[05] Não era só um cappuccino
GENTE DESCULPA!!! eu ia postar ontem, mas esqueci de programar e não estava em casa
mas vamo que vamo
boa leitura!!!
(...)
As cortinas adormeceram abertas, mas o sol não conseguiu despertar os pombinhos que se enroscaram um no outro durante a noite. Jeongguk enterrou o rosto no peito de Jimin, que enrolou os fios do cabelo dele entre os seus dedos, respirando fundo o cheirinho de bebê do shampoo que ele trouxe consigo. A lavanda embalou o seu sono sem que precisasse acender alguma vela aromática.
Outra vantagem que encontraram ao dormirem juntinhos foi a de não sentirem a real necessidade de um cobertor, tão mal acostumados a não ter um outro corpo que os esquentasse durante toda a madrugada e logo na primeira, só o calor da pele alheia foi o bastante. E naquele emaranhado de pernas e braços entrelaçados, o despertador de Jimin tocou debaixo do travesseiro, fazendo-o levar um susto e Jeongguk resmungar sem conseguir abrir as pálpebras.
Acordar com tamanha claridade machucando os olhos não era lá muito agradável, então, após desligar o alarme, fechou as cortinas perto da cama, mas não conseguiu ir muito longe. Jeongguk voltou a agarrá-lo para voltar ao sono do qual nem havia saído, e Jimin, tentando ser um bom namorado, voltou a fazer cafuné no cabelo escuro e sorriu com o biquinho manhoso do moreno ao receber beijinhos na testa.
Não podia demorar tanto ali e pelo horário que Jeongguk normalmente trabalhava, a cena aconteceria quase que diariamente, então, deveria acostumar-se a acordar e deixá-lo na cama. No entanto, a prática era bem diferente da teoria, adormeceu e acordou dez minutos depois, muito mais assustado do que na primeira vez.
Arrastou-se pelo colchão e tomou um banho rápido, trocando de roupa sem se importar se Jeongguk estava vendo-o pelado ou não. Fechou o restante das cortinas e com tudo escuro, deu uma última olhada para a cama antes de sair do apartamento. A vontade de ficar um pouco mais não era inédita, mas o motivo, sim, o que tornava a sua partida um tanto dolorosa. Nem o latte macchiato que tomaria assim que chegasse na cafeteria parecia ser melhor do que estar com Jeongguk.
Fechou a porta do apartamento e ficou parado no corredor com os olhos fixos no nada. A ideia de estar realmente morando com Jeongguk caiu como quando o diretor diz "corta" e a emoção da cena se esvai, os cinegrafistas abandonam as câmeras e de repente, o ator está ali, de frente para o espelho retirando a maquiagem, encarando nada mais do que a pura realidade.
— Eu tô ferrado — murmurou para si mesmo ao colocar as chaves no bolso enquanto esperava pelo elevador.
Jimin ainda não conseguia encarar aquela manhã como algo satisfatório e que facilmente tornaria a sua rotina um tanto mais gostosa, apenas pensava em como seria difícil acordar em um futuro não tão distante e não ter mais o moreno ao seu lado. E assim, foi para o trabalho, caminhando pelas calçadas pouco movimentadas, chutando pedrinhas com uma música triste sobre um romance que não deu certo.
E, se Jimin martirizava-se de um lado, Jeongguk acordou horas depois se sentindo tão pleno como nunca antes. Espreguiçou-se no meio da cama e bocejou afetado, sem se preocupar se estava incomodando alguém do outro lado do quarto. Sabia que estava sozinho, mesmo notando os vestígios do perfume do seu amor, como ele mesmo gostava de chamar.
Dormir em um colchão que era seu e aspirar o cheirinho de Jimin o fez mergulhar em um sono tão profundo que ele não se lembrava de qual foi a última vez que dormiu tão bem. Talvez a noite anterior no chão do seu antigo quarto na república tivesse o ajudado, o cansaço era tão palpável que nem percebeu quando apagou de forma quase instantânea.
Agora mais disposto, saiu do banheiro com o rosto fresco cheirando a sabonete e sabor de menta na ponta da língua. E tentando se sentir à vontade na nova casa, vasculhava os armários da cozinha para preparar uma receita que viu no instagram esses dias. A sensação de não comer qualquer coisa pela manhã antes de ir malhar era instigante, não precisaria mais etiquetar suas marmitas e esperar que elas se mantivessem intactas quando chegasse. Morava com Jimin agora e para ele, cozinharia com prazer.
