Meus Atos
Não tente ser diferente Jake, por favor.
Os dois incrivelmente chegaram atrasados, de mãos dadas, Gray não vê a hora de uma oportunidade surgir para que ele possa escapar do que o prende. Fica na arquibancada observando Jake se empenhar. Parecia que ele se transformava quando estava perto de pessoas normais, ou talvez fizesse esse tipo de coisa para "se camuflar" em meio a sociedade. Gray não sabia ao certo o porquê essa máscara... porque Jake não fez nada disso com nenhum deles? Gray até pensou em fugir, mas Jake estava sempre de olho nele, que temia que se saísse do campo de visão de seu agressor, sofreria com o pressionar de um daqueles botões. Quando Jake saiu de quadra por um tempo para que outro jogador pudesse entrar, Gray ficou o esperando do lado de fora.
— Jake, eu preciso ir ao banheiro — murmura Gray. Jake o olha, brincalhão, já sabe o que ele está tentando fazer. Joga os cabelos suados para trás com as mãos e limpa o suor da testa com um toalha azul bebê.
— Vai, mas lembre-se que eu vou estar te esperando. — Jake sorri para ele após uma breve alusão ao objeto em seu bolso.
O ginásio era gigantesco, e era pintado nas cores azul, branca e amarela. Nas extremidades esquerda e direita do fundo do ginásio, ficavam os sanitários. À esquerda, o masculino e à direita, o feminino. Ambos longe da saída, mas estava tudo sob controle, ele sabe que existem janelas em banheiros, então, engajado em simplesmente escapar, ele não escuta os pensamentos idiotas que dizem que ele vai se machucar caso tente alguma "gracinha".
Gray segue para o banheiro masculino do grande ginásio, entra e fecha a porta branca. Após isso, ele procura desesperadamente uma janela pela qual ele possa pular e escapar daquele pesadelo. Mal notou que o banheiro estava sujo demais, as paredes estavam manchadas e o chão, úmido e com marcas de tênis e chuteiras. A pia, estava cheia de poeira e os espelhos todos sujos, parecem ter sido limpos a muito tempo e de forma desajeitada. Sua cabeça começou a latejar e pensar em um solução estava cada vez mais difícil. Merda, as janelas eram pequenas demais, ele não passaria por nenhuma delas. Gray precisava pensar, mas no que? Seria nítido se ele saísse do banheiro. Jake o veria e ele teria de voltar de um jeito ou de outro. Observa as cabines cinzas e sem vida e nota desenhos mal feitos, desenhados à caneta ou canetão. Haviam mais ou menos quatro cabines.
"E se eu fingir que não estou aqui? Ele pode pensar que eu saí e ele não viu!" Pensa Gray, se ele fingisse não estar no banheiro, Jake o procuraria em outro lugar e isso daria a ele, tempo para dedicar ao seu plano se fuga sem planejamento algum. Um plano sem esquemática definida nem ideias boas de verdade. Em sua cabeça, apenas uma vontade desesperada de escapar de Jake. Escapar de sua tortura problemática, de sua palavras presumivelmente falsas e eufóricos sentimentos vazios.
Gray entrou em uma das cabines cinzas e subiu na privada, na privada cheia de sujeira, tomando o cuidado de não deixar nenhum indício de que esteve ali, e sem que quem entrasse ali, pudesse ver seus pés. Trancou a porta para caso alguém entrasse. "Devem achar que tem algo errado e não tentarão de novo. Ou pensarão estar emperrado.", é o que ele quer que pensem. Espera o tempo que acha necessário até que Jake sinta sua falta.
...
Droga Jake, para onde ele foi?
Jake olha incessante para a porta branca do banheiro que não se abre em momento algum. Gray não saiu de lá, e Jake tem certeza disso. Jake agarra sua blusa roxa com força e joga os cabelos encharcados de suor para trás outra vez. Seu cérebro torra de novo, sua cabeça dói e lateja, seus olhos reviram conforme a dor intensifica. Ele está louco para apertar o botão vermelho daquele semáforo, mas sente que não é uma boa ideia, agora não.
— Jake! Não vai voltar a jogar? — pergunta um de seus amigos. Não tem cabelo algum e usa um uniforme branco, azul e preto. Jake não olha para ele, e pensando por um instante, tem uma ideia um tanto... inusitada. — O que você está olhando? — ele olha na mesma direção que Jake.
