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Nem tudo é por acaso • [01]

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“17/08/1967, Rua Yeoreum-kkot do bairro Jigu-dong, número 797

Espero que alguém receba esta carta.

Estava muito curioso sobre as pessoas que têm mandado cartas para um endereço qualquer, que acham bonito, sem saber se ele existe, então quis fazer o mesmo e agora estou lhe enviando isso por impulso.

Realmente, não sei se há alguma casa com este endereço, não sei se irei receber uma resposta, e também não sei se um estranho vai aparecer na minha porta, reclamando. Talvez sequer haja resposta.

Mas olá, alguém. Pode responder a isso?

Kim"

|...|

O sol estava prestes a alcançar seu horário de maior quentura, iluminando as ruas movimentadas de Seul, refletindo seus raios nos prédios espelhados e atravessando as janelas alheias, emanando luz suficiente para Jeon Jungkook ser obrigado a apertar seus olhos a fim de evitar que fossem machucados pela iluminação natural, enquanto precisava ficar diante da janela da cozinha.

ㅡ Você devia parar de procurar solução para seus problemas na internet, hyung ㅡ reclamou.

Jungkook servia seu próprio arroz, sentindo o vapor quente da panela elétrica subindo, levando o cheirinho de comida até seu olfato enquanto falava com um amigo mais velho pelo telefone, apoiando o objeto entre o ombro e a orelha esquerda.

Dongsaeng, eu estava desesperado! ㅡ justificou, quase choramingando pelo amigo não compreender seu lado. ㅡ Nari é uma pessoa incrível, como eu te disse outro dia, mas é que, eu não gosto dela como gosto do Namjoon.

ㅡ Então conta a verdade. Não é justo com Nari, com Namjoon e nem com a sua família continuar nessa situação. Conta tudo do seu jeito, Jimin-hyung ㅡ fez questão de ressaltar, suspirando. ㅡ Para de ficar pesquisando discurso pronto e brega no google, pelo amor. Se sua família não aceitar, o problema está nela e não em você.

Jungkook tentava aconselhar do melhor jeito possível, agradecendo aos céus por não ser possível enfiar sua mão através da tela do celular e dar um tapa na cara do outro, a fim de vê-lo tomar alguma atitude decente.

Quando teve a certeza de que teria sua sugestão levada a sério, desligou a chamada e colocou o pote com arroz sobre a mesa de quatro lugares, sentando e respirando fundo antes de finalmente comer a refeição saudável que preparou.

Porque aparentemente não fazia bem viver de comida instantânea.

Como a mãe dele dizia: "tão parecido com o avô que só faltava ter o mesmo nome", porque até mesmo no quesito saudável os dois se igualavam. E mesmo que todos da família concordassem, somente sua mãe se importava verdadeiramente com o falecido pai já que no fundo, toda a família de Jungkook por parte de mãe agradecia pelo garoto lembrar muito o homem apenas em aparência.

A louça que acabou se formando graças ao almoço ficou sobre a pia. Jungkook lembraria de organizar tudo quando chegasse em casa, mas por ora, decidiu que deveria focar em se arrumar para sair caso não desejasse chegar atrasado.

Era certo que se não tivesse apenas calçado seus sapatos e saído de casa após uma rápida checada no espelho, acabaria atrasado.

ㅡ Demorou hoje ㅡ foi a primeira coisa que Kim Jinhyo lhe falou, assim que passou pelas portas de vidro que separam a simples biblioteca da rua.

ㅡ Desculpe, acabei enrolando um pouco no telefone.

Jungkook não pôde ver quando a mulher deu um pequeno sorriso de lado, já que estava colocando sua mochila atrás do balcão.

ㅡ Com aquele seu amigo Jimin?

O garoto parou por alguns segundos e, com os olhos fechados, arrumou a postura e suspirou antes de dizer:

ㅡ Mãe… ㅡ virou-se em direção a ela, observando as costas da progenitora, pois Jinhyo colocava alguns livros nas prateleiras. ㅡ A senhora é sem sombra de dúvidas, a única que vê eu e Jimin como um possível casal.

ㅡ É que vocês ficam tão fofos juntos que não há como não reparar.

ㅡ Essa é a geração passada e conservadora da qual tanto falam? ㅡ zombou.

Jinhyo realmente possuía uma pequena encrenca com os dois amigos, dizia que eles formariam um belo casal, mas sabia que era uma aposta improvável já que estava por dentro da situação complicada na qual Jimin se encontrava envolvendo duas pessoas e a própria família.

Ela só comentava porque achava os dois visualmente bonitos, não se importando com o fato de serem dois garotos porque foi ensinada daquele modo ao crescer.

ㅡ Adivinha quem vai ter que ficar até tarde hoje na biblioteca ㅡ fez voz de bebê quando acabou de mexer na prateleira, virando e apoiando as mãos nos joelhos para encarar o filho.

ㅡ É sério?

ㅡ Mais que sério. Eu fiquei aqui até tarde ontem porque você saiu com Jimin para conhecer não sei quem.

ㅡ Só fui com ele e Nari para uma festa que Jimin havia comentado há tempos.

ㅡ E graças a isso, posso ter uma folga merecida. Você tem algo importante para fazer hoje?

Suspirando, após ver que não teria escapatória, Jungkook respondeu a contragosto enquanto se apoiava na bancada.

ㅡ Não.

Então a mulher se virou, cantarolando "Ótimo" como uma criança que acabara de ganhar um presente fora de data comemorativa, indo em direção a outra prateleira.

Jeon sabia que tinha um dia cheio pela frente, mas não havia o que fazer sobre. Não era como se não gostasse da biblioteca (afinal ela estava em sua família há gerações), era só que, após algum tempo o lugar se tornava torturante de tão calmo. Era um ambiente com uma paz sem igual, completamente aconchegante com toda a decoração feita por quadros e plantas, mas depois das nove horas que passaria naquele ambiente, seria tedioso demais.

E Jungkook havia acertado, ainda que não fosse a previsão mais difícil a se fazer.

Quando o local estava perto da hora de fechar, ele mal via a hora de ir para casa. Já havia adicionado livros onde estava faltando, jogou no computador e até mesmo moveu as mesas para um local que julgava melhor.

Estava no tédio, repetindo mentalmente "só mais meia hora", então pensando no que fazer dentro de pouco tempo, resolveu ajeitar os livros que estivessem tortos nas prateleiras, mas assim que chegou na primeira estante e pegou um dos livros ㅡ para o colocar em pé devidamente ㅡ um envelope caiu do exemplar e se abriu antes de atingir o chão.

