28 - A Última Sessão
Na luz baixa que permeava o salão dourado, Luan sabia que esta seria a última sessão, a que mudaria tudo! Luan só não esperava aquele grupo de mais de vinte pessoas participando, porém disfarçou seu espanto ao vê-los chegando junto com Elohim. Com um sorriso que disfarçava a sua apreensão, os cumprimentou gentilmente, agradecendo pela presença, como se isso fosse meticulosamente planejado.
Luke, com o rabinho agitado, desfrutou de toda a atenção que recebeu dos convidados e permaneceu do lado de fora do chalé, junto a um grupo de homens que pareciam formar um cinturão energético invisível. Eram exatamente onze homens, alguns vestidos de maneira simples e rotineira, enquanto outros usavam túnicas ornamentadas, carregavam cristais e ostentavam amuletos que os faziam parecer saídos de histórias medievais.
O mesmo era visto entre as onze mulheres que adentraram o salão e se posicionaram em pé ao redor, quase encostadas na parede, formando mais um elo protetivo. Entre elas para a surpresa de Luan estava Dandá, a surpresa em ver sua namorada, fez desarmar o seu semblante tenso.
- Dandá? Você veio? - perguntou retoricamente Luan, dando-lhe um abraço caloroso seguido de um envergonhado e breve selinho em seus lábios, sob o olhar protetivo de Elohim.
- Estou aqui, não estou? - respondeu com uma piscadinha e explicou imitando o Elohim: Meu irmão, precisamos estar em vinte e sete pessoas para formar um mandala viva perfeita onde os quadros... ops... os quadrantes se completam perfeitamente na frequência da esfera divina do sétimo plano de existência.
- Palavras do sábio Elohim! - respondeu Luan rindo baixinho.
- Só pode ser, eu mesmo nem entendi o que ele quis dizer... mas quis colaborar, por isso estou aqui. - concluiu Dandá acompanhando o riso silencioso do namorado, e observando que se aproximava o início da sessão tomou seu lugar no círculo de mulheres.
Ao lado de Elohim, Luan voltou à seriedade e, num profundo suspiro, sentou-se na temida poltrona, aguardando orientações. Enquanto isso, Jasmim e Bella, que estavam finalizando os arranjos das flores, velas e outros elementos essenciais para a cerimônia, dirigiram-se ao centro do salão.
Bella vestia calças e uma simples túnica preta, destacando seu medalhão de Triskle prateado que nunca deixava seu pescoço. E Jasmim, com seu delicado vestido floral de mangas longas, transmitia sua natureza delicada, que disfarçava a mulher forte que ela havia se tornado.
Violeta, em trajes que quase combinava com Bella, pegando o seu grimório, finalmente adotou sua postura de cerimonialista, transformando o seu aspecto adolescente no de uma responsável dirigente de almas.
Os olhares convergiram para Violeta, quando o silêncio introspectivo foi interrompido por suas palavras: - Neste sagrado círculo, onde a magia da sabedoria ancestral se manisfesta, invocamos as forças da Natureza, das hierarquias espirituais, e de todos que queiram trazer a sua contribuição. Com respeito à Terra, aos elementos, aos Deuses e Deidades celestiais, abrimos nossos corações nessa jornada de cura e autoconhecimento. Que a energia da lua nos guie e proteja, permitindo que a magia se manifeste de acordo com nossa intenção e em perfeita harmonia. So Mote It Be.
- So Mote It Be. - Todos os familiarizados com a ritualística e que estavam no salão responderam em uma só voz, enquanto os onze homens do lado de fora mantinham uma postura protetora. Mesmo sem ouvir o que se passava lá dentro, firmavam uma forte conexão, ao mantrificar palavras de elevação e força, intercaladas com evocações diversas.
E como se experimentasse um incômodo déjà vu, Luan ouviu as palavras iniciais de Violeta: - Luan Vilela, você nos permite entrarmos em seu campo energético e trabalharmos juntos em prol do Bem Maior?
