CAPÍTULO VINTE E DOIS
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[💔]
|Alicia A. Sanders|
Dias haviam se passado e ainda existiam coisas no meio de toda essa história confusa que não faziam muito sentido para mim. Eu já tinha entendido que Paolo Rivera era na verdade Sidney Bonivera, ou que Sidney Bonivera era na verdade Paolo Rivera - eu ainda não sabia quem era a verdadeira personalidade do policial/traficante. E claro que essa informação, sobre a nova - ou oficial - personalidade do cara, implicava na verdade sobre o crime que o policial - e traficante - estava sendo acusado.
Paolo/Sidney - ainda não sei como chama-lo - tinha matado mesmo o melhor amigo e sua família. Se é que o cara que morreu era realmente melhor amigo dele. Porque eu imagino que ninguém seja capaz de matar o melhor amigo de verdade. Quer dizer, é o melhor amigo, caramba. Traficantes não tem senso de lealdade?
Mas a questão principal era, por que ele matou? O que motivou o crime? E como eu vou acusa-lo e mostrar para todos que Bonivera era um assassino de verdade se eu não tinha nenhuma prova? Eu não tive oportunidade nenhuma de conseguir uma prova para incrimina-lo. O que me faria diferente de todos os outros jornais que estão o acusando? O que seria o diferencial que faria meu chefe se interessar pelo meu artigo? Eu precisava de provas. Provas concretas que me garantissem credibilidade.
Claro que eu não conseguiriam uma confissão dele. Eu não era tão sonhadora - ou louca - assim. Mas eu precisava de algo que o colocasse na cena do crime ou algo que explicasse a sua motivação.
Esse era o meu principal foco agora. Mas eu também queria saber outra coisa.
Quem estava investigando o Bonivera?
A stripper que me tirou dali deixou claro que já tinha alguém investigando aquele caso, investigando aqueles caras e o chefe de tudo aquilo, vulgo Bonivera/Rivera. Quem era?
Quem estava investigando? A policia? Mas será que existiam pessoas confiáveis dentro da policia? Quer dizer, Bonivera trabalhou dentro da policia por tantos anos, como alguém nunca percebeu que ele era duas caras? Como não perceberam que o colega de trabalho deles era na verdade um traficante barra pesada?
Eu precisava dessa informação.
Eu preciso saber quem estava investigando em segredo o Bonivera e precisava descobrir a motivação do crime.
Só não sabia como eu faria aquilo.
— Alicia, tem um cara lá na recepção querendo falar com você. - desvio meu olhar da tela do computador que já estava preta após eu parar de escrever e foco em Nancy, que me encarava com aquele seu típico olhar de desgosto.
Eu deveria estar escrevendo o artigo sobre a nova estrela da Inglaterra, Belinda Snow*, uma atriz mesquinha e fútil como todas as outras que eu já entrevistei antes, mas até agora, nem o título eu tinha criado ainda. Minha mente não conseguia se desconectar do caso Bonivera/Rivera.
Era difícil demais eu esquecer disso.
— Quem? - pergunto, aprumando minha postura e encostando minhas costas nas costas da cadeira de rodinhas.
— Eu tenho cara de secretária?
— Acho que sim já que você está ocupando essa posição tem o que? Três anos?
Eram dois. Eu sabia que eram dois anos, mas eu adorava como Nancy ficava vermelha e me fuzilava com ódio quando eu a provocava.
Ela parece querer me xingar, mas nosso chefe para ao seu lado bem no momento que ela abria boca para me responder.
— Boa tarde, garotas. - ele nos cumprimenta, e tenho vontade de dizer a ele que eu odiava a maneira como ele me chamava de garota, como se eu fosse uma jovem de dezesseis anos. Eu não era uma garota, eu era uma mulher. — Nancy, pode me trazer um café?
Eu não sabia que era possível Nancy ficar com o rosto mais vermelho do que já estava.
— Claro, senhor.
— Estarei esperando em minha sala. - ele avisa e quando penso que irá embora, ele se volta para mim. — Ah, Alicia, Dylan comentou comigo que você estava trabalhando no artigo sobre o policial assassino. É verdade? - a pergunta dele sugeria que ele tinha pouca fé em meu trabalho nesse artigo. Ele tinha até usado o mesmo tom que usava quando falava com qualquer outra mulher da redação.
Dylan tinha me avisado, assim que eu cheguei na redação aquela manhã, que tinha deixado escapar com o chefe, que eu estava trabalhando no caso do Bonivera. O nosso chefe, Johan Miller, queria oferecer a matéria para Dylan, com direito a duas folhas e destaque na capa, e Dylan declinou, falando que eu já estava trabalhando no caso e que queria deixar essa oportunidade para mim.
Eu amo meu amigo.
