CAPÍTULO 25 - O Que Nos Pertence
|| Damon Black ||
Dois dias depois…
O tempo parecia um borrão, os segundos se arrastando com o peso da perda. Havia se passado exatamente dois dias desde que meu pai morreu, e a ausência dele ainda reverberava em cada canto da casa, em cada respiro que eu dava. Um buraco tão profundo havia se aberto em meu peito que, às vezes, o simples ato de respirar parecia um esforço sobre-humano.
Fechei os olhos sob a água fria do chuveiro, permitindo que cada gota deslizasse pela minha pele, como se pudesse lavar a dor, amenizar a exaustão que me consumia de dentro para fora. A água escorria por meu rosto, misturando-se aos pensamentos caóticos que me assombravam desde o velório. Eu não podia perder mais nada. Não podia perder Valentina.
Desencostei-me da parede, sentindo o arrepio provocado pela temperatura baixa da água, e desliguei o chuveiro. O silêncio ao redor me fez perceber um som distante—o ranger discreto da porta sendo aberta. Suspirei pesadamente, passando as mãos pelo rosto e tentando organizar os pensamentos. Eu sabia qual seria meu próximo passo: encontrar Valentina e consertar tudo.
Enrolei-me em um roupão azul-marinho, pegando uma toalha para secar os cabelos enquanto saía do banheiro. Assim que pisei no quarto, estranhei a quietude. Meus olhos percorreram o espaço, pousando sobre a cama onde minha bagagem estava arrumada.
Então, notei a figura feminina na sacada.
Meu corpo enrijeceu por instinto.
Seus cabelos esvoaçavam levemente com a brisa, e seu vestido fluía ao redor do corpo esguio. A luz dourada do fim de tarde delineava sua silhueta, mas não precisei vê-la de frente para reconhecer quem era.
— O que faz aqui? — A pergunta escapou dos meus lábios num tom frio e hostil.
Ela se virou devagar, e nossos olhares se encontraram. Houve um breve momento de hesitação antes de sua expressão suavizar, mas não deixei que a surpresa ou qualquer outro sentimento tomasse conta de mim.
— Vim ver como está. — Sua voz saiu baixa, carregada de emoção, antes de pigarrear para disfarçar.
Cruzei os braços, mantendo a postura rígida.
— Você não tem o direito de entrar no meu quarto sem autorização, Érica. — Minhas palavras foram firmes, mas não agressivas.
Ela abaixou o olhar por um instante, mordendo o lábio inferior.
— Peço desculpas, Damon. Eu... acabei não me atentando a esse detalhe. — Respirou fundo. — Quando percebi, já estava aqui.
Ela deu um passo em minha direção, e meu corpo automaticamente recuou. Pequenos gestos que diziam mais do que palavras.
— Vi com a minha mãe. Nossas mães estão conversando agora, e eu... acabei me afastando. Meu coração me trouxe até aqui.
Seus olhos estavam carregados de expectativa, buscando algo em mim que não poderia encontrar.
— Érica, para com isso. — Minha voz saiu mais suave desta vez, quase como um pedido. — O que tivemos ficou no passado.
Ela engoliu em seco e um brilho úmido surgiu em seus olhos.
— Damon, eu o amo. Em todo esse tempo, não consegui esquecê-lo. — Sua voz vacilou e sua expressão se desfez em dor. — Pensava em você e na minha família para suportar cada pesadelo que vivi naquele maldito lugar.
Minhas mãos se fecharam em punhos ao lado do corpo.
— Eu lamento pelo que passou. — Meu olhar permaneceu firme no dela. — De verdade, Érica. Mas não posso lhe oferecer o que deseja. Meu coração pertence à minha esposa.
A menção de Valentina fez suas lágrimas finalmente rolarem.
— Como pode saber se realmente a ama? — Ela deu um passo mais próximo, os olhos ansiosos, vulneráveis. — Eu li sobre o seu casamento, Damon. Tudo aponta para um relacionamento de aparências.
— Você não sabe de nada. — A frieza na minha voz era inegável.