Antes de misturar os ovos, a aveia e a banana, sintonizou na rádio para escutar as notícias enquanto rodopiava sua panqueca na frigideira, aproveitando da solidão gostosa. Nem sabia que gostava tanto assim de ouvir o noticiário local, pois na república, os outros caras reclamavam tanto da chatice que Jeongguk só desistia e deixava que escutassem uma rádio jovem qualquer, tocando as músicas mais famosas do momento.
E era estranho ter uma manhã do jeito que queria pela primeira vez desde que se entendia por gente. Porque sua família não era de todo mal, mas não acordava na hora que queria por causa da escola; não comia o que queria porque sua mãe nunca achava ser o suficiente e as cobranças com as notas o faziam sair do carro dos pais ansioso. Deixar Busan foi difícil, mas não havia como negar que isso só melhorou a relação familiar.
Sentado no sofá enquanto comia as pequenas panquecas, observava a caixa de livros no canto da sala e pensava que logo, logo eles estariam em uma bela estante. Não queria deixar nada para depois e acumular tarefas simples de resolver, Jeongguk estava disposto a fazer aquela nova vida funcionar e sem qualquer arrependimento.
Mas primeiro, precisava se matricular em uma academia do bairro. E ao invés de simplesmente procurar na internet, colocou o seu smartwatch na função corrida e saiu à procura, escutando uma música calma que o fazia lembrar de um fim de tarde, mesmo que ainda não tivesse passado das dez da manhã e o coração começasse a martelar pesado pelo exercício físico. Se alguém da república o pegasse escutando MoonMoon, nem sabia o que seria de si nos próximos dois dias.
Jeongguk até balançava a cabeça com a música e, consequentemente, os seus fios suados que cresciam sem o controle de uma tesoura. Quem o olhava correndo e olhando para as fachadas das lojas com atenção, jamais imaginaria o que se passava em seus fones de ouvido, não quando ele vestia uma calça de moletom e uma camiseta preta larga o suficiente para disfarçar os seus músculos, que só apareciam quando o suor tomava conta e o tecido colava-se à pele.
E foi naquela batida calminha que ecoava em seus ouvidos, contrastando-se com os seus passos velozes, Jeongguk viu Jimin pela vitrine da cafeteria e parou de repente no meio da calçada. Já nem sabia se o coração acelerado era devido a atividade física, ou pelo fato de vê-lo tão bonito através do vidro límpido. O que era bizarro de se pensar, porque não fazia muito tempo que estavam dividindo a mesma cama, mas lá estava Jeongguk, sorrindo feito bobo para o loiro que atendia os clientes, anotando os pedidos de café da manhã.
Decidiu entrar e provar do cappuccino com canela, fazendo o sininho da porta tocar e Jimin finalmente notar a sua presença suada. Sentou-se em uma das mesas bem ao lado da vidraça e sorriu para ele, os cotovelos sobre o tampo de madeira e as mãos abraçando o queixo, deram-no todo um ar de criança inocente e Jimin quis derreter ali mesmo.
— Deixa que eu atendo — sussurrou para a sua colega de trabalho, Mika, que logo ergueu as mãos, ainda segurando o bloquinho de pedidos, colocando-o no bolso do avental ao dar meia volta e ir para trás do balcão.
E lá voltava Jimin a ser completamente atrapalhado só de saber que o moreno estava por perto e ele esforçava-se ao máximo para soar simpático mesmo com o coração ameaçando saltar para fora do peito. No entanto, todo aquele nervosismo não era nada parecido com o que Jeongguk estava sentindo.
Isto é, não era a primeira vez de Jeongguk na cafeteria. Durante a faculdade, seus colegas passavam algumas tardes ali estudando para as provas teóricas, Jeongguk também ia sozinho e Jimin sempre pareceu atendê-lo como alguém que era mais do que seu amigo. O que havia mudado desde então foi o peso do compromisso firmado, dando permissão para que o moreno adentrasse cada pequena parte da sua vida.
Jimin não sabia se estava pronto para que isso acontecesse, porque no fim, ele ainda via a relação recente apenas como um teste. E devido a frustração iminente, só conseguia pensar em cada nova memória criada com Jeongguk tornando-se uma lembrança saudosa daquilo que não deu certo. Tinha certeza que não sairia da cafeteria tão cedo e agora, teria que viver com a pintura que criou do moreno sentado naquela maldita cadeira com a língua para fora enquanto folheava o cardápio.
