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CAPÍTULO 13 - Entre o passado e o Presente

||Valentina Martins ||


  O café da manhã havia sido excepcional. Daniela mais uma vez não deixou nada a desejar. Os gêmeos tinham o horário da manhã programado com atividades para mantê-los ocupados, e o dia deles começou a ser bem agitado assim que o café da manhã acabou. Certifiquei que ambos estavam protegidos contra os raios solares e os enchi de avisos para serem obedientes ao senhor Joaquim e a dona Lourdes, e pedindo que ambos cuidassem um do outro. Ouvi vários resmungos das partes deles antes de me prometerem se cuidar e atender ao casal que estaria supervisionando.

Minhas mãos estão sob o meu colo e tento não ficar ansiosa ao ver uma mulher bem elegante trazendo uma  mala — entre comprimentos abraça Daniela—, ambas conversam baixo ao olhar em nossa direção. Damon estava ao meu lado como prometido, sentado e tomado banho.

Ele trajava uma calça jeans clara, camisa lisa vinho que se moldava na parede de músculos que possuía, e nos pés uma alpargata preta e lisa. Seu olhar estava fixo no quadro da família no centro e parecia mergulhado na lembrança daquela fotografia. Olhei a foto e mirei no homem ao lado esquerdo que possuía os mesmo traços do filho, alto e atlético. Segundo a conversa que tivemos na noite do noivado, seu pai infelizmente estava morrendo, pude sentir o quão abalado estava e que toda a sua família mostrava-se forte em um momento delicado para não desmoronar.

Voltei a olhar a entrada estranhando a demora.

— Tenho a impressão que sua mãe armou alguma coisa. — comento baixinho atraindo seu olhar marcante para mim.

— Porque? — indagou e olhou na direção da sua mãe.

— Antes do café da manhã, da sacada do seu quarto, a vi fazer algumas ligações no deck. — relato. — Sua postura altiva denunciava que o assunto era de urgência.

— Não duvido. Mas acredito que seja em relação ao casamento civil.

Uma senhora de cabelos ruivos e um homem franzino de estatura baixa se aproximam das duas mulheres e as cumprimentam polidamente. A interação é breve e logo todos entram. Minhas mãos estão geladas pelo nervosismos e não sei identificar o porquê de estar assim, suspiro fundo controlando minhas emoções. Black posa seu braço em meus ombros e seus dedos afagam a minha pele e o simples toque tem o poder de fazer o meu corpo relaxar. Apresentações são feitas, e a loira que é a assessora abre a mala e nos mostra catálogos, amostras e fala sobre os distribuidores.

— Já escolheram onde irá acontecer o casamento? — Bianca Barroso, a assessora, pergunta.

Ouvi-la trouxe a minha mente a cena da Daniela no deck. A imagem dos raios de sol refletindo na água, as flores do jardim que eram condecorado pelas belíssimas borboletas de cores variadas e os pequenos e encantadores beija-flor, me fez concluir que não haveria um outro lugar tão especial e encantador como aqui, o rancho da família Black.

— Iremos fazer aqui. — respondo fitando a imagem de iluminação romântica no catálogo.

— O cenário é perfeito. — ouvi seu comentário. — Tem alguma sugestão, senhor Black? — sua voz saiu macia e doce feito uma pera.

Atentei meus olhos ainda no catálogo enquanto sentia um incômodo ao saber que havia um interesse da Srta. Barroso, senti minha respiração pesar mas busquei controlá-la rapidamente.

— Apenas que tudo saia como a minha noiva desejar. — diz, ergui meu olhar para o seu rosto anguloso e o flagrei olhando para mim.

Meu coração disparou sobre a intensidade do seu olhar verde. Suspirei mais uma vez e engoli com dificuldade, seu celular tocou atraindo a sua atenção. Seu cenho se franziu ao olhar o visor do celular e no seu olhar transpassou um feixe de  choque.

— Preciso atender. — avisou, um beijo cálido é deixado na minha têmpora.

