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Essa é uma pergunta difícil



— Não gosto nada disso - do outro lado da mesa para dois, careca e alto.

— Oh, herdou o paladar de algum ancestral demoníaco? - deste lado, com a manhã tocando o escarlate do chifre esquerdo.

— Me refiro a almoçar com a assassina de meus companheiros... - era um mercenário. Tinha sido contratado pelo sobrinho de Al Calvone cinco dias atrás para dar uma surra no demônio.

— Ah, não se preocupe, não é o primeiro... ou prefere que seja? Fui parte de um grupo de pantomineiros uma vez, sei fazer uma ótima virgem - e cortou um pedaço de bife. Era uma oni, um demônio do sul. Tinha matado uma prostituta e dois orfãos cinco dias atrás. E dois sujeitos em armadura de prata. - Fiz a Zulieta, a Sarah Corna, a Tina Bell, o Rocha, a Maléfica, o gato de Chechiri.

— Deveria ter continuado atuando - ele. Segurava o talher de punho cerrado. O olhar fixo no dela.

— Eu sei, minha primeira apresentação foi vigorosamente aplaudida - tinha menos de um sessenta de altura, cabelos negros e olhos púrpuras. Marcara aquele encontro após matar dois dos companheiros dele meia dezena de dias atrás.

— É? - trajava camisa e calças negras e estava no momento do assassinato. De joelhos, com fumaça subindo da armadura e pele assando sob calor.

— Sim, dizem que nunca viram uma árvore tão boa - riu sob vestido branco que estendia-se até os joelhos.

Um curto sorriso tomou o rosto do mercenário por meio instante.

— Imagino que deve ter sido ótimo vê-la calada.  

— Uou, que rude! - com mão subindo ao peito, então risada. - Nesse caso seria maravilhoso vê-lo no papel de Ueide Uilsô, finalmente me daria o gosto de ouvi-lo dizer frases longas.  

Dessa vez ele soltou um breve gargalhar. A brisa passou dedos em sua nuca sem pelos e balançou mechas de cabelo da oni. E voltou a passar e parou e voltou. Fresca. Rica no cheiro de carne cozida, tocada por lavanda, carregada com terra e violetas clandestinas.

— Não tão frio e calculista, afinal - a oni e esticou o garfo com bife na ponta ao sujeito. - Abre a boca.

''O que estava fazendo?'' Valdeci com o rosto voltando a endurecer.

Ele fitou o fragmento de carne. Bordas escuras, centro vermelho e cheiro quente. Bovino, estendido pela mulher que viera matar.

O garfo refletia a luz matinal que tocava o canto da mesa. Estavam em um restaurante na frente da praça, numa mesa em varanda longa e formada por piso de madeira. Uma garrafa de saquê entre seus pratos.

— Vamos, vamos. Prometo te dar um prêmio se for um bom menino - a mulher com chifres marcados de carmim. O vestido tinha decote indo até meio centímetro de despir umbigo. As bordas dele, das curtas mangas folgadas e da saia, estampadas com fogo púrpura. - Se não comer vou ficar beeeem triste, vou achar que não gosta de mim.

— Matou Irineu e Caetano, arrancou minha mão - um agudo grito de dor subiu pelos nervos. Como subia há cinco dias sempre que tentava mover o punho perdido. Cerrou os dentes, um praguejar teve fiapos a sair lábios a fora.

— E estou disposta a dar prazer igual a quantidade de dor causada - fazendo a carne encontrar a boca de Valdeci. A deslizou a esquerda e direita. Observada pelo olhar semicerrado, e acompanhado do franzir de testa, dele. - Na verdade, não me importaria de entregar até mais.

Respirou, a pontada amenizou e sumiu.

Valdeci abriu a boca. A oni esticou o tronco e estendeu o pedaço de bife para dentro.

Ela sorriu largamente.

— Tintin, acaba de ganhar direito a uma recompensa especial! Devo avisar que ela se encontra embalada em tecido branco, tem um sorriso angelical e lindos olhos lilases! Gostaria de retirar seu prêmio agora, senhor? Oh, temo que talvez ela se encontre um tanto úmida! Espero que não seja-lhe um inconveniente.

