ᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠ04. Chapitre Quatre
"Louis tem um bom coração. Obviamente, eu nunca falaria isso para ele, mas admiro seu cuidado com a irmã e a mãe. Ele é mais novo do que eu e acredita que é seu dever ser um adulto e assumir responsabilidades. E, ainda que eu goste disso nele, me preocupo. Espero que envelhecer antes do tempo não o destrua aos poucos.
— O Diário de Bellamy Bunwell"
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PELA MANHÃ, Louis fora acordado de forma muito desagradável. Uma criada desaforada havia aberto as janelas de seu escritório e colocado um copo de água na sua frente. Resmungando, ele ordenou que as janelas e cortinas fossem fechadas novamente, no entanto. a mulher, provavelmente enviada por sua mãe, permaneceu firmemente em pé. Coçando os olhos, ele se sentiu bastante tonto e olhou para o desjejum na sua frente.
— Como ousa abrir as janelas e me desobedecer? — murmurou.
— Por favor, Vossa Graça, tome o seu desjejum. Seus criados já prepararam o seu banho matinal.
— Quem você acha que... — ele travou ao abrir os olhos e perceber que era Georgina ao seu lado, com o semblante sem expressão alguma. — Senhorita Bunwell, não consigo nem formular um pensamento para entender o que você está fazendo no castelo de Arundel, mas temo que minha mãe está por trás disso.
— Peço perdão por invadir sua privacidade — murmurou ela, com o rosto corado. — Vou deixá-lo se recompor. Encontre-me no jardim, antes do almoço, creio que precisamos conversar.
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HORAS DEPOIS, Georgina estava terminando o primeiro diário de Bellamy no quintal dos Hanworth, quando leu algo interessante.
"6 de junho de 1918. O pai de Louis faleceu recentemente e não o vi chorar ainda. Também sinto falta do antigo duque, que era como um pai para mim, quando mais precisei, ele estava lá. Sinceramente, não sei como ser um bom amigo e ao mesmo tempo confortá-lo. Nunca me senti tão desprezível. Estou sempre sorrindo e alegrando as pessoas, entretanto, sou incapaz de divertir meu amigo mais próximo.
Estou perdido e me sentindo responsável por Louis. Mesmo sem idade, ele começou a beber e frequentar lugares inadequados e, na minha opinião, a forma como ele está vivendo o luto não é correta. Como sou mais velho, me sinto responsável por esse garoto inútil."
Um pouco corada, ela sentia como se estivesse invadindo a privacidade de Bellamy, mas continuou a ler até achar outro trecho sobre o duque.
"10 de agosto de 1918. Finalmente consegui ajudar meu amigo cafajeste. Não entendo bulhufas sobre obras de arte, mal sei desenhar um risquinho reto sem me estressar, no entanto, aprendi um pouco dos pintores favoritos de Louis.
Assim, obriguei-o a expressar toda minha beleza em uma tela ou eu entregaria um de seus segredos para sua mãe, o bastardo quase me surrou, mas a vida pareceu voltar aos seus olhos pela primeira vez. Talvez esses rabiscos que nunca entendi signifiquem algo para ele."
Agradeceu silenciosamente seu irmão e sentiu um aperto em seu peito. A dor do luto quase ficou mais suportável. No momento em que ela mais precisava, a resposta sobre como ajudar o duque estava ali. Precisava fazê-lo pintar qualquer coisa, conversar sobre arte com ele e fazer o brilho a que seu irmão se referia voltar aos olhos de Louis.
— Que livro velho a senhorita está contemplando com tanta felicidade? — indagou o duque. Tentando não parecer surpresa, ela fechou o livro com delicadeza e o cumprimentou. Ele olhou para a capa. — Ah, você descobriu os diários.
— Vossa Graça tinha conhecimento sobre os escritos de Bellamy? — indagou. — Não sabia que ele confiava tanto no senhor.
— Não confiava, eu li alguns sem autorização certa vez. Por isso ele mandou fazer cadeados para todos — comentou ele, com um leve sorriso. — Vamos caminhar um pouco, para eu perdoá-la por hoje cedo.
Sentindo o rubor da vergonha aparecer, ela se levantou e acompanhou silenciosamente o duque. Evitou se comunicar com muitas palavras, não se orgulhava da forma como o havia acordado, mas Mary deixou claro que a única coisa capaz de fazê-lo levantar era a luz do sol.