Encarando a folha dentro do envelope com o cenho franzido, Jungkook se abaixou para pegar, precisando segurar o colar que usava com a mão já ocupada, quando este dificultou a visão por conta do ângulo.

"30/09/1967

Já parou para notar que nossas cartas chegam em, exatamente, uma semana? Não sei se moramos perto, mas nunca vi uma carta chegar assim tão rápido.

Será que devemos chamar isso de destino? Seria interessante se, por acaso, estivéssemos destinados a nos encontrar, mesmo que através de cartas.

Nos conhecemos de modo aleatório o suficiente para que eu acredite nisso. Então, por que não dar um voto de confiança a essa hipótese?

Igualmente Kim"


Não foi difícil notar que era uma carta, mesmo assim, nada parecia fazer muito sentido para Jungkook naquele momento. Uma pessoa em sã consciência não mandaria uma carta nos dias atuais, e ainda que mandasse, não iria colocar uma data tão específica no passado. Iria?

Levado de modo automático pela dúvida, o garoto observou o livro do qual o papel havia caído.

Um livro sobre jardinagem, com a capa rodeada de girassóis.

Se havia como ficar mais estranho, Jungkook não sabia, mas sua curiosidade com certeza queria saber. Foi desse modo que ele se obrigou a dar uma rápida folheada na obra, tentando descobrir se havia algum outro papel entre as folhas e acabou por não achar nada. No entanto, o verso do livro deixava claro aquele se tratar do segundo dentre uma saga inteira sobre jardinagem, contendo seis livros.

Como se a vida de alguém estivesse em perigo e achar o resto dos livros fosse a solução, o Jeon passou rapidamente os olhos pelas prateleiras, procurando as continuações, o que não foi difícil, já que estavam todas juntas.

Assim que localizou os objetos, fez uma pilha com eles sobre o próprio braço, levando para a mesa mais próxima e após colocá-los sobre a superfície, folheou o primeiro.

Logo de cara, as folhas que escondiam algo foram se abrindo e, com certo cuidado, Jungkook abriu o primeiro envelope que viu.

“13/11/1967

Acho que, independente de ser algo tradicional do qual homens devem ou não fazer, é apenas um hobbie. Isso não muda sua vida e devo confessar que temos um apreço em comum.

Sou apaixonado por plantas, mas em específico, por rosas. É uma flor belíssima e de cores tão bonitas que me fascinam de modo sem igual. Consideram-na romântica, mas em minha visão, há um toque dramático em cada pétala de rosa. Dizer que seu significado é romântico, é o mesmo que dizer que girassóis são pequenos pedaços de sol.

Não se sinta mal por isso, eu jamais o julgaria por gostar de uma atividade.

Kim


As sobrancelhas de Jungkook arquearam.

Quem diabos era Kim?

Ele encarou novamente o primeiro papel que leu, comparando as duas cartas e percebendo que a letra era diferente, no entanto a assinatura ao fim era quase a mesma. A primeira era “Igualmente Kim” e a segunda “Kim”.

A menos que aquilo fosse uma brincadeira sem sentido, havia duas pessoas de mesmo sobrenome conversando e, uma delas, estava claramente tentando flertar.

Mas afinal, quem e por quê?

Era muita coisa para a cabeça do Jeon. Havia livros de jardinagem, cheios de cartas trocadas nos anos 60, na biblioteca que administrava com a mãe. Como diabos havia parado naquela situação?

Respirando fundo, ele pegou a próxima carta.

“09/02/1968

Acabei de descobrir que minha família tem uma propriedade em Hodong, que fica mais ou menos 40min daqui. Lembro vagamente da casa, porque da última vez que fui era apenas um pirralho de 1,30m de altura e encrenqueiro.

O lugar é muito bonito, cercado de árvores e muita grama, ainda que o clima seja muito chuvoso. Dei um jeito de enrolar meus pais e agora sei como chegar lá, então essa seria uma excelente oportunidade para você conhecer Suji. Comentei com ela sobre e depois disso não parou de me encher o saco para lhe convencer a ir.

Você acha que ir de bicicleta e fazer um piquenique lá seria uma boa ideia?

Queria muito lhe ver novamente, sua presença faz muita falta e eu tenho algo para contar. Não posso tratar disso através das cartas. Sinto que não é certo.

Igualmente Kim


Nenhuma das três cartas fazia muito sentido para Jungkook. Os assuntos eram muito distintos, então obviamente estavam fora de ordem.

Ele abriu algumas outras cartas, uma atrás da outra, vendo que os dois “Kim” conversavam o mais frequentemente que podiam dada a época que precisavam esperar as cartas chegarem para continuar um assunto.

Todos os livros sobre jardinagem foram abertos por ele, enquanto lia carta por carta e tentava as encaixar de alguma forma, numa suposta linha temporal de acordo com os assuntos tratados.

Uma linha temporal cheia de furos.

Pelo que havia lido até então, o tal “Igualmente Kim” estava prometido a uma moça. Então ele conheceu “Kim” de alguma forma, os dois começaram a trocar cartas e se apaixonaram. Não havia como saber se eles se encontraram alguma vez, porque alguns dos assuntos não haviam uma carta com o começo deles, outros, não haviam cartas com o final. O lado curioso de Jeon Jungkook estava quase chorando, sem saber como os dois homens haviam começado a trocar cartas e o que aconteceu.

De início, Jeon pensou que nem todas as cartas trocadas foram colocadas naqueles livros, no entanto, ao checar a contra capa mais uma vez, ele percebeu que faltava o primeiro livro da coleção.

Talvez todas as cartas faltando estivessem naquele bendito primeiro livro.

E sem notar que estava na biblioteca a mais tempo do que deveria, cerca de uma hora além do horário para fechar, Jungkook tentou achar o primeiro livro.

O garoto procurou por toda a estante onde a saga estava antes, mas não achou nada. Deu uma rápida olhada pelas prateleiras mais prováveis e ao não conseguir nada, ele respirou fundo, com uma lâmpada brilhante acendendo em seus pensamentos.

O sistema da biblioteca.

Jungkook quase correu para trás do balcão com um dos livros da saga na mão, ligando o computador e quase tendo um colapso com a lentidão do eletrônico, balançando a perna direita em ansiedade. Quando o aparelho finalmente ligou e ele acessou a página que o interessava naquele momento ㅡ a que informava quais livros foram pegos por alguém ㅡ, olhou o título do livro que faltava, na contra capa do que tinha em mãos.

