caindo · cadere
"Castelo de cartas — sentido figurado: qualquer coisa que demonstre fragilidade e que pode desabar ou desaparecer a qualquer momento."
"E com a verdade ele cairá. Pois sua formação exigia verdade, e as mentiras do tempo o fizeram fraco e desestruturado."
Para se edificar um castelo de cartas, é necessária uma base forte, um alicerce para que ela não caia futuramente.
Eu já era nascida quando esse castelo começou a ser construído. Via uma mulher que fingia ser forte porque já havia se machucado demais, e um cara jovem que queria estruturar uma família.
Parece perfeito, não?
Com os anos, a estrutura apresentou falhas. E talvez um ingrediente em específico tenha sido o ponto especial em que tudo passou a se revelar.
Um nascimento.
E desde então a história chata e repetitiva de protagonismo e exclusão entre os irmãos acontece — você já deve imaginar quem ficava de canto nas fotos de família —, e existia um culpado, empre existe.
Então todas as relações familiares e toda a base que eu tinha por existente foi por água abaixo.
Ruíram, como um castelo de cartas.
Mas isso foi pra mim. Taxada como um estorvo, um bastardo. Um empecilho na vida e no casamento da família perfeita.
Mas os outros integrantes só se sentiram realmente afetados um bom tempo depois. Nisso, o castelo já estava falho, rachado e feio. Ainda não quebrado. Faltava um estopim.
Mentiras, mais mentiras. Enganações e histórias. Olhos fechados para a situação.
O culpado agia e todos fingiam não perceber. Mas o que eu podia fazer? Era o meu padrasto, e eu era o alvo dele.
"Castello di carte". Maldito sotaque italiano.
Me chamou de vadia, vagabunda. O pior? Adivinhe.
Na frente da minha mãe. O que ela fez?
Nada. Nunca fez nada.
Aí começa o segundo estágio do castelo de cartas. Onde elas finalmente começam a cair.
Problemas com bebida. Detalhe: 16 garrafas de bebida escondidas.
Então a casa desmorona cada vez mais; e todos os dias os olhos deles se fechavam para o que aconteceria a seguir.
Sempre preferi seguir o rumo das cartas. E quando elas caíram; eu me deixei ruir também.
O cenário caótico e vagaroso corrompia cada vez mais o cerne de cada um: uns em tristeza, outros em raiva e ódio profundos; havia também quem sentisse alegria — afinal, era de se esperar que o causador de tudo isso estivesse alheio e feliz com o resultado de suas trapaças —.
O que os mantia dentro desse castelo?
Era um segredo que nunca ninguém saberia responder.
Amor?
Não, faltava amor e respeito em cada fala e atitude dali.
Orgulho?
Um casamento frustrado e uma vida de aparências não formam a melhor das combinações.
Dinheiro?
Talvez. Ele era o sustento da casa. Talvez ela só ficasse ali por querer uma vida de luxo.
Existem mil hipóteses do que os mantinha ali. Mas apenas uma coisa era certa:
O castelo está caindo.
E seu desmoronar tão sem ruído e cálido o faz parecer normal, mas sua leveza e vagareza o tornam, a cada segundo, mais caótico.
Seja muito bem-vindo.
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