Sem alternativa, Luan confirmou: - Sim.
Após a confirmação, Elohim reclinou a poltrona na qual Luan estava sentado, indicando que ele se deitasse. Com as imagens do intrigante sonho repassando em sua mente como um filme sem fim, Luan se deitou, supondo que os olhos vingativos já estavam lhe fitando.
Elohim colocou as mãos no coração de Luan sentindo sua aceleração descontrolada, e começou a aplicar energia, primeiro buscava uma respiração profunda como se buscasse se tornar um com o todo, depois sentia a energia subindo através de seus pés e preenchendo todo o seu corpo, até sair pelas suas mãos, finalmente transferindo ao chakra cardíaco de Luan que sentia aos poucos seu corpo relaxando, sua respiração acalmando e seus pensamentos silenciando.
Seguindo a ritualística, Jasmim, com um turíbulo em mãos, queimava ervas e envolvia a todos com a fumaça que se erguia, tomando todo o salão com a névoa balsâmica. Ao finalizar a parte interna, a limpeza com as ervas se estendeu para o lado de fora, envolvendo os homens, Luke e o sobrado. Enquanto Bella e Violeta aplicaram harmonizações em todos os presentes através de uma mistura de benzimento com ervas e recitações wiccanas, xamânicas e cristãs, que concluiam assim a limpeza inicial da sessão.
- Estão todos bem? - perguntou Violeta, demonstrando atenção a todos, especialmente a Luan, que já parecia estar um tanto relaxado e observava os vultos etéreos que circulavam ao seu redor. Para sua surpresa, essas figuras não eram energias vingativas, mas sim energias pacificadoras que formavam elos protetivos em outro plano.
No entanto, isso o preocupava mais do que o tranquilizava, pois Luan se questionava se Natã finalmente viria para resolver a longa inimizade.
- Violeta, podemos começar! - afirmou Jasmim, visivelmente emocionada ao ver sua mãe. - Luanda disse que todos estão preparados para a conexão.
- Agradecemos o apoio e orientação de todos que se dispuseram a nos ajudar nesta sessão de cura. - Violeta expressou com gestos de reverência, acompanhados pelos demais presentes. Ela se aproximou de Luan e o instruiu: - Respire profundamente por três vezes... Uma... Duas... Três... Isso, confie, Luan. Lembre-se de que você não está sozinho; somos parte de um todo neste processo de cura.
Cada vez mais entregue ao processo, Luan se concentrava nas palavras de Violeta como chaves de um portal. O estado de percepção expandida se tornava cada vez mais familiar, permitindo a Luan rapidamente sentir a sensação de levitação sobre seu próprio corpo. Com a consciência expandida, já conseguia identificar Samuel com seu olhar paterno, emanando confiança e tranquilidade, ao lado de Luanda com sua força e amorosidade.
Logo, outras movimentações no plano invisível se tornaram claras para aqueles que tinham mais facilidade em ver o além, Luan era um deles, e pode notar quando as quatro macas etérias adentraram o salão com Natã e mais os três escravos que haviam aparecido do "sonho", fazendo Luan ter a certeza de que tudo foi real.
As macas vinham empurradas por enfermeiros e enfermeiras com olhares sérios e gentis, e foram colocadas alinhadas, tendo seus pacientes adormecidos, visivelmente anestesiados contra as suas vontades.
As expressões tensas nas faces demonstravam a luta interna mesmo ao dormir, seus corpos estavam cobertos por lençóis verdes claros, assim como eram as roupas da equipe que os traziam.
Nesse momento, Elohim, levantou-se no centro do salão com a expressão de seriedade transfigurando seu rosto, e logo a voz de Samuel pode ser ouvida através de dele.
