CAPÍTULO 5
Agora eu dominava de vez o quarto de Maxuel, todas as minhas coisas do outro quarto estavam lá, os meus produtos de beleza comprados por ele estavam em seu banheiro, dividindo espaço com as coisas do meu marido. Ele queria mudar a forma que nos chamaríamos em público, queria que o chamasse pelo menos de "querido", mas eu não estava conseguindo me acostumar com o apelido carinhoso. Era difícil até chamá-lo pelo primeiro nome, mesmo compartilhando a cama, a casa, estando ao lado dele em todas as refeições... Não dava, eu não escolhi por isso, provavelmente esse era o motivo da minha negação e dificuldade em me acostumar com aquele homem.
Os seus empregados também me chamavam de senhora, com respeito, me perguntavam o que eu queria para o almoço, para o jantar, me perguntavam sobre coisas da casa, coisas que eu nem conhecia. Maxuel deu a ordem de aceitarem qualquer opinião que viesse de mim, como a esposa do dono da casa, ele só dificultou as coisas pra mim, que nunca sabia bem o que responder. Pelo menos eu tinha a sala do cinema, que eu usava para ler, o sofá reclinável de lá era muito confortável. Maxuel também me comprou livros novos, alguns que eu descartei, eram livros mais da atualidade e eu preferia clássicos antigos e mais inocentes. Pelo menos ele tinha se esforçado, ou feito alguém se esforçar, já que Maxuel estava sempre mandando alguém fazer as coisas por ele.
Dois dias depois daquele beijo, Maxuel chegava da rua e se aproximava de mim para tocar meus lábios com o dele, dizia que era para eu me acostumar, mas só me deixava mais nervosa toda vez que o fazia. E agora tinha chegado o dia do evento, Maxuel me chamou logo depois do almoço para recebermos sua irmã na sala. Ela chegou com um homen e uma mulher, eles carregavam várias malas, pensei que pudesse ser da família deles, mas as pessoas só ficaram paradas como se esperassem a próxima ordem. Esmeralda veio primeiro até a mim, a beleza dela me deixava de queixo caído, com certeza não existia mulher mais bonita do que ela.
— Cunhada! Você está muito diferente — ela me olhou de cima a baixo antes de me abraçar, eu a abracei de volta e comecei a tossir por causa de seu perfume doce e forte.
— Você não muda, não é? Ainda bem que te amo — Maxuel disse ao se aproximar e abraçar a irmã. Eu acho que meus olhos estavam arregalados, podia um irmão amar o outro? Era qual tipo de amor? Fucei minha mente em busca do livro que li que falava sobre os tipos de amores, mas nada veio a cabeça.
— Também te amo, irmãozinho — ela riu e se afastou dele, voltando-se para mim novamente. — Está pronta para começar a mudança? Vamos demorar. — ela virou e chamou as duas pessoas que estavam junto dela, depois começou a sair da sala. Imaginei que fosse para eu segui-la também, então comecei a ir atrás deles.
— Meu amor, espere — Maxuel me chamou e segurou minha mão. Me voltei para ele com as sobrancelhas erguidas por não saber o que ele queria. O homem simplesmente se aproximou e encostou os lábios nos meus, demorou apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para me abalar. Ainda mais por ser a primeira vez que ele me chamava assim.
— Eu po-posso ir? — eu gaguejei, falando tão baixo que nem sei se ele ouviu. Maxuel apenas sorriu e assentiu.
Quase corri atrás da irmã dele e das duas pessoas que estavam juntas, entrei no quarto de hóspedes junto com eles e logo a mulher abriu uma mala cheia de algo que aprendi ser maquiagem e joias, e o homem abriu duas cheias de vestidos lindos de festas. Abri a boca maravilhada enquanto ele colocava os vestidos em cima da cama. Vi Esmeralda ir até o armário e abrir as portas, estavam vazios.
— Não era nesse quarto que você dormia? — ela perguntou, olhando pra mim.
— Não, era o do lado, mas... Agora minhas coisas estão no quarto de Maxuel — respondi, hesitando e ficando vermelha, com certeza.
— Até que enfim! Maxuel me contou que vocês mal se conheciam e que você nunca saiu de casa... Nunca vi isso antes, mas não estou aqui para julgar ninguém, e sim para deixá-la maravilhosa! — ela sorriu e juntou as mãos, como se fosse orar. — Gostou de qual vestido?
— Maxuel comprou muitos vestidos pra mim, você não precisava trazer os seus...