— Eu sei sobre a tradição da sua família, sobre a herança. Sei que casamentos como o seu acontecem por conveniência. Se for esse o caso... eu entenderia.
Respirei fundo, tentando conter a irritação crescente.
— Não, Érica! — disse com convicção, olhando em seus olhos para que não restasse nenhuma dúvida. — O que sinto por Valentina é real. Foi acontecendo aos poucos, sem que eu percebesse. Mas agora eu sei... Sei que ela é a mulher da minha vida.
Um silêncio pesado se instalou entre nós.
Érica assentiu devagar, as lágrimas ainda marcando seu rosto. Passou o dorso da mão para limpá-las e esboçou um sorriso frágil, que não chegou aos olhos.
— Eu sinto muito por tudo. — Sua voz soou quase um sussurro antes de dar as costas e sair do quarto.
Soltei um longo suspiro e passei as mãos pelos cabelos úmidos. Esperava que, dessa vez, ela tivesse entendido.
Meus olhos recaíram sobre a mochila na cama. Eu já sabia que Heitor não havia conseguido a localização de Valentina, e insistir nisso poderia acabar colocando o relacionamento dele em risco. Mas as últimas noites em claro me trouxeram outra alternativa.
Eu estava determinado a encontrá-la.
Peguei a mochila e saí sem olhar para trás.
*
|| Valentina Martins ||
Os dias estavam passando e a conformidade de que talvez o meu casamento havia chegado ao fim amarga o meu coração. Céus, eu o amo tanto! Suspiro, fazia alguns minutos que havia iniciado a massagem enquanto passava hidratante na minha barriga que já estava saliente.
Sorrio.
Parecia que o meu bebê estava apenas esperando ser descoberto para tomar espaço em meu ventre. Os gêmeos estavam amando o tempo na fazenda e se dedicavam em ajudar nas atividades do dia, já havia notado o quanto eles adoravam a vida no campo.
O som de batidas suaves na madeira da porta me tirou dos pensamentos.
— Já estou indo! — avisei.
Vesti um vestido folgado, que não marcava minha barriga, e calcei uma rasteirinha. Desde que chegamos, decidi ficar no chalé para hóspedes—o mesmo lugar que meu pai havia escolhido para se acomodar. Meus irmãos estavam no casarão principal, o que me dava a privacidade que precisava para chorar e lamber minhas feridas sem ninguém por perto.
Mas, ao abrir a porta, meu corpo paralisou.
Ele estava ali.
Damon fitava a copa da árvore em frente ao chalé, parecendo perdido dentro de si. Engoli em seco, sentindo o amor que nutria por ele apertar meu peito com força. Ele parecia cansado, abatido. Havia sombras sob seus olhos, a barba por fazer e uma tristeza evidente em seu olhar.
Seus olhos deslizavam por meu corpo, como se procurassem algo diferente da Valentina que ele havia deixado antes de viajar. Respirei fundo e, mesmo com a mágoa latejando em meu peito, decidi abrir a porta para ouvi-lo.
Respirei fundo e, mesmo com a mágoa latejando em meu peito, decidi abrir a porta para ouvi-lo.
— O que faz aqui? — Minha voz saiu mais ríspida do que eu pretendia.
Ele virou o rosto na minha direção, os olhos suplicantes.
— Valentina, precisamos conversar.
Cruzei os braços.
— O que teríamos para conversar, Damon? Acredito que a mídia já fez essa parte por você.
Ele fechou os olhos por um segundo, respirando fundo.
— Por favor, Valentina. Me dê cinco minutos da sua atenção… — Sua voz carregava um desespero contido.
Apesar da dor e da decepção, assenti. Queria ouvi-lo. Não queria tomar uma decisão precipitada da qual me arrependesse depois.
— Eu sei que errei. — Sua voz era sincera, carregada de peso. — Mas nada foi intencional. Quando a mãe de Érica pediu para buscá-la, aceitei porque sentia que devia isso a ela e à mãe dela. Passei anos carregando essa culpa, acorrentado a um fardo que me consumiu dia após dia.
