LUA
Drake está parado, olhando para o corpo maltratado da filha. O velho sabe que foi uma morte sofrida. Na verdade, dolorida ao extremo.
Os pêlos do braço dele se ouriçam pela emoção e a ira o abraça.
Seus olhos perscrutam o cadáver, vendo detalhadamente e atentamente cada parte do corpo inerte, ferido e sem vida.
O delegado recebeu uma informação do escrivão, sobre as lendas que acompanhavam a vida do homem que estava ao seu lado: Um matador frio, calculista e impiedoso.
Histórias que todo mundo contava mas que nunca foram confirmadas, segundo Elias, que reforçava essas conversas ao delegado.
Porém, pela sua forma física e desleixada, o delegado Charles não o reconheceu de imediato, e achou muito pouco provável que um dia ele foi tudo o que se falava.
Os dois estavam há vinte minutos, parados em frente à jovem, e isso estava deixando Charles incomodado.
— Poderia contar como aconteceu? — Drake pergunta sem olhar para o lado.
— O senhor deseja mesmo saber? — A pergunta vai num tom de preocupação, por saber que o assunto será delicado.
— Sim. Por favor... Eu preciso. — O velho, continua olhando para filha, deitada na pedra.
— Acreditamos, que sua filha tenha participado de um filme com morte real.
— Snuff filmes? — É a primeira vez, que o delegado percebe uma alteração na voz de Drake. Charles, arqueou a sobrancelha e se surpreendeu com o uso da terminologia: "Snuff Filmes", usada pelo velho.
— Sim, isso mesmo, mas, não é o primeiro caso que acontece pelas bandas do lado de cá. Geralmente, as jovens que são encontradas mortas, entram nas estatísticas de violência contra a mulher ou nas guerras entre o tráfico de drogas.
— E por que vocês acham que seria um filme com morte real? — Drake, com sua voz cansada e propositalmente pausada pergunta.
— Desculpas, senhor Viktor, mas, não posso revelar detalhes da investigação.
— Entendo. Mas e quanto aos suspeitos? Sabe quem são?
— Sr. Drake, temos alguns nomes... Mas o que não temos, é certeza se essas pessoas participam dos Snuff Films... É complicado.
— E por que ainda estão soltos ou vivos? — O tom da palavra "vivos" que sai da boca do velho, faz o delegado, repensar sobre as "lendas".
— Eles tem àlibis fortes... Nunca conseguimos pega-los ou provar nada contra eles.
— Eles? E quantos são? — Drake olha para o delegado, que franze o cenho, as pupilas do velho, estão dilatadas, mudando de cor. Agora para cor preta.
— Dez, talvez doze... Quem sabe?
— Eu tenho condições de ajudar. — Pede o homem de cabelos brancos.
— Não tenho dúvidas disso. Mas, por favor, deixe a polícia cuidar disso.
— Você, não me entendeu, tenho condições de acabar com tudo isso.
— Sr. Viktor, não será necessário sua ajuda. Muito obrigado.
—E quantas pessoas mais, precisarão morrer?— A voz de Drake não é áspera, mas firme.
— Não desejo ser rude com o senhor, mas, não estamos parados, vendo o mundo passar, e ficando com os braços cruzados. — É a vez do delegado Charles ser firme.
Os dois, saem do local, voltando até à sala do delegado.
—Sr. Delegado, muito obrigado. — Drake estende a mão em gratidão para o delegado, que educamente aperta. —Espero receber notícias em breve sobre o caso.
—Se Deus quiser sr. Viktor... Vamos ter sim.
O homem grisalho chega na porta e vira-se para o delegado.
— Qual o nome da produtora que vocês estão investigando?
O delegado percebe, a palidez na pele do homem. E acha engraçado, seus olhos esquadrinharem todo o espaço, sem precisar movê-los.
— Carne Fresca. — Depois de falar, o delegado percebeu a besteira que fez. — Sr. Viktor, vou avisar como um amigo, não interfira na investigação, para não passar de vítima a culpado.
—Delegado, eu preciso avisar também. — Drake chega próximo da porta. — Qualquer pessoa que se entrometer no meu caminho, vai mudar seu status de vivo para morto... Ele terá minha hostilidade, igual a esses que mataram minha filha.
O delegado, não acredita que ouviu aquilo. Charles sente seu sangue gelar. O suor desce inteiro pelas suas costas.
Charles, já estivera frente a frente com varios matadores e deliquentes... Mas, o olhar daquele homem era diferente... Havia algo nele, que o delegado sabia, independente do tempo que levasse, Drake cumpriria sua promessa.
O delegado de Ipojuca teve pena das pessoas que cruzariam seu caminho.