Ele mastigou, engoliu e bebeu um pouco de saquê.

— Vim por vingança - falou com semblante duro.

— Isso me magoa, sabe? Hahaha. Quando estiver morto irei chorar e chorar sabendo que nunca dividiu a cama comigo, oh - costas do punho subindo a frente da testa e rosto pendendo dramaticamente para cima. Então riso e encostar no apoio da cadeira. E apontou-o. - É um mercenário, Val. Sim, agora será este seu nome. Enfim, você mata para viver e estava para me matar. Não querendo ser a voz do óbvio, mas não somos tão diferentes. Tantas pessoas devem odiar você quanto me odeiam.

Os bíceps dele expandiram um milímetro e o punho pôs-se a meio caminho do cerrar e a dor do membro fantasma a subir até a extremidade superior do crânio. Cinquenta e sete. Pusera cinquenta e sete assassinos, ladrões e estupradores em suas covas.

Não um fazendeiro, um padeiro, uma criança, um pedreiro ou cozinheiro.

Se uma mãe viera com uma faca tentar empalá-lo pelo filho criminoso, um irmão e seus amigos com espadas e lanças em retaliação por um homicida morto, o problema era deles e seu apego a ralé.

— Eu só matei monstros da sua laia.

A boca da oni formou um ''o'' caricato, que ela tapou com a mão meio segundo a seguir.

— Imagino que isso faça muita diferença. De um assassino como eu, isto te torna... - tensionou a face, íris subiram a procura teatral da resposta e dedos deslizaram pela boca até encontrar e segurar o queixo. - Um assassino, não?

— Não como você.

''Hahaha'' a oni. Que matara padeiros, ladrões, fazendeiros, assassinos, crianças, estupradores e tantos tipos de pessoas e vingadores mais.

— Realmente quer discutir comigo? Meus amigos diziam que posso fazer um padre xingar deus.

Val sorriu curta e brevemente, se encostou na cadeira e agarrou o copo com saquê.

— Nada que uma coisa diga mudará algo. Tudo que matei foram assassinos, ladrões e estupradores. Tornei essa e outras cidades um lugar melhor.

A observou em silêncio. O líquido fresco e tocado pela acidez do álcool sendo posto boca a dentro. A fragrância do ambiente era majoritariamente carne e lavanda. As três mesas perto da saída eram redondas e as duas do fundo quadradas. Apenas um homem na mesa ao fundo, o garçom dois passos à esquerda deste e a cozinheira atrás do balcão, os acompanhavam.

A pequena mulher demoníaca tinha curtas sobrancelhas e uma boca tocada por leve vermelho. O nariz era pequeno e um tanto pontudo. O pescoço com pele lisa a delinear com sutileza garganta e pomo de adão. Os ombros cobertos por vestido branco...

— Que tesão... - ela murmurou, após fitar os lábios do mercenário. E seguir a camisa marcando peitoral e descer e descer.

Valdeci colocou o copo na mesa. Sem pano, entalhada com vinhas carregadas de uvas.

— Quê?

O púrpura subiu de encontro ao rubro dele. Piscou.

Ar pairou despido de palavras. Um segundo e meio. A face da oni voltou-se a fila de casas à esquerda do restaurante, três, e depois uma bifurcação levando a outra rua. Assobiou por dois segundos.

— ...

— Tesão? - ele.

— ... - silêncio, o fitou de esguelha, sorriu. Rubor marcando bochechas. - Bom, então, falávamos sobre a taverna onde vamos passar a tarde?

— Vingança.

''O'' a boca dela por meio segundo antes de rir e despejar o tronco na mesa. Morna, rígida e enfeitada por caroços de arroz, mesa. Afastando o próprio prato até o lado do de Valdeci.

Grande sorriso mostrando toda fileira dianteira e branca de dentes.

— E logo me dirá que é a noite, Val? Punindo o mau, sendo o terror que os mantém trancados em seus buracos e temerosos até para espiar as vias?

O rosto do mercenário endureceu.

— Seria ótimo, mas não sou o bastante para isso.

