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CAPÍTULO 10 - Chamas do coração

 
|| VALENTINA MARTINS ||

   Antes de voltar para o quarto, me certifiquei de que não havia uma janela ou porta aberta; temi que ele voltasse. A madrugada passou lenta e inquietante, e o meu sono foi repleto de pesadelos. As palavras ameaçadoras de Zayn rondavam a minha mente, e a pressão de tudo o que estava acontecendo me fazia encolher.

Eu senti medo.

Ele não apenas me ameaçou com a divulgação de um vídeo íntimo, como ousou estender suas ameaças à minha família. O perigo se enraizava na atmosfera ao meu redor, tornando a noite um verdadeiro pesadelo. Cada estalo da casa, cada sombra, parecia carregar o peso das suas palavras, me deixando em constante alerta.

No alvorar do dia, me levantei e segui para o banheiro. Os jatos de água gelada caíam sobre o meu corpo, e as ondas de angústia vagueavam no centro do meu peito, como um eco incessante. Por dentro, eu estava um caco. Segurei uma bomba com as mãos, e, num piscar de olhos, ela ativou a cronometragem, um lembrete cruel de que a pressão estava tentando me abalar emocionalmente. Suspirei tristemente, desejando que as águas pudessem lavar não apenas o meu corpo, mas também as minhas preocupações.

Arrastei-me até o closet e, sem entusiasmo, peguei as roupas. Vesti uma calça skinny preta, uma blusa colada de manga curta e gola canoa cinza, e finalizei com um par de All Star pretos. Olhei para o meu reflexo, e percebi que a combinação das cores refletia o que eu sentia: um dia inteiro nas tonalidades de preto e branco, sem espaço para cores vibrantes ou esperança. Era inevitável não pensar na estupidez de ter entregado meu coração a Zayn, mesmo diante dos sinais claros de que ele pouco me oferecia.

As mensagens ignoradas com desculpas de trabalho acumulado, a falta de carinho nas ligações, a busca apenas pelo seu prazer nos nossos encontros; ele nunca se mostrou interessado na minha vida pessoal. Cegamente, acreditei que a necessidade que ele tinha de me ter indicava sentimentos genuínos. Agora, tudo isso parecia uma ilusão, um encantamento que se desfazia diante da realidade cruel.

De frente para o espelho da penteadeira, vi as marcas dos dedos dele ao lado do meu queixo. Espremi os lábios em uma linha fina ao observar as escoriações que ele provocou, uma lembrança física da sua brutalidade. O desprezo que eu sentia por ele misturava-se a uma tristeza profunda, e a raiva começava a fervilhar dentro de mim.

Respirei fundo e comecei a me maquiar, aplicando uma camada a mais de pó para garantir que as escoriações não fossem vistas. Eu precisava pensar em algo, um plano que me tirasse daquela situação. Não podia me render e ser amordaçada sem lutar.

Depois de me preparar, dei um beijo em cada um dos meus irmãos, tentando transmitir uma normalidade que eu não sentia por dentro. Olhei para o corpo do meu pai, ainda dormindo no sofá, da mesma forma que ele havia permanecido na noite anterior. Era muito cedo; os funcionários ainda não haviam chegado, e o relógio marcava 05:26 da manhã. Sentindo uma necessidade urgente de clareza, dirigi-me à praia.

Eu precisava alinhar meus pensamentos, expulsar de mim o medo que tentava me manter refém. 

*

||Damon  Black ||

Ao abrir a porta do meu escritório, fui surpreendido pela imagem de Heitor deitado no divã, navegando na Internet. Um sorriso maroto pintou os seus lábios até que seus olhos se encontraram com os meus, e, naquele momento, a tensão do dia parecia dissipar-se um pouco, como se a presença dele pudesse aliviar a pressão que me oprimia.

— Você tem pendências para serem resolvidas — proferi, tentando manter um tom sério enquanto me dirigia até a minha mesa. A verdade era que a situação em que estávamos envolvidos pesava sobre mim, e a última coisa que eu queria era que ele visse minha vulnerabilidade.

— Eu vim te fazer uma recepção com a minha belíssima presença — disse ele, com um sorriso cômico, tentando trazer um pouco de leveza ao ambiente. — E saber dos detalhes sobre o jantar. Uma gaivota me contou que sua noiva não é um doce de pessoa.

— E quem seria essa gaivota? — Sentei-me na poltrona, ligando o notebook, mas minha mente estava longe, preocupada com o que estava por vir.

— Seleninha, dos olhos castanhos — ele respondeu, olhando para o teto, como se estivesse em uma espécie de transe.

— Desde quando você é próximo dela? — indaguei, surpreso. As revelações de Heitor eram inesperadas, e a ideia de que ele pudesse estar envolvido com Selena me deixava intrigado. — E qual foi a barganha que ela te fez?

— Desde o momento que descobrimos que Valentina estava em um relacionamento com o Zayn — ele fez um ruído desgostoso com a boca, antes de continuar. — Esses detalhes não são importantes.

— Conseguiu algo com isso? — perguntei, ainda cético.

Heitor permaneceu deitado, as mãos descansando em cima da barriga, e começou a balançar os pés, como se quisesse criar uma expectativa no ar. Ele adorava dramatizar as coisas.

— Consegui — soltou pensativo, a expressão no rosto mudando de humor. — O que me faz pensar que ele está tramando algo muito sujo para tomar um passo desse.

