Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo XLI - Sobriedade sentimental

Benício iria participar de uma corrida pela primeira vez desde que se envolvera em um pequeno escândalo com uma certa socialite com formação acadêmica e um empresário falido e rancoroso. O circuito Rio-Petrópolis era, certamente, menos emocionante que o famoso Trampolim do Diabo, mas não deixava de ser um percurso desafiador. Benício chegara em primeiro lugar neste percurso em 1923, o que o consagrou, oficialmente, como um dos melhores pilotos do Estado do Rio de Janeiro. Nessa última vez, estava acompanhado de uma mineira de olhos cor-de-mel com quem namorou por cinquenta e dois dias e algumas horas. Agora, encontrava-se no mesmo local, acompanhado de sua noiva, com quem iria casar-se em pouco menos de um mês – uma carioca de temperamento difícil (se não for uma redundância) e, oficialmente, sua última queridinha.

– Eu quero ser uma piloto! – Exclamou Estela, no camarote, enquanto voltava para seu assento acompanhada de Vitória.

– Estela, pare de graça! – Repreendeu Laura.

– É sério!

– Ela ficou muito animada em conhecer a Gillian Hayworth. – Disse Vitória, rindo.

– Ah, Vitto, Benício que me perdoe, mas hoje minha torcida é para a Senhorita Hayworth. – Anunciou Estela, rindo. – Perguntei à ela se eu poderia tornar-me corredora um dia e ela disse que sim, que eu posso fazer o que quiser! Não é incrível!?

– Meu Pai Eterno... – Murmurou Laura. – Bem, prefiro-te dirigindo carros do que pilotando aviões como a tua irmã.

– Como assim? – Perguntou Marieta.

– Helena possui licença para pilotar aviões, querida. – Disse Vitória. – Ao contrário de mim. – murmurou – Não sabias?

– O quê!? Não! É claro que não sabia! – Disse Marieta, incrédula.

– É, ela é uma dona de casa diferenciada. – Comentou Vitória.

– Por que ela nunca me contou isso!?

– Ela também é uma dona de casa misteriosa.

– Não se sabe nada sobre Helena a menos que ela decida. Ela aprendeu a andar e só descobrimos quando ela tinha quase dois anos. – Comentou Laura. – Levamos ela no médico por estranhar a demora e descobrimos que ela sabia andar há meses, mas fingia que não na nossa frente.

– Meu Deus.

– Ela estava grávida do segundo filho quando decidiu contar-me sobre o primeiro. – Disse Vitória. – Ah, queria que ela estivesse aqui. – suspirou – Se me dão licença...

Vitória saiu do camarote e foi em direção à pista, onde os pilotos, alguns jornalistas e vários mecânicos estavam. Benício, dessa vez, pilotava um Bugatti com o número 10 estampado em suas laterais.

– Lamento informar-lhe, mas minha prima não está torcendo por ti hoje. – Disse Vitória, aproximando-se do carro.

– Como?

Vitória apontou para o Dodge de número 8, onde a belíssima Senhorita Hayworth posava em frente aos fotógrafos. Benício riu.

– Imagino que também não estejas.

– Eu? Ah, não. Preciso torcer por ti. Não posso me casar com um perdedor.

– Este desgosto eu não lhe dou. – riu.

De repente, um enxame de fotógrafos aproximou-se deles. Gritavam por seus nomes, pediam poses e faziam perguntas absurdas. Benício puxou Vitória e os dois posaram juntos com sorrisos amarelos para as fotos, sem responder uma pergunta se quer.

– Boa sorte. – Disse Vitória, baixo. – Ganhando ou perdendo, ainda podemos sair para encher a cara após a corrida.

– Claro. – sorriu – Ganho um beijo?

E, obviamente, um beijo dramático e escandaloso foi capturado pelas lentes de mais ou menos quinze fotógrafos de uma vez.

– Quando casarmos, vamos precisar transar em cima do carro para gerar comoção. – Comentou Benício, rindo para as câmeras ao fim do beijo.

– Idiota. – Comentou Vitória, também com um sorriso estático para as câmeras.

Mas, ao contrário do que se imagina, não é o tamanho do beijo que determina o tamanho da vitória. Benício precisou contentar-se com um terceiro lugar – para a surpresa de muitos, afinal ele era o favorito. Os repórteres não pouparam as línguas para assediar Vitória com perguntas sobre o noivado e se ela acreditava ter sido a razão da falta de sorte dele – afinal, um simples beijo dela resultara em uma vitória gloriosa poucos meses atrás. Obviamente, um terrível mal-estar foi causado e não houve bebedeira para comemorar – ou, lamentar – a terceira posição do campeão estadual.

A relação dos noivos permanecia fria, mas sem brigas. Foram vencidos objetivamente pelo cansaço de brigar. Havia um certo ressentimento entre eles, mas de nada adiantava discutir o tempo todo ou reclamar pelo inevitável. Falavam um com o outro apenas quando necessário, saiam juntos apenas para fazer graça às famílias e, de vez em quando, ainda tentavam dar uma chance àquele sentimento que precedeu o noivado. Mas tudo parecia sem graça e tediosamente rotineiro. Vitória, por um lado, começou a encarar isso como uma coisa boa. Muita paixão poderia complicar ainda mais algo tão burocrático quanto um casamento. Estando em plena sobriedade sentimental, ela saberia melhor o que fazer quando as coisas ficassem difíceis, quando os inevitáveis problemas conjugais dessem as caras e decisões complicadas precisassem ser tomadas. Vitória detestava sucumbir ao papel de mulher frígida e racional – não acreditava nele, e nem em seus piores momentos, aqueles em que estivera consumida pelas dores do coração despedaçado, desejou ver-se livre daquilo que a tornava mulher, que a tornava humana. Mas era inegável a tranquilidade que sentia ao estar no controle – pelo menos dessa parte de sua vida.

