Tempestade e Vento
O convés balançava sob os pés. Vozes gritavam sobre cordas, velas e remos. Botas soavam pífias abaixo do som da chuva, fria, deslizando e acumulando em tecido, tornando borrões a madeira, o horizonte e os sujeitos escorregando e praguejando.
O vento era gelo e levantava-a os trajes e cabelos molhados em uma algazarra.
Andou. O capitão gritou enquanto segurava uma corda. Um marujo a xingou e outro esticou-se na direção dela e caiu, queixo contra assoalho.
''A tempestade vem e o demônio ri''.
As ondas erguiam-se em um escarcéu azul escuro, os céus fechados em um cinza quase breu. Pisou com ambos os pés na borda da proa, descalça, e as íris observaram um trovão rasgar céus e beijar o mar.
''São seus trompetes e tambores, arautos da guerra''
Água subiu a altura dela e a frente. Rugindo, se aproximando, fazendo berros para que saísse dali de homens lutarem contra o abafamento da chuva. Proa e demônio foram atingidas, o piso superior da embarcação submergido por um par de segundos.
'' É seu reflexo, vivendo e movendo ruidosamente o mundo ao redor''.
Ainda ali, imóvel, ela encarava um pedaço de mar além dos pedaços de mar.
''É seu aviso, irá passar e irá findar e o quer que tenha feito sumirá com o tempo''.
Olhou para trás. Três haviam caído barco a fora, não eram demônios como eu. A vida deles é mais como grama, vão surgir do meio da terra, se esticar, multiplicar e ser comidos. Apenas um meio para que a estrutura atual continue. Trabalhadores, grama, engrenagens substituíveis... parte de algo que talvez nem entendam. Silenciosos demais, quietos demais.
— Isso não os incomoda? - baixou as pálpebras, água salgada e doce pingando em si. Abriu os braços e mãos. - Que gente perturbadora.
— Uou, jurava que ia ver seu cadáver boiando na água hoje.
— Um demônio não morre por olhar a si mesmo - falou, e começou a se despir.
A elfa pôs-se de pé e correu para apanhar as peças tiradas. Pesadas de água.
— O que quer dizer com isso?
— Demônios e heróis são tempestades, pessoas são grama e governantes são aranhas. - mão afastando os fios negros grudados a face. - Nunca leu os ''Pequenos Poemas'' de Mimir?
A mulher balançou a cabeça e estendeu camisa, calça, quimono e trajes íntimos no varal próximo a entrada e amarrado em ganchos na parede da esquerda e direita.
— Não, não li - pegou uma toalha da mesa a frente da cama de casal e começou a enxugar ela, a oni, o demônio. - Então eu sou grama?
— Artistas são vento.
— Não sou uma artista muito boa. Fui expulsa de duas trupes de patomimeiros e dificilmente alguém me paga por música.
Sorriu para a elfa, as mãos a agarraram as bochechas.
— ''Soprar o que se pensa pode fazer a grama mudar de direção e a teia se partir, soprar uma ideia pode começar tempestades ''.
As pálpebras dela semicerraram.
— Humm... não acho que eu seja o tipo forte de vento.
— Então sopre com mais força - beijou a elfa. - Diga a essa grama e essas aranhas o que tem em mente. Faça nascer algumas tempestades.
Os lábios encontraram-se de novo.
— Não acho que tenho nada de muito especial a dizer.
Os dedos do demônio começaram a tirar a camisa da elfa.
— Conte-os o que vê, é o que artistas fazem. - a oni lambeu a pele abaixo da garganta dela.
''Uma vez que a grama se move, o mundo muda.''
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