- Amados irmãos - transmitiu Elohim, sempre admirado com suas enormes mãos negras: - O momento que ansiávamos finalmente chegou. Diante de nós, encontram-se almas que carregam um fardo de dor e sofrimento, não apenas de suas vidas passadas, mas de um tempo distante. Porém, mais do que almas com histórias individuais, temos aqui a representação das injustiças cometidas à milhares de vidas, vítimas de tratamentos desumanos por diversas civilizações.
Nesse instante, Samuel, cuja voz carregava a sabedoria e a compaixão de séculos, continuou: - Estes espíritos carregam o peso de eras de injustiça e sofrimento, causados por ações que transgrediram o divino. E isso sim deve ser reparado. No entanto, essas almas ainda têm os olhos fechados para a realidade de que, em um momento, somos a vítima e, no outro, o transgressor, e esse é o maior motivo pelo qual devemos perdoar, "perdoar para ser perdoado", como dizia um sábio.
Nisso, Jasmim se dirigiu ao lado de Elohim e tocou-lhe o braço delicadamente, demonstrando que gostaria de transmitir algumas palavras também: - Luanda pede que eu diga que a reparação sistêmica não é algo simples de se curar, pois carrega toda uma memória incrustada, assim como herdamos a aparência de ancestrais de tempos imemoráveis. Essas memórias fluem de geração em geração.
Olhando para o invisível, Jasmim dá um longo e profundo suspiro, como se absorvesse as instruções, e prossegue: - Sim, a carga de nossos ancestrais continua a permear até os dias de hoje, através de seus descendentes, e tudo isso atinge do micro ao macro, ou seja, somos parte da história do planeta, somos células, somos as memórias, e somos parte da vida de nossa amada mãe Terra. Por isso, cada reparação que fazemos pode não resolver os inúmeros emaranhamentos existentes, mas já é um nó a menos e uma célula mais saudável no planeta.
E assim, o salão se encheu de um profundo silêncio reflexivo, e após alguns instantes Samuel voltou a falar: - Sim, minha irmã Luanda, somos as células deste planeta, tanto vocês que estão em matéria como nós aqui do outro lado. Cada um de nós faz parte dos órgãos vitais deste planeta. Infelizmente, muitos agem como células cancerígenas, adoecendo a vida aqui existente ao agir de forma egoísta, acreditando que são seres isolados e apenas sugando, sem contribuir.
Com o silêncio que se formava a cada pausa das sábias palavras proferidas no salão, ouvia-se ao longe as vozes masculinas recitando mantras do lado de fora, confortando o coração de todos os presentes. E o vento suave que adentrava o salão fazia oscilar as chamas das velas, completando a atmosfera acolhedora.
- Porém agora, meus irmãos - continuou Samuel através de Elohim - temos que concentrar nossas melhores vibrações e formar um grande vórtice de luz para despertar esses irmãos que estão aqui presentes adormecidos nessas macas. Sem a colaboração de cada um de nós com nosso acolhimento, não conseguirão perceber a luz que ainda existe dentro deles e continuarão a vagar na escuridão do ressentimento e da vingança.
Após essas palavras, com o consentimento de Samuel, os enfermeiros começaram a retirar os fios que mantinham-se conectados aos pacientes, fazendo-os aos poucos começarem a se mover ao acordar de um sono longo e profundo. Logo, já se notava as expressões de pavor ao tomarem consciência de que haviam sido capturados novamente pela equipe já tão conhecida.
Natã, com urgência arrancou os fios que ainda não haviam sido retirados e num pulo levantou-se da maca, notando constrangido que vestia uma camisola hospitalar. - Cadê minhas roupas? - gritou com revolta, Samuel se aproximou e tocou lhe o ombro, fechou os olhos e num respiro plasmou em Natã sua roupas, incluindo a túnica com capuz a qual lhe dava um aspecto sombrio e trevoso, enquanto os enfermeiros fizeram o mesmo com os outros, plasmando as roupas que eram comum a eles na vida com que mais se identificavam.
Jasmim orientou Violeta: - Luanda pede que se faça a conexão, pois sem a energia telúrica de Luan, o entendimento de Natã será dificultado.