A oni apontou-lhe com o indicador.

— Aí está, meu rapaz! E sabe o motivo? Dica: não é a falta de uma fantasia com tema de morcego.

— Sou um? Um trio se contar Pato e Chorume...

Ela gargalhou.

''Que droga de nomes maravilhosos''.

Era verão, início do ano. As bestas ao sul se resignavam a andar próximas a rios e manter a atividade baixa. No norte, com neves pairando na altura dos quinze centímetros, elas saiam de casa com maior frequência e punham todas as vilas encherem de pedidos de proteção. A aventureiros, ao governo élfico, vampiro, humano e licantropo.

O demônio tinha em mente ir lá. Conhecer os sujeitos que tentariam a sorte contra monstros nortenhos. Torcer para vislumbrar a aparição de uma criatura não catalogada. Beber nos festivais que a aglomeração trazia à tona.

''Talvez depois daqui, me juntar a uma caravana qualquer... ou só seguir pela estrada... pena Jurandir estar ocupado com sua retomada aos estudos... deveria ir tentá-lo?'' parou o riso e voltou o foco a Valdeci.

— Não muito sociável também, Val. Mas não é bem isso, mesmo que também seja parte isso... - esticou o braço. - Ei, se aproxime um pouco, quero tocar seu nariz.

— Não.

Viera matá-la.

''Morrer estaria mais dentro das capacidades dele, mas não vamos destruir os sonhos do rapaz, vamos?''

— Cruel - voltando a se encostar na cadeira, braços abertos as laterais. Tecido da área do decote dando perigosamente mais ar livre aos seios. Ele notou e ela notou o notar. - Não precisa ter tanta pressa para terminar a conversa, pra mim o dia só acaba quando formos ter uma diversão em quatro paredes.

O fitar do mercenário subiu em um espasmo.

— Eu... é, não... Vou decapitá-la - o demônio manteve a torção zombeteira na face. Valdeci fechou os olhos. Três, quatro e cinco segundos. Expirou ruidosamente e ergueu as pálpebras. Pôs-se de pé. Com arrastar de cadeira abrupto, balançar da garrafa e dos dois copos e dois pratos na mesa. Mão foi ao punho da espada. Que estava de pé com seus um metro e setenta, em bainha negra e encostada no assento. - Chega, vamos dar um fim nisso.

Havia dispensado Pato e Chorume desse confronto. Eles pagaram um funcionário do governo para entregar um dossiê com dados dela três dias atrás.

''Duzentos ex de ouro jogados no lixo''. O papel dizia o que vira na prática.

''Capaz de produzir substâncias variadas''. Queimou o papel e lançou as cinzas no rosto de Chorume. Que tossira e abanara e xingara.

''Não importa''. Não os teria trazido mesmo que houvessem dado um exame detalhado de cada polegada de pele dela.

— E aquele outro ''eu'' ali? - com o indicador virado as costas.

Silêncio, arrepio e imobilidade. Odor de violetas e lavanda, respirar, dois pássaros no telhado. Transpiração.

''...?'', Valdeci, abrir e fechar da boca. Suor frio deslizou de têmpora a bochecha. A íris rumou, pesada em cabeça inerte, para onde ela indicava.

''Duas...'' já viera certo da baixa chance de sair vivo, mas... ''Duas...?''

Na praça salpicada por canteiros com laranjeiras e assentos ao redor de mesas de pedra. Onde uma quadra delimitada por barras de ferro tomava maior parte do canto esquerdo.

No banco. O primeiro seguindo reto do restaurante.

Moleque franzino. Loiro e negro. Vestindo trapos puídos e rasgados. Costas para eles, frente ao escarcéu de gritos das crianças na praça.

— Quê? - alto, fitar fixo no trinta passos, uma rua e um canteiro deles, pirralho. Coração dando primeiros sinais de aumento de ritmo.

Tum-tum-tutum-tum.