E além do mais, o que faria com a opinião dos outros? Céus, o que Mika, tão distraída e preocupada com a própria vida, iria pensar sobre o namoro com o fim tão precoce? Óbvio, mais um fracasso para a sua conta, não sabia porque ainda tentava.
Andando com os passos mais desordenados do que a própria cabeça, Jimin entregou o pedido à Mika, que sorriu como de costume e logo tratou de preparar os cafés e rechear os pães com o creme fresco. Já o loiro, seguiu para onde Jeongguk estava sentado, tentando não se animar muito com a presença do moreno porque ele já havia feito aquilo anteriormente e só o que sobrou foi o arrependimento de ter demonstrado mais do que deveria. Já imaginava que lá na frente, lembraria daquela cena e diria para si mesmo, ou para Taehyung: "Eu já sabia que ia dar errado" e daria de ombros, como quem tinha toda a razão.
— O que você veio fazer aqui? — Jimin perguntou, com as mãos dentro do bolso do avental, olhando de soslaio para Mika a fim de ver se ela observava os dois.
— Bom dia, amor — Jeongguk disse, em seu tom de voz normal, mas o loiro achou estar alto demais, as bochechas coraram e coçou a nuca, completamente sem jeito. — Vim ver como você fica de legging no trabalho.
— Ai, fala sério... — Revirou os olhos e deixou um sorriso escapar, sem controle, do jeito espontâneo que se apaixonar deveria ser. Jeongguk fazia aquilo consigo e perceber a naturalidade com que era desarmado, o preocupava.
— Na verdade, eu fui procurar por uma academia pelos arredores do nosso apartamento — Jeongguk disse, orgulhoso de si mesmo, daquele jeito parecia que estava resolvendo a própria vida e entrando nos eixos. Agora, tudo era novo e ele não queria deixar que problemas simples de serem resolvidos se acumulassem em uma pilha que nem deveria existir.
Até mesmo o seu cabelo maior do que de costume era fruto da mais pura preguiça de ir ao barbeiro, mas estava curtindo o visual. Gostava de aparentar ser hardcore, apesar de passar longe de todo o resto que não envolvia vestir-se de preto e calçar umas botas legais.
— E achou?
— Não, acabei te achando primeiro. — Deu de ombros, um sorrisinho maroto pintando os seus lábios, feliz em ver o namorado antes das cinco da tarde. Mas a recíproca não parecia ser verdadeira, Jimin ainda estava com as mãos no bolso e os pés juntos, uma pose muito tensa para quem já estava acostumado a atendê-lo, mesmo que fosse só de vez em quando. — Fiz mal em entrar?
— Não... — Engoliu em seco e olhou para o balcão mais uma vez, vendo Mika, que secava a bandeja para servir o próximo pedido, encará-lo com o olhar um pouco preocupado. — Quer beber alguma coisa pra passar o tempo?
— Quero. Um cappuccino com bastante canela, por favor.
— Tudo bem... — Rodou os calcanhares e apressado, andou em direção ao balcão, pegando uma das xícaras sem prestar muita atenção nas próprias ações.
— Você tá legal? — Escutou a voz sussurrada de Mika quase no pé do seu ouvido, tão próxima de si que o hálito veio acompanhado do perfume doce que ela normalmente usava. — Quer que eu chame a polícia?
— O quê?! — Jimin arregalou os olhos e deixou a xícara, ainda vazia, cair no chão, tilintando alto no piso de cerâmica polida. — Por que? — Recolheu a xícara intacta e apenas a jogou na pia, parando para se atentar ao que Mika dizia.
— Você ficou todo tenso depois que esse cara chegou, aconteceu alguma coisa?
E é claro, Mika não conhecia Jeongguk, nunca o tinha visto na cafeteria porque estava trabalhando ali fazia pouco tempo. Jimin havia perdido as contas de quantos colegas já tivera, entrou ali também com a intenção de ficar pouco tempo, mas parecia que o lugar seria digno de sua futura aposentadoria.