Assenti, o observei e vi que a tentativa de não mostrar o quão tenso estava falhará. Damon saiu da sala e encaminhou-se para fora da casa a passos calculados e estranhamento senti um aperto no coração ao vê-lo se afastar, parecia ser um encantamento toda essa correnteza que estava sentido por ele.

— Então, senhorita Martins, como gostaria de organizar o seu casamento? — olhei para a senhora ruiva e seu olhar gentil sobre mim, me fez sorrir e esquecer a sensação ruim.

Sorri para ela e suspirei suavemente. Não foi dessa forma que planejei me casar, esse era um momento que desejei ter a minha mãe ao meu lado. Infelizmente, nada do que sonhei aconteceu de forma natural.
Cada ponto que desejei ter para o casamento dos meus sonhos foi anotado pela srta. Barroso. A assessora estava responsável pela elaboração, a reunião se estendeu por longas horas, a cerimonialista também é responsável para que tudo saia como sonhei. Ambas tinham papéis diferentes mas com o mesmo propósito a ser realizado.

Enquanto uma coordena com antecedência as etapas do casamento, a outra garantirá que no dia tudo esteja em perfeita ordem e que o decorrer do início até o final do casamento seja executado de forma perfeita. Enquanto compartilhava o meu desejo, me vi colocando altas expectativas. Abraçando aquele momento sem pensar nos meus receios ou no fato que o moreno não voltou para perto de mim.

*

|| Damon Black ||

  Meu coração arfou, e por alguns segundos, senti que o ar ao meu redor rareava. O impacto das palavras de Eliza — mãe da minha falecida ex — me atingiu com força, e mesmo que minha mente tentasse absorver a informação, meu corpo reagia como se tivesse levado um golpe.

A voz da senhora Nunes era firme, mas, por trás dessa aparente neutralidade, havia um peso silencioso de dor. Uma dor que, ao longo dos anos, aprendi a reconhecer, mas jamais soube como aliviar. Ela falava com precisão, sem permitir que sua emoção transparecesse, mas eu podia sentir a vulnerabilidade escondida em cada pausa, em cada suspiro contido.

Caminhei automaticamente para o labirinto do jardim, buscando um momento de privacidade. O perfume das rosas roxas ao meu redor trazia lembranças distantes, um contraste cruel com a frieza da notícia que acabara de receber. Sentei-me no banco de pedra, ouvindo cada detalhe com atenção, mas sem conseguir evitar que um amargor se instalasse em minha boca.

A conversa se encerrou, e fiquei ali, por um instante, encarando as pétalas vibrantes das flores, como se pudesse encontrar alguma resposta no caos silencioso da natureza.

Mas não havia respostas.

A única coisa que restava a fazer era agir.

Peguei o celular e disquei um número que só deveria ser usado em emergências. Queiroz atendeu no terceiro toque. Sua voz, sempre contida e profissional, soou como uma âncora em meio ao turbilhão que me envolvia.

— Senhor Black? Bom dia. — O tom era cálido, mas baixo. — Acabei de ler o seu e-mail.

— Bom dia, senhor Queiroz. — Minha voz saiu firme, apesar da inquietação em meu peito. — Preciso de um último serviço seu.

Houve uma breve pausa antes da resposta:

— Pois não. Fique à vontade para falar.

Apertei o celular com mais força e soltei um longo suspiro antes de continuar:

— Um corpo foi encontrado na Flórida. — As palavras saíram com um peso amargo. — A polícia entrou em contato com a família Nunes e informou que a jovem encontrada se assemelha à foto do pingente que estava no bolso da calça jeans dela.

O silêncio de Queiroz do outro lado da linha foi quase palpável.

— Até onde sei, nada além do pingente foi encontrado junto ao corpo. — Continuei, tentando manter a compostura. — Quero que o senhor vá até a Flórida, colete informações, investigue todos os detalhes. Preciso saber a verdade.

