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CAPÍTULO 37 - Confissão E Medo

|| Damon Black ||

    Eu não sabia exatamente para onde ir. Não havia um caminho certo, mas o choro de um bebê foi o meu farol para poder encontrá-lo.

Ele arqueou uma sobrancelha e esboçou um sorriso cínico.

— Priminho... sempre tão nobre, tão pronto para sacrificar tudo, não é? — zombou, embalando a cadeirinha da minha filha de forma que me deixou ainda mais alerta. — Mas quem disse que eu quero resolver as coisas?

— Não me teste, Caio. Você não vai querer ver até onde eu sou capaz de ir para proteger minha filha.

— Como um ato de boa fé a colocarei afastada. — disse enquanto se afastava para perto das árvores e  colocava a cadeirinha no chão com uma fria calmaria. — Viu? Não sou o monstro que tanto falam.

Ele olhou para mim e a fúria que cintilava em seus olhos era como uma tempestade impetuosa. Sua mão deslizou lentamente para trás das costas e em uma sincronização perfeita ambos sacamos nossas armas. Um de frente para o outro. O som metálico do movimento ecoou pelo espaço, seguido por um silêncio esmagador, onde o mundo parecia suspenso no tempo.

— Sempre achei que seria assim, priminho. Só eu e você, cara a cara.

— Você não precisa fazer isso — falei, mantendo a arma firme. — Ainda podemos resolver isso de outro jeito.

Ele riu, uma risada amarga e cheia de rancor.

— Não, Damon. Já passamos do ponto de retorno. Isso termina hoje com nós dois, aqui e agora.

Ele deu um passo à frente, a arma ainda apontada para mim.

— Seu pai e sua irmã Selena morreram, ainda há tempo para você não fazer essa escolha. — disse cauteloso.

Seus olhos piscaram, apenas por um momento, mas logo endureceram novamente. Um sorriso frio pintou seus lábios quando as palavras seguintes deixaram os seus lábios:

— Será que você agiria assim se soubesse que fui o arquiteto pelo sequestro de Heitor? Ou talvez pela morte do seu sogro e do seu pai? Sabe qual é a diferença e coisa incomum entre ambos? — perguntou, — o que eles têm em comum é que tudo foi planejado por mim. A diferença é quem participou. Por exemplo, no dia que seu sogro morreu quem estava lá sabotando o carro dele era o meu pai e o meu irmão Theo. Na do seu pai, foi Zayn que deu o descanso para aquele pobre homem. Em todos eles precisei do meu irmão Theo para criar o Aline perfeito.

Meu peito queimava, uma mistura de fúria e incredulidade. Apertei os dentes, tentando processar a enxurrada de revelações. Cada palavra dele parecia arrancar um pedaço de mim, mas eu não podia me deixar abalar. Não naquele momento.

Uma onda de ódio me envolveu. Caio não apenas tirou vidas; ele destruiu famílias e plantou sementes de dor que cresceram e sufocaram aqueles que eu amava. Vi Heitor se aproximar de Alice e levantar a cadeirinha com cuidado, tentando ser discreto para poder tirá-la. Respirei fundo, tentando acalmar a tempestade dentro de mim. Eu sabia que não podia ceder, que não podia perder o controle. Havia mais em jogo do que apenas minha dor e minha raiva; minha filha estava ali e eu precisava conseguir tempo para Heitor.

Alice havia parado de chorar fazia alguns minutos e foi devido a esse detalhe que o meu amigo conseguiu levá-la sem que sua presença fosse denunciada. O momento presente era incerto e desconhecido. Seja o que fosse que desenrolaria aqui e agora não queria a minha filha presente.

O som de pneus cantando invadem o local junto com as sirenes estridentes da polícia.

— Acabou Caio. Não tem para onde fugir. — digo.

A arma continuava firme em minha mão, mas minha voz carregava a certeza de quem sabia que aquele era o fim. Ele riu, mas desta vez não era a risada amarga de antes. Era um som vazio, resignado, quase irônico.

— Não precisa piorar as coisas.

Ele abaixou a arma lentamente, mas seus olhos ainda estavam cheios de cólera. A sirene parecia mais alta agora, os passos apressados dos policiais se aproximando. Eu mantive minha posição, observando cada movimento de Caio.

— Talvez tenha acabado para você, Damon. Mas para mim… — fez uma pausa enquanto seus olhos olhavam suas mãos e logo em seguida o meu rosto. Um brilho insano passou pelo seu olhar, como se a decisão final tivesse sido tomada. — Só termina com a sua morte.

