...Ok
Rabiscou o papel uma e duas vezes. ''Era noite, os rastros sumiam para dentro da gruta e rugidos ecoavam à distância. Helena tremia enquanto sua bela mestra checava um amontoado de cogumelos na base do pinheiro quatro passos, e retaguarda, dali. Perseu tinha se embrenhado na mata meia hora atrás e a demoníaca mulher estava certa de que ele teria morrido dessa ve...'' Passos soaram na escadaria da biblioteca, as íris lilases do demônio foram acima e a ela, no canto esquerdo do cômodo. Uma garota chegou ao último lance e virou para dentro.
Os olhos azuis encontraram os do demônio, na mesa à direita da escadaria e frente de janela. A menina parou, um pé no chão, o outro tocando o solo com a ponta dos dedos, os braços dobrados, um adiante e um para trás. A garota tinha pele escura, tocada por rubor e longas orelhas. Gotas do seu suor caíram no assoalho.
Fugindo e tem quinze anos de idade... provavelmente. A elfa vestia uma camiseta marrom com manchas irregulares espalhadas próximas às bordas e três rasgos no centro.
— Me ajuda - a elfa, ofegante, desfazendo a postura de corrida. - Por favor.
No andar de baixo, pisadas pesadas soavam contra o assoalho de madeira. Quatro, cinco... não, são sete. O demônio sorriu. Sete para pegar uma coisinha magricela dessas. Riu curtamente, a bochecha era apoiada no punho.
No térreo, Lindomar, o bibliotecário, soltou um grito agudo e seguiu a parafrasear: ''não, não! Ela subiu as escadas! Não me machuque!''. Um belo tom, eu mesma devia fazê-lo gritar mais tarde.
A elfa deu dois passos hesitantes, o baque de pés contra degraus à direita soou e a menina deu um terceiro e quarto velozes.
— Por favor! Por favor! Me ajuda!
— A janela não é tão alta - a mulher com longos chifres marcados de rubro nas pontas, e teve o canto esquerdo da boca a subir mais um tanto. - Pula.
A garota abriu a boca, o topo da nuca de um sujeito surgia na abertura da escadaria, fechou, os olhos deslizaram acima e abaixo no demônio. Uma mulher, cabelos negros com comprimento que ia a metade do pescoço, trajando uma camisa preta de tecido fino que deixa os ombros desnudos e shorts curtos. Na mesa tinha um caderno aberto, com uma página preenchida e outra somente no topo, um pincel, tinta, um dicionário desgastado e um livro sobre biomas do norte.
O nariz e os olhos do homem, a lateral deles, ficaram visíveis adentrando o andar.
— E-eu... leio sua história ou até escrevo enquanto dita, se me ajudar.
Oh. O demônio piscou duas vezes. Ok.
Abriu a janela e atirou a menina por ela. A elfa negra soltou um grito breve e as mãos agarraram a borda. A mulher demoníaca esticou tenuamente o tronco através da abertura de ventilação.
— Te busco em um minuto, sim? - o demônio, sorrindo. - Oh, e seria pouco saudável cair dessa altura.
A garota soltou um ''haaann?!'' e ela decidiu que aquilo era um ''sim, bela senhorita, por favor tome o tempo que achar devido''. Então virou para o cômodo, dois homens passaram correndo até as últimas fileiras de estantes e voltaram para checar as anteriores.
Outros quatros chegaram ao andar, duas se aproximaram do demônio e os restantes fincaram-se na entrada aos degraus que levam ao térreo.
— Onde está a caloteira?! - a mulher recém chegada, tinha um moicano amarelado e as laterais da nuca raspadas, vestia camisa branca sob uma jaqueta cinzenta de mangas rasgadas. Assim como os demais, apesar da palete de cores do cabelo diferir.
O demônio deu um passo adiante.
— Quanto? - perguntou, a jovem da direita da recém chegada estava pálida e fitava a criatura feminina com longos chifres, a da esquerda encarava os arredores com o canto da boca torcido em um esgar para baixo.
— Hum?! - a da esquerda, e encarou o púrpura do demônio.
— O valor da dívida.
A da direita, com olhos rubros e nariz enrugado por tensão, tocou no ombro da outra que ignorou. Uma vampira.
— Vai pagar por ela, nanica?! - e se aproximou, barriga a três centímetros do queixo dela.
— Prefiro o termo ''maravilha em pequeno pacote'' e sim... - talvez, um dia, quem sabe, fica marcado, com certeza esse ano, década, século. Um riso breve a escapou.
— Tô com cara de Batati Batata, porra?! - o braço começou a subir e a mão da vampira a segurou. A mulher alta olhou a outra de soslaio.
— Essa é problema - a da direita disse em tom tenso. Vampiros e seu ofalto para energia mágica os fazendo evitar a morte certa... não que eu esteja com muita vontade de matar esse grupo agora.
Então se afastaram dois passos. O demônio emulou a expressão mais angelical que pôde.
— Eu sou uma boa oni - disse e os indicadores ergueram mais alto as extremidades da boca.
— ... cê vai pagar mesmo?
— Acha que eu mentiria para uma moça tão bonita? - o demônio, com pálpebras subindo um tanto mais e sobrancelhas erguidas, a boca uma linha curta.
Os olhos da cobradora desviaram e o dedo coçou a bochecha.
— Duzentos dracmas de ouro. - avisou e apontou para a oni. - No bar da família dela ou iremos atrás da caloteira e não será só um aviso firme. A noite.
— Em três dias - o demônio.
— Hã? Para vocês sumirem? Tá achando que nasci ontem, caralho?
A mulher demoníaca se pôs com tronco a meio punho do da cobradora. O cheiro da carne e sangue, o calor da respiração tocando-a o topo dos chifres... ah, acho que vou começar a babar.
— E nunca mais ver seu lindo rosto? - tocou os ombros da mulher e deslizou as mãos lentamente até os bíceps protuberantes e suados. - Acertaremos esse assunto e depois... algo mais divertido?
— V-vamos! - a cobradora, dando meia volta seguida dos demais membros da gangue.
Que fácil... droga, estou com uma vontade incontrolável de nunca os deixar ver um cobre que seja. A oni voltou para a mesa, sentou na cadeira e fitou o texto. Os dedos envolveram o pincel, o ergueram ao ar e o desceram. ''...z. Helena se aproxi...''
— S-socorro...! - a menina na janela.
Agora não... baixou e subiu as pálpebras, expeliu ar audivelmente pelo nariz.
— Pode esperar um tanto mais? Só vou terminar aqui rapidinho, ok?
— Aaaahhhh! - a garota, logo após o som do deslizar de dedos em superfície de madeira.
— ⟳ —
— Hummm... pode me chamar de... Alice - a oni, um dedo erguido.
As sobrancelhas da elfa, Hersa, a criança havia se apresentado, subiram.
— ... qual o seu nome de verdade?
O demônio virou o rosto para o outro lado e assobiou por três segundos. Era manhã, crianças corriam do outro lado da via e um trio de adultos seguia na calçada à frente delas com bacias cheias de roupa.
— Pode me chamar de ''a coisa mais linda a pisar nessa terra''.
— Muito longo - a elfa, andava a esquerda do demônio.
— ''Demônio''? - um termo usado para se referir aos vampiros e onis e era o mesmo que defini-los como monstruosos, malignos, vis, cruéis e imundos.