— Gremista, pode fazer um favor para mim? — indaga o mais alto, sem tirar os olhos intensos da grande porta branca.
...
Gray estava com dor nos tornozelos e joelhos, não aguentava mais ficar de cócoras em cima daquele vaso, Jake não vai verificar se está mesmo no banheiro? Será que ele já saiu para verificar em outro lugar? Gray pensou em sair de fininho do banheiro enquanto Jake o procura desesperado, mas tinha medo de abrir a porta e dar de cara com ele e com certeza Gray seria punido. Não gosta de pensar nessa vertente, mesmo sabendo que irritantemente é uma possibilidade considerável. Tentou se livrar daquela coisa no seu pescoço mas todos seus esforços foram em vão. Jake estava demorando muito para aparecer e então, olhou para suas roupas sem vida e decidiu que aquela seria a hora.
Gray agarrou sua calça de moletom cinza larga e sua blusa branca, para que não tocasse em nada e colocou os pés de fininho no chão. "Estarei livre." Pensa Gray. Quando virou a tranca para a direita e estava prestes a abrir a porta de sua cabine, a grande porta branca do banheiro é aberta. Gray instantaneamente se assusta e volta para cima do vaso de forma furtivamente silenciosa.
— Tem alguém aqui? — questiona a voz de um homem desconhecido. Gray pensou em suspirar aliviado, mas certamente ele o escutaria, então prendeu a respiração. Agradeceu mentalmente a Deus, não era Jake, depois de lhe causar tanto temor, Gray reconheceria sua voz mesmo depois de anos. — Gray? Vem brincar comigo Gray! — murmureja a tal pessoa. Gray se assustou, mas mesmo assim não soltou a respiração.
A atmosfera ficou tensa e Gray observa a porta da cabine, agora destrancada. "Merda.".
— Gray... doce, doce Gray. Estou aqui para brincar com você. — diz a pessoa misteriosa em meio aos risos falsos, mas divertidos. O homem de cócoras, não está aguentando mais, seus joelhos estão doendo e prender a respiração fica mais difícil, então solta minimamente a respiração para que não corra o risco de respirar tão fundo e ser descoberto. Respira de maneira sutil e mansa, bem devagar. — Apareça Gray.
Tudo então, fica num completo silêncio. Um ar pesado de suspense paira entre os dois, tanto no ambiente dentro da cabine, como fora dele. Gray de repente, sente uma corrente elétrica percorrer seu corpo com uma violência súbita. Ele se arqueou e gritou estridente. Seu corpo caiu contra a porta e então ela se abriu, dando passagem para o corpo eletrizado de Gray, que foi de encontro ao chão, sujo e úmido. Seus músculos começaram a contrair-se violentamente e sua voz saía incompreensível, grugulejava e se contorcia como nunca antes, fazendo seus chinelos brancos serem jogados para direções distintas pelo banheiro. A gargantilha chegava a soltar faíscas e quando Gray olhou para a porta, Jake estava de pé, com o celular na mão esquerda e com o pequeno semáforo na mão direita.
Gray via o dedo eufórico de Jake apertar o botão amarelo com afinco. O mais velho não queria soltar aquele botão, estava gargalhando de felicidade e sua inibição, acabaria com sua diversão. Gray sente seus músculos doerem e cada uma se suas células queimarem, mas a sensação efêmera, finalmente havia cessado. "Por quanto tempo esse desgraçado gostaria de continuar com isso!?". Gray pergunta a si mesmo, enquanto Jake parecia venerar a cena.
— Como pode ficar tão nervoso com uma gravação? — indaga Jake, sarcástico enquanto balança o celular de um lado para o outro.
Gray está caído de barriga para baixo no chão, seus músculos apresentam espasmos e suas mãos ainda tremem intensamente. Jake coloca cada objeto que segurava em seus bolsos e vai em direção a Gray.
— Eu disse que não teria oportunidade nenhuma, mas você é teimoso demais para escutar o que eu tenho pra dizer — diz, agachando-se diante dele.
— Eu não... fa... ço... mais... isso... apren... di... a lição... me... perdoe — implora o mais novo, com dificuldade e provavelmente, relegando seu plano de fuga. Sentia seus espasmos o impedirem de se comunicar de maneira fluida.
