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Capítulo 1

Querida Mabel,

Eu sei que quando essa carta finalmente chegar em suas mãos eu não estarei mais aqui. Tenho ciência disso. E, acredite, já repassei incontáveis vezes em minha cabeça sua reação ao abrir esse envelope e encontrar singelas palavras. Sei que você deve ter passado alguns minutos só esfregando a ponta do dedo no papel-cartão, imóvel, segurando a respiração enquanto reflete sobre em qual momento eu devo ter escrito.

Sabe, você sempre teve essa mania engraçada de parar e analisar tudo minuciosamente, como se precisasse ter as certezas e o controle de toda a situação antes de sequer participar. Sei também, que depois do momento de reflexão, você abriu o envelope com cuidado, puxando lentamente o papel frágil numa tentativa de não rasgar muito para que você possa guardar no melhor estado depois. Você sempre foi assim.

Mas sabe, minha irmã, existem algumas lacunas nesses momentos que eu repasso na minha mente que eu não consigo preencher. De qual cor estão pintadas as suas unhas quando você rasgou com cuidado o lacre do envelope? Você mordeu o lábio inferior com os dentes ainda cheios de aparelho quando leu as primeiras palavras? Queria ter tido mais tempo para saber essas respostas...

– Não consigo continuar... – A morena disse mais para si mesma, do que para qualquer outra pessoa. Estava sentada na escada de madeira da varanda, com os pés descalços em contato com o jardim de girassóis da sua mãe. Ela tinha insistido em cultivar as flores depois de... Suspirou profundamente. Ainda não conseguia falar sobre aquilo, as palavras nem mesmo queriam tomar forma em sua mente, porque no fundo ela sabia que afirmar isso seria constatar o fato de que Heloísa nunca mais voltaria. E tudo era doloroso demais.


Deitou-se com cuidado sob o piso de madeira, os dois braços curvados atrás da cabeça e encarou o céu. Estava limpo, vazio, uma imensidão azul-claro como se tivesse sido pintado à mão por uma criança otimista. Haviam poucas nuvens claras, com formas bem definidas quase como se também tivessem sido desenhadas. E o sol... não podia estar mais vívido. Brilhava radiante no topo, com a confiança de quem sabia que era a razão de tudo. Heloísa teria amado esse céu. Mas ela não estava mais ali.

Ao se dar conta disso, de novo, Mabel suspirou e voltou a sentar. Era engraçado como aquilo havia se tornado uma rotina irritante. E ela adorava rotinas, adorava a sensação de ter o controle de todas as atividades diárias que a esperavam, sentia-se como uma poderosa super heroína com a notável habilidade de controlar o tempo. Mas não aquela rotina...

Aquela era dolorida e sinuosa e, céus, detestava o fato de que havia levantado todos os dias naquela semana no mesmo horário e se sentara no chão da varanda pelo resto da tarde. Mesmo que hoje, atipicamente, tivesse uma carta em suas mãos, ainda sim sentia o peso daquela rotina sombria em suas costas, como se fosse uma âncora de ferro puxando-a para baixo.

Mas o que podia fazer para mudar aquilo? Do mesmo modo que odiava aquele tipo específico de rotina, também não era das maiores fãs de grandes mudanças. E como podia gostar? Estava, nesse exato momento, passando pela maior mudança de sua vida, daquelas que alternam a ordem natural das coisas e parecem capazes de abalar até mesmo o globo terrestre.

Como era irônico o fato de que precisava de uma mudança para lidar melhor com a, olha que piada, mudança que a assola. O universo às vezes tinha dessas lições ridículas, beirava à uma péssima tragicomédia.

– Por quê? – Não tinha sido uma pergunta muito específica, na verdade, nem se dera conta de que havia pronunciado aquela curta palavra até vê-la escapar sorrateiramente pelos seus lábios. Não estava perguntando nada em específico e, ao mesmo tempo, questionava tudo. Como também fizera todas as noites em claro que havia passado nessa semana. – Por quê?

Não esperava, no entanto, que uma resposta se verbalizasse próximo à ela.