— Racista - a garota, olhos fixos no grupo à frente.
Os dois homens e a mulher viraram à direita no cruzamento. Pelo odor azedo... vão lavar aquilo no lago na frente da igreja. O pastor Adamastor vende sabões florais por três cobres... ou favores sexuais para os menos afortunados que parecessem pouco prováveis de uma resposta violenta.
A elfa apontou com o queixo para a direção oposta. Andaram para lá.
— Então... - ''não tenho um nome, mamãe não se deu ao trabalho de me dar um'', não tô com saco pra essa história agora. Suspirou e deu de ombros. - Tenho essa questão em baixa conta. Sugestões?
— Chifruda? Baixinha? Toco de a...
A mão da oni encontrou a boca da elfa. A carne das bochechas quentes se acumulando acima e abaixo do agarro, o osso rígido e os lábios moles. A menina se erguia cinco centímetros mais alta que si. Contando os chifres sou maior.
A elfa piscou.
— Esquece... - o demônio, olhos púrpuras fixos nos azuis da garota. - ''Jô'' é como irá se refirir a mim - e a soltou.
Seguiram por mais duas ruas, viraram para dentro de um beco estreito e de solo inclinado entre casas com entradas viradas umas às outras. Percorreram-na em fila indiana, o sol do vespertino tomava uma coloração alaranjada e uma porta acertou Hersa ruidosamente na cara. O demônio riu e perguntou se ela estava bem e se não gostaria de defender sua honra lutando contra Zé Valdoberto que saia para o serviço nas docas.
— Ocê não venha não minina, que aqui é matador de onça, raaawww - o velho, e riu e pediu desculpas.
Uma curva para direita e estavam em uma rua oval.
— Ali - para o edifício com janelas quebradas, uma porta caída na varanda ao lado de pedaços de madeira, uma coluna de sustentação partida ao meio cujo pedaço de cima desceu para encontrar o de baixo e o telhado inclinara naquele ponto. Essa merda vai desabar.
— É isso, boa sorte juntando o dinheiro, He... Her... pirralha, tchau - a oni, e deu as costas, ergueu o pé esquerdo, a mão de Hersa encontrou o tecido da camisa do demônio, e ela parou.
— Por favor... é a coisa mais linda a pisar nessa terra, preciso da sua ajuda.
Uma veia pulsou na têmpora da oni. Acha que sou uma simplória narcisista?
— E se me matarem não vou poder ler sua história - a menina.
Começo a me perguntar se não devo a dar um fim eu mesma. Virou o rosto para o lado e fitou a elfa negra de soslaio.
— Seus olhos são tão bonitos - Hersa, o lábio subindo em um sorriso largo. Essa arrombadinha.
— E pelo visto os seus funcionam - respondeu, o canto direito dos lábios pendeu acima. - Parabéns.
O centro da rua era de terra batida, uma caixa redonda de tijolos com dois metros de altura e sete de raio, no meio, e cinco fileiras de mudas de tomate à esquerda dela. As residências eram baixas, com uma porta, três delas dotadas de janela e uma quarta com duas, e rachaduras tênues. Fedia a mijo de cachorro e as pequenas bolotas pretas pontilhando a área no entorno da mini plantação.
Foram ao estabelecimento depredado.
As casas ficavam de sete a treze paços do reservatório de água. Duas senhoras sentadas em cadeiras conversavam a frente das casas à direita do estabelecimento e um cachorro com a pelagem marcada por manchas róseas de pele latiu duas vezes e rodeou a oni e cheirou-lhe mãos e pernas. Depois foi sentar entre as velhas.
— Tem duzentos dracmas de ouro? - a elfa, ao lado da oni e de frente a varanda do edifício danificado.
— Sou um rostinho bonito e uma perfeitamente invencível força da natureza, ''que esbanja dinheiro'' está fora da minha lista de encantos.
— Entendo - a garota com os punhos sobre os quadris. - Preciso tomar um banho.
A pintura verde, com borda inferior preta da parede, tinha dez arranhões curtos distribuidos por si e um inicio de descascar nas extremidades. As placas de madeira que compunham a varanda estavam rachadas nos degraus de entrada e o fedor de mofo era tênue em meio ao frescor do vento e os dejetos na rua.
— Isso era para ser uma casa de viciados? - o demônio, e seguiu a elfa degraus acima. Os olhos passearam sobre o ponto onde o teto pendia para baixo sobre a viga com um pedaço central perdido. Essa merda vai desabar com certeza.
Pisaram sobre a porta caída para dentro do edifício. No interior tábuas redondas pendiam no chão, duas inteiras, duas partidas ao meio e uma em três partes. Líquido manchava o piso de pedra próximo ao balcão ao fundo e também na região central do assoalho e nas laterais da passagem despida de porta. Fedia a álcool.
Um gato negro miou de cima da única cadeira inteira no recinto.
— ''Ele não é seu amigo, age apenas a favor dos próprios desejos. Irá te fazer sangrar ou lamber-lhe a mão a depender do estado de espírito do momento'', é o que meu pai dizia do Silas - apontando o gato. - Já volto, fica a vontade, Jô.
A oni se aproximou do felino e agachou. Os olhos azuis do animal encontram os dela. Eu também fui definida assim algumas vezes, somos farinha do mesmo saco. O queixo do gato subiu dois centímetros, um expirar o escapou audível e a cabeça virou para o outro lado. Mas ainda prefiro cães. Levantou a mão rumo à cabeça do gato e um tênue, uniforme e ameaçador miado o escapou. Aproximou mais e o bichano a fitou com as pálpebras semicerradas, nariz tensionado e a cauda balançando.
— Eu poderia te forçar, sabia? Te quebrar, remontar e assistir enquanto se contorce em uma poça das próprias vísceras, sangue e carne.
O gato arranhou a palma da oni e correu para fora da residência. O demônio suspirou e pôs-se de pé e virou para o recinto. Paredes com mais da metade superior em amarelo, e inferior verde, tocadas por poucas marcas de descasque, um balcão longo separava um terço da propriedade interior e dividia um quarto de si com um pequeno quarto. Banheiro, provavelmente, foi lá que a pirralha entrou.
Andou pelo perímetro, cheirou as prateleiras vazias e as ocupadas por garrafas despedaçadas e manchas de bebidas, vasculhou gavetas debaixo do balcão, passou um pano em uma pintura que mostrava uma versão menor da elfa negra e dois adultos, um homem com pequenos chifres e íris negras e uma elfa, e checou o livro de finanças.
Última anotação fora quatorze dias atrás. ''Setenta ex de prata em um caixote da cachaça dos Mendocas, cinco garrafas vendidas, duas fiado para a filha do Jacinto da entrega de leite, dez ex de prata arrecadados''. Uma curta risada escapou a boca do demônio. Nunca venda fiado, há pessoas e demônios não muito preocupados em pagar dívidas. Folheou as páginas anteriores, bocejou e atirou o caderno na gaveta.
A pirralha morreu nesse banheiro?
Abriu a porta do cômodo. Ela estava sentada no chão, braços apertando coxas contra o tronco e olhos fixos no balde meia mão a frente. A oni deu um passo batente adiante, parou.
Foram atrás da pirralha, o lugar aos pedaços, a pintura, ninguém além da garota estar aqui e isso. Não precisa ser um Xerloque para ver que outro fato as evidências apontam.