A preocupação apertou meu peito. Eu não estava surpreso. Zayn sempre fora um jogador sujo, e a ideia de que ele poderia estar planejando algo para manipular Valentina me deixou inquieto.

— Não me surpreendo com mais nada — murmurei, olhando em sua direção. Ele ainda estava parado, como uma estátua, mas a tensão em seu corpo denunciava que ele estava mais alerta do que aparentava. — Você estava certo quando desconfiou que podia ser uma armação. Acabei de vir da sala de segurança e pedi que fizessem uma cópia extra do dia em que o pai da Valentina veio até mim oferecer a filha como pagamento.

Heitor levantou uma sobrancelha, claramente interessado.

— O que há na gravação? — ele perguntou, já imaginando o que poderia vir à tona.

— A gravação mostra a presença do Caio e do Zayn jogando poker ao lado do senhor Martins — revelei, observando seu rosto se contorcer em desagrado. — O que a Selena lhe contou?

— Que o seu primo estará casado daqui a três dias... — massageei a têmpora, sentindo uma pressão incômoda crescer em minha cabeça.

— Não estará — falei firme, a determinação surgindo dentro de mim como uma chama acesa.

Heitor se sentou, seu olhar intenso fixo em mim. 

— E o que você pretende fazer? — ele questionou, sua voz baixa e cautelosa.

— Jogar. Assim como ele está jogando — busquei meu celular e tratei de mandar uma mensagem para o meu advogado, comunicando uma tarefa a ele. Era o único movimento que fazia sentido naquele momento.

— Você não vai fazer isso! — Ele se sentou rapidamente no divã ao me ouvir. O choque em sua voz era evidente. — É um passo muito sujo para você se contaminar, Damon.

— Meu advogado entrará em contato com o juiz Vassales que fará o casamento dele, e fará uma oferta para que isso não aconteça. Pouquíssimas pessoas sabem que o Vassales é um juiz corrupto.

— Ele pode procurar outro — comentou, franzindo a testa, preocupado. — Não há só o Vassales como juiz.

Uma sombra cintilou em meus olhos, e o peso das minhas palavras pareceu encher o ar entre nós. Não era apenas uma questão de justiça; era sobre proteger Valentina, e eu não me deixaria intimidar por ninguém, muito menos por Caio.

— Eu sou um Black! Não nos rendemos a ninguém! — falei seriamente, sentindo a força da minha linhagem correr nas minhas veias. — Caio é um inimigo declarado! Ou já esqueceu do que ele te fez?

Seu olhar escureceu ao ouvir as minhas palavras.

— Como esquecerei? Tenho as marcas em mim! — disse, alterando-se. — Aquele maldito só não está preso por falta de provas! Mesmo estando grogue por substâncias que me deixaram fraco e quase desmaiado, se não fosse pela tortura causada. Lembro-me perfeitamente de ouvir sua voz por uma ligação. 

As mãos de Heitor se fecharam em punhos, e eu podia sentir sua raiva pulsando, como um fogo prestes a consumir tudo ao redor. Entendia bem o que ele sentia. Na época em que Heitor foi sequestrado, os sequestradores só entraram em contato depois de dois dias. No primeiro dia, sua família achou que ele estava em algum hotel, desfrutando de uma das várias mulheres com quem costumava passar a noite e não dar notícias. Mas, no segundo dia, a preocupação se instalou, especialmente quando sua mãe notou que ele não apareceu para o café da manhã, como era de costume.

— Ele tinha um álibi — falei, mesmo sem provas concretas, eu acreditava em Heitor. Ele sempre teve um sexto sentido para identificar mentiras.

Heitor apoiou os cotovelos nas pernas, deslizando as mãos pelos cabelos, e eu percebia a angústia em seu olhar. Desde o momento em que foi resgatado, a falta de respostas e a liberdade dos sequestradores o perturbavam, como um fantasma que o perseguia. A queimadura em suas costas, resultado da tortura que sofreu, era um lembrete constante do sofrimento que ele havia enfrentado. 

Ele tentava manter a imagem do velho Heitor risonho e extrovertido, uma máscara para esconder suas feridas. Sabia que, por trás daquela fachada, havia um homem marcado pela dor, que evitava falar sobre o passado para não cair em um looping de recordações angustiantes.

Heitor era muito mais que um amigo para mim; ele era um irmão. Tínhamos uma conexão que transcendia a amizade, forjada em meio ao sofrimento e à luta. Conhecíamos um ao outro como poucos, e seu sofrimento era também meu.

— Não é possível que não tenha uma ponta solta! Tem que ter! — eu disse, insistindo na esperança de que houvesse algo que pudesse nos ajudar.

— Tantos anos buscando algo que o incrimine e nada foi encontrado. Caio tem mania de perfeccionismo, para que algo fique fora do lugar, Damon — respondeu, sua voz carregada de frustração.

— Sempre há uma brecha — recusei-me a aceitar o fato. — Talvez estivemos esse tempo todo olhando para o lado errado, procurando no lugar errado.

— As notícias do seu noivado vazaram na mídia faz cinco minutos — Heitor interrompeu, mudando de assunto repentinamente. — Só para pontuar, foi um belíssimo beijo.

