CAPÍTULO TRINTA E UM
A música acima é, para mim, a música perfeita de Aliel (Alicia e Rafael)
Bem vindos ao último capítulo
|Alicia A. Sanders|
Isolamento era um saco.
Ficar em casa, sozinha, enquanto o mundo lá fora continuava girando e com minha matéria na primeira página no jornal de todas as bancas do Estado era uma droga. Ainda mais quando seu coração estava quebrado e você estava sem chocolates e sorvete para poder sofrer direito em frente a televisão assistindo Diário de uma paixão ou Um amor para recordar.
Droga.
Isolamento era um saco.
O criminoso com sede de vingança era um saco.
O meu chefe que me mandou ficar em casa por tempo indeterminado por causa do criminoso era um saco.
E Rafael Hugh Carter era um saco.
Um saco não. Um merda.
Um verdadeiro merda.
Quem ele achava que era para me obrigar a escolher entre meu trabalho e ele?
Eu o amava? Claro, tanto que doía.
Se fosse em qualquer ocasião eu escolheria ele ao invés do artigo? Sim, sem hesitação.
Mas ele tinha me posto contra parede, como se tivesse certeza de que eu abdicaria do meu artigo apenas para que ele ficasse satisfeito. Eu não poderia fazer isso. Nunca seria capaz de por minhas vontades e meus objetivos em segundo lugar por alguém, mesmo que eu amasse esse alguém com todo o meu ser.
— Droga, Selina. Rafael estragou tudo. Absolutamente tudo.
A gata me encarou rapidamente antes de voltar a deitar sua cabeça em minha barriga e dormir como uma pedra.
Era triste que minha única companhia fosse uma gata e ela não estivesse nem aí para mim. Selina só estava comigo agora por dois motivos.
O primeiro era que aqui tínhamos comida boa, ração do tipo cara que fazia eu e Teresa se virar para comprar e, pior, pagar. O segundo motivo era que ela era interesseira e dorminhoca o suficiente para ficar aqui apenas para ter um lugar melhor para dormir.
Eu só não a julgo porque eu faria o mesmo, se pudesse escolher onde estar, claro.
Eu estou prestes a enlouquecer. Não sou, e nem nunca serei, do tipo que aguenta ficar quieto em casa sem fazer nada, nem ver ninguém.
Meu notebook estava no trabalho o que me impossibilitava de procurar algum jogo online para me distrair. Meu celular estava carregando e eu não queria correr o risco de ser uma das azaradas que morrem com o celular explodindo por estar sendo utilizado no carregador. E a televisão não tinha nada de legal passando.
Claro que sempre tinha a Netflix como opção de salvação do tédio mas a verdade era que eu não queria uma salvação do tédio. Pelo menos não uma que envolvesse qualquer coisa que não fosse sair de casa.
Eu precisava sair daqui.
Se eu ficasse mais um minuto dentro daquele apartamento eu iria acabar tendo uma crise claustrofóbica que superaria todas as crises que Rafael já passou ao longo da vida, que eu imagino que seja muitas.
Quando meu celular toca, quase sinto que é Deus mandando para mim algo para me salvar.
Talvez seja meu chefe pronto para dizer que Sidney foi preso e que eu já podia sair de casa.
Ou talvez seja Dylan para dizer que o chefe mandou dizer que Sidney foi preso e que eu já podia sair de casa.
Ou melhor, talvez seja Rafael, me ligando para dizer que sentia muito pela merda que ele fez e que me queria como nunca quis ninguém, porque eu era o amor da sua vida e ele não conseguiria passar mais um único segundo longe de mim.
Deus, eu sou patética.
Antes de continuar divagando sobre quem poderia estar me ligando, eu tirei, a muito custo, Selina de minha barriga, e a coloquei no sofá antes de ir pegar o celular e tira-lo do carregador.
— Alô? - atendo a ligação de um número desconhecido.
"Achou mesmo que iria ferrar comigo e sair ilesa, sua rata?"
Eu não reconheci a voz, mas juntei as peças. Meu corpo todo tremeu e eu tive que me encostar na parede para evitar cair.
"Enquanto esperava você atender a ligação, fiquei pensando no que faria com você. Mas você foi tão rápida que nem tive tempo de decidir. Quer me ajudar?"
Eu permaneci em silêncio, porque mesmo se tivesse algo para falar, duvidava que realmente conseguiria pronunciar alguma coisa. Apenas corri para a porta e me certifiquei de que estava bem trancada.