— Quer conversar? - o demônio. - Drama está baixo no meu ranking de histórias favoritas, mas prometo ouvir alegremente.
— Não.
Sentou no piso de terra, a meio braço da elfa, costas contra parede e íris pendendo na direção do balde. Fedia a mijo.
Silêncio. Três e seis e sete minutos.
— Quando meu pai morreu eu fiquei feliz - a oni. As pálpebras da garota ergueram-se ao limite, os punhos fecharam e os olhos fitaram-na. O demônio sorriu, encontrou a bochecha da menina com o indicador e deslizou sobre o caminho quente que uma lágrima fizera. - Não exatamente pela morte dele, o fato foi indiferente. Por isso.
Tocou a mancha vermelha na ponta dos chifres.
— Ele era o chefe e quando foi dessa para a pior esse rubro apareceu, o que na minha família significa que eu seria a próxima no comando. Infelizmente a definição mais adequada para o posto é ''enfeite'' e ''siga esse tedioso passo a passo de quais ordens dar''.
Hersa piscou, íris derrapando para baixo e direita.
— Ele era seu pai...
A oni deu de ombros.
— Nunca conversamos e ele estava quase sempre fora do meu campo de visão. Depois que fugi de casa o odiei, o desprezei, tive pena e fantasiei como teria sido se eu soubesse metade do que sei hoje.
A garota mordeu o lábio inferior.
O demônio riu.
— Acha que fui insensível? Que deveria ter chorado um tanto? Amaldiçoado os deuses e os homens e cravado a adaga mais próxima no coração de um virgem?
A elfa deu um impulso para frente e fincou-se de pé.
— Acho que você foi triste, Jô - a menina. - Meu pai era incrível, pescavamos sempre que ele tinha folga de seu trabalho pra guilda de aventureiros e a gente jogava todo tipo de jogos quando ele voltava do serviço.
Um sorriso subiu a boca da elfa.
— Inveja? - Hersa.
Essa arrombadinha. O canto da boca da oni pendeu acima e as pernas a puseram de pé.
— Por que teria? Tive homens o bastante na minha cama para um a mais ou a menos ser irrelevante.
Seguiram para fora do banheiro.
— E sua mãe?
— Sem ânimo para essa história - a oni.
— A minha era maravilhosa.
— ... Estou considerando seriamente deixar você para os agiotas.
— Já sabe como vamos resolver minha dívida? - Hersa.
— Claro, ''diabolicamente esperta'' está na minha lista de atrativos - e pressionou o nariz da elfa.
— ⟳ —
— E é só, quanto tempo vai levar?
O sujeito coçou a barba, olhou para o casebre, olhou para a oni com braços dobrados sobre seu ombro e fedendo a violetas, olhou para os cinco sujeitos com macacão de alças finas sobre camisa marrom atrás de si, então para a menina sentada na varanda e a esquerda da viga partida onde o teto se inclinava para baixo.
— A pobre menina ficou órfã há duas semanas. Eu também adoraria te dar mais que umas moedas - o demônio, esticando o tronco, pondo a boca a cinco milímetros do ouvido do anão, os peitos pressionados contra o braço direito e robusto e peludo. Droga, eu adoraria mesmo que diga ''não'', estou tão faminta agora, não fodo nada há dias.
O anão fechou os olhos, uma das senhoras conversando na porta da residencia vizinha comentara algo ''a puta que a filha dos Borias trouxe tá querendo pagar com chá de buceta...'' e ''o tabaco de hoje em dia é uma porra, Zuleide''. Cada frase que as ouço dizer parece terminar em uma crítica ao fumo contemporâneo.
— Tá bom. Vamos reformar o lugar.
Os braços da oni envolveram o pescoço do homem e a bochecha encontrou a dele. A barba era fofa, fede a babosa. O calor na pele anã aumentou e a respiração fez-se lenta.
— Obrigada! - ela, lábios tocaram-no lateral da face e a mão o virou o rosto oval para si. Ele tinha um nariz largo e baixo com sardas nas laterais, as íris da cor da terra. - Quer ir comemorar em um quarto privado?
Ele engoliu em seco.
— Rapazes comecem sem mim - o homem diminuto.
Reclamações caricatas soaram e então risadas.
A oni beijou a boca do anão, línguas encontraram-se por dois e três segundos e o demônio se afastou um passo. O grupo de operários assobiou, gargalhou e bateu palmas. A elfa soltou um ''ughhh'' e uma das velhas ''olha, Cleide, não falei? É puta, ó, ó''.
— Algum dos rapazes quer vir conosco? Tenho um apetite prodigioso - a mulher com chifres marcados de carmim, mãos sobre os ombros do homem. Hersa soltou um ''eca'', a velha Zuleide um ''misericordia''.
— Eu! - o licantropo no meio, erguendo uma mão coberta por curta pelagem branca.
— Não! Vocês vão trabalhar! - o anão, o indicador apontando-os em um movimento horizontal.
Um ''aaaahhh'' de desapontamento teatral os escapou.
— ⟳ —
— Que demora! Pensei... pensei... que não fosse voltar... - Hersa, descendo os degraus negros do estabelecimento.
A lua tocava o horizonte, lágrimas marcavam o rosto da garota e o bar se erguia em pedra escura, madeira, janelas e um inédito segundo andar. O gato, Silas, seguia atrás dos calcanhares de Hersa. Sob a luz da rocha amarela brilhante, atada nas colunas da entrada e nas extremidades da varanda, o nariz da elfa era tocado por ranho e rubor.
— O homenzinho foi um bom aperitivo, mas precisei ir atrás de um prato principal e sobremesa, perdi a noção do tempo - a oni. A menina parou a dois pés dela, as íris azuis penderam a terra batida entre ambas. - Sentiu saudades?
A garota avançou e a cabeça encontrou o peitoral do demônio. Soluço e de novo. Ughhh, ranho. A oni ergueu os antebraços devagar, o rosto e fitar voltados para a esquerda, e pressionou tenuamente as costas da menina. A face de Hersa estava quente. Uma brisa fria fez alguns fios de cabelo rumarem em direções opostas. Perdeu os pais recentemente, ninguém parece ter vindo acolhê-la e, então, a única adulta, uma incrível que a salvou de criminosos, saí e não volta até poucas horas do amanhecer do dia seguinte. A afastou pelos ombros, sorriu. Deve ter pensado que estava sozinha de novo, que horrível ser uma criatura tão frágil. Se eu fechar um pouco mais o abraço romperei sua carne, quebrarei seus ossos e farei com que grite vividamente enquanto o vermelho de sua vida escorre por cima da minha pele. E que bela imagem essa seria, quase tentadora demais, posso sentir a saliva subindo a boca, calor ir estômago à genitália e de novo.
— Vá dormir, amanhã abriremos o seu novíssimo, reformado, bar... taberna... hospedaria, sim?
A menina fungou e acenou positivamente.
— ⟳ — Acompanhemos por um momento Hersa Borias — ⟳ —
— Bom dia - a garota, deixando a escadaria que levava ao segundo andar. Carregava tênues olheiras. Chegara ao térreo, girou rumo ao som de líquido e parou, piscou, fitou as garrafas sobre a mesa do balcão. Olhou a mulher com um metro e cinquenta e sete de altura sob uma camisa longa com estampa de cobra lilás.