— Que bom, garotão. E você vai fazer isso de novo? — Um sorriso largo se mostra presente em seus lábios rosados e seu olhar acompanha os lábios de Gray enquanto ele tenta falar.
— N... não... — responde, singelo. Parecia estar amargamente arrependido.
— Foi o que eu imaginei. — Jake então, o pega no colo, como se ele fosse uma criança. Observa sua roupa clara toda suja e úmida e percebe que havia uma poça de água no chão, o porquê de tremores tão intensos. Anda para fora do banheiro e ao sair, fecha a grande porta branca.
Seus amigos já haviam saído de dentro da quadra e agora, compartilhavam caixinhas com latas de cerveja, todos na arquibancada, o resto já havia ido embora, mas como todo domingo, a turma de Jake ficara para tomar uma juntos. Riam e conversavam e voz alta, o que deu indícios de que os gritos de Gray, hipoteticamente não foram ouvidos. Jake vai em direção à eles e quando chega perto, ouve risos histéricos.
— O que vocês estavam aprontando lá? — pergunta um homem de cabelos cacheados, Gray, ao observar ele por um instante, percebeu ser o primeiro amigo de Jake, ao qual teve quaisquer tipos de contato... JP. — Deu para ouvir uns sons abafados vindos do banheiro.
— Fez bom uso da minha linda voz, Jake? — indaga outro homem, era careca e seus olhos tinham cor de mel. Após o outro assentir com a cabeça em sinal positivo, o homem tornou-se a analisar Gray. — E o que é isso no seu pescoço?
— Deve ser algum tipo de fetiche — supõe um outro. É o mais alto dentre eles, seu cabelo é grande e rebeldemente pintado de roxo. Seus olhos semicerrados encaram Gray com ambiguidade e curiosidade. Para ele, Gray parece muito assustado, o que o faz pensar que a situação está estranha, ele não está com bom pressentimento.
— De fato, Jonathan, você tirou as palavras da minha boca — diz Jake, seu rosto havia mudado. Sua feição era ameaçadora, seus olhos também estão semicerrados, seus lábios se moldam num sorriso debochado e seu tom de voz era amedrontador. Todos se sentiram um pouco desconfortáveis, Jake ofereceu o sorriso enigmático que nunca levantou suspeitas, até certo alguém quebrar a grande parede de gelo que fora construída em questão de segundos.
— Eu preciso de liberdade, eu quero sair daqui, eu estou preso, estou condenado — murmura Gray, enquanto agarra a camisa roxa de Jake e sua voz, tentando não tiritar de receio à suas palavras.
— Melhor eu ir para casa, ele está cansado, acabou tropeçando num fio desencapado e ainda não se recuperou, conseguem continuar sem mim? — indaga Jake, seguindo em direção à saída. Teria que matar cada um deles caso descubram o que de fato estava acontecendo e não queria fazer isso.
— Claro! — profere JP.
Quando Jake entrou no carro e sumiu do estacionamento, Jonathan voltou a se pronunciar:
— Esse cara é muito estranho. Quem era aquele garoto, afinal? — boqueja, enquanto mexe no rabo de cavalo roxo desgrenhado e abre outra latinha de cerveja, ingerindo longos goles.
— Estavam juntos ontem à noite. E, bem... é o jeito dele, o conheço desde que veio à cidade, sempre foi mais na dele. — JP o defende.
— Desculpe JP, mas tenho que concordar com o Jonathan. Não sei se você percebeu, mas aquele homem estava assustado demais para estar numa situação normal. — O homem careca olha para Jonathan e assente com a cabeça, também com uma latinha de cerveja na mão.
— Ele pode estar assim por causa dos fios desencapados mencionados, não se precipite assim, William. Talvez esteja com medo por causa do choque. — pretexta um cara de cabelos loiros bagunçados, seu uniforme era preto. Não costumava falar muito e por isso sua voz grave, era notada e temida pela maioria. Ninguém sabia, mas naquele momento, sua respiração estava acelerada e seu coração palpitava pela ansiedade que sentiu. Precisava conversar com Jake.
Não, necessitava disso.