— Quer começar a explicar que tipo de acordo fez com minha mãe? — perguntou ele, após alguns minutos. — Se ela ofereceu dinheiro para me atormentar, então pagarei o dobro. Aliás, onde está a terrível duquesa?
— Ela foi visitar sua irmã, Vossa Graça. Despediu-se, mas creio que o senhor estava... Bem, em condições duvidosas — murmurou ela, o fazendo sorrir. — Minha tia e eu ficaremos por pouco tempo, apenas para cumprirmos a promessa que fizemos para sua mãe.
— Vocês estão de luto — comentou ele, parando de andar e a olhando seriamente. — Deveriam estar descansando, eu posso me cuidar.
— Acredito que Bellamy discordaria — respondeu Georgina. — Meu irmão não gostaria de vê-lo nesse estado e desejo que ele descanse em paz, que saiba que ficaremos bem com sua partida. Bellamy sempre se importou mais com o sentimento de seus semelhantes do que com os dele.
Louis ficou imóvel, pois sabia que ela estava certa. Sua expressão era tão impassível que ele não conseguia perceber o luto ou qualquer resquício de sofrimento, apenas frieza e sinceridade estampavam o semblante dela. Além disso, a loura estava diferente. Georgina havia perdido a ingenuidade, a doçura na voz, as maçãs do rosto agora estavam arredondadas e suas curvas muito definidas. De fato, havia se tornado uma mulher.
— Vossa Graça? — ela sussurrou tão baixo que ele quase não ouviu.
Talvez ainda fosse o efeito do álcool, mas quando Louis percebeu que ela ruborizou, a achou incrivelmente proporcional. Desde o nariz arrebitado até os olhos castanhos espaçados e grandes, tudo parecia harmônico em sua face, mesmo sua boca em formato de coração. Georgina daria uma bela pintura.
— Vossa Graça? — ela levantou o tom de voz, ao perceber que ele não estava ouvindo nada que ela dizia. — O senhor está bem? É algum efeito colateral do álcool?
Engolindo em seco, ele se afastou.
— Perdão. Julgo que fiquei um pouco tonto — ele piscou várias vezes. — Por favor, repita o que estava dizendo.
— Bellamy citou suas habilidades nos diários, elogiou muito sua arte. Talvez pintar seja uma boa ideia — sugeriu ela. — Pode ajudá-lo com suas questões.
— É uma ótima ideia, mas não me encontro inspirado faz muito...— quando Georgina saiu da sombra da árvore, Louis perdeu seu raciocínio. O sol, bem como o jardim atrás dela e seu belo semblante, o intrigaram. Conseguiu imaginar a cena perfeitamente em um quadro. — Tempo. Entretanto, se a senhorita julga ser uma boa ideia, talvez eu deva repensar e encontrar inspiração.
— Se vai lhe fazer bem, certamente é algo bom — ela sorriu ao pegar uma flor entre os dedos e a ergueu para ele. — Olhe ao redor, seu lar é belo e seu jardim impecável, tenho certeza que achará inspiração para um belo quadro — ela apontou para a árvore. — Talvez essa enorme árvore...
— Sim — respondeu ele, para nenhuma pergunta em específico. — Voltarei a pintar, pois creio que a senhorita iluminou minhas ideias e encontrei a inspiração que desejava.
Quando a loura deu um leve sorriso novamente, ainda que não parecesse uma expressão verdadeira e seus olhos carregassem sofrimento, Louis teve certeza que ela daria um belo quadro. Por Deus, ele queria desenhar Georgina.
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APÓS A CONVERSA NO JARDIM, Georgina perdeu toda a coragem necessária para conversar sobre o bilhete recebido. Por não confiar em ninguém, tinha poucas opções. Primeiramente, pensou em confidenciar para sua tia, mas temia sua reação. Assim, decidiu que o correto seria averiguar os fatos ou comunicar o duque de Norfolk, o qual parecia ter encontrado seu refúgio na arte, visto que teria passado o dia trabalhando e pintando.