Ele apertou o gatilho na mesma hora que suas palavras saíram. Foi tudo muito rápido. Sei que o instinto vibrou e foi em uma sincronização perfeita que ambos puxaram o gatilho. Ouvi o som de vários disparos alvejando o corpo de Caio, os sons reverberaram pelo local feito trovões.

Vi o corpo de Caio cambalear, suas pernas fraquejaram sem forças e ele caiu de joelhos. Então seu corpo caiu pesadamente no chão. Senti o impacto no peitoral, um calor cortante que se espalhou rapidamente. Minha visão começou a escurecer, tentei permanecer consciente, levei as mãos até o local atingido e senti o sangue escorrer por entre os meus dedos. Meu corpo reagiu antes que a minha mente pudesse acompanhar, pesado demais para que continuasse em pé, a dor era cortante, avassaladora, como se cada respiração fosse colossal.

Antes que eu caísse no chão, meus olhos, turvos e desfocados, procuraram pela origem do som que ecoava em meio ao caos. Uma voz familiar corria em minha direção, carregada de desespero, medo e uma dor que parecia emanar de cada fibra de seu ser.

Era ela. Valentina.

Queria dizer algo, qualquer coisa, mas as palavras morreram na minha garganta. Meu corpo parecia ceder mais a cada segundo, mas, em um esforço quase impossível, forcei meus olhos a focalizar o rosto dela. Se aquele de fato fosse o meu fim, eu precisava dizer que a amava, precisava prometer que tudo ficaria bem.

Mas antes que os sons ou as palavras pudessem sair, a escuridão me tragou, fria e voraz, como um fogo devorador que consumia o que restava de mim.

*

|| Valentina Martins ||

   A dor rasgava e sufocava o meu peito, vê-lo com os olhos fechados enquanto eu corria em direção a ele. Ver Damon deitado no chão, com os olhos fechados, parecia arrancar o ar dos meus pulmões.

— Damon! — gritei, minha voz tremendo, mas ele não respondeu.

Ajoelhei-me ao lado dele, minhas mãos instintivamente buscando tocar seu rosto, como se o contato pudesse trazê-lo de volta. Sua pele estava quente, mas o sangue que escorria pelo peitoral me fez soltar um soluço preso na garganta.

— Não, não faz isso comigo… — sussurrei, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Meu coração batia de forma irregular, como se a qualquer momento pudesse parar.

Peguei sua mão, apertando-a com força, enquanto minha outra mão tentava pressionar o ferimento, como se eu pudesse deter o inevitável.

— Fica comigo, por favor. Damon, você prometeu… — minha voz falhava, misturada com soluços.

O som das sirenes que antes parecia um alívio agora era apenas um ruído distante. Tudo o que importava era ele, e o pânico de perdê-lo fazia meu mundo desmoronar. Eu não podia deixá-lo ir. Não assim.

— Alguém por favor traga os para médicos! — gritei, a voz carregada de desespero, enquanto minhas mãos pressionavam o ferimento em seu peito.

Os policiais se aproximaram, um deles baixou a arma ao perceber a gravidade da situação e se ajoelhou ao meu lado. Meu mundo se resumia ao corpo de Damon, estendido no chão, enquanto o sangue continuava a manchar suas roupas e minhas mãos.

— Os paramédicos estão a caminho, senhora. Mantenha a pressão no ferimento — disse ele, a voz firme, mas com um tom de urgência.

— Ele precisa de ajuda agora! — implorei, minha voz quebrada pela dor.

O policial assentiu e começou a falar no rádio, acelerando o pedido por socorro. Enquanto isso, minha visão estava apenas em Damon. Seu rosto parecia mais pálido a cada segundo, e eu podia sentir sua respiração ficando mais fraca.

— Fica comigo, Damon… por favor, amor, aguenta só mais um pouco — murmurei, as lágrimas escorrendo livremente.

— Os paramédicos estão chegando — disse um dos policiais, tentando me acalmar, mas sua voz parecia distante. Quando os paramédicos finalmente chegaram, suas vozes eram urgentes, mas controladas. Um deles se ajoelhou ao meu lado.

— Senhora, precisamos que se afaste.

— Não! Eu não posso deixá-lo sozinho. — gritei, minha voz quase histérica.

Era como se meu próprio corpo se recusasse a deixá-lo, como se isso significasse que ele realmente partiria.