Já era tarde da noite quando Vitória, após um dia exaustivo lidando com repórteres inconvenientes e gente curiosa no geral, recebeu uma ligação. Com preguiça de ir até seu escritório, atendeu na sala mesmo.

– Alô?

– Prima?  – a voz de Helena soou do outro lado da linha.

– Oi, Lena, como vai?

– Mamãe ligou-me mais cedo para contar sobre a corrida.

– Ah, sim. Foi bem divertido.

– Teu tom de voz denuncia o contrário. Está tudo bem, Vitto?

– Está. Está sim.

– Não está me convencendo.

– Casamentos são estressantes, não achas?

Bem, sim. Por isso casei-me em segredo. – riu.

– Um privilégio que não possuo.

– Como está essa situação?

– Os sócios de Benício não voltaram a importuná-lo depois que anunciamos o noivado, mas estão em cima.

– E tua situação na ABC?

– Disseram-me que ainda estão avaliando minha candidatura. Doutor Alberto disse que é provavel que seja deferida em Novembro.

Após o casamento...

– É muito mais seguro permitir que uma das poucas mulheres a se tornar membro da Academia seja uma mulher casada do que uma moça solteira de reputação duvidosa.

– É claro. – suspirou – Vitto, estás infeliz, minha cara?

– Não sei como responder isso.

– É uma pergunta muito simples.

– Queria que as coisas fossem diferentes, apenas.

– Não o amas, não é?

– Também não sei como responder isso.

– Ah, querida...

– Há muito tempo, coloquei em minha cabeça que só iria me casar por conveniência ou necessidade. E, no fim, estou me casando por amor.

– Então o amas?

– Amor à minha família, amor à minha casa, amor à minha carreira... Pelo bem de tudo que tenho. Por que sou muito covarde para fugir e começar minha vida do zero. Porque tenho medo de me ver sozinha novamente.

– Vitto...

– Eu não faço ideia se estou a fazer a escolha correta ou se estou cavando minha própria cova. – riu.

– E ele?

– O quê?

– Achas que ele te ama?

– Creio que tenha me amado. Hoje em dia, não sei. Ou prefiro não saber. Deus, por que tudo é tão complicado?

– Vitto, prometa-me uma coisa. Não poupe esforços para ser feliz, independente de tudo. Se isso significa, não sei, arrumar um amante, virar dançarina, redecorar tua casa, adotar um cachorro... – riu – Apenas faça.

– Tudo bem. – riu – Lembrarei-me disso.

– E, apesar de tudo, Benício é um bom rapaz. Lembras o que sempre me dizias quando estávamos na escola e eu detestava ser obrigada a assistir as aulas?

– "Há garotas em situação pior." – sorriu. – Mamãe sempre me dizia isso quando eu fazia birra ou dava uma de mimada. – suspirou – Eu sinto falta dela.

– Teu futuro marido é jovem, belo, não está atrás do teu dinheiro e o conheces suficientemente bem para saber que ele possui um bom coração. É bem mais do que muitas de nós têm direito, não é mesmo?

– Odeio o fato de precisar sentir-me grata por isso. Mas é verdade.

– Fique bem, prima. Estarei no Rio uma semana antes da cerimônia para ajudar-lhe com tudo.

– Obrigada, prima.

– Boa noite, querida.

– Boa noite.

Vitória permaneceu um tempo jogada no sofá com preguiça de se levantar. Quando, finalmente, decidiu sair dali, sentiu uma leve tontura por conta da rapidez com que se levantou e cambaleou. Procurou o móvel da sala para se apoiar e foi obrigada a ver sua vista normalizar o foco encarando o espelho em sua frente. Olhou para o próprio rosto, desencantada. Algumas linhas começavam a demarcar os contornos de sua face. Ela, que sempre vira beleza na maturidade feminina, não conseguia enxergar em si própria anos de sabedoria e plenitude. Enxergava anos de farra, bebidas, cigarros, corações partidos, noivados fracassados, amantes passageiros, viagens cansativas, mudanças contínuas, uma guerra ridícula e arrependimentos amargos. Olhou para uma dos porta-retratos no móvel como um espírito que encara seu defunto no chão. Ela e sua amiga, Rosalinda, em frente a uma ambulância, sendo fotografadas sem vontade nenhuma enquanto aguardavam ordens. Seus respectivos anéis de noivado, aquilo que as fazia levantar todos os dias de manhã e não desistir, pendurados em seus pescoços. Os objetos nas quais elas agarravam com força durante bombardeamentos. Objetos que representavam uma promessa que, para Rosalinda, foi cumprida. Para Vitória, nem tanto.

▪ ▪ ▪ ◇ ▪ ◇ ▪ ◇ ▪ ▪ ▪

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro