ᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠ03. Chapitre Trois
"Minha irmã é a pessoa que mais estimo. Desejo que ela encontre a felicidade algum dia e supere todos os seus traumas. Georgina tem um coração puro e merece mais do que qualquer um viver tranquilamente. Sinto a falta dela, todos os dias.
— O Diário de Bellamy Bunwell"
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GEORGINA CHEGOU AO LAR DOS BUNWELL DEVASTADA, tivera dificuldades de subir as escadas pela dor que percorria todo o seu corpo. Ao chegar no quarto de hóspedes, apoiou-se na cama e sentiu um soluço reprimido sair de sua garganta. Não conseguiu controlar as lágrimas ou o grito que viera do fundo de sua alma, da dor dilacerante que estava fingindo não sentir. Aquele fora o pior dia de sua vida, ainda pior do que o funeral de seu pai, pois Bellamy era quem ela mais amava no mundo.
Transtornada, caiu no chão, segurando ao redor de suas pernas. Desejou ter falecido no lugar do irmão. O visconde era um homem bom, honrado e teria sido um excelente pai. Não era justo que ele falecesse repentinamente, enquanto ela permanecia ali, sem nenhum propósito.
Lembrou-se do irmão enquanto estava sendo velado, imóvel. Tudo o que mais ansiava no mundo, era que ele se levantasse e a abraçasse. Bellamy fora tudo o que ela precisava: seu irmão, seu pai e até mesmo um amigo quando ela adoeceu. Todos os dias em que Georgina se obrigava a vomitar as refeições, ele segurava seu cabelo e continuava tentando fazê-la comer. Mesmo quando todos caçoavam de sua aparência, ele lhe dizia que ela era perfeita e que a amava com todo coração. Como poderia viver em um mundo sem a sua pessoa favorita?
Ninguém a amava, sua própria família a odiava e em poucos meses ela teria que se casar com alguém que não desejava, para salvar sua tia e aqueles que a acolheram durante sua doença.
Encolhendo-se no chão, Georgina continuou chorando até adormecer, desejando que, ao acordar, tudo não passasse de um terrível pesadelo. Que seu irmão estivesse ali, que a reconfortasse e prometesse que nunca a deixaria sozinha.
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Na manhã seguinte, Georgina lavou seu rosto com água gelada, tentando disfarçar o inchaço. Logo após o desjejum, tentou parecer tão bem quanto possível e foi aos aposentos de sua cunhada, verificar como ela estava e lhe desejar boa sorte em seu passeio. Mas, antes, a loira trombou com seu tio Sebastian no corredor.
— Minha querida sobrinha, estou aqui para prestar-lhe minhas condolências — ele fez uma reverência forçada.
— Agradeço por sua consideração, tio — falou ela secamente, tentando se livrar dele.
Sebastian Bunwell era o irmão bastardo legitimado de seu pai, fruto de um relacionamento do avô com uma meretriz. Diferente de todos da família, ele tinha cabelo castanho escuro e olhos azuis, de um tom tão brilhante que lembrava do próprio céu. Ele cuidou de todas as propriedades durante muitos anos, enquanto o sobrinho não atingia a maioridade e obviamente teria que retornar até Edward amadurecer.
— Se houver algo que eu possa fazer para diminuir a sua dor, diga-me imediatamente — comentou ele. — Agora sou o responsável pela família e garantirei que a senhorita tenha um futuro brilhante.
Georgina tentou se manter sem expressão, embora sentisse vontade de rir. Futuro brilhante, era sinônimo de um bom casamento.
— Creio que logo o senhor irá receber uma correspondência de Paris, senhor Bunwell — contou ela. — O conde de Champanhe, um homem muito agradável, anseia por unir nossas famílias, casando-me com seu filho e herdeiro. O senhor deveria ir visitá-lo para acertar os detalhes.
Os olhos de seu tio brilharam com malícia, ele era conhecido pela ambição e Bellamy o odiava por isso, bem como Georgina. Na verdade, jogá-lo nas mãos de alguém como Bertrand parecia perfeito. Sebastian também a tratava com desdém no passado.