— Vamos fazer tudo o que pudermos, mas você precisa nos deixar trabalhar.

Soltei sua mão, hesitante, meu corpo tremendo como se estivesse prestes a desmoronar. Meus olhos não saíam dele enquanto colocavam máscaras de oxigênio e começavam a pressionar gazes no ferimento.

— Ele tem pulso, mas está fraco! — um dos paramédicos anunciou tentando me deixar a par da situação.

Enquanto eles o colocavam na maca, me ajoelhei novamente, minhas mãos sujas de sangue cobrindo o rosto. A dor era tão profunda que parecia impossível respirar.

— Por favor, Deus… não o leve. Não agora. Eu preciso dele. Nós precisamos dele… — murmurei, minha voz mal audível em uma prece banhada em desespero e súplica.

Quando começaram a levá-lo, levantei-me cambaleando, recusando-me a deixá-lo sair do meu alcance. O medo, o amor e a dor se misturavam em mim, criando um turbilhão que parecia que nunca iria cessar. Alice e Aaron estavam com Lina e Heitor, estavam bem, e logo encontrariam eles no hospital para que fossem examinados.

Na ambulância, o espaço parecia pequeno e sufocante. O som do monitor cardíaco preenchia o silêncio, cada batida irregular uma tortura para minha alma. Os paramédicos trabalhavam rápido, trocando instruções curtas entre si enquanto pressionavam o ferimento e ajustavam os equipamentos.

Sentei no banco ao lado da maca, incapaz de tirar os olhos dele. Damon estava imóvel, pálido, e o oxigênio cobrindo seu rosto fazia parecer que ele estava ainda mais distante de mim. Minhas mãos tremiam, ainda manchadas com o sangue dele, e cada respiração minha parecia pesada, como se eu também estivesse lutando para não desmoronar.

Enquanto o som do monitor cardíaco preenchia o silêncio da ambulância, me perdi em uma tempestade de pensamentos. Nunca imaginei que seria possível sentir tanto e temer tanto ao mesmo tempo. Era como se meu coração carregasse todo o amor que eu tinha por Damon, mas também todo o pavor de perdê-lo.

Sentir... é o que nos torna humanos, mas também é o que nos torna vulneráveis. Sentir é viver cada momento com intensidade, é se conectar profundamente com alguém a ponto de seu sofrimento ser o seu. Amar Damon me ensinou isso. Ele sempre foi minha força, meu porto seguro, e agora, vê-lo assim, tão frágil, tão próximo de ser levado para longe de mim, era como se parte de mim também estivesse morrendo.

E temer... temer é a sombra que acompanha o amor. Quanto mais você ama, mais você teme. Teme o dia em que essa pessoa não estará mais ali, teme o vazio que ela pode deixar. O medo é cruel porque ele nos rouba o presente, sufoca a esperança. Mas, ao mesmo tempo, ele nos faz perceber o quanto alguém é importante.

Eu nunca temi tanto como agora. Temo o silêncio que pode vir depois dessas batidas irregulares.

Amá-lo era como respirar. Era uma força vital, algo que fluía através de mim, dando sentido a cada dia. Cada sorriso seu, cada olhar que compartilhávamos, acendia uma luz dentro de mim que iluminava até os cantos mais escuros da minha alma. Era um amor que não apenas existia; era palpável, intenso, e inegavelmente real.

Senti-lo era um abrigo. Nos momentos em que o mundo parecia caótico e sem controle, ele era a âncora que me mantinha firme. Havia algo reconfortante na maneira como ele me segurava, como se soubesse que eu precisava de sua força. O toque dele era como um remédio, capaz de curar as feridas que a vida havia deixado em mim. O calor de suas mãos, a forma como sua respiração se entrelaçava com a minha, criavam um espaço seguro onde eu podia ser eu mesma, sem máscaras, sem medos. O amor trazia consigo a possibilidade de perda, e essa ideia era uma sombra constante no coração.

Porque, ao final do dia, o que eu sentia por Damon não era apenas amor; era uma conexão profunda que transcendia o tempo e o espaço. E essa conexão era algo pelo qual valia a pena lutar, mesmo nas horas mais sombrias.

***

    Sentada na sala de espera segurava meus bebês como se pudessem protegê-los de qualquer mal que pudesse surgir. Aaron e Alice haviam sido avaliados e estavam tudo bem com eles, não havia um arranhão ou hematoma em seus corpinhos. O jeito como seus olhinhos brilhavam, como se nada estivesse acontecendo, era um consolo temporário em meio à tempestade emocional. Mas, por dentro, eu estava dilacerada.