Fiquei em silêncio, absorvendo suas palavras. Havia angústia, medo e uma pressão invisível sobre seus ombros.
— Dói saber que, por causa das minhas escolhas, posso perder você. — Ele passou as mãos pelos cabelos, exasperado. — Tem sido um inferno não tê-la comigo.
Fez uma pausa antes de continuar, e seus olhos brilharam com uma intensidade avassaladora.
— Valentina, eu amo tudo que construímos juntos. Foi por você que pude tocar a luz. Por você, encontrei o caminho de volta para casa.
Senti um nó na garganta. Pisquei rapidamente para afastar as lágrimas.
— Eu o amo, Damon. — Minha voz saiu baixa, mas firme. — Mas o fato de você ter simplesmente esquecido de ligar para mim machuca. Dias se passaram desde que você viajou para buscá-la, e depois que voltou… só agora veio aqui?
Ele abaixou a cabeça, respirando profundamente.
— Sinceramente, Damon… às vezes, tenho minhas dúvidas sobre o lugar que ocupo em sua vida. Desde que nos conhecemos, seu passado insiste em se fazer presente, e eu não vou brigar por espaço.
Ele ergueu o rosto rapidamente, seus olhos desesperados ao me ouvir dizer aquilo.
— Sweetheart… você é a minha vida. Meu coração é seu e de mais ninguém. — Sua voz era veemente, doce e sincera. — Cada momento que vivemos nos moldou, nos ensinou. Nosso caminho foi construído com amor e entrega. Nada foi em vão. Tudo foi e é por amor.
As lágrimas desceram sem que eu conseguisse impedir.
Passei as costas das mãos pelo rosto e respirei fundo antes de dizer:
— Eu preciso de um tempo para organizar meus pensamentos, Damon. Acredito que esse tempo será essencial para realinhar nossas vidas.
Virei-me e entrei no quarto antes que meu coração me traísse.
Porque, apesar da vontade avassaladora de correr para seus braços, eu sabia que, desta vez, palavras não bastariam.
Damon precisaria provar, com ações, a prioridade que eu ocupava em sua vida.
*
Damon estava hospedado no casarão e, como sempre, havia conquistado a todos com seu carisma. Suas investidas para me reconquistar eram diretas, e, confesso, estava ficando cada vez mais difícil resistir. Ele era um pacote completo de atos de serviço, e não digo isso apenas por nossas vidas estarem instáveis no momento.
Desde que vim morar no campo, me desliguei das notícias. Evitava qualquer matéria da mídia que sugerisse uma possível reconciliação entre Damon e sua ex. Mantinha contato apenas com Lina e Dona Maria por telefone.
A vida rural me fazia bem, tanto física quanto emocionalmente. Longe das preocupações e dos perigos que nos cercavam na cidade, eu me sentia mais leve.
Da janela, meus olhos captaram a figura do meu marido, cortando lenha com a destreza de alguém habituado ao trabalho braçal. Vestia-se de forma simples, parecendo um fazendeiro que coloca a mão na massa. Mas, por mais que tentasse camuflar, aquela sombra de tristeza ainda pairava sobre ele.
Já havia concluído as tarefas de casa e me preparava para visitar os familiares da minha mãe quando um grito de medo rompeu o silêncio.
Lucas.
O som me fez gelar.
Damon, distraído pelo susto, perdeu o equilíbrio e o machado deslizou de sua mão, atingindo sua perna. Atônita, saí do chalé a tempo de vê-lo remover a lâmina, o maxilar travado em uma expressão de dor contida. Mas, mesmo ferido, ele correu na direção do grito que vinha do galpão.
Segui logo atrás, o coração acelerado.
Ao chegar, a cena me fez prender o fôlego.
Lucas estava no topo de um monte de feno, pálido, enquanto no chão, uma cobra de tons vermelhos e pretos se enrolava sobre si mesma.
Levei a mão à boca para conter o grito que subiu pela minha garganta quando vi Damon se abaixar, pegar a cobra com precisão e segurança, como se tivesse feito aquilo a vida inteira.