Olhei para as letras do documento na tela do notebook, lembrando dos momentos que passei com Valentina. O segundo beijo ainda ardia em minha memória, um momento de descoberta e conexão que desafiava as regras que sempre tentei impor a mim mesmo. Pela primeira vez na vida, eu queria construir algo real com alguém. Ontem, percebi que havia algo que transcendia do meu coração por todo o meu corpo, uma corrente elétrica que me impulsionava a dar um passo em direção a um futuro que nunca imaginei ser possível.

Quando olhei para Valentina, vi algo nos seus olhos que iluminou minha alma. Era um brilho singular, semelhante à luz das estrelas, uma conexão que parecia transcender o tempo e o espaço. Ela não era apenas uma mulher em minha vida; era a possibilidade de um amor verdadeiro. Diferente de tudo aquilo que tive com Érika. 

Erika Nunes foi o meu passado elevado por altos e baixos, encerrado de forma cruel. Esse pedaço da minha história sempre estará comigo, como uma marca indelével. Meus pais não apoiavam o relacionamento, especialmente devido aos escândalos que circulavam na mídia desde o início do nosso namoro. “Erika Nunes, namorada de Damon Black, foi presa dirigindo sob efeito de álcool.” “Namorada de Damon Black avança com o carro para cima de um paparazzi.” Títulos como esses eram apenas uma fração do que víamos nas páginas dos jornais, e cada nova manchete tornava mais difícil para eles aceitarem a situação. 

Meus pais desconfiaram da mudança dela, minha mãe sempre falava que mudança era um processo lento. Eu entendia eles, a cada escândalo a mídia ligava ao nome da nossa família. E, inexplicavelmente, Erika nunca demonstrou interesse em visitar meus pais. Erika era uma garota rebelde quando a conheci, ela havia sido convidada por um amigo para o acompanhar na festa do meu aniversário e a partir daquela noite começamos a conversar e três semanas depois estávamos namorando. Hoje posso dizer que não tínhamos o discernimento, a sabedoria, os diálogos claros  e a maturidade. Possuíamos pontos de vida distintos, alguns dos meus sempre viravam motivo de briga por não concordar.

Mesmo assim decidia permanecer ao seu lado, crendo que juntos mudaríamos. E aos poucos ela começou a mudar, o primeiro passo foi os escândalos. Ela deixou as amizades erradas e tóxicas, de lado. Encerrando um ciclo de confusões que eram vistos na mídia. No primeiro ano que nada dá sua imagem circulou pelos tabloides, ela iniciou sua carreira de modelo. Contudo, nosso relacionamento continuou a ser marcado por momentos de alegria, entremeados por brigas constantes, muitas delas sobre coisas superficiais e sem importância. A tensão aumentou até o dia em que minha mãe sofreu um aborto. Estávamos, mais uma vez, em meio a uma discussão quando recebi a ligação do meu pai. O desespero e a urgência na voz dele me fizeram correr para o hospital, sem pensar duas vezes. Quando voltei para o apartamento, encontrei Erika esperando por mim, e a atmosfera estava pesada. Com um olhar firme, ela depositou uma passagem em cima da mesa de jantar, dando-me um ultimato.

Ela saiu pela porta levando seus pertences, e eu sozinho com o silêncio do apartamento desabando em um choro que liberava-me de um peso que nunca imaginei carregar. Trazendo alívio para minha mente que até aquele momento vi o quão cansado estava, e que os altos e baixos mesmo amando-a acabaria nos levando a trilhar um caminho sozinhos.

A notícia do naufrágio do navio em que estava veio na madrugada do dia anterior, fiquei tão desesperado e angustiado junto a sua família que não medimos esforços para contratar um equipe extra de resgate. Corpos foram encontrados, pessoas resgatadas e outras, assim como ela desapareceu no mar sem deixar rastros.

Eu não aceitei a sua morte. Neguei-me a acreditar, alimentando uma esperança mesmo quando tudo indicava o contrário. Contratei detetive após detetive, ignorando as opiniões de todos ao meu redor que me aconselhavam a parar e aceitar os fatos. Não conseguia desistir. Não conseguia abrir mão da possibilidade de que algo estivesse errado e que, de alguma forma, Erika ainda estivesse viva.

Suspirei, sentindo o peso da decisão que precisava tomar, e voltei meu olhar para Heitor. Ele parecia absorto, com os olhos fixos na escultura de bronze que adornava meu escritório: o deus do amor abraçando a deusa da beleza. A delicadeza da peça contrastava com a tensão que pairava no ar.

— Vou cessar a busca. — Minha voz soou baixa, mas firme, rompendo o silêncio.

Heitor virou-se para mim, os olhos arregalados de surpresa.

— O que disse? — indagou, como se não tivesse certeza de ter ouvido direito.

— Vou cessar a busca. — repeti, desta vez mais claramente.

— O que aconteceu para que tomasse essa decisão? — perguntou, ainda descrente, o olhar fixo em mim, como se procurasse algum sinal de hesitação.

Levantei-me da cadeira, sentindo o peso daquela confissão. Caminhei até o balcão de bebidas no canto da sala, onde uma garrafa de uísque repousava intacta. Era uma garrafa especial, reservada por Heitor para o dia em que eu finalmente decidisse seguir em frente. Sem hesitar, abri-a e servi dois copos, o som do líquido preenchendo o espaço entre nós.

— Algo bom aconteceu. — falei, estendendo-lhe um dos copos. — Valentina.

Heitor segurou o copo, mas não brindou de imediato. Ele me observava, tentando processar minhas palavras. Quando finalmente erguemos os copos, brindamos em silêncio, e ele, ainda em choque, tomou a bebida de uma só vez.