— A senhorita não precisa se preocupar com nada, eu mesmo entrarei em contato com o Conde e resolverei as pendências matrimoniais — garantiu ele e ela sorriu com malícia por dentro. Pegou a mão dela e beijou delicadamente. — Parabéns, adorável sobrinha.
Finalmente, após conseguir se livrar de seu tio, ela foi procurar Amelia. Para sua surpresa, a viscondessa já estava pronta para visitar sua família e sentada em sua própria cama, acariciando o local que pertencia ao marido. Pela primeira vez, ela não chorava, mas a dor em seu olhar era visível.
— Eu nunca descobri se o seu irmão me amava — contou ela, sinalizando para que a cunhada se sentasse ao seu lado. — Para falar a verdade, eu sabia de minha beleza e o seduzi, pois queria me casar com ele. Não me orgulho do que fiz, mas ele acabou sendo obrigado a se casar comigo. Engravidei antes do tempo, durante a temporada histórica do príncipe da Noruega.
Georgina ficou sem reação. Tudo o que sabia era que o sobrinho havia nascido antes do tempo e o casamento do seu irmão era uma tentativa de acobertar um potencial escândalo. De início, era óbvio que ele era infeliz e sempre reclamava sobre Amelia ser uma completa desconhecida.
— Com o tempo, comecei a questioná-lo sobre o que poderia fazer para que ele me amasse. Eu fazia de tudo, aprendi suas receitas favoritas e passei a gostar das mesmas coisas e ainda assim ele parecia sempre entediado comigo — confessou a viscondessa, sorrindo tristemente. — Ele me respondeu certa vez que eu era como todas em Londres e ele não me conhecia, pediu para que eu parasse de agradá-lo e tentar ser alguém que eu não era. Bellamy achava que se eu fosse eu mesma, poderia tentar retribuir aos meus sentimentos. Mas ele faleceu antes de conseguir dizer se eu o havia conquistado.
— Não sei o que dizer ou como confortá-la — sussurrou Georgina, acariciando a mão de Amelia. — Obrigada por ter amado tanto meu irmão e ter sido a mãe de seus filhos.
— Eu achei a resposta para minhas súplicas durante essa semana. Por sete dias, fiquei confinada em meu quarto lendo isso — ela mostrou uma pequena caixa para Georgina. — Aqui estão todos os diários de seu irmão, desde o dia da morte de seu pai. Acho que você precisa ler tanto quanto eu.
Surpresa, a loura pegou a caixa e olhou para os diários de Bellamy. Abriu o mais próximo e reconheceu sua letra desajeitada, assinatura. Talvez conseguisse superar a sua dor encarando-a como Amelia estava fazendo, lendo as anotações de seu irmão talvez diminuísse a sensação de solidão.
— Obrigada, eu lerei todos — Georgina sorriu e viu Amelia olhando pela janela, para a carruagem que havia chegado.
— Ainda acho que a senhorita poderia nos acompanhar — comentou a viscondessa, pegando seu filho adormecido do pequeno berço de madeira ao lado de sua cama. — Quero que Edward a ame tanto quanto seu irmão a amou. Não gosto de suas irmãs e sei o quanto você ama seu sobrinho.
Georgina acariciou o pequeno e sorriu. De cabelo cacheado, ele era uma mistura perfeita dos pais. Deu um beijo na testa do sobrinho delicadamente.
— Não vou acompanhá-los, pois preciso retornar para a França em breve — comentou ela. — Mas virei visitá-los e enviarei convites para que me visite também.
— Se é o que você deseja, eu respeitarei — respondeu Amelia, se referindo ao noivado. — Mas se desistir desse casamento, saiba que minha família é poderosa o suficiente para desfazer esse arranjo.
— Obrigada — Georgina observou enquanto Amelia partia, mas antes indagou: — Você descobriu o que queria?
— Veja com seus próprios olhos, Georgina. O que o seu irmão realmente pensava sobre mim e sobre você.
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Durante a tarde, Georgina recebeu uma inesperada visita. A antiga duquesa de Norfolk, Mary Hanworth, estava em um estado preocupante. As olheiras demonstravam o quanto ela havia sofrido pela morte de sua neta, mas seu aparecimento repentino podia significar algo pior. Assim, a loura se arrumou o mais rápido possível antes de descer as escadas com sua tia.