Respirei fundo, sentindo um nó se formar em minha garganta antes de finalizar:

— Eu vou dobrar a quantia do pagamento para que sua atenção se volte completamente para esse caso.

Queiroz não hesitou.

— Tudo bem. Em breve entrarei em contato com novas informações.

— Obrigado.

— Até mais, Black.

A chamada foi encerrada, mas a sensação melancólica que me envolvia não se dissipou. O nome de Erika, que por um tempo parecia ter ficado no passado, agora ressurgia com uma força esmagadora. A mulher que um dia esteve ao meu lado, que fazia parte da minha história, agora talvez estivesse ali, sem vida, reduzida a um nome gravado em um pingente.
Eliza — viúva há cinco anos — sempre viveu longe dos holofotes da mídia, buscando refúgio em sua solidão. Suas ONGs continuavam ativas, mas era evidente que as perdas que sofreu a afastaram da alta classe. Eu tentei inúmeras vezes entrar em contato com ela, sem sucesso.

E então, de repente, ela me ligou.

Sua voz carregava um peso que eu não poderia ignorar. Ela me contou os detalhes, sem rodeios, sem filtros. A polícia havia encontrado um pingente com o nome de Erika e sua foto. Era um ponto de conexão com o corpo descoberto, uma ligação que os levou até Eliza.

Erika estava morta.

Ou, pelo menos, era isso que a polícia acreditava…

Olhei para o azul claro do céu e suspirei profundamente. As nuvens carregam doses de pureza na sua cor branca, e a brisa leve da manhã acariciava meu rosto com suavidade. O cenário calmo não combinava com a tempestade que rugia dentro de mim. O tempo parecia querer me consolar, mas não havia consolo possível para a dor de perder um pai.

A cada dia que passava, ele estava se indo. Eu sentia isso. O dinheiro e o poder que carregamos não podiam comprar o dom da vida. Ter tudo não garantia felicidade. Se eu pudesse abdicar do patrimônio da família Black para ter a saúde dele restaurada, eu abriria mão sem pensar duas vezes.

Fechei os olhos, permitindo que a lembrança de um tempo mais simples me envolvesse.

Eu tinha doze anos naquela tarde quente de verão. O rancho estava tomado pelo cheiro de terra molhada depois da chuva, e o barulho dos cavalos no estábulo se misturava ao riso do meu pai. Ele estava ao meu lado, os olhos brilhando de orgulho enquanto me ensinava a amarrar o nó perfeito para prender a cela.

— O segredo, filho, não está na força, mas na firmeza. — Ele colocou sua mão grande sobre a minha, guiando meus dedos com paciência. — Você precisa ter controle, mas também precisão. Se puxar demais, pode machucar o animal. Se for frouxo, pode se soltar na hora errada. Tudo na vida é equilíbrio.

Naquele dia, eu queria provar que era forte. Queria ser como ele—grande, confiante, inabalável. Mas ao invés disso, o nó saiu errado e a cela deslizou. Frustrado, chutei o chão e desviei o olhar, mas meu pai apenas riu, apertando meu ombro.

— Você ainda vai entender que força de verdade não é nunca errar, mas saber continuar tentando.

Na época, aquelas palavras não significavam muito para mim. Hoje, elas ecoavam em minha mente como uma lição que eu daria qualquer coisa para ouvir dele mais uma vez.

Senti a garganta apertar e puxei o ar com dificuldade. A dor era sufocante, uma ferida invisível que latejava no peito. Quando as lágrimas finalmente molharam meu rosto, fechei os olhos e permiti que caíssem. Apenas por um momento.

Apenas ali, onde ninguém veria.
Minutos depois, me recompus. Peguei um lenço no bolso da calça e limpei qualquer vestígio da minha fraqueza. Tranquei cada fragilidade dentro de mim, enterrando-as em um lugar que ninguém além de mim tinha acesso.

Eu precisava ser forte.

Ao voltar para o rancho, me deparei com a família da tia Dália já circulando pelo jardim. Na entrada, esbarrei nela. Sua expressão suave se iluminou ao me ver, mas logo franziu o cenho, como se percebesse algo em mim.