— E ela? — perguntou, o tom cauteloso. — Até ontem pela manhã, ela ainda estava com o Zayn e parecia determinada a não querer nada com você.

— Ela terminou com ele. — esclareci, lembrando-me do momento em que a encontrei, os olhos marejados, as palavras confusas. — Não precisei perguntar. Ao vê-la chorando, soube. Ela está confusa, Heitor. Eu... não consigo colocar em palavras o que senti, como tudo fluiu e aconteceu. Mas algo mudou.

Heitor sorriu de leve, um daqueles sorrisos de quem sabe mais do que está disposto a admitir. Ele apoiou o copo vazio sobre a mesa e inclinou-se levemente para frente.

— Como diz a minha mãe: tudo tem seu próprio tempo. — comentou, a voz calma. — Sabe que tem o meu apoio. Você merece muito, Damon.

Assenti, segurando o copo em minhas mãos, absorvendo suas palavras. Talvez ele estivesse certo. Talvez, pela primeira vez em anos, eu estivesse pronto para seguir em frente. E talvez Valentina fosse a chave para isso.

— É triste a dor do parto mas tenho pendências a serem resolvidas. — se levantou e fechou os dois primeiros botões do seu terno.

Sorri balançando a cabeça negativamente. 

A parte da manhã passou como um borrão, não foi tão agitado mas se resumiu em ler documentos, assinar, e comparecer a uma reunião junto do advogado da família. Reunião essa que se estendeu além do tempo estipulado, pois se tratava do balanceamento financeiro do cassino e das empresas que eu dirigia. 

Faltando dez minutos para meio dia, encerrei a minha manhã. Verifiquei o endereço que estava nas informações que o detetive que contratei para investigar a Valentina me passou, e sai do cassino com uma louca vontade de vê-la. 

*

Estacionei o carro, desliguei o motor e me preparei para sair, mas algo chamou minha atenção. Ele estava ali. O ex-namorado dela, parado na entrada da clínica, como uma pedra no caminho que insiste em não ser movida. Seus braços cruzados e a expressão fechada denunciavam que sua presença não era coincidência, mas sim uma estratégia de intimidação.

Minha primeira reação foi analisá-lo. Observei sua postura, cada movimento, enquanto ele, impaciente, olhava o relógio no pulso e massageava a nuca, como quem aguardava algo inevitável. Decidi permanecer dentro do carro. Minha posição me dava a vantagem de observar sem ser notado. Eu queria entender sua intenção antes de agir.

Ele se desencostou da barra de metal da escada quando Valentina saiu pela porta giratória. Assim que ela apareceu, ele avançou como um predador diante da presa, segurando seu braço com firmeza.

Minhas mãos se fecharam em torno do volante, a força aplicada era tamanha que senti os tendões enrijecerem e meus dedos ficarem brancos. Mas foi quando vi o rosto de Valentina que minha raiva atingiu um novo patamar. O pavor estampado em sua expressão me atingiu como um soco no estômago. Sua pele perdeu toda a cor, os olhos arregalados e o corpo retesado deixavam claro que ela estava apavorada.

Ele teve a audácia de tocar seu queixo, como se tivesse algum direito sobre ela. Vi quando Valentina deu um passo para trás, o corpo inclinado, tentando a todo custo criar uma distância entre os dois.

Não consegui mais ficar parado. Saí do carro de forma quase automática, minhas pernas moviam-se firmes em sua direção. O som dos meus sapatos contra o asfalto parecia um eco de alerta. Minha visão estava focada nele. Não havia mais ninguém, mais nada.

Um instinto protetor rugiu dentro de mim, como uma fera que desperta de um sono profundo e percebe que sua família está em perigo. Era um sentimento que eu não conseguia conter, um desejo incontrolável de me tornar o escudo entre ela e qualquer ameaça. Eu seria o guardião que ela precisava, mesmo que isso significasse me transformar em algo que nunca imaginei.

Cada passo meu parecia carregar o peso de um mundo que eu estava disposto a carregar por ela. Quando me aproximei, não pensei. Não hesitei. Apenas vi uma cor à minha frente, uma cor que me pertence, que circula nas minhas veias como fogo.

A raiva transformava-se em energia, e antes que eu pudesse raciocinar, estava a um passo de agarrá-lo.

Ele nem teve tempo de reagir antes que meu punho se chocasse contra a lateral de seu rosto, fazendo-o cambalear para trás. O som do impacto reverberou, acompanhado do som oco do corpo dele batendo contra a parede próxima.

A raiva tomou conta de mim, mas era controlada, precisa. Não era apenas violência — era uma mensagem. "Você não toca nela," foi o que meu punho disse quando o golpeei novamente, desta vez mirando sua mandíbula. Não dei espaço para ele para se defender, ao sair de cima dele o vi arquear se virando para o lado e gemendo de dor, encarei meus punhos manchados de sangue e vi o estrago deixado em seu rosto. Olhei de viés ao ver Valentina pegar o celular dele e guardar na bolsa, sua ação foi tão rápida que quase passou despercebida por mim. 

Respirei fundo, o punho suspenso no ar, o sangue manchando minha mão e sua pele.

Valentina estava próxima. Ela não gritou, não tentou me deter, mas a expressão em seu rosto dizia mais do que palavras. 

— Você está bem? — perguntei, minha voz rouca, carregada de preocupação.