— Lady Hanworth — cumprimentou Georgina, com uma reverência. Não sabia ao certo o que dizer, mas observou enquanto a ruiva se levantava.
— Perdoe-me pela visita inesperada — comentou a duquesa, enquanto Jane se aproximava e lhe dava as mãos. — Jane, minha querida amiga, como senti sua falta.
Para a surpresa da sobrinha, sua tia e a duquesa eram melhores amigas de infância. Durante o chá, lhe contaram que foram obrigadas a cortar contato por conta do escândalo de Jane, mas que Mary todo ano enviava cartas e elas conversavam secretamente sobre suas vidas. De fato, elas ainda pareciam muito próximas.
— Nunca fui próxima de sua mãe — contou Mary. Georgina nunca ouvia sobre sua mãe, apenas sabia que eram muito semelhantes. — Mas ela era adorável, muito tímida como você. Jane adorava pregar-lhe peças.
— Elas se parecem muito — murmurou Jane, olhando para Georgina. — Mas enfim, como você está, Mary?
— Devastada, para ser sincera. Mas minha maior preocupação é minha filha — ela tirou um envelope do bolso e o abriu perante Georgina e Jane. — Meu filho me relatou que ela está acamada e se nega a comer, assim como o marido. Mas hoje pela manhã recebi uma carta de Imogen me implorando para ir até a Noruega, pois eles estão definhando.
— Por Deus — exclamou Jane, enquanto Georgina lia atentamente o escrito. — Eu sinto muito, Mary. Ainda estou me recuperando do falecimento de meu sobrinho, mas saiba que pode contar comigo.
— Sou grata, Jane. De verdade — Mary suspirou e encarou Georgina. — Eu vim pedir algo para vocês duas. Na verdade, implorar. Me envergonho muito, mas não consigo escolher entre meus filhos.
— Louis... — Georgina limpou a garganta. — O duque, ele está bem?
— Ele viu a sobrinha falecer em seus braços, a irmã desmaiada por horas... Estou com medo que ele se afunde, quando soube de Bellamy, ficou devastado — a duquesa limpou a própria lágrima. — Eles eram inseparáveis, nunca vi uma amizade tão forte.
— Sim — concordou Georgina. — Bellamy era a minha pessoa favorita, mas por vezes suspeito que Louis era a dele — ela conseguiu arrancar um sorriso da duquesa. — Eu ajudarei como puder, pois esse seria o desejo do meu irmão.
— Eu prometo que irei recompensá-las. Nunca faria tamanho pedido se não fosse as circunstâncias — a duquesa suspirou, mas ainda não havia falado o que queria que a amiga e sua sobrinha fizessem. Segurando a mão das duas, Mary falou: — Um mês, é tudo o que peço. Em poucos dias estarei na Noruega e farei algo a respeito de minha filha, mas preciso que por trinta dias vocês permaneçam no castelo de Arundel com meu filho e o impeçam de fazer qualquer ato impensável.
— Mas... Perdoe-me Mary, como faremos isso? — indagou Jane, genuinamente. — Ele ainda é um duque, a palavra dele sempre será a última, não há como impedi-lo.
— Preciso apenas que você seja a companhia de Georgina para evitar boatos — comentou a duquesa, olhando para a loura. — Eu sei o quanto é injusto com você que eu lhe peça algo assim. Não precisa ser amiga dele, mas vocês se conhecem desde a infância e compartilham da mesma dor. Por favor querida, eu lhe imploro, apenas mantenha ele vivo até meu retorno.
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Louis estava com uma das piores ressacas de sua vida quando a carta de Madama Peu apareceu em sua mesa. Buscou permanecer sóbrio o suficiente para ler o seu conteúdo. As doces palavras da desconhecida a qual ele se correspondia por tanto tempo pareciam a única coisa capaz de fazê-lo se sentir vivo.
De letra fina e sofisticada, Madame Peu o contatou um ano atrás para comentar sobre uma obra de arte feita pelo duque. Ela era apenas uma admiradora anônima que ele resolveu responder pela sinceridade, até que suas correspondências aumentaram e duas vezes por mês ele passou a receber mensagens dela, algumas muito empolgadas, contando sobre seus gostos, mas nunca revelando muito a seu respeito. Na verdade, Louis não sabia sequer de que local ela era, apenas enviava sua resposta para o carteiro designado por Madame Peu e aguardava ansiosamente para o dia em que conquistaria sua confiança.