Sabendo que precisava pensar, a dama começou a costurar. A princípio, queria fazer um vestido, mas não havia linha o suficiente e ela se contentou em bordar uma roupa para o bebê que sua cunhada estava gestando. Por algum motivo, seus bordados ficaram tortos e sua tia fora buscar mais, pois sabia que era a única coisa que manteria a sobrinha distraída de sua dor.
Pela tarde, quando o sol já estava se pondo, ela criou coragem para procurar Louis novamente, com o envelope em mãos. Envergonhada, pediu que o mordomo anunciasse sua presença e aguardou a autorização do duque. Quando enfim foi autorizada sua entrada, ela pensou duas vezes antes de dar um passo. Estava sem uma dama de companhia.
— Creio que a senhorita está sem companhia e está parada na porta pensando que eu posso corrompê-la com meu charme — falou o duque, a fazendo corar. — Pode entrar, ninguém em minha casa criará boatos sobre sua presença aqui.
Se dando por vencida, a loura entrou no escritório de Louis e admirou a grande papelada em sua escrivaninha, agora organizada, e a tinta que sujava as mãos dele, bem como seu cabelo ondulado desajeitado sobre a testa.
— Acho que o senhor encontrou seu refúgio — comentou ela. — Uma forma de encarar o luto.
Louis continuou pintando, estranhamente a encarando enquanto ela lutava para ter coragem de discutir o que precisava.
— Georgina — a voz dele saiu como uma brisa suave e doce. Uma fala completamente coloquial — Agradeço por ter me recordado sobre minha paixão. Pintar não cura a dor que me consome, mas mantém minha mente ocupada — ele limpou as mãos cuidadosamente e retirou o avental. — Gostaria de um chá?
Georgina apenas assentiu e se sentou no local indicado por ele. Observou enquanto ele servia o chá, a forma como sua camiseta branca estava remangada até a metade e levemente suja. Louis havia nascido para aquilo, a arte o fazia brilhar.
Após tomar um pouco do líquido, ela suspirou e pegou a correspondência que guardava consigo. Quando iria começar sua explicação, congelou ao perceber o duque sentado na poltrona ao seu lado e olhando diretamente para o seu rosto, como se estivesse analisando e julgando cada detalhe. Louis pegou o lado oposto de um pincel e o colocou no início da orelha dela, indo na direção do queixo.
Por Deus, ele estava perto demais. Ela conseguia sentir a respiração dele em seu pescoço e até mesmo sentiu o cabelo dele roçar sua bochecha. No momento em que o duque se afastou, ela cogitou fingir um desmaio para que ele não percebesse que ela estava pegando fogo. O verde-oliva dos olhos dele estava fixo analisando o cabelo de Georgina.
— Vossa Graça — falou ela, quando ele soltou a mecha de seu cabelo. — Isso é inadequado, devo lembrá-lo.
— Perdão — ele se afastou e pareceu realmente envergonhado. — Não queria constrangê-la, apenas não pude deixar de notar suas proporções. Você tem um rosto harmônico e até mesmo a medida do final de sua orelha até o início de seu queixo é ideal.
— Ainda não consigo compreendê-lo.
— Na arte, chamamos pessoas como você de musas. No grego clássico, a mousa é uma figura feminina com a capacidade de inspirar a criação artística — ele foi sincero com suas palavras, o que a deixou com mais calor ainda. Louis, sem álcool, cheirava a pinho e tinta. — Isso significa, em outras palavras, que a senhorita é incrivelmente bela.
Georgina quis desmaiar novamente para que ele não percebesse o que aquelas palavras causaram nela. No entanto, ao invés disso, tentou manter sua compostura e tomou um gole longo de chá. Evitando contato visual, preferiu cortar aquela conversa ou seja lá o que fosse aquela interação.
— Agradeço o elogio gentil — falou ela, de cabeça erguida e tentando não demonstrar o calor que sentia. — Mas vim até o senhor para debatermos um tema sério. Há algo que você precisa ler, Vossa Graça.
Georgina alcançou o envelope para ele, que o abriu e pareceu assustado com o que lia. Conseguiu ver a dor no olhar do duque e a expressão de raiva demonstrada no lábio contraído.
— A senhorita sabe quem foi o remetente dessa falácia? — indagou ele, em fúria. — Acredito que há uma alma tentando nos ludibriar e se aproveitar de nosso sofrimento.
