CAPÍTULO 17 - O Sim Depois Da Tempestade
||Valentina Martins||
O dia estava cinzento, mas a determinação de manter a programação não me deixou abater. Havia algo especial em dedicar um dia aos meus irmãos, mesmo com as nuvens escuras cobrindo o céu. O reencontro de papai com a família dele e da mamãe me fez lembrar das escolhas que moldaram nossa história.
Enquanto terminava de me arrumar, escolhi um vestido de lã cinza que combinava com o clima e uma bota de cano longo que me deixava confortável. Meu cabelo estava solto em ondas suaves, e levei uma bolsa com o essencial para o dia.
A porta se abriu com um estrondo, e Lucas entrou apressado, seguido por Laura.
— Tina, já tô pronto! — Lucas anunciou, com uma animação contagiante.
— Nós não vamos assistir Os Incríveis, Lucas! — Laura protestou, claramente decidida.
— Quem disse que não? — Lucas respondeu, com o olhar desafiador.
— Eu estou dizendo. — Laura cruzou os braços, firme.
A tensão aumentava, e percebi que precisava intervir.
— Ok, ok… — disse, tentando mediar a situação. — Eu irei com a Laura, e o Damon acompanhará você, Lucas.
Não precisamos discutir.
A alegria de Lucas foi instantânea, e ele pulou, gritando:
— Yes, Yes, Yes!
— Todos prontos? — perguntei, olhando para eles.
— Sim! — responderam em uníssono, com a animação renovada.
Enquanto descíamos as escadas, não pude deixar de enviar uma mensagem para Damon, perguntando se ele estava a caminho. A expectativa por um dia divertido com meus irmãos me preenchia de alegria.
*
Conforme combinado, cada um assistiu aos seus filmes. Lucas ficou tão empolgado por estar na companhia do cunhado que, segundo ele, ambos estariam solidificando o laço. Era engraçado vê-lo tão entusiasmado, como se estivesse prestes a viver uma grande aventura.
— Tina, vou encontrar meus amigos! — disse animado enquanto pegava seu sorvete de baunilha, o olhar iluminado. Assenti e o acompanhei com o olhar até vê-lo encontrar os amigos no balanço, seu sorriso se alargando a cada passo.
— E você, Laura? — indaguei, tentando direcionar a conversa.
— Irei procurar um lugar tranquilo para ler — disse, pegando seu sorvete de chocolate com delicadeza, seus olhos já buscando a sombra de uma árvore.
Assenti e a vi andar em direção a uma árvore frondosa, onde se sentou sob o galho, tirando seu livro da bolsa com cuidado, como se aquele momento fosse sagrado. A imagem dela mergulhada em palavras sempre foi algo que admirei.
Damon segurava meu pedido e olhava para mim com um olhar analítico, como se estivesse tentando decifrar algum mistério. Peguei meu sorvete da sua mão e sorri contidamente, aquele pequeno gesto trouxe um conforto imenso.
Andamos em silêncio até um banco, onde tínhamos a visão limpa dos meus irmãos se divertindo. O ambiente estava cheio de risadas e alegria, e eu me sentia grata por estar ali, mesmo com a nuvem cinzenta acima.
Damon suspirou fundo antes de perguntar:
— O que te preocupa, Valentina?
— Tudo — respondi sincera, a vulnerabilidade escorrendo de mim como uma correnteza. — Nunca pensei que o amanhã me assustaria.
— Ei, vamos estar juntos. Sempre — disse terno, seu olhar profundo transmitindo uma segurança que eu tanto precisava.
Balancei a cabeça lentamente. Confiava nele de olhos fechados, mesmo quando o mundo à minha volta parecia querer me engolir. Soltei um lento suspiro, tentando me ancorar no presente, aproveitando meu sorvete e a companhia do meu noivo.
— Tem algum compromisso marcado para amanhã? — perguntou, quebrando o silêncio com curiosidade genuína.
— Irei comparecer à apresentação dos meus irmãos.