Eles não continuaram a debater, palavras esbravejadas sem o mínimo de cuidado, acabaria em olhares raivosos e marcas roxas no rosto de ambos. Ninguém se atreveu à contrariá-lo, pois, ele parecia ter razão, porém, uma razão com constante relação entre a perversão do amigo e o fato de apenas ele saber que Jake é de verdade. Isso incomodava todos eles, mas ninguém se atreveu.
Ninguém, menos Gray.
As conversas descontraídas voltaram, as cervejas acabaram e todos foram com (in)felicidade para casa. Aquele cenário que nunca muda, o casamento sendo salvo pelo filhos, os filhos, abandonados e uma casa com energia carregada de sorrisos falsos e amor superficial. Só para ter o que postar. Não passa disso.
...
Meu amor não é superficial... me dê uma chance de amar você!
Gray estava sendo carregado para fora do ginásio por Jake, que parecia falar sozinho, murmurando coisas que Gray não consegue ouvir, parecia um louco esquizofrênico que precisava conversar, mas sua companhia não estava em condições de ajudá-lo no momento. Ao saírem do estacionamento, as tão temidas ameaças começaram.
— Você só pode ter ficado maluco, só pode! — esbravejava com desígnio gritante, cada parte do seu corpo resistindo à tentação de batê-lo ali mesmo. — Tem noção do que fez? Você tem o mínimo de noção do perigo ao qual você se expôs!? — Ele levantou mais uma vez a mão que ameaçou tocar em Gray, mas que, para sua sorte, não chegou perto de machucá-lo.
Gray chorava sem parar, seu plano não havia chegado perto de ser concretizado, não daria certo de um jeito ou de outro. Se agarrava contra suas roupas sujas e os pés descalços estavam em cima do banco de couro do corsa preto. Jake dirigia em velocidade relativamente alta e, assim que colocou o carro na garagem, não precisou tirar a chave da porta frontal de dentro do carro.
— Você vai pensar duas vezes antes de fazer algo assim de novo — dizia, arrastando Gray até o porão, Gray se debatia e implorava por misericórdia, segurou nas bordas da porta de madeira que estavam começando a mofar, mas seu esforço foi insuficiente. Sua voz, alterada, gritava e pedia por socorro, mas seus gritos cessaram por um tempo, assim que Jake o puxou com toda a força, fazendo-o soltar as bordas da porta, tropeçar e cair escada a baixo. Apenas sussurros eram ouvidos enquanto Jake fechava lentamente a porta do porão, e no instante em que a porta foi totalmente fechada, o ambiente fora do porão foi tomado pelo absoluto e agonizante silêncio.
...
Sente-se melhor agora, Jake?
Após observar Gray pendurado naquela mesa que estava inclinada quase que na horizontal, Jake soltou um longo suspiro e acariciou o rosto de Gray que estava com cabelos molhados de suor e olhos fechados. Seu dedo enfaixado ainda estava com as devidas suturas, mas agora, não é a única parte do corpo que precisa desse "curativo". Seu peito está com vários cortes feitos a faca, agora, falta-lhe um dedo anelar, também da mão esquerda e sua coxa direita ainda sofre com a faca grande de cozinha cravada no local.
Aproveitando seu desmaio, Jake tratou de todos os seus ferimentos, os cortes no peito, realizou a sutura do que sobrou da falange do dedo anelar, enquanto a parte do dedo desconectado também foi parar na pilha de cadáveres e a faca na coxa foi lentamente retirada para que ele conseguisse aproveitar cada segundo da sensação de ver o sangue jorrar antes de fechar o ferimento. O banhou e o vestiu com roupas confortáveis, não o deixou agora na sala, ou no quarto de visitas, o levou a um lugar, onde seu trauma corria solto, um lugar onde entraram apenas duas pessoas, e apenas uma saiu de lá com vida.
Ao deixá-lo lá, Jake vai a cozinha, a manhã estava indo bem, sem contar com o fato da desconfiança dos "amigos". Ele não podia deixar que seu trabalho artístico fosse descoberto, ele sabe muito bem que as pessoas são tolas, e não enxergam o mundo como ele realmente é. Será que você enxerga, Jake?
Jake sabe que a maioria desconfia de sua personalidade reservada e das pessoas que leva a treinos e que agem como se quisessem fugir. Jake conseguiu desviar desses pensamentos imbecis enquanto preparou o almoço, uma coisa simples que qualquer um pode fazer, até alguém idiota que nunca sequer acendeu um fósforo para ligar o fogão.