Beijei o topo da cabeça de cada um enquanto sentia uma avalanche de emoções inundar o meu peito.

Me deparei com o vazio da realidade nua e crua. Assombrando o meu coração como gotas de ácido sobre o meu tormento interno. Assim que chegamos no hospital Damon foi levado para o centro cirúrgico e eu precisei acompanhar os meus bebês para serem examinados. Ainda não tinha processado direito tudo o que havia acontecido, o sangue quente e a adrenalina ainda percorrendo o meu corpo nublava meus sentidos.

Senti o calor do sangue quente em minhas mãos, como se ainda estivesse pressionando o seu ferimento, mesmo que não tivesse mais. A adrenalina percorria meu corpo, fazendo meu coração disparar, enquanto a realidade começava a se instalar.

— Valentina… — Lina se ajoelha na minha frente e toca em meus braços. — Você precisa ir para casa levar os gêmeos com você. Vocês precisam descansar.

— Eu não posso, Lina. — digo com a voz embargada. — Eu não consigo.

— Eu entendo minha amiga. — disse ternamente. — vamos para o meu apartamento que é o mais perto do hospital para vocês. Sua sogra está chegando e assim que ela chegar, nós iremos.

Balanço a cabeça concordando enquanto as lágrimas caem. Eu estava abalada e por mais que tentasse não demonstrar fraqueza naquele momento, eu falhava. Lina pegou Aaron e o aninhou nos seus braços para que o mesmo pudesse dormir. Ao olhar para as minhas mãos vejo o sangue seco, grudado na minha pele e começo a entender a extensão do pedido de Lina. Eu precisava me recompor e cuidar dos meus filhos que precisam dos meus cuidados.

Quando minha sogra chegou abracei e juntas choramos, compartilhando o medo, a incerteza e a esperança de que tudo ficaria bem. Que Damon sairia bem do centro cirúrgico. Um tempo depois fui embora mas avisando que voltaria em breve, Heitor permaneceu no hospital com a minha sogra e eu segui com Carolina e os meus filhos.

No apartamento a primeira coisa que fiz foi fazer algumas compras online para os gêmeos e para mim. Itens essenciais como roupas, fraldas, produtos de higiene e um berço portátil para oferecer conforto à eles. Deixei os gêmeos dormindo na cama, aninhados sob um cobertor macio, com seus pequenos rostos serenos que contrastavam com o turbilhão em meu peito. Caminhei até o banheiro, precisando de um momento para respirar e processar tudo. Ao abrir a torneira para lavar as mãos, levantei o olhar e fui confrontada pelo meu próprio reflexo no espelho.

Eu me afastei da pia, apoiando as mãos no balcão. Meus olhos se fixaram no espelho novamente, mas dessa vez eu não olhava para o sangue ou para o cansaço. Olhava para alguém que ainda estava ali, lutando, mesmo quando tudo parecia estar desmoronando.

— Você tem que ser forte — sussurrei para mim mesma, a voz tremendo. — Por eles. Por Damon.

A água ainda corria na pia, misturando-se com o som abafado dos meus pensamentos. Fechei os olhos por um momento, tentando reunir forças, e comecei a limpar a minha pele, rosto e braços. Fechei a torneira, enxuguei o rosto com a toalha e voltei para a sala.

Quando as compras chegaram junto com Carolina dei banho nos meus filhos e coloquei roupinhas limpas e quentinhas. Segurá-los, cuidar deles, era o que me mantinha de pé naquele momento.

Só depois de ter certeza de que estavam confortáveis e seguros, busquei refúgio no banheiro. A água quente caía sobre a minha pele e ali desmoronei, por tudo e por todos. Ainda não havia notícias de Damon e essa falta consumia cada pedaço meu.  Fechei a porta atrás de mim, como se pudesse barrar o mundo lá fora, e entrei no box. A água quente começou a cair sobre minha pele, mas, em vez de trazer o consolo que eu esperava, pareceu abrir as comportas das emoções.

Ali, sob o jato constante, desmoronei.

A água quente misturava-se às lágrimas que escorriam sem controle, e o som abafado do chuveiro preenchia o espaço, camuflando meus soluços. Meus joelhos dobraram, e me sentei no chão do box, os braços envolvendo meu corpo em um abraço desesperado, como se isso pudesse aliviar o peso que esmagava meu peito. Respirei fundo, tentando encontrar algum equilíbrio. Precisava me recompor.