Sua estranha amiga agora contava-lhe sobre um de seus livros favoritos, justificando todos os motivos pelos quais ele deveria lê-los. Aquela simples carta foi a única coisa capaz de fazê-lo se levantar da cama. Talvez fosse apenas um homem carente e solitário, mas nutria sentimentos por uma completa desconhecida.
"Em nossa última correspondência, o senhor afirmou que nossa amizade é estranha e pediu por características físicas minha. Se eu revelá-las, a magia sobre nós desaparecerá. Talvez eu seja uma pobre viúva de sessenta anos tentando me aproveitar de um jovem artista ou pior: uma adolescente que ainda não debutou na Alta Sociedade. O que posso lhe dizer, é que sou alta, ainda que não tanto quanto o senhor. Não tenho cor predileta e sou péssima com instrumentos musicais. A última informação certamente vai lhe causar espanto, considerando que todas as suas paixões eram violoncelistas italianas.
Por fim, lastimo saber tão pouco do senhor e contar tanto sobre mim. Sua vez.
Com carinho, sua melhor amiga, Madame Peu."
Louis tomou a pena mais próxima, buscou um tinteiro e iniciou sua resposta, embora não soubesse o que escrever. Queria vê-la, queria saber quem era aquela mulher espontânea e de tamanha sinceridade, que sempre o surpreendia.
"Não sei se me conheço o suficiente como a senhorita se conhece. O que posso revelar é que perdi minha inspiração, há meses não consigo completar alguma tela ou ter vontade para isso.
A ideia da senhorita ser uma senhora de sessenta anos não me assusta, muito menos não saber tocar nenhum instrumento musical. Gosto de você por sua honestidade. Não consigo parar de pensar em você, na verdade.
Por favor, Madame Peu, aceite ser minha convidada em Londres e se torne minha inspiração.
̶E̶s̶t̶o̶u̶ ̶p̶a̶s̶s̶a̶n̶d̶o̶ ̶p̶o̶r̶ ̶u̶m̶ ̶m̶o̶m̶e̶n̶t̶o̶ ̶d̶i̶f̶í̶c̶i̶l̶ ̶t̶a̶m̶b̶é̶m̶.̶ ̶P̶e̶r̶d̶i̶ ̶d̶u̶a̶s̶ ̶p̶e̶s̶s̶o̶a̶s̶ ̶i̶m̶p̶o̶r̶t̶a̶n̶t̶e̶s̶.̶"
Rasgando a parte final, Louis largou o escrito sobre a escrivaninha e foi procurar o que beberia naquele dia. Gim pareceu uma boa opção. Não se deu ao trabalho de pedir um recipiente para algum criado e tomou o conteúdo direito da garrafa.
Se não pudesse conhecer a mulher que gostava para contar suas dores, então iria descontá-las da forma que sabia.
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Louis Hanworth estava tão bêbado que não percebeu quando a mãe se despediu ou quando Georgina chegou. Ela o observou à distância, dormindo sobre a escrivaninha de seu escritório em um estado deplorável. Tudo ali cheirava a álcool e charuto. Talvez devesse deixá-lo ler os escritos de seu irmão após terminá-los.
Suspirando, foi jantar com sua tia enquanto pensava no que Bellamy faria naquela situação. Talvez encontrasse a resposta desejada em algum de seus diários. Antes que pudesse subir para ler os diários, o mordomo de Louis chamou Georgina.
— Senhorita Bunwell — chamou ele. — Perdoe-me, mas chegou uma correspondência para a senhorita, foi entregue para uma criada.
Ela agradeceu e pegou o envelope, estava sem assinatura ou remetente. Curiosa, enquanto subia os degraus para seu quarto temporário, abriu o papel. Estava manchado de tinta, o que significava ter sido escrito muito recentemente. Mas o que mais surpreendeu foi o conteúdo da mensagem anônima.
"Seu irmão não morreu de causas naturais."
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