— Não. Ele é o meu... — Jimin apoiou-se no mármore da pia, cruzou os braços e olhou para trás, vendo Jeongguk admirar o caminhar alheio através do vidro. A luz fraca da manhã incidia sobre os fios escuros e os olhos fecharam-se com um sorriso involuntário nos lábios. O cheirinho do café deixava-o realmente feliz e Jimin queria permitir-se sentir daquele prazer trivial, mesmo com coisas tão simples. — Ele é o meu namorado.
E lembrou da última vez em que Taehyung estivera ali, pois foi quando disse que não daria certo com Jeongguk e olha só onde estavam agora: dividindo o mesmo teto. Aquela não era a primeira relação amorosa de Jimin, já sabia o que queria em um parceiro e identificado tudo aquilo que fez de errado para encontrar o fim, mas lá estava ele, repetindo tudo de novo, com todas as redundâncias possíveis.
O incômodo com as próprias ações era perceptível em suas expressões, cada movimento e fala era seguido do arrependimento. O empenho do moreno em ser um bom namorado era notável, não merecia ser tratado como um teste já fracassado e o fazia bem demais para os outros perguntarem se Jimin queria que chamassem a polícia.
Deveria, mais do que tentar fazer dar certo, acreditar que aquilo era possível também, que merecia a tal felicidade de um relacionamento duradouro e feliz. No entanto, isso parecia ainda estar longe dos seus pensamentos.
— Ah, não precisa se preocupar com isso, menino — Mika disse aliviada, pensando que o parceiro estava apenas preocupado em como tratar o namorado no trabalho. Bateu no ombro de Jimin e sugeriu logo em seguida. — Aproveita e tira o seu intervalo da manhã agora, passa um tempo com ele. Tem poucos clientes, eu dou conta.
— Você acha que é uma boa ideia? — perguntou, inseguro e mordeu os lábios, mesmo não conseguindo ir contra aquela satisfação de vê-lo ali. Porque no fundo, Jimin sabia que Jeongguk não queria apenas o cappuccino, mas a sua presença também.
— Mas é claro, vai lá, bobo — Mika disse, já se preparando para voltar à finalização dos pedidos que havia começado.
— Se as coisas apertarem, pode me interromper a qualquer momento — avisou, com os olhos atenciosos. Mika, sem dúvidas, era uma das melhores colegas de trabalho que tivera até então.
— Pode deixar! — Bateu uma continência brincalhona e Jimin sorriu satisfeito, iniciando preparo do pedido mais recente e ao que parecia, um tanto especial. — Hmmm, vai fazer um café pro namoradinho — brincou, o sorriso mostrando a língua sapeca entre os dentes.
— Tenho que dar o meu nome, né? — Deu de ombros, sorrindo bobo e percebendo que, ter Jeongguk em seu ambiente de trabalho, poderia ser tão natural quanto Mika estava sugerindo.
Era muito bom em criar cenários hipotéticos dentro da própria cabeça e sofrer com algo que nem havia acontecido, mas também era muito bom em fazer cappuccinos. A dose a mais de canela era por conta de Jeongguk, que não sabia se sorria pelo coração desenhado no creme, ou pelo fato de ver Jimin sentando-se logo à sua frente.
— Posso te pagar um café, moço? — perguntou, em um flerte tímido, tentando ignorar as batidas aceleradas do coração com algo tão simples, mas que para si, era necessário repassar todas as falas e nuances da respiração antes de dizer qualquer coisa.
Jeongguk gargalhou em resposta, um pouco espalhafatoso demais, talvez estivesse feliz por ver que a tensão anterior evaporou. O que não era uma total verdade, mas Jimin estava tentando e felizmente com o cinegrafista tudo se tornava mais fácil.
— Ainda bem que a gente já namora, porque se você aparecesse me chamando de moço, eu te daria um fora na hora.
— Ainda bem que não precisei de cantadas pra te conquistar. — Sorriu tímido enquanto desembrulhava o seu sanduíche do papel alumínio e ao dar a primeira mordida, perguntou de boca cheia: — Aliás, você dormiu bem?
— Dormi muitíssimo bem no meu colchão. — Colocou a mão no peito para dar ênfase e Jimin adorou ver o quão confortável Jeongguk estava se sentindo em morar consigo, mas também, via o buraco onde se meteu ficar mais fundo a cada novo sorriso e confirmação de que, sim, Jeongguk estava muito feliz em saber que Jimin era seu. — E ah, pensei numa coisa aqui agora.
— O que?