— Você está bem, Damon? — perguntou suavemente.

Me forcei a sorrir.

— Sim, tia. Só precisava de um momento para respirar.

Ela assentiu, embora seus olhos dissessem que não acreditava completamente. Beijei sua bochecha e a cumprimentei brevemente antes de seguir para o quarto, onde talvez, por alguns instantes, eu pudesse fingir que o mundo não estava desmoronando ao meu redor.

*

|| Valentina Martins ||

   Sentada na banqueta do balcão de granito da cozinha, eu ajudava a mãe do Damon a cortar os legumes para o almoço. O advogado havia ido embora, assim como a assessora e a cerimonialista, e Daniela estava calada e reflexiva. Por respeito, não puxei assunto nenhum. O silêncio que pairava entre nós não era desconfortável, mas carregava um peso que eu ainda não conseguia identificar completamente.

Seu olhar encontrou o de Dália, e ambas trocaram uma expressão cúmplice. Não me atentei a decifrá-la, pois havia algo na maneira como elas se olhavam que parecia íntimo demais para uma mera observadora como eu. Voltei a cortar os legumes, até sentir as mãos de Dália pousarem sobre meus ombros, um gesto caloroso e reconfortante.

— Querida, vá ficar um pouco com seu noivo. — disse ela, sua voz gentil, mas firme.

Ergui o olhar para ela, hesitando.

— Eu gostaria de ajudar. — comentei, querendo ser prestativa, talvez até para me manter ocupada.

Daniela interveio, sua voz carregada de uma autoridade tranquila que me fez prestar atenção.

— Vá descansar um pouco, meu amor. — Seu olhar encontrou o meu, e ali havia algo que me fez ceder. — Pode deixar que daremos conta de tudo. E não se preocupe com seus irmãos, eles estão em ótimas mãos.

Dália massageou meus ombros, um carinho silencioso, e antes que eu pudesse insistir, retirou a faca da minha mão com delicadeza, fazendo-me soltar a cenoura. Suspirei, rendida aos seus pedidos.

— Ele está no quarto. — Dália avisou, enfatizando que eu deveria ir.

Assenti, um pequeno sorriso escapando dos meus lábios.

— Tudo bem. Eu vou.

Ambas sorriram, como se soubessem de algo que eu ainda não entendia completamente.

Limpei minhas mãos e as sequei no papel toalha, descartando-o no lixo antes de sair da cozinha sob os olhares das irmãs. Subi as escadas pensativa, sentindo o peso da insistência delas. Por que queriam tanto que eu fosse até ele? Será que algo tinha acontecido?

O pensamento acelerou meus passos.

Ao chegar à porta, respirei fundo antes de abri-la, sentindo um alívio imediato ao vê-lo. Damon estava ali, deitado de bruços sobre a grande cama de casal, vestindo apenas uma calça jeans, os pés descalços, o torso nu. A visão dele me paralisou por um instante.

Meus olhos percorreram cada centímetro de seu corpo, desde a largura de seus ombros até a firmeza de suas costas. A pele bronzeada e o porte atlético pareciam um ímã para o meu olhar, e por um momento me permiti admirar, absorver sua presença.

Fechei a porta silenciosamente sem desviar os olhos dele.

Livrei-me da sandália nude rasteira de tiras e andei suavemente em direção à cama. O colchão cedeu sob meu peso quando deitei ao seu lado. Damon virou o rosto para mim, seus olhos verdes me prendendo em um olhar prolongado.
Seu polegar roçou lentamente meus lábios, um toque simples, mas que fez meu coração bater mais forte.

— Se entregue sem receios, Sweetheart. — sua voz veio séria, mas carregada de algo mais profundo, algo que me envolvia.

Prendi a respiração. Como ele podia me ver tão bem? Como conseguia decifrar o que eu sentia, mesmo quando eu tentava esconder?