— Que nada, sua fofa! — ela riu e e balançou a mão uma vez. — Meu irmão tem dinheiro de mais, isso não fez nem cócegas no bolso dele. E além disso, aposto que só comprou vestidos extremamente comportados para você, eu trouxe alguns mais ousados.
— Ousados? — eu não entendi o que ela quis dizer, mas percebi que os vestidos na cama eram muito curtos e com cortes muito grandes, mostraria muita pele minha.
— Sim, não se preocupe com nada, você ficará belíssima, ainda mais do que já é. — eu fiquei tímida com o elogio, ainda mais porque Esmeralda parecia a moça mais bonita do mundo. Pensei em elogiar de volta, mas não o fiz por timidez.
Passei a tarde sendo "mexida" pelas mãos de todos eles, pintaram o meu rosto, foi aí Esmeralda me explicou que era maquiagem e me ensinou a usar as coisas, me explicou para que tudo servia, parecia que eu estava estudando física, era tudo difícil de gravar. Fizeram um penteado demorado no meu cabelo, prendendo com grampos e deixando meu pescoço mais esguio. Eu sorria com as brincadeiras deles, também me surpreendia com seus palavreados e as histórias que contavam. O homem, que estava junto, falava das aventuras dele com outros homens, o que me deixou em dúvida, eu achava que homens só se relacionavam com mulheres e vice-versa. Pelo visto os livros não tinham me ensinado muito, eu tinha muito o que aprender ainda, era tanta informação que minha cabeça parecia que ia explodir. Em certo momento, Raira entrou no quarto com coisas pra gente comer, avisando que foi a pedido de Maxuel.
Foi estranho, quando ela falou o nome dele, senti vontade de saber o que ele estava fazendo, se tinha pessoas arrumando ele, o homem do quarto com a gente passou alguns produtos em si, será que Maxuel também gostava de se maquiar? O homem tinha ficado lindo, mas eu não conseguia visualizar Maxuel de batom, seria bem engraçado, talvez eu estivesse achando mais comum naquele homem ao meu lado pois ele falava como se fosse mulher; tinha voz fina e se movia com certa elegância. Queria ter amigos, sabia o que era amizade, e aquelas pessoas pareciam ser o tipo de pessoas que eu ia querer contar as coisas também. Mas no momento, eu não tinha nada pra contar, o que eu tinha pra falar não chegava nem perto do que eles falavam.
— Não falem detalhes, vamos corrompê-la — Esmeralda avisou, mas ela ria bastante enquanto comia os morangos da travessa.
— Eu ainda não acredito que você seja virgem — a mulher disse, me olhando.
— Meu irmão vai dar um jeito nisso — Esmeralda olhou pra mim de um jeito estranho e eu desviei o olhar. Como assim "dar um jeito"? Do que ela estava falando? Como ela podia fazer pouco caso com uma coisa tão séria e importante? Será que isso era normal entre as pessoas?
Fiquei com essas dúvidas rondando a cabeça só até terminarmos de comer, depois me pediram para tomar banho e tentar não bagunça o cabelo e a maquiagem. Quando saí do banheiro enrolada na toalha, não tinha mais ninguém no quarto, as coisas que trouxeram tinham sumido com eles também. O vestido que escolhemos era vermelho e de alça, minha pele do busco ficou muito exposta e eu fiquei nervosa, o vestido ia até o joelho, mas tinha um corte que ia da barra até o meio da coxa. Esmeralda me contou que era um charme do vestido quando eu disse que estava rasgado e que precisávamos trocar. Fui motivo de risos deles e comecei a ficar brava, mas depois comecei a rir também, era contagiante e todos estavam sendo legais comigo até então.
Já estava noite e eu fiquei no quarto quando já estava pronta, me sentia bonita, usava um salto alto e era difícil me equilibrar nele, comecei a treinar andando no quarto, quase caí umas duas vezes. Quando já estava quase pegando o ritmo, bateram na porta e eu caminhei devagar para atender. Me supreendi por ver Maxuel parado na porta, minha surpresa ocorreu porque eu pensava ser a irmã dele ou Raira. O olhei de cima a baixa, ele estava muito bonito, todo de preto, menos a camisa de botão que era branca, a gravata era um laço no pescoço. Pelo menos era isso que me parecia, um laço ou asas de uma borboleta. Maxuel também me olhou dos pés a cabeça e eu queria me esconder, ele estava vendo o meu decote grande e as minhas coxas, se bem que as pernas ele já tinha visto muito quando dormimos juntos.