— Posso buscar vocês, se desejar.
— Adoraria — sorri serenamente, imaginando o momento em que ele viria me buscar, como um príncipe em um cavalo branco.
A tarde decorreu lentamente, como um filme em câmera lenta. Consegui tirar Lucas dos amigos quando o mesmo ouviu a palavra comida, seu olhar se iluminando. Ambos se animaram quando chegamos ao shopping e nos dirigimos para a praça de alimentação, onde o cheiro de comida misturava-se ao riso das pessoas.
Após os lanches, decidimos voltar para casa, o dia recheado de momentos simples, mas significativos.
Os seguranças contratados seguiam com o roteiro estabelecido por Damon, sempre ao nosso redor, mas não de forma opressiva. Em nenhum momento do nosso passeio ficamos sem a presença deles; apenas tínhamos espaço e privacidade para poder conversar e nos divertir. Da entrada da porta, observei o carro sumir das minhas vistas e senti aquela conhecida saudade por não tê-lo pertinho de mim, como se ele fosse uma parte essencial de mim que estava em falta.
Entrei e fui atrás dos meus irmãos, desejando reviver um pouco da nossa infância, aquela inocência que tantas vezes se perdia nas obrigações do dia a dia.
— Ei, quem contar a melhor piada ganha um desejo realizado. — sugiri, querendo ser mais presente na vida deles.
— Eu topo! — Lucas exclamou, animado, quase pulando de excitação.
— Eu também! — Laura concordou, fechando o livro e olhando para nós com um sorriso travesso.
— Lucas já ganhou…já ganhou — cantarolou, provocando a irmã que revirou os olhos em respostas.
Soltei uma gargalhada diante da cena e me juntei a eles no tapete da sala.
*
Quando abri meus olhos pela manhã, vi a fina chuva surgir, uma cortina de gotas que pintava o mundo lá fora em tons de cinza. O aspecto triste daquela manhã gélida tocou meu coração, mas tentei afastar a sensação fria para longe, decidida a não deixar que o tempo nublado interferisse no meu dia. Avancei para me arrumar, assim mantive minha mente ocupada com as tarefas do cotidiano.
O banho frio despertou-me e levou embora o restinho de sonolência que resistia em mim. O vapor quente do chuveiro me envolveu, e deixei que a água me renovasse. Após todo o procedimento de cuidado com a pele que costumava fazer, escolhi uma calça alfaiataria pantalona fúcsia, que trazia um toque vibrante e ousado ao meu visual. As fendas nas laterais davam um charme a mais, enquanto a blusa preta de alças se encaixava perfeitamente, colocada por dentro da calça. Para finalizar o look, vesti um blazer preto, que trazia uma elegância discreta, e me senti pronta para enfrentar o dia.
Brincos discretos e o colar que ganhei de mamãe ornamentavam-me, trazendo um sentimento de aconchego e lembrança. Após organizar a bolsa, saí do quarto e segui para o andar de baixo, onde o cheiro do café fresco me recebia, misturando-se com a alegria que emanava da casa.
— Vocês não descansam nem pela manhã? — indaguei ao chegar na sala de jantar, observando a agitação que tomava conta do ambiente.
— Foi o Lucas que começou, Tina! — Laura respondeu, os olhos brilhando de indignação.
— Estou apenas lhe aconselhando para se manter longe do Yuri — Lucas rebateu, com um ar de protetor.
Laura suspirou alto e fundo, tentando manter a calma, enquanto cruzava os braços em um gesto de defesa.
— O que tem o Yuri, Lucas? — perguntei, buscando entender toda essa proteção do meu irmão. As palavras deles soavam como uma disputa familiar que eu não queria que acontecesse.
— Ele é o maior idiota do colégio. Toda garota que se envolveu com ele terminou decepcionada — Lucas respondeu, a preocupação em sua voz era palpável.
— Ele é apenas um amigo, Tina. Nada além disso — Laura defendeu-se, seu olhar fixo em Lucas, como se quisesse provar sua inocência.