— Eu a quero ao meu lado. — continuou, os olhos fixos nos meus. — Sei que o nosso início foi trilhado de forma errada, mas te prometo que as minhas intenções são sinceras ao seu respeito.

As  barreiras que ainda existiam cederam. Assenti suavemente e me aproximei, buscando o calor do seu corpo, como se apenas sua presença pudesse dissipar todas as dúvidas dentro de mim. Quando seus olhos se encontraram com os meus novamente, percebi o brilho de tristeza que cintilava neles. Meu peito apertou. Eu sabia o motivo daquela sombra.

Sem pensar, beijei a ponta do seu nariz. Ele fechou os olhos, apreciando o gesto.

Meu coração galopou acelerado dentro do peito quando seus olhos se abriram de novo, e neles havia uma intensidade que me atravessou por inteiro. Soltei o ar lentamente, como se tentasse estabilizar o que ele me fazia sentir.

Damon Black possuía o poder de me atrair apenas com a intensidade de seu olhar.

Eu estava perdidamente apaixonada por ele. A constatação me atingiu como uma maré avassaladora. Meus sentimentos estavam ali, pulsando na minha pele, no meu coração acelerado, no calor que se espalhava pelo meu corpo apenas por estar perto dele.

Ele entrelaçou sua perna na minha, os olhos fechando-se lentamente, como se apenas minha presença fosse suficiente para acalmá-lo. Fiquei ali, estática, absorvendo a revelação que explodia dentro de mim, enquanto observava o homem ao meu lado. Seu rosto sereno, seus traços fortes suavizados pelo sono.

Só quando meus olhos ficaram pesados demais para manterem-se abertos, finalmente me permiti adormecer, sentindo o calor dele ao meu lado e o peso doce da minha própria entrega.


*

Heitor Ferraz

   Por trás de um desejo sombrio, algo atroz nos move para o caminho que escolhemos. Comigo não foi diferente. Posso não ter provas concretas que o incriminem, mas tenho a completa lucidez para saber que o meu sequestro foi armado. E tudo que sucedeu naquele período em cativeiro foi obra doentia de Caio. Eu ouvi sua voz em uma ligação. Aquela maldita ordem foi dada por ele.

Ainda revivo nos turbulentos pesadelos cada cena. Os socos e os chutes sobre o meu corpo. A dor de sentir o fogo consumindo minha pele. As humilhações. O ódio proferido em palavras hostis que ecoam em cada pesadelo, como se eu ainda estivesse lá, preso naquele inferno.

O som da porta se abrindo me trouxe de volta ao presente.

Ela havia chegado.

Cada passo que dava não era apenas para ajudar meu amigo — que considero um irmão — a vencer o próprio primo. Eu também fazia isso por mim.

Soltei um suspiro pesado antes de virar a cabeça em direção a Selena.

Vestida elegantemente, o vestido tomara que caia vinho realçava suas curvas com um toque sutil de sensualidade. Terminei de beber o uísque em um gole único e depositei o copo no parapeito da sacada.

Selena é uma mulher belíssima. Seu corpo atrairia facilmente qualquer homem, e talvez em outro tempo, em outra realidade, eu teria me permitido cair nessa armadilha. Mas nada nela me seduzia. Seu sangue era o mesmo de Caio. E mesmo que ela tentasse esconder suas verdadeiras intenções, eu sabia quem ela era.

Ela se aproximou, sorrindo de canto, e enlaçou seus braços ao redor do meu pescoço, o perfume adocicado envolvendo o ar ao nosso redor.

— Você me ignora quando quer, mas sempre me chama quando precisa. — Sua voz era um sussurro, carregado de malícia. — Não sei se deveria me sentir lisonjeada ou usada.

— Você sabe exatamente o que isso é, Selena. — minha voz saiu fria, direta.

Ela riu, inclinando o rosto para roçar os lábios no canto da minha boca, um gesto que, para qualquer um de fora, pareceria intimidade. Mas para mim, era apenas o jogo que ambos estávamos jogando.

