Inundação, Yahweh as espalhou pelo mundo e nomeou guardiões da Terra. Durante gerações ninguém sabia onde elas estavam, até hoje.
— Merlin me disse uma vez que o próprio Mordred desconhecia a localização das rochas enquanto ficou na ilha — disse Leonardo — Ele não sabia da existência delas, era segredo. Merlin revelou apenas para mim e liberou seu encanto para contemplar a sala.
— Isso significa que...— dizia Auriel, antes de Miguel a interromper.
— Que alguém falou para ele! — afirma Miguel — Possivelmente Morgana antes de morrer, que era próxima de Merlin, e o preparou todos esses anos para atacar Avalon e vingar sua derrota em Camelot. De qualquer forma, foi premeditado.
— Suponho que ele deve estar querendo poder absoluto — disse Auriel, se levantando da cama — Ele matou Merlin e os magos para ser soberano em Avalon, isso é um simbolismo, e agora quer as rochas para ser soberano no mundo mágico; possivelmente também no mundo humano. Precisamos impedir que ele toque nas outras rochas.
— Avalon, Arcádia, Sauvanan, Árvore da Vida, a sequência para se ter sucesso com as rochas. Por gerações, estiveram seguras nesses lugares, até agora — contou Miguel, caminhando de um lado para outro — Periel e Zaniel estão na Arcádia e Ziz pode pará-los na Árvore da vida. Sauvanan será o próximo alvo depois da Arcádia. As rochas são chefiadas pelos Sau'mer, que também guardam os portões do Caminho dos Deuses. Tenho minhas dúvidas se se o mortal será capaz de entrar em um local assim, nem mesmo nós somos bem-vindos por lá.
— Mesmo assim, o que estamos esperando? Vamos para a Sauvanan! — disse Auriel, dando um soco em sua mão — Poderemos proteger a rocha e ajudar os seres de lá.
— Os sau'mer não gostam muito de visitantes, eu imagino que talvez tenha problemas — supõe Leonardo.
— Não são nossos inimigos, os sau'mer devem nos escutar e repelir a ameaça — disse Auriel, colocando a mão no ombro de Leonardo.
— Anos de inimizade não se resolvam assim tão facilmente, amor — discorda Miguel — Podemos tentar, mas não sei se ouvirão. E eles tem razão em não ouvir primevos.
Auriel e Miguel caminham em direção à saída do quarto.
— Esperem — diz Leonardo —, eu vou com vocês!
Auriel e Miguel ficam sem reação diante da fala dele.
— Ficou louco? Acabou de tomar uma surra daquelas! Você não tem condições física e emocionais, filho. Fique aqui e nós resolveremos isso por você, mesmo eu não simpatizando com mágicos — impediu Miguel.
— Eu estou bem, Príncipe dos Anjos! — responde Leonardo, se levantando da cama — Meus ferimentos estão cicatrizando, meus poderes de cura sendo restaurados. Estou com fome, mas vou comendo alguma coisa no caminho. Por favor, me deixem ajudar! É minha forma de vingar Roberta.
Na mente do jovem, a tristeza por perder sua mãe e seu mestre foi consumida pela raiva de Mordred.
— Miguel, ele vai com a gente! — disse Auriel, ficando entre Leonardo e Miguel — Leonardo pode ser útil em negociar. Ele veio de Avalon, e os sau'mer apreciam Avalon.
— Pra quê? Isso é inútil. Acabamos com isso facilmente, você é teimosa! — disse o Príncipe Alado — Auriel, ele vai morrer se for, está com muita pouca mana. Não basta ser um mago, ele também tem que ser ga..
— Ele é meu amigo e eu não vou abandoná-lo, queira você ou não! — disse Auriel, interrompendo Miguel - E se ele for um mago? E daí? Vai deixar um passado te atormentar? E se ele gostar de homens? E daí? Eu gosto dele como ele é, e Leonardo é o garoto com o melhor coração que já conheci!
— Então vamos, bruxinhos! — respondeu Miguel, contrariado e saindo do quarto.
Auriel vira de frente a Leonardo.
— Por que fez tudo isso por mim? — perguntou Leonardo — Auriel, eu não quero ser um fardo e motivo de briga entre você e o Miguel.
— Você nunca será um fardo, Leonardo — respondeu ela, colocando suas mãos no ombro dele — Quando você conheceu seus poderes, salvou minha vida e ajudou eu e os meninos; sempre serei grata.
Leonardo sorri para ela e fica muito feliz com as palavras. Eles ainda se olhavam quando Miguel voltou.
— Vocês ainda querem fazer isso hoje? Presumo que esteja tarde e ele precisa descansar — disse Miguel.
— Mas se não formos agora, Mordred pode chegar primeiro no Caminho! — responde Leonardo, se aproximando de Miguel e ficando entre ele e Auriel.
Leonardo chega diante de Miguel e o encara nos olhos. O Príncipe Alado era bem mais alto e forte do que ele. Os dois se entreolham com um pouco de raiva até que Auriel toca o ombro direito do jovem mágico.
— Leonardo, ele está certo! — cedeu Auriel — Mordred causou muita destruição em pouco tempo, é improvável que ele ataque novamente em um intervalo tão curto. É chamar muita atenção, e você não tem mana para bater de frente. Você precisa dormir, suas feridas ainda não estão saradas.
— Descanse, rapaz, amanhã bem cedo nós iremos até os sau'mer para proteger a rocha do caos — garantiu Miguel.
— E se for tarde demais? — perguntou Leonardo.
— Não será, eu prometo! — responde Auriel, pegando na mão dele — Confie em nós!
Leonardo se vira de frente para Auriel enquanto ela o acaricia no rosto.
— Está bem, vocês estão certos. Não podemos agir no calor do momento — disse o jovem.
Miguel fica com um semblante de satisfeito e em seguida caminha para sair do quarto.
— Amanhã nós protegemos a Rocha; Periel e Zaniel devem nos dar tempo! — falou Miguel, sem imaginar que eles já haviam caído — Pelo menos, espero que o outro impacto não tenha sido em Arcádia.
Auriel e Leonardo ficam mais um pouco.
— Tome um banho e descanse, amanhã será um dia longo! — disse a ophanim — Tem um lençol limpo no guarda-roupa e uma coberta, você pode usá-lo quando se deitar.
Quando ela cruza a porta, Leonardo a chama novamente.
— Auriel, muito obrigado por tudo! — disse ele — Eu perdi tudo, mas sinto que posso encontrar uma nova família aqui.
Auriel para de andar e ouve as palavras dele. A celeste ajeita seu cabelo rubro e segue o caminho, porém com os olhos em lágrimas de emoção.
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