Capítulo LV - Um brinde a Helena de Castro González
A noite petropolitana estava quente e estrelada. Em sua casa, Helena e Sebastian ofereciam um jantar para mais ou menos trinta convidados - suas famílias e amigos mais próximos. A noite estava animada e descontraída, as pessoas pareciam se divertir e o champanhe, obviamente, era suficiente para uma gala inteira.
- Lili, venha cá! - Chamou Helena pela amiga. Lili foi até ela, que estava com Vitória.
- O que foi, queridas? - sorriu.
- Que tu achas que pode ser o amante de Marieta? - Perguntou Vitória, baixo, mas eufórica, com uma taça de champanhe em mãos.
- Amante!?
- Sim! - Exclamou Helena.
- Eu não estava ciente de que ela tinha um amante... - riu.
- Ela tem! Ela mesma contou-me há umas semanas, mas não quer revelar quem é de forma alguma. - Disse Vitória.
- Bem, talvez ela tenha suas razões para tal. - riu.
- Pare de ser chata! - Exclamou Helena. - Sei muito bem que estás tão curiosa quanto nós estamos.
- Surpreenderia-se como não estou. Parem de implicar com ela!
- Está bem, está bem. - Disse Helena.
- Então, Vitto, como vai o casamento?
- Jesus Cristo, estou casada há menos de dois meses. Quando as pessoas irão parar de perguntar isso?
- Depois de um ano. - Disseram Helena e Lili em uníssono. As três riram.
- Bem, respondendo à tua pergunta, vai muito bem. - Concluiu Vitória.
- Traduzindo, eles brigam e transam. - Disse Helena.
- E qual é o problema!? - Questinou Vitória.
- É sério isso, Vitto? - Perguntou Lili, preocupada. - Achei que estivessem tão apaixonados...
- Bem, querida, paixão acaba e, ou ela vira amor, ou ela vira ódio. No nosso caso, uma volúpia raivosa ou algo do tipo. Não te preocupes, logo passa e voltamos a nos ignorar por completo. Ele irá me trair com uma loirinha dez anos mais jovem, iremos nos separar para que ele case com ela ou algo assim e eu viverei o resto da minha vida como uma divorciada de sucesso
- O que eu faço com ela? - Murmurou Helena para Lili.
A recepção acabou e Helena anunciou que o jantar seria servido. Estavam todos rindo, conversando e aproveitando a comida sem pensar muito em compostura ou elegância. Metade da mesa era composta pelo falatório em espanhol dos parentes de Sebastián e a outra metade era um falatório em português da família de Helena e amigos do casal. Na hora da sobremesa, os anfitriões levantaram-se e Helena bateu levemente com o garfo em uma taça para chamar a atenção de seus convidados.
- Bem, há uma razão para esse jantar maravilhoso estar acontecendo esta noite. - Disse Sebastián, um pouco nervoso por conta da timidez. - Nós queríamos que estivessem todos reunidos porque temos uma notícia para dar. Helena, querida...
- Nós vamos ter outro bebê. - Anunciou Helena, com um largo sorriso.
Todos na mesa suspiraram de alegria e congratularam o casal pelo quarto filho que estava a caminho. Ao acabarem de comer, os convidados competiam pela atenção de Helena e Sebastián para parabenizá-los pessoalmente. Os homens retornaram para a sala de jantar para fumar, alguns convidados foram embora e Vitória, Marieta e Lili cercaram Helena para comemorarem com ela.
- Um brinde a Helena de Castro González, que sabe exatamente o que acontece durante um parto e, mesmo assim, está disposta a passar por isso pela quarta vez. - Propôs Vitória. As outras riram.
- Tenho que concordar com a Vitória desta vez. - Disse Lili, rindo. - Passei por isso uma vez e, eu amo meu bebê do fundo do meu coração, porém eu nunca mais quero fazer outro.
- Eu adoraria ter mais filhos, mas confesso que também acho que não teria disposição para um terceiro. - Comentou Marieta. - Terei que me contentar com meus futuros sobrinhos. - riu.
- É, não conte com isso, querida. - Resmungou Vitória.
- Vai acontecer. - Murmurou Helena.
- E como vão os planos para o Natal, queridas? - Perguntou Lili.
- Bem, eu vou para a Buenos Aires com Sebastián e as crianças. É ano de passarmos com a família dele e eles irão voltar para casa daqui uma semana.
- Meu primeiro Natal no Brasil em anos e não poderei passar contigo. - Reclamou Vitória, fazendo bico. - Marieta irá passar conosco na casa de Tio Afonso, certo?