Violeta aproximou-se de Luan e com as mãos em sua cabeça, invocou Natã, este entrou no corpo de Luan deslizando, e passando a se comunicar através dele: - Vocês não podem nos prender aqui, nós temos livre arbítrio! O que vocês estão fazendo é uma agressão aos nossos direitos! Isso é uma afronta à nossa liberdade!
Samuel, com uma postura paterna, se aproximou de Natã e tocou-lhe o ombro com gentileza, e respondeu: - Meu amigo Tobias, entenda que estamos aqui não para aprisioná-los, mas para oferecer uma oportunidade, como você já foi informado. Já era para vocês terem sido exilados da escola Terra há tempos.
Natã, estranhou ao ser chamado de Tobias, nome que lhe causava comoção e que há tempos ninguém o chamava assim. E como se estivesse cercado por uma força estranha, permaneceu em silêncio, ouvindo Samuel. - É a caridade dos irmãos aqui presentes que os protege de decair para a Terra Primali, o lugar primitivo que lhe mostrei. - disse Samuel, passando a mostrar novas cenas do planeta devastado, permitindo que os outros pacientes também vissem.
Samuel sabia que Terra Primali era um lugar abençoado, como todos os planetas, e que abrigaria muitas almas em estágio inicial de evolução. No entanto, para uma alma que já havia desenvolvido sua intelectualidade, nascer em um planeta primitivo representaria uma grande regressão e um verdadeiro aprisionamento para o espírito.
Todas as almas que já haviam decaído para planetas menos evoluídos sempre demonstravam uma saudade profunda, uma tristeza e uma sensação de serem estrangeiras em seu próprio ninho, sem entenderem que a saudade era, na verdade, a falta de sua "casa" anterior.
Mas Natã não conseguia acreditar, resistindo teimosamente à ideia, como se sua astúcia fosse suficiente para desafiar as leis universais, e começou a incitar os espíritos dos escravos à agressão, já que ele mesmo se sentia aprisionado dentro do corpo de Luan.
Fazendo-os agir de maneira tumultuada, lançando objetos etéreos, como correntes e grilhões, em direção aos presentes, enquanto tentavam de forma desesperada se libertar de suas amarras espirituais.
Os objetos não atingiam os participantes do ritual, mas a vibração era quase palpável, fazendo-os sentir a energia densa que chegava a lhes causar dores físicas, mal-estar e pensamentos intrusos.
Observando o momento crítico, Bella tomou a iniciativa e comandou que todos os presentes mantivessem os pensamentos elevados e que voltassem suas mãos em direção aos pacientes, emanando uma luz azul e visualizando a figura de São Miguel Arcanjo, como se ele envolvesse o salão com suas asas.
O auxílio da aura luminosa do grupo, não só ajudaram a manter a sessão sob controle, como também mantiveram Luan num sonho conturbando, vendo flashes entre a realidade material, espiritual e imaginária que se misturavam, mas sem dor, nem medo. Porém, quando São Miguel foi invocado, Luan teve a clara percepção de vê-lo enorme pairando sobre o ar, como se preenchesse todo o salão com uma luz tão forte quanto o sol, porém azul.
Os escravos, aos poucos foram se desarmando e demonstrando que não aguentavam mais viver daquela forma e, por conseguinte, cederam em receber o auxílio oferecido e em regenerar as suas vidas, ao invés de continuar presos a um passado ao qual não havia sobrado nem uma mera construção em pé, apenas vivia nas suas lembranças.
Samuel, ainda através de Elohim, sorriu satisfeito trocando olhares agradecidos com toda a equipe material e espiritual, enquanto Natã, se enfurecia com a traição que recebia, já que o combinado era permanecer unidos para quebrarem o sistema que os obrigava a ceder para aqueles que não mereciam o perdão. - Eles estão fazendo lavagem cerebral em vocês, reajam! - gritou Natã já se sentindo enfraquecido sem a egregora vingativa: - Resistam! Resistam!
Raivoso virou-se para Samuel, cuspindo fogo através do olhar de Luan, expressou mais uma vez a sua revolta: - Vocês se acham bons, mas estão defendendo pessoas terríveis, assassinos! Eu é que deveria estar sendo protegido aqui! Vocês sabem quantas mortes presenciei? - tentando recuperar a respiração que quase lhe faltava na angustia, respirou fundo e prosseguiu: - Vocês sabem os horrores que esse senhor Henrique, que vocês chamam de Luan, me passar?
Samuel, silencioso, aguardava pacientemente que mais uma vez Natã expressasse suas revoltas sempre demonstrando compreensão, porém como se expressava através de Elohim, que havia lhe trazido tantas dores, isso só aumentava sua fúria. Então, contou a todos a velha história de quando teve de punir seu amigo, a intensidade e vivacidade de seu relato fez com que vários dos participantes não conseguissem conter as lágrimas.
- Tive que chicotear Joaquim até quase deixá-lo morto! É uma imagem que não sai da minha cabeça! - confessou Natã com pesar, revelando a gigantesca angústia que carregava por tanto tempo.
- Natã, entendo sua dor, imagino o quanto foi penoso tudo o que você passou na escravidão. – finalmente disse Samuel, quebrando seu silêncio, e confessou: - Eu mesmo já fui escravo! Sabia?
Natã ficou reflexivo por um instante e confrontou: - Então, você deveria estar do meu lado e querer fazer justiça!
A justiça já foi feita, meu caro amigo Tobias. - respondeu Samuel de maneira enigmática e olhando profundamente nos olhos de Natã, revelou sua verdadeira face.
Natã, assustado, gaguejou quase sem conseguir dizer: - Você... você... é o Joaquim?? Não pode ser!! - a comoção tomou Natã por completo, fazendo-o cair aos pés de Samuel, abraçando suas pernas, mesmo que através dos corpos emprestados.
Samuel se ajoelhou para alcançá-lo e olhando em seus olhos, respondeu: - Sou eu, meu velho amigo Tobias!
- Eu te procurei tanto para te o pedir perdão que eu não consegui pedir enquanto vivíamos como cativos! - disse Natã aos prantos: - Eu nunca me perdoei pelo que te fiz!
- E eu nunca te culpei, meu amigo, compreendo tudo o que já aconteceu comigo. - Samuel levantou-se, colocando Natã de pé também e mostrando-se, disse: - Viu como estou bem! Eu aprendi muito com as dores que passei, parei de olhar para as minhas próprias dores e me fortaleci para ajudar a curar as dores alheia. Infelizmente, amigo, você preferiu percorrer outro caminho e assim nos distanciamos.
Natã sentia que um peso imenso havia saído de suas costas e coração e, olhando para Joaquim com a aparência de Samuel novamente , respondeu com os olhos úmidos: - Parece estar bem mesmo! Mas... mas... por que só agora... só agora que você se mostrou para mim?
- Tudo tem o seu tempo, caro Tobias, e quando algo é feito fora do tempo, os resultados são infrutíferos. - respondeu Samuel com sabedoria.
Natã não pôde compreender, mas sua comoção era tanta, que se sentindo redimido, viu se na forma do antigo Tobias, forma essa que não carregava as energias animalescas as quais já havia se acostumado como Natã. Como se voltasse no tempo, vivenciou sua velha alma, sofrida e rancorosa, porém humana, desidentificando assim de sua forma como Natã que escondia a luz de seu interior e deformava o seu espírito.
Neste momento, cenas do passado longínquo se desbloquearam em suas lembranças, momentos de amizade e de esperança que compartilhou ao lado de Joaquim, de outros companheiros e da sua antiga família. Luan pode observar essas cenas desenrolando à sua frente e misturando a comoção de Natã sentiu um alívio imenso que lavava o coração dos dois simultaneamente numa enxurrada de luz que transcendia as explicações humanas.