"Eu tenho várias opções aqui comigo, todas, claro, terminavam com você me implorando para deixa-la ir. Mas os começos são diferentes.", sua voz era fria e calculista e meu corpo estava tão gelado que parecia que o inverno tinha chegado bem no meio da minha sala. "Eu posso matar seus avós e enviar suas línguas para você guardar como recordação.", meu estômago revira. "Ou posso dilacerar sua amiguinha e fazer um delicioso prato para você comer.", a bile começa a subir com força querendo sair. "Ou melhor, posso acabar com a vida de seu namoradinho e te enviar o coração."
— Fique longe de minha família. - tenho forças para dizer, mesmo minha voz saindo falha e fraca.
"Você não ficou longe das minhas coisas. Porque tenho que ficar longe das suas?"
— Exato. Eu não fiquei longe, seu problema é comigo.
"O meu problema era só com Jordan mas isso não me impediu de matar a sua mulherzinha barriguda e seus dois pirralhos."
Aquele cara era um monstro. Um monstro ordinário e cruel. E eu estava nas mãos dele.
— Não mexa com minha família.
"Você não está em posição de exigir nada.", ele me corta. "Mas, já que não quer que mexa com sua família e como eu mesmo pedi sua ajuda, vou te escutar. Você tem razão, não devo mexer com sua família, não é vantajoso para mim. Eu vou atrás de seu namoradinho."
Não. Não, não, não, não, não.
"Ele me irritou bastante. Não mais do que você, claro. Mas eu não gosto da ideia de ter sido enganado por ele esse tempo todo enquanto ele trabalhava ao lado da porra do FBI."
Rafael estava com o FBI?
— Não faça nada com ele.
"O que eu ganho com isso?"
— O que você quer que eu faça?
"Abra a porta."
Duas batidas leves na porta chamaram a minha atenção e me fizeram congelar.
Ele estava aqui.
Ele veio até mim.
Rafael estava certo, publicar aquele artigo foi perigoso. Mas ainda assim eu não me arrependia. Alguém vai colocar ele atrás das grades, alguém precisa coloca-lo atrás das grades.
"S.O.S" Mandei para Rafael, o mais rápido que pude, antes de destrancar a porta e cometer mais uma loucura.
[💔💔💔]
|Rafael H. Carter|
— Eu avisei vocês antes! Deixei claro que ela publicaria de qualquer jeito e que vocês tinham que ser rápidos. - passei a mão pelo cabelo, pela, talvez, milionésima vez, sem conseguir me controlar.
Faziam exatos trinta minutos desde que eu recebi a mensagem de Alicia e corri para seu apartamento, apenas para achar sua porta aberta e seu celular no chão.
— Eu sei. Mas ele já estava sumido antes. Não conseguimos acha-lo. - Kaycee, a agente que eu tinha ajudado a investigar Sidney, respondeu.
— Alicia sumiu. A última mensagem dela foi um SOS. Ele provavelmente está ligado a isso, porque ainda não checaram as malditas câmeras de segurança da região ou acionaram reforços?
— Porque pode não ser ele. E nós já estamos providenciando as gravações das câmeras do bairro.
— Vocês precisam encontrar ela.
Ela não pode sumir logo depois de brigarmos e dela ter me dado as costas, dessa vez merecidamente.
Eu fui um verdadeiro babaca, fazendo ela escolher entre mim e o trabalho. Eu planejava dizer isso para ela hoje, quando chegasse em casa. Ela não pode simplesmente desaparecer antes que eu peça desculpas a ela.
Simplesmente não pode.
— Nós sabemos.
Meu celular toca e eu dou a conversa por encerrada, torcendo para que quem estivesse ligando fosse Alicia, dizendo que estava tudo bem. Era tudo o que eu queria. Que Alicia estivesse bem.
— Alô?
"Preocupado com a namoradinha?", reconheço a voz de Sidney confirmando meu pior pesadelo.
— Não ouse em encostar um dedo nela. - ordeno, com o sangue fervendo e com raiva em cada poro. Eu quero matar aquele homem desgraçado.
— Coloca no viva voz. - Kaycee manda, e eu faço na mesma hora, porque ela era a agente ali, e eu precisava de sua experiência de agente para ter minha namorada de volta e poder voltar a ser namorado nela.
"Sinto muito, mas eu já encostei muito mais do que meus dedos nela."
— Filho da p.. - "Vai mesmo ofender minha mãe quando eu liguei na melhor das intenções? Se continuar assim, vou desligar antes que os investigadores consigam rastrear meu número."
Filho da puta.
— O que você quer?
"Me vingar de sua ratinha e fazer você sofrer, porque eu mereço um bônus."
— Deixe a Alicia em paz. O que quer que queira fazer, faça comigo.
"Muito heroico de sua parte mas... não, obrigada. Tenho planos melhores para ela. Mas não se preocupe, você vai encontra-la rapidinho, acha que eu estou enrolando nessa conversa só porque gosto de ouvir sua voz?"