— Dificilmente tomaremos o café da manhã juntos. — Apoiou a bochecha em uma das mãos, fez um bico manhoso que logo foi engolido pelo creme do café e uma linha branca de espuma apareceu acima dos seus lábios. — Hoje vai ser a nossa primeira noite em que eu trabalho e você vai perceber que as nossas rotinas são bem opostas.
— O que você acha que vai acontecer? Vamos nos ver apenas nos fins de semana? — Jimin perguntou, com o sanduíche em mãos, mas sem conseguir dar uma segunda mordida.
Sua cabeça fluía facilmente para bem longe, onde tudo começava a dar errado e aquele era o primeiro sinal: encontraria apenas vestígios da presença de Jeongguk durante a semana, mal se lembraria que ele de fato morava consigo e somente os sábados e domingos seriam pouco para aprofundar a relação. Era isso, estavam fadados ao fracasso e não podiam fazer nada contra aquilo.
— Não, a gente pode fazer funcionar. — E lá vinha Jeongguk fazendo-o morder aquele sanduíche ao dizer que as coisas não eram tão ruins quanto pareciam. — Eu posso passar aqui de vez em quando depois da academia, só pra te ver mesmo, nem precisa conversar comigo.
— É óbvio que eu vou falar com você, anjo. — Jimin riu do jeito fofo que Jeongguk falava sobre as coisas. — Faço questão de te servir um café toda vez.
— Beleza, nova meta: provar todo o cardápio da... Qual é o nome dessa cafeteria mesmo?
— No CNPJ tá Sweet Dreams. — Deu de ombros ao ver Jeongguk se engasgando com a própria risada. — Mas uma vez eu disse pro Sr Gong que mais parecia nome de motel e aí ele mandou retirar a placa, desde então só tem essa xícara vintage gigante lá na fachada.
— Fez bem, eu olho pra essa xícara e penso no quê? Café. Entro aqui e encontro o quê? Café.
— Ele queria que isso aqui fosse uma confeitaria, mas achou o cupcake gigante muito brega. — Deu mais uma mordida, olhou para a rua calma e suspirou. Voltando a olhar para Jeongguk, flagrou um olhar apaixonado enquanto mastigava o seu sanduíche que quase ficou entalado na garganta.
Ainda não havia se acostumado com aqueles olhares tão naturais, seguidos de frases de uma conversa informal e que não significavam nada. Ele olharia para si daquele jeito todos os dias? Como quem transborda carinho só de respirar ao seu lado?
— Sweet Dreams também é o nome de uma boate gay.
— Sério? — Engoliu em seco, precisando recorrer ao chá gelado esquecido na mesa. Por Deus, nem parecia que dividiam a mesma cama há exato um dia e mais do que isso, que recebia aqueles olhares desde que trocaram as primeiras palavras.
— Sim, eu e Yoongi estamos praticamente catalogando todas as casas noturnas de Seul. Ainda não fomos lá, mas tenho certeza que o nome foi inspirado naquela música do Eurythmics.
— Quem?
— Sweet dreams are made of this... — começou a cantar, mas logo parou quando Jimin demonstrou lembrar que música era aquela. Uma pena, porque o loiro queria escutar mais, mesmo que não gostasse tanto assim da original. — Não me pergunte como eu sei quem canta isso. — Apontou com o indicador para Jimin enquanto dava mais um gole no cappuccino, lambendo o lábio superior. — Queria eu ter a mesma relação que você tem com o seu chefe, com o meu diretor.
— Como ele é?
— Claramente não tá nem aí pros nossos perfis profissionais, pois mandar Yoongi fazer quase que um documentário sobre a noite coreana foi a coisa mais nada a ver possível. — Respirou fundo, tentando não ficar tão nervoso com aquilo. — O que me faz voltar ao nosso ponto anterior.
— Certo. — Jimin suspirou, pensando nas rotinas completamente opostas.
— Enquanto você está aqui, eu vou estar dormindo. Quando você chegar em casa, não vai demorar muito para eu sair. Eu posso fazer o jantar e então conseguimos passar um tempo juntos. O que acha?
— Parece que você já pensou em todos os nossos problemas e possíveis soluções. — Jeongguk não parecia tão diferente de si, no entanto, ele encarava os problemas como algo a ser resolvido, e não um grande empecilho que o fazia desistir das coisas.
— Talvez. Eu realmente quero que isso dê certo e nessa da gente mal se ver alguns dias da semana, sei lá, fiquei pensando e resolvi externar. O que acha?