Após uma xícara de café amargo, Jake percebeu ainda estar com a roupa que usa todos os domingos, mas que dessa vez estava diferente. Respingos de sangue mudavam todo o uniforme, menos a porcaria da chuteira branca. "Obrigado Meus Deus, o sangue não sairia daí.". Tomou um banho quente para relaxar os músculos tensos, colocou a roupa suja de sangue para lavar, e jogou-se no sofá. Olhou para o teto por um instante, se perguntando o que ele viu de diferente em Gray.
Seriam aqueles olhos verdes claros? Talvez os cabelos castanhos. Talvez sua submissão. Seu jeito de lidar com o perigo. Seus gritos. Jake não sabia o que o deixava tão atraído por ele. "Como é horrível arrancar partes suas e mesmo assim, sentir que você ainda não é meu. Droga, Gray! Você ainda não é meu!" Pensa Jake, esfregando o rosto com as mãos. Está apenas com uma calça de moletom, seu físico perfeito está exposto, pois, apesar de o clima não estar quente, Jake sente sua temperatura corporal aumentar sem parar. O pequeno semáforo permanece em seu bolso, não importa quantas vezes troque sua vestimenta, o perigo rondava o objeto e o objeto rondava o perigo, era quase como se eles se complementassem.
Jake é assustado pelo barulho de batidas na porta em frente a sala, barulho esse que o tira de dentro de pensamentos confusos e desesperados. Não fazia ideia de quem podia ser, então, colocou seus pés descalços no chão, se dirigiu até a porta devagar e a abriu. Era William, estava com uma camisa social branca e um shorts jeans preto. Os chinelos havaianas também eram pretos e carregava consigo uma cesta de piquenique.
— Olá Jake! Olha só o que você esqueceu no ginásio! Vim trazer de volta pra você. — William entrega a cesta a Jake e ele agradece com um sorriso de canto. Mesmo sabendo que precisava agradecer verbalmente.
— Obrigado, William — responde Jake com evidente indiferença.
De repente eles escutam um grito estridente vindo do andar de cima. "Droga, Gray acordou.". Os gritos eram de verdadeiro desespero, Jake corre escadas acima até seu quarto, enquanto William entra na casa e fecha a porta, preocupado. Observa a sala espaçosa e a cozinha logo ao lado. As coisas estavam organizadas e o cheiro de panquecas frescas e quentes pairava no ar como um convite. Fora o grande frango em cima da mesa, estava dourado e com uma enorme faca de cozinha cravada em si. William, até pensou em se aproximar da cozinha para experimentar tal janta, mas os gritos desesperados quase o fizeram perder o apetite. Decidiu não fazer nada e esperar os gritos cessarem.
Ao chegar em seu quarto, Jake viu Gray encolhido em cima da cama, deixando suas lágrimas de medo extremo serem derramadas sem parar e gritos estridentes bradados para qualquer um que pudesse o ouvir. Espremia sua cabeça, como se tentasse expulsar de sua mente, algo o atormentasse, algo que o perseguisse incessante e o fizesse lutar por sua vida desprezível. Jake olha para a cabeça de Kael pendurada no teto, emanando uma luz amarelada suave, e então, percebeu o motivo de seu desespero.
Jake segurou os braços de Gray e fez ele olhar para si. Seu choro agora mais baixo.
— Gray. Relaxa, se for bonzinho, isso não vai acontecer com você — murmura, com um sorriso empático no rosto. Gray se assusta ainda mais e só para de chorar depois que Jake acaricia seu rosto com aquele maldito semáforo. "Estou começando a detestar o trânsito.". Pensa Gray. — Vamos jantar, temos visita. É bom que você se comporte. — Sai do quarto olhando para trás.
Gray observa a cabeça pendurada sendo usada como um mero objeto. "É isso que seres humanos significam para ele?". Lamuriou em voz baixa. Se levantou da cama e encarou a cabeça mais uma vez. "É isso que seres humanos significam para ele. Somos apenas objetos aos quais ele pode moldar, controlar, como bonecos sem vida.".