Ela demorou a responder, como se ainda processasse tudo o que tinha acabado de acontecer.

— Estou. — disse, a voz baixa, quase um sussurro.

Dei um passo à frente, me aproximando dela. Minha mão tocou seu rosto com delicadeza, os dedos acariciando sua pele fria. Valentina fechou os olhos por um breve momento, respirando fundo como se estivesse tentando encontrar um ponto de equilíbrio.

— Não minta para mim, Valentina. — murmurei, meu tom mais suave agora.

Ela abriu os olhos e me encarou, mas não respondeu. Seus lábios tremiam levemente, e antes que pudesse dizer algo, seus braços envolveram minha cintura em um gesto inesperado. O calor do seu corpo contra o meu dissipou o que restava da raiva que eu sentia.

— Você está segura agora. — sussurrei enquanto passava a mão pelos seus cabelos, meu toque firme e tranquilizador.

Afaguei os seus cabelos e beijei a sua testa enquanto mantinha seu corpo junto a mim, o raios do sol fazia o seu véu negro brilhar com banhos de intensidade. Fechei meus olhos por alguns instantes e inspirei o delicioso cheiro que vinha dos seus sedosos cabelos.

Ao lado dela o tempo pareceu ficar encantado, dando um toque de sentimento e sentido para a minha vida. 

Valentina se tornou o meu presente com passagem para um futuro iluminado de segunda chance, um chamado que rugia e aquecia o meu coração, que ia muito além de uma simples atração. Ela se tornou o medicamento que a minha alma implorava para se curar, assim aconteceu. Decidi parar de olhar para  o meu passado que sempre me fazia sangrar por dentro, e ao vê-la com o rosto enterrado em meu peitoral, ergui a sua cabeça para contemplar o meu futuro.

— Vai ficar tudo bem. — garanti enquanto secava suas lágrimas com o meu polegar. — Eu não deixarei que ninguém lhe faça mal algum, Sweetheart.

Ela balançou a cabeça e voltei a agasalha-la na segurança dos meus braços. Encarei as nuvens brancas do céu que se estendiam em uma cortina de algodão, deixei o barulho da cidade grande de lado e foquei por breves minutos no momento.

*

Antes de seguir caminho para a casa da minha mãe, passei na casa da Valentina. Minha mãe havia ligado e pedido para passarmos o final de semana com ela. Quando Valentina ponderou em aceitar o convite, a informei que poderia levar os seus irmãos. Minha mãe iria adorar tê-los presentes, principalmente por amar tanto crianças.

Enquanto ela estava organizando o que levar, um garoto desceu as escadas colocando uma postura de homem. Peito estufado, ombros erguidos e um olhar que me avaliava em um questionamento silencioso.

— Então é você o noivo da minha irmã... — falou categórico, se aproximou e sentou na poltrona ao lado da minha. — Quais são as suas intenções ao se casar com a minha Tina? É ciente que casamento não é uma simples partida de videogame ou um pedaço doce de barra de chocolate?

— Tenho ciência, sim. — afirmei. — Quero construir um futuro ao lado da sua irmã e amá-la.

Seus olhinhos brilharam por cima da sua fachada inexpressiva. Fui sincero nas poucas palavras que deslizaram para fora da minha boca. Eu iria lutar por ela para tornar real o que seria apenas fingimento.

— Como o homem da casa, preciso lhe deixar claro que, se não fizer a Tina feliz, terei o maior prazer de cobrar a sua promessa. — disse sério.

Ele se levantou e ficou na minha frente, estendeu a mão e disse:

— Seja bem-vindo à família Martins. Eu sou o Lucas. — Levantei-me e segurei a sua mão.

— Obrigado, Lucas. É um prazer te conhecer.

Lucas deu meia volta indo em direção à escada, mas paralisou no meio do caminho ao ver uma cópia exata sua.

— Seu pivete! — gritou enfurecida. — Você apagou o número do Yuri. — a mocinha desceu a passos duros os degraus e o olhava com irritação.

— Ele é velho demais para você! — Conseguiu responder ao sair da paralisia em que estava. — Laura, não seja mal-educada na frente do nosso cunhado.

Em uma rapidez, Laura retirou sua sapatilha e jogou na direção do seu irmão. Seu rosto voltou-se para mim por milésimos de segundos antes de encarar o seu irmão.

— Valentina, a Laura quer me matar. — ele gritou alto.

— Lucas, se não parar, irá receber um terço da sua mesada! — a voz da Valentina ecoou do corredor da área de cima.

— Que injusto! Ela que joga o sapato e eu que sou castigado? — ele questiona indignado. — A mal-educada é a Laura, Tina!

Laura avança em direção a ele, que sai correndo como se sua vida dependesse disso, e pelo que vi, dependia. Soltei um riso baixo testemunhando a situação. Ambos passaram correndo indo para fora da casa, ainda discutindo sobre o ocorrido.

Sem dar margem para pensar na questão, levantei-me da poltrona e subi as escadas. Em passos silenciosos, andei na direção do seu quarto. A porta estava entreaberta. Entrei no seu quarto olhando tudo com atenção.

O toque delicado das cores combinava com cada item presente. Valentina havia acabado de sair do banho, vestindo um roupão que cobria seu corpo e uma toalha envolvendo os cabelos úmidos. O vapor suave do banheiro ainda pairava no ar quando ela entrou no quarto. Eu já estava ali, observando-a em silêncio enquanto ela percorria o cômodo, alheia à minha presença.