— Tarde. Deixou a pobre eu ajeitando o lugar, fazendo dívidas, propaganda, enchendo adega e recrutando mão de obra - a oni, do outro lado do balcão, colocando uma garrafa na estante feita através de uma depressão na parede e voltando para pegar outra. - Temos duas pessoas na cozinha agora, Yuikihira e Calipso, e Cleiton aqui. Mostre a eles quem manda, mas primeiro: deixei roupas numa caixa de pedra, que se passa por armário na cabeça da equipe de construção de ontem, no seu quarto. Seria incômodo se recebesse clientes ou tentasse impor respeito vestindo isso aí.
O demônio apontou a roupa manchada, com rasgos e fedendo no corpo da elfa. Hersa balançou a cabeça positivamente, Jô parece estar se divertindo.
— Banho primeiro obviamente.
Cleiton, um licantropo com orelhas lupinas acenou. Pelagem escura e curta o cobria. Estava passando pano úmido em garrafas e pondo sobre o balcão. Vestia apenas um avental, a bunda peluda pairava exposta e a cauda de pé na base da coluna.
— ... obrigada, Jô - a menina, e se aproximou. O ar fedia a flores, álcool e a carne e temperos vindo da cozinha. O balcão ganhara o pedaço do banheiro, meio terço a mais da dianteira e então fora dividido em dois para formar a cozinha. O ambiente interior era agora de paredes, teto e piso, escuros com linhas brancas marcando a metade superior das paredes em um ''cor sim cor não'', com o preto mais amplo, e demarcando-lhes com a grossura de um punho o meio, o chão tinha sido subdividido em quadrados por leves depressões no relevo pintadas de alvo. - Quer que eu faça alguma coisa?
O demônio guardou mais duas garrafas nas estantes feitas cavando retangularmente na parede. Virou para a menina.
— Consegui aqueles quadros - apontou para uma mesa com uma pilha de telas. - escolha onde vai pô-los depois que se arrumar.
— ⟳ — Voltemos a programação normal — ⟳ —
Ele era alto, vestia uma placa de peito prateada com o brasão de cabeça de lobo sobre correntes partidas, o símbolo daquela cidade, Semiramis. No continente, entre as seis metrópoles, era conhecida pela maior taxa de mestiços, sete vezes superior, comparada a de sangues puros, por ter o território mais extenso e por ter sido fundada por ex-escravos e uma leva dos não adaptados dos outros povos.
O que significa que pessoas como esse guardinha tem, três séculos após o nascer de Semiramis, a mistura perfeita para o caos, com os indivíduos ainda separados em bolhas sócio culturais, para policiar. Nos primeiros cinquenta anos os registros comentam sobre união e trabalho em grupo, dez após isso e vemos uma obra interessante acerca de pequenas guerras civis, brigas de gangues, casos de corrupção do governo, aumento e descida na criminalidade e problemas com subdivisão de terras. Mas o que me mantém aqui mais corriqueiramente é: uma oni com traços humanos, a cor branca e baixa estatura, e com os incomuns em qualquer raça, olhos púrpuras e chifres com mais de cinco centímetros de extensão, não chama muita atenção em meio à cacofonia de diferentes características físicas.
— Você é... - o sujeito, os olhos esbugalhados voltados ao demônio e a boca formatando um ''o''. A oni acabara de cruzar a porta da residência e pisar na varanda, Hersa virou o rosto de lado e a íris azul encontrou a púrpura. - o demônio com chifres marcados de rubro que venceu a disputa anual de quem bebe mais três vezes seguidas? Que sozinha fez uma legião de cem monstros aos pedaços, que tem uma dívida de mais de quatro dígitos, que tem mais de cinquenta denúncias arquivadas e da qual todo mundo reclama no serviço policial?!
Uou, algum reconhecimento. Pôs a mão no peito e curvou o tronco curta e brevemente. Embora seja triste que não os mais legais. Fui ao paraíso gelado, matei um verme de areia com vinte metros que cuspia ácido capaz de derreter metal, encontrei um atlanti, dei fim a duas máfias seculares, participei e fiz parte da equipe que organizou a orgia nas planícies vermelhas, criei uma seita para me cultuar, devorei os membros dessa mesma seita e a lista segue.
— Caralho! Os meus veteranos realmente te odeiam! - o sujeito, fedendo a tênue suor, subiu os degraus. A fitou de cima a baixo. Ela estava sob um quimono negro chapiscado com o desenho de folhas brancas, um curto sorriso na boca e mãos sobre os quadris. - Cê é bem baixa.
Talvez deva acrescentar sua morte a minha lista de feitos. E sorriu mais largamente.
— A que devo a honra da visita de um guarda? - além dos meus crimes encobertos, dos que ainda não fui acusada e daqueles dois que devorei depois de foder um anão. Os dedos dela encontraram os antebraços do licantropo, eram macios e quentes. - Veio só para me ver? Se estiver disposto pode tocar também, temos quartos vazios lá em cima.
— Da onde sai tanto fogo no rabo...? - a elfa murmurou.
— Claro, claro - e agarrou a cintura do demônio. Firme, afundando na carne e apertando suavemente os ossos. Então o licantropo encarou Hersa de soslaio. - Já tem o certificado de autorização? Se não já sabe qual o preço do meu silêncio. Ou que vou ter que fechar esse lugar.
O semblante da garota tensionou e os olhos rumaram ao assoalho. E isso é toda resposta que preciso, vou adiar meu lanche, posso conseguir um mais nostálgico. As mãos puxaram os antebraços do licantropo para os lados, as pálpebras dele semicerraram. A oni pisou para a esquerda e então frente.
— O que f... - o sujeito, o indicador dela encontrou-lhe o maxilar. Por baixo, pressionando a pele sob a curta pelagem cinza, então subiu, afundando até a rigidez da mandíbula. O odor de transpiração azedo intensificou no guarda, a íris atrás de uma fina camada de umidade foi rumo ao demônio enquanto os punhos ficavam tensos e semiabertos.
— Outra hora, sim?
A respiração dele saia audível e lenta. O peitoral subia e descia, o resto do corpo mantinha-se imóvel. O dedo deixou-lhe, o tronco pendeu a frente enquanto a mão ia à garganta.
A oni parou diante de Hersa, a direita da saída da varanda, cujo restante do perímetro era delimitado por uma cerca baixa de tábuas de madeira.
— Vou resolver esse problema e volto logo, ok?
Pressionou o nariz da elfa. A garota virou o rosto para a esquerda e soltou uma reclamação.
— Posso ir junto? Cleiton e os outros tomam conta direitinho - a menina, então sorriu largamente. - Quero aprender com uma adulta linda e esperta como a Jô.
Vou acabar matando essa remelenta se continuar achando que pode me convencer com qualquer bajulação meia boca. Suspirou.
— Claro - e deu de ombros e foi seguida edifício a fora por Hersa.
— ⟳ —
— Quem deixou você entrar? - ''...era uma pergunta idiota. Como se impede a criatura mais poderosa no continente de ir a onde quer que seja? Há métodos, a grande maioria envolvendo magos habilidosos com grandes quantidades de mana e horas de trabalho em círculos mágicos. O restante requisitava astúcia, barganha ou sedução.''Escrevi no relato sobre os sete corpos da família Yamada na cidade humana, me pergunto se alguém notaria se escrevesse de novo na narrativa dos de agora. Uma careta a cruzou o rosto. Provavelmente não, tenho poucos leitores e menos ao contar apenas os fixos... minha próxima aventura será montar um clube do livro.