Fiquei ali por mais alguns minutos, deixando que a água levasse, ainda que por um instante, parte da minha dor. Após o banho vesti uma calça jeans confortável e uma blusa verde de mangas longas com pequenos botões dourados no punho e ao longo da gola. O tecido era macio e se ajustava ao corpo de forma simples. Nos pés, optei por uma sapatilha creme, discreta.

Olhei no espelho, meu reflexo ainda carregava os traços do cansaço. Passei a mão pelos cabelos úmidos, penteando-os com os dedos enquanto saia do banheiro. Olhei mais uma vez para os gêmeos no berço portátil. Seus pequenos peitos subiam e desciam em um ritmo tranquilo, e alisei seus rostinhos com ternura, ajustei a coberta que os envolvia e depositando um beijo suave em suas testas.

Carolina surgiu no quarto. Ela me observou em silêncio, seu olhar carregado de compreensão e preocupação.

— O jantar está pronto, Tina. — disse.

— Não tenho fome. — respondi enquanto velava o sono dos meus filhos.

— Precisa comer alguma coisa, Valentina. — Insiste preocupada.

— Obrigada, Carolina. Você já fez muito. — Respondi, tentando sorrir, mas sentindo meus lábios tremerem com o esforço.

Ela assentiu, mas não foi embora imediatamente. Ficou ali por um momento, como se soubesse que, embora eu mostrasse por fora estar bem, eu estava no limite.

Depois de um breve silêncio, ela se retirou, deixando-me cercada pela presença dos meus filhos e o silêncio do quarto. Os beijei e senti o cheirinho suave e com passos leves, saí do quarto e fui procurar Carolina. Encontrei-a na cozinha, reorganizando as compras que haviam chegado, como se buscasse algo para ocupar as mãos e a mente.

— Carolina... — chamei, minha voz trêmula enquanto lutava contra a culpa que já crescia em meu peito.

Ela se virou para mim, largando o que estava fazendo.

— Estou indo para o hospital. Você teria como olhar Alice e Aaron? — perguntei, os olhos fixos nos dela, enquanto minhas mãos se apertavam uma na outra.

Seu olhar era suave, compreensivo, pude notar seus olhos irritados, ela também havia chorado.

— Claro que sim, Valentina. Vá tranquila. Eu cuido deles.

— Obrigada — sussurrei, a voz quase sumindo enquanto tentava segurar as lágrimas que ameaçavam cair.

Passei as mãos pelo rosto, tentando me recompor. Nada mais seria como antes. O que havia acontecido nos moldaria de formas irreversíveis, marcando-nos como fogo que queima profundamente.

Eu sabia que ninguém sairia ileso disso.

Nossos filhos... Mesmo tão pequenos, cresceriam com histórias e segredos que jamais deveriam ter existido em nosso caminho. Depois, pude entender o que cintilava nos olhos de Carolina. Não era apenas preocupação, era culpa. Uma culpa silenciosa, que parecia pesar sobre ela como uma sombra. Talvez ela acreditasse que poderia ter feito mais, que poderia ter evitado.

Eu conhecia bem essa sensação. Essa culpa era familiar, pois também a carregava em meu peito. Como mãe, como esposa, como alguém que deveria ter protegido minha família a qualquer custo. E esse sentimento devora e consome tudo por dentro, esse tipo de dor não ouve argumentos. Ela se instala, criando raízes profundas, trazendo à tona cenários alternativos, perguntas sem respostas e um peso que parecia impossível de carregar.

Eu sabia que não podia ir por esse caminho. Era um solo altamente perigoso, o lamento e a culpa poderiam facilmente se transformar em uma prisão, isolando-me de tudo e de todos que amava.

Respirei fundo, enquanto entrava no Táxi para ir ao hospital.

*

    Faziam vinte minutos que estava no hospital, inquieta com a demora, andava de um lado para o outro. Mesmo indo na recepção ou parando alguma enfermeira para obter alguma resposta, ouvia a mesma e velha resposta: “Assim que tivermos novidades, informaremos a você.”

O tempo parecia se arrastar, e eu me forçava a lembrar que precisava ser forte. Mas como ser forte quando tudo o que eu queria era saber se Damon estava bem? A imagem dele, caindo, ferido, não saía da minha mente. Era como se cada cena estivesse projetada em um filme que eu não conseguia desligar. A ansiedade pulsava em minhas veias, uma batida incessante que tornava cada segundo mais difícil de suportar.