— Um mendigo, tem um monte por aí - o vermelho do mercenário encontrou o lilás do demônio. Estava zombando dele? O sorriso estava ali, um tanto mais largo e com canino esquerdo a mostra. - O menino no banco de praça, supondo que não morra em breve, o que virará, me pergunto, haha. Está muito tenso, Val, relaxa - ela, pondo o tronco novamente sobre a mesa. - Mas pensa comigo: comendo restos, recebendo desdém e desagrado de todo lado, lutando para manter um trapo de lençol sob a posse, fugindo de vampiros e onis viciados em comer pessoas e de pessoas querendo descontar frustrações da vida... e vendo aquilo.

Ela virou a face a cena.

Valdeci esperou quieto e olhou. O pivete sozinho, privado de amigos e proteção paterna. As crianças a frente dele, fugindo da menina mais gorda, berrando ''você não me pega, cara de meleca'', com quatro adultos prontos a intervir no primeiro ralar de joelho ou surgir de figura suspeita.

— Merda, até eu sinto uma pontada de inveja da infância deles, hahaha. Mas o mendiguinho? Nossa, meu estômago se contorce só de imaginar o quanto de um sal na ferida isto o é - ela suspirou e deitou a cabeça na mesa. - Como foi sua vida quando criança, Val? Mamãe te dava muito leitinho materno? Papai te contava histórias de ninar? Ou tirava o almoço de latas de lixo, depois cagava e cagava e cagava, depois, sendo apenas uma carcaça de pele e osso, precisava ir atrás da próxima lata de lixo e do próximo pedaço de carne estragada que irá mantê-lo vivo e dá-lo o que pode ser a última cagada da sua vida?

Valdeci piscou e fitou-a.

O pescoço do demônio, com suave pele branca tocada pelo cabelo negro. A face virada para direita, braços estirados na tábua redonda de madeira.

Enquanto ele e sua pesada arma pairavam à esquerda.

Cinco dias atrás apenas chegara perto de cortá-la. Na ocasião a oni estivera de pé, olhos atentos a ele e com músculos tensionados.

Os dedos do mercenário dobraram e esticaram. No agora. A lâmina da arma parecia sussurrar ''é o momento''. ''Vá, não terá melhor chance''. A ergueu milímetro a milímetro. O mais tênue dos sons de aço raspando couro escapando.

— Minha mãe me ensinou a ler cedo e então nunca mais a ouvi ler-me qualquer coisa... - ela, e o mercenário parou. ''Não'' cruzando-lhe a mente, ''não a ouça, droga!''. - Acho que não tenho uma única lembrança de a ter lendo pra mim, embora ela lesse quando ensinava as crianças da família. O que foi um desperdício, adoro ouvir histórias em um particular - esticou mais os braços, os dedos encontraram arroz dos pratos e os dedilhou. - Maldita velha, só a via durante as lições que dava a mim, meus irmãos e alguns primos. Na maior parte do tempo eu seguia atrás de Dagmar, minha irmã mais velha... que me arranjava uma tarefa qualquer e sumia. Fui feita de besta tantas vezes, hahaha. O lado bom é que ninguém varria, catava frutas ou escrevia tão bem quanto eu! Ah, apesar de eu não ser a melhor, foi por causa de uma dessas que comecei a desenhar.

Valdeci baixou as pálpebras pesadamente e respirou fundo.

— Não ligo, se levante e vamos resolver nosso confronto.

Ela riu.

— Não seja mau, estou me abrindo aqui - outro risinho. - Embora imagino que preferisse um outro contexto para o ''me abrindo'' agora.

— Se levante.

A oni virou a cabeça para frente. E fitou-o com erguer de íris, queixo apoiado na mesa.

— Tem certeza que não prefere um ''ajoelha e ma...''

Ele segurou a espada e a ergueu, ainda na bainha, do solo.

— Sim, tenho.

A outra mão fora substituída por uma prótese de ouro.

Um homem alto e musculoso, negro e careca. As íris brilhavam rubras como as de Pedro e Ana.

''Odeio essa cor'', o demônio e fechou os olhos, ''E já não tinha me esquecido daqueles pirralhos?''.

''Sim'' mentiu, ''Esqueci completamente''.

Mesmo não tendo comido ninguém desde cinco dias atrás, quando os matou.

Suspiro.