— Laura, querida, cuidado. Por favor — pedi de forma terna, sentindo a responsabilidade de ser a voz da razão entre eles. Ela assentiu, embora a expressão em seu rosto mostrasse que ainda havia resistência.
O café da manhã ocorreu tranquilamente, como um oásis em meio à pequena tempestade familiar. Meus irmãos estavam animados para a apresentação, e o entusiasmo deles contagiava-me. Enquanto tomávamos café, conversas e risadas flutuavam pelo ar, trazendo um pouco de calor para aquela manhã gelada.
Saímos para fora de casa e aguardamos o táxi que havia chamado chegar. O som da chuva emoldurava o momento, criando uma trilha sonora melancólica que contrastava com a expectativa que sentíamos. Olhei para os meus irmãos, seus rostos iluminados pela alegria e pelo nervosismo, e não pude deixar de sorrir, sabendo que o dia prometia ser especial.
*
Chegamos ao colégio e, enquanto meus irmãos acompanhavam a professora, dirigi-me ao auditório onde a apresentação aconteceria. Escolhi um lugar na segunda fileira, ansiosa para ficar pertinho e acompanhar tudo de perto. O burburinho de conversas e risadas dos pais que preenchiam o ambiente foi silenciado quando a diretora apareceu no palco, sua presença imediata trazendo uma aura de respeito ao espaço.
Ela começou a falar sobre o projeto, seu entusiasmo contagiando a plateia enquanto expressava gratidão pela presença de todos. Após suas palavras, ela saiu do palco, e as luzes que clareavam o ambiente foram apagadas, mergulhando o auditório em uma expectativa palpável. Então, seis holofotes se acenderam, iluminando o centro do palco, revelando as bailarinas.
As meninas surgiram como seres etéreos, vestidas com vestidos de chiffon em um delicado tom de rosa claro que dançava com cada movimento. Elas flutuavam com graça, posicionando-se nos pontos designados das luzes, parecendo quase levitar. A beleza da cena era mágica, e meu coração se encheu de emoção ao testemunhar a dedicação e o talento que estavam prestes a brilhar. Logo, os meninos apareceram, todos com ternos impecáveis e chapéus, caracterizando a peça com um ar de elegância. A apresentação começava com um toque dramático, enquanto os meninos do sapateado mostravam suas habilidades, cada passo meticulosamente ensaiado e cheio de energia. As meninas acompanhavam com movimentos fluidos, criando uma harmonia que enchia o auditório de beleza. Era uma mistura perfeita de som e movimento, um espetáculo que cativava a todos.
Fiquei atenta aos passos dos meus irmãos, cada movimento deles refletindo o empenho e a responsabilidade que demonstraram durante os ensaios. Ali, não pareciam os dois adolescentes que costumavam discutir e rivalizar; naquele momento, eles eram parte de algo maior, uma equipe unida pelo amor à arte. Senti um orgulho imenso, transbordando em meu coração.
Quando a apresentação finalmente chegou ao fim, os dançarinos se curvaram em agradecimento ao público. Aplausos ecoaram pelo auditório, e não pude conter um sorriso que iluminou meu rosto. Meus irmãos, ao captarem minha presença na plateia, abriram sorrisos largos, e naquele instante, tudo parecia perfeito. A cortina vermelha se fechou, encerrando o espetáculo e deixando no ar um sentimento de satisfação e alegria. Enquanto nos dirigíamos à saída, puxei meu celular para mandar uma mensagem a Damon, pedindo para ele nos buscar. Contudo, antes que pudesse enviar a mensagem, algo me chamou a atenção.
Quando estava prestes a sair do auditório, avistei Damon parado contra a parede, um pouco afastado da multidão. Sendo discreto. Ele havia assistido à apresentação, e isso me encheu de felicidade. Com um brilho nos olhos, caminhei em sua direção, sentindo as borboletas se agitarem no meu estômago. A presença de Damon tinha esse efeito sobre mim.