Ao jogar no sistema, sua curiosidade teve a pior notícia do dia.

Uma pessoa havia pego o livro emprestado.

|...|

“24/08/1967

Nunca pensei que alguém acharia meu endereço bonito. Sequer poderia cogitar que receberia uma carta como as que as pessoas têm enviado ultimamente.

É uma moda peculiar. Mas sim, sua carta chegou.

Não vou aparecer em sua casa, reclamando por receber uma carta, ainda que esteja muito curioso sobre a pessoa que escreveu para mim.

Quais as chances de isto ser uma pegadinha? Temos o mesmo sobrenome e você acertou meu endereço. Talvez a chance de duas coisas assim acontecerem seja de uma em um bilhão.

Então, caso isso seja uma obra do destino, qual de nós dois é mais incrivelmente sortudo, ‘Kim’? Eu, por receber uma carta de alguém com o mesmo sobrenome, ou você por acertar um endereço que julga bonito?

Igualmente Kim

|...|

Ao abrir a porta, Jungkook tentou ser o mais silencioso possível, imaginando que Jinhyo estivesse dormindo. Deixou os sapatos em frente à porta e calçou seus chinelos para ir ao quarto, com os olhos focados em seus movimentos para evitar fazer qualquer barulho e os ombros tensos por tentar ser discreto e não acabar acordando a progenitora, a qual sabia ter um sono leve.

Seu cuidado não adiantou de nada, porque no fim ela não estava dormindo.

ㅡ Fez hora extra? ㅡ soou divertida.

Jungkook franziu o cenho, só então olhando para a frente e vendo uma fresta de luz vindo da cozinha. Os ombros do garoto relaxaram e ele endireitou a postura, andando normalmente até o cômodo de onde vinha a luz.

A mochila estava pesada, contendo boa parte dos livros que pegou da biblioteca enquanto o único que não coube estava em seus braços quando adentrou a cozinha.

Jinhyo estava sentada à mesa montando um sanduíche, e quando estava quase mordendo o primeiro pedaço do pão, seus olhos focaram no filho.

ㅡ Você está segurando um livro? ㅡ perguntou de modo exagerado, abrindo a boca.

De modo automático, o Jeon encarou o objeto que segurava, sorrindo pequeno e negando com a cabeça antes de responder:

ㅡ Não se anime, por favor. Não vou ler o livro.

Parecendo mais aliviada do que devia, a mulher suspirou, colocando uma das mãos no peito.

ㅡ Achei que ia ter que pagar algum tratamento médico ㅡ Acabou fazendo o filho rir.

ㅡ Só vai precisar caso a pessoa que tiver pegado o primeiro livro da saga não devolva ele.

Enquanto ajeitava a mochila nas costas, reclamando mentalmente do peso, sua mãe finalmente comia o próprio lanche.

ㅡ Desde quando você se interessa em cobrar as pessoas para devolverem os livros?

Era a pergunta da qual ele estava esperando.

Sorrindo arteiro, Jungkook se aproximou, largando a mochila no chão e sentado ao lado da mãe. Depositou na mesa o livro que segurava e o abriu, mostrando as cartas que resolveu deixar dentro dos livros em que estavam.

ㅡ Me atrasei para fechar porque quando estava organizando alguns livros da última prateleira, achei isso.

Ao ter um dos envelopes estendido em sua direção, Jinhyo hesitou um pouco antes de o ter em mãos. Ela abriu rapidamente o envelope, desdobrando o papel para ler.

Com os olhos focados na folha e piscando rapidamente, a mulher parecia processar. Então, respirou fundo antes de pegar a carta da página seguinte e a ler, para só então se dirigir ao filho.

ㅡ Jungkook… ㅡ começou, distante. ㅡ Acho que você achou, a-as cartas do…

Os olhos do Jeon se abriram um pouco mais, em curiosidade, esperando que sua mãe completasse a sentença.

ㅡ De quem? ㅡ incentivou.

ㅡ A letra ㅡ sussurrou, passando a mão com um carinho imenso por toda a folha antes de encarar Jungkook com um sorriso. ㅡ São as cartas do seu avô. ㅡ Antes que fosse interrompida, continuou: ㅡ Eu nunca te contei porque era, de certa forma, irrelevante, mas acontece que ㅡ deu uma pausa para respirar fundo, dando um sorriso incrédulo ㅡ, nossa família odeia o fato de você parecer com o papai por ele não esconder quem era. Seu avô era apaixonado por outro homem, que conheceu através das cartas ㅡ balançou o papel no ar, indicando que era daquelas cartas que ela falava. ㅡ Nossa família também odeia a mamãe digamos que por tabelinha, já que ela era a favor dos dois e sempre foi alguém muito boa. Os três viraram amigos e no fim a paixão de papai acabou como uma espécie de amante, só que nada secreto, uma vez que dona Lee sabia de tudo.

Jungkook estava literalmente de boca aberta.

As cartas que havia lido começavam, minimamente, a fazer sentido.

ㅡ Eu li sobre uma mulher, Suji.

ㅡ Oh, Suji é o nome da  sua avó! Lee Suji ㅡ Jinhyo arregalou os olhos, parecendo de fato animada. ㅡ São realmente as cartas de seu avô. Ele se chamava Kim Seokjin. O “amante” dele era Kim Taehyung e como você já sabe, sua avó era Lee Suji. ㅡ Após colocar as cartas lado a lado e ler algo novamente, prosseguiu: ㅡ Papai assinava com “Igualmente Kim”, enquanto Taehyung assinava como “Kim”.

Ainda que estivesse com o cenho franzido, tentando processar cada informação que rapidamente lhe era lançada, foi inevitável Jungkook não sorrir, deixando-o com uma cara engraçada.

ㅡ Eu nunca iria imaginar algo assim.

ㅡ Pois é ㅡ suspirou. ㅡ Ninguém da família comenta sobre, mesmo sabendo de toda a história, porque são preconceituosos de merda. Mas eu acho muito… ㅡ comprimiu os lábios, procurando a palavra certa. ㅡ Não sei, mas forma como meu pai e Taehyung fizeram de tudo para ficarem juntos e como mamãe os ajudou me faz ainda acreditar nas pessoas do mundo. Sem contar que foi tudo por conta de um acordo. Suji foi prometida a Seokjin porque as famílias queriam fazer uma aliança, e como nenhum dos dois tinha verdadeiro interesse, ela não viu nada demais em ajudar os dois apaixonados a ficarem juntos.