— Val, nada contra, mas você vai morrer - avisou. - E não sei se posso comer tanta carne de uma vez, fico triste só de imaginar o desperdício.

O garçom olhava com olhos esbugalhados e o sujeito bebendo chá tirara o encarar do livro desde o levantar do mercenário. De trás do balcão, treze passos e duas mesas varanda a dentro, a cozinheira espiava com dedos apertando a barra do avental escuro.

— Estudei você, a matarei.

Ela fechou os olhos.

— Claro, com certeza - zombou. - E seguirá matando no ''depois'' pessoas que não quis ajudar no ''agora''.

— Quê?

— Oh, sim - ergueu o indicador e tirou as pálpebras do caminho a visão de Valdeci. - é o assunto do pirralho de rua e o que ele será no futuro. Ainda lembra? Posso recomeçar se quiser.

Valdeci soltou o ar pela boca. Talvez não apenas não fosse capaz de matá-la... como... ''não, isso começou quando me chamou a essa mesa''... quando sorriu, olhou-o longamente... quando falou, quando foi vista sob aquele pano de mangas curtas e longo decote...''o não querer matá-la começara ali''.

Por que? Bonita...? Mais... esperteza, o constante flerte? A falta de interesse em julgá-lo pelos criminosos que assassinou?

Sentou e bebeu o resto do saquê no copo. Amargo.

— Isso não está indo como imaginei - ele concluiu.

— É mesmo. Onde está o esguichar de sangue e voar de membros? - ela, com dedo encontrando o arroz no prato dele. Ajeitando um grão sob a unha e atirando-o no ombro do mercenário. - Aposto que se fosse um livro o leitor teria cochilado. ''Quando vão tirar as roupas?'' deviam estar pensando antes de ir sonhar com algo bem divertido sobre nós, uma cama e gemidos felizes.

Um, dois e três segundos. Encarando-se. Até um sorriso surgir no rosto de Valdeci, antes do riso de Morgan subir, antes do riso do mercenário acompanhar.

Por instantes e momentos e minuto.

Besta que o despiu de mão e dois companheiros. Mercenário que tentou matá-la com aço e fogo.

Acabou.

Ela levantou.

''Acabou'' com mais um subir dos cantos dos lábios. ''Vingança, luta e toda essa bobagem''.

— Ei, Plínio, a conta - pediu acenando ao garçom. Pagar e partir. O garçom assentiu e veio.

— Cem ex de bronze, Morgan - o funcionário, mãos segurando uma bandeja de prata a frente do peito. A estalagem do Maria João ficava dois quarteirões descendo a rua. Saliva já subia a boca e um tipo diferente a boca de baixo.

Tinha cabelos dourados e olhos vermelhos, o garçom. Magro abaixo de camisa branca e colete negro.

''Nada mal também... devia trazê-lo junto''.

Levou uma mão ao bolso. Ao outro. Apalpou, bateu nas laterais e traseira do vestido.

''Oh''.

— Paga minha parte? - para Valdeci, mãos ainda na bunda.

— Sua parte é por conta da casa - Plínio.

Voltou-se ao vampiro e devorou a passadas a distância. Tocou os braços dele, magros em embalagem de tecido macio. Aproximou o tronco esguio do magro do garçom.

— Sério? - com pequenos peitos amassando contra o metal da bandeja.

Valdeci desviou o olhar e cabeça, nariz expirou ruidosamente.

Morgan segurou um riso. ''Que fofo''.

— Sim - o garçom, íris indo do rosto da oni ao tronco. Deslizando até o fundo da pele exposta por decote. O odor doce de violetas e fresco de energia mágica e amargo de sangue demoníaco subindo-lhe nariz acima.

Ela sorriu e se pôs na ponta dos pés. Boca a três centímetros da omoplata de Plínio. Cujo peito inchou. Cujos olhos arregalaram e lábios agitaram um morder dos cantos.

E a boca de Morgan encontrou-o entre garganta e ombro.

Ele soltou um gemido, teve arrepio a arrastar-se sob pele, pés foram a metade do percurso a se pôr nas pontas por um instante. Dedos largaram a bandeja fria ao quente aperto dos torsos deles.

Dentes pressionando a carne sob colete e camisa. Um, dois e três. Segundos e gemidos. Então o demônio afastou a boca.

— Obrigada, Plínio - ela, púrpura de encontro ao fundo rubro do vampiro. - Acho que vou ter que voltar pra agradecer um pouco melhor... - sorriu maliciosamente, esticou-se um pouco mais e sussurrou. - Muuuiiito melhor.

A língua dela deslizou na esquerda da garganta nua do vampiro. Ele estremeceu e gemeu e recebeu um beijou no pescoço. Breve e macio, tocado por ligeira umidade.

— Aqui, não deixa cair - agarrando os punhos do garçom e os colocando na bandeja. Então girou para a saída. Pisou adiante com brisa fresca balançando-lhe os fios negros.

E parou. Fitou para trás o outro cliente do restaurante e a cozinheira atrás do balcão. Um homem com óculos e cabelos escassos, uma moça rechonchuda e usando avental com uma pimenta em chamas no centro.

— Podemos todos ter um pouco de diversão, na verdade - anunciou.

Valdeci comeu mais duas garfadas e colocou uma moeda de prata na mesa.

— Pode ficar com o troco e não joguem a comida no lixo - e, com espada alocada nas costas, rumou a saída.

Ele entendera. Enquanto a pequena, vil e maligna criatura flertava com um qualquer.

Monstros não nascem. São forjados nos socos e pontapés, no vagar só de ruas e edifícios, no chorar que ecoa sem encontrar ouvidos dispostos a ouvir. Ao menos é o que Morgan parecia querer dizer.

Viva na merda enquanto vê alguém dormindo em cama folheada a ouro e tente ser bom. Sem uma educação apropriada, estando ocupado demais em não morrer de fome... não, ''olhe ao seu redor, idiota''.

Sequer precisa ser tão extremo. Um cargo pelo qual se matou de trabalhar sendo dado ao primo inexperiente do chefe. Um estudante que passou o ano excluído e zombado. O sujeito que teve a esposa ofendida num bar.

''Ceda a raiva por um momento...''

E boom. Assassinos, ladrões, estupradores. Que serão encarados de cima por rostos cheios de asco e pisoteados até se afundarem mais e mais na carcaça de monstro.

O olhar da oni o seguiu. E logo a própria com um tchau sendo acenando aos que ficam.

— Tá bravo? - enquanto pisavam na rua.

Não. Quase disse, com o som oco das botas de couro contra chão da via.

Alcançaram a praça e então o banco de pedra. Pairava cinco centímetros pós o canteiro entre rua e calçamento. Fedia a mijo e terra.

A sombra de Valdeci chegara primeiro. Os pelos do mendigo infanto juvenil se arrepiaram e de um salto ele pós a si de pé. Os olhou, com lençol jogado sobre o ombro, e postura levemente agachada.

Magro vassoura, ossos demarcados por pele.

— Tome - Valdeci atirando um saco de moedas no banco. - E tem um prato e meio de comida no restaurante, peça ao garçom.

O mercenário virou para outro lado e andou. Morgan fitou o moleque, sorriu.

— Se não quiser, eu quero.

E o pirralho saltou sobre o saco e voltou a recuar e encarar tensamente.

— Saco de piolho esperto - apontou o restaurante as costas. - O nome do garçom é Plínio, se disser que uma moça com chifres longos e olhos lilases te mandou vai ganhar uma sobremesa... talvez. Ah, e pergunte onde fica o orfanato ''Casarão no final da rua'', tem comida e teto de graça lá.

E pôs-se a ir até Valdeci.

— Meus pais eram fazendeiros... ainda são, estão lá cultivando um campo e criando vacas e galinhas - ele disse quando os pés passavam sobre a borda da praça e caiam na rua.

— Gosta deles? - a oni perguntou.

— São boas pessoas.

A via estendia-se longa a frente. Descendo em breves quedas e subindo, flanqueada por um emaranhado de casas. Finas, grossas, com paredes de vermelho vivo, dois andares, feitas de tijolos de laranja envelhecidos até ter manchas negras, revestidas com branco desbotado, com ângulos de cem graus em relação ao solo e mais.