- Claro. - sorriu.
- E tu, Lili? - Perguntou Helena.
- Bem, meu pai ainda me odeia. Minha irmã está nos Estados Unidos. Acho que será apenas eu e meu pequeno em meu apartamento no Palace.
- Não sejas boba, mulher! - Disse Vitória. - Passe o Natal conosco.
- Sim! - Exclamou Marieta. - Seria maravilhoso! Por favor...
- Está bem. Mas apenas se não for nenhum incômodo!
- Tu? Incômodo? Francamente, Aline. - Disse Vitória, sarcástica.
Helena foi despedir-se de alguns amigos que estavam de saída e as outras três continuaram conversando e bebendo na sala. Lili foi ao toalete e Vitória e Marieta continuaram ali.
- Vitto, conversaste com meu irmão sobre esta próxima corrida dele?
- Conversar o quê?
- Estou com medo de que ele não consiga retornar a tempo para o Natal. Não sei por que ele inventou isso logo agora. Deverias tentar convencê-lo a não ir.
- Marieta, eu não posso simplesmente dizer o que teu irmão pode ou não pode fazer.
- Claro que podes, és mulher dele!
- Ele é um homem adulto, Marieta. Ele sabe bem o que está fazendo. E o Gran Prix do Uruguai é importante para ele. Não te preocupes, ele irá voltar a tempo.
- Eu sempre acompanhei meu irmão nessas corridas. Vi tantos acidentes. Vez ou outra sai no jornal notícias sobre uma batida ou um piloto morto.
- Marieta, tudo o que fazemos pode nos matar de uma forma ou de outra. Eu sei que é perigoso, mas precisas confiar que ele será cuidadoso. Ele não é um garotinho que precisamos proteger, certo?
- Eu nunca irei para de me preocupar, não é mesmo? - riu.
- Acho que não. Mas se preocupar faz parte. Eu daria tudo para ter minha irmãzinha de volta, então eu entendo o teu apego. - sorriu - Apenas confie que ele ficará bem. Certas coisas estão além do nosso controle.
- Tens razão, querida. - sorriu - Bem, eu preciso ir ao toalete. E acho que vou dormir.
- É, eu vou procurar Benício e vamos dormir também. Estou surpreendentemente cansada. - levantou-se - E bêbada. - revirou os olhos.
Vitória andou pela casa a procura de Benício, mas não o encontrou. Foi até o jardim após escutar algumas vozes vindas de lá, mas ele também não estava. Um barulho de risadas chamou sua atenção e ela foi em direção à enorme fonte que ficava bem no centro do quintal dos fundos. Atrás dela havia um balanço de ferro e Vitória prontamente viu que era Sebastián que estava sentado nele com Helena em seu colo. Os dois estavam abraçados enquanto conversavam e riam. Vez ou outra, ele sussurrava algo no ouvido dela e beijava-lhe o pescoço. Ela mordia o lábio inferior ao sorrir enquanto o dedos alisavam a nuca dele. Vitória deixou escapar um sorriso e voltou imediatamente para o quarto, esquecendo-se completamente de Benício.
- Perdoe-me pela demora. - Disse Benício ao entrar no quarto. Vitória já estava deitada lendo seu livro.
- Sem proble... Como conseguiste sujar-se de graxa aqui? - Indagou Vitória ao ver a mancha escura na camisa de Benício.
- Não é graxa, é pólvora. - Esclareceu Benício enquanto abria a camisa e tirava os sapatos. - Estávamos nos estábulos vendo as armas de Sebastián.
- Armas?
- É, o primo dele, Pablo, sugeriu que fôssemos caçar amanhã de manhã.
- Caçar? Caçar o quê? Aonde?
- Patos selvagens. Aqui mesmo, no lago. Iríamos bem cedo e...
- Por favor, não façam isso.
- O quê?
- Sair para caçar... Por que querem caçar? Não iam passar o dia conosco?
- E nós vamos. - riu - Por que estás tão preocupada?
- Apenas prometa-me que irão passar o dia conosco amanhã. Quero dizer, Helena e Constanza ficarão furiosas se vocês sumirem assim de manhã. Tenho certeza que elas não estão sabendo disso e...
Benício debruçou-se sobre Vitória e beijou-a, calma e profundamente. Ele raramente a beijava daquela forma e ela sentiu derreter-se em baixo dele.
- Do que falavas? - Perguntou ele, rindo, ao romper o beijo.
- Eu não me lembro. - riu.
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