Quando cheguei perto, ele desviou o olhar do palco e se voltou para mim, seus olhos escuros brilhando com um calor que me envolveu. Havia algo especial na maneira como ele me observava, como se eu fosse a única pessoa naquele auditório cheio.
— Você viu tudo? — perguntei, um sorriso involuntário se espalhando pelo meu rosto.
— Claro que sim. — Ele respondeu, sua voz suave e reconfortante. — Não podia perder a apresentação dos seus irmãos. Eles foram incríveis.
Senti meu coração aquecer com suas palavras. O apoio dele, a presença dele ali, tornava tudo ainda mais significativo.
— Eles realmente foram incríveis e obrigada por estar aqui, Damon. Isso significa muito para mim. — disse, sinceramente.
— Sempre que puder, estarei ao seu lado, Valentina. — ele afirmou, com um tom sério que me fez sentir segura.
*
Após a apresentação, fomos direcionados para uma sala de acordo com a idade dos meus irmãos. Damon ficou com eles enquanto eu me dirigia para uma palestra escolar.
A palestrante abordou a importância da família no futuro escolar do aluno, enfatizando a necessidade de estarmos presentes, de incentivarmos e auxiliarmos sempre que necessário. O tema era pertinente e ressoava profundamente em mim, pois sabia que essa fase de aprendizado e descobertas era crucial para o desenvolvimento de Lucas e Laura. As pautas que foram discutidas ampliaram minha visão sobre o papel que eu precisava desempenhar como irmã e apoio na vida deles.
Quando a reunião terminou, saí da sala e procurei meus irmãos. Ao me aproximar, notei Laura cercada por suas amigas, todas animadas e conversando sobre a apresentação.
— Laura, querida, sabe onde está seu irmão? — perguntei, tentando soar casual, mas a preocupação já estava estampada no meu rosto. — Bom dia, meninas.
— Bom dia, Valentina! — responderam em uníssono, com sorrisos radiantes.
— Ele está com o Damon, — disse Laura, levantando as sobrancelhas em uma expressão que misturava surpresa e curiosidade. Meu coração disparou; ele não havia respondido às minhas mensagens sobre sua vinda. — Vamos, Tina?
— Vamos! — concordei, um pouco ansiosa.
Laura se despediu de suas amigas, e juntas seguimos para fora do colégio. Ao nos aproximarmos do estacionamento, percebi que Lucas e Damon estavam em pé, próximos ao carro, em um momento que parecia ser de cumplicidade. Ambos estavam quietos, e uma sensação estranha de segredos não revelados pairava no ar.
Ali definitivamente tinha algo.
*
||Damon Black ||
Após a apresentação, Lucas aproveitou que sua mãe estava cercada pelas amigas e veio em minha direção.
— Damon, é bom vê-lo. — disse, estendendo a mão para um cumprimento firme. — Você poderia me acompanhar? Tenho algo a lhe mostrar. — Sua expressão era séria, o que despertou minha curiosidade.
Assenti e segui Lucas, que me conduziu para a parte externa do colégio. A estrutura era impressionante, com uma quadra ampla, áreas de cultivo com flores coloridas, árvores frondosas, redes para descanso e mesas de mármore. Era um ambiente que realmente atendia às necessidades dos alunos.
Paramos abruptamente quando Lucas parou de vez, sua expressão agora focada.
— É ele. — Ele apontou para um garoto que conversava animadamente com uma menina. O rapaz acariciava o cabelo dela, e o sorriso dela indicava que estava gostando do carinho. Olhei o lugar que ele havia escolhido, longe dos olhares e das câmeras da escola. — Entendeu por que insistir em pedir a sua ajuda? Ele está iludindo Laura!
Ouvir aquilo despertou um forte sentimento dentro de mim. Já considerava os irmãos de Valentina como meus próprios, e a necessidade de protegê-los pulsava em meu peito. A cena se desenrolava à minha frente: os dois se despediam com um selinho antes de perceberem que estavam sendo observados. A garota saiu rapidamente, e o garoto se aproximou de nós, sua expressão mudou ao notar nossa presença.