''Dizem que quem nasce em Semiramis já nasce com diploma em gambiarra, pechincha e arquitetura''.

Pessoas andavam nas calçadas. Carroças chiavam sob o puxar de cavalos e bois e monstros domados. Com fedor de peixe, limões, álcool, carne congelada e galinhas vivas. Uma cheirava a pão fresco.

— Não soou como um filho amoroso.

— ... você odeia os seus? - Valdeci.

— Não... provavelmente não... - parou de andar, foi acompanhada. Estavam no final de uma das descidas do relevo. Um casal com uma criança acabando de passar. A oni respirou fundo, mãos caíram nos quadris e fitar no céu. Sol pairava metade coberto por nuvens, metade bola fumegante de fogo absurdamente distante. - Mas sim... provavelmente sim...

— Não soou como uma resposta.

Ela encarou pelo canto do olho e riu.

— Não mesmo - e agarrou o braço dele e apoiou o tronco e bochecha ali. - Eu... quero correr um pouco. Até o mar no leste.

— Pouco? - daquele canto de Semiramis o mar no leste pairava trinta e três dias de distância a pé.

— Então até Sangue Branco - metrópole élfica a noventa e sete dias deles.

Valdeci a observou em silêncio. Pessoas passaram e fitaram.

Se olhada sem atenção mesmo o decote do vestido não permitiria que fosse tomada por algo além de uma adolescente. Mas havia então a forma atrevida de mover os lábios, a demarcação mais fina da face, o tom de voz malicioso mesmo quando não o era. Depois de vistos, a ''criança'' desvanece de seus traços como fumaça soprada por ventania. As curvas do quadril, as nádegas e o olhar questionador... apreciativo... degustativo.

A criatura enxergava bem.

Podia ver a noite mal dormida na sua olheira. No sorriso que vai dos lábios a olhos a alegria, a irritação no torcer em impulso único de testa e boca. Hesitar no ligeiro subir e baixar de dedos e no dilatar e relaxar de músculo. Nas marcas mais escassas ou profundas ao redor dos lábios ela descobre se é mais dado a uma vida humorada ou sombria.

E isso, com uma nova leva de denso amargor subindo estômago, Valdeci tinha noção, tornavam todos os homicídios que cometara piores.

''Mas...''. E mas e mas e mas.

Com ela poderia flertar como um cão no cio, poderia falar sobre ideias utópicas ou um pessimismo extremo quanto ao mundo. Poderia rir de si mesmo sem que isto signifique um golpe fatal no ego ou perca de respeito.

''Liberdade... com todos os diabos e anjos que a acompanham''.

Barriga enrijeceu e relaxou, punho foi a meio fechar e abriu.

''Ela é escória. Assassina, vil, cínica e... honesta ao ponto de embrulhar estômago, mentirosa o suficiente para que não se possa saber quanta verdade diz''.

As pálpebras desceram.

''Não faz sentido...'' quase riu, ''como poderia ser mentirosa e honesta, só para um começo?''.

— Por que você é o que é...? - Valdeci.

Ela o encarou, face pendendo acima e íris indo ao ponto mais alto do olho.

Um e dois e três.

— Que pergunta difícil! - e o soltou, rindo, e deu dois passos adiante. - Como eu deveria responder isso?

Então girou de volta a Valdeci, sorriso aberto com caninos à mostra. O indicador erguido e apontando os céus.

— Podemos ir por toda baboseira crível do livre arbítrio - a mão inclinou para direita e a boca pendeu mais próxima de retidão. - Ou a dureza áspera das influências externas e de como cada decisão já feita é apenas um resultado de uma série de ações anteriores. Ah, é muito a se considerar...

O sorriso murchou. Suspiro.

Portas e janelas. Entradas e saídas. No ponto da calçada e a esquerda dela, uma porta. Do outro lado da rua e à direita, uma janela de vidro polido.

Entrar por um ou outro ainda é entrar.

— Por que é quem é, Val? - ela, mãos foram as costas e tronco inclinou para frente. O olhar do mercenário se demorou meio momento nas laterais visíveis dos pequenos seios. Então piscou.