Jinhyo não conseguiu segurar o sorriso, encarando o filho por pouco tempo antes de arquear as sobrancelhas e levantar rapidamente, pronunciando um rápido “espere um pouco” antes de sair da cozinha.

O moreno não entendeu, mas não houve tempo para a questionar, então apenas respirou fundo e tentou absorver tudo que havia acabado de descobrir.

Era uma história familiar e tanto, além do fato de possuir dois tios, que junto a sua mãe, eram trigêmeos.

Jeon havia compreendido que seu avô gostava de outro homem e que Suji os ajudou sem ver muitos problemas nisso. Os três tinham, certamente, uma bela amizade. As únicas coisas que ainda deixavam Jungkook curioso sobre a história, era como eles haviam se conhecido através das cartas e como sua mãe sabia de toda a história.

Antes que o Jeon pudesse pensar em qualquer outra coisa mais, Jinhyo adentrou novamente a cozinha, dando a ele um pequeno papel.

Uma foto meio amassada e com rasuras, contendo dois homens, um ao lado do outro enquanto se encaravam.

O da direita, de cabelo mais escuro e vestes pretas tinha um rosto mais sério, com a mandíbula bem marcada enquanto que o de cabelo castanho claro, usando um terno verde com linhas brancas formando retângulos, nem tanto, apesar de ser igualmente bonito.

ㅡ O da esquerda é Kim Seokjin, seu avô. Consegue ver a assinatura pequena, no canto? ㅡ apontou para o local, mostrando a Jungkook. ㅡ É a assinatura de Suji, foi ela quem tirou a fotografia.

ㅡ Os três pareciam se dar muito bem pelo que li das cartas.

ㅡ Foram grandes amigos ㅡ um tom carregado de tristeza foi usado naquelas palavras, o que fez Jungkook encarar a mãe. ㅡ Taehyung adorava pegar eu e seus tios no colo e nos jogar para cima, ele sempre estava sorrindo grande para nós enquanto mamãe ria contagiada. Era papai quem faltava arrancar os próprios cabelos em preocupação.

ㅡ Como a senhora sabe da história toda? Você e os tios.

ㅡ Mamãe e papai nos contaram quanto tínhamos... Eu tenho 46 anos… ㅡ olhou para cima, pensando. ㅡ Quando eu fiquei grávida de você e a lástima do seu pai foi embora, aos 27 anos. Aliás, você deve saber que eu e meus irmãos somos trigêmeos. Se mamãe não tivesse uma gravidez rara, acredito que somente um de nós três estaria aqui hoje.

ㅡ Por quê?

ㅡ Ora, era um casamento de fachada. ㅡ Jinhyo falava tudo entretida, gesticulando com uma das mãos, enquanto a outra, era apoiada na cadeira em que Jungkook estava sentado. ㅡ Papai estava com Taehyung e mamãe nunca foi lá alguém de muito romance. E é aí que está. Os três estavam sempre juntos e acabou que a gravidez da mamãe foi um milagre divino chamado: bebida alcóolica. É aquele ditado “Jovens e nada pensantes”. Ainda bem que ela engravidou do Kim certo.

Jungkook não conseguiu segurar uma gargalhada, compreendendo mais um ponto da história toda, ainda que fosse muita coisa para associar.

Quando os olhos do garoto focaram novamente na foto, ele não pensou muito antes de perguntar:

ㅡ E por que eles não… estão aqui agora?

Se pudesse voltar no tempo, coisa de apenas dez segundos no passado, ele com certeza não teria feito a pergunta.

Não quando viu a expressão animada da mãe sumir.

ㅡ Houve… Um acidente. ㅡ Jinhyo suspirou, finalmente voltando a sentar-se em frente ao filho. ㅡ Mamãe, papai e Taehyung iam fazer uma viagem juntos, para a casa em Hodong que era considerada herança da família. Foi esse o motivo de nos contarem tudo, e no fim, apenas um de seus tios pôde ir. Embora a gente não gostasse muito de lá porque o clima era sempre chuvoso, eu não fui por estar começando o pré-natal e um de seus tios, porque estava trabalhando dobrado. ㅡ Ela cruzou os braços sobre a mesa, encarando a superfície. ㅡ Era o segundo dia de viagem quando recebemos uma ligação das autoridades, contando que um raio havia acertado a casa enquanto os quatro estavam na varanda. Seu tio ficou bem após alguns dias internado. Mamãe morreu na hora, enquanto papai e Taehyung não conseguiram chegar ao hospital a tempo.

|...|

“03/05/1968

Estou lhe enviando meu colar, o qual elogiou quando fomos para Hodong.

Sim, isto é uma forma de chantagem para te implorar por perdão, porque não tenho certeza sobre como está se sentindo agora, mas eu me sinto completamente idiota.

Já era de se imaginar que algo assim acontecesse e a culpa não é sua, então me perdoe por toda a frustração. Conversar sobre isso pessoalmente foi mesmo a melhor escolha e me admira muito você sempre saber o que é melhor a se fazer.

Nem mesmo Suji quer essa aliança, então prometo fazer de tudo para conseguir uma solução junto a vocês.

Mande saudações a ela por mim.

Kim

|...|

Era sábado de manhã, quando o celular de Jungkook recebeu uma chamada, a qual foi prontamente ignorada pelo garoto assim que acordou com a música vindo de seu aparelho.

No entanto, como se não bastasse, a pessoa continuou ligando incansavelmente até fazer o Jeon bufar e apertar o botão para atender a chamada

ㅡ Alô ㅡ usou seu tom mais ríspido.

Sem tempo para questionar e confrontar seu mau-humor em pleno sábado ㅡ Era Min Yoongi ao outro lado da linha, um amigo do ensino médio e quem o apresentou para Jimin, sendo meio irmão do Park. Após o Min terminar de falar, Jungkook reconheceu a risada ao fundo como sendo a de um amigo em comum deles: Hoseok. ㅡ Escuta, você já olhou o celular hoje?

ㅡ Não ㅡ disse firme, fechando os olhos ao se ajeitar na cama. ㅡ Você acabou de me acordar.