— Sim, senhor. Eu estou trabalhando no caso do Bonivera. - ou Rivera, quase acrescentei. — Mas eu planejava o avisar quando já estivesse com o artigo pronto.
— Já começou alguma coisa? - eu senti raiva daquele tom de descrença que ele usou.
— Ainda estou apurando informações e procurando mais respostas, senhor.
— Certo, Dylan falou tão bem de seu trabalho que eu irei te dar uma chance, garota. Mas eu quero um artigo do nível da revista. Sem pontas soltas. Somos uma equipe séria.
— Eu sei, senhor. Irei fazer o melhor.
— Espero que sim.
E então ele foi embora, com Nancy ao seu encalço. Claro que antes de ir embora, ela voltou e sorriu para mim, um sorriso falso que dizia que estava torcendo para eu me ferrar. — Espero que não esqueça do cara te esperando lá embora. Ele era muito bonito para ser deixado esperando. - ela me manda uma piscadela e depois vai embora. Como uma cadelinha adestrada correndo atrás de seu dono.
E eu me levanto, porque agora estava curiosa para saber quem queria me ver.
[💔]
— Precisamos conversar.
Rafael estava com raiva. Nove anos se passaram e mesmo que eu só tenha lembrado dele a pouco tempo, eu ainda sabia reconhecer quando ele estava com raiva. Eu o tinha deixado nesse estado tantas vezes que eu conseguia até mesmo prever quando ele ficaria bravo.
Seus olhos ficavam levemente esbugalhados, sua pele ficava corada e seus cabelos sempre estavam bagunçados porque ele tinha essa mania terrível de passar a mão pelo cabelo toda vez que chegava em seu limite. Ele estava exatamente assim quando cheguei na recepção me causando certa surpresa em vê-lo ali.
Quando Nancy disse que tinha um cara na recepção esperando por mim eu imaginava qualquer outra pessoa, exceto por ele. Eu imaginava Richard, Marcelo ou até mesmo Sidney Bonivera pronto para me apagar e me matar, mesmo que isso fosse impossível já que ele não seria tão louco e estúpido de me matar publicamente, em um lugar com tantas câmeras e tanto movimento. Enfim, eu imaginava qualquer um, menos Rafael. Não nos víamos desde nossa conversa no terraço, se é que eu poderia chamar aquilo de conversa, foi mais como um acerto de contas - ou talvez nem isso, ainda era confuso para mim. Exceto por aquele quase esbarrão nas escadas no dia do Colombo, eu não tinha mais o visto, nem escutado nada sobre ele.
Até agora.
Agora ele estava parado em minha frente, com sua típica expressão raivosa, me encarando como se me achasse uma maluca e respirando fundo como se estivesse buscando forças para se controlar. Sua barba estava por fazer e suas roupas, um terno preto que indicava que ele deveria estar no trabalho, estavam amarrotadas. Rafael estava uma bagunça. Uma bagunça discreta, claro, mas ainda assim uma bagunça.
— O que faz aqui, Rafael? - pergunto, cansada de esperar que ele se pronunciasse novamente.
Seus olhos focaram no meu, me pegando desprevenida e me impedindo de desviar o olhar. Seu olhar me julgava e era quase como se todo o corpo dele estivesse queimando de raiva.
Qual era o motivo de toda essa raiva afinal?
— Você enlouqueceu de vez? - ele atirou, em um só fôlego, como se não conseguisse se segurar mais.
Franzi o cenho, confusa e nostálgica. Era como se eu tivesse voltado dez anos atrás e estivesse no colégio escutando Rafael explodir comigo por eu ter publicado alguma matéria sobre os nossos professores.
— Do que você está falando?
— Estou falando sobre você ter fingido ser uma stripper e arriscado sua vida.
Como ele sabia sobre isso?
— Como? - não consegui verbalizar toda a frase que eu queria.
Como assim Rafael sabia sobre o que eu fiz? Sobre minha visita ao Blue Blood. Ele não deveria saber sobre isso. Se ele sabe, outras pessoas devem saber, talvez até mesmo seu cliente. E se Sidney sabe sobre minha rápida visita, eu estava ferrada.
— Como eu sei disso não importa, não cheguei aqui para explicar nada para você. Eu vim para você me explicar as coisas. - ele disse, a voz baixa parecendo gritar em minha mente. — Você enlouqueceu? Por favor me diga que você enlouqueceu, porque eu não sei se vou saber lidar com o fato de você ter ido naquele lugar por livre e espontânea vontade de sua mente saudável.
— Eu não enlouqueci.
— Então é pior do que eu pensava. -Sua mão voou para o seu cabelo e ele os puxou para trás com força. Talvez fazendo nele o que ele queria fazer comigo. — Por que foi até a Blue Blood?
Respirei fundo começando a me estressar.