— O que lhe disse sobre me importunar novamente, pirralho? — Yuri disse, zangado. — E ainda traz seu guarda-costas. — O deboche em sua voz era claro.
— Fica longe da Laura. Já te avisei. — Lucas disse, sua determinação inabalável.
— Não amola, Lucas. Já estou de saco cheio dos seus avisos! — Yuri retrucou, passando ao lado de Lucas e trombando com o ombro dele.
Senti uma onda de protetividade e raiva. Minha mão se fechou em torno do braço de Yuri, arrastando-o para um canto da quadra, longe dos olhares curiosos.
— Pede desculpa ao Lucas. — disse, minha voz firme e autoritária, enquanto aumentava a força em seu braço, fazendo-o fazer uma careta de dor.
— Desculpa, Lucas. — Ele falou, relutante.
— Bom, muito bom. — Respondi, olhando ao redor para garantir que ninguém nos ouvia. — Agora escuta bem, garoto. Não quero saber que você anda rondando a Laura, entendeu? — Ele balançou a cabeça, assente. — E muito menos que irá perturbar o Lucas. Resumindo, não se aproxime ou mexa com os irmãos Martins. Você entendeu?
Ele balançou a cabeça novamente.
— Ainda não ouvi você falar.
— Eu entendi… — Ele disse, com um olhar assustado.
— Agora pode ir.
Soltei seu braço, e ele saiu de perto de mim rapidamente, quase tropeçando nos próprios pés, enquanto tentava recuperar a compostura. Yuri, com seus 15 anos, era o típico garoto que gostava de intimidar os menores. Usei a mesma ferramenta contra ele: a intimidação. A força que apliquei em seu braço não era nem um terço do que faria com um homem do meu tamanho, mas a mensagem estava clara.
— Eu não vou contar para ninguém. — Lucas disse, um enorme sorriso nos lábios, claramente satisfeito.
— É bom manter esse segredo. — Baguncei seus cabelos levemente em um gesto de camaradagem.
Caminhamos de volta para o colégio, cercado pelo silêncio e a cumplicidade do que fizemos. Não encontrando Valentina, dirigi-me para o carro, com o Lucas ao meu encalço. Encostei-me no veículo, cruzando os braços enquanto esperava pela minha noiva. A expectativa de reencontrá-la aquecia meu coração, e um sorriso involuntário se formou em meus lábios ao ver que Lucas havia adotado a mesma postura enquanto a aguardávamos.
*
Quando Valentina apareceu na porta do colégio, o mundo ao meu redor parecia desvanecer. Nada além dela tinha importância. Seu magnetismo era quase palpável, e meu coração pulava, dando cambalhotas a cada passo que ela dava em minha direção.
Eu amava demais essa mulher.
— Minha mãe nos convidou para ir para o rancho. — me inclinei para beijar seus lábios em um gesto carinhoso, um beijo casto que carregava toda a minha afeição.
— Iremos amar. Não é, crianças? — Perguntei a Lucas e Laura.
Lucas se animou imediatamente, seu rosto iluminado pela ideia, mas percebi que Laura, distraída, encarava a tela do celular com um olhar triste. Ela desligou o aparelho, recompondo-se rapidamente antes de se dirigir ao carro.
Suspirei fundo, um peso se formando em meu peito ao notar a tristeza da irmã de Valentina. Abrindo a porta para Lucas entrar, depois fiz o mesmo para Valentina se acomodar no banco do passageiro. Assim que ela se sentou, ligou o rádio, preenchendo o ambiente com uma música suave que contrastava com a tensão que começava a se formar.