— Acho ótimo não precisar fazer o jantar. — Entreolharam-se e só aquela troca deixava Jimin nervoso.
Como Jeongguk ousava ser exatamente aquilo que desejava em um relacionamento? Lembraria de todas essas certezas que começavam a ser colhidas quando tudo desse errado? Será que não doeria ainda mais dizer adeus a tudo o que estavam construindo? E mesmo pensando em todas essas coisas, ainda completou a sua fala.
— E de passar um tempo com o meu maridinho também. — Sorriu, pegando na mão de Jeongguk
— Maridinho — repetiu, com um sorriso presunçoso nos lábios. — Gostei.
A palavra não só plantava uma ideia no futuro, mas também expressava o comprometimento que Jimin estava tentando ter. E quando Jeongguk foi embora em busca de alguma academia para treinar todos os dias, afirmando ainda mais que tinha planos de ficar, Jimin suspirou contido, com a nova angústia de saber que não estava tentando sozinho e, talvez, essa fosse a pior parte: não conseguia se ver além daquele ponto.
(...)
Voltar andando para casa, naquele fim de tarde, depois daquela manhã tensa e da culpa que sentiu após perceber a própria tensão, ainda carregava a mesma angústia de dias atrás. A animação do dia anterior havia se dissipado, as coisas do Jeongguk já estavam no lugar, era apenas o segundo dia e havia muita novidade a ser descoberta naquele pequeno apartamento, mas Jimin não conseguia pensar em nada de positivo.
Subir as escadas, rodar a chave na maçaneta, abrir a porta e vê-lo procurando estante de livros enquanto estava jogado no sofá não fazia parte dos seus planos. Queria saber prever o futuro: quando ele iria embora? Quando Jeongguk se cansaria de tentar? Quando Jimin começaria a estragar tudo?
— O que acha dessa? — Jeongguk perguntou, deixando o celular nas mãos de Jimin e levantando-se para checar a largura que o móvel ocuparia com uma trena.
— Onde você achou isso? — Jimin apontou com o queixo para o que ele segurava, medindo com os seus braços longos e ágeis, abaixando-se para checar a altura e se ficaria harmônico com o painel da televisão.
— Pedi ao sr. Gong quando cheguei no saguão do prédio e ele me perguntou quem eu era.
— E o que você disse? — Estranhamente, o coração de Jimin acelerou com aquela nova informação, mas o músculo parecia estar batendo dentro da sua cabeça.
— Disse que sou o seu namorado e que comecei a morar com você. — Satisfeito com a sua medição e com as respostas dadas de forma tão espontânea, Jeongguk voltou para o sofá, pegando o celular da mão de Jimin com a tela já apagada. — É a verdade, não é? Gostou, ou não?
— Gostei... — Engoliu em seco, sem saber o que fazer com aquela situação se espalhando. Logo, logo todo o prédio ficaria sabendo que Jeongguk estava morando ali e isso teria a mesma proporção quando ele fosse embora. — E aí você simplesmente perguntou se ele tem uma trena?
— Nem sei como a conversa surgiu, pra falar a verdade. — Jeongguk riu e continuou a rolar a tela pelas opções de estantes enquanto Jimin deixava o sofá para ver todas as fotos polaroids espalhadas pela mesa de centro.
Olhar para os rostos conhecidos nas fotografias fez surgir um nó na garganta. Alguns dos rostos também eram seus, mas ele não se reconhecia. Talvez, pelos anos que se passaram e nas suas feições faciais hoje em dia amadurecidas, ou pelos sorriso espontâneos que surgiam com tamanha facilidade. Jimin via a sua versão feliz e radiante, a qual não correspondia com o seu reflexo no espelho.
Algo na forma como sabia exatamente o momento em que Jeongguk apareceu com a sua câmera trazia uma nostalgia melancólica, pois também sabia o que estava fazendo na época, quais matérias estava estudando, em qual peça estava, com quem estava namorando. Todo o período da faculdade foi vivido intensamente e quando a graduação acabou, algo dentro de si morreu também. O mundo real não era como a faculdade.
— Você guardou todas elas... — Jimin sussurrou, sorrindo ao ver a sua fotografia deitado na cama, tirada na noite anterior, contrastando-se com o seu olhar quase inocente de anos atrás.
