Assunto: Bullying
Querido Theo de 16 anos,
Tem dias que fiz a prova que pode ter definido a minha vida. Não foi o Enem, foi a prova para entrar em um Colégio que me dá chances de passar no Enem. Quando o resultado chegou, faltei chorar. Nono lugar. Estava entre os 27 melhores, a vaga é minha.
É cheio de alunos das melhores escolas de toda Minas Gerais. Escolas obviamente particulares, pois são poucos os alunos de pública como nós. Etive no meio de gente que tem condições monetárias melhores que a minha. Pessoas ricas parecem ter uma pré disposição a fazer bullying pelo o que ouvi falar.
Quando foi o primeiro dia, parecia tudo normal. Tive que fazer fila. Passei a aula toda sem dar um pio. Sem conversar com ninguém. E tinham pessoas que antes do recreio já estavam amiguinhas. Eu ainda não tinha amigos, o que é bem normal. É difícil fazer amigos rápido assim.
Mas tinha um menino que eu e ele éramos muito amigos no ensino fundamental 1, então eu tive companhia no recreio. Fico contente de não ter passado o primeiro dia de aula sozinho, como costumava acontecer.
Mas nesse carta, eu vim falar de uma das situações mais marcantes do meu oitavo ano. O bullying.
Um dia sentei em uma mesa cheia de meninos da sala. Eles pareciam tentar puxar assunto comigo. Eu sempre fui tímido e não rendia muito assunto. Eu sei que eles não são amigos em um nível verdadeiro. Só há quatro pessoas que eu sei que gostam verdadeiramente de mim e que eu confio para contar tudo da minha vida. Leta, Catarina, Rosa e Maria.
Mas elas são assuntos pra cartas que você vai receber do Theo de 14 anos. Menos a Rosa. Ela já me foi importante desde o começo. E eu diria que foi a minha primeira amizade ali.
Mas voltando aos meninos. Não sou como eles. Eu sou gay, sou tímido, fora de forma e introvertido. O garoto adolescente padrão é hetero, bonito, malhado, bom de lábia e charmoso.
Mas mesmo com minhas características notáveis, e a minha sexualidade perceptível, embora nem eu nem você sejamos assumidos, eles não faziam bullying com isso.
É engraçado como o bullying é gerado por preconceito com coisas fora do padrão, quando na verdade, o próprio bullying não tem padrão.
Eu sofri por um simples motivo. Uma camisa.
É estranho pensar que uma camisa ne fez sofrer bullying, mas foi.
Acontece que a camisa era repetida do dia anterior pois eu não tinha outro uniforme. Era só por aquele dia pois os outros estavam lavando. E como era repetida e eu caminho 1Km pra vir pra escola, eu estava fedendo. Houve quem quis me contar pra me alertar. Mas houve quem preferiu falar mal de mim pelas costas. Então reparei como os outros pareciam ser indiferentes comigo.
Me lembro do dia em que estávamos indo ter aula de português em uma sala diferente. Havia nessa sala 4 meses grandes com várias cadeiras. Eu lembro que eram 8 cadeiras por mesa. Axel estava alertando alguns meninos e espalhando um recado.
"Ocupa todas as cadeiras pra não deixar ele sentar com a gente"
Era de mim que ele estava falando? Não sei. Mas tenho uma forte razão para me fazer acreditar. Teve uma atividade em inglês em dupla na qual eu fiquei sobrando e ele também. Ele se recusava a todo modo juntar de dupla comigo. Ele juntou obrigado e assim que acabamos na hora ele saiu.
Não penso em outra pessoa pra ser o isolado senão eu. Você conseguiria imaginar que um dia seria amigo do Axel? Mesmo depois do que ele fez comigo/nós? Eu não poderia imaginar. Mas essa amizade é frágil. Diga três palavras e ele nunca mais te verá igual. Diga três palavras e ele nunca mais te tratará da mesma forma. Sempre achei os evangélicos muito homofobicos. Diga "Eu sou gay" e você verá se Axel é alguém que te vê diferente do que ele me vê.
Também me lembro do dia que tive que voltar em casa no meio da hora de almoço. Falei com um colega que aproveitaria pra tomar um banho pois o calor estava infernal.
O chuveiro estava estragado. Eu andei 3Km naquele dia. Quando voltei pra escola, o menino espalhou que eu tinha ido tomar um banho, como se aquilo fosse um milagre. Mikael chegou perto de mim e me cheirou e falou com outros macho Alpha:
HOJE ele está cheiroso.
Eu tinha andado da minha casa até a escola, da escola pra minha casa e da minha casa pra escola novamente. Eles achavam que eu tinha tomada banho e eu não tinha. E eu não fedia. Eu não tive muitos dias em que eu suava e fedia.
Essa concepção estava na cabeça das pessoas. Eles falavam mal de mim pelas costas atoa. Quando tinha algum cheiro ruim, o primeiro que perguntavam era eu.
Não sei quem falava mal de mim por isso. Mas sei desses nomes:
Axel, Mikael, Abel e David.
Você tem raiva do Axel? Ele é seu amigo.
Você tem raiva do Mikael? Tem raiva do David? Do David você tem. Era ele quem espalhava todo de ruim sobre mim/nós.
Tem raiva do Abel? Ninguém tem raiva do Abel. Ninguém consegue ter raiva do Abel. Pode ter certeza, o Abel vai ter uma carta só pra ele.
Esse foi o meu primeiro motivo de Bullying. Um que fez as pessoas me isolarem. Mas teve mais.
Como eu disse. Eu fujo do padrão de várias formas. Essa fuga me rendeu bullying por outro motivo. Mas isso fica pra outra carta.
Lhe desejo sorte
Ass: Theo de 13 anos
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