Mesmo enquanto dirigia meu carro, percebia a presença da equipe de seguranças, tanto a minha quanto a de Valentina, que nos seguiam de perto. Ouvia as vozes deles através do rádio, mas me concentrei na estrada. Ao reduzir a velocidade para fazer uma curva, a intuição me avisou que algo não estava certo. Fechei os vidros do carro, um instinto protetor ativando-se em mim. Esperei o sinal abrir, meus sentidos em alerta. O tempo parecia se arrastar enquanto eu pegava meu celular para enviar uma mensagem ao chefe da segurança. Sabia que qualquer conversa poderia assustar Valentina e os irmãos, então precisava agir rapidamente e com discrição.
Meu olhar se fixou em um grupo de quatro homens encostados na calçada, tatuagens visíveis em seus braços e rostos, os sinais de um passado criminal. A tensão cresceu quando percebi que eles não estavam sozinhos. Mais três homens apareceram, claramente fazendo parte do mesmo plano. Uma onda de adrenalina percorreu meu corpo quando percebi o que estava prestes a acontecer.
— Valentina, abaixa! — Gritei, minha voz forte e autoritária.
Sem pensar duas vezes, abaixei Valentina e depois Lucas e Laura, tentando protegê-los o máximo possível. O carro era blindado, mas a sensação de vulnerabilidade era palpável. No instante em que as primeiras balas começaram a disparar, o vidro do carro se estilhaçou com o impacto, e o barulho das rajadas de tiros ecoou no meu ouvido, ensurdecedor e aterrorizante.
Os gritos e choros de Lucas e Laura ressoaram atrás de mim, misturando-se com o caos que se desenrolava fora do carro. Meus pulmões inflaram de fúria ao perceber que não se tratava de um simples assalto, mas de um ataque direcionado, um mandado de execução.
Com as balas zunindo ao nosso redor, vi meu segurança reagir rapidamente, os tiros vindo de suas armas pegando os agressores de surpresa. Um dos homens gritou, desesperado, pedindo para recuar quando um tiro acertou seu ombro, fazendo-o cambalear, e logo o grupo está a recuando.
Valentina, em um esforço desesperado para acalmar os irmãos, tentava abraçá-los, enquanto lágrimas escorriam pelo rosto de Lucas. Voltei a dirigir, meu olhar fixo na estrada à frente, cada movimento do carro calculado.
*
Ao chegarmos no rancho, a visão do estado do carro fez meu coração acelerar, e logo vi minha mãe correndo em nossa direção, a expressão de preocupação estampada em seu rosto. Ela estava deslumbrante, trajando um vestido na cor cereja que realçava sua beleza, mas naquele momento, a elegância do que vestia contrastava com a gravidade da situação.
— Meu Deus, Damon! O que aconteceu? — Sua voz transbordava desespero.
Passei a mão na testa, sentindo a tensão e a raiva borbulharem dentro de mim. Meu olhar seguiu Valentina, que estava guiando os irmãos para dentro de casa, e uma onda de apreensão tomou conta de mim. A ideia de que algo poderia ter acontecido a eles, se eu tivesse optado por usar meu Mercedes, um carro que não era blindado e que costumava dirigir com frequência, me deixava em frangalhos.
— Foi aquele maldito, mãe! Eu tenho certeza! — Esbravejei, a fúria transparecendo em cada palavra. — Isso não foi uma tentativa de assalto.
Olhei para a frente do carro, as marcas das balas bem visíveis, e percebi com clareza que o alvo era eu. A gravidade da situação afundava em meu peito, como se uma pedra pesada estivesse me prendendo ao chão.
— Damon, me escuta. — O tom de minha mãe se tornou sério, cortando através da minha raiva. — Você vai entrar, tomar um banho, vestir um terno e se dirigir até o escritório do seu pai.
A surpresa me dominou, e eu a encarei, sem entender.
— Hoje você e Valentina serão oficialmente Marido e Mulher.
Meus pensamentos giravam em um turbilhão.
— Precisei agir rapidamente quando você falou do plano de Caio de se casar. As circunstâncias pedem medidas extremas, e essa foi a minha. — Sua mão acariciou suavemente minha bochecha, um gesto reconfortante em meio ao caos. — Após o casamento, você irá resolver essa situação…
Ela lançou um olhar preocupado para o carro, e meu coração se apertou com a tensão no ar.