Ela finalmente notou minha presença ao se virar em direção à cama, e seus passos hesitaram por um momento. Seus olhos se fixaram nos meus, e em seguida ela desviou o olhar, levando as mãos às costas como se escondesse algo.

— Damon... — começou, mas sua voz falhou.

Aproximei-me devagar, reduzindo a distância entre nós. Meu olhar analisava cada detalhe, até que notei algo que fez meu corpo congelar por um breve segundo. Uma escoriação ao lado do seu queixo chamou minha atenção, um contraste evidente contra sua pele delicada.

Franzi o cenho e toquei de leve a lateral do seu rosto, meus dedos deslizando até o ponto ferido.

— Isso foi ele? — minha voz saiu baixa, mas carregada de intensidade.

Valentina desviou o olhar, mas seu silêncio foi uma resposta clara.

— Sweetheart, não minta. — pedi, minha voz um tom abaixo. — Eu saberei da mesma forma.

Ela mordeu o lábio inferior, tentando conter as lágrimas que já ameaçavam escapar. Por fim, assentiu lentamente, confirmando minhas suspeitas.

— Foi hoje, pela madrugada. — murmurou, sua voz trêmula. — Eu desci para tomar água e vi a porta dos fundos aberta. Antes que pudesse fechá-la, ele me agarrou e me levou para fora.

Meu coração pulsava com força, um misto de alívio e raiva lutando por espaço dentro de mim. Alívio por ela estar ali, a salvo, mas uma fúria crescente por saber que Zayn havia ousado tocar nela novamente.

— E você iria me contar? — perguntei, tentando manter a calma, embora minha voz carregasse uma tensão evidente.

Ela abaixou a cabeça, e o peso do silêncio confirmou o que eu já imaginava.

— Meu Deus, Valentina! Não me diga que...

Ela ergueu a cabeça rapidamente, me interrompendo.

— Não! Por Deus, isso não! — sua voz era um misto de horror e urgência.

Soltei um longo suspiro, aliviado, mas o fogo da raiva continuava queimando em meu peito. Não havia perdão para alguém como Zayn.

— Ele invadiu sua casa por causa do término? — questionei, tentando preencher as lacunas.

— Ele veio me ameaçar. — ela respondeu, a voz quebrada. — Não só a mim, mas à minha família também.

Suas palavras eram como uma lâmina cortando minha paciência. Minha mente já trabalhava em estratégias para lidar com a situação, mas precisei me concentrar nela, no que realmente importava.

— O que ele usou como ameaça?

Ela hesitou, suas mãos tremendo. Ao vê-la abaixar a cabeça, algo em mim se quebrou. Aquela não era a Valentina forte e destemida que eu conhecia.

— Há um vídeo íntimo... entre mim e ele. — ela revelou, quase num sussurro.

Meu coração parou por um segundo. Ela me mostrou o celular, com o print de algo que parecia ser parte da gravação.

— Mas creio que não está no celular dele. — continuou. — Zayn mencionou que estava cumprindo ordens de outra pessoa.

Minhas mãos se fecharam em punhos automaticamente, mas me forcei a relaxar. A raiva não ajudaria agora. Ajoelhei-me diante dela, segurando suas mãos trêmulas enquanto tocava a lateral de seu rosto.

— Sweetheart, promete para mim que não importa o que aconteça, você falará comigo. — pedi, meu tom firme mas cheio de afeto. — Não importa o que seja, você precisa me contar.

Valentina piscou algumas vezes, as lágrimas brilhando em seus olhos como pérolas negras. Depois de um instante, assentiu lentamente.

— Eu prometo. — disse, sua voz suave mas sincera.

Encostei minha testa na dela, fechando os olhos por um momento. A gratidão que senti foi imensa. Não importava o quão complicado fosse o caminho à frente, eu sabia que faria qualquer coisa por ela.

— Eu vou cuidar disso. — garanti, me levantando e apertando suas mãos com firmeza. — E vou cuidar dele.

Valentina me olhou com uma mistura de alívio e apreensão, mas ela sabia que eu não estava apenas fazendo promessas vazias. Ela confiava em mim, e isso era tudo o que eu precisava para seguir em frente.

*

Guardei o celular do Zayn no bolso no intuito de mandar para um técnico, e saber se havia alguma prova ou algo que relacionasse ao plano do Caio.


Valentina havia voltado para o closet para terminar de se arrumar, a porta do seu quarto se abre e o Lucas entra. As bochechas vermelhas, cabelos bagunçados e os vestígios de galhos em sua camisa vermelha que tinha em dourado o nome Harry Potter, enaltece seu lado doce e amoroso.


— Estava procurando por você. — disse, ao sentar-se do meu lado. — Você precisa me ajudar. 


— Em quê? — indaguei curioso.


— Com o Yuri. — falou baixo para a irmã não ouvir. — O garoto é um mala sem alça, tem quinze anos e depois de iludir um terço das garotas da escola agora está mirando na Laura.


— E o que você espera que eu faça?


— Eu quero seu suporte para que ele se afaste da Laura. — respondeu e retirou o celular do bolso para mostrar a foto. — Você precisa assustá-lo.


— Lucas, não posso prometer nada. Apenas posso dizer que irei pensar no assunto, ok? — afaguei seus cabelos suavemente — Suas coisas já estão prontas?