A presença do médico é notada ao sair de uma área restrita, seu olhar grave e sua postura firme imediatamente chamaram minha atenção. Ele atravessou o corredor com passos decididos, mas havia algo em seu semblante que fazia meu coração acelerar — talvez a tensão em sua mandíbula ou a forma como seus olhos, normalmente confiantes, pareciam carregar um peso.

Senti um frio na barriga ao notar que ele se dirigia a mim. O mundo ao meu redor pareceu silenciar enquanto eu aguardava ansiosamente por suas palavras. O tempo havia se arrastado, e cada segundo que passava tornava o desespero mais palpável.

— Senhora Valentina? — Ele disse meu nome com um tom sério, fazendo meu coração parar por um instante.

Com um movimento involuntário, me endireitei, pronta para ouvir. A expectativa e o medo se misturavam dentro de mim, como uma tempestade prestes a eclodir. 

Eu apenas olhava para ele, aguardando qualquer sinal, qualquer resposta que pudesse me dar alguma esperança.

— Eu tenho notícias sobre o seu marido — ele começou, e suas palavras pendiam no ar como uma lâmina afiada.

O tempo pareceu congelar enquanto eu me preparava para o que estava por vir. A sala ao meu redor parecia se desvanecer, e tudo o que eu conseguia ouvir era o batimento acelerado do meu coração. As luzes fluorescentes pareciam ofuscantes, e a tensão era quase insuportável.

— O procedimento foi complicado, mas ele está estável — continuou o médico, e uma onda de alívio misturada com ansiedade me atingiu como um tsunami. Mas, em seguida, ele hesitou, e esse pequeno silêncio fez meu coração afundar novamente.

— Contudo, há algumas complicações que precisamos discutir — suas palavras saíram pesadas, como se cada sílaba carregasse um fardo. Meu estômago se revirou, e a esperança que havia começado a florescer imediatamente se contraiu em um nó apertado.

— Complicações? O que isso significa? Ele vai ficar bem? — perguntei, minha voz tremendo, mas a urgência em meu tom não me permitiu me conter.

O médico respirou fundo, e suas feições endureceram ainda mais, como se estivesse preparando-se para relatar uma tragédia.

— O tiro causou danos em órgãos internos. Precisaremos monitorá-lo de perto nas próximas horas. Ele pode precisar de mais cirurgia, e não podemos garantir que não haverá efeitos a longo prazo. Na verdade, pode levar meses para que ele acorde.

As palavras do médico caíram sobre mim como um peso insuportável, e uma onda de desespero tomou conta de mim. A esperança que havia começado a florescer instantaneamente se contraiu em um nó apertado em meu estômago. Cada segundo que passava parecia uma eternidade, e a realidade da situação ameaçava me engolir por completo.

— Meses? — perguntei, minha voz quase um sussurro, lutando contra a crescente tempestade de emoções que me dominava. A imagem de Damon, lutando pela vida, perfurou minha mente e me fez querer gritar.

O médico assentiu, seu olhar expressando empatia, mas havia uma dureza em suas palavras que não podia ignorar.

— Precisamos ser realistas. O seu marido está em uma situação crítica, e o caminho à frente pode ser longo e cheio de desafios. Ele estará sob cuidados intensivos, e você terá que ser paciente.

— Eu preciso vê-lo — declarei, a determinação brotando dentro de mim, mesmo que meu corpo estivesse tremendo de ansiedade. O pensamento de não poder tocá-lo, de não saber quando ou se ele acordaria, era uma dor insuportável.

— Eu entendo — disse o médico, sua expressão um misto de compreensão e preocupação.

— Mas ele ainda está em recuperação. Você pode vê-lo em breve. Enquanto isso, a equipe está fazendo tudo o que pode.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Sentei na cadeira sentindo as forças faltar, ao meu lado minha sogra chorava inconsolável e Heitor… estava destruído em um canto da sala, envolto do seu próprio tormento.

Não lembro quais palavras falei ao médico, apenas que ele assentiu e logo em seguida se afastou. Afundei meu rosto entre as mãos enquanto sentia meu mundo desabar bem na minha frente. Sentindo-me pequena, encolhida e um nada perante a situação. A impotência de não poder nada para trazer de volta à luz, a cor da vida dilacerava o meu coração.

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4221 palavras...

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