— O que você quer, Sidney? - pergunto mais uma vez, com o coração disparado só de pensar em como Alicia deve estar.
"Que você corra. Se quiser encontrar com sua namoradinha antes que ela morra, é melhor você correr." ele responde, me causando nojo e medo. "E eu prefiro Paolo."
Kaycee toca em meu ombro e eu levanto meu olhar do celular para ver o que ela quer, ela faz um positivo com o dedo e me mostra um endereço em um pedaço de papel.
— Por que?
"Ah, é que eu me apaixonei pela história de amor conturbada de vocês. Não posso deixar ela morrer antes de você dizer que ama ela uma última vez."
Kaycee faz sinal para segui-la e vamos a passos largos até o estacionamento da agência de advocacia onde eu trabalho.
— Como você sabe?
"Sua ratinha não é a única que gosta de ler dossiês sobre as pessoas."
— Não faça nada com ela, Paolo. Eu te imploro, não faça nada com ela.
Não escuto resposta, apenas um barulho ao fundo, como se ele falasse com outra pessoa.
"Está na hora de dizer seu adeus, rata. Quais são suas últimas palavras?"
Entro no carro rápido e passo o cinto enquanto encaro o celular como se ele fosse a coisa mais importante do mundo para mim, o que naquele momento, realmente era.
O silêncio me faz suar frio até que um estalo, como um tapa forte, me faz esquentar. "Fala, vadia!"
Desgraçado. Miserável.
— O que está esperando para pisar na porra desse acelerador, Kaycee? - pergunto, sem me importar em ser grosseiro, quando vejo a agente encarar o celular com pena.
Não tem que ter pena de Alicia. Ela iria ficar bem. Aquele desgraçado que seria digno de pena.
"Não vem pra cá, Rafael. Não vem. É uma armadilha. Não vem. Descul..." Alicia parecia desesperada, o que fez meu coração apertar, sua voz estava falha e embargada como se ela chorasse o que me fez odiar mais ainda desgraçado que estava fazendo isso com ela. "Espero que tenha aproveitado. Foi bom enquanto durou." ele anuncia, com cinismo e diversão na voz.
— Seu desgraçado.
"Você devia ter dito adeus, Rafael." sua frase não tem muito efeito para mim. Foi ofuscada pelo som alto, oco e completamente assustador, de um tiro, vindo do outro lado da linha, antes da ligação cair.
Não.
[💔💔💔]
|Alicia A. Sanders|
Quando Teresa souber que eu morri antes de fazer sua festa surpresa de vinte e oito anos, ela me ressuscitaria só para me matar. Quando ela descobrisse que eu morri, após horas definhando em um galpão abandonado na estrada que dava para fora da cidade, ela desistiria de me ressuscitar para me matar e apenas choraria, deixando essa tarefa para minha vó.
Minha vó odiaria descobrir que sua única neta viva, morreu porque publicou um artigo. Ela processaria até o inferno para fazer justiça por mim, enquanto me xingava por ter sido irresponsável e louca, mesmo sabendo que eu puxei isso dela.
Imaginar como as pessoas lidariam com minha morte era uma ótima atividade para me fazer esquecer que estava morrendo. Sim, era bastante mórbido, e também triste, mas era melhor do que apenas encarar o telhado velho daquele galpão. A dor que eu sentia também me fazia querer pensar em outra coisa, qualquer coisa, que não fosse ela.
Eu não quis olhar para me certificar, mas meu peito sangrava, muito, a minha mão que estava no chão ao lado de meu corpo caído estava molhada e não era de água.
Nunca pensei que eu acabaria morrendo com um tiro no peito, sozinha no meio de um galpão abandonado, sozinha e com meu próprio sangue ao meu redor.
Mas eu também nunca pensei em morrer.
Eu sempre imaginei a morte como algo que estava muito longe de mim. Eu sabia, claro, que um dia ela chegaria, mas nunca achei que fosse tão rápida e tão assustadora.
A perspectiva de morrer era pior ainda do que a dor em meu peito que me fazia perder o fôlego e engasgar com o sangue. A ideia de morrer sem ter feito tanta coisa era frustrante.
Eu queria ter dito mais "eu te amo" para quem eu amava.
Queria ter me casado com Rafael.
Queria ter visitado o túmulo do meu irmão.
Queria ter filhos.
Queria ter conseguido ter uma carreira sólida como a de minha vó, como a que eu sempre sonhei.
Mas eu não tive.
E nunca terei.
Porque, céus, eu estava morrendo.
O barulho de passos pesados me fez querer olhar mas não consegui me mexer.