— Estão.


— Há algo que queira levar? Bola, roupa de banho ou de montar, livros...— expandir as sugestões.


— Tem cavalos lá? — indagou surpreso.


— Muitos. Dos pequenos aos grandes.


— Vou pegar meu chapéu de cowboy. Vai ser irado! — disse e saiu apressado do carro.


Acabei rindo baixinho com a sua empolgação.


— Obrigado, por isso. — levantei minha cabeça e a mirei.


Valentina usava um vestido soltinho com amarração no pescoço, que chegava até o meio das suas coxas. O modelo rodado possuía o tecido floral negro, viscose, e em seus pés uma rasteirinha de cor preta aveludada de bico enfeitava seu belo tornozelo.


— Não foi nada. — falei. 


— Já estou pronta. — anunciou. 


Andei em sua direção e peguei a mala de mão, em couro marrom que estava aos seus pés. E ao fitar seu rosto não resistir a vontade de beijar seus lábios que estavam pintados em um nude rosadinho, formando um perfeito coração.


Aprofundei o beijo explorando seu lábio macio, o outro braço estava ao redor da sua cintura a mantendo próximo a mim. Sua língua diabólica envolveu a minha em uma dança erótica, o quarto à nossa volta se tornou pequeno e quente demais. Quanto mais provava dos seus lábios, mais eu queria. Ela ofegou entre os meus braços quando findei com um selinho casto.


— Eu te avisei que beijá-la é meu novo vício. — sussurrei.


Busquei a sua mão para sairmos do quarto, as crianças já estavam nos esperando na sala trocando farpas entre si. Mas ao nos ver descendo as escadas pararam imediatamente, o caminho até o rancho dos meus pais foi feito tranquilamente. Os gêmeos acabaram cochilando, Valentina mantinha-se quieta ocultando sua preocupação e eu arquitetando um plano.


*

   O almoço foi feito na área externa, dando-nos uma vista para o campo onde ficavam as éguas. Claro que antes de almoçar visitei o meu pai e troquei algumas palavras com ele, mais uma vez ele estava sedado devido às dores. A situação presente não estava sendo fácil para mim e nem para minha mãe, ela mostrava uma força inabalável e toda vez que entrava no quarto: Contava fofocas, lembrava do passado deles, cantava e orava com ele. 

 Havia também mandado uma mensagem para Heitor pedindo que ele me ajudasse com um favor, em breve, se tudo desse certo venceria mais uma batalha. 

O riso de Laura na piscina atraiu a minha atenção para seu lado, minha mãe estava com elas desfrutando do momento. Lucas estava com o seu Joaquim no estábulo admirando os cavalos e como um garotinho bem corajoso perguntou se podia montar, falei que podia com a presença de um adulto para o supervisionar. 


Peguei a mochila que continha alguns utensílios que havia acabado de separar, e fui em direção a Valentina que conversava com a minha mãe. Sua atenção vem para mim e sua sobrancelha bem desenhada se ergue ao olhar a minha roupa de montaria, um sorriso tímido aparece nos seus lábios e vai se alargando aos poucos. 


— Você está sendo intimada para cavalgar comigo. — estendi a minha mão em sua direção — Conceda-me a honra de ter um pouco da sua presença? 


— Eu concedo. — respondeu, e aceitou a minha mão.


— Laura, seu Joaquim estará selando uma égua mansinha para você montar. Seu irmão já está no estábulo. — a informei.


— Eu a levo, querido. —minha mãe disse carinhosamente. — Tenha um ótimo passeio.


Beijei sua testa e sai de mãos dadas com Valentina em direção ao estábulo, meu cavalo de pelagem negra se encontrava selado e abastecido com uma cesta de frutas, sanduíches, fatias de bolo de cenoura e uma garrafa térmica metálica para suco. Fiz um carinho na sua pelagem e ajudei Valentina a montar, ela não pestanejou por estar de vestido, apenas subiu e se acomodou na selaria feita para duas pessoas.


Montei atrás dela e guiei o cavalo por um caminho já conhecido por mim, teríamos um bom pedaço de chão pela frente e uma bela paisagem para admirar. Na medida que nos afastamos do rancho entramos em um caminho feito por árvores, os galhos se fechavam em um túnel. Folhas verdes despencadas dos galhos forravam o chão em complemento com o capim ao nosso lado.


Continuei conduzindo o cavalo em silêncio focando no caminho à minha frente, abracei a sua cintura e a senti relaxar.

— Está com medo? — indaguei.

— Um pouco. — riu nervosamente. — Onde é o destino do nosso passeio?

— Meu lugar favorito. — falei.

—  Não me diga que iremos sair no país das maravilhas! — brincou se referindo ao túnel de árvores.

Soltei um riso diante do seu humor. De fato a paisagem que meu pai mandou construir tornava esse pedaço deslumbrante, o vento passa por nós levantando do chão algumas folhas secas em uma dança suave. Aproximei o meu nariz da pele da sua nuca e rocei lentamente descendo pelo seu ombro, substituindo logo em seguida por um beijo molhado.

— Sem chapeleiro maluco ou rainha de copas. — falei, Valentina encostou-se em meu peitoral em busca de conforto. — Irei cobra-la por toda essa comodidade.

Seu intenso olhar de ônix me fitou e cacete... quase perco a minha capacidade respiratória.

— Ah, é? — indagou com um sorriso devastadoramente lindo. — Como pagarei?