Jasmim, Bella e Violeta que durante todo o processo se mantinham focadas no envio de energias para Natã, nesse momento sorriram uma para a outra com uma alegria transcendente, e então voltando-se para as mulheres ao redor, viram que todas compartilhavam do mesmo deslumbramento.
A energia tomou a todos, não só os presentes em matéria no salão, mas também os que estavam no plano extrafísico e os que se mantinham na área externa em permanente vigília. Até mesmo os outros escravos presentes se sentiram libertos de seus grilhões e num ato impulsivo rodearam Samuel num abraço fraterno e consolador.
- Vocês aceitariam visitar a minha morada, meus amigos? - perguntou Samuel àqueles sofredores, e com a confirmação de todos, se despediu dos presentes, partindo para o além com toda a sua equipe luminosa, após as singelas palavras: - Fiquem na paz, amados, e continuem sempre na senda do bem, ajudando as almas necessitadas com amor e paciência.
Violeta, colocou Elohim sentado na poltrona e com as mãos em sua cabeça, desacoplou Samuel de seu corpo na contagem de um a sete. Elohim, se alongou todo, respirando profundamente e tomou uma água que Jasmim lhe trouxe, como a buscar energias materiais para reacoplar mais rapidamente.
Enquanto, Belle, amorosamente fez o mesmo com Luan, desacoplando Natã através de suaves toques e palavras desconhecidas. Luan, como se acordasse de um sono profundo, abriu os olhos com dificuldade e com estranheza observou todos ao redor lhe fitando com cumplicidade.
- Tome essa água. - orientou Jasmim para Luan, que tomou a água entre bocejos.
- Como se sente, Luan. - perguntou Violeta.
Luan, se sentindo meio dopado, com um sorriso respondeu: - Me sinto num estado de paz nunca antes sentido, mas sinto que tenho muitas coisas para processar ainda.
- Com certeza, a sessão de hoje trouxe reflexões profundas a todos nós. - respondeu Violeta, observando os acenos afirmativos de todos os presentes, e virando se para Elohim perguntou: - Como está se sentindo Elohim?
Elohim com seu humor caracteristico respondeu: - Sinto como se eu tivesse levado uma surra de travesseiros mágicos! - disse tirando um riso de todos e num tom reflexivo confidenciou: - Foi um dos processos mais difíceis que já presenciei!
- Certamente, Elohim, como nosso irmão Samuel disse, foi um trabalho onde não somente os envolvidos se trabalharam mais sim todo um karma sistêmico do planeta que foi representado através dos pacientes hoje atendidos. – e Violeta concluiu perguntando se todos estavam bem, olhando fixamente de um em um.
Violeta, vendo que a hora avançava disse: - Elohim, verifique se todos lá fora estão bem, e chame-os para que venham fazer o encerramento juntos.
Assim sendo, logo o salão se tornou pequeno para as trinta e sete pessoas presentes, mas após tirar as poltronas e se organizarem em círculos foi possível acomodar a todos de forma confortável, inclusive Luke que entrou procurando seu tutor e ao achá-lo fez festa.
Elohim, ao entrar trouxe o turíbulo com pedaços de carvão da fogueira que os homens fizeram na entrada do chalé, Bella logo lhe entregou as ervas secas que logo emanaram suas bênçãos no ar, limpando qualquer miasma ou energia intrusa que pudesse restar.
- Antes de encerrarmos Luanda gostaria de dizer algumas palavras, Jasmim? - perguntou Violeta já observando o sorriso característico de Jasmim para a sua mãe.
- Sim. - disse Jasmim modificando a sua postura corporal após um tremelique no corpo inteiro, e com um olhar luminoso, logo começou a falar com uma voz diferente, coisa que não era comum, pois geralmente ela só repetia o que ouvia: - Amadas sementes da Mãe Terra, hoje é um dia muito especial, onde células do nosso planeta receberam a regeneração e isso graças ao empenho de todos.