O funeral foi somente ele e sua filha no esquife.
O pastor, falava olhando para o pai, que não tirava os olhos da filha.
Ele estava vestindo um terno novo. O cabelo branco, amarrado com um rabo de cavalo.
—Do pó vinhemos, para o pó voltaremos. — Fala o pastor.
Sim, ele lembra-se da noite que saiu do pó. Ficou vivo, depois de sobreviver um massacre. Renasceu, fugiu para terras distantes. Até hoje era um foragido, até hoje sabia matar. E, matava de todos os jeitos, e todas as formas.
Uma lágrima fura o bloqueio dos seus óculos escuros.
Ele não se importa. Quem ele amava, estava ali, inerte.
Sem vida.
Drake, passou pela vida e conheceu poucos amores. Um deles foi sua primeira esposa americana, depois de varios anos, conheceu a mãe de Morgana no Brasil. Uma mulata linda, dançarina de uma boate no Rio de Janeiro.
"Ela morreu, ao dar a luz à sua filha." — Era isso o que ele contava.
Ele, Drake, prometeu à sua esposa, que nunca deixaria de cuidar da filha deles, e que sempre a protegeria.
Aos quinze anos, percebeu que sua filha não herdara nada dele, na época foi um alívio.
— O senhor é meu pastor e nada... — O pastor continua a liturgia fúnebre.
Sim, esse texto... Ele lembra-se das muitas vezes que recitou.
Drake, coloca suas mãos para trás em reverência à Bíblia. Não que ele seja religioso, por que só foi uma vez, mas, já leu vários livros sagrados, e se viu em todos... Igual como quem se vê de frente ao espelho.
Ele nunca foi totalmente feliz... O dinheiro que tem, nunca trouxe felicidade nenhuma.
A fortuna que ele tem, não pode comprar sua liberdade.
Sim, a liberdade dele mesmo.
O pastor, sai ao encontro de Drake, que aperta a mão do santo homem e sente uma vibração positiva vindo dele, escolheu corretamente o homem sagrado, calvo, olhos grandes e redondos, bochechas vermelhas e sem pescoço para realizar a cerimônia de sua filha.
O pastor, lembrava um personagem da Hanna-Barbera, um policial que corria atrás de um gato de rua.
—O Manda-Chuva. —Drake pensou alto.
—Não entendi meu amado irmão. — Fala o homem sagrado, depois de apertar a mão de Drake.
— O senhor parece com o policial que persegue o Manda-Chuva.
—Guarda Belo? — O pastor sorri com a brincadeira inusitada, porém não vê nenhuma flexão muscular na face do velho. Embora esteja em idade avançada, o homem tinha um aperto de mão forte e que muitos não possuíam. — Desculpas, não queria parecer rude.
—Não se preocupe pastor, fui eu quem comecei. As suas palavras foram lindas. Morgana com certeza está satisfeita com o que foi dito.
O pastor toca no ombro de Drake e diz:
—Vou orar para que Deus possa lhe consolar.
—Não ore por mim pastor, peça ao Altíssimo, pelas famílias dos que fizeram isso à minha filha, elas irão prantear pelos seus mortos.
O pastor Bartolomeu, engole seco. Percebe na voz de Drake, que aquele homem, da forma como está decidido, somente Deus para o deter.
Depois de enterrar Morgana, Drake vai na direção da sua casa. Para no seu restaurante de todo dia.
Amélia, ainda está trabalhando.
—Boa noite. — Ela não sabe o que falar, e ele não faz questão de conversar. — O que deseja?
—O mesmo de ontem por favor.
Amélia segue até a cozinha e faz o pedido.
Passados vinte minutos, Amélia, vem com o prato. Ele devora a carne quase crua. Educadamente limpa a boca, e agradece com os olhos, deixando duzentos reais na mesa.
Amélia, sente pena dele... Um home daquela idade, se bem que ela já flertou com ele, sozinho e sem nenhuma companhia.
Na verdade, Amélia ja se imaginou muitas vezes fodendo com ele. Acordando ao lado dele.
A única coisa que incomodava na estética dele, era sua barriga proeminente, mas, depois que ele deixou a dieta, ela estava sumindo.
"Por que, ele é alto, os braços fortes, massa corporal avantajada, e pelo volume da calça, deve ser bem dotado." — Pensava a garçonete, quando o homem saia do restaurante, e esse pensamento, que volta à cabeça de Amélia, a faz detestar-se. O pobre homem estava de luto... Ela não.
Amélia abaixa a cabeça, recolhe os pratos da mesa, separa o dinheiro da gorjeta e volta à cozinha.
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