Suspiro profundo, tentando encontrar um equilíbrio em meio à confusão, e assenti. A ideia de me casar naquele dia, em um momento tão crítico, parecia um impulso, mas talvez fosse a única maneira de dar um passo à frente.
— Obrigado, mãe. Por tudo. — Abraçá-la era um alívio, e por alguns segundos, o calor do seu carinho me trouxe um pouco de paz.
— Não há de quê, querido. — O sorriso terno que ela me ofereceu era um lembrete do apoio incondicional que sempre teve por mim.
Com seu braço encaixado no meu, juntos começamos a nos dirigir para dentro de casa.
*
Em pé no escritório, vestindo um terno preto sob medida, tentava manter a compostura, mas por dentro, meus pensamentos estavam em um turbilhão. Era incrivelmente ingênuo de minha parte não ter considerado que meu primo pudesse ir ao extremo. Tinha Heitor como exemplo, e a lembrança de suas ações maldosas me assombrava.
Desde criança, a maldade de Caio estava presente, como quando ele me empurrou para a piscina, sabendo que eu ainda estava aprendendo a nadar. Quase me derrubou do cavalo e armou situações na escola que fizeram a professora acreditar que eu era o responsável por suas travessuras. Eu sempre soube o quanto ele me odiava e até onde seria capaz de ir para me prejudicar.
Fui tolo em pensar que os jogos dele para tomar a herança se limitariam a chantagens contra mim e Valentina, esquecendo-me do ponto crucial: se eu morresse, o caminho estaria livre para ele.
Minhas preocupações se dissiparam quando Valentina apareceu na porta do escritório, acompanhada de minha mãe e seus irmãos. A visão deles, apesar do que haviam passado, era um alívio. Os pequenos estavam bem trajados, e seus rostos agora mostravam um semblante mais calmo.
Meu olhar imediatamente se fixou em Valentina. Ela estava devastadoramente bela.
O vestido de chiffon que usava, cobrindo os joelhos, era ombro a ombro, com um discreto decote coração que realçava sua figura. Era um verdadeiro arco de cores vivas aos meus olhos, um bálsamo para minha alma. Suspirei, encantado, enquanto ela se aproximava. A maquiagem suave destacava seus traços, e seus cabelos estavam elegantemente presos em um coque na altura da nuca, com alguns fios soltos, conferindo um ar romântico e despojado. Cada detalhe dela fazia meu coração disparar, gritando o quanto a amava.
Ao parar ao meu lado, Valentina sorriu de uma forma que iluminou todo o ambiente. Percebi que ela estava usando a coleção de joias que pertencera à minha mãe — um legado da minha avó paterna — que agora, por tradição, passava a ser dela, minha noiva e futura esposa.
Com tudo pronto, a cerimônia prosseguiu. O juiz de paz e o escrevente autorizado estavam presentes, e minha mãe havia se empenhado para que tudo fosse feito dentro da lei. O juiz começou a ler a ata do casamento, e as testemunhas, Sr. Joaquim e Dona Lourdes, assinaram com um ar solene. Quando chegou a nossa vez, apesar da tensão que estava sobre os meus ombros devido ao que nos aconteceu, senti alegria preencher o meu coração conforme assinava meu nome.
Após verificar que nossa união era de livre vontade, o juiz se pronunciou solenemente:
— De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados.
Com o coração acelerado, aproximei meu rosto do dela, olhando profundamente em seus olhos, e declarei:
— Eu te amo, Valentina Martins Moreira Black.
Então, beijei seus lábios com todo o amor e ternura que sentia, selando aquele momento que era não apenas um compromisso, mas uma proteção e uma nova vida juntos. A intensidade do beijo, que misturava amor e alívio, fez com que todo o peso do mundo parecesse desaparecer, mesmo que temporariamente.
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4269 palavras
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