Paloma. Você.
Nem sei como começar isso para você, mas eu tenho que, eu tenho que deixar fluir.

Foram muitos anos de "amizade", você chegou a conhecer a minha avó. Frequentava a minha casa e sempre estava presente nas minhas conversas com a minha mãe, porque quem consideramos "melhor amiga" sempre está nos nossos pensamentos.

Mas demorou um bom tempo até eu perceber a realidade dessa relação, foram necessárias muitas idas e vindas, muitos choros escondidos no banheiro (da minha parte), e muita dor. Eu me negava a aceitar, a acreditar que a nossa amizade era tóxica.

"Foram meses e meses de idas e vindas, ah, ah
Você ainda está em mim como um vestido manchado de vinho
Que eu não posso mais usar"

Até porque eu sempre achei que nunca viveria um relacionamento tóxico, que era uma coisa que só acontece com os outros e que você vê no facebook. Eu me recusei, e honestamente, me recuso até hoje, queria fechar meus olhos agora, e quando os abrisse novamente, saber que foram só erros, não propositais, e que você me ama. Mas não é assim, eu aprendi por convivência, que você nunca me amou.

Quando caiu a ficha da amizade tóxica? Não sei dizer com precisão. Nunca vou saber.
Mas eu sei dizer quando eu deixei de suportar a relação de insubordinação que eu vivi em relação a você. Foi naquele dia, do nada, em que você me mandou uma mensagem: curta e grossa, dizendo que não queria mais ir ao colégio comigo, e depois passou a me ignorar, agir como se eu não existisse.

"A chuva caiu forte
Quando eu estava me afogando
Foi aí que eu pude finalmente respirar
E pela manhã
Se foi qualquer vestígio seu
Eu acho que estou finalmente limpa"

Eu, como tenho mais de 1/2 neurônio, entendi o que era: você não me queria mais. Na verdade, acho que você nunca quis, e ao invés te der sido direta e ter evitado que eu criasse laços com você, preferia me humilhar, tanta quando estávamos só nós, quanto na frente dos outros.

Depois daquela mensagem, tudo mudou. Segurei minhas lágrimas após ler, porque estava na cozinha e não queria que minha mãe soubesse que eu estava sofrendo por você, sabe o por quê? Porque ela já havia me dito o óbvio, que você não gostava de mim de verdade.

"Não cai na dela de novo, Valentina."

Talvez eu que tenha sido a errada, nunca descartarei essa hipótese, mas então porque não me afastar? Por que esperar que eu criasse um vínculo com você, e você fingisse que me amava, para depois me descartar?

Por quê? Por quê? Por quê?

Por que você fazia aquelas coisas comigo? Sabendo que eu estava passando por um ano extremamente difícil na minha vida.

Por que você escreveu que "Estarei aqui para o que precisar nesse turbilhão que está sua vida. Te amo, xuxu"? E depois me chamava para jogar todos os meus defeitos na minha cara, defeitos que você também compartillhava, e eu nunca, nunca, te critiquei por eles, porque eu tinha noção de como as palavras doem, até porque uma coisa que você me ensinou bem em 2018, foi como as palavras doem.

Por que fingir que tinha interesse em me ajudar com o garoto que eu gostava, se você falava mal de mim para ele pelas costas?

Por que fingir que se importava comigo?
Toda semana você vinha apontar um defeito meu, com a desculpa que era "para você ser uma pessoa melhor", e sabe como isso terminava? Eu passava a primeira aula do cursinho trancada no banheiro, chorando, como uma criança.

Por que ficar reclamando de um trabalho que eu fiz sozinha? Eu deixei bem claro que ele tinha erros porque eu não sei muito bem espanhol, mas poxa, eu fiz a peça inteira sozinha, não pedi a ajuda de ninguém, e mesmo assim você pegou o meu trabalho e jogou no chão. Como se eu tivesse cometido o erro mais banal do mundo.

Nesse dia eu fui chorar no banheiro do Belian, chorei que nem um bebê, segurando a porta e ouvindo algumas crianças. Eu chorei muito, chorei até o lanche acabar, o R. me encontrou e perguntou porquê eu estava chorando, disse que era por causa da pressão do vestibular.

"A água encheu os meus pulmões, eu gritei
Tão alto, mas ninguém ouviu nada"

Menti diversas vezes para os outros, usando a mesma mentira.

Sabe aquele dia em que você, a I., e a A. pegaram o lanche para me criticar? Eu passei a primeira aula do cursinho chorando e me perguntando porquê eu tinha que ser assim, inamável.

Eu chorei tanto por você, por cada coisa que você me fez passar, porque você me fez acreditar que eu não era um bom ser humano. Eu não só chorei como choro agora, escrevendo isso.

Eu queria pedir desculpas para mim, por ter me sujeitado ao sofrimento, por ter me feito menos do que realmente sou. Por ter te dado a liberdade de me trucidar.

Me desculpe, Valentina. Eu a amava, achava que era verdadeiro e que ela não faria aquilo por mal.

Mas acho que o pior de tudo, foi sentir a sua perda.
É, doeu, e dói, faz partes das feridas incuráveis que eu carrego. Doeu mais ainda porque eu queria você, queria sua risada, sua companhia, também doeu porque eu soube que estava sentindo errado, que eu estava cega e agindo como você queria que eu agisse.

Eu pensei tanto sobre você depois que nós separamos . Tanto. Até que eu inventei uma desculpa para tantas coincidências.

Até porque estudamos no mesmo colégio, moramos no mesmo bairro, e fomos para a mesma universidade.

Tinha que ter uma explicação lógica, ou não.
Talvez eu só tenho procurado pelo em ovo porque eu não consigo te esquecer, e o meu lado sensato diz que é isso.

Reencarnação. Resgate.

Essa foi a desculpa que eu inventei. Até porque não podia ser tanta coincidência.

Eu tinha algo para resgatar com você, ou vice versa, ou mútuo. Mas acho que não, meu lado sensato diz que não.
E se tínhamos algo para resgatar juntas, a minha parte eu já cumpri, agora você apenas aumentou o seu resgate.

Mas o pior de tudo. Pior que ter que ouvir as suas críticas, pior do que chorar escondida no banheiro, é ainda te amar. Essa é a parte que mais dói. Saber que eu sou tão idiota a ponto de ainda te amar.

"Só porque você está limpa, não significa que não sinta falta"

E é isso. Eu ainda te amo. Acho que a pior parte desse relacionamento tóxico que vivemos e eu saber que estou de portas abertas para você, e saber que eu me faria de sonsa só para te ter de novo ao meu lado.
Eu me odeio por isso, por ser tão vulnerável a você.
Por ainda estar de coração aberto para que você me machuque de novo.

Eu queria tanto que fôssemos para a faculdade juntas, para eu te ter ao meu lado de novo. Eu desejei tanto isso, sentia uma alegria fora de mim toda vez que você me mandava mensagem a respeito da universidade.

Mas acho que o meu cérebro barrou a inconsciência do meu coração, que queria te chamar para irmão juntas.

"Acho que estou finalmente limpa
Eu disse, acho que estou finalmente limpa"

Obrigada, cérebro.
Me desculpa, Valentina, por ter sido tão vulnerável e feito você chorar tantas vezes.
Me desculpa, Valentina, por ainda ser vulnerável e amá-la.

"Agora que estou limpa, nunca vou arriscar..."

Com lágrimas, soluços, saudade e infelizmente amor,

Valentina
05 e 06/05/2019