— O que mais eu poderia fazer? — Deu de ombros, sorrindo para Jimin. O que até poderia parecer óbvio, mas o loiro conseguia ver todo o cuidado de Jeongguk com aquela simples ação ao cuidar de tamanhas memórias.
— Jogar fora? — E mostrou uma fotografia sua com algum namorado da época, tirada contra a vontade de Jeongguk, mas Jimin se lembrava de ansiar por aquele momento. Algo na sua cabeça lhe dizia que a mera ação de tornarem aquele momento eterno, poderia fazer com que aquele namoro seguisse o mesmo caminho. Jeongguk ainda mandou mensagem perguntando se Jimin queria a foto, mas eles já haviam terminado. — E o que vai fazer com tudo isso agora?
— Estava pensando em expor em algum lugar, mas não consegui pensar em nada. — Jeongguk apoiou os cotovelos nos joelhos, sentado na ponta do sofá, olhando para as polaroids também. — Não quero encher o seu apartamento de tranqueira.
— Nosso apartamento... — corrigiu, ainda que não achasse ruim que Jeongguk constantemente se retirasse de cena. Era isso que aconteceria mais cedo ou mais tarde. E, de certa forma, havia certo contentamento com aquilo, pois Jeongguk estava fazendo exatamente o que Jimin esperava e numa forma de tentar provar o seu pensamento, completou: — Existe um tipo de grade bonitinha que dá pra pregar as fotos com mini pregadores. Podíamos ir atrás disso. — Pois se caso ele nunca resolvesse aquilo e as fotos ficassem intocadas dentro de uma gaveta como sempre ficaram, Jimin teria ainda mais certezas de que Jeongguk não tinha a intenção de ficar, apesar dele estar estar constantemente provando o contrário.
— Ah! Acho que já vi isso mesmo. — A voz animada era distorcida dentro dos ouvidos de Jimin e quando Jeongguk se levantou para fazer o jantar que disse que faria, lembrou da conversa que tiveram mais cedo na cafeteria, de como queria acreditar naquelas promessas.
Permaneceu sentado no chão, fazendo exercícios para aquecer a voz. Fazia tempo que não cantava e a data do teste estava se aproximando, havia um calendário dentro da sua cabeça com o dia circulado em caneta vermelha forte e grossa. Não que quisesse desistir da vida de ator, mas havia algo rondando a ideia daquele teste em específico. Sabia que veria rostos conhecidos, colegas de faculdade e pessoas que sabia ser muito boas no que faziam. Imaginar-se voltando a ter contato com elas o fazia se questionar sobre a sua real capacidade, mal importando se fazia teatro desde os oito anos de idade, se cantava em corais desde que se entendia por gente, ou se fez mais papeis do que conseguia se lembrar.
A sua vida de ator sempre foi ligada ao fracasso, era comum atuar na frente de poucas pessoas, às vezes, para aqueles que estavam apenas esperando a peça acabar porque eles seriam os próximos a ocuparem o palco. No entanto, depois que o resto da vida tomou conta daquela grandiosidade que lhe tomava o peito e o fazia continuar, mesmo quando tudo ao redor parecia difícil, a vida foi o deixando pequeno, a atuação apenas uma luz no fim do túnel, escassa e distante.
Não pensava sobre isso e tampouco refletia sobre os significados ocultos que aquele teste continha, mas algo dentro de si lhe dizia que se não passasse agora, seria o fim. E algo naquele fim imaginário lhe dizia que morreria, mesmo continuando vivo.
E tamanha a vontade de sentir qualquer coisa, de, talvez, resgatar o sorriso sincero estampado naquelas fotografias deixadas sobre a mesa, Jimin começou a cantar como se estivesse sozinho. De olhos fechados, tronco ereto e os pulmões seguindo a consciência muscular de um aprendizado já enraizado, a voz ecoou pelo pequeno apartamento, atravessando as paredes e chegando ao corredor do outro lado da porta, este que já havia se esquecido daquele canto. A nuca de Jeongguk se arrepiou, a torneira que enchia uma panela d'água foi desligada, pois era um ultraje qualquer outro som tentar atrapalhar a pureza daquela voz.
Jimin era bom, não pelo talento imensurável, mas pelo esforço incalculável. A prática constante de anos atrás sempre relembrada em momentos como aquele, a repetição incansável de tantas manhãs mostrava os seus resultados. Jimin podia pensar que não conseguiria passar naquele maldito teste, mas daria tudo de si para apenas saber que deu o seu melhor. E, talvez, fosse exatamente isso que o deixava tão exausto de tantas tentativas frustradas.