— Um cara alto, peludo e fedendo a ovos - o demônio, com o semblante mais inocente que pôde mimicar. Então os lábios formaram uma linha rígida. - E quem deixou você? Esperava uma pessoa mais alta, com menos peitos e a cara cansada de quem sabe que deveria ter continuado sendo meu carregador de mala e rameiro particular.
Ela, Camila, do outro lado do cômodo, sentada atrás de uma mesa larga que cobria a dianteira da parede do fundo, fitou a oni e então Hersa que virava rumo a estante repleta de livros e documentos a esquerda, então ao assoalho atapetado e logo ao armário com uma vintena de gavetas na parede direita.
— Tem um orfanato virando na curva da esquina e seguindo reto até...
— O assunto é outro - o demônio, cruzando o espaço até o móvel. Uma brisa fresca atravessou a janela alta e escancarada. A oni sorriu e a nádega e coxa esquerdas pousaram na mesa fria, sobre três folhas e a ponta de um caderno aberto. - Seja mais esperta, vamos. Posso até mostrar a esses seus lábios o que é um beijo... ou é uma recompensa pequena? Concordo, também a foderei diligentemente, embora tenha que despachar o assunto da pirralha primeiro, ok?
Silêncio, as orelhas felinas da licantropa eretas, as íris tom de mel encararam o demônio e então a criança e suas roupas, o nariz puxou o ar audivelmente uma e duas e três vezes, a testa franzida. O demônio a observava. Ela aparenta estar na casa dos vinte, mas aparenta isso há seis anos... embora eu mesma não seja alguém cuja aparência mudou muito desde os dezoito. É esguia, séria e nunca ouvi fofocas sobre sua vida íntima.
A língua da oni passeou entre os lábios, saliva subia a boca. Quero prová-la, quero ouví-la gemer, quero enxergar cada contração de seu rosto ao ter minha mão entre suas pernas e ao ter suas entranhas em minhas mãos. Os lábios da licantropa se separaram.
— Não tenho interesse e não vou permitir o tráfico de pesso...
— É um certificado, moça - Hersa, interrompendo Camila. - Para o bar... acho que agora é uma hospedaria, minha.
— Estragou o jogo - a oni, e suspirou e deitou o tronco sobre a mesa, a cabeça ficou a cinco centímetros do torso sob terno de Camila. Ela fede a rosas e café.
— Trabalho infantil em um local assim é... - inclinara-se para trás, fitando as íris purpuras do demônio.
— Está dizendo que vai pagar as contas da pirralha? - a mulher com chifres marcados de rubro. - Me entregue o certificado e prometo solenemente que a garota só terá bons feitos mencionados na lápide.
— Eu não vou te dar nada.
— E isso vale a sua vida? - a oni, tom gélido, a boca despida de sorrisos. - A essa distância poderia perdê-la antes que eu decida pedir novamente.
— Acha que me assusta?
— Acho que é esperta o bastante para saber que deveria.
Fios do cabelo da licantropa dançavam sob uma brisa, os punhos pairavam fechados sobre as coxas e a respiração saia lentamente. O demônio a encarava, deitada de lado sobre a mesa, calor dançando por estômago e genitália.
— E pra mim, moça? É que m-meus p... eles... se foram... e sem o bar, digo, agora é hospedagem, não tenho como ganhar dinheiro sem... sem o que vim fazendo desde... que ele se foram.
— Pode ser arranjado.
— Estragou o jogo - a oni, e soltou ar pela boca e girou pondo as costas a tocarem o móvel e amassarem folhas e livros. Íris rumaram a licantropa. - Quer foder?
— Saia da minha mesa.
O demônio sorriu.
— Me tire.
— ⟳ —
— É boa?
A elfa a encarou de canto. Estavam a dois passos da calçada do prédio governamental onde Camila os cedeu o documento de autorização. O vento pôs fios negros de demônio e menina a balançarem. Um sujeito atravessava a rua e três outros seguiam na direção contrária a delas, duas mulheres estavam encostadas em uma carruagem do outro lado da via.
— O quê?
— Ladra - o demônio. Não uma conclusão que exija muito, vários gatunos de rua foram motivados pela perda súbita de provedores.
A menina engoliu em seco e fitou a dianteira. Andaram, uma rua e outra. As casas eram majoritariamente de pedra e madeira e em formatos retangulares. Finas, grossas, altas, com uma janela, duas, dois andares. As cores mantinham-se entre rosa claro, amarelo, verde e o cinza da rocha pura. A sede administrativa da área 10 de Semiramis ficava em um setor residencial e na área 1, logo ao norte, ficava uma região de construções de cunho comercial para aventureiros, visitantes e moradores procurando novidades das outras cidades.
— Não muito boa, mas não fiz nada arriscado. Uma maçã na banca de um vendedor distraído, ou um pão, o saco de dinheiro de um bêbado apagado na rua e coisas assim - Hersa. - A senhora Zuleide me dava almoço nos primeiros dias, mas... o filho dela não gostou. Meu pai... as pessoas não gostavam dele, ele era grande e uma vez espancou um vizinho que tinha dado em cima da mamãe. O homem quase morreu. Todos evitaram meu pai na nossa rua, e nas próximas, depois disso. A mim e mamãe também... falavam mentiras sobre meu pai. Outras crianças. Coisas que ele não fez, coisas... que se ele tivesse feito... seria melhor. Se fosse um monstro teria matado todos eles.
As fofocas se espalharam e o movimento no bar diminuiu e um empréstimo foi feito com agiotas e então aqui estamos. O resultado de defender tão vigorosamente a honra de sua esposa foi pôr a filha sozinha na companhia de um demônio cruel. Pobre sujeito, se alguém houvesse avisado talvez até incentivasse a mulher a pular a cerca.
E, pela pintura que encontrara no bar, o pai da garota era um oni. O clássico, negro, enorme e com pequenos chifres, não como Jô que parecia mais uma humana com cornos. O tipo que traz olhares de desconfiança só por respirar em qualquer cidade que não seja a Bélica.
— Se quiser posso te levar a um orfanato. Conheço alguns que ao menos parecem bons, poucos deles têm diretores com coragem de negar um pedido meu e nenhum querendo o suficiente ser substituído por motivo de falência para ser indiferente a uma ameaça.
A garota a encarou por um instante.
— Aquele bar era o sonho da minha mãe - ergueu o certificado de permissão do governo, riu. - Tenho isso agora! Sem a taxa e a fila que fizeram mamãe desistir duas vezes! E tenho funcionários!
— E a dívida com agiotas.
A menina paralisou, o sorriso morreu e as sobrancelhas pressionaram as íris.
— Ah, que porcaria - a elfa. - Eles vem hoje, né, Jô?
— Sim.
— ⟳ —
— Chefinha, o lugar está lotado! - Cleiton, a cauda abanando e os olhos completamente abertos. Então o rabo parou. - Mas ninguém pediu nada desde que esse pessoal...
Sujeitos sob moicanos e jaquetas cinzentas pairavam na varanda do estabelecimento. Devia saber que aconteceria, a vampira que estava no grupo atrás da pirralha farejou nossa diferença em força. Subiram os degraus, o licantropo à frente, o fedor de tabaco, álcool e suor era forte. Os olhares seguiam-nos, murmúrios soavam, os ombros de demônio e garota raspavam em barrigas e braços dos homens e mulheres estreitando a passagem. A mão de Hersa apertava o punho da oni. A remelenta treme. Mesmo que eu esteja aqui e, até onde a criança sabe, do lado dela. É de uma falta de fé que chega a ser ofensiva.
