𝑃𝑎𝑟𝑡𝑒 4
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TYLER
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Tyler estava irritado.
Chloe estava ignorando todas as suas mensagens com pedidos de desculpas e todas as suas ligações. Carol, por mais que conversasse normalmente com ele, algo ainda o incomodava. A indiferença. Desde que lhe dera a notícia, a garota havia ficado esquisita. Sabia que ela era tímida e insegura. Ele havia assegurado mil vezes que a amizade de ambos jamais terminaria caso se vissem pessoalmente – Tyler esperava que acontecesse o contrário. Ele esperava que a amizade entre eles se tornasse mais forte que nunca. Mas não... Carol parecia querer se afastar cada vez mais. Aquilo deixava-o nervoso. Tyler não era de ficar irritado daquela forma.
''Você continua esquisita comigo'', ele digitou. ''Olha, se a minha amizade não for tão importante pra você quanto a sua é para mim, é melhor pararmos de nos falar.''
Tyler soltou o celular na cama e jogou a cabeça no travesseiro. Algo lhe doía por dentro. Nunca havia discutido com Carol antes. Mas aquilo já estava deixando-o sufocado. Por que ela não falava o que estava acontecendo logo?
O celular vibrou, e ele apertou os olhos. Era ela, sabia.
''Por favor... Você é importante pra mim. Já disse que só estou me sentindo insegura''.
''Pare com essa bobagem'' , ele respondeu rapidamente. ''Isso está me irritando''
''E você está me irritando por não acreditar em mim!''
''Acredito em você! Mas não acho que seja só isso''
''O que acha que é?!''
''Não sei, Carol''
''Então pare de ser tão paranoico''
''O que é paranoico?''
''Deixa pra lá...''
''Está vendo. Esquisita de novo. Você sempre me explica as palavras que não sei''
''Só estou irritada, Tyler. Você me irrita''
''O que você quer que eu faça?''
''PARE DE FALAR QUE ESTOU ESQUISITA'' Tyler não pôde evitar de imaginá-la gritando. Aquilo o irritou ainda mais.
Desde quando Carol o deixava com os nervos à flor da pele? Nem Chloe conseguiu tirá-lo tanto do sério.
''Merda. Vamos brigar a uma semana da minha viagem? Ou será que eu deveria cancelá-la?''
''Quer saber, Tyler? Faça o que quiser. Eu não tô nem aí''
Carol ficou off-line logo quando Tyler estava prestes a retrucar. Por isso, deixou pra lá. Certo, ele não deveria ter sido tão estúpido e sarcástico. Mas ficava assim quando estava irritado. Parecia que aquela viagem estava deixando ambos nervosos. Por mais que Tyler tivesse ficado empolgado, havia algo mais que o deixava apreensivo. Não entendia aquela insegurança da amiga, pois não a tinha. Ele sempre demonstrava sua felicidade a cada dia que passava. A viagem estava cada vez mais próxima. Todas as vezes que comentava algo com Carol, como: minhas malas estão prontas, ou estou ansioso para a viagem, ou até mesmo: Caramba! É daqui a uma semana.
Carol respondia apenas com um ''é...'' ou ''verdade. O tempo está passando rápido, né''.
Tyler não podia vê-la, mas conseguia perceber pela escrita de Carol que algo não estava certo. Ela às vezes parecia querer fugir dele. Como seria quando chegasse ao Brasil, e à casa dela? Esperava que até lá eles já tivessem se entendido - não queria ficar tão apreensivo à toa.
Enganou-se.
Quando finalmente chegou o dia da viagem, dia 22 de dezembro, estava convencido que voltaria à Inglaterra sem ver a amiga. Desde o dia em que discutiram, não conversaram mais. Na verdade, Tyler esperava todos os dias que ela enviasse uma mensagem – apesar de ter sido ela a última a mandar. Pensou em enviar quando já estivesse de saída, mas a correria até o aeroporto foi tanta que Tyler acabou se esquecendo.
O mais estranho de chegar a outro país – sobretudo um localizado no hemisfério sul – era a tamanha diferença de temperatura. O inverno havia acabado de chegar à Inglaterra. No Brasil, já era verão. Estava um pouco abafado e, logo quando esperavam as malas, Tyler sentiu a necessidade de tirar as roupas.