Desde que Sidney atirou em mim e fugiu, eu estava deitada ali. Jorrando sangue sem conseguir me mexer. Não sei se era o choque, ou a dor, ou simplesmente porque tinha perdido a locomoção, mas eu apenas fiquei ali. Parada, sentindo meu sangue me cercar e a dor me fazer chorar, enquanto pensava que a primeira vez que disse que amava Rafael para o mesmo, seria a última.
O carma era mesmo um saco.
Eu amava Rafael.
E ele me amava.
Nessa parte eu estava certa sobre o carma.
Meu carma era realmente ama-lo com todas as minhas forças.
Mas a gente nunca ficaria junto.
Sempre teria alguma coisa entre nós.
Eu e Rafael não fomos feitos para dar certo.
Era triste perceber isso a poucos minutos de morrer.
— ALICIA. - A dor estava tanto que estava até alucinando. Acho que li algo sobre alucinações em meio a dor suprema em algum lugar. A voz dele estava ofegante como se ele estivesse correndo e eu quase torci para que a voz fosse verdade.
Eu não queria morrer sozinha.
— Alicia. Alicia. Meu Deus. - seu corpo entra em meu campo de vista e mesmo sem forças eu sorrio, porque não era alucinação, era ele. Rafael estava ali. Tinha se agachado ao meu lado, em meio ao meu sangue, posto minha cabeça em seu colo e tirado algumas mechas de cabelo de meu rosto, como sempre fazia. Como tinha feito ontem.
— R-Ra... - é o que sai, quando tento falar com ele. Isso e um punhado de sangue junto a tosses que me tiram o fôlego.
— Não tenta falar nada. Não fala nada, fica quietinha que a ambulância tá chegando, ok?
Mesmo parecendo desesperado. Mesmo suando feito um porco, com o peito subindo rapidamente, com a boca ressecada e entreaberta e os olhos tão vermelhos que indicavam que ele estava se segurando para não chorar, Rafael era o homem mais lindo do mundo para mim.
Mesmo com meu sangue mais do lado de fora do que dentro de mim, e com meu coração batendo tão devagar que eu sentia dor e com o ar me faltando tanto que se tornava a pior agonia, eu não consegui parar de pensar que eu amava aquele homem.
Amava com todo o meu ser. Cada singelo pedaço de mim era completamente dele. Eu o amava. Amava tudo nele.
Estava, acima de tudo, feliz por morrer ao lado do homem que amo.
— E-eu. - me esforço para dizer. Sentindo cada célula de meu corpo reclamar de meu esforço, como se ele dissesse que era pra eu ficar quieta porque eles estavam tentando me salvar lá dentro. Eu apenas tento as ignorar. — E-eu a-a-amo você. Amo você. - declaro, sabendo que aquela era a última vez que eu lhe dizia isso.
Algumas lágrimas rolaram pelo rosto de Rafael, partindo meu coração mais do que os fragmentos da bala em meu corpo.
— Não faça isso. - ele manda.
Tento tatear o ar em busca de sua mão até que ele percebe e segura minha mão, entrelaçando nossos dedos com força.
Meus pulmões começam a dor com a falta de oxigênio.
Meu corpo estava entrando em colapso e eu só conseguia pensar em dizer ao Rafael que eu o amava.
— Amo v-você.
— Pare de dizer que ama Alicia. Pare. - ordena. - Você está agindo como se fosse uma despedida, e não é. Não é uma despedida, você vai ficar bem. Você vai me dizer que me ama mais tarde.
— E-e-eu preciso que me diga agora. - Minha voz era um fiapo, um sussurro quase inaudível que eu torcia para Rafael entender.
— Não. - ele se recusa, com a voz embargada e as lágrimas rolando sem cerimônias.
Nunca pensei que veria Rafael chorar, mas sempre soube que o motivo de suas lágrimas seria eu.
— P-por- não consigo terminar. Meu peito queima e eu começo a tossir, sentindo o gosto metálico na minha boca e nos meus lábios.
— Eu amo você. - Rafael diz.
Mesmo com tudo dando errado, eu sorrio. Rafael me ama. Eu posso morrer sabendo disso.
Porque se ele me ama. Eu tenho paz. Rafael é minha paz. Eu posso ir agora.
— Eu escolho você. Sempre. - sussurro, antes de desistir de lutar.
Relaxo meu corpo, sentindo meu sangue me deixar e meu coração diminuir a velocidade.
Rafael me ama. Ele me ama, posso parar de lutar agora.
Posso não ter tido uma carreira de sucesso.
Posso não ter tido filhos ou me casado.
Mas Rafael me ama.
E se ele me ama. A gente vai ter outra oportunidade.
É nosso carma.
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