Os agiotas com moicano também ocupavam os assentos dentro da hospedaria e se encostavam nas paredes. É uma resposta previsível. Vir aqui em peso para suprir o fato de que sou belicamente superior a qualquer indivíduo no grupo deles. Não ter visto que ocorreria poderia ser um desleixo relevável se eu houvesse pensado que minha fama alcançou alguém influente na gangue, portanto não tentariam me intimidar e talvez até desistissem da dívida da menina. Mas só não dei atenção ao assunto e aqui estamos.
— Pirralha, siga direto a cozinha e peça para os demais ficarem lá até eu dizer ''chega''. Cleiton, o mesmo - a oni. Uma das sobrancelhas do licantropo subiu, a boca abriu e o indicador do demônio a encontrou rígido contra a carne quente e mole, a respiração do sujeito deslizou da ponta da unha às costas da mão. - Sem perguntas, só obediência, sim?
Ele acenou positiva e lentamente, os olhos fixos no dedo. Então andou, Hersa logo atrás e a oni no fim da fila. Um homem se pôs entre a criança e o funcionário.
— E então? - o sujeito para a elfa negra. Cleiton seguiu, abriu a portinhola do balcão e girou para fitar a menina. A mão do demônio caiu sobre o ombro da garota, firme, e empurrou ela para direita. Hersa soltou um ''uoooh!'', balançou os braços, uma perna dobrou, o tronco pendeu para o lado e baixo, então de volta a cima, endireitou a postura, deu língua para a oni e correu para onde o licantropo esperava.
— Tempo - a mulher com chifres marcados de rubro, as íris fixas no olho negro vinte centimetros acima. O rosto do agiota era marcado por uma cicatriz que iniciava no queixo, passava sobre o lábio e terminava em um nariz cuja metade fora decepada. - Acabamos de abrir o lugar, levará alguns dias até reunir o dinheiro.
A elfa e o licantropo sumiram cozinha a dentro, o sujeito os encarara de soslaio até a porta fechar. Então olhou o púrpura do demônio longamente. Conversas subiam a decibéis maiores e menores, cigarros emitiam fumaça e morriam contra pedra ou madeira ou couro.
— O pagamento já está atrasado há muito - a língua do sujeito passeou entre os lábios e ele avançou um passo. A mão caiu sobre a cadeira a esquerda do demônio, antebraço encostou no cotovelo dela e o tronco inclinou adiante pondo rosto a cinco centímetros de rosto. O hálito era morno, fedia a pimenta e álcool. A barba rala era amarela e só pairava sob a mandíbula, tinha o rosto fino e os olhos redondos. - Mas se não tem, vamos ficar com esse lugar. Gostei do que fez aqui. Se me pagar um boquete até deixo que a caloteirazinha filha vá sem ser machucada.
Porra, eu adoraria. Sorriu e encontrou com os dedos a dianteira das calças dele. O membro do criminoso começou a inchar, devagar, um sorriso tomando-o a boca desfigurada pela cicatriz e as íris negras descendo pelo corpo esguio da oni. Mas detesto ameaças. Apertou o falo com força. O homem soltou um grunhido, os dentes da fila de cima chocaram com os da de baixo ruidosamente, um punho apertou a madeira da cadeira e outro cerrou.
— Oh, amei essa sua expressão - a oni, e fechou mais a mão. As pernas dele dobraram, rosto pendeu sobre o ombro da pequena criatura demoníaca e músculos tencionaram ao limite. - Duas semanas, ok? Terá seu pagamento e farei mais que lamber seu amiguinho aqui. Ou...
Ele gritou e o corpo caiu acima dela, a mão intensificara a firmeza em sua genitália e a pele rompeu sob a passagem de um jato do sangue preso. Os homens e mulheres de moicano se levantaram.
— Anuncie nosso acordado, vamos, alto e claro - ela, no ouvido do criminoso com rosto avermelhado e arfando alto.
O sujeito o fez em meio ao sufocar de gemidos.
Ele a olhou com uma expressão fechada antes de sair, cambaleando, seguido de sua gangue.
— ⟳ —
— Isso é ruim.
O demônio ergueu os olhos do caderno à elfa. Sim, mas estou quase terminando esse capítulo, então não me importa. Voltou a folha e escrever. ''Uma planta, as raízes se estendiam pelo cômodo e eram dotadas de sacos róseos que borrifavavam uma névoa morna. O odor era doce e os corpos de seis pessoas paira...''
— Jô! - a menina. - Cleiton foi embora também! Não ficou ninguém!
''...vam no solo. Dois tinham tido os rostos postos em cartazes de desaparecidos, outros dois de suspeitos do sequestro, os restantes... batiam com a descrição verbal dada pelo prostituto. A enorme flor de lótus, onde as vinhas convergiam, moveu as petálas...'' as mãos da elfa negra puseram-se nas laterais do caderno. Vou matar essa pirralha.
Íris azuis encontraram o púrpura frio no semblante rígido. A elfa negra engoliu em seco.
— Eu quero ler o primeiro capítulo, Jô, então pode sair e ir chamar mais gente? - Hersa, um sorriso largo congelado nos lábios. - Enquanto eu leio... leio sua história...
Silêncio, suor desceu a pele da garota, o rosto do demônio imóvel, o vento entrando pelas janelas quente e úmido e com toques do odor de dejetos da rua. Os punhos da oni encontraram o balcão, apoiaram-se nele e as pernas a ergueram do assento. A elfa recuou um passo, olhos esbugalhados e leves tremores percorrendo as pernas.
Então os dedos da criatura demoníaca pressionavam suas bochechas. Foi puxada a frente, rosto posto a seis centímetros do da oni, barriga pressionada contra a rocha entre elas.
Esse calor, essa rigidez do lutar ou fugir derretendo a moleza da submissão. Água subia a boca do demônio. Que fome. Piscou devagar, suspirou e a soltou. Se fosse só alguns anos mais velha isso teria sido demais para resistir.
— Você me assustou! - a menina.
— Agora estamos quites por ter me atrapalhado. Vou até aceitar sua proposta para procurar por pessoal - fechou o caderno e o empurrou a outra borda do balcão de pedra. - Boa leitura.
— ⟳ —
— Hospedaria, cruzando o beco da colina - apontou a formação rochosa três vias a direita. - Pegando a terceira curva a esquerda e seguindo até uma rua circular, está oferecendo desconto de cinco moedas de prata para aventureiros e uma bebida grátis por mesa que pedir jantar!
É uma péssima localização agora que paro para pensar no assunto. Em uma área residencial, numa parte pobre e de acesso estreito. Além do edifício governamental e duas escolas havia apenas meia dúzia de padarias, bares, lojas de tecelãs, um bordel, duas tinturarias, uma delegacia, uma praça e a sede dos construtores que reformaram o estabelecimento da elfa. Poucos dos que seriam interessados em um quarto passariam pela área 10 de Semiramis e para comer há lugares em posições mais agradáveis.
