09
Namjoon
Nos últimos oito anos da minha vida Jeon Jungkook sempre esteve presente, quase que 24 horas por dia. Era engraçado ver aquele garoto tão animado em se tornar tão parecido comigo...
8 anos atrás
(Faculdade de ciências criminais do Distrito 9)
Estava atrasado..
Droga de alarme que não tocou! Eu não poderia ter atrasado, pelo menos não hoje quando era o último dia de aula. Finalmente eu tinha terminado a faculdade dos meus sonhos e em poucos meses iniciaria minha pós graduação.
Estava tão absorto em pensamentos que quase não notei o chamado de meu orientador de tese.
-Namjoonie?!- Ele grita um pouco mais alto chamando a minha atenção.
-Oh, sr. Choi. Posso lhe ajudar em algo?- Pergunto rapidamente.
-Me acompanhe até a minha sala, por favor. Preciso falar com você.- Ele apenas diz isso e vira-se sem esperar qualquer resposta.
Respiro resignado e sigo o mais velho até seu escritório na parte central do enorme campus. Assim que adentramos a sala o mesmo não perde tempo indica-me a cadeira a sua frente e se põe a falar antes mesmo que eu tenho sentado no local indicado.
-Peço perdão pela pressa em tratar desse assunto mas não quero tomar muito do seu tempo, tendo em vista que já está atrasado.- O mais velho fala apontando para o relógio em sua mesa, fazendo com que eu sinta meu rosto esquentar devido a vergonha que sentia.- Bom, temos um aluno recém transferido que precisará de auxílio durante o próximo período letivo. Como não poderei auxiliar ou avaliar com devida atenção e precisão o desempenho dele por causa das correções dos trabalhos científicos, eu sentei e conversei com os outros professores deste curso que atualmente você estuda e todos concordaram que, dentre todos os alunos desta faculdade, você é o mais apto para ajudar essa pobre alma a se adaptar e a melhorar suas notas. Se você assim concordar, o reitor da faculdade concederá a você uma vaga na pós que tanto desejas com bolsa de 100%.
-Puta merda!- Falo espantado para logo em seguida me desculpar.- Perdão, mas me pegou de surpresa sr. Choi. O senhor fala sério quanto a questão da bolsa?
-Sim Namjoon.- O mais velho responde sorrindo discretamente.
-Eu aceito! Claro que aceito.- Falo entusiasmado.
O que eu não sabia era que os professores só queriam se livrar do peso que era o filho da professora mestre da faculdade e do caos que era Jeon Jungkook.
O começo foi realmente catastrófico, Jeon odiava estudar e só o estava fazendo por pressão de seus pais que obrigaram o jovem rapaz a fazer alguma faculdade para, no mínimo, ter uma formação já que se dependesse do garoto ele continuaria a viver sua vida monótona regada a muitos jogos e noites em claro virando garrafa atrás de garrafa de whisky.
Conforme o tempo passava, Jeon e eu fomos construindo uma amizade sólida. Como o próprio Jungkook dizia: "Você é o modelo de pessoa que eu quero me tornar, Hyung. Desde que eu o vi a primeira vez eu soube disso".
O marco mais importante de nossas vidas, o acontecimento que fortificou nossa amizade, foi o suposto assalto que tirou a vida de ambos os pais de Jeon. Um ano após seu início acadêmico na Universidade de ciências criminais do Distrito. O moreno tinha ficado arrasado, não saia de casa, não ia a faculdade, não queria visitas e tampouco comia. Nessa época eu tinha acabado de aplicar para o concurso da polícia distrital e tinha finalmente passado, coincidiu exatamente com uma missão de reconhecimento que eu teria que fazer e eu não estava no Distrito quando aconteceu.
Soube de toda história 3 dias depois quando retornei, segui imediatamente até a casa do mais novo que estava imerso em seu próprio luto. Foi extremamente difícil ajudá-lo mas Jeon transformou sua tristeza em determinação e jurou que nunca mais deixaria qualquer suspeito sair impune de qualquer crime. A morte de seus pais e a fuga dos suspeitos foi o impulso que ele precisava para dedicar-se ao futuro próximo.
Depois disso, eu assumi o papel de pai e irmão mais velho do Jungkook, ainda que eu tenha feito isso de maneira inconsciente. Não sei se por causa dos enormes olhos brilhantes e inocentes ou se era pela forma como ele me olhava com admiração mas Jungkook precisava ser cuidado por alguém e eu me ofereci de forma voluntária para assumir esse papel.
Dois anos se passaram e enfim, Jeon concluia sua faculdade e aplicava para a delegacia a qual eu fazia parte. Lembro-me de levá-lo para fazer a prova do concurso, de como ele estava nervoso e que quase comeu a casa inteira um dia antes da prova. Também me lembro do quanto ele chorou quando viu seu nome na lista de aprovados do concurso e me disse: "Espero que agora esteja muito orgulho de mim, Hyung. Eu dei o meu melhor, não sou inteligente igual a você mas me esforcei bastante e obtive resultados, estou muito feliz por isso".