— Lucinda, você está.... Nossa as palavras fugiram da minha cabeça — ele piscava enquanto me olhavam e depois seus olhos pararam no meu rosto. — Está tudo bem? Como foi a tarde se arrumando? Gostou do resultado?
— Eu amei o que sua irmã e aquelas pessoas fizeram em mim, mas me sinto um pouco exposta — eu olhei para o meu vestido, não querendo deixar a irmã dele em más lençóis.
— Podemenos trocar, o importante é você sentir confortável.
— Não estou vulgar? — eu ergui o olhar timidamente para ele, Maxuel suspirou e balançou a cabeça.
— Está muito bela, perfeita, parece... Um sonho — ele levantou um braço e acariciou minha bochecha com os dedos. Fechei os olhos por um segundo e então senti seus lábios nos meus novamente.
— Eu... Não sei bem como responder a um elogio — confessei quando seus lábios quentes deixaram os meus. Quando ele me beijava, eu ficava extremamente nervosa, mas percebi que gostava muito quando fazia isso.
— Você pode apenas dizer "obrigada" — ele se afastou e ergueu o braço, pegando minha mão e colocando sobre o braço ele. — Está pronta?
— Eu acho que sim, senhor Maxu... Ham, querido — eu forcei meus lábios a dizerem as palavras certas.
— Está pegando o jeito, só espero que não saia tão forçado assim diante das pessoas que veremos hoje — ele sorriu, mas parecia tenso enquanto seguíamos para o carro que nos esperava do lado de fora.
Maxuel ficou segurando a minha mão a viagem toda, se não fosse isso, com certeza eu ficaria retorcendo os dedos, pois estava muito nervosa. Fiquei olhando o caminho, as luzes, os lugares que não conhecia. Eram tantos prédios grandes, casas diferentes, pessoas alegres, animais na rua... Era tudo estranho e fascinante pra mim, eu via casais se beijando e rindo quando o carro parava em algum sinal, via as mães com seus filhos, agachados e conversando, ou simplesmente balançando as mãos entre eles. Maxuel também estava em silêncio, olhava pela janela, as vezes sentia seus olhos sobre mim, mas eu não retribuía, o espaço pequeno me daria claustrofobia pois eu perdia o ar quando ele me olhava com tanta intensidade; era como se pudesse ver o meu ponto mais íntimo.
Chegamos em frente a um prédio grande de várias janelas, luzes começaram a piscar no carro e pessoas estavam em volta, esperando alguém ou alguma coisa. Maxuel saiu do carro e me deixou pra trás, fiquei aguardando sem saber o que fazer, até a porta ao meu lado se abrir e ele me ofereceu a mão para me ajudar a sair. Logo um monte de luzes piscaram em cima da gente, era de câmeras fotográfica, só não sabia por que motivo aquelas pessoas estranhanhas queriam tirar fotos nossa.
— O que está acontecendo? — eu perguntei para ele, bem baixinho. Maxuel sorria e me dava o braço novamente para eu o acompanhar por um tapete vermelho até dentro de um recinto.
— Apenas sorria para eles — ele disse, e eu fiquei sem entender, mas soltei alguns sorrisos tensos, meus olhos cegavam. Ele conhecia toda aquela gente?
Deixamos aquelas pessoas pra trás e entramos em um salão enorme que já estava cheio de pessoas com vestidos elegantes, os homems com roupas parecidas como a de Maxuel, as pessoas bebiam um líquido amarelado com bolhas, que me foi oferecido.
— Pegue a taça — Maxuel pegou uma e colocou em minhas mãos, pegando outra pra si. — É champanha, um copo não lhe fará mal algum.
— Tudo bem — eu provei o líquido e não gostei nada, fiz uma pequena careta e vi Esmeralda vindo em nossa direção sorrindo sem parar, ela estava linda.
— Eu deixei a sua esposa divina, já disse isso a ela? — Esmeralda disse ao irmã, que balançou a cabeça.
— Não tente me ensinar a elogiar a minha esposa — eu senti meu rosto ficar quente, ele estava me chamando de esposa em público, será que todos já sabiam? Ele tinha muitos amigos? Eu teria que conhecer todos? Eram tantas perguntas que eu me fazia.
— Eu acho bom. Tenho que apresentá-la às minhas amigas, prometo não demorar — Esmeralda me pegou pela mão livre e me puxou com delicadeza para longe de Maxuel, que nos olhava com a sobrancelha franzida, acho que ele não conseguiu ter tempo de questionar a irmã.
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