— A bixinha tá é doida se acha que alguém vai. Depois do apavoro que os Moicanos botaram aí... - um velho, na mesa no canto da praça. E então ela estava lá. Os outros três ao redor do móvel quadrangular a fitaram. Velhos, licantropos com e sem a curta pelagem sobre a pele, orelhas lupinas e vestindo camisas tricotadas. - Hum? Que cara de bunda é essa?
Ele começou a virar o rosto para o lado e a bochecha encontrou um indicador. Fino, firme, imovel sob a força que o idoso punha para pôr o queixo próximo da omoplata.
— O senhor saberia onde fica a sede desses cavalheiros?
A fala do velho era o suficiente para o resto. Depois de ser envergonhado o sujeito da cicatriz provavelmente ordenou o boicote da hospedaria com ameaças para que ninguém vá ao lugar, também para Cleiton e os outros dois deixarem o emprego. O que junto aos demais fatores fez a clientela total ser zero. Só havia uma pergunta que valia ser perguntada.
Uma brisa fresca balançou fios brancos do cabelo do idoso, os lábios murchos se esticaram para esquerda e frente, o copo de café foi pousado na mesa.
— Se quer informação, moleca, tem que jogar - e apontou as peças de dominó sobre a tábua de pedra.
Ou posso arrancar sua orelha como um aviso para que sua próxima frase, após uma longa e adorável onomatopeia verbal e física de dor, seja mais cooperativa.
— Tem certeza que quer perder para uma moleca, velhote? Pode ser demais ao seu coração - andando ao banco de pedra à direita, o idoso lá pôs-se de pé e gesticulou a oferta do assento com o braço e um inclinar de tronco.
— Ha, eu já era o rei dos jogos quando você mamava na teta da sua mãe, moleca. Não vá chorar depois que perder.
Após trinta e três derrotas, mais treze no carteado, e trinta e sete lutas contra o impulso de desfazer o velhote em pedaços, ela foi embora determinada a voltar um dia, mais capaz no dominó e baralho, vencer o sujeito no jogo e matá-lo engasgado com as peças.
Ah, também fiquei sabendo onde é a sede dos agiotas. Mas já é noite e a pirralha pode estar com algum sintoma do seu trauma de abandono.
— ⟳ —
Oh. Fechou os olhos e respirou fundo. Muito bem, isso era perfeitamente previsível. Ergueu as pálpebras, subiu os degraus e pisou por cima do telhado desabado da varanda. Na verdade, chega a ser um desenrolar tedioso, um que se poderia ver a quilômetros de distância. O ar fedia pesado a álcool.
Três mesas foram rachadas ao meio, doze assentos feitos a pedaços, garrafas de bebida quebradas contra paredes e assoalho, o quadro do pescador no rio Guinevere dividido em quatro no centro do cômodo e o balcão com lascas arrancadas e rachado. Uma veia pulsou na têmpora do demônio e os músculos tencionaram. Mas não vi chegar. Essa óbvia, medíocre, pobre e patética repetição da história.
Deslizou o indicador no pequeno muro de rocha, que dividia atendente e consumidor, seguindo o tracejado irregular e vinho escuro com cinco centímetros de comprimento e com gotas de mesmo tom pouco abaixo. Uma quantidade pequena de sangue para vir de um assassinato com cortes ou esmagamento, embora não impossivel.
Parou na borda da escadaria que levava ao andar superior. Talvez a pirralha já esteja morta. Subiu. Checou os quartos, as camas e móveis de pedras foram estraçalhadas. Sem sinal do meu caderno.
Na cozinha um rabisco na parede do fundo, acima do longo fogão à lenha e vago, agora, espaço onde o armário das panelas ficava. Se aproximou, vidro e pedregulhos esmagados sob os passos, o cheiro de temperos e de carne se distanciando de outro, vindo da figura em uma mancha de sangue seca sobre o forno, com os olhos azuis abertos e estáticos. O odor de morte.
Pegou o pequeno cadáver, frio, os fios negros endurecidos, e o ergueu. A barriga estava aberta e a metade inferior da boca balançava ao movê-lo. O baixou. Suspirou.
Perdi. Me distraí, não fiz tudo que podia e acabo de decidir só matar os agiotas como um prêmio de consolação. A depender do estado do meu caderno, isso pode ser menos indolor a eles.
A pichação feita com o sangue do gato, Silas, o morto sobre o fogão, dizia ''aranje o dinheiro, tem ate manha, traga pa praca ou a calotera more''. Gramática afiada certamente não era um pré-requisito para entrar na gangue dos moicanos.
— ⟳ — Agora acompanharemos brevemente o ponto de vista de Clodoaldo, um membro dos Moicanos — ⟳ —
— Mas cê sabe que Ueslei Castinho é o melhor cantor da atualidade, né? Não me vem com conversinha de Maria Mendoca que eu te meto a porrada.
Quente, os respingos de líquido que cairam sobre ele. O som de jato de água, a resposta a afirmação sobre músicos. Era noite, o casarão as costas ecoava o ruído de pragas, risos e corais de bêbados. O bar de um devedor estava com a adega cheia de álcool de alta qualidade e comida, então saquearam.
Ele fora posto de guarda junto a José Avô, um moicano veterano com estômago fraco para bebida, dentes amarelados e hálito azedo. E eu pensei que esse seria o pior que aconteceria essa noite. Na rua e ao lado da porta dupla de carvalho vermelho, sob o odor de sopas, carnes e vinhos e cervejas dentro do edifício, com um companheiro caindo no chão sem a cabeça e estando melado pelo rubro que voara pescoço do velho a fora, Clodoaldo fitou silenciosamente o cadáver e sua própria ingenuidade.
— Mas que porra - comentou e piscou e encarou a entrada ao casarão sede da gangue. Tenho que dar um grito. O coração acelerou o compasso, virou-se rumo à porta dupla. Ele acabou de ser morto na minha frente. Gotas de suor marcaram-no a pele. Do nada, nem vi que merda rolou. Tremor o percorreu as pernas e os olhos esbugalharam. Porra, e se fosse eu? Podia ter sido eu pra caralho. A mão bamba encontrou a maçaneta.
E onde caralhas foi parar a cabeça? Clodoaldo olhou para trás.
— ⟳ — Agora acompanheramos brevemente Ademar, terceiro no comando dos Moicanos — ⟳ —
As portas se abriram, o olho de Ademar foi do peito desnudo da Veraluci, de frente a si na mesa de poker, para lá. Os homens mais próximos da porta viraram a cabeça ao sujeito marcado pela luz amarelada das pedras de mana.
A parte de baixo da boca dele, suja de rubro e com mais vindo,... balançava, lágrimas o desciam o rosto vigorosamente e misturavam-se ao sangue. Ele está se arrastando pelo chão... um braço e então outro e de novo, uma névoa púrpura o seguindo, cobrindo-o do meio das coxas para baixo.
— Parem a música e peguem suas armas, seus idiotas! - Eneias, o segundo no comando dos Moicanos, com uma mão na caneca e a outra deixando o membro ereto de Carluxo. - É a porra de um ataque, caralho! Alguém tira a porcaria do recruta dali!
Clementina na mesa à esquerda da entrada pôs-se de pé e rumo ao novato. E teve o nariz atingido por um projétil redondo com uma moita branca, olhos e boc... aquilo é a cabeça do José Avô?! Clementina acertou o piso com as costas. Cadeiras eram abandonadas em todas as mesas e no curto palco ao fundo da estrutura. Um mago fez um circulo mágico aparecer diante da mão, uma magia para lançar fogo, e foi derrubado sob uma canela ensanguentada lançada de dentro da fumaça.