Viver com Jeon Jungkook era ir de 0 à 100 em poucos segundos. Ele sabia agir profissionalmente mas vez ou outra parecia uma criança atentada de 5 anos. Ele era a alegria da delegacia, sempre sorridente, brincalhão, enchia os corredores com sua voz suave enquanto catarolava músicas aleatórias que, segundo ele, ajudava-o a pensar. Jeon era sinônimo de amor e alegria nos dias difíceis mas tiraram isso de mim bruscamente.
Enquanto eu olhava seu rosto pálido e sem vida naquele caixão, as lágrimas que eu tanto lutei para segurar caíram e eu chorei ruidosa e compulsoriamente. Jungkook achava que tinha aprendido comigo mas a verdade era que eu também tinha aprendido muitas coisas com ele. Eu encontrei no Jeon aquilo que eu nunca tive: A inocência e pureza da alegria e o meu lugar de paz.
Jeon Jungkook era minha família!
A minha mente encontrava-se anestesiada naquele momento e como forma de conforto passava em um enorme telão tudo o que eu já tinha vivido com o jovem que ali jazia. Eu me encontrava rodeado de gente mas eu me sentia vazio e sozinho. Pelo canto do olho vejo Taehyung se aproximar com Skyllar.
-Como você está, bro?- Ele pergunta dirigindo-me um olhar penoso.
-Não sei.- Respondo sinceramente.
-Você sumiu, não atendeu nossas ligações. Ninguém sabia onde você estava!- Sky fala com os olhos marejados cheios de preocupação.
-Eu não estava conseguindo assimilar o que tinha acontecido e eu não aguentei ver aquela cena por muito tempo.- Falo de forma robótica.
-Joonie, nós somos sua família! Estaremos aqui para o que você precisar, nos dê espaço para entrar.- A morena fala me abraçando fortemente.
-Um pedaço de mim morreu junto com ele, Sky. Estou tentando processar essa informação ainda, quando eu conseguir eu prometo que deixo vocês entrarem. Agora tudo que eu preciso é ficar sozinho.- Falo afastando o corpo pequeno de perto de mim.
A garota me olha com lágrimas descendo silenciosamente por suas bochechas antes de acenar positivamente e sair sem olhar para trás.
-Não a afaste desse jeito, você não sabe como ela ficou maluca de preocupação por sua causa.- Taehyung ralha comigo.
-Eu realmente preciso de um tempo sozinho, Kim, pra evitar esse tipo de coisa.- Falo apontando com o queixo em direção a Sky que chorava baixinho nos braços do Hoseok, não muito longe de onde estávamos.
-Não acho que se isolar seja o melhor no momento, Namjoon. E tenho toda certeza que isso não vai evitar que você, ainda que sem querer, magoe alguém.- Taehyung fala.
-Por favor, Taehyung...- Imploro num tom baixo. O Kim mais novo apenas observa meu rosto e sai sem dizer qualquer palavra que seja.
Não muito tempo depois, o corpo é direcionado até a cova e selado com muitas pás de areia. Quando a última pá foi colocada em cima do meu amigo uma chuva repentina começou a cair. As pessoas começaram a se recolher para dentro de seus veículos enquanto eu apenas sentei ao lado do local onde jazia o corpo do menor e me permiti chorar.
Chorei por não ter conseguido salvá-lo.
Chorei por me sentir sozinho.
Chorei por afastar e magoar aqueles que amo.
Chorei por não ter a mínima ideia de quem poderia ter feito isso.
Eu chorei ali debaixo das gotas de chuva fria por horas, até me levantar e seguir até meu apartamento em silêncio onde permaneci trancado por 5 dias ignorando tudo e todos que estivessem fora daquele lugar.
Dia 1
Eu quebrei meu apartamento inteiro a chutes e socos numa tentativa falha de liberar minhas frustrações e tristezas.
Dia 2
Eu entrei em negação e liguei diversas vezes para o celular do Jeon esperando que ele atendesse as minhas ligações e me falasse que tudo aquilo não passava de um engano. Uma pegadinha.
Dia 3
Me peguei vendo todas as fotos que tiramos juntos e lembrando de tudo pelo que passamos em todos esses anos de amizade.
Dia 4
Eu bebi como um maluco e voltei a destruir o que restava do local em que estava.
Dia 5
Eu levantei da cama, alimentado pela minha dor de cabeça, tomei um banho e comecei a organizar o caos que estava todo o recinto. Com a casa limpa, encomendei novos móveis, comprei comida e olhei uma última vez para foto mais recente que eu tinha tirado com o Jeon na nossa última noite de filmes e decidi no meu coração fazer o possível e o impossível para achar o culpado pela sua morte.
A morte do meu irmão não seria tratada como assunto vão e os culpados pagariam pelos seus atos. Eles sofreriam lentamente pelas minhas mãos!
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