Então me respeita que eu sou seu príncipe encantado, Jeon Aurora, te salvei do sono eterno ㅡ ao fundo, Hoseok falou “Verdade, eu era a armadura do príncipe”. ㅡ Quê isso?!

O som a seguir deu a entender que o celular foi jogado contra algo fofo, enquanto a risada dos dois, junto a um tapa sendo desferido, foi abafado.

ㅡ Vou desligar ㅡ ameaçou, revirando os olhos, ainda que estivessem fechados.

Não! Espera aí ㅡ Rapidamente o som voltou ao normal e Yoongi respirou fundo antes de continuar com o que falava. ㅡ Enfim, eu liguei pra dizer que tem uma história viralizando desde ontem a noite.

ㅡ Hyung ㅡ choramingou. ㅡ Você tá me ligando... ㅡ tirou o celular do ouvido e forçou os olhos contra a claridade para enxergar o horário, logo voltando a falar com o mais velho. ㅡ Está me ligando às oito da manhã para fofocar?

Não, me escuta. Um menino compartilhou ontem no Twitter que achou umas cartas no meio de um livro e agora tá todo mundo falando sobre, porque foram trocadas nos anos 60 e estavam na porra de um livro de, jardinagem?

Os olhos de Jungkook arregalaram no mesmo instante, enquanto ele se sentava na cama de uma vez só, apertando o cenho quando uma tontura o atingiu.

Ah, eu achei fofo ㅡ comentou Hoseok.

ㅡ Hyung… Ele pegou o livro numa biblioteca?

Yoongi, percebendo o tom afobado do amigo, hesitou um pouco antes de responder.

Sim, ele disse que foi pegar um livro sobre jardinagem porque precisava de informações vindas de livros e…

ㅡ Yoongi-hyung, desculpa te interromper, mas me manda o link do tweet, por favor?

Enquanto falava, Jungkook calçou seus chinelos, se levantando e indo até a mochila como se quisesse checar se os livros do dia anterior estavam ali. As cartas estavam em seus devidos envelopes e os livros, do mesmo jeito que haviam sido colocados na bolsa.

Ao desligar a chamada, o Min enviou o link para a postagem da qual havia falado.

Jungkook quase teve um treco quando, antes mesmo de ler qualquer coisa, viu a foto do livro e a carta aberta como as que tinha consigo. O livro parecia de fato fazer parte da coleção.

Na publicação dizia: Tive que ir à biblioteca pegar algum livro sobre jardinagem, porque minha família queria plantar "do jeito antigo" (?) Então eu fui. Aí quando fui pegar o livro agora, descobri umas cartas dentro. Elas são dos anos 60 e eu não consegui entender bem os assuntos, mas… Parece que é uma conversa trocada entre dois homens que se gostavam. Eu não sei nem o que dizer, só… leiam.

O texto formou uma pequena sequência de dois tweets, devido a seu tamanho, mas ainda havia fotos na primeira publicação.

A primeira fotografia era somente da capa do livro, enquanto a segunda, terceira e quarta, eram cartas abertas e seguradas pelo homem que fez as postagens.

"06/11/1967

Eu sei que há muitos tipos de hobbies e que as pessoas podem ter vários ao mesmo tempo, então, dizer que eu gosto de plantar soa estranho?

Gosto de mexer com terra e ver as plantas crescerem, sabendo que eu fui capaz de as ajudar nesse processo. Me sinto um pai orgulhoso. É um sentimento ótimo, embora nem todos vejam assim.

Ainda que seja algo que eu 'não deveria fazer', jardinagem é uma das melhores coisas do meu dia.

Igualmente Kim"


Jungkook lembrava de ler sobre algo parecido antes, sobre esse assunto de gostar de jardinagem e não ser "certo". O pensamento só reforçava que sim, aquele era de fato o livro faltando na coleção.

Quando se deu conta, antes de ler as outras duas cartas, o Jeon reparou nos números do post.

87 milhões de favoritos.

Como algo viralizou tão rápido?”, pensava.

Não era possível que as cartas de seu avô se tornassem assim tão famosas da noite para o dia.

Afinal, por que as pessoas achariam as cartas interessantes? Claro que, para Jungkook elas tinham certo valor, se tratando da história de sua família, mas como exatamente pessoas de fora se interessariam?

E quase sem notar, ele foi descendo a tela, acabando por ler um comentário dizendo: a coragem desses dois foi surreal. Espero que tenham vivido bem um ao lado do outro. Se hoje em dia não é fácil, fico imaginando naquela época.

Jungkook então se recordou do que a mãe falou, sobre sua família não aceitar bem. E de qualquer forma, o Jeon acreditava que eles haviam se saído bem, que haviam sim conseguido superar.

“08/06/1968

Existe um campo cheio de rosas há alguns quilômetros daqui. Se fossemos juntos, poderíamos levar alguns livros e fingir que não existe mais ninguém no mundo, porque elas não são importantes como você é para mim.

Será que, se fossemos para lá e fizéssemos uma cabana para morar, alguém iria nos encontrar? Gostaria de fugir do mundo para poder te ver todos os dias.

Nossas responsabilidades estão aumentando, então não esqueça que amo-te independente do que aconteça daqui para frente.

Me perdoe por não poder fazer nada.

Igualmente Kim


“03/03/1968

Se não se sente amado, ou especial, saiba que é sábado à noite e estou escrevendo para você. Porque senti sua falta.

Hoje, com a ajuda do jardineiro e a certeza de que ele não contaria a ninguém, o ajudei com o jardim. Ele tem um sotaque chinês carregado, fala de jeito fofo e é um senhorzinho. O que acha de pessoas que ajudam senhores? Se falar que se apaixona por elas, concordo.

Kim


Por mais quebrado que o humor deles fosse, aos olhos de Jungkook, eram duas pessoas apaixonadas e por esta razão ele conseguia deixar passar.

A cada vez que o Jeon pensava nos dois e no quanto aquelas cartas eram surreais, não conseguia deixar de sentir orgulho. Orgulho porque se nos dias em que vivia, já era difícil fazer algumas pessoas entenderem que tudo bem sentir atração por alguém do mesmo sexo, ele imaginava o quão dificil era nos anos 60.

Talvez não tivesse a coragem que seu avô teve.

E isso só o fazia ter ainda mais admiração por Kim Seokjin, e não somente por ele, mas por Taehyung também.

Após pensar em tudo aquilo, o peito de Jungkook se aqueceu. Ele deitou no chão do próprio quarto, respirando fundo antes de sorrir grande e logo em seguida levar um susto tão grande com um som de notificação, que quase arremessou o telefone para longe.