A névoa engolia um terço do térreo. Homens e mulheres armados, berrando e com marcas de rubor e cerveja nos rostos rumaram a ele. Jurema preparou um raio e foi derrubada por outro pedaço de perna. Cada entrar na fumaça era seguido do ruído de espichar de líquido e baque contra chão.
O recruta Clodoaldo se arrastava, Ademar pegou uma faca e lançou contra o olho dele, então o rapaz parou, sete centímetros de aço enfiado glóbulo adentro. O terceiro no comando se juntou aos de pé no meio do salão. Fitando, cheirando o sangue e o fedor bolorento da névoa parada na faixa dos joelhos do novato, estendida para trás e sobre toda lateral e cima.
Eneias estava à frente do restante dos Moicanos. Um sorriso largo congelado no rosto vermelho marcado por dois pequenos chifres e nariz torto.
— Acabou? - Veraluci, a direita de Ademar, uma maça na mão.
Uma cabeça acertou-a na testa e a fumaça avançou muito mais depressa.
— Atacaaaarrr! - Eneias, braço estendendo-se à frente. Os demais urraram, puseram-se a avançar e o punho do segundo em comando foi separado do restante do braço lançando um esguicho quente nos olhos de Ademar que. no escuro, escutou os primeiros gritos de agonia subirem.
— ⟳ — Agora voltemos à programação normal — ⟳ —
Ela estava na cama, os joelhos mantendo-a com a bunda para cima e o rosto e braços deitados contra o lençol. Vestia um short branco de tecido leve e um sutiã bege, o moicano desfeito sobre a nuca.
— Jô! - a menina, ao lado da janela e sete passos após o colchão onde dormia a chefe da gangue, sorrindo. Então a boca tremeu, lágrimas deslizaram bochecha a queixo e um fungar a escapou seguido de outro. - Eu... eu fiquei com medo... q-que não... e então e-les...
— Meu caderno? - fitando o item na mão da elfa.
Ela acenou positivamente. O demônio soltou o ar pela boca, os ombros baixaram e o indicador afastou uma mecha sangrenta de cabelo da bochecha. Que bom, nem a matança teria feito valer a pena se eu perdesse meu manuscrito.
Cruzou o aposento largo, passando por cima de roupas e pratos e deixando um rastro rubro. A garota ficou completamente imóvel, o demônio chegara a frente da janela e fora manchando pela luz da lua. A oni fedia ao que pendia sobre si.
— Você os matou - quando os elos de aço a prendendo a estaca fincada na parede foram quebrados pela criatura demoniaca. - Aqueles gritos... mesmo do terceiro andar...
Levantou Hersa, a borda esquerda do lábio da garota estava inchada e cortes seguiam até o queixo. Partiu as algemas da elfa, os pulsos abaixo estavam arroxeados. Mas não parece ter sofrido mais nada... oh. A garota a abraçou em meio a pasta de vida e carne e fragmentos de ossos quebrados dos agiotas.
— Estou meio suja agora, pirralha, e serei pouco amigável se estragar meu caderno - a afastou devagar. - Nenhum ''oh, em nome de deus e da igreja, ela é um monstro, inacreditavelmente atraente, e perigoso! Quero distância! ''? Sua educação deve ter sido um tanto desleixada.
A garota fungou e limpou as lágrimas com o antebraço.
— Meu pai era um oni, o cheiro não me incomoda e... você me salvou. Lutou contra todos aqueles bandidos e me salvou!
O mais acertado seria que salvei meu manuscrito e preciso que a pirralha disponível no local o carregue porque estou toda melada, mas vamos ficar com a versão da menina. Bagunçou o cabelo da garota e a atirou pela janela. A elfa negra soltou um grito, caderno caiu no piso do quarto e as mãos de Hersa agarraram a borda da abertura para ventilação. A mulher demoníaca esticou o tronco para cima do limiar da janela.
— Te busco em um minuto, sim? - o demônio, sorrindo. - Oh, e seria pouco saudável cair dessa altura.
A garota soltou um ''hãrrnn?!'' e ela decidiu que aquilo era um ''sim, bela senhorita, por favor tome o tempo que achar devido''. Então virou para o cômodo, para o colchão encostado à parede direita e com um perímetro lateral tomado por uma fila de quatro garrafas, duas caídas, uma rachada, e um copo de barro de quinhentos mililitros rosa e com estampa de pequenas caveiras pretas.
Se agachou, pegou uma, fedia a safra de Orfeu, um elfo velho que conhecera em uma arena de luta ilegal. Balançou, havia um gole ou dois. Encheu usando magia para mimicar o vinho e colocou uma dose de veneno de peste verde. Se não beber é de se esperar que ao menos tenha o bom senso de desaparecer da cidade.
— S-socorro...! - Hersa. - Aaaahhhh! - seguido do som do deslizar de dedos em superfície de madeira.
— ⟳ —
— Mas isso é nojento, eles são parentes - Hersa, o caderno erguido a frente do rosto. - E esse Perseu parece tá dando em cima de todo mundo! Não gosto dele.
A oni riu.
— Por que? Por estar sorrindo e tocando e se aproximando sempre que há uma oportunidade? - o demônio, mimicando o tom mais inocente que pôde. - Se sim, poderiam dizer que eu dou em cima de todo mundo também.
— E não estariam certos? - o olho azul da elfa encontrou o púrpura do demônio de canto. Estavam deitadas no telhado da hospedagem depredada da garota.
A borda direita da boca da oni pendeu mais largamente acima e então o encarar voltou às estrelas.
— Me faz parecer tão vulgar.
Hersa voltou ao livro.
— E não acha que foi meio babaca com Helena? Ela só tava tentando aprender como usar essa magia de ''recriar substâncias químicas''.
— Ajudá-la de fato estava fora da minha lista de interesses, os desaparecimentos eram de longe muito mais estimulantes. Três pessoas somem por três dias, são vistas no distrito dos prostíbulos e na manhã seguinte há seis pessoas desaparecidas e isso continua até todo o local ser habitado por um único sujeito? Definitivamente meu tipo de diversão.
A elfa fez uma careta.
— Você é estranha, Jô.
A oni riu. Então silêncio, vento fresco deslizando por pele e um grilo em algum canto.
— Quer que eu peça para reformarem esse lugar? Posso aumentar minha dívida com aquele pessoal tranquilamente. E arranjar gente disposta a trabalhar?
A garota suspirou.
— Deixa... tem uma péssima localização, né?
— Sim.
— Acho que vou... sei lá, andar. Dizem que elfos com os olhos superiores são bem vindos em escolas de magia e casas de nobres.
— Sei de pelo menos umas treze que adotam sacos de piolhos que possam ver energia mágica. Olhos superiores são um traço élfico popular e te permitiu saber que eu tinha chance de te salvar, diferente daqueles por quem passou antes da biblioteca.
— Então sabia que eu tinha o tempo todo?
A oni deu de ombros.
— Eu dou palpites, saber é um termo muuuito sério. E quanto ao desejo da sua mãe?
— Quando eu tiver rica abro um bar num bom lugar como eu deveria ter feito logo. E você, o que vai fazer?
O demônio baixou as pálpebras.
— Terminar o manuscrito, pagar para fazerem cópias e espalhar para vendedores. Depois... andar.
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