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CAPÍTULO 21 - Lidando Com O Inimigo

||Damon Black ||


    Havia se passado uma semana desde que havíamos voltado da lua de mel. Os dias foram preenchidos com risos e sussurros, como se o mundo fora da nossa bolha não existisse. Durante os três dias em que nos ausentamos, dediquei-me totalmente à minha esposa, mergulhando no calor da nossa conexão recém-descoberta. Precisávamos desse tempo só para nós, longe das obrigações e responsabilidades que nos cercavam.

Após muitas conversas e reflexões, decidimos que não seria necessário nos mudar para outro lugar. A casa onde Valentina e os gêmeos cresceram continha memórias e um ambiente familiar que seria melhor para todos. Seria demais para os irmãos de Valentina ter que lidar com a saída do lar onde nasceram, e eu não queria sobrecarregá-los com essa mudança. Assim, nossa rotina permanecia a mesma, entrelaçando trabalho e momentos em família.

Sabia que sempre chegava tarde do cassino, um hábito difícil de quebrar, mas estava determinado a mudar isso. Algumas vezes, conseguia chegar mais cedo, ansioso para aproveitar a companhia dos meus pequenos cunhados e da minha bela esposa. Nesses dias, as noites eram repletas de risadas e brincadeiras, dividindo a mesa entre jantares animados, jogos de cartas que despertavam o espírito competitivo dos gêmeos e, às vezes, um filme escolhido por eles, que logo se tornava uma comédia familiar. Esses momentos eram especiais e inesquecíveis, gravados em minha memória como pequenos tesouros que eu não trocaria por nada.

Naquela manhã, após terminar de colocar as abotoaduras de prata, saí do closet e me deparei com a imagem que sempre aquecia meu coração: a minha esposa ainda dormindo. Os cabelos, longos e ondulados, já se encontravam abaixo do ombro, espalhados de maneira sexy sobre o travesseiro, como se dançassem suavemente ao ritmo do vento. Seus ombros descobertos revelavam sua pele macia e sedosa, que parecia brilhar à luz suave da manhã. Aproximando-me lentamente, deixei um beijo terno em sua testa, um gesto que sempre carregava um amor profundo e sincero.

Antes de sair, deixei um recado escrito em cima da bancada de cabeceira, como estava acostumado a fazer. As palavras, simples mas cheias de afeto, expressavam tudo o que eu sentia:

"Bom dia, minha princesa. Vamos almoçar juntos hoje. Amo você."

Deixei a caneta de lado e tratei de sair do quarto, sentindo a antecipação pelo que o dia me reservava. Ao descer para o andar de baixo, fui recebido pelos risos animados dos gêmeos que ecoavam da sala de jantar. Era uma sinfonia familiar que iluminava minha manhã, e, apressado, segui em direção ao som acolhedor. Me juntando a eles ao café da manhã.

*

Fazia duas horas que estava enfurnado no escritório, o tempo dividido entre revisar e assinar documentos, analisar as dívidas dos clientes para fazer os cortes necessários, responder e-mails importantes e participar de uma reunião com meu advogado. A reunião que havia acabado há poucos minutos tratou de uma atualização no meu testamento, que agora incluía minha esposa e seus irmãos, um passo que sentia ser essencial para garantir a segurança deles.

Atendi à chamada que vinha da recepção, meu tom de voz breve e direto.

— Pois, não?

— Senhor, há dois policiais aqui e informam que o assunto é de sua importância.

— Podem deixar subirem. Estou aguardando.

— Sim, senhor.

Cinco minutos depois, os policiais entraram na minha sala. Reconheci imediatamente o policial Michael, um conhecido do meio. Levantei-me para cumprimentá-los cordialmente, ambos vestidos de forma discreta, o que só aumentava a gravidade da situação.

— Senhor Black. Diante do seu pedido de discrição sobre o caso do seu sogro, viemos aqui trazer o relatório da investigação do carro.

— Agradeço pela atenção e cuidado. Venha, sentem-se — disse, gesticulando para as poltronas confortáveis da sala.

Uma pasta amarela foi estendida em minha direção, e pelo silêncio que emanava dos policiais, a certeza de que não se tratava de um acidente me atingiu como um soco no estômago.

Meus olhos percorriam cada linha do relatório, e à medida que as informações se desenrolavam, meu olhar se fixou nos policiais à minha frente.

— Sabotado? — A palavra saltou da minha boca, carregada de assombro.

— Felizmente, a investigação foi agilizada, pois a parte do motor não foi totalmente prejudicada — respondeu Michael, sua voz firme.

— Encontraram alguma digital?

— Havia apenas as do seu sogro — confirmou o segundo policial.

— Gostaríamos também de fazer algumas perguntas. É um procedimento padrão.

— Claro, fiquem à vontade.

— De onde o seu sogro vinha?

— Até onde sei, ele estava na fazenda da família, mas não sei onde fica localizada.

— Certo. Você sabe informar se ele estava sendo ameaçado por alguém? Alguma discussão recente que poderia ter gerado conflitos?

— Não, não tenho conhecimento de nenhuma ameaça.

— Ele possuía inimigos?

— Até onde sei, não.

— Como era o relacionamento dele com a família? Havia alguma tensão recente?

— Não, eles sempre pareceram unidos, pelo menos na minha presença.

— Ele havia mencionado alguma preocupação ou problema pessoal recentemente?

— Não, ele estava focado em seus negócios e na família.

— Alguma atividade suspeita que você tenha notado antes do acidente? Algo fora do comum?

— Não, tudo parecia normal.

— Ok, Senhor Black. Por hoje é só. — Ambos se levantaram e fiz o mesmo, um nó se formando na garganta. — Muito obrigado por nos receber.

Após as despedidas, eles saíram da sala. Engoli em seco ao refletir sobre o que tinha acabado de descobrir. Enquanto quase fui executado, meu sogro também estava na mira do inimigo. A ideia me causava um aperto no peito e uma sensação de impotência me envolveu.

Caio queria a destruição total.

O peso de manter essa informação oculta de Valentina me incomodava. Sabia que deveria contar a ela, mas a ideia de poupá-la dessa dor, ao menos por hora, era o que me impulsionava a manter tudo em sigilo. Esperaria primeiro o relatório do detetive, na esperança de que houvesse mais informações que pudessem ajudar a entender a situação.

*

|| Valentina Martins ||

Ao abrir os meus olhos, a luz suave da manhã filtrava-se através das cortinas, iluminando o quarto de forma acolhedora. Meu olhar se voltou para a bancada ao meu lado, onde um bilhete branco se destacava. Era uma tradição que Damon havia estabelecido desde que começamos a viver juntos: deixar pequenos recados para me lembrar o quanto eu era especial para ele. Um suspiro abobalhado escapou dos meus lábios enquanto eu esticava a mão para pegar o bilhete, o coração batendo mais rápido a cada segundo.

Um largo sorriso se estampou em meu rosto ao ler suas palavras carinhosas, que sempre pareciam iluminar até os dias mais nublados. Era como se ele soubesse exatamente o que eu precisava ouvir para começar o dia com ânimo. Damon sem dúvida tornava meus dias alegres e repletos de cor. Jogando o cobertor para o lado, busquei meu robe para cobrir meu corpo, sentindo o tecido macio contra a pele. A pressa começou a se instalar, pois percebi que estava atrasada para o trabalho.

Ultimamente, isso se tornara uma rotina. Uma exaustão profunda dominava meu corpo, e o sono, como um inimigo astuto, frequentemente me vencia.

Enquanto tomava banho, a água morna envolvia-me, proporcionando um breve momento de relaxamento em meio ao turbilhão de pensamentos. Talvez fosse hora de considerar reduzir um pouco minha carga horária de trabalho. Eu estava me transformando em uma máquina de trabalho, tentando me distrair e evitar confrontar o que realmente sentia em meu presente. Sabia que precisava de um equilíbrio, mas a ideia de recuar me deixava ansiosa.

Depois do banho, decidi vestir um vestido tubinho regata listrado, uma escolha que combinava conforto e elegância. Queria algo que não me apertasse, que me deixasse livre para me mover. O tecido suave acariciava minha pele, e eu me sentia um pouco mais leve. Nos pés, optei por um salto baixo na cor nude, perfeito para complementar a bolsa que havia escolhido, mantendo um visual prático e ao mesmo tempo sofisticado. Prendi os cabelos em um rabo de cavalo, gostando da sensação de frescor que isso me proporcionava, e apliquei apenas uma maquiagem leve para disfarçar as olheiras que se acumulavam.

Ao descer para o andar de baixo, o cheiro do café fresco invadiu minhas narinas, e vi que a mesa estava posta, com cuidado e carinho, como sempre. No entanto, meu apetite se recusou a aparecer, e fazendo uma careta de desapontamento, decidi que não conseguiria comer nada.

— Eu vou precisar de um tempo só para mim — murmurei para mim mesma, como um lembrete.
Segui em direção à porta, me afastando da mesa, e com um leve toque na alça da bolsa, caminhei em direção ao carro, sentindo a brisa da manhã em meu rosto. 

*

Uma lufada de ar escapou dos meus lábios, um suspiro de alívio quando senti meus músculos protestarem por uma pausa. O dia estava longo e cansativo, e a pressão que eu sentia nas costas era quase insuportável. Cedi à necessidade de descanso e pedi à minha secretária, Irene, que buscasse meu café da manhã no refeitório. Enquanto esperava, retirei os saltos dos pés, apreciando a liberdade momentânea. Comecei a massagear meus pés, um por um, sentindo o alívio fluir através de mim como um bálsamo. Cada movimento cuidadoso parecia derreter a tensão acumulada, e logo me senti mais relaxada.

Foi nesse momento que Irene entrou, trazendo as frutas cortadas que eu havia pedido. O aroma fresco e doce das frutas invadiu meu escritório, e uma onda de gratidão me envolveu.

— Obrigada, Irene. Estou faminta — disse, olhando para as cores vibrantes nas tigelas que pareciam alegrar o meu dia. O amarelo da manga, o vermelho do morango e o verde da uva pareciam prometer um sabor suculento e refrescante. Enquanto saboreava meu desjejum, uma sensação de saciedade começou a se instalar.

Foi então que um bater na porta atraiu minha atenção. Assim que respondi com um "entre", Irene abriu a porta e entrou novamente, com uma expressão de preocupação no rosto.

— Senhora, há um homem desejando falar com você — informou, sua voz um pouco hesitante.

— Quem é? — perguntei, intrigada.

— Ele já foi cliente daqui. Acredito até que foi amigo do seu pai pelas incontáveis vezes que vinha aqui ou pelos momentos que saíam juntos.

— E o nome dele, Irene? — indaguei, a curiosidade crescendo.

— Ele nunca se identificou. As mercadorias eram assinadas em nome do sobrinho, Theo.

— Tudo bem, pode deixá-lo entrar.

Irene assentiu e saiu.

O homem entrou no meu escritório, e seu rosto trazia uma sensação de familiaridade que me fez fruncir a testa, tentando recordar de onde eu o conhecia. No entanto, não consegui localizar a memória em meio à névoa do passado.

— Bom dia, Valentina. Eu era um velho amigo do seu pai — disse ele, estendendo a mão em cumprimento. Não me levantei, mas aceitei a mão estendida, sentindo a firmeza de seu aperto. — Meus sentimentos.

— Obrigada — respondi, tentando soar gentil. — Quanto tempo tem que conheceu o meu pai?

— São tantos que os números já me falham a memória — riu baixinho, olhando brevemente para o segurança que estava posicionado no canto da sala, como se quisesse garantir que tudo estava sob controle.

— Sente-se, por favor.

— Obrigada, serei breve — disse, ajustando-se na cadeira e olhando diretamente para mim, com um semblante sério. — Nunca escondi do seu pai o meu interesse em comprar esta empresa. Gostaria de propor a você uma compra, sei o quanto é difícil tirar uma empresa do vermelho, e por ter muita estima pelo seu pai, proponho comprar a empresa por um preço altíssimo — disse, estendendo um documento para mim.

Ao ler o que estava escrito, fiquei surpresa com o valor oferecido para a compra. Ele realmente estava interessado.

— Agradeço pela oferta de compra, mas a minha empresa não está à venda — respondi, mantendo um tom firme, mas respeitoso, reconhecendo o laço de amizade que houve entre ele e meu pai.

— Tudo bem, já imaginava a resposta, mas não custa nada tentar, né? — disse, sorrindo singelamente. — Mas, se acaso um dia mudar de ideia, não hesite em me procurar, Sra. Black.

Sorrindo apenas, tentei disfarçar a estranheza da situação.

— O senhor não se apresentou. Como se chama?

— Ah, sim. Quanta falta de atenção a minha. Sou Anderson Marques… — começou, seu olhar fixo em mim. — Gostaria de lhe presentear como uma forma de iniciar essa nova amizade.

Ele retirou de sua bolsa de couro uma pequena e quadrada caixa de chocolate, oferecendo-a com um gesto suave.

— Não estranhe, por favor. Tenho por costume presentear amigos ou futuros amigos na área empresarial — disse, estendendo a caixinha na minha direção.

— Obrigada — respondi amigavelmente. — Amo chocolate. Uma pena que seja de amendoim — lamentei ao ler que o recheio era de amendoim, uma escolha que não me agradava.

— Ah, que pena. Não gosta desse sabor?

— Não, não é isso. Eu tenho alergia ao amendoim — expliquei, sentindo um leve rubor nas bochechas pela confissão.

— Que pena. Lamento por não ter acertado na escolha.

— Sem problemas. Não tinha como saber — sorri gentilmente, tentando deixar a conversa leve.

Minutos depois, Anderson Marques se retirou, e enquanto fechava a porta atrás dele, tentei vasculhar em minha memória algum comentário do meu pai que citasse seu nome ou a imagem dele em algum ciclo de amigos que já haviam estado em casa.

Contudo, nada encontrei.

*

Senti meu estômago embrulhar, a sensação desagradável amargava meu paladar como se um veneno se espalhasse em mim. A pressão se acumulava, e eu mal consegui afastar a cadeira antes de levar a mão à boca e correr com urgência para o banheiro. A porta se fechou atrás de mim com um estalo, e antes que pudesse processar o que estava acontecendo, me debrucei sobre o vaso sanitário, a náusea tomando conta de mim.

Depois de vomitar, a fraqueza me atingiu com um cansaço repentino, como se todas as minhas energias tivessem sido drenadas. Enquanto me recobrava, percebi que a carga horária de trabalho sem uma pausa para descanso estava realmente me adoecendo. A pressão constante e a falta de cuidado comigo mesma finalmente pareciam ter feito efeito.

Após a descarga, fiz uma rápida higiene bucal, tentando remover qualquer vestígio do desconforto que me afligia. Decidi me sentar no chão do banheiro, encostando as costas na parede fria. Fechei os olhos por alguns minutos, permitindo que o silêncio me envolvesse, enquanto esperava me sentir um pouco melhor. O tempo parecia passar devagar, até que ouvi a porta se abrindo.

Uma montanha de músculos e altura entrou, sua expressão preocupada imediatamente chamando minha atenção.

— Eu estou bem — disse, antes que ele tivesse a chance de perguntar.

— Não foi o que me relataram enquanto vinha para cá — respondeu Damon, sentando-se ao meu lado no chão. Seu tom de voz era sério, e eu poderia ver a preocupação em seus olhos, como se ele estivesse avaliando cada detalhe da minha condição.

— Esses seguranças são uns fofoqueiros! — disparei, um pouco ranzinza. — A comida não me fez bem. Apenas isso.

Ele me olhou com um misto de preocupação e determinação.

— Vamos ao médico, mocinha.

Arqueei uma sobrancelha diante do seu aviso. Era típico de Damon ser tão protetor, mas eu não estava disposta a ceder.

— Damon, não vou ao médico. Eu já me sinto bem — afirmei, tentando manter a firmeza na minha voz. — Eu só preciso tirar uns dias de descanso, pode ser o estresse do trabalho — argumentei, sabendo que essa era uma verdade.

Ele pareceu me analisar por um momento, sua expressão de preocupação não diminuindo, mas, por fim, assentiu.

— Tudo bem — disse, sua voz ainda carregando uma leve hesitação.

Um latido no escritório chamou a minha atenção, e meu coração pulou de expectativa.

— Ah, já havia esquecido da surpresa — disse Damon, ajudando-me a levantar. Ele se afastou um pouco, dando espaço para que eu saísse do banheiro.

Ao entrar no escritório, uma cena adorável se desenrolou diante de mim. Sentado no tapete, com sua pelagem escura em tons dourados, estava um filhote de pastor alemão de pelos longos. Meu coração se derreteu instantaneamente ao ver aquele pequeno ser, que parecia tão cheio de energia e amor. Acalentei o filhote em meus braços, acariciando seu pêlo macio. Ele, por sua vez, respondeu com lambidas desenfreadas em meu rosto, fazendo-me rir diante de suas travessuras.