Quando checou a provável mensagem, mal percebeu estar novamente sentado por conta do susto.

Agora diz, não é fofo? ㅡ o Min lhe perguntou em aúdio. ㅡ Depois esses preconceituosos ficam dizendo “ai, não sei o quê na minha época não era assim”, não era assim porque as pessoas eram totalmente reprimidas ㅡ ele usou um tom de pergunta ao finalizar.

Sorrindo grande, Jungkook arrastou o dedo na tela e aproximou o celular dos lábios para poder responder em áudio também.

ㅡ Hyung, não sei se você vai acreditar, mas eu tenho o resto das cartas. Elas são do meu avô.

Após enviar a mensagem, voltou para a página da postagem no Twitter, entrando no perfil da pessoa para falar com ela por mensagem privada, apenas se apresentando e perguntando sobre o resto das cartas, torcendo para que fosse respondido enquanto voltava para ver os diversos áudios que Yoongi havia lhe mandado.

|...|

"09/06/1968

Às vezes me pergunto se nos merecemos. Se eu mereço alguém tão bom e paciente quanto você e se você merece alguém como eu, um tanto quanto… Sem esperança.

Eu sei o quão ruim o mundo pode ser, então você se manter forte me faz forte também.

Eu poderia apenas fingir que esta carta foi algum tipo de delírio, mas não quero fingir ser perfeito quando não sou.

Igualmente Kim"

|...|

Jeon Jungkook nunca imaginou que, apesar de ser uma esfera que comporta bilhões de pessoas, a Terra fosse tão pequena.

Naquele momento, encarando a tela do celular sem conseguir desviar os olhos, o Jeon se sentia na situação mais engraçada de sua vida, enquanto também se sentia o maior idiota do mundo. Não era possível que tudo estivesse em sua cara esse tempo todo.

A pessoa que havia postado sobre as cartas era, ninguém mais e ninguém menos, que Kim Namjoon.

O cara do qual Park Jimin estava gostando.

Para ser honesto consigo mesmo, Jungkook tinha que admitir: ele e Jimin nunca se aprofundaram no assunto. Fora as vezes em que aconselhava o amigo e dessa forma sabia como as coisas estavam se desenrolando, ele não tinha qualquer outro envolvimento na confusão. Ou achava que não tinha, uma vez que a mensagem de Namjoon em sua tela continha exatamente as palavras: Jeon Jungkook, o amigo de Park Jimin?

Não havia motivos para Jimin esconder sua amizade com Jungkook, afinal seria estranho. Ainda sim, o Jeon não entendia porque Kim Namjoon (com quem nunca teve contato direto antes) lembraria dele apenas pelo nome.

Aproveitando que a mensagem fora enviada recentemente, respondeu antes que o outro ficasse ocupado.

Uma simples afirmação foi suficiente para que apenas se cumprimentassem e logo fossem falar sobre as cartas.

Namjoon havia mesmo pegado o livro na biblioteca de Jungkook, a pedido da própria família. Ele nunca imaginaria que poderia encontrar cartas dentro do objeto, o que fez Jungkook o julgar internamente por não dar uma folheada antes de levar o objeto. De qualquer forma, os dois estavam felizes por acharem o restante das cartas, combinando que se encontrariam numa espécie de cafeteria no dia seguinte e levariam os livros.

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"13/10/1968

Obrigado por ter ido hoje. Apesar de não ser o momento mais feliz para nós dois (talvez três, incluindo Suji), acredito que vamos ficar mais em paz agora.

Decidimos passar nossa "lua de mel" em Hodong, daqui há duas semanas. Vamos passar alguns dias lá, mas você deve imaginar o quão sem graça pode ser cozinhar e fazer piquenique na casa número 83 da rua Yejingro em Hodong com somente duas pessoas.

Igualmente Kim"

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Era domingo. E Jungkook mal podia acreditar que havia feito Namjoon ir o encontrar numa cafeteria em pleno domingo. Ainda sim, ele estava ansioso demais para simplesmente pedir desculpas e remarcar, decidindo por fingir que não havia notado nada se o outro perguntasse sobre.

Ao sair de casa tempos após o almoço, Jeon mal notou que a coisa mais colorida que carregava ㅡ de sua mochila aos sapatos ㅡ era o colar que sua mãe havia lhe dado, com uma pedrinha verde rodeada por metal.

Ele foi a pé até o local combinado, logo de cara podendo ver Namjoon sentado perto da janela. Sobre a mesa, estava o livro que ele pegou emprestado na biblioteca.

ㅡ Boa tarde ㅡ cumprimentou ao chegar perto do homem.

Kim Namjoon tinha um ar chique, se vestindo de modo formal o suficiente para Jeon questionar se devia ter visto melhor suas roupas antes de sair. Em contrapartida, o sorriso amplo e de covinhas à mostra que ele ofereceu a Jungkook foi o suficiente para fazê-lo sorrir de volta.

ㅡ Oi, Jungkook, não é?

ㅡ Sim, isso mesmo.

Sentando de frente para o Kim, Jungkook deixou a mochila na cadeira à sua esquerda, sentando-se ao lado da janela antes de tirar os livros sobre jardinagem da bolsa.

ㅡ Não sabia que havia tantos ㅡ comentou com as sobrancelhas arqueadas.

ㅡ É, eu olhei todos eles meio por cima quando estava na biblioteca. São cartas que meu avô e o amante ㅡ fez aspas com os dedos ao falar ㅡ dele trocaram.

ㅡ Aliás, gostaria muito de entender a história toda. Seu avô tinha mesmo um amante?

ㅡ Acho que é questão de opinião. Ele era casado com minha avó, Suji, mas os dois não se amavam e ela até mesmo apoiava Seokjin, meu avô, com o homem que ele amava.

ㅡ Foi um daqueles casamentos por conveniência ㅡ concluiu.

ㅡ Exatamente. Depois de casados eles e Taehyung, que era o "amante", estavam sempre juntos. A família achava que ele era somente amigo da família.

ㅡ Isso… ㅡ Namjoon encarou a mesa, com o cenho franzido. ㅡ Explica boa parte das cartas que li.

Logo após sua fala, ele abriu o único livro que carregava, colocando as cartas juntas sobre a mesa enquanto Jungkook observava tudo atentamente.