Apesar disso, caía um temporal. Quando saíram do aeroporto com todas as malas, Tyler e a mãe pegaram um táxi até a casa dos avós do rapaz. Foram quase meia hora de viagem no meio de um trânsito e a chuva, e já anoitecia.
Tyler não estava nada feliz. Achou que se animaria quando finalmente pisasse em solo brasileiro - já não aguentava mais o frio londrino. Mataria a saudade dos avós, que há tanto tempo não via. Algo pesava seu coração, e ele tinha a plena consciência que o motivo era Carol. Ele esperou tanto por esse dia, e agora talvez nem se encontrariam.
- Chegamos! – disse a mãe, exausta. Ela pagou o taxista, que os ajudou a tirar as malas do carro. A chuva tinha parado um pouco, mas mesmo assim Tyler sentiu os respingos em seu rosto.
A avó já esperava na varanda da casa, os cabelos ainda mais brancos que da última vez que Tyler a vira.
- Querido! – ela sorriu, abrindo os braços. Tyler largou as malas abraçou-a, sentindo o familiar cheiro de farinha e creme hidratante que a avó sempre usava.
- Oi, vovó – ele segurou seus ombros, apertando-os carinhosamente.
- Como você cresceu – ela analisou-o. – Já é um homem!
- Bem, você diminuiu – Tyler riu, e a avó deu um tapa no traseiro dele.
Ele entrou na casa com as malas, encontrando o avô no corredor. Ele elogiou o seu bigode, que crescia de forma desordenada – e que ele logo pretendia tirar. Foi para o quarto de hóspedes; o mesmo que costumava ficar quando visitava-os antigamente.
Tyler trocou de roupa e se jogou em uma das camas, exausto, e pegou o celular do bolso. Procurou o contato de Carol no bate-papo.
Faça o que quiser, ele leu mais uma vez. Eu não tô nem aí.
E mais nada. Eles não trocaram mais nenhuma palavra desde então. Nunca haviam ficado sem se falar daquela forma; e por tanto tempo. Seus dedos dançaram hesitantes sobre o teclado do aparelho. Ela já deveria saber que ele havia chegado - a mãe dela estava constantemente em contato com a mãe de Tyler.
Ele digitou Oi, mas não mandou. O coração dele palpitou quando Carol ficou online. Tyler apagou a mensagem rapidamente, ficando offline. Não sabia o que fazer. Talvez fosse seu orgulho impedindo-o de se reconciliar – ou talvez a irritação que ainda sentia. Quem sabe Carol realmente não quisesse mais falar com ele.
À noite, antes do banho, ele passou o creme de barbear para tirar aquele bigode ridículo e os poucos fios que cresciam no queixo e no maxilar. Olhou-se no espelho, concentrando-se na gilete que subia e descia em seu rosto. De repente, o celular vibrou. Não costumava levar o aparelho para dentro do banheiro, mas, desde que chegara, qualquer sinal que ele emitia o deixava ansioso.
Ele olhou para tela, o coração aos pulos mais uma vez.
BATERIA FRACA – 10%
Tyler bufou, largando a gilete e limpando a cara com água, tirando o resto do creme. Havia feito um pequeno corte no queixo. Apoiou as mãos sobre a pia e baixou a cabeça, deixando a frustração tomar conta de si. Quando se deu conta, as lágrimas já invadiam seus olhos. Queria socar algo, tacar sua própria cabeça na parede, gritar dentro daquela privada. E tudo era culpa de Carol. Tyler sentia falta dela. E o pior: estava há poucos minutos dela naquele exato momento, e não saberia se veria ou não a garota. Ele entrou no banho e ficou parado durante dois minutos inteiros, apenas deixando a água molhar seu rosto e seus cabelos. Tentava pensar em outra coisa a não ser Carol, mas não conseguiu.
Ele se deitou cedo naquela noite. Apesar de estar cansado, Tyler custou a dormir. O rapaz sonhara que havia acordado com uma mensagem de Carol – podia jurar que era verdade. No dia seguinte, ao acordar, decepcionou-se: não havia nada a não ser uma notificação de uma rede social – uma garota aleatória havia curtido uma de suas fotos.
Tyler pensou em enviar um e-mail. Mas o que ia dizer? Ei, desculpe-me por ser tão chato. Já estou no Brasil e quero te ver. Eu preciso te ver. Por favor, não me faça voltar para a Inglaterra sem que isso tenha acontecido.