Por que?

Por que roubaram os pais dele quando foram vender legumes e leite na cidade? Por isso pegou uma espada e aprendeu a usá-la. Ou porque vira o primo e cavaleiro Bento ser paparicado por dezenas de moças e ter ouro a transbordar nos bolsos? Então pegou numa espada para se ver em mesma situação.

Ou por aquilo ou aquilo ou aquilo.

Pálpebras baixaram e um riso escapou em um bufar.

— ... é uma pergunta difícil - admitiu.

— E de loooonga resposta, hahaha - com o indicador deitando. Apontando-o. - Já ouviu dizer que pessoas são retalhos? Um aglomerado disforme e grotesco de experiências reunidos e colados sob a carne de um indivíduo. Tornando-o clinicamente insano o bastante para se importar mais com marmanjos chutando esferas dentro de barras de ferro do que no desenvolvimento da ciência. Bom, mesmo quem se importa com desenvolvimento é uma monstruosidade ambulante. Não da pra escapar, hahaha.

O mercenário riu. Breve e baixo.

— Entendi a história do moleque de rua - a contou.

— Oh, que menino esperto - pondo-se ao lado de Valdeci. Dedo subiu e tocou o mamilo sob tecido leve e escuro. O rubro da íris dele desceu até o púrpura do demônio. - Preferia ter encostado na sua bochecha, mas...

O punho de Morgan foi da testa dela, reta, até as costelas do mercenário. Pressionando a carne macia com a lateral do mindinho e palma.

— Ainda estou com fome - ele, passos a serem novamente postos na estrada.

— Conheço uma estalagem com uma ótima comida... - riu. - Ou assim dizem, pra mim sempre parece variar entre água e bosta.

Assentiu e a seguiu até o lugar.

Pediram um quarto. Terceiro andar, instruíram o levar de uma refeição de pães, queijo, carne e um jarro de vinho.

— Então quanto mais situações de depreciação são acumuladas maiores as chances do sujeito desenvolver hábitos violentos... - Valdeci estava a dizer trinta minutos mais tarde. - Uma melhor atitude para minar a criminalidade seria diminuir situações do gênero que estão mais presentes para pessoas com baixa renda e moradores de rua.

— Sim, reduza a desigualdade social e veja cair a criminalidade. Hahaha, isso não é tudo, mas aposto cem dracmas de ouro que é um ótimo começo - e pressionou-lhe o nariz. Deslizando o toque da rígida parte até a mole entre as entradas de ar.

Ele estava deitado de barriga para cima.

Sobre colchão largo, esférico e forrado com pano púrpura. As bordas estampadas com corações lilases. O teto era dotado de um espelho oval a refleti-lo descansar a cabeça nas coxas de Morgan. Macias, quentes e perigosamente o fazendo perder o interesse em deixá-las.

O garfo veio com um pedaço de porco assado empalado. Valdeci abriu a boca e o alimento seguiu para dentro. Mordeu. Gordurosa e morna e salgada.

Morgan acima, encarando a torção da bochecha do mercenário. O talher envolto nos dedos finos e um sorriso curto no rosto.

Ele engoliu.

— Isso não significa que quem comete crimes deva sair impune - o mercenário. A oni bufou caricata.

E cortou mais um pedaço do bife em prato de porcelana. Sobre um criado mudo de madeira tingida de roxo e entalhado com silhuetas acasalando de pé, de lado, de quatro e com o sustentar de um de cabeça para baixo. Haviam alguns diferentes na traseira do móvel.

— Que chato, estava quase conseguindo minha carta branca, hahaha - e levou outro pedaço as portas dos lábios do mercenário.

Valdeci comeu.

— Podemos ainda relacionar essa conversa de tabula rasa ao paradoxo do ovo e da galinha - o contou.

A olhou, fechou e abriu e semicerrou ligeiramente os olhos.

— Não faço ideia do que está falando... - Valdeci.

— Oh - Morgan soltou, a boca formatando quase um ''o''. - Preciso te apresentar alguns livros então.

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