Seus olhos se abriram e a pergunta contida na canção foi expressada em suas sobrancelhas arqueadas, na entonação que a voz alcançava e Jeongguk sentiu os olhos lacrimejarem. A arte que emanava de Jimin era luz ainda mais radiante do que o pôr-do-sol que já havia partido e sempre fazia morada naquelas janelas.
Quando ele terminou e pegou o celular para checar se a letra do que havia cantado estava correta, ouviu as palmas de Jeongguk escaparem da cozinha, como se aquilo pudesse colocá-lo de volta ao momento anterior, lembrando-o do que havia acabado de fazer, do que deveria escutar sempre que terminava um número. Negou com a cabeça ao que sorria sem graça, olhando para os olhos brilhantes de quem o observava com toda a admiração, agora ainda mais aparente, sem qualquer máscara de sentimentos não confessados.
Um pequeno pedaço do muro que Jimin havia construído ao seu redor se quebrou. Algo na forma como Jeongguk demonstrava os seus sentimentos nos pequenos atos eram percebidos e algo dentro de Jimin se curava, sem saber que acontecia, como, ou porquê. Quando ele voltou para a cozinha para terminar o jantar, Jimin levantou-se e foi para o quarto, repassar as falas com mais liberdade e atenção. Saber que Jeongguk estava observando-o deixava-o nervoso.
Quando sentaram-se para comer, algo na forma que desfrutaram a companhia um do outro remetia a Jimin algo sobre o seu passado. Havia uma parte interessante dentro da sua cabeça que lhe dizia que se lembraria daquele momento para sempre, como se conseguisse prever que o fim de algo estava próximo e ele precisava guardar aquilo em algum lugar. Como quando fez uma das últimas refeições com os pais juntos à mesa, os sorrisos trocados em uma conversa fiada ecoaram em seu coração. Jimin sabia com toda a certeza que aquilo nunca mais se repetiria e que deveria gravar a tonalidade daquelas vozes leves e despreocupadas, do riso espontâneo com efeito dominó, do tilintar dos talheres nos pratos e o cheiro do molho gostoso tomando conta de todo o ambiente.
Algumas outras noites se passaram, mas Jimin só se lembrava daquela. Voltou a fazer o registro de um novo jantar quando, sozinha, sentada à mesa com um cigarro esquecido entre os dedos e o rosto escondidos entre as mãos, sua mãe anunciou que o seu pai havia ido embora e ela não tinha feito nada para comer. O estômago roncou, mas ele preferiu dormir com fome.
Quando Jeongguk depositou um beijo na sua testa, pendurou o capacete no braço e saiu pela porta, Jimin não conseguiu parar de pensar em como tudo ficou pior depois que o seu pai se foi. Viver em Gwangju já não era fácil, pois era constantemente lembrado que não era especial, que a vida era difícil para todo mundo e querer viver da arte só tornaria tudo ainda pior, mas a amargura das mãos grossas da mãe com as unhas longas pintadas de vermelho era a única coisa que conseguia se lembrar quando avisou que partiria para Seul para estudar.
— Não conte comigo para nada — ela disse, quase como uma promessa, atirando contra o próprio filho palavras que ele não merecia ouvir, deixando-o apenas com a sensação de rebeldia arrependida.
No entanto, nunca pensou que tivesse sido melhor ter ficado em Gwangju.
Ter Jeongguk em sua casa, começando a viver juntos daquela forma tão repentina o trazia de volta aquela sensação de desespero de não saber se as coisas dariam ficariam bem, se conseguiria um emprego em Seul e se ser ator realmente preencheria aquele vazio. Gostaria de pensar que, no fim, tudo deu certo, mas a sua principal fonte de renda ainda era a cafeteria, como poderia dizer que ainda era ator?
A insônia o abateu como não acontecia há muito tempo. Rolar desperto pela cama era uma das coisas que mais odiava na vida. Ouvir o som da chegada de Jeongguk durante a madrugada afetou algo em seu âmago e quando ele se deitou na cama com aquele mesmo cheiro de banho recente, Jimin não resistiu e virou-se para ele, recebendo um beijo de quem parecia estar esperando voltar para casa.
Jeongguk havia voltado e para Jimin, aquilo era mais do que inesperado.
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