Não...Não era daquela forma que Tyler a tratava. Parecia quase melancólico. Ele chegou a escrever, mas não teve coragem de mandar. Parecia um maluco. Tyler não queria assustá-la – e não queria obrigá-la a fazer algo que a deixaria desconfortável.
Ele se contentou com o vazio e a angústia que havia se instalado nele desde que chegara. Tentava aproveitar a companhia dos avós, mas sua mente estava cada vez mais distante daquela casa.
⁂⁂⁂
A véspera de Natal chegou a um piscar de olhos. De manhã, durante o café, Tyler havia tomado uma decisão – mandaria uma mensagem à Carol. Queria tirar aquela apreensão de seu peito, o peso que parecia esmagar suas costas. Engoliu o orgulho e começou a digitar:
Carol,
Como você já deve saber, já estou no Brasil, na casa dos meus avós. Minha mãe ainda quer ir até a sua casa para lhes fazer uma visita, e eu preciso saber se você quer minha presença. Particularmente, gostaria muito de vê-la. Mas, se não quiser, tudo bem. Ficarei quinze dias, como sabe. Você pode pensar nisso durante esse período.
Desculpe-me por ser tão imbecil e irritante. Prometo que não vou mais incomodá-la com isso.
Tyler.
Tyler mandou sem ao menos conferir. Sentiu o familiar frio da barriga quando a mensagem foi enviada – era como se tivesse feito algo muito arriscado. Agora não havia mais jeito. Não havia como voltar atrás – e ele não queria. A resposta de Carol era o que ele mais ansiava.
Os avós sempre enfeitavam a casa no início de dezembro, e naquele ano não foi diferente. A enorme árvore de Natal ficava no canto da sala, enquanto que a mesa de jantar ficava do outro. As luzinhas piscavam na varanda e um magro Papai Noel se dependurava em uma escada. Tyler ficara sentado na varanda conforme a chuva molhava o pequeno jardim à sua frente. Já havia ajudado a preparar a ceia – seus tios e dois primos já haviam chegado. Ambos os primos eram mais novos e não se lembravam muito de Tyler. Os dois meninos com cabeleira morena espalharam-se pela sala, ansiosos para a chegada do Papai Noel. Tyler lembrava-se perfeitamente de quando era criança e ainda acreditava naquelas bobagens. O Natal era bem mais emocionante. Nem mesmo as luzinhas tinham mais a mesma magia de antes.
Cabisbaixo, ele se levantou e foi para o quarto. Ouviu a conversa dos tios na cozinha e as duas crianças brincando na sala próximos à árvore de Natal. Já eram 18 horas e nada de mensagem de Carol. Tyler considerou aquilo uma resposta clara: a garota não queria falar com ele. Em uma hora, a mãe iria para a casa dela – independente se Tyler fosse ou não. E, pelo visto, ela não sabia da briga deles.
- Filho, vá arrumar esse cabelo e coloque uma roupa melhor – ela disse ao entrar no quarto e vê-lo jogado na cama. – Vamos, anime-se! Coloque aquela jeans nova que sua avó te deu.
- Mãe... – ele começou, pronto para dizer que não iria com ela.
- Ande logo, Tyler. Quero ver você pronto em meia hora. – o tom de voz alegre dela se ausentou, sendo substituída pela autoritária. O rapaz suspirou e sentou-se na cama, obedecendo. A mãe saiu, deixando-o sozinho no quarto novamente. Tyler colocou uma roupa melhor e ajeitou os cabelos. Minutos depois, ele ouviu uma agitação na sala. Deveria ser seu tio-avô, que também passaria o natal com eles.
Tyler saiu do quarto e caminhou até a sala para recebê-lo. Também não tinha muito contato com ele, mas não queria ser grosseiro. Entretanto, quando chegou à sala, assustou-se. O corpo do rapaz gelou quando viu uma moça adentrar pela sala. Os cabelos escuros estavam soltos e desciam em cachos pelos ombros e costas. A pele cor de oliva, as sobrancelhas escuras e chamativas, a boca cheia e bochechas sobressaltadas eram quase desconhecidas para ele - e ao mesmo tempo familiares. Quando os olhos escuros e redondos da garota fitaram os dele, sentiu tudo ao redor desaparecer. As palmas de suas mãos suavam. O coração disparava – pelo susto ou pela moça à sua frente. Ela era bonita. Mais linda que Tyler havia imaginado ou visto pelas fotos.
Com certeza não era seu tio-avô. Era Carol.
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