– O que? – Dava para ouvir as notas de confusão na voz grave. Mabel sabia, antes mesmo que seus olhos pudessem encontrar o mensageiro, que ele estava com as sobrancelhas arqueadas quase se encontrando no centro da testa. Podia visualizar essa expressão em sua mente, só por aquele tom de voz denunciante.

Era Gustavo. Tinha que ser Gustavo.

Provavelmente já deve ser quatro horas da tarde, Mabel pensou. O rapaz havia aderido a essa rotina inesperada de visitar a família dela todos os dias nesse horário. Saía do trabalho e caminhava direto pra lá, com algumas cópias do seu caderno que imprimia no horário livre que tinha entre sair da aula e ir para o estágio.

E de fato, realmente era Gustavo. Vestia a camiseta azul-escuro da empresa onde estagiava e uma calça jeans clara. Nos pés, o all star branco que usava nos dias quentes. Segurava a singela pilha de papéis xerocados nas mãos enquanto a encarava com as duas sobrancelhas tensionadas.

Mabel e Gustavo estudavam na mesma escola desde muito pequenos, na verdade, a garota não conseguia se recordar de um momento onde não estudasse na mesma turma que o garoto. Até mesmo frequentaram a mesma sala da creche, mas essas coisas são comuns em cidades pequenas como a deles. E depois, como se o destino estivesse se esforçando para ligá-los a qualquer custo, também estavam na mesma turma da universidade. Ainda assim, nunca foram amigos. Nem próximos. Muito menos colegas. Mabel até mesmo se questionava se o garoto sabia de sua existência, pois nunca havia trocado meia dúzia de palavras com ela antes... Antes dessa última semana.

Agora, ele ia diariamente na casa dela com os papéis das atividades das aulas impresso e tentava trocar algumas palavras que antes nunca foram pronunciadas.

– O Biel mandou um abraço. – Gustavo falou quando se deu conta de que sua pergunta não teria nenhuma resposta. Já estava se acostumando com o fato de que as frases que saiam da boca de Maria Isabel eram bastante escassas. – Ele começou na terapia hoje...

Mabel apenas suspirou em resposta. Era egoísmo dela não querer falar sobre Gabriel naquele momento? Sabia, bem lá no fundo da sua alma, que era sim. Que ignorar a existência do garoto, além de ser de uma maldade inquestionável, também ia contra todas as vontades de Heloísa, mas Mabel não conseguia evitar. As lembranças agridoces brotavam involuntariamente em seu cérebro só de ouvir o nome do irmão mais novo de Gustavo, e tudo o que ela menos queria nesse momento era se lembrar.

Podia até ser covardia, mas Maria Isabel só queria se esquecer.

Gabriel e Heloísa eram melhores amigos desde sempre, sinceramente, Mabel não conseguia se lembrar de uma época onde eles dois não estivessem juntos. Faziam exatamente tudo na companhia um do outro. E no início da pré-adolescência, quando o corpo muda e os hormônios parecem começar a dominar o controle da mente das pessoas, alguns juravam que os dois se tornariam um casal. Heliel. Pelos céus, eles tinham até mesmo um nome de ship... e agora, o "Hê" desse dueto já não existia mais...

No fundo, Mabel sabia que não conseguia lidar com Gabriel porque ele, mais do que qualquer outra pessoa nesse mundo, a lembrava ainda mais de Heloísa.

E, novamente, a garota só queria esquecer.

– Como ele está? – Para a surpresa dos dois presentes, as palavras escaparam pelos lábios de Maria sem que ela se desse conta ou ao menos pudesse impedir. Não conseguiu conter o característico arquear de suas sobrancelhas, o que deixava mais evidente ainda que aquela pequena frase não havia sido intencional. Mas Gustavo, já acostumado com as inconstâncias que Mabel revelava nessa última semana, apenas deu de ombros antes de responder.

 – Está... seguindo. – Seguindo. Aquilo Maria Isabel bem entendia. Curvou os lábios para cima, numa tentativa de abrir um sorriso fraco e o garoto retribuiu o sorriso inexpressivo. Se tinha uma coisa que Gustavo Park aprendeu nesses últimos dias, foi ser mais paciente. Uma palavra tão pequena, mas que às vezes parece ter o peso de uma casa sendo jogada em cima de seu peito. Mas ainda sim, tentava ser paciente.