ㅡ Fiz questão de separar algumas ㅡ explicou, abrindo outra página e tirando de lá apenas cinco envelopes. ㅡ Duas delas, são o que eu entendi como as primeiras cartas que eles trocaram e as outras três, algumas que achei interessantes.

Quando as cartas foram seguradas em sua direção, Jungkook as pegou com cuidado, abrindo a primeira delas, que datava  dia 17 de Agosto de 1967, onde “Kim” falava sobre querer que a carta chegasse em alguma pessoa.

ㅡ Ele não sabia se a carta iria chegar?

ㅡ Me perguntei a mesma coisa ㅡ Namjoon sorriu ao ouvir a pergunta, se prontificando em responder. ㅡ Fiz algumas pesquisas e descobri que em 1967 era bem comum as pessoas mandarem cartas para endereços que achassem bonitos, esperando que chegasse em alguém.

ㅡ Que moda esquisita ㅡ riu soprado.

ㅡ Na época era um fenômeno entre “mulheres solteiras”. Taehyung e Seokjin quebraram as regras da sociedade desde a primeira carta que trocaram.

ㅡ Eles com certeza eram demais.

ㅡ Acho que teriam muito orgulho de você ㅡ Tal frase fez Jungkook o encarar em dúvida, como se quisesse uma confirmação. ㅡ Creio que, se hoje em dia é complicado, na época deve ter sido difícil. Acho que eles gostariam de saber que você não os repudia ou algo parecido.

Mesmo que não fosse de total intenção, a frase de Namjoon quase fez Jungkook repensar toda sua existência, é claro,  se logo em seguida ele não tivesse proposto pedirem algo para comer ou beber. Os dois então pensaram bem e ao decidirem, foram atendidos pela cafeteria, voltando às cartas para esperar suas bebidas.

A segunda carta que Jungkook abriu era a resposta para a primeira que foi enviada.

O assunto era sobre a surpresa de Seokjin por alguém considerar seu endereço bonito, não somente isso, como também o fato de possuírem o mesmo sobrenome. Foi daí que surgiram as assinaturas “Kim” e “Igualmente Kim”.

A terceira carta já tinha uma data muito distinta quanto às duas primeiras. Era do dia 3 de maio de 1968, e começava alegando que junto ao papel, um colar foi enviado.

ㅡ Junto da carta, tinha algum colar?

ㅡ Gostaria de dizer “sim”, mas infelizmente eu não encontrei nenhum colar.

Naquele instante, uma mulher se aproximou da mesa para entregar as bebidas que os dois haviam pedido. Enquanto isso acontecia e Namjoon agradecia pelo serviço rápido, Jungkook pensava sobre o tal colar do qual a carta falava.

Foi aí que uma coisa lhe veio à mente.

Após agradecer para a moça, ele falou rapidamente:

ㅡ Meu avô e Taehyung trocaram todas essas cartas, então talvez o colar tenha sido enviado sim, mas não deve ter sido guardado junto aos papéis ㅡ ao terminar sua explicação, Namjoon fez sinal de sim com a cabeça, pensando que a hipótese era muito boa. ㅡ Vou perguntar para minha mãe quando voltar para casa e falo para você.

ㅡ Certo.

Lendo o restante da carta o Jeon percebeu que se tratava de quando, possivelmente, Taehyung ficou sabendo do casamento de Seokjin com Suji. E pelas coisas descritas ele havia ficado no mínimo chateado, ainda que apreciasse o fato de seu amado ser sincero consigo.

Jungkook então pegou a próxima carta, do dia 9 de Junho de 1968.

Desta vez, a carta era de Seokjin falando sobre sua insegurança devido ao amor que sentiam um pelo outro, mais especificamente sobre como ele não se sentia de fato merecedor de Taehyung estar ao seu lado. A carta só provava que, apesar dos dois terem sido fortes e passado por muita coisa para ficarem juntos, eles não eram feitos de aço. Ainda havia dúvida e incerteza em meio a todo aquele amor, eles só não deixavam qualquer coisa negativa ser maior que seus sentimentos bons em relação ao outro.

Já a última carta que Namjoon havia separado, fez Jungkook sorrir tão grande que ruguinhas apareceram ao lado de seus olhos.

Ela era do dia 13 de Outubro de 1968, e ao ler, Jungkook entendeu como sendo o dia do casamento de Suji e Seokjin.

Taehyung havia comparecido. Como amigo deles.

E ainda sim, aquilo não foi capaz de conter a felicidade do Jeon, uma vez que Kim Taehyung foi convidado também para a suposta “lua de mel” de seus avós, a qual ele sabia ser totalmente de fachada.

ㅡ Sua avó era um anjo ㅡ comentou quando viu o outro acabar de ler. ㅡ Desculpa se a pergunta parecer meio invasiva, mas, se seu avô tinha um relacionamento com outro homem e você está aqui o chamando de avô…

Ao ver o cenho franzido de um Namjoon prestes a se perder nas próprias palavras, Jungkook interveio.

ㅡ Minha mãe e meu tio foram consequências de uma noite de bebedeira.

Os olhos do outro dobraram de tamanho, enquanto um sorriso desacreditado surgia em seus lábios.

ㅡ É sério? ㅡ ele não conseguiu conter uma risada.

Namjoon demorou um pouco para processar a informação, mas logo os dois estavam conversando normalmente sobre o restante das cartas, e entre os papéis cheios de palavras, um deles chamou a atenção de Jungkook.

A única carta que não foi enviada por um dos Kim.

05/10/1968

Não se preocupe comigo, saí mais cedo da festa porque estava cansada. Se tiver voltado cedo por preocupação eu não saio mais com vocês dois, estou lhe avisando.

Vou falar aos meus pais que você me deixou na porta de casa mas não entrou pois estava cansado. Sabe que eu consigo atuar bem para eles, então não se preocupe quanto a mim. Quero fazer o meu melhor para ajudar vocês no que for, seja escondendo nossa falta de interesse um no outro ou ajudando a saírem juntos. Então espero que tenham aproveitado ao máximo a festa no Yongkopi.

Se me perguntarem, não estou deixando uma carta na porta de sua casa após ver você e Taehyung aos beijos.

Lee Suji

Oque mais surpreendeu Jungkook, não foi o fato de sua avó ter escrito uma carta (a qual supostamente deixou na porta de seu avô) ou ter visto Seokjin e Taehyung aos beijos, mas sim o nome do local.

ㅡ Eles foram numa festa em 1968, na Yongkopi.