Corri para alcançar Lucas, que tremia em choque, e o entreguei ao meu tio. Mas minha preocupação agora era outra.
Damon.
Saí à sua procura, o coração batendo descompassado.
O encontrei perto do reservatório de madeira usado para os cavalos, prestes a lavar o ferimento com aquela água nada confiável.
— Perdeu o juízo com a machadada, homem?! — disparei sem filtro.
Ele ergueu os olhos, surpreso ao me ver ali.
— Eu pensei que… — começou, mas o cortei, ainda nervosa.
— Assim vai infeccionar o ferimento! — me aproximei sem hesitar. — Vamos para o chalé. Precisa cuidar disso corretamente.
Ele tentou se apoiar sozinho, evitando que eu fizesse esforço físico, mas, teimosamente, mantive minha mão firme ao seu lado.
Assim que entramos no chalé, o guiei até o sofá e corri para pegar a maleta de primeiros socorros, toalhas e água limpa.
Com delicadeza, limpei o corte e suspirei aliviada ao notar que o sangramento havia parado. A lâmina não tinha atingido nada profundo. Um centímetro a mais e poderia ter sido uma tragédia.
— Descanse um pouco. — disse, guardando os itens e recolhendo as toalhas sujas para colocá-las na bacia.
Damon se deitou e, em poucos minutos, adormeceu.
Fiquei ali, observando-o, verificando sinais de febre ou qualquer sintoma preocupante.
Enquanto isso, Lucas já tinha se recuperado do susto, mas o medo de encontrar outra cobra o manteve dentro de casa pelo resto da tarde.
E eu?
Bem… eu tentava ignorar o nó apertado no peito ao ver Damon dormindo ali, vulnerável.
*
Três dias depois...
A noite havia tomado o céu, bordado de estrelas e iluminado por uma lua prateada. Toda a família estava reunida para comemorar o aniversário de casamento dos meus avós. Os parentes da minha mãe também estavam presentes, e todos se misturavam de forma calorosa e harmônica. O ambiente transbordava união e amor.
Aquilo aquecia meu coração.
Fazia-me perceber que, apesar da ausência dos meus pais, eu não estava sozinha. Um pedacinho deles ainda vivia ali, na história e nos laços que permaneceram.
E essa certeza me dava forças para enfrentar a perda.
Meus olhos buscaram Damon e o encontrei sentado perto da fogueira, conversando com meus tios. Antes que eu pudesse me perder observando-o, Lucas surgiu na cena, segurando um violão. Pediu que alguém tocasse, e Damon estendeu a mão para pegá-lo.
Os olhares se voltaram para ele, e as pessoas se aproximaram, ansiosas.
Lucas o observava com admiração genuína, enquanto Laura estava com algumas primas da sua idade, animada com a música prestes a começar.
Damon dedilhou as primeiras notas e, com sua voz macia e carregada de emoção, iniciou Sinônimos.
"Quanto tempo o coração leva pra saber
Que o sinônimo de amar é sofrer...
Num aroma de amores pode haver espinhos
É como ter mulheres e milhões e ser sozinho..."
A melodia preencheu a noite, e meu coração pulsou mais forte.
"Na solidão de casa, descansar
O sentido da vida, encontrar
Ninguém pode dizer onde a felicidade está..."
Damon ergueu os olhos e os prendeu nos meus. Havia algo íntimo e pessoal na maneira como cantava, como se cada palavra fosse escolhida para mim.
"O amor é feito de paixões
E quando perde a razão
Não sabe quem vai machucar
Quem ama nunca sente medo
De contar o seu segredo
Sinônimo de amor é amar."
Meus olhos lacrimejaram.
Aqueles dias, mesmo sob meus cuidados desde o acidente, Damon havia reduzido suas investidas. Estava mais calado, reflexivo. Parecia estar me dando espaço.
Quando o refrão se repetiu, todos se uniram à canção, tornando o momento ainda mais especial.
Minha vozinha Carmem se aproximou e enganchou seu braço no meu.
— É um bom rapaz, minha filha. — Sua voz carregava a sabedoria de quem já viveu o suficiente para enxergar além das aparências. — Todos erramos, alguns mais do que outros. Mas posso ver nos olhos dele o quanto te ama e o quanto essa situação o machuca.
Suspirei fundo.
— Eu sei, vovó. — Confessei. — Mas essa situação também tem me machucado. Achei que dar espaço afetaria apenas a ele, mas... me atingiu também.
Ela sorriu, acariciando minha mão ternamente.
— O amor, minha querida, é um cordão de três dobras. Ele resiste às tempestades da vida. Amores rasos não foram feitos para durar. — Seus olhos brilharam sob a luz do fogo. — Vocês ainda terão muito a enfrentar, seja na vida financeira, nos ciúmes ou nas dificuldades do dia a dia. Mas o que realmente importa não é o problema em si, e sim como vocês reagem a ele. Culpar um ao outro não resolve nada, apenas adia a solução.
Suas palavras entraram fundo no meu coração.
— Obrigada, vovó. Vou lembrar disso sempre. — Me aninhei em seu abraço, recebendo seu carinho.
Quando ergui os olhos, Damon já havia entregado o violão ao meu tio e agora encarava o fogo, perdido em pensamentos. Mas, em determinado momento, seus olhos encontraram os meus.
— Vou buscar as bebidas. — Meu tio Bob anunciou, levantando-se.
— Eu ajudo. — Damon disse, seguindo-o.
Minha avó se inclinou e sussurrou em meu ouvido:
— Está esperando o quê, criança? — Seu tom tinha um toque divertido. — Vai atrás do seu homem e resolva o que precisa ser resolvido.
Mordi o lábio para conter um sorriso e, sem hesitar, me levantei para ir atrás do meu marido.
*
|| Damon Black ||
Quando cheguei aqui, pensei que logo ficaríamos bem. Acreditei que meu arrependimento seria suficiente para mudar essa situação, então tentei me reaproximar. Mas depois do incidente com o machado, ao ver o seu cuidado comigo, me senti pequeno. Escolhi recuar. Respeitar seu tempo e seu momento.
Tudo estava uma bagunça. A dor pela morte do meu pai era uma sombra constante, e por mais que a vontade de chorar existisse, eu não podia ceder. Valentina merecia saber, mas não agora, não assim. Não queria que isso influenciasse seus sentimentos por mim. Ela estava magoada e precisava do seu próprio tempo.
Por isso, guardei para mim. Não falei sobre meu pai. Nem sobre sua gravidez.
Ela, por sua vez, parecia determinada a esconder a gestação, vestindo roupas que não marcavam sua barriga. E toda vez que eu tentava me aproximar, ela se retraía.
— Canta muitíssimo bem, Damon. — Bob comentou, carregando uma das caixas de bebidas. — Já pensou em seguir carreira musical?
— Obrigado, Bob. — Sorri de leve. — Na adolescência, cheguei a considerar isso, quando me reunia com os amigos. No fim, cantar sempre foi apenas um hobby.
— Sabe... as escolhas definem o nosso futuro e quem fará parte dele.
Depositamos os fardos sobre a mesa. Eu estava prestes a pegar um quando vi Valentina se aproximando.
— Pode deixar que eu levo esse.
— Obrigado.
Bob pegou as caixas e saiu rapidamente, nos deixando a sós.
— Oi. — Ela cruzou os braços. — Podemos conversar lá fora?
— Oi. — Me desencostei da bancada e a segui, sem rumo certo.
Ela hesitou por um instante antes de dizer:
— Obrigada por ter cuidado de mim.
— Eu que agradeço por ter salvado meu irmão...
— Não precisa me agradecer, Valentina. Considero os gêmeos como irmãos. Por eles, eu faria qualquer coisa. Vocês são minha família. — Passei a mão pelos cabelos, buscando as palavras certas. — E tudo que eu sempre precisei, mas não imaginava até te encontrar.
Andávamos lado a lado, sentindo o peso da conversa.
— Quando digo que sinto muito pelo que fiz... — continuei — realmente sinto. Dói saber que, por minha causa, coloquei nosso casamento à prova.