Com seu irmão mais novo, que havia passado os últimos dias trancado no quarto afogado em suas próprias lágrimas.

Com a mãe, que insistentemente o obrigava a ir na casa da família Ferreira com o pretexto de levar os conteúdos da aula.

E, principalmente, com Maria Isabel. 

Eles nem eram amigos e agora a mãe insistia em transformar Gustavo em uma espécie de grupo de apoio para o luto.

– E você? – A pergunta demorou a ser feita, mas Mabel pareceu não se importar. Pelo visto, os dois estavam mergulhados em seus próprios pensamentos. No entanto, assim que o cérebro da menina processou de fato as palavras que foram ditas pelo Park mais velho, ela suspirou sem saber o que responder.

Como ela está?

– Seguindo...

E então, o estranho aconteceu. A garota, que até o momento permanecia séria com o olhar inexpressivo, esboçou um sorriso largo seguido por alguns sons que soaram esquisitos ao seu ouvido. Uma risada? Há quanto tempo ela não dava uma risada? As sobrancelhas de Gustavo se uniram em uma linha consistente no meio da testa, mas logo sua expressão suavizou também e ele se permitiu sorrir.

Por dentro, o rapaz se questionava se já tinha ouvido o som da risada de Maria Isabel antes. Lembrava da menina pequena, correndo pelo pátio do Colégio Crescer numa das brincadeiras de polícia e ladrão. Ela sempre séria, com o olhar firme e decidido de quem estava disposta a ganhar acima de qualquer circunstância. Lembrava também dela maior, numa das festinhas de aniversário de 15 anos que frequentou durante seu período no colegial. Mais uma vez, a garota estava séria, servindo de escudo humano junto de outras meninas para que a aniversariante desse um beijo em um dos rapazes da turma sem que os pais pudessem ver.

Mas sorrindo? Aquela provavelmente era a primeira vez.

E no fundo, ele sabia que não tinha lembranças da risada de Mabel justamente por não ter prestado atenção o suficiente na garota até essa semana. Como ele queria se lembrar do som do riso dela sem que tivesse a dor como plano de fundo... Mas agora só lhe restava aquela risada triste com algumas lágrimas solitárias. 

Gustavo estendeu a mão sem que se desse conta e esfregou a ponta do dedão de forma suave acima das bochechas de Mabel, repetiu o gesto involuntário mais uma vez, resgatando qualquer lágrima rebelde que tenha ousado sair pelos olhos da menina e depois recolheu a mão quando ela o encarou com a expressão que já conhecia de cor. Séria. Fixa. 

– Obrigada... – Maria Isabel não sabia como se sentir diante daquilo. Na verdade, não sabia como existir naquele momento. Não se permitia chorar diante das outras pessoas, porque sua família estava igualmente arrasada então tentava ser a rocha para eles; enquanto seus amigos a encaravam com aquele olhar que ela mais detestava: de dó. Mas ali estava Gustavo, diante de toda sua dor exposta e ainda limpando suas lágrimas. A saudade parecia uma mão rude dentro de seu peito que apertava sem piedade o seu coração. E no meio de todo aperto e relutância, Mabel desabou.

As lágrimas deslizaram como uma enxurrada de sentimentos pelo seu rosto, o nariz começou a escorrer e por mais que ela tentasse se controlar e suspirar fundo, a frequência pluvial de seus olhos só parecia aumentar. Park, ao notar os ombros da menina tremendo freneticamente, a puxou para mais perto e envolveu seu quadril num abraço confortável. O pequeno riacho que escorria pela face da garota, logo encontraram o algodão da camiseta de Gustavo e, de forma inesperada, acharam ali o lugar ideal para que permanecessem.

E ele também chorou.

Por Gabriel, por Heloísa, pela crueldade do mundo e, também, por Maria Isabel.

Mabel não sabia que precisava tanto transbordar até aquele momento, mas assim que as primeiras lágrimas escaparam sorrateiramente, permitiu-se soltar todas nos braços quentes de Gustavo Park. Num abraço que parecia ter sido feito sob a medida dela.  

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