— Com um beijo. — sorri galanteador.

Sua boca planta um beijo no meu queixo e mordisca no final, fecho meus olhos e um grunhido deixa meus lábios com a sensação prazerosa que aquece-me.

— Você não especificou o beijo. — justificou com um sorriso cúmplice.

— E você gosta de atiçar. — a olhei e a vi esconder a sombra de um pequeno sorriso.

— Quem começou foi você. — rebateu em defesa.

— justo. — falei e beijei o topo da sua cabeça.

Saindo do túnel feito pelas copas das árvores, entramos em uma trilha bastante usada que nos levaria ao nosso destino. Tê-la perto de mim traz uma sensação de casa, dava um sentido à vida, esse sentimento bom que começava a crescer em um êxtase que nunca senti.

*

Ao chegarmos na cabana rústica feita a madeira, desço do cavalo e ao ajudar Valentina a descer nossos olhares se cruzam. Havia doçura reinando dentro deles com gotas de brilhos estrelar, meu coração errou uma batida e voltou a pulsar rapidamente.

Retiro a chave da cabana do bolso e a entrego.

— Pode levar essa cesta para mim? Eu vou tirar a sela do Pegasus. — ela acenou e se afastou indo em direção a cabana. — E aí, garotão. Vamos descansar um pouco?

Alisei a sua crina em um carinho lento, o puxei pela rédea o levando para o pequeno estábulo que há atrás da cabana. A instalação possui duas baías e duas áreas: uma para guardar os equipamentos do cavalo, e outra com ração e remédio caso precisasse. Ao deixar Pegasus confortável na baia onde possui comida e água, sai do estábulo e sigo para a cabana.

Encontro Valentina sentada no primeiro degrau da escadaria, havia um ar de preocupação em seu rosto que ela não conseguia manter escondido.

— Temos três horas de relógio até a assessoria chegar. — avisei. — pode pegar umas três almofadas no sofá? — pedi. 

Tirei a mochila das costas e estendi a toalha de piquenique xadrez na grama de frente para o lago, Valentina se aproximou com as três almofadas e me ajudou a organizar. Ela sentou na toalha e desatou os nós da rasteirinha, fiz o mesmo. Tirei a bota de montaria e deitei na toalha fitando o céu acima de nós.

Valentina repousou sua cabeça na almofada e descansou as mãos na barriga, seu olhar fixou-se no céu, perdido no azul e no branco das nuvens. Alguns minutos em silêncio apenas da absorvendo a tranquilidade do lugar e dando uma pausa nos conflitos que tinha, precisávamos disso.

Ela soltou uma respiração funda e longa, fazendo-a olhar de viés mais uma vez.

— O que está tirando a sua paz, Sweetheart? — indaguei.

Ela se virou para mim, um cintilar de preocupação transpassou o seu olhar.

— O vídeo. Temo que pelo que aconteceu hoje, o seu primo cumpra com a ameaça.

— Isso já está sendo cuidado. — respondi sem entrar em detalhes. — Só confie em mim.

Ela balançou a cabeça afirmando e aproximou o seu corpo do meu, sua mão descansou no meu peitoral e seu indicador fazia um espiral suavemente na abertura que os dois botões abertos favorecia um espaço, a camisa polo preta e a calça cinza de hipismo, fazia parte do meu vestuário de montaria.

Com o indicador tracei o desenho do seu rosto, até chegar em seu lábio que toquei em um deslizar sensual. Ousadamente Valentina entrelaçou sua perna na minha e sem aviso prévio a trouxe para cima do meu corpo, arrastei a lateral da minha bochecha pela sua até chegar em seu ouvido e sussurrar:

— Assim está bem melhor. — sua respiração pesou e acelerou. 

O calor entre nós crescia a cada segundo, como uma faísca que encontrava combustível e se tornava impossível de controlar. O toque dela, sua respiração ofegante e a forma como seus dedos exploravam cada detalhe do meu corpo me deixavam em um estado primitivo, quase selvagem.

Meu olhar encontrou o dela novamente, e havia algo mais do que desejo ali — havia entrega, confiança, e um brilho de pertencimento que não precisava de palavras para ser entendido.

— Valentina... — murmurei, minha voz rouca, carregada de emoção e desejo. — Você tem ideia do que faz comigo?

Ela mordeu o lábio inferior, o gesto inocente e ao mesmo tempo devastador. Suas mãos subiram pela minha nuca, puxando-me para mais perto, como se temesse que algum espaço entre nós pudesse esfriar o calor que nos envolvia.

— E você? — retrucou, a voz baixa, quase um sussurro. — Sabe o quanto me deixa fora de mim, Damon?

Eu não respondi. As palavras pareciam insuficientes naquele momento. Em vez disso, inclinei-me mais uma vez, tomando seus lábios com os meus, em um beijo que falava tudo o que não podia ser dito. Sua pele contra a minha era como uma corrente elétrica, cada toque enviando ondas que reverberavam dentro de mim. Valentina arqueou o corpo ao meu encontro, seus dedos cravando-se levemente em meus ombros enquanto o mundo ao nosso redor parecia desaparecer. O momento era nosso, uma explosão de sentimentos que iam muito além do físico. Era a expressão de algo mais profundo, uma conexão que desafiava todas as barreiras. 

Valentina fazia-me perder toda a racionalidade quando o centro era ela. 


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6945 palavras

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