— Pelo menos sou boa no que faço, não é? — murmurou.

Minhas mãos seguraram sua cintura, um gesto que deveria parecer envolvimento, mas que, por dentro, me revirava o estômago.

— Lembre-se do trato. — Ela me lembrou com a voz arrastada. — É uma moeda de troca, Heitor.

Grunhi ao ouvi-la.

Era isso que era. Uma moeda de troca.

Nada mais.

Eu me forçava a continuar, porque cada momento ao lado dela me levava um passo mais perto do que eu queria. Do que eu precisava. Ela soltou um suspiro exagerado, recuando alguns passos, como se estivesse decidindo se insistiria no jogo ou se aceitaria as regras impostas.

— Sabe, Heitor… — sua voz saiu suave, quase doce. — Eu poderia te dar muito mais do que informações.

Antes que eu pudesse responder, ela pegou a bolsa sobre a poltrona e retirou uma pasta preta, entregando-a para mim.

— Isso é o que consegui até agora.

Peguei a pasta sem pressa, abrindo-a para verificar os documentos e as anotações que ela reunira. Li cada página, analisando os detalhes, procurando por algo que pudesse ser útil. Só quando tive certeza de que o material valia a pena, fechei a pasta e a deixei sobre a mesa.

Então, olhei para Selena e seus olhos brilharam com expectativa.

*

  O gosto amargo do acordo com Selena ainda pairava na minha boca, mais indigesto do que qualquer bebida que eu pudesse pedir.

Ela queria que eu acreditasse que era uma vítima. Que não fazia parte dos jogos sujos do irmão. Mas eu não era ingênuo.

— Eu não faço parte dos planos maquiavélicos do meu irmão — disse Selena, estendendo a pasta para mim. — Eu sou só mais uma marionete nas mãos dele e não sei como me livrar.

— Você faz o que bem entende — respondi secamente. — Suas ações dizem muito bem quem você é.

— Eu sempre o desejei, Heitor — ela continuou, um brilho provocador em seus olhos. — E não me importo em saber que para ficar comigo foi preciso ser uma troca de favores.

Peguei a pasta, precisando virar o rosto para o lado quando sua mão tentou fazer o carinho na minha bochecha.

— Eu amei ter esse tempo com você — disse ela, com um sorriso. — Independente do desprezo que sente por mim.

Ela se afastou, pegou a bolsa que deixara na cama e saiu rebolando do quarto, deixando um rastro de perfume que, de alguma forma, parecia mesclar-se com a repulsa que eu sentia. Encarei a pasta que continha alguns arquivos importantes do seu pai e do seu irmão. Cada passo que eu desse com aquelas informações seria um degrau a mais na descoberta dos podres do Caio.

Selena havia se vendido, mas eu também. O peso do que eu fiz começava a me atingir. Era uma troca de favores, e eu precisava me lembrar disso a cada momento.

Após alguns minutos, pedi um táxi à recepção e decidi que precisava espairecer antes de seguir em frente. A tensão na atmosfera, entre a troca de palavras e os momentos íntimos que tivemos, pesava sobre mim, como um peso que eu não conseguia ignorar. Sentado perto do balcão pedi um uísque duplo no quiosque e me sentei em uma mesa afastada, observando a noite enquanto os pensamentos borbulhavam na minha mente. Folheei os papéis novamente, absorvendo cada detalhe. Nomes, datas, transações suspeitas. O tipo de sujeira que poderia enterrar uma família inteira se fosse usada da maneira certa.

Isso me aproximava do meu objetivo. Mas o preço para obtê-la me deixava inquieto. Eu não sentia culpa. Longe disso. Mas havia um incômodo silencioso, um peso no fundo da consciência que eu preferia ignorar. Talvez fosse a lembrança de tudo que já havia perdido. Ou talvez fosse apenas o cansaço de viver sempre em guerra.