Ela parou de andar, segurando minha mão.
— Eu entendo que não foi sua intenção criar um conflito entre nós. Mas eu me senti insegura quando você decidiu ir sem me consultar. Afinal, se tratava de um antigo amor seu. Agora, com a mente mais clara, percebo que essa insegurança veio porque eu não confiei no seu amor por mim. Isso gerou mágoa, incerteza e instabilidade.
Sua mão subiu até meu rosto, num carinho lento.
— Eu sinto muito pelo que ela passou. Não posso nem imaginar o inferno que foi a vida dela. Sofrer, sem a família, sem esperança de liberdade. Ninguém merece isso. Essa realidade é assustadora e me faz perceber o quanto sou privilegiada. Não posso fechar os olhos para as injustiças do mundo.
Seus olhos de ônix brilharam com as lágrimas que surgiam.
— Você a procurou por anos, sem aceitar o conformismo dos outros. Isso só prova a bondade que existe em você, Damon. E esse detalhe... foi o que trouxe a liberdade de volta para ela.
Ela acariciou meu rosto com ternura.
— É justamente por isso, e por muitos outros motivos, que entreguei meu coração a você. Eu te amo, Damon Black.
Minha boca encontrou a sua em um beijo apaixonado. Sentimentos silenciosos se manifestaram em toques, suspiros e na entrega do momento.
O que nos pertencia sempre daria um jeito de voltar para nós....
— Eu nunca trocaria o que temos por algo que ficou no passado. Minha vida é você. Somos um só.
Beijei sua testa com carinho, sentindo seu corpo se aninhar no meu.
— Nada na nossa vida aconteceu de forma tradicional. Tudo foi intenso, rápido e profundo. Não sou perfeito, Valentina.
Ela apertou os braços ao meu redor.
— Nossos caminhos se cruzaram por uma razão, Sweetheart. Você me salvou de uma vida de escuridão. Seu amor me mostrou que o que eu sempre procurei... estava em você.
Deixei um beijo no topo da sua cabeça, inalando seu cheiro com carinho.
— Eu amo vocês. Meus tesouros, que nenhum dinheiro pode comprar.
Desci minhas mãos até sua barriga.
Ela arregalou os olhos.
— Como você descobriu?
Sorri de canto.
— Encontrei o teste de gravidez atrás da cortina do nosso quarto. Todo mordido.
Ela riu, a alegria brilhando em seus olhos.
— Max...
— Imaginei.
Segurei seu rosto entre minhas mãos.
— Amor, não suma assim de novo. Fiquei preocupado, sem notícias suas. Agora eu entendo quando Zé Ramalho canta: "Quanto tempo o coração leva pra saber que o sinônimo de amar é sofrer..." O vazio de não te ter... dói. A saudade faz morada e nada faz sentido sem você.
Seus olhos se encheram de emoção.
— Não mais. Meu lugar é ao seu lado.
E, com essa promessa, nossos lábios se encontraram mais uma vez.
Voltamos para perto da família de mãos dadas, e houve uma pequena comemoração ao perceberem que havíamos nos resolvido. Minutos depois, trouxeram um bolo de dois andares, e os avós de Valentina cortaram a primeira fatia, oferecendo-a aos gêmeos.
Vi os pequenos correrem para abraçar os avós, e minha mente viajou no tempo. Eu sabia a história que cercava aquela família. O desentendimento que os afastou. O tempo perdido. Mas, no fim, a distância apenas fortaleceu os laços.
Segurei minha esposa em meus braços enquanto observávamos os avós darem um selinho para comemorar cinquenta anos de casamento. Bodas de ouro.
Eles enfrentaram desafios, dificuldades e desentendimentos, mas nunca desistiram um do outro. Sempre lutaram pelo que acreditavam: o amor.
E aquilo... aquilo era inspirador.
Voltamos para casa no final de semana, deixando os gêmeos curtirem as férias no campo, fortalecendo os laços com a família e se desconectando da cidade. Nosso casamento estava bem. Mas os problemas ainda não tinham desaparecido.
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3708 palavras.... ❤️
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