— Perdoe-me, Vossa Graça, mas e se essa suposição for verdadeira? — comentou Georgina. — Não é estranho que ele tenha falecido tão repentinamente com pouca idade? Devemos averiguar os fatos, o senhor tem autoridade o suficiente para solicitar uma exumação, embora seja rara a ocorrência do procedimento em nobres.
— A senhorita está se ouvindo? — perguntou ele, rasgando o envelope. Seu tom de voz ficou alto e a assustou — Julguei que não fosse tão tola e ingênua quanto aparenta, Georgina. Pelo visto, me enganei.
— Se fosse sua irmã, Madeleine, o senhor não ficaria intrigado em saber as circunstâncias ao receber uma carta desse cunho? — ela tentou parecer respeitosa, embora sua vontade fosse de gritar e chorar. — Perdoe-me pela minha tolice e ingenuidade, mas defendo que devemos sanar nossas dúvidas ou boatos infundados sobre Bellamy podem surgir.
— Eu recebi cartas desse tipo quando meu pai faleceu, quando seu pai faleceu, Bellamy também recebeu. A próxima carta vai solicitar um encontro e então o acusador pedirá dinheiro em troca de informações — a voz dele era ríspida, embora houvesse dor em seus olhos. — Ainda assim, quer violar o corpo de seu irmão que está descansando em paz? Um corpo falecido não deve responder por suas paranoias infundadas — Louis pisou no conteúdo que estava no chão. — O que está sugerindo, é um absurdo, visto que seu irmão foi visto por um médico e a alergia foi confirmada. Talvez a senhorita precise descansar.
Georgina desejou ter coragem para enfrentá-lo, defender seu ponto de vista e pisar no seu pé teimoso. Entretanto, como sempre, apenas sorriu friamente e fez uma longa reverência, segurando as lágrimas que ameaçavam invadir seu rosto.
— Agradeço sua compreensão, Vossa Graça. Creio que eu estava equivocada — disse ela, antes de sair, com a expressão mais tranquila que conseguiu fingir. Não o deixaria pensar que a havia afetado, pois, após a morte de seu irmão, nada mais conseguiria feri-la, nem mesmo as palavras insensíveis do duque. — Perdoe-me por minha tolice e ingenuidade, descansarei e não vou pretendo mais importuná-lo com minhas ideias absurdas.
Levantando-se com elegância, Georgina saiu sem esperar o consentimento dele. Correu para o quarto de hóspedes, subindo as escadas e fechando a porta atrás de si assim que entrou.
Pegando um dos diários de seu irmão, desabou em lágrimas e o apertou contra seu peito. Não podia aceitar em seu azar, que havia perdido o único que realmente a amava e que ela podia confiar. Tentando acalmar seu coração, e tremendo muito, ela se sentou na cama e começou a ler os diários do irmão, desejando que ele estivesse ali para confortá-la.
Louis Hanworth havia sido cruel em suas palavras, semelhante ao dia em que Madeleine se casou e ele vociferou em alto e bom som que os quadris de Georgina eram finos demais para reproduzir e, portanto, nunca se casaria com alguém como ela.
Após chorar e terminar o livro pessoal de seu irmão, Georgina pegou um tinteiro e um pedaço de papel. Estava na hora de Madame Peu voltar a ativa e quebrar o coração do jovem duque. Não teria mais compaixão pelo luto e sofrimento de Louis, quando ele não tinha pelo dela.
"Querido Louis, como sinto sua falta e de suas cartas. Espero que suas correspondências tenham se perdido ou que o senhor esteja muito ocupado para não me escrever. Nunca pensei que conversar com um completo estranho poderia se tornar algo tão importante.
Sinto sua falta.
Talvez esteja na hora de nos conhecermos melhor. Conte-me sobre os seus sentimentos por mim e o que pensa a respeito de Londres e eu decidirei se é digno de me ver.
Recentemente, interagindo com um artista e percebi o quanto o senhor é importante para mim. Em momentos de aflição, sempre me confortou com suas cartas e até mesmo enviou-me uma de suas pinturas. Quero que saiba que farei o mesmo pelo senhor se um dia precisar. Estou aqui, Louis.
Atenciosamente, sua melhor amiga e potencial flerte, Madame Peu."
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