A mente estava um turbilhão e descansar parecia não ser uma alternativa. Coloquei meu celular em cima do balcão, procurei relaxar e decidi olhar o movimento ao redor. A música que tocava no quiosque vinha de um grupo de pagode que animava o ambiente. O coro sincronizado de vozes era gasolina para incentivar uma bela loira que dançava ao som de "Só pra contrariar - Essa Tal Liberdade".

Os versos da música pareciam ecoar em minha mente, e eu não podia deixar de notar a leveza da mulher que dançava. Seus movimentos suaves combinavam perfeitamente com seu sorriso solto, e quando ela deu um girinho, os olhos se encontraram com os meus. Naquele instante, minha mente se aquietou, e meu coração pulou de maneira inesperada. Eu sabia quem era ela.

A saia longa, assimétrica e tropical verde orquídea acompanhava o ondular do seu quadril. O salto nude a deixava ao mesmo tempo menina e mulher. Não conseguia desviar o olhar, compreendendo rapidamente a razão dos olhares masculinos estarem voltados para ela.

Carolina era, sem dúvida, o próprio sol na terra. Seus cabelos loiros balançavam ao ritmo da música, conferindo um charme extra ao conjunto que era ela. Quando ela sorriu novamente, meu mundo pareceu girar lentamente, capturando cada pedaço daquele magnífico sorriso. Carolina girou mais uma vez, voltando a dançar de frente para o grupo. Quando a música chegou ao fim, ela se despediu do grupo com uma inclinação delicada, e os aplausos ecoaram enquanto ela se retirava do palco, caminhando em minha direção como uma deusa Afrodite. Fiquei inerte, absorvendo a sua aproximação.

— Olá, amigo do noivo — disse ela, sorrindo.

— Olá, amiga da noiva — respondi, tentando manter a compostura.

Ousadamente, ela pegou minha bebida e levou aos lábios pintados de um rosinha leve. O perfume afrodisíaco dela invadiu minhas narinas, e maldição, como era bom.

— Curte pagode? — indagou, colocando meu copo de volta no lugar.

— Curto — respondi, ainda fascinado por sua beleza. — Você dança muito bem.

— Eu sei — disse, dando de ombros. — Eu amo dançar. E você, sabe ou não mexer os quadris? — remexeu o corpo para exemplificar.

— Eu sei um pouco — comentei, sorrindo. — E o pouco é bem vergonhoso.

Ela riu sonoramente e virou a cabeça para o meu lado.

— Você está sendo modesto — afirmou.

— Ah, é? — indaguei, curioso. — Como tem tanta certeza?

Ela se inclinou mais perto, olhando nos meus olhos com um brilho sedutor.

— Eu tenho minhas suspeitas — sussurrou, antes de se apresentar. — Eu sou a Carolina.

— Sou Heitor Ferraz. Muito prazer em lhe conhecer — estendi minha mão.
Um sorriso sedutor apareceu em seus lábios, e a vi mordiscar os lábios antes de tocar minha mão. Senti um leve comichão, enquanto seu olhar descia para minha boca.

— O prazer é todo meu, Heitor Ferraz — disse, e em um piscar de olhos, ela roubou um selinho meu, demorado. — Até a próxima.

Ela se afastou e saiu do quiosque, desfilando e atraindo mais uma vez os olhares para si. Busquei o copo da minha bebida e tomei todo o líquido de uma vez, buscando acalmar o coração que havia acelerado desenfreadamente. Mesmo sem sua presença, minha mente fez questão de guardar cada pedaço da imagem dela.

Céus, o que era isso que estava acontecendo comigo?

Definitivamente, minha mente só podia estar exausta, e eu precisava de uma boa noite de sono para voltar a focar com racionalidade. Pensar fixamente em alguém que mal conheço me fazia sentir um idiota.

Isso era loucura!

Balançando a cabeça em negativa, guardei o celular e paguei a bebida. Com a pasta na mão, procurei um táxi, decidido a ir para o meu apartamento. Eu só precisava descansar a mente. Era tudo o que precisava.

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