Ao descer as escadas e chegar na sala, Gray pôde ouvir risadas vindas da cozinha. Se aproximou lentamente e viu como era analisado pelo careca estranho que estava no cômodo, sentado à mesa. Gray já havia o visto, talvez estivesse no ginásio... ele não sabe, estava tão centrado em fugir, que mal prestou atenção nos supostos amigos de Jake.
Gray parecia ser avaliado pela visita, que observa seus pés descalços, uma blusa cinza enorme indo até suas coxas, olhos verdes brilhantes e cabelos castanhos desgrenhados.
— Olha só o que temos aqui? Um transsexual? — brada o careca em meio as gargalhadas. Jake olha para Gray com um sorriso malicioso e aponta para a faca de serra em cima da mesa e depois para o careca. Jake queria que Gray matasse ele!?
— Eu não sou transsexual. Sou bissexual — retruca Gray, sério e em tom de voz razoavelmente baixa.
— Pior ainda! Você precisa se decidir! Ou você é homem, ou uma bixinha, como esse pateta aqui do meu lado. — Seus risos se intensificam e o sorriso de Jake se alarga, fazendo alusão ao objeto cortante em cima da mesa.
"Vai, mate ele! Ele está te ofendendo! Não está com raiva?". Gray leu os lábios de Jake e não gostou nem um pouco do que entendeu. Balançou a cabeça em sinal negativo e sentou-se à mesa, ignorando seus pensamentos que imploravam para que ele entregasse Jake a esse homofóbico desgraçado.
— Posso te mostrar quem é a bixinha aqui — boqueja Jake em meio a risos falsos. Os dois parecem compartilhar o mesmo senso de humor, mas Gray sabe o que diverte Jake de verdade.
Eles comem fazendo piadas e rindo, com exceção de Gray, que comia em absoluto silêncio, tentando não prestar atenção nas piadas e diminuições do maior praticante de homofobia que já havia conhecido. O que, por ventura, não fazia tanto sentido, afinal, seu amigo não é heterossexual.
—Gray, não é? — indaga William, Gray assente com a cabeça furtivamente. — O que foi aquilo, por que você gritou daquele jeito?
— Bem... — Gray olha para Jake, como se pedisse ajuda para responder a essa pergunta completamente inusitada. Ficou sem saber o que dizer por um tempo e pedir a ajuda de Jake parecia fora de questão, já que ele apontava para a faca incessantemente. — Eu... vi uma aranha, tenho aracnofobia.
— Ah, então é medrosinho? O que uma pequena aranha pode lhe fazer? — profere o homem. Gray se sentiu incriminado.
— Caso você não saiba, existem aranhas com um veneno tão potente ao ponto de fazer sua carcaça morrer em apenas 15 minutos. Então, se não conhece do assunto, não fale como se fosse um especialista. — William o olha com crescente raiva estampada em sua feição, mas um sorriso debochado escondia um pouco de sua aversão.
Jake, ficou escutando a conversa com um sorriso ladino no rosto, sabe que aquilo vai terminar numa discussão e que Gray não terá outra opção, a não ser se defender com a faca ao qual ele apontava sem parar.
— O que você acha que sua mãe diria se soubesse que você está tendo relações com homens? Não acho que ela te deixaria entrar em casa, só depois de uma surra bem dada! — Brinca William, Gray o olha desacreditado. Aquele comentário foi a gota d'água.
— Agora já chega!!! — profere Gray, de repente, se levanta e bate as mãos na mesa com brutalidade. Fechou os punhos fortemente se segurando para não o acertar. Jake venera a cena e um sorriso verdadeiro é finalmente exposto. — O que minha mãe pensa de mim é um problema meu, seu babaca! — Aponta seu dedo suturado em direção a William, que não se sentiu intimidado.
— Olha como fala comigo bixinha! — William também se levanta. Jake quase solta uma gargalhada, mas felizmente conseguiu se segurar.
— Ou o que!? Vai me arrombar, filho da puta!? — brada Gray, imponente. William, estava perdendo a paciência.
— Jake, posso? — William, olha para Jake. Jake observa a feição dos dois, a raiva de William e a confusão de Gray... o que ele deve fazer?
Deve deixar William fazer o que quiser para que veja o que acontecerá com Gray, se ele se defenderá ou simplesmente tentará resistir, ou ele deve dizer não e mandá-lo embora?
Vamos lá, Jake! A escolha é somente sua.
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