ㅡ Oh, é a carta que sua avó escreveu?

ㅡ Sim, mas… ㅡ encarou o homem que descobriu ser pouco um pouco mais velho. ㅡ Aqui é a Yongkopi.

Por pouco Namjoon não se engasgou com seu chá gelado, apenas tossindo por alguns segundos.

ㅡ Aqui? ㅡ se controlou para não falar muito alto. Após Jungkook confirmar, Namjoon puxou uma generosa quantidade de ar para os pulmões, meio em choque. ㅡ Essa história me surpreende cada vez mais.

Enquanto negava com a cabeça, o mais velho bebericou o chá, olhando ao redor pensando em como aquele lugar era muito mais antigo do que aparentava.

Os dois terminaram de consumir suas bebidas e após lerem todas as cartas, comentando algumas delas, Namjoon resolveu entregar o livro para Jungkook, após saber que o Jeon poderia dar baixa na obra sem necessidade de ele ter que ir à biblioteca.

Ambos se despediram já ao final da tarde, quando o Kim alegou ter um compromisso, então seguiram seus próprios caminhos.

Jungkook pensava sobre tudo que havia feito e descoberto em apenas três dias enquanto voltava para casa, e quando adentrou o apartamento em que morava com a mãe, lembrou-se de perguntar sobre o colar que uma das cartas de seu avô mencionava.

ㅡ Ah, o colar que Taehyung deu para ele! ㅡ ela sorriu grande com a menção do objeto, dando total atenção ao filho, enquanto sentada no sofá e segurando o controle remoto. ㅡ Seu avô vivia usando, tanto é que o colar estava no testamento e… ㅡ Ela fez sinal com a mão para que Jungkook sentasse, levando uma das mãos para perto dele. ㅡ O colar ficou para você.

Jinhyo tocava o colar de pedrinha verde e metal do qual Jungkook usava.

A boca do garoto ficou entreaberta devido a sua surpresa, o que não durou muito tempo pois, logo em seguida, um sorriso amplo foi depositado em seu rosto.

Jungkook apenas agradeceu à mãe e foi para seu quarto, colocando a mochila que carregava em um canto qualquer do cômodo e, após rapidamente mandar mensagem para Namjoon contando o que havia descoberto, se jogou na cama respirando fundo com os olhos fechados.

Não foi preciso muito para que ele voltasse a pensar nas cartas e em seu avô. Não poderia negar que estava quase que obcecado pelo assunto, e não era para menos já que nunca poderia imaginar algo assim.

Seu avô viveu um romance nos anos 60. Era casado com uma mulher e apaixonado por um homem, o que de alguma forma, nunca foi um problema para nenhum dos três envolvidos na situação. Seokjin tinha o apoio da esposa, que considerava a melhor amiga que poderia ter em toda sua vida. Os três eram felizes com o que tinham e no fim tudo deu certo. Quem diria que até mesmo uma noite de bebedeira ajudaria a manter tudo em segredo. E por outro lado, Jungkook ficava feliz que eles houvessem contado para os filhos ㅡ com exceção de seu tio, que viu a situação toda como ruim e não por se tratar de uma “traição” já que Seokjin estava casado, mas por se tratar de dois homens se relacionando ㅡ e que sua mãe foi alguém sensata o suficiente para fazer com que, por meio dela e das cartas, a história toda chegasse em Jungkook.

Foi também pensando em como a situação era complicada por conta das famílias de seus avós, que um pensamento rápido obrigou Jungkook a franzir o cenho.

Park Jimin estava vivendo algo parecido com o que Kim Seokjin viveu.

No mesmo instante, Jungkook abriu os olhos e procurou o celular sobre a cama com a mão. Ele sequer cogitou mandar uma mensagem, ligando para o amigo enquanto sentava na beira da cama, com a perna balançando freneticamente.

Alô? ㅡ Jimin respondeu ao outro lado da linha, confuso.

ㅡ Hyung, você vai me achar doido por ligar do nada, mas eu preciso falar uma coisa ㅡ E sem dar tempo para que o outro respondesse, Jungkook apenas continuou: ㅡ O que eu falei naquele dia sobre contar a verdade e ser você mesmo, isso mantém, mas acho que… Você deve conversar com Nari e Namjoon primeiro, esclarecer as coisas para eles porque vai ver os dois entendem melhor do que você imagina, aí fica mais fácil você falar com a sua família depois. Também não acho que eles vão reagir mal, você com certeza vai ter seu irmão do seu lado. Se quiser passar um tempo aqui em casa também quando contar e…

Jungkook! ㅡ o chamou rindo, percebendo o quão nervoso o amigo estava. ㅡ Acho que está um pouco atrasado, na realidade ㅡ e então, duas risadas ao fundo puderam ser ouvidas. ㅡ Eu estou com os dois nesse momento e você tinha razão no que acabou de dizer. Na verdade Nari...

Eu só queria dar uns pegas no Jimin ㅡ a voz feminina falou.

Ela falou por si própria. De qualquer forma, eu vou sim falar com a minha família. Agora que você falou, não tinha parado pra pensar sobre Yoongi, mas também acho que ele vai me apoiar, então obrigado, Jungkook.

ㅡ De nada, hyung.

Um sorriso orgulhoso, completamente feliz por seu amigo, tomava conta dos lábios de Jeon após desligarem a chamada. Ele finalmente não queria mais que sua mão atravessasse a tela do celular para acertar um tapa no Park.

No fim, as cartas que ele havia achado por acaso, no turno chato de sexta-feira, não somente o fez conhecer um outro lado de sua família, como também acabaram por (nem que minimamente) ajudar em algo.

Jungkook com certeza levaria aquelas cartas trocadas nos anos 60 para sua vida. Eram símbolo de que nem tudo é por acaso e de que lutar leva à vitória.

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Se tratando de um projeto que eu de fato comecei e finalizei, não posso deixar de dizer o quão orgulhosa eu estou de mim mesma, então obrigada a quem tirou um tempinho de seu dia para ler e fazer uma autora feliz!

Você por acaso tem algo a dizer sobre a fanfic?

Eu não ia dizer nada, mas aproveitando o espacinho, só queria comentar que o Jimin, Namjoon e Nari são como reencarnações do Jin, Tae e Suji 👀

Por fim, gostaria de pedir que deixasse uma estrelinha caso tenha gostado do capítulo e novamente, obrigada a todos que leram!

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