— Não é da sua conta. - respondo, por fim, cruzando os braços sem me importar em deixar transparecer o quão eu estava na defensiva. — Vá embora e não apareça mais em meu trabalho.
Faço menção de ir embora e lhe dar as costas mas ele é mais rápido e me impede de ir, me segurando pelo cotovelo e me puxando para perto.
— É da minha conta, porque você estava seguindo meu cliente. Se você não me explicar o que foi fazer lá, eu irei te denunciar. Perseguição é crime.
— Eu não estava o perseguindo. - respondo, já totalmente na defensiva.
— Então o que diabos você estava fazendo naquela boate?
— Não. É. Da. Sua. Conta. - volto a repetir.
— Então eu vou na delegacia.
— Vá em frente. - digo, quando ele me solta e dá um passo para trás. — Me denuncie e eu falo tudo o que sei sobre seu cliente. Só vai mesmo difícil decidir quão nome eu devo usar para me referir a ele, Sidney ou Paolo.
Eu posso ver os olhos de Rafael brilharem da mais pura raiva do mundo. Ele aparecia se controlar para não começar a gritar e tentar manter a calma. Passou a mão mais uma vez pelo cabelo, com um sorriso no rosto. Aquele tipo de sorriso que aparece em nosso rosto quando queremos esconder uma raiva nítida.
— Não sei sobre o que você está dizendo. - ele responde, a voz forçadamente neutra, como se ele tentasse prender todos os seus sentimentos e emoções em uma caixinha dentro de si. Ele estava mentindo, eu o conhecia o bastante para saber que quando ele deixava o olhar cair e começava a falar com essa voz era porque estava escondendo algo. Algo importante.
— Isso significa que você precisa conhecer melhor o seu cliente.
Não consegui processar com a rapidez necessária o momento em que Rafael se aproximou de me corpo, me segurando pelo pulso e me pressionando contra a falsa pilastra grega no meio do saguão da recepção. Seu rosto ficou a centímetros do meu e sua respiração irregular se misturou a minha.
— Alicia, eu já te avisei antes mas agora eu vou implorar. Fique longe de Sidney Bonivera. Mantenha-se o mais longe possível dele, Alicia. - ele sussurrou contra meu rosto, me olhando nos olhos enquanto dizia cada palavra com uma intensidade proposital, usada justamente para me fazer acreditar em suas palavras. — Pelo amor de Deus, pare de investiga-lo.
Era uma súplica. Uma súplica sincera, eu percebi pelo modo como seus olhos me imploravam para escuta-lo pelo menos uma vez na vida.
Ele estava com raiva de mim, mas não era porque eu estava prejudicando seu cliente e todo o seu trabalho. Ele estava com raiva de mim porque ele sempre ficava com raiva quando descobria que eu tinha feito alguma coisa que me colocasse em risco. Ele sempre ficava nervoso com a possibilidade de me ver prejudicada de alguma forma, ou machucada.
Ele sabia sobre o potencial de perigo de Sidney Bonivera - ou Paolo Rivera - e queria me proteger. Me mantendo o mais longe possível do bandido.
Mas ele não conseguiria me afastar dessa vez. Dessa vez o problema era muito maior do que desvio de dinheiro do baile de formatura. Eu não podia abandonar o caso.
— Eu não posso fazer isso, Rafael. - os ombros deles pareceram despencar em decepção. Seus olhos imploravam para que eu o escutasse. — Esse cara... Eu preciso denunciar ele. Preciso mostrar para as pessoas do que ele é capaz, do que ele foi capaz. E eu não vou parar com isso mesmo se isso significar por minha vida em risco.
— Alicia, você não entende.
— Não. Está errado. Eu entendo sim. E não vou parar. - sustento meu olhar no dele para ele sentir a certeza em mim. — Eu não sei porque você está me alertando sobre ele já que é o advogado dele. Mesmo assim eu agradeço seu aviso. Só que, do mesmo jeito que você não vai parar de ser o advogado dele, eu não vou parar de ser a jornalista que vai o denunciar.
Ele me soltou e se afastou de mim, resignado. Exausto como se tivesse feito uma maratona. Derrotado como se fosse um soldado voltando de uma batalha perdida.
— Você tem certeza?
— Absoluta.
— Eu não vou parar de tentar fazer você desistir. - ele diz, por fim, após um longo tempo em silêncio, olhando para mim, analisando cada detalhe de meu rosto.
— E eu não vou parar de te dizer não.
[💔]
Eitaaa
Bonivera é Rivera.
Rivera é Bonivera.
Que confusão, hein? O que vocês acham? Me contem aqui e deixem sua estrelinha.
.
.
*Belinda Snow é uma atriz inglesa de uma história minha ainda não publicada. Eu já comentei pra vocês que eu amo misturar meus personagens?
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