Luanda através de Jasmim caminhava pelo salão como se desejasse olhar nos olhos de cada um individualmente: - Sim, sei que em alguns momentos não foi fácil segurar um quantum tão grande de energia, muitas vezes, extremamente densas, outras vezes tão sublimes que chega a assustar, não é?
Todos sorriram compactuando de suas palavras, e Luanda prosseguiu falando através de Jasmim: - Cada um aqui foi peça fundamental para formar esse egrégora de luz que conseguiu adentrar o coração dos pacientes, fazendo-os se abrirem para a cura de suas mazelas espirituais.
E tomando um tom mais sério concluiu: - Mas saibam que na vida, não é como nos contos, onde tudo termina feliz para sempre. Essas almas prejudicaram tanto os seus perispiritos , formando verdadeiros buracos em seus corpos espirituais através de tantas revoltas, e isso só se cura através dos tempos, certamente necessitarão várias vidas para conseguirem a restauração completa.
O silencio tomou o ambiente de forma solene, fazendo com que nas pausas das palavras, se ouvisse as folhas das árvores balançando ao toque do vento suave.
- Almas nesse estado de degradação, muitas vezes nascem com diversos desafios, principalmente doenças mentais, físicas e principalmente emocionais, ou até mesmo com excassez de recursos básicos, somente após muita resignação conseguem se recuperar. - e abrindo um sorriso acolhedor, afirmou: - Por obra do amor, a maioria nasce em famílias que lhe dão todo o amparo necessário, porém, em alguns casos, nem isso possuem, e seguem por um caminho árido onde devem lidar sozinhos com suas provações.
Luanda observando que tinha a atenção de todos, voltou para o centro do salão e disse: - Bom, sei que vocês precisam descansar depois dessa árdua jornada, então antes de encerrar, apenas peço que entoem comigo um canto que emane muita luz para o caminho desses irmãos e de outros que necessitarem.
Luanda ajoelhou-se no chão e após um silêncio contemplativo iniciou o cântico, sendo seguida por todos na repetição gerando uma harmonia contrita.
"Eu tomo conta e dou conta
de cuidar de mim e dos meus irmãos.
Com as bênçãos da Mãe Terra seguramos nossas mãos.
Com sol, lua e coração,
Estrelas em celebração."
Assim que a vibração do cântico alcançou a todos como um bálsamo, Luanda levantou-se e disse suas palavras finais: - Gratidão, ontem, hoje e sempre! - Desacoplou-se então espontaneamente, sem a necessidade de intervenção, e deu um beijo na testa da filha, partindo de volta ao além.
Bella, pedindo a palavra de encerramento, brevemente disse: - Me lembro quando ouvi esse cântico pela primeira vez há quase duas décadas, foi um dia tão especial como hoje, onde muitas almas foram ajudadas e depois desse dia eu nunca mais fui a mesma e tenho certeza que vocês também não serão. - sorrindo satisfeita, concluiu: - Que vocês levem as bênçãos dessa sessão e emanem as por onde passar. So Mote It Be.
- So Mote It Be. - Todos responderam.
- Para o nosso encerramento gostaria de proferir uma oração que acabei de intuir e gostaria de compartilhar. - anunciou Violeta e recitou uma oração acompanhada pelo silencio do grupo:
Com a espada de São Miguel, afasto o mal,
Sua luz divina em meu ser é imortal.
Nenhuma energia negativa pode me afetar,
Pois estou protegido, ninguém pode me quebrar.
Que a Deusa me guie com amor e sabedoria,
E o Deus me fortaleça com coragem e harmonia.
Que São Miguel, guerreiro celeste, me acompanhe,
Na batalha da vida, sua proteção sempre se faça.
- Agradecendo a colaboração de todos em matéria e em espírito, está encerrada a nossa sessão. So Mote It Be!
- So Mote It Be. - Todos responderam em uma só voz.
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