— Eu amei — exclamei, sentindo as emoções turbulentas se acalmarem com a presença do pequeno. — Já tem um nome?

— Não. Fique à vontade para dar um — respondeu Damon, observando-me com um sorriso satisfeito.

Suspirei e olhei atentamente para o filhote, que parecia estar tão feliz em estar comigo.

— Irei chamá-lo de Max — falei, decidida.

— É um lindo nome, amor — disse Damon, se aproximando. Em um gesto suave, ele beijou minha testa, e a ternura daquele momento me envolveu como um abraço caloroso.

— As crianças irão amar. Obrigada, meu amor — disse, sentindo-me grata e profundamente tocada pela surpresa.

— Agora vamos almoçar — sugeriu Damon, e eu percebi que estava realmente com fome. — Suas atividades empresariais encerram por aqui. Enquanto você tira esse tempo para descansar, irei administrar a empresa — avisou, e eu concordei, sentindo uma onda de alívio.

A ideia de ter um tempo para mim, longe das pressões do trabalho, parecia finalmente ser uma possibilidade real. A presença de Damon, fazia com que todas as minhas preocupações parecessem menores, quase insignificantes.

*

Após o almoço, deixei Valentina em casa, onde ela poderia descansar. Enquanto o motorista conduzia o carro em direção à casa da minha mãe, meu celular vibrava em meu bolso, indicando a chegada de uma mensagem. Tirei o dispositivo e, ao abrir, uma expressão de curiosidade se formou em meu rosto ao ler o nome que aparecia na tela.

"Caro, senhor Black…
     Acatando seu pedido, fiz a busca e abaixo está o vídeo que comprova que seu primo se encontrava em uma boate do centro. Atenciosamente, detetive Paulo Augusto."

Apertando os lábios, assisti ao vídeo que foi enviado. A filmagem mostrava claramente meu primo Caio em uma boate, cercado por pessoas e completamente alheio a qualquer situação que pudesse envolvê-lo na morte do pai de Valentina. O vídeo era um álibi que o tornava inocente diante da justiça, mas uma sensação de desconforto se instalou em mim. Uma inquietação crescia, e eu não conseguia tirar da cabeça a ideia de que havia algo mais, um dedo dele em todo esse enredo sombrio.

Talvez estivesse ficando louco, ou apenas obsessivo, por tê-lo declarado um inimigo em minha mente. Caio nunca havia me explicado os motivos que o levaram a se distanciar de mim, a menosprezar a amizade que eu tentei estabelecer em nome da família. O que poderia ter acontecido entre nós para que essa ruptura se concretizasse?

Um suspiro escapuliu de meus lábios enquanto eu levava a mão aos cabelos, sentindo o peso da exaustão me consumindo. Estava cansado de todo esse pesadelo constante que me acompanhava desde a infância. As memórias de conflitos no ambiente escolar, das viagens em família e dos momentos que deveria ter compartilhado, mas que sempre mantive em segredo dos meus pais, começaram a voltar à tona.

Talvez, fosse finalmente necessário haver um diálogo. Um verdadeiro entendimento que pudesse elucidar a raiz desse problema que se arrastava por tanto tempo. O que haveria por trás da insistência de Caio em ter em mãos a herança que, por direitos legais, foi passada para o meu pai?
Decidido a deixar de lado o orgulho e o ego que sempre me acompanharam, avisei ao motorista para alterar o percurso e dirigir-se à empresa de Advocacia Gonzalez. A sensação de que algo precisava ser feito, uma ação para desatar os nós que me prendiam a esse passado sombrio, tomava conta de mim. O carro deslizou pelas ruas enquanto meu coração pulsava com um misto de determinação e ansiedade, me preparando para encarar o que estava por vir.

*

Ao pisar na sala da presidência, fui imediatamente recebido pela secretária, que praticamente correu ao meu encontro. O olhar dela era nervoso, mas ainda assim me avaliava dos pés à cabeça. Ela parou na minha frente como se tentasse bloquear meu caminho em direção à sala de Gonzalez.

— Boa tarde, senhor Black. Posso ajudar em algo? — disse, com um tom solicito.

— Não. — minha resposta foi séria, quase rude, sem tempo para delicadezas.

Ao dar um passo para o lado, ela fez o mesmo, tentando barrar meu progresso. Fechei os olhos por um instante, respirando fundo, buscando um pouco de calma em meio à tensão que se acumulava dentro de mim.

— O Sr. Gonzalez está muito ocupado no momento. Ele pediu expressamente para que ninguém ousasse interrompê-lo até que a negociação se encerrasse de forma natural. — A voz dela tremia levemente, mas era firme.

— Serei breve. — disse, com um toque de impaciência.

Nesse momento, a porta se abriu, e Caio saiu de seu escritório acompanhado por dois homens. Assim que ele me viu, a expressão no rosto mudou completamente, e rapidamente despediu-se dos sujeitos que o acompanhavam, como se quisesse se livrar deles a todo custo.

— Primo, que surpresa vê-lo aqui. — Ele forçou um sorriso, sua alegria era tão falsa que quase doía. — Graças ao céu que você conseguiu sair vivo do assalto; hoje em dia, a segurança anda escassa com essa criminalidade à solta.

Filtrei os meus pensamentos, focando no que realmente importava: entender o motivo de seu desprezo por mim.

— Podemos conversar? — Perguntei, ignorando seu comentário irrelevante.

— Por que não? — Caio respondeu, com um tom desdenhoso, enquanto se dirigia para seu escritório. — É até interessante vê-lo vir ao meu encontro quando, na última vez, você me expulsou da casa da minha tia sem pensar duas vezes.

Ele se acomodou em sua cadeira, olhando-me com olhos atentos, curiosos, buscando entender a razão da minha visita. Eu me dirigi à parede de vidro da sua sala, contemplando o vasto azul do céu, sentindo como se estivesse tentando buscar alguma liberdade entre aqueles pensamentos pesados.

— O que levaria a ter a sua ilustre presença em minha empresa? Não me diga que está precisando de um advogado? — Caio indagou, com um ar de desprezo.

Respirei fundo, engolfado pela visão do branco das nuvens, e virei um pouco do meu corpo em sua direção.
Respirei fundo, engolfado pela visão do branco das nuvens, e virei um pouco do meu corpo em sua direção.

— Eu vim até aqui para entender os motivos que o levaram a desprezar a minha amizade, a incendiar os laços sanguíneos. Eu vim até aqui, Caio, porque não faz sentido você me odiar sem eu nunca ter lhe feito algum mal.

Ao ouvir minhas palavras, Caio ficou estático, e uma palidez tomou conta do seu rosto. Ele não esperava por essa confrontação. Sua expressão endureceu como pedra, e sua voz, agora dura, cortou o silêncio que havia se instalado na sala presidencial.

— Você é a maldita perfeição exemplar que uma família pode ter! — Rugiu, a raiva transbordando de suas palavras. — E não, não preciso da sua maldita amizade, ou que você entenda meus motivos! Você é a escória e a maldição dessa família! O único culpado por toda essa palhaçada é você!! Sempre fazendo tudo certo, sempre sendo o favorito.

— Não é isso! — defendi-me, tentando entender a profundidade de sua dor. — Eu só quero saber o que aconteceu entre nós. Nunca fui seu inimigo!

— Não, você não é meu inimigo! — Ele se aproximou da mesa, sua postura agressiva denunciando o rancor acumulado. — Você é o problema! A constante comparação, as expectativas que todos têm sobre mim por causa de você.

— Eu não tenho culpa pelos fardos que você decidiu carregar, Caio. — Respondi, a indignação subindo à minha garganta.

— Você é um parasita, Damon! Se alimenta da dor dos outros, enquanto se faz de herói!

Dando as costas, comecei a me dirigir à porta. Antes de atravessá-la, olhei por cima do ombro, encontrando seus olhos furiosos.

— Você é o único responsável pelos seus atos e consequências.

— Saia da minha frente, seu maldito!!! — Ele gritou, e assim que atravessei a porta, ouvi o impacto de algo se chocar contra a parede, duas vezes seguidas.

Não vim até aqui com a expectativa de que tudo se resolveria. Mas, ao confrontar Caio, pude entender uma coisa: todo esse sentimento negro que ele carrega é movido por uma terceira pessoa, alguém que havia alimentado suas inseguranças e rancores ao longo dos anos. Sem interromper o percurso, seguir para casa da minha mãe, iria